Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL VERA LUCIA FERNANDES A SÍNDROME DE BURNOUT E SEUS EFEITOS ÀS FUNÇÕES COGNITIVAS São Paulo 2019 VERA LUCIA FERNANDES A SÍNDROME DE BURNOUT E SEUS EFEITOS ÀS FUNÇÕES COGNITIVAS Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu Área de concentração: Neuropsicologia Orientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon São Paulo 2019 Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte. Fernandes, Vera Lucia A SÍNDROME DE BOURNOUT E SEUS EFEITOS ÀS FUNÇÕES COGNITIVAS Vera Lucia Fernandes, Renata Trigueirinho Alarcon – São Paulo, 2019. 31 f. + CD-ROM Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Orientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon 1 Síndrome de Bournout, 2.Funções Cognitivas. I. Fernandes, Vera Lucia. II. Alarcon, Renata Trigueirinho. Vera Lucia Fernandes A SÍNDROME DE BOURNOUT E SEUS EFEITOS ÀS FUNÇÕES COGNITIVAS Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das exigências para obtenção do título de Especialista em Neuropsicologia BANCA EXAMINADORA Parecer: ____________________________________________________________ Prof. _____________________________________________________ Parecer: ____________________________________________________________ Prof. _____________________________________________________ São Paulo, ___ de ___________ de _____ DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho à todos que se entregam de corpo e alma à sua profissão, e que por inúmeras vezes ultrapassam seus limites por desconhecerem o mal que estão fazendo a si mesmos. AGRADECIMENTOS A minha Mestra e amiga Camila de Massi Teixeira, que me contagiou com seu amor pela Neuropsicologia e por ser a responsável por mais essa conquista. A minha irmã, que sempre me apoia nos meus sonhos para que se tornem realidade. A Marly, por cuidar de mim e compreender a minha ausência nas noites e nos finais de semana por causa dos estudos. A minha afilhada Júlia, que tanto me orgulho e que me inspira com seu prazer pelos estudos. A Rosângela, colega de turma, que se tornou uma amiga, a quem sou grata por me ajudar nesses meses de aprendizado. A minha orientadora Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon por todo carinho, conhecimento e acolhimento na realização desse trabalho. A minha supervisora Camila Monti Oliveira pelas suas orientações, por compartilhar seus conhecimentos e, sobretudo, por ter sido exigente em suas correções, me tornando uma profissional melhor a cada dia. A todos os professores pela dedicação e por compartilharem seus conhecimentos. Aos meus familiares e amigos, que sempre me incentivaram e me acompanharam nessa trajetória de estudos e realizações. E especialmente aos meus pais, que mesmo não estando entre nós, foram e serão sempre os responsáveis pela pessoa e profissional que me tornei. RESUMO A Síndrome de Burnout é uma patologia desenvolvida no ambiente laboral, que se descreve em três categorias sintomáticas, a física, a psíquica e a comportamental. A síndrome se caracteriza pela Exaustão Emocional, a Desorganização e a baixa Realização Profissional e Pessoal. Esse trabalho, realizado através de uma revisão bibliográfica breve, teve como objetivo identificar se as funções cognitivas são afetadas pela síndrome. Os resultados apresentados pelos estudos consultados indicam que as funções cognitivas são afetadas pelo Burnout, principalmente as funções memória de trabalho, velocidade de processamento e a atenção concentrada. A atividade profissional exige muito tempo da vida das pessoas, por isso, o ambiente laboral deve ser saudável permitindo qualidade de vida física, psíquica e interpessoal para que evite que as pessoas desenvolvam essa patologia. . Palavras-chave: estresse, burnout, exaustão emocional, estresse no trabalho, funções cognitivas. ABSTRACT Burnout Syndrome is a pathology developed in the workplace, which is described in three symptomatic categories, physical, psychic and behavioral. The syndrome is characterized by Emotional Exhaustion, Disorganization and low Professional and Personal Achievement. This work, conducted through a brief literature review, aimed to identify whether cognitive functions are affected by the syndrome. The results presented by the studies consulted indicate that cognitive functions are affected by Burnout, especially working memory, processing speed and concentrated attention functions. Professional activity demands a lot of time from people's lives, so the work environment must be healthy allowing physical, psychic and interpersonal quality of life to prevent people from developing this pathology. Keywords: stress, burnout, emotional exhaustion, stress at work, cognitive functions. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 OBJETIVO .............................................................................................................. 11 3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 12 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 13 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 24 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 29 8 1 INTRODUÇÃO Hans Selye, nomeado como pai da estressologia, comentava que o stress faz parte da vida e que as pessoas devem aprender a manejá-lo de forma eficaz, como resposta aos desafios agradáveis e desagradáveis que surgem no seu dia a dia (LIPP e TRICOLI et al., 2014) No mundo em que vivemos, a instabilidade está muito presente; tudo muda muito rápido levando o indivíduo a uma sobrecarga de cobranças internas e externas, que tem como consequência o stress. “Stress é uma reação que envolve componentes físicos, psicológicos, mentais e hormonais. Ele ocorre diante de qualquer desafio, positivo ou negativo, real ou imaginário” (LIPP, 2014). Segundo Lipp (2014), o stress é um processo que se divide em quatro fases, com características particulares e sintomas distintos. São elas: A fase de Alerta, a fase de Resistência, a fase de Quase Exaustão e a fase de Exaustão. Esse trabalho progride com enfoque na quarta fase, a Exaustão, que é a fase mais negativa do stress, a patológica. Nessa fase que se desenvolve a Síndrome de Burnout. A Síndrome de Burnout, também nomeada como Síndrome do Esgotamento Profissional, começou a ser conhecida no início dos anos 70, quando o psicanalista alemão Herbert J. Freudeuberger, a identificou como um distúrbio psíquico de ordem depressiva. A palavra Burnout é de origem inglesa, burn (queimar) e out (fora); traduzindo na Língua Portuguesa significa: “perda de energia”. Pessoas que são submetidas a um alto grau de stress, começam a ter reações físicas e emocionais levando algumas vezes a apresentarem comportamentos agressivos. Segundo Cataldi (2015), os psicólogos Americanos, na década de 1980, classificaram a Síndrome de Bournout, como resultado de situações de trabalho sob stress crônico entre os profissionais que depositaram grandes expectativas e se dedicaram intensamenteà profissão. Sendo assim, segundo Cataldi (2015), Burnout é uma síndrome caracterizada por 3 particularidades: 9 1) A Exaustão Emocional. O profissional além de se sentir esgotado, tem a sensação que no dia seguinte não terá recuperado suas energias para começar um nova jornada. Ele passa a se irritar facilmente, não ser indulgente, ter uma visão pessimista das coisas e se sentir insatisfeito o tempo todo. 2) A Despersonalização. O profissional se distancia emocionalmente das pessoas; perde a empatia e apresenta postura desumanizada. Tudo e todos passam a contrariá-lo. 3) Comprometimento nas realizações pessoais e profissionais. O profissional se torna descuidado e frio; muitas vezes há queda da autoestima, podendo levá- lo à depressão. As pessoas com Burnout, suprimem suas relações e parecem lidar com objetos e não com pessoas, perdendo a sensibilidade afetiva e não se responsabilizando mais pelas questões e pelas necessidades das pessoas que estão sob sua gestão. Burnout é consequência à exposição prolongada a altos níveis de stress, muitas vezes, no ambiente laboral, levando o indivíduo a uma exaustão emocional, a distanciamento das relações pessoais e a prejuízos às funções cognitivas. As alterações fisiológicas agregadas às reações ao stress são processadas pelas diversas áreas do sistema límbico. O sistema nervoso autônomo conduz o corpo a manejar o stress e as glândulas suprarrenais produzem adrenalina e corticoides. O stress, na fase da Exaustão, provoca um aumento do córtex das glândulas suprarrenais, que acabam produzindo corticosteroides (LIPP e TRICOLI et al., 2014). A descoberta de receptores cerebrais para corticosteroides em estruturas límbicas levou a entender a presença expressiva dos hormônios do stress em funções como memória e aprendizado (LIPP et al.,2010). Segundo Almeida (2010), grande parte dos estudos sobre o efeito dos corticosteroides na memória tem sido processada em neurônios hipocampais e verificou-se um aumento supra fisiológico nos níveis hormonais, seja geridas de proveniência exterior ou em resposta a um estímulo estressor; ou uma redução abaixo dos níveis normais, causam um efeito negativo, com enfraquecimento da memória declarativa, redução de neurogênese e atrofia hipocampal. É também 10 relatada uma diminuição na função serotoninérgica que pode estar associada com depressão (LIPP,2010). Biazzi (2013) cita em seu trabalho, que a exaustão de Burnout foi comparada a vários sintomas físicos de stress, entre eles: dores de cabeça, tensão muscular, problemas gastrintestinais, hipertensão e distúrbio do sono. Lipp (2003) ressalta que períodos longos de stress crônico afeta o sistema imunológico, deixando as pessoas vulneráveis a adquirirem infecções e doenças contagiosas. Com o aumento significativo de profissionais com Síndrome de Burnout o presente estudo tem o propósito de realizar uma revisão bibliográfica, considerando possíveis fatores de riscos para o seu desenvolvimento e consequências às funções cognitivas. 11 2 OBJETIVO Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout e seus efeitos às funções cognitivas. 2.1 Objetivos específicos - Breve revisão sobre concepções e sintoma da Síndrome de Burnout. - Principais alterações neuropsicológicas decorrentes da Síndrome de Burnout. 12 3 METODOLOGIA Realizou-se revisão bibliográfica utilizando-se a bases de científicas Scielo, BVS, Google acadêmico, American Psychiatry Association e da Organização Mundial de Saúde (OMS). Palavras-chave: stress, estresse, Funções Cognitivas, Síndrome de Burnout. Palavras-chave em inglês: stress, burnout, work Stress, job stress, cognition, Burnout. Critérios de inclusão e exclusão: Os trabalhos selecionados foram descritos em língua portuguesa e inglesa. A pesquisa bibliográfica foi realizada através de livros, teses, dissertações, dentre eles, artigos conceituais e de revisão que relacionassem Burnout aos seus aspectos conceituais, seus sintomas e os efeitos às funções cognitivas. O presente estudo não relaciona a Síndrome de Bounout a nenhuma classe específica de profissionais. . 13 4 RESULTADOS 4.1 SÍNDROME DE BURNOUT NO AMBIENTE LABORAL Considerada problema social de extrema importância, a Síndrome de Burnout aparece como resposta aos estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho (MENEZES et al, 2017). Os estudos no Brasil sobre a Síndrome de Burnout são bem recentes, comparados com outros países. Menezes et al (2017), tendo como base os estudos de Maslach, descreve três categorias na qual a síndrome se apresenta. São elas: 1) Física: quando o colaborador apresenta sintomas constantes de fadiga, falta de apetite e insônia; 2) Psíquica: sintomas de falta de atenção, ansiedade, frustração e déficit de memória; 3) Comportamental: há negligência no trabalho, irritação frequente, falta de foco e constantes conflitos com pessoas do trabalho. A Exaustão Emocional, a Despersonalização e a Redução da Realização Pessoal, são componentes que se relacionam, mas independentes, caracterizam Burnout (ALVES, 2017). Segundo Menezes et al (2017), a Exaustão Emocional é a que determina essencialmente a síndrome. É o primeiro comportamento que aparece em resposta as altas exigências, internas e externas, que o colaborador sofre frente à sobrecarga de trabalho, conflitos pessoais e falta de suporte, levando-o ao distanciamento emocional e cognitivo de suas responsabilidades. A Despersonalização aparece como um mecanismo de defesa à Exaustão Emocional, levando o indivíduo a se distanciar do trabalho e das pessoas. A Redução da Realização Pessoal é outra resposta que o profissional apresenta, gerando sentimento de baixa autoestima, falta de motivação e diminuição de produtividade, perdendo assim, o desejo de se destacar e ser reconhecido pela sua eficiência. Fatores como a infraestrutura organizacional, a baixa participação em sugestões para mudanças organizacionais, a insatisfação dos colaboradores, o corte de funcionários que geram a sobrecarga de trabalho e relacionamentos conflituosos entre os colegas, acarretam sentimentos de desamparo e de desconfiança. Esses 14 fatores contribuem para a Exaustão Emocional, principal sintoma da Síndrome de Burnout (MENEZES et al, 2017). Christina Maslach, psicóloga social norte-americana, foi a primeira a identificar atitudes negativas e de distanciamento pessoal, em pacientes com Burnout. Ela caracterizou a síndrome como consequência ao stress crônico causado pelo longo período que as pessoas convivem com questões estressoras no local de trabalho (ALVES, 2017). Maslach (2001) criou o Maslach Burnout Inventory (MBI), após estudar centenas de trabalhadores e observá-los em seu ambiente de trabalho; sendo este inventário a medida mais utilizada no campo de estudo da Síndrome de Bournout. Elaborado com questões relacionadas ao ambiente de trabalho, sentimentos e comportamentos apresentados em seu estudo, procede-se a avaliação dos sinais da síndrome conforme os escores de cada uma delas. Escores altos em Exaustão emocional e Despersonalização e baixos escores em Realização Pessoal sugerem alto nível da Síndrome de Burnout. Gomes et al (2013), realizaram um estudo com 333 professores do ensino superior de uma universidade do norte de Portugal. O número maior de participantes eram mulheres (n=194; 60,1%), entre 23 e 65 anos (M=42,67; DP=6,87). O nível acadêmico era de doutores (n+258; 81,6%), mestres (n=48; 15,2%) e da licenciatura (n=8; 2,5%). O número maior de professores era exclusivo desta instituição (n=269; 89,7%), com tempo de experiência profissionalentre 1 e 43 anos (M=15,50; DP=7,17). Os instrumentos utilizados na pesquisa foram o Questionário Demográfico (dados pessoais e profissionais); Escala de Avaliação Cognitiva (primaria e secundária); Questionário de Stress nos Professores do Ensino Superior – QSPES, avalia as fontes do stress no exercício da profissão; Inventário de Burnout de Maslach – Versão para Professores IBM – VP, avalia os sentimentos em relação ao trabalho (GOMES et al, 2013). Os resultados aferidos em relação a níveis globais de stress, apontam que 73% dos professores descrevem a profissão como altamente estressante, 4,2% não descrevem problemas significativos à este aspecto e 22,7% apontam níveis moderados de stress (GOMES et al, 2013). O estudo identificou a existência de associações entre as medidas de avaliação cognitiva primária (percepção de ameaça e desafio) e cognitiva secundária 15 (confronto latente e percepção de controle). Os valores entre percepção de ameaça e confronto latente foi significativa, (X2 (1) =7,88, p<.01) verificando que professores com baixa ameaça apresentaram maior confronto latente (69,1%), já professores com alta ameaça apresentavam baixo confronto latente (58,3%). A correlação entre percepção de ameaça e a de controle também foi significativa, (X2 (1) =13,87, p<.001), verificando que professores do grupo com baixa percepção de ameaça apresentavam elevada percepção de controle (60,9%), enquanto que o grupo com elevada percepção de ameaça apresentaram baixa percepção de controle (73,8%). Houve significância nos resultados entre a percepção de desafio e confronto latente (X2(1) =46,13, p<001), verificou-se que o grupo com baixa percepção de desafio apresentou menor confronto latente (94,9%) e o grupo com alta percepção de desafio apresentou alto confronto latente (80,5%). Os resultados entre a percepção de desafio e a de controle apresentaram dados significativos (X2(1) =35,97, p<.001), nesta correlação os professores com baixa percepção de desafio apresentaram baixa percepção de controle (90,1%) e os professores com alta percepção de desafio apresentaram alta percepção de controle (68,5%) (GOMES et al, 2013). Quanto aos indicadores de Burnout, 15% da amostra apresentaram altos níveis de exaustão emocional, 9% apresentou baixa realização pessoal, enquanto que a despersonalização apresentou o índice de 13% (GOMES et al, 2013). Os indicadores de stress, Burnout e avaliação cognitiva revelaram níveis de 39% para o fator exaustão emocional, 19% para despersonalização e 18% para realização pessoal (GOMES et al, 2013). Segundo Alves (2017) a Síndrome de Burnout é um problema mundial e não característico de grupos de profissionais, culturais, regionais ou níveis sociais. Em seu estudo relata que na Europa, na década de 1990, o stress aparece como um dos maiores aspectos na diminuição da qualidade da saúde; no Canadá, outro estudo apontou que os enfermeiros apresentam o maior número de licenças médicas entre os grupos de profissionais em virtude, principalmente, de Burnout e às lesões musculoesqueléticas; na Alemanha uma pesquisa aferiu que 4,2% dos colaboradores desenvolvem a síndrome; no Brasil, em 3 hospitais universitários, no Rio Grande do Norte, verificou-se através de um estudo que 93% dos participantes apresentavam sintomas moderados e elevados de Burnout; na Educação, um estudo englobando 1.440 escolas e 30.000 educadores de ensino fundamental, 16 demonstrou que 26% dos investigados apresentavam exaustão emocional em todos os estados do Brasil, havendo apenas alteração nos índices, como 17% em Minas Gerais e Ceará e 39% no Rio Grande do Sul. 4.2 SINAIS, SINTOMAS E FATORES DE RISCO A Síndrome de Burnout desenvolve-se através frequentes e intensos períodos de stress. Seu processo é gradativo, com sinais e sintomas sutis no início e se agravam no decorrer do tempo, levando a exaustão emocional. Alves (2017) relata que a exaustão emocional envolve sentimentos de raiva, insegurança, fracasso, depressão, solidão, preocupação, impaciência, irritabilidade, indecisão, como também, fraqueza, cansaço excessivo, baixa imunidade e susceptibilidade para aquisição de várias doenças. Distúrbios do sono, cefaleia, náuseas, tensão muscular, dor lombar e alterações do apetite, são sintomas frequentes. A despersonalização leva a pessoa ao desapego, a diminuição da empatia e a sensação de indiferença em relação às pessoas. Mudanças no comportamento, isolamento social, procrastinação, conflitos com colegas, uso de álcool ou drogas para alívio, são sintomas presentes na redução da realização pessoal, pois o indivíduo inclina-se a projetar suas frustrações nos outros. Alguns traços de personalidade ou características próprias de uma pessoa também podem influenciar no desenvolvimento da síndrome como (TRIGO, TENG e HALLAK, 2007): A) Pessoas muito dedicadas, que se envolvem excessivamente, que possuem maior sensibilidade e empatia; B) Pessoas competitivas, centralizadoras com baixa tolerância à frustração e erros; C) Pessoas perfeccionistas, muito exigentes, que nunca ficam satisfeitas com os resultados obtidos e que cobram muito de si; D) Pessoas controladoras e inseguras, que têm dificuldade de aceitar ajuda dos colegas; E) Pessoas que valorizam mais os aspectos negativos de uma situação, que sofrem por antecipação e possuem visões pessimistas de si e do mundo; F) Pessoas muito passivas, que sempre estão na defensiva e evitam desafios. 17 Segundo Trigo, Teng e Hallak (2007), os maiores índices, no aspecto exaustão emocional, apresentam-se em mulheres, enquanto que nos homens a despersonalização e o distanciamento afetivo são mais frequentes. Devido a Síndrome de Burnout apresentar sintomas comuns a outros transtornos psiquiátricos, seu diagnóstico muitas vezes é confundido com depressão e estresse (ALVES, 2017). Alves (2017) destaca em seu trabalho, a importância de reforçar que o Estresse e a Síndrome de Burnout não são sinônimos e os diferencia no quadro abaixo. Quadro1. Características do estresse e síndrome de Burnout ESTRESSE SÍNDROME DE BURNOUT Caracterizada por excesso de dedicação Caracterizado por desmotivação As emoções são ativas e exaltadas As emoções são embotadas Produz urgência e hiperatividade Produz impotência e desesperança Perda de energia Perda de motivação, ideais e esperança Leva a transtornos de ansiedade Leva a distanciamento e depressão O dano primário é físico O dano primário é emocional Pode mata-lo prematuramente Pode parecer que não vale a pena viver Fonte: Alves (2017) No caso da Depressão, Alves (2017) cita características de pacientes com humor deprimido, sem energia, dificuldade de concentração, perda de apetite e pensamentos de morte e suicídio. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a duração dos episódios depressivos, em média, são de duas semanas e o paciente deve apresentar humor deprimido, associado ao mínimo a quatro sintomas de sua lista, que inclui humor triste, vazio e irritável, além de pensamentos recorrentes de morte e suicídio. Vale (2014), cita em seu artigo, que as profissões que favorecem o desenvolvimento da Síndrome de Burnout são as que envolvem relações interpessoais intensas e alta performance, principalmente profissionais da área da saúde, educação, segurança, comunicação e arte em geral, por possuírem uma filosofia mais humanística em seu trabalho. 18 Garcia e Marziale (2018), em Revisão Integrativa da literatura, validam a importância da visão de Burnout como uma doença multicausal e o impacto que gera à saúde, seja de ordem física ou mental. Segundo as autoras, na China, há artigos recentes comprovando que a síndrome está presente na área da saúde, culminando no aumento da insatisfação no trabalho e no crescimento desintomas psicológicos. Em sua pesquisa relatam que os profissionais da saúde apresentam elevados níveis de esgotamento, médio nível de despersonalização e elevados desníveis na realização profissional. A idade é outro aspecto citado na pesquisa. Há estudos que demonstram que quanto mais novo o indivíduo, maior a possibilidade de desenvolver a Síndrome de Burnout ou de se esgotarem emocionalmente, em virtude da predisposição à despersonalização. A violência sofrida, seja física ou não física, pelos profissionais da saúde, também demonstraram conexões significativas com os sintomas da doença (GARCIA E MARZIALE, 2018). Schmidt, Neubach & Heuer (2007), em seu estudo levantam a questão que a síndrome sempre foi associada principalmente a altas demandas de trabalho (carga de trabalho, pressão de tempo), baixos níveis de apoio social e falta de autonomia e participação na tomada de decisão. Apenas recentemente Burnout foi analisado de uma perspectiva mais basal do processamento de informações. Essa visão foi sugerida por observações clínicas sinalizando que colaboradores esgotados costumam se queixar de dificuldades e questões na vida cotidiana, como redução da atenção e da memória, instabilidade de humor e flexibilidade limitada para lidar com demandas de tarefas novas ou transitórias. Segundo os autores, os pesquisadores Van der Linden, Keijsers, Eling e Schaijk, foram os primeiros a argumentar que essas dificuldades e queixas “podem resultar de déficits nos processos de controle cognitivo subjacentes à regulação voluntária e descendente de funções básicas de processamento de informações”. 4.3 MECANISMOS NEUROPSICOFISIOLÓGICOS O sistema nervoso autônomo (SNA) e o eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HHA) mediam as respostas do stress alinhados a outros sistemas do organismo. Zuardi (2010), explica que as duas partes do SNA, simpático e parassimpático, causam reações rápidas nos estados fisiológicos. A inervação simpática pode em 19 segundos acelerar os batimentos cardíacos e a pressão arterial através da liberação da noradrenalina, e adrenalina pela excitação simpática das células da medula adrenal. O eixo HHA, também é ativado pelo stress, elevando os índices de glicocorticóides circulantes. Em contato com estressores, os neurônios que secretam hormônios liberadores (Hipotálamo) como corticotrofina secretado nos terminais de neurônios hipotalâmicos próximos da hipófise, podem influenciar seus efeitos em outras áreas cerebrais, como a amígdala, hipocampo e locus ceruleous (ZUARDI, 2010). Dados na literatura sugerem que existam duas formas de reação ao stress, uma sistêmica e uma processiva. Na sistêmica, os estressores podem acarretar prejuízos fisiológicos, entre eles, a hipóxia e estímulos cardiovasculares e imunes. Na límbica, estruturas conectadas sinapticamente como a amídala, hipocampo e córtex pré-frontal são excitados por estressores com características cognitivas ou emocionais, que envolvem processamento sensorial de primeira ordem. Independente do estímulo estressor, a organização da informação decorre no núcleo central da amídala com a produção de hormônios que liberam corticotrofina (CRH). O CRH, liberado na amidala, atua em neurônios de projeção da mesma, que conectam com o hipocampo, direta ou indiretamente via córtex entorrinal. No hipocampo, o CRH aumenta a ação sináptica e influência na memória, sendo citado como primordial regulador dos efeitos do stress na função neuronal em regiões límbicas (LIPP et al, 2010). Os hormônios corticosteroides no cérebro unem-se a receptores nucleares (Mr e Gr) presentes na límbica e modificam a transcrição gênica executando uma tarefa fundamental na adaptação comportamental, aprendizado e memória. A ativação de receptores Mr responde a ativação gênica e a produção de proteínas que são responsáveis pela manutenção da homeostasia (LIPP et al, 2010). Silva (2015) cita em seu trabalho, que os danos celulares provenientes do stress, afetam principalmente o sistema límbico, “provocando a retração de dendríticos, a inibição da neurogênese, e até mesmo a morte de neurônios, como por exemplo, diminuição do volume do hipocampo”. Relata também, que o córtex pré-frontal (CPF) também é afetado pelos hormônios glicocorticóides, sofrendo modificações pela exposição a estressores; o que compromete as funções executivas, como a memória de trabalho, que são desenvolvidas no CPF. O CPF 20 também opera os nossos pensamentos, ações e emoções, através de múltiplas conexões com outras áreas do cérebro. As funções cognitivas estão distribuídas no córtex cerebral que é dividido em quatro regiões: lobo frontal, que está envolvido com o planejamento e com o movimento voluntário; o lobo parietal, com as sensações da superfície corporal e percepção espacial; o lobo occipital, com a visão e o lobo temporal, com a audição, a percepção visual e a memória (OLIVEIRA e RIGONI, 2014). A atenção, a aprendizagem e a memória são aspectos da cognição que nos permitem codificar, armazenar e recuperar informações. A memória é considerada como um dos processos centrais da cognição, mas sem a atenção não haveria aprendizagem e memória; sendo assim, é um mecanismo que quando desestabilizado causa sérios prejuízos à vida das pessoas (LIPP et al, 2010). Morgan et al (2011) realizaram um estudo sobre os efeitos de Burnout nas Funções Visuoespaciais, com um grupo de fuzileiros navais, em uma Escola de Treinamento de Sobrevivência, na Carolina do Norte. O grupo era formado por 32 homens, entre 18 e 32 anos, com a idade média de 24,1 anos. O objetivo do estudo era avaliar o quanto os antecedentes de trauma, dissociações e sintomas de Burnout, na linha de base, impactavam nas funções executivas reduzindo as habilidades cognitivas durante situações de stress no período de treinamento. Os instrumentos selecionados e aplicados foram Maslach Burnout Inventory-General Survey (MBI), subescalas: cinismo, exaustão, eficácia profissional; Clinician Administered Dissociation Symptom Scale (CADSS), propensão à dissociação; Brief Trauma Questionnaire (BTQ), história de disposição à traumas o Groton Maze Learnning Test (GMLT), refletem a função executiva visuoespacial. O GMTL necessita do hipocampo direito, cingulado anterior e função pré-frontal dorso lateral (MORGAN et al, 2011). Os resultados apontaram que o número de erros no GMLT aumentou rapidamente em função do treinamento no grupo que apresentou baixa eficácia profissional, enquanto que o grupo que apresentou alta eficácia profissional, constatou um desempenho mais estável, sugerindo que o grupo de menor performance apresentou maior sensibilidade aos efeitos deletérios do treinamento. Os dados também sugerem que a convicção e o otimismo, na competência de resolver problemas relacionados ao trabalho, são capazes de auxiliar na preservação das funções executivas visuoespaciais quando uma pessoa é submetida ao stress intenso (MORGAN et al, 2011). 21 Segundo Baptista, Rueda e Sisto (2007) há estudos que relatam que os sistemas cognitivos que abarcam o controle executivo se caracterizam pela interdependência, a partir do momento que afirmam que a memória de trabalho envolve os processos atencionais, mas destacam que a memória e a atenção devem ser considerados como estruturas distintas. Outros pesquisadores relacionam os sistemas atencionais à memória visual de curto prazo e se referem ao decréscimo dos sistemas cognitivos ao avanço da idade, além da exposição constante ao stress e a irritação do dia a dia, as quais geram consequências negativas às funções executivas, inclusive à memória e à atenção (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Baptista, Rueda e Sisto (2007) citam uma pesquisa com 212 candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, com o objetivo de avaliar a atenção sustentada(AS) com um teste que avalia a atenção concentrada (AC). Os resultados apontaram que ambos os teste avaliam concepções distintas, mas com um percentual de concordância. Outros pesquisadores não concordam com esses achados, já que há pesquisas com resultados que indicam que o stress aumentaria a atenção e outros resultados que apontariam o inverso. Vários estudos registram que pacientes com Burnout apresentam alterações nas funções de controle, como atenção, memória de trabalho, flexibilidade, fadiga mental (sensação de lentidão) e concentração (JONSDOTTIRI et al, 2013). Um estudo, com uma pequena amostra, analisou a atenção em 3 grupos de profissionais. Um grupo com 13 pessoas diagnosticadas com Burnout e que procuraram ajuda profissional, 6 educadores de uma instituição de Treinamento Vocacional que descreveram altos níveis de Burnout e continuavam na ativa e 14 educadores da mesma instituição que não descreveram nenhum sintoma. Os resultados observados foram que o grupo diagnosticado com a síndrome apresentou um número maior de erros cognitivos, como falta de atenção e esquecimento quando comparados ao grupo com sintomas, já este grupo apresentou maior ânimo quando comparado com o grupo sem sintomas. A hipótese sinalizada foi que colaboradores estressados não chegariam apresentar muitas respostas em direcionar sua atenção à ação, levando a uma maior distração nas atividades laborais singulares (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Outros estudos evidenciam que dificuldades com a atenção concentrada levam o colaborador, que mantém 8 horas de trabalho diário, a um desempenho deficitário, 22 sendo que muitas tarefas necessitam de planejamento e solução de problemas, funções que dependem de um controle executivo ileso, sendo a atenção uma das principais peças desse mecanismo cognitivo (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Devido a essas discordâncias, Baptista, Rueda e Sisto (2007), realizaram um estudo com o objetivo de verificar a relação entre os níveis de AC e stress em estudantes universitários, do período noturno, que trabalhavam no período matutino e vespertino. Participaram 61 estudantes de universidade particular do estado de Sergipe. A idade média foi de 21,46 (DP= 3,26), entre estudantes de 18 a 23 anos, sendo 20 (32,8%) homens e 41 (67,2%) mulheres. Foram utilizados na pesquisa o Teste de Atenção (TEACO-FF); a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT); Teste de Atenção Concentrada (AC); Teste de Atenção Sustentada e Dividida (AS) e (AD); Teste Conciso de Raciocínio (TCR); Teste de Memória (TEPIC-M); o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL); Teste de Raciocínio Inferencial; o Inventário de Percepção do Suporte Familiar (IPSF); Análise dos itens pelo modelo de Rasch (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Os resultados aferidos demonstram que há relação entre AC e stress laboral somente no aspecto Clima e Funcionamento Organizacional no sexo feminino e na amostra total. Este estudo, segundo Baptista, Rueda e Sisto (2007), valida outra pesquisa, a de Braunstein-Bercovitz (2003), que aponta que o aumento do stress diminui a atenção das pessoas em situações mais complexas, levando-as a focar nos estímulos principais como nos estímulos distratores. O mesmo estudo demonstra que menor exposição ao stress e a situações complexas levam a uma maior discriminação dos estímulos principais e uma menor atenção aos estímulos distratores (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Quando contido o efeito idade, averiguou-se que a associação citada anteriormente não se sustenta no caso das mulheres, nem como um todo. Por outro lado, o agente relativo à pressão no trabalho apontou um nível baixo com a AC das mulheres. Sugere-se, nesse caso, que o acúmulo de funções de trabalho e de responsabilidades diárias, por exemplo, estariam mais associadas às mulheres (BAPTISTA, RUEDA e SISTO, 2007). Jonsdottiri et al (2013), realizaram uma estudo na Suécia com pacientes ambulatoriais, com exaustão devido ao estresse, comparando-os a indivíduos considerados saudáveis. Uma das hipóteses do estudo era que os pacientes 23 ambulatoriais apresentariam um desempenho desfavorável em vários aspectos do domínio cognitivo especialmente atenção, velocidade de processamento e funções executivas. Os resultados obtidos confirmam que os pacientes com exaustão devido ao estresse obtiveram resultados inferiores nos testes neuropsicológicos, principalmente na velocidade de processamento, memória de trabalho, memória episódica, atenção e funções executivas (JONSDOTTIRI et al, 2013). Como em outros estudos, verificou-se que diversas células cerebrais são afetadas pelo estresse crônico, levando a consequências funcionais; estruturas frontais e hipocampo também são afetadas. De acordo com pesquisas realizadas anteriormente, sugere-se que o estresse pode contribuir com o surgimento da doença de Alzheimer (JONSDOTTIRI et al, 2013). . . . 24 5 DISCUSSÃO O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica breve sobre a Síndrome de Burnout e os efeitos às funções cognitivas. O stress faz parte da vida, mas quando não conseguimos manejá-lo de forma eficaz, ele se torna perigoso ocasionando prejuízos sérios à nossa saúde física e mental. Isso ocorre principalmente quando ele chega a fase da exaustão, que é considerada patológica. É nessa fase que se desenvolve a Síndrome de Burnout. Tabela 1. Principais causas encontradas nos estudos à Síndrome de Burnout Estudo Causas Cataldi (2015) Stress crônico entre os profissionais que depositaram grandes expectativas e se dedicaram intensamente à profissão. Menezes et al (2017) Altas exigências, internas e externas, que o colaborador sofre frente à sobrecarga de trabalho, conflitos pessoais e falta de suporte. Maslach (2001) Escores altos em Exaustão emocional e Despersonalização e baixos escores em Realização Pessoal. (Trigo,Teng e Hallak (2007): Traços de personalidade ou características (próprias pessoas muito sensíveis e empáticas, competitivas, centralizadoras, perfeccionistas, controladoras, inseguras, pessimistas e muitas passivas. Gomes et al (2013) Excesso de trabalho, cobrança para a produtividade científica e as dificuldades em harmonizar a vida pessoal e profissional. Segundo Menezes et al (2017), a Exaustão Emocional é o sintoma que determina essencialmente a síndrome. A Despersonalização aparece como um mecanismo de defesa à Exaustão Emocional, levando o indivíduo a se distanciar do trabalho e das pessoas. A Redução da Realização Pessoal é outra resposta que o profissional apresenta, gerando sentimento de baixa autoestima, falta de motivação e diminuição de produtividade, perdendo assim, o desejo de se destacar e ser reconhecido pela sua eficiência. Em virtude da Síndrome de Burnout apresentar sintomas comuns a outras patologias, muitas vezes ela é diagnosticada como Depressão ou Ansiedade, mas Burnout é uma doença adquirida em ambiente laboral (ALVES, 2017). 25 O sistema nervoso autônomo (SNA) e o eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HHA) mediam as respostas do stress alinhados a outros sistemas do organismo. O eixo HHA, também é ativado pelo stress, elevando os índices de glicocorticóides circulantes. Em contato com estressores, os neurônios que secretam corticotrofina, secretado nos terminais de neurônios hipotalâmicos próximos da hipófise, podem influenciar seus efeitos em outras áreas cerebrais, como a amígdala, hipocampo e locus ceruleous (ZUARDI, 2010). Os receptores nucleares (Mr e Gr) presentes no sistema límbico, ao se unirem aos hormônios corticosteroides, modificam a transcrição gênica executando uma tarefa fundamental na adaptação comportamental, aprendizado e memória (LIPP et al, 2010). Danos celulares provenientesdo stress afetam principalmente o sistema límbico. O córtex pré-frontal também é afetado pelos hormônios glicocorticóides, o que comprometem as funções executivas, como a memória de trabalho, que são desenvolvidas no CPF, como também os nossos pensamentos, ações e emoções, em conexões com outras áreas do cérebro (SILVA, 2015). Tabela 2. Principais efeitos às funções cognitivas encontradas nos estudos Estudos Efeitos Lipp et al (2010) Alterações na memória, atenção e aprendizagem. Morgan et al (2011) Antecedentes de trauma, dissociações e sintomas de Burnout, impactam reduzindo as funções executivas visuoespaciais. Baptista, Rueda e Sisto (2007) Geram consequências negativas às funções executivas, inclusive à Memória e à Atenção Concentrada. Jonsdottiri et al (2013) Alterações nas funções de controle, velocidade de processamento, como atenção, memória de trabalho, memória episódica, funções visuoespaciais, linguagem flexibilidade, fadiga mental (sensação de lentidão) e concentração. Silva (2015) Alterações na memória de trabalho, nas ações executivas e nas emoções. Gomes et al (2013) Levam a altos níveis de exaustão emocional e médios níveis de despersonalização e realização pessoal. Garcia e Marziale (2018) Elevados níveis de esgotamento, médio nível de despersonalização e elevados desníveis na realização profissional. Profissionais jovens maior esgotamento emocional devido a predisposição à despersonalização. 26 A memória é considerada como um dos processos centrais da cognição, mas sem a atenção não haveria aprendizagem e memória; sendo assim, é um mecanismo que quando desestabilizado causa sérios prejuízos à vida das pessoas (LIPP et al, 2010). Os resultados dos estudos abordados neste trabalho se correlacionam sobre a Síndrome de Burnout afetar as funções cognitivas, principalmente a memória de trabalho, a atenção concentrada e a velocidade de processamento. Outro dado interessante que consta nos estudos está relacionado aos efeitos de Burnout nas mulheres e nos homens. Alves (2017) relata que as mulheres apresentam maiores índices na relação com exaustão emocional, enquanto que os homens, despersonalização e distanciamento afetivo; Jonsdottiri et al (2013) relatam que as funções cognitivas, entre elas, a memória e a atenção, foram mais prejudicadas na amostra de mulheres; Baptista, Rueda e Sisto (2007) descrevem que aparece relação entre atenção concentrada e stress laboral no aspecto Clima e Funcionamento Organizacional, no sexo feminino. Nesse caso sugere-se que o acúmulo de funções de trabalho e de responsabilidade diárias, por exemplo, estariam mais associadas às mulheres (BAPTISTA, RUEDA E SISTO, 2007). O interesse sobre a Síndrome de Burnout aumentou nas últimas décadas devido a três aspectos: o primeiro a valorização sobre qualidade de vida e as alterações incluídas no conceito de saúde pela OMS; o segundo devido a uma demanda maior e cobranças da população por melhores serviços sociais, educativos e de saúde e por último a conscientização de pesquisadores em aprofundar os estudos, compreendendo a necessidade de maiores informações e a prevenção de seus sintomas (VALE, 2014). Atualmente o transtorno está registrado no grupo 24 da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde-CID 11, como um dos distúrbios psíquicos que compacta a saúde ou o contato com serviços de saúde. Apesar de se encontrar conteúdo na internet sobre a Síndrome de Burnout, ainda é um transtorno psíquico que muitos infelizmente desconhecem, pois seu conhecimento levaria à cobrança de ambientes laborais mais saudáveis e a própria conscientização do trabalhador sobre a importância da qualidade de vida. Todos os pesquisadores, nos trabalhos citados, foram unanimes em dizer que poucos ainda são os estudos sobre Burnout, e que devidos as pesquisas não 27 possuírem uma amostra numerosa, seus resultados devem ser mais investigados para um maior aprofundamento do assunto. 28 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho teve a finalidade de informar os impactos que a Síndrome de Burnout acarreta na vida das pessoas. Os estudos apresentam Burnout em diversas profissões entre elas à área da saúde, educação e forças armadas, mas todos os resultados trazem impactos às funções cognitivas, principalmente memória, velocidade de processamento e atenção. A atividade profissional exige muito tempo da vida das pessoas, por isso o ambiente laboral deve ser saudável permitindo qualidade de vida física, psíquica e interpessoal para que possamos evitar que as pessoas entrem nessa patologia ou mesmo que os primeiros sintomas sejam identificados para não desencadear o quadro. Sugerem-se mais estudos sobre as consequências da Síndrome de Burnout, encaminhamentos para seu tratamento e principalmente procedimentos preventivos para serem adotadas nas organizações evitando assim o aumento de casos da doença. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Marcelo E. Síndrome de Burnout. Psychiatry on line Brasil. Vol. 22, n° 9, Nov. 2017. BAPTISTA, Makilim N; RUEDA, Fabián J.M.; SISTO, Fermino F. Relação entre Estresse Laboral e Atenção Concentrada. Encontro Rev, psic. São Paulo. Valinhos. v.XI, n° 16, 2007. BIAZZI, Sideli. Estresse, Burnout e Estratégias de Enfrentamento: Um estudo com professores de uma instituição educacional privada de São Paulo. PUC, 2013. 138 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013. BRUNA, Maria Helena V. Síndrome de Burnout (esgotamento profissional), https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas /> Acesso em 25 jul. 2019. CATALDI, Maria José. Stress no ambiente de trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2015. GARCIA GPA, Marziale MHP. Indicators of burnout in Primary Health Care workers. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018;71(Suppl 5):2334-42. [Thematic Issue: Mental health] DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0530 JONSDOTTIR, I. H., NORDLUND, A., ELLBIN, S., LJUNG, T., GLISE, K., Wa, P., & Wallin, A. (2013). Cognitive impairment in patients with stress-related exhaustion. 16(March), 181–190. https://doi.org/10.3109/10253890.2012.708950 LIPP, Marilda. Mecanismos Neuropsicofisiológicos do Stress: Teoria e Aplicações Clínicas. 3 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. LIPP, Marilda; TRICOLLI, Valquiria. Relacionamentos Interpessoais no Século XXi e o Stress Emocional. 1 ed. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014. MASLACH, Cristina; JACKSON, Susan E. Maslach Burnout Inventory Manual. 2ed. Palo Alto: Consulting Psychologists Press; 1999. MENEZES, Prisclla C. M. et al. Síndrome de Burnout: uma análise reflexiva. Revista de Enfermagem, UFP On Line, 2017. MORGAN, C. A., RUSSELL, B., MCNEIl, J., MAXWELL, J., SNYDER, P. J., SOUTHWICK, S. M., & PIETRZAK, R. H. (2011). Baseline Burnout Symptoms Predict Visuospatial Executive Function During Survival School Training in Special Operations Military Personnel. 494–501. https://doi.org/10.1017/S1355617711000221 https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas%20/ 30 NASCIMENTO, Maria Inês C. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. OLIVEIRA, Margareth S.; RIGONI, Maisa S. Figuras Complexas de Rey: Teste de Cópia e Reprodução de Memória de Figuras Geométricas Complexas. 2 ed. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 2014. PSICOLOGIA, R. S. De. (2013). Stress , avaliação cognitiva e burnout : Um estudo com professores do ensino superior SCHMIDT, Klaus-HELMUT; NEUBACH Barbara & HEUER, Herbert (2007) Self- control demands, cognitive control deficits, and burnout, Work & Stress: An International Journal of Work, Health & Organisations, 21:2, 142-154, DOI: 10.1080/02678370701431680. To link to this article: http://dx.doi.org/10.1080/02678370701431680SILVA, Érika C. Efeitos do estresse crônico em áreas do cérebro. Revista eletrônica Estádio Recife - Faculdade Estácio de Recife, 2015 . TRIGO, Telma R.; TUNG Teng; HALLAK, Jaime E. C. Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Revista de Psiquiatria Clínica 34(5) · January 2007. VALE, Deijone. SÍNDROME DE BURNOUT: O tendão de Aquiles dos Workaholics. São Paulo: Portal de Artigos de Neuropsicologia; 2014. ZUARDI, A. W. Fisiologia do estresse e sua influência na saúde. São Paulo: USP, Departamento de Neurociências e ciência do comportamento (internet); 2010. https://www.researchgate.net/journal/0101-6083_Revista_de_Psiquiatria_Clinica https://www.researchgate.net/journal/0101-6083_Revista_de_Psiquiatria_Clinica 31 ANEXO Termo de Responsabilidade Autoral Eu Vera Lucia Fernandes afirmo que o presente trabalho e suas devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral sobre seu conteúdo. Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o título “A SÍNDROME DE BURNOUT E OS EFEITOS ÀS FUNÇÕES COGNITIVAS”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC) e meu orientador de quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia. São Paulo, __________de ___________________de______. _______________________ Assinatura do (a) Aluno (a) Hans Selye, nomeado como pai da estressologia, comentava que o stress faz parte da vida e que as pessoas devem aprender a manejá-lo de forma eficaz, como resposta aos desafios agradáveis e desagradáveis que surgem no seu dia a dia (LIPP e TRICOLI et ... No mundo em que vivemos, a instabilidade está muito presente; tudo muda muito rápido levando o indivíduo a uma sobrecarga de cobranças internas e externas, que tem como consequência o stress. “Stress é uma reação que envolve componentes físicos, psicológicos, mentais e hormonais. Ele ocorre diante de qualquer desafio, positivo ou negativo, real ou imaginário” (LIPP, 2014). Segundo Lipp (2014), o stress é um processo que se divide em quatro fases, com características particulares e sintomas distintos. São elas: A fase de Alerta, a fase de Resistência, a fase de Quase Exaustão e a fase de Exaustão. Esse trabalho progride com enfoque na quarta fase, a Exaustão, que é a fase mais negativa do stress, a patológica. Nessa fase que se desenvolve a Síndrome de Burnout. A Síndrome de Burnout, também nomeada como Síndrome do Esgotamento Profissional, começou a ser conhecida no início dos anos 70, quando o psicanalista alemão Herbert J. Freudeuberger, a identificou como um distúrbio psíquico de ordem depressiva. A palavra Burnout é de origem inglesa, burn (queimar) e out (fora); traduzindo na Língua Portuguesa significa: “perda de energia”. Pessoas que são submetidas a um alto grau de stress, começam a ter reações físicas e emocionais levando algumas vezes a... Segundo Cataldi (2015), os psicólogos Americanos, na década de 1980, classificaram a Síndrome de Bournout, como resultado de situações de trabalho sob stress crônico entre os profissionais que depositaram grandes expectativas e se dedicaram intensame... Sendo assim, segundo Cataldi (2015), Burnout é uma síndrome caracterizada por 3 particularidades: 1) A Exaustão Emocional. O profissional além de se sentir esgotado, tem a sensação que no dia seguinte não terá recuperado suas energias para começar um nova jornada. Ele passa a se irritar facilmente, não ser indulgente, ter uma visão pessimista das ... 2) A Despersonalização. O profissional se distancia emocionalmente das pessoas; perde a empatia e apresenta postura desumanizada. Tudo e todos passam a contrariá-lo. 3) Comprometimento nas realizações pessoais e profissionais. O profissional se torna descuidado e frio; muitas vezes há queda da autoestima, podendo levá-lo à depressão. As pessoas com Burnout, suprimem suas relações e parecem lidar com objetos e não com pessoas, perdendo a sensibilidade afetiva e não se responsabilizando mais pelas questões e pelas necessidades das pessoas que estão sob sua gestão. Burnout é consequência à exposição prolongada a altos níveis de stress, muitas vezes, no ambiente laboral, levando o indivíduo a uma exaustão emocional, a distanciamento das relações pessoais e a prejuízos às funções cognitivas. As alterações fisiológicas agregadas às reações ao stress são processadas pelas diversas áreas do sistema límbico. O sistema nervoso autônomo conduz o corpo a manejar o stress e as glândulas suprarrenais produzem adrenalina e corticoides. O stress, n... A descoberta de receptores cerebrais para corticosteroides em estruturas límbicas levou a entender a presença expressiva dos hormônios do stress em funções como memória e aprendizado (LIPP et al.,2010). Segundo Almeida (2010), grande parte dos estudos sobre o efeito dos corticosteroides na memória tem sido processada em neurônios hipocampais e verificou-se um aumento supra fisiológico nos níveis hormonais, seja geridas de proveniência exterior ou em... Biazzi (2013) cita em seu trabalho, que a exaustão de Burnout foi comparada a vários sintomas físicos de stress, entre eles: dores de cabeça, tensão muscular, problemas gastrintestinais, hipertensão e distúrbio do sono. Lipp (2003) ressalta que perío... Com o aumento significativo de profissionais com Síndrome de Burnout o presente estudo tem o propósito de realizar uma revisão bibliográfica, considerando possíveis fatores de riscos para o seu desenvolvimento e consequências às funções cognitivas. 2 OBJETIVO 3 METODOLOGIA 4 RESULTADOS Stress crônico entre os profissionais que depositaram grandes expectativas e se dedicaram intensamente à profissão.
Compartilhar