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Execução Prof. Ricardo Felicio Scaff Juiz de Direito E-mails: ricardo.scaff@uni9.pro.br rscaff@tjsp.jus.br mailto:Ricardo.scaff@uni9.pro.br mailto:rscaff@tjsp.jus.br 7- A Ação de Execução • A ação de execução, tal como a ação de conhecimento, também se define como um direito público, autônomo e subjetivo que a parte tem de provocar a jurisdição para receber um pronunciamento estatal solucionando seu litígio. No caso da ação de execução, a finalidade principal é por fim ao litígio por meio da colocação em prática daquilo que a lei garantiu à parte por meio de um título executivo judicial ou extrajudicial. O mérito da ação de execução, ou seja, seu objeto litigioso é o pedido formulado pelo exeqüente; é a satisfação de seu direito consubstanciado no título executivo. O juiz, como resposta de mérito, deve determinar a prática de medidas voltadas à satisfação do direito do autor, tais como penhora, leilão, adjudicação de bens etc. O pronunciamento judicial, na execução, não julga o pedido do autor como procedente ou improcedente. Não há, na execução, julgamento de mérito; mas há, como se observa, “resposta de mérito”, expressão mais abrangente do que “sentença de mérito”. A resposta de mérito se verifica, portanto, na prática de atos voltados à satisfação do direito do autor. Assim, se a parte moveu ação de execução e o juiz deferiu a ela a prática dos atos necessários à satisfação de seu direito e este direito lhe foi satisfeito (mediante o recebimento do dinheiro, no caso de obrigação de pagar quantia, por exemplo) então, ao final do processo, o juiz proferirá sentença extinguindo a execução com base no artigo 924 do NCPC. Tal decisão judicial faz coisa julgada material porque se refere ao mérito (que é a satisfação do direito do credor, consubstanciado no título) e impede a discussão dos mesmos fatos e do mesmo título executivo em outro processo. O STJ vem adotando a mesma posição, qual seja, a de que quando a sentença na ação de execução acarreta mudança na relação jurídica de direito material entre exeqüente e executado – por exemplo, quando, por causa do pagamento, um deixa de ser devedor em relação ao outro – esta sentença faz coisa julgada material e não pode ser objeto de novo processo, a despeito de poder ser base de eventual ação rescisória. Assim, se a sentença julga extinta a execução com base no artigo 924, inciso II, do CPC, por ter o executado cumprido a obrigação, significa que o Estado expropriou bens do devedor, vendeu estes bens e entregou o dinheiro ao credor, modificando a relação jurídica entre as partes. Desta forma, o credor não poderá mover outra execução contra o mesmo devedor, tendo por base o mesmo pedido e a mesma causa de pedir. Vê-se, portanto, a importância de se definir, também em sede de ação de execução, os elementos da ação, essenciais para diferenciar uma execução da outra, especialmente quanto ao pedido e a causa de pedir. Da mesma maneira, é preciso estudar também as condições da ação que são condições genéricas a todo e qualquer tipo de ação. 7.1- Elementos da Ação de Execução • Assim como toda e qualquer ação, a ação de execução deve conter os seguintes elementos: partes, pedido e causa de pedir. • As partes, na ação de execução, tal qual nas ações de conhecimento, devem ter capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo e capacidade postulatória. • O pedido, na ação de execução, também se subdivide em pedido mediato e pedido imediato. O pedido mediato é o cumprimento da obrigação consubstanciada no título executivo, que pode ser uma obrigação de fazer, de não fazer, de entregar coisa ou de pagar quantia. Trata-se do bem econômico que se pretende auferir com a execução. Já o pedido imediato corresponde ao tipo de providências jurisdicionais que o juiz realiza para conceder ao autor o que o devedor não realizou voluntariamente. Assim, as medidas que fazem parte do pedido imediato podem ser quaisquer dentre os meios de execução (imposição de multa, determinação de prisão, desapossamento do bem, adjudicação etc). A classificação da causa de pedir em causa de pedir remota e causa de pedir próxima também é aplicável às ações de execução. A causa de pedir remota, tal como ocorre no processo de conhecimento, são os fatos. Na maioria das vezes os títulos executivos representam estes fatos, mas, mesmo anexando o título à petição inicial, é preciso descrever os fatos. No entanto, quando, por exemplo, o título executivo é abstrato e entrou em circulação por meio de endosso, o credor-endossatário que não tenha conhecimento do negócio que gerou o título poderá mover ação de execução sem que seja necessário descrever os fatos, porque a lei, ao permitir a abstração de alguns títulos de crédito, dá ao credor-endossatário o direito de cobrar o título sem se preocupar com sua origem. A causa de pedir próxima é o descumprimento da obrigação contida no título, ou seja, são os fundamentos jurídicos que levam o credor a pedir que o juiz lhe defira determinados meios de execução em face do devedor. Dinamarco entende que é preciso descrever os fatos. Humberto Theodoro Júnior entende que o título materializa os fatos e não precisa descrever os fatos: é a posição mais comum. 7.2- Condições da Ação de Execução • O interesse de agir é a primeira condição a ser respeitada nas ações de execução. Assim, é preciso demonstrar a necessidade de se ingressar com o pleito executivo em juízo (sem ele, a pretensão da parte credora não poderá ser alcançada); a adequação do pedido à situação fática (é por meio do processo de execução – e não por outro instituto processual – que a lide terá fim) e a utilidade da execução (a ação de execução trará ao seu autor benefícios maiores do que os que ele possui sem a execução). É possível afirmar que o inadimplemento da obrigação por parte do devedor caracteriza a necessidade da execução, já que sem ela não haverá o cumprimento voluntário da obrigação; e o título executivo exigível e apto a aparelhar uma execução caracteriza a adequação. Assim, sem título executivo ou sem o inadimplemento do mesmo ou, ainda, sendo o mesmo inexigível, o processo de execução deve ser extinto sem julgamento do mérito por falta de uma das condições da ação que é o interesse de agir. Na ação de execução não se admitem pedidos juridicamente impossíveis. Isto significa que somente os pedidos admitidos pela lei ou não proibidos por ela poderão ser formulados em ação de execução. No entanto, o maior problema nas ações de execução não são os pedidos juridicamente impossíveis ou ilícitos, mas sim as causas de pedir impossíveis ou ilícitas. Imaginemos o seguinte exemplo: um credor executa um cheque no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), pedindo ao juiz que tome providências para fazer cumprir a obrigação de pagar consubstanciada no título. O pedido é, portanto, juridicamente possível. Mas se o fato gerador do cheque foi a entrega de alguns quilos de cocaína, então a causa de pedir (os fatos) é ilícita e, portanto, impossível juridicamente. Deste modo, a demanda será extinta sem julgamento do mérito por não atender ao requisito da possibilidade jurídica, que, atualmente, está inserido dentro do interesse de agir. Por fim, a segunda e última condição da ação, a legitimidade de parte, também é exigível nas ações de execução. Tal qual nos processos de conhecimento, a legitimidade de parte caracteriza a relação jurídica existente entre exeqüente (titular da pretensão executiva) e executado (obrigado ao direito do exeqüente). Além disso, também se admite na ação de execução a legitimidade ordinária e a extraordinária, conforme estudaremos adiante.