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Vícios em Negócios Jurídicos

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Roberto Figueiredo
Direito Civil
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para 
anular o negócio, ou reclamar indenização.
 
c) Coação Moral.
 
Requisitos para que a coação possa viciar o negócio: 
I - A coação deve ser a causa do ato;
II - Gravidade: A coação deve imputar ao coagido um verdadeiro temor de 
dano sério;
III - Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva); ameaça do exercício normal 
do direito não é coação, idem temor reverencial.
IV - Iminência ou Atualidade: A coação deve ser atual ou iminente (é para 
afastar a coação impossível);
V - A coação deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou bens da vítima, 
ou à pessoas da sua família. 
Na análise dos requisitos acima se leva em consideração as circunstâncias subjetivas 
da vítima. Art. 152 do CC:
 
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a 
saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam 
influir na gravidade dela.
 
Se a coação for dirigida a pessoa que não é da família, caberá ao magistrado 
analisar. Art. 151 do CC:
 
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao 
paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua 
família, ou aos seus bens.
 
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o 
juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
 
Art. 153 do CC:
 
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem 
o simples temor reverencial.
Coação exercida por terceiros:
 
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá 
solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155, CC – Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem 
que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor 
da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
 
d) Lesão 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação oposta.
 
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao 
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento 
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
 
e) Estado de Perigo 
 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade 
de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, 
assume obrigação excessivamente onerosa.
 
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o 
juiz decidirá segundo as circunstâncias.
 
E. 148, CJF – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o 
disposto
no § 2º do art. 157.
 
4.2 Vícios Sociais
 
a) Fraude Contra Credores: 
 
O patrimônio do devedor é o domicílio da garantia do credor (Alexandre Câmara).
Requisitos: 
 
Anterioridade do crédito
Eventus Damni 
Consilium Fraudis
 
Hipóteses nas quais o CC presume a má-fé:
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os 
praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o 
ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus 
direitos.
§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a 
anulação deles.
 
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, 
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro 
contratante.
 
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da 
dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que 
se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
 
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de 
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
Presunção de boa-fé: 
 
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários 
indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou 
à subsistência do devedor e de sua família.
b) Simulação 
 
Classificação:
 
- Absoluta
- Relativa (ou dissimulação) 
 
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se 
válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais 
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
# Reserva Mental 
 
Art. 110, CC – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a 
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha 
conhecimento.
Prescrição e Decadência
Tema IV
 
1. Noções Introdutórias
 
O tempo, como fato jurídico natural. Análise do tema em correlação com as 
modalidades de direitos e ações. 
 
2. Prescrição
 
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela 
prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. 
 
2.1 Prazos
 
Os prazos prescricionais estão todos mencionados nos artigos 205 (Prazo Geral) e 
206 (Prazo Especial) do CC.
 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo 
menor. 
 
Art. 206. Prescreve:
 
§ 1º Em um ano: 
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo 
no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; 
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o 
prazo: 
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é 
citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou 
da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; 
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; 
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e 
peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; 
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a 
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da 
assembléia que aprovar o laudo; 
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os 
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da 
sociedade. 
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data 
em que se vencerem. 
§ 3º Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; 
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou 
vitalícias; 
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, 
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; 
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; 
V - a pretensão de reparação civil; 
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, 
correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; 
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do 
estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; 
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço 
referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou 
assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; 
c) para os liquidantes, da primeiraassembléia semestral posterior à violação; 
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do 
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; 
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no 
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. 
§ 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação 
das contas. 
§ 5º Em cinco anos: 
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou 
particular; 
 II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores 
e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da 
cessação dos respectivos contratos ou mandato; 
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. 
2.2 Causas Impeditivas, Suspensivas e Interruptivas da Prescrição. 
 
a) Causas Impeditivas e Suspensivas (art. 197 a 201 do CC)
 
Consistem em causas que impedem o início da contagem do prazo prescricional, ou 
então vem a suspender a fluência desses esses prazos. 
A suspensão pode acontecer em diversas oportunidades e, em todas elas, o prazo 
reinicia de onde parou.
 
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou 
curatela.
 
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; 
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos 
Municípios; 
 
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. 
 
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva; 
II - não estando vencido o prazo; 
III - pendendo ação de evicção. 
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, 
não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
 
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só 
aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.
Segundo o enunciado 296 do CJF: “Não corre a prescrição entre os companheiros, 
na constância da união estável”.
 
b) Causas Interruptivas (art. 202 a 204 do CC): 
Essas zeram o prazo, o interrompendo e fazendo necessidade de nova contagem do 
início. A interrupção só poderá ocorrer uma única vez, como determina o caput do 
art. 202. 
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á: 
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o 
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; 
III - por protesto cambial; 
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de 
credores; 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe 
reconhecimento do direito pelo devedor. 
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a 
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. 
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; 
semelhantemente, a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não 
prejudica aos demais coobrigados. 
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como 
a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus 
herdeiros.
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não 
prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e 
direitos indivisíveis.
§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.
 
2.3 Observações Finais sobre Prescrição
A exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão, a exemplo do direito de 
compensação. Sobre o tema art. 190 do CC:
 
Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.
 
Sobre as relações relacionadas a pagamento de seguro afirma a Súmula 229 do STJ:
“O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de 
prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.”
 
A prescrição pode ser arguida em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem 
aproveita:
Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a 
quem aproveita.
E no Superior Tribunal de Justiça?
O problema estaria na (im)possibilidade de suscitá-la no Recurso Especial ou 
Extraordinário. O Superior Tribunal de Justiça restringe a possibilidade, ante a falta 
do prequestionamento:
“está pacificado nesta Corte que mesmo as matérias passíveis de conhecimento de 
ofício na instância ordinária, como a prescrição, não dispensam o requisito do 
prequestionamento para viabilizar o conhecimento do recurso especial, pois essa 
exigência decorre da Constituição Federal” (AgRg 862742).
Segundo o Superior Tribunal de Justiça “a jurisprudência desta Corte Superior de 
Justiça firmou-se no sentido de que mesmo as chamadas questões de ordem pública, 
apreciáveis de ofício nas instancias ordinárias, não prescindem do necessário 
prequestionamento para viabilizar o recurso especial”.
 
A morte não suspende e nem interrompe o prazo prescricional, pois:
 
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu 
sucessor.
3. Decadência (ou caducidade)
 
A decadência diz respeito à perda de direitos potestativos por conta do decurso do 
tempo.
A decadencial pode ser legal ou convencional. A convencional é novidade do Código, 
decorrente da vontade das partes. Ex: direito de arrependimento em um contrato 
preliminar; prazo de garantia contratual.
 
4. Observações Correlatas: Prescrição e Decadência 
I. Os prazos prescricionais, por serem sempre legais, não podem ser alterados pela 
vontade das partes (ar. 192). E os decadenciais?
Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. 
II. A prescrição, por ser uma defesa do devedor, pode ser renunciada, nos termos do 
art. 191 CC. Na mesma linha a decadência convencional também pode ser 
renunciada, não se admitindo, porém, a renúncia ao prazo decadencial legal (art. 
209).
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo 
feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a 
renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a 
prescrição. 
Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
 
III. A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (a convencional não). 
O mesmo não acontece com a convencional – Inteligência dos arts 210 e 211 do CC: 
 
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por 
lei.
Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la 
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. 
 
E a prescrição?
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou 
prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na 
reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e a 
decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade 
de manifestar-se.
 
IV. A decadência não se impede, suspende ou interrompe, salvo em relação à 
absolutamente incapazes. 
Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as 
normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
Art. 208. Aplica-seà decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I
 
Sumário de 
Aula
2ª FASE DA OAB – DIREITO CIVIL
Direito das Obrigações
1. Introdução. Conceito Básico: Débito e Responsabilidade.
 
O que significa a palavra obrigação? E juridicamente?
 
A obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do 
devedor o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma 
relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo 
objeto consiste numa prestação economicamente aferível. 
(GONÇALVES, Carlos Roberto)
 
A obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir 
de outra uma prestação economicamente apreciável. 
(PEREIRA, Caio Mário da Silva)
 
Deste conceito clássico é possível extrair os seguintes elementos da 
relação obrigacional: 
 
a) o caráter transitório; 
b) o vínculo jurídico com exigibilidade patrimonial; 
c) a prestação exigível; 
d) a relação existente entre pessoas.
 
O vigente Código Civil, em comparação ao anterior, promoveu importante 
mudança no ramo obrigacional, ao vê-lo como a parte geral da parte 
especial (Orlando Gomes).
A clássica relação jurídica obrigacional é erigida sob dois pilares: débito 
(schuld) e responsabilidade (haftung) – obrigação civil ou perfeita (Brinz).
O que é o débito?
 
O que é a responsabilidade? É patrimonial ( Das Leis das XII Tábuas, de 450 
a. C. – tábua terceira – à Lex Poetelia Papiria – 428, a. C.)? 
 
A responsabilidade patrimonial é ilimitada?
Vejamos o que informa o art. 391 do CC/02:
CC, art. 391:
Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do 
devedor.
 
Necessidade de uma leitura sistemática do art. 391 do CC com os valores 
constitucionais: Teoria Jurídica do Patrimônio Mínimo (Luis Edson Fachin) e 
o Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo (Ana Paula Barcelos). 
 
Alguns exemplos de limites:
 
a) Direito à Moradia (art. 6 da CF/88). Bem de Família (Lei 8.009/90, arts. 
1.711 e ss. do CC/02 e Súmula 364 do STJ);
 
b) Impenhorabilidades do CPC/15 (Art. 833).
 
Interpretação sistemática que se impõe na esteira no art. 2, parágrafo 2 da 
LINDB (Barbosa Moreira):
 
LINDB, Art. 2, parágrafo 2:
§ 2 A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já 
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
 
Melhor intelecção do legislador processualista:
 
CPC/15, Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e 
futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições 
estabelecidas em lei.
Se a responsabilidade é patrimonial, cabe prisão civil?
 
A CF/88 veicula duas hipóteses de prisão civil (Art. 5, LXVII):
 
CF, art. 5, LXVII:
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo 
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do 
depositário infiel;
 
Todavia, haja vista a adoção da tese da supralegalidade da Convenção de 
Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), não mais é possível a 
prisão civil de depositário infiel – decisão de 03 de dezembro de 2008 (RE 
349703 – Inf. 531/STF). A isto chamam alguns da convencionalização do 
direito civil. Hoje a questão está pacificada, persistindo apenas a prisão civil 
do devedor de alimentos.
STF, Súmula Vinculante 25:
É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do 
depósito.
 
STJ, Súmula 419: 
Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.
 
Sabe-se que a regra geral é que débito e responsabilidade caminhem juntos. 
Mas seria possível se falar em responsabilidade sem débito e débito sem 
responsabilidade?
 
Sim!
 
O débito sem obrigação: obrigações naturais ou imperfeitas.
CC, Art. 882:
Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir 
obrigação judicialmente inexigível.
 
Responsabilidade sem débito: relações de garantia.
 
Responsabilidade patrimonial seria patrimonialização?
 
O que é responsabilidade executória secundária?
CPC/15, Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas 
dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei.
 
§ 1o O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da 
sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da 
sociedade.
§ 2o Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1o nomear quantos bens 
da sociedade situados na mesma comarca, livres e desembargados, bastem 
para pagar o débito.
§ 3o O sócio que pagar a dívida poderá executar a sociedade nos autos do 
mesmo processo.
§ 4o Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a 
observância do incidente previsto neste Código.
CC, Art. 1.643:
 
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do 
outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa 
exigir.
 
CC. Art. 1.644:
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam 
solidariamente ambos os cônjuges.
2. A Novel Leitura do Direito Obrigacional. A Relação Jurídica 
Obrigacional como um Processo.
 
Hodiernamente não mais deve ser enxergada a relação jurídica obrigacional 
apenas com base no débito e na responsabilidade (antiga e nominada 
obrigação simples). Hoje há conceito complexo, funcionalizado (vínculo 
dinâmico) da obrigação como um processo (Heinrich Siber, Karl Larenz e 
Clóvis Couto e Silva).
 
A obrigação é o conjunto de atividades necessárias à satisfação do interesse 
do credor. 
(COUTO E SILVA, Clóvis)
Não há apenas direitos ao credor. O devedor também os tem, como a 
constituição daquele em mora. Idem sobre os deveres.
 
Visão não mais de uma partida de tênis, mas de um jogo de frescobol.
 
Dessa maneira, há novos elementos integrantes da relação jurídica 
obrigacional: 
 
a) ordem de cooperação entre as partes; 
b) deveres anexos impostos a ambas as partes; 
c) cumprimento mais largo (não basta adimplir os deveres obrigacionais do 
contrato).
Evolução de uma relação obrigacional egoística para uma relação pautada 
em solidariedade social e dignidade humana (relação colaborativa).
 
A concepção atual de relação jurídica, em virtude da incidência do princípio 
da boa-fé, é a de uma ordem de cooperação, em que aluem as posições 
tradicionais do devedor e do credor. 
(COUTO E SILVA, Clóvis. A obrigação como processo, São Paulo: José 
Butschasky, 1976, p.120)
Não se quer com isso negar que a relação jurídica obrigacional está 
destinada à satisfação do interesse do credor, mas enfatizar a necessidade 
de que este também deve cooperar na consecução deste fim. 
(PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil, Rio de Janeiro: Renovar, 1999, 
p.212)
 
A partir desta leitura dinâmica e social, a eticidade - através da boa-fé - e a 
sociabilidade - mediante a função social - ganham importante espaço como 
balizadores da relação jurídica obrigacional.
2.1 A Eticidade Obrigacional. A Boa-Fé.
 
A boa-fé objetiva (treu und glauben – lealdade e confiança) como princípio 
das relações obrigacionais (CC, arts. 113 e 422);
 
CC, Art. 113:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e 
os usos do lugar de sua celebração.
 
CC, Art. 422:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do 
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
 
a) base constitucional (arts. 1º, III, 3º, III, e 5º) e previsão do CDC (arts. 4º, 
III, e 51, IV);
 
b) disposição de caráter abstrato e função de flexibilizar o sistema 
(oportunidade de adequar a decisão judicial no caso concreto às novas 
diretrizes do sistema obrigacional);
A boa-fé objetiva não pode ser aplicada da mesma forma às relações de 
consumo e às relações mercantis ou societárias, pela simples razão de que 
os ‘standards’ de comportamento são distintos.(TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson, “A boa-fé objetiva no Código 
de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, In TEPEDINO, Gustavo – 
coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil-constitucional, Rio de 
Janeiro: Renovar, 2005, p.40)
c) a tríplice função da boa-fé objetiva (Judith Martins Costa): função 
interpretativa, função integrativa e função restritiva ou limitadora.
 
- Função Interpretativa ou de otimização dos contratos (art. 113 do CC).
 
CJF, Enunc. 27:
En. 27. Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar 
em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros 
estatutos normativos e fatores metajurídicos. 
- Função Integrativa ou de reequilíbrio dos contratos (art. 422 do CC - 
deveres de conduta, anexos, instrumentais, laterais, acessórios, de proteção 
ou de tutela).
 
Adimplir significará atender a todos os interesses envolvidos na obrigação, 
abarcando tanto os deveres ligados à prestação propriamente dita, como 
àqueles relacionados à proteção dos contratantes em todo o 
desenvolvimento do processo obrigacional.
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: 
Obrigações, Salvador: JusPodivm, 2013, p.377)
Deveres de conduta são taxativos ou exemplificativos (Carneiro de Frada)?
 
Classificação de Menezes de Cordeiro dos deveres de conduta: a) Deveres 
de proteção, de esclarecimento e de lealdade.
 
CJF, Enunc. 24:
En. 24.: Art. 422.: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 
do novo Código Civil, a violação aos deveres anexos constitui espécie de 
inadimplemento, independentemente de culpa.
O descumprimento de tais deveres denomina-se de violação positiva do 
contrato ou adimplemento fraco, sen-do reconhecido pelo STJ na hipótese 
de não observância do dever de informação:
Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé 
contratual. Deveres anexos ao contrato.
- O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo CDC, 
impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao contrato, 
que são decorrência lógica deste princípio.
- O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade 
dentro da relação contratual.
- A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento 
contratual de quem lhe tenha dado causa.
- A alteração dos valores arbitrados a título de reparação de danos 
extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso Especial, nos 
casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou exagerado.
Recursos não providos.
(REsp 595631 / SC. Relatora Ministra Nancy Adrighi. 3 Turma. Julgado 
em:08.06.2004.)
No mesmo sentido: REsp 1276311/RS. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. DJe 
17.10.2011.
 
O CJF reconhece como um dos deveres anexos o de mitigação por parte do 
credor - Duty to Migate the Loss ou o dever do credor de mitigar as próprias 
perdas:
 
CJF, Enunc. 169:
E. 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o 
agravamento do próprio prejuízo
 
Idem sobre o nemo potest venire contra factum proprium
CJF, Enunc. 362
A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) 
funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do 
Código Civil.
 
O que são os deveres acessórios da obrigação principal (indenizar a mora)?
 
- Função Restritiva ou Limitadora (art. 187 do CC):
 
CJF, Enunc. 26:
En. 26 Art. 422.: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil 
impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato 
segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento 
leal dos contratantes.
Aplicação: Do pré-contrato ao pós-contrato?
 
CJF, Enunc. 25:
En. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo 
julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual.
 
CJF, Enunci. 170:
En. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na 
fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal 
exigência decorrer da natureza do contrato.
2.2 A Sociabilidade Obrigacional: A Função Social. 
 
O princípio da função social do contrato tem base constitucional, 
encontrando fundamento na princípio da solidariedade e na afirmação do 
valor social da livre iniciativa. O CC apenas consolidou, no ordenamento 
infraconstitucional, a ideia de que o contrato deve ser funcionalizado, i.e., 
elaborado e interpretado sempre de forma a não causar influência negativa 
no meio social, bem como observado por terceiros, dos quais se exige que 
‘respeitem as situações jurídicas anteriormente constituídas.
(COSTA, Pedro Oliveira da, “Apontamentos para uma visão abrangente da função social do 
contrato”, In TEPEDINO, Gustavo – coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil-
constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.57)
O tema resta disciplinado no art. 421 do CC:
 
CC, Art. 421:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato. 
 
Observa-se que a função social mitiga, mas não extingue, a autonomia 
da vontade – Enunciado 23 do CJF:
 
CJF, Enunc. 23:
En: 23.: Art. 421.: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo 
Código Civil, não elimina o princípio da autonomia individual, mas atenua ou 
reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses 
metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa 
humana.
A relativização do alcance estrito das relações obrigacionais: tutela externa e 
interna do crédito. O terceiro ofendido e o terceiro ofensor. 
 
O terceiro ofensor ou terceiro cúmplice e o exemplo da prestação se 
serviços.
 
CC, Art. 608: 
Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a 
outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste 
desfeito, houvesse de caber durante dois anos.
Outro importante caso do terceiro cúmplice: caso Zeca Pagodinho.
 
Ainda que a AMBEV não tenha sido signatária do contrato entre Zeca 
Pagodinho e Schincariol, sua conduta, ao deixar de observar o pacto da 
exclusividade nele contido, é potencialmente apta a gerar dano indenizável.
(TJ/SP. Ac. Unâm. 7 Câmara de Direito Privado. AgInstrum. 346.344.4/8 – 
São Paulo. Rel. Des. Roberto Mortari. J. 31.2.2004. 
O terceiro ofendido e o exemplo do seguro:
 
Considerando que o segurado não teria recursos para indenizar a vítima 
pelos danos causados, é possível condenar diretamente a seguradora a 
pagar à vítima o valor da indenização prevista em caso de sinistro.” (STJ, 
REsp.97.590/RS, rel. Min. Ruy Rosado Aguiar, RSTJ 99:230)
 
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o 
ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em 
face da seguradora do apontado causador do dano.
O que seria a equivalência ou justiça contratual?
 
CJF, Enunc. 22:
En 22.: Art. 421.: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo 
Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação 
do contrato, assegurando trocas úteis e justas
 
Exemplos no Código Civil de busca da Justiça Contratual:
 
CC, Art. 317:
Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre 
o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz 
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor 
real da prestação.
CC, Art. 478:
Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma 
das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para 
a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, 
poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que 
a decretar retroagirão à data da citação.
Súmulas do STJ que se preocupam com o princípio da justiça contratual:STJ, Súmula 297:
Súmula 297 - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições 
financeiras.
 
STJ, Súmula 302:
Súmula 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita 
no tempo a internação hospitalar do segurado. 
Boa-fé e função social: retratos de um sistema aberto. Tese do 
adimplemento Substancial. O que é?
 
Portanto, “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais 
contratuais, de modo a fazer preponderar à função social do contrato e o 
princípio da boa-fé, balizando a aplicação do art. 475” (Enunciado 361 do 
CJF). A substantial performace significa isto: adimplida quase toda a 
obrigação, não caberá a extinção do contrato, mas apenas outros efeitos 
jurídicos visando sempre a manutenção da avença como numa “eficácia 
interna da função social dos contratos, entre as partes contratantes” 
(Enunciado 360 do CJF). Também entende a doutrina que para a 
caracterização do adimplemento substancial se deve levar em conta “tanto 
os aspectos quantitativos quanto qualitativos” (Enunciado 586 do CJF).
Por isto, “A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede 
a caracterização da mora do devedor” (Enunciado 354 do CJF e STJ, AgRg 
no REsp. 903.592/RS, Relator Ministro Menezes Direito).
Como o assunto é visto no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA?
Já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, verbi gratia, que a falta de pagamento 
de apenas uma prestação no contrato de financiamento não autoriza busca e apreensão 
do bem, mas apenas ação de cobrança ante o adimplemento substancial pelo devedor do 
contrato, sob pena de ferida à boa-fé objetiva (REsp. 272.739-01-MG). Idem sobre o atraso 
no pagamento da última parcela do prêmio, a qual não permite a seguradora suscitar 
inadimplemento absoluto do segurado (REsp. 293.722-SP).
Alienação Fiduciária. Busca e apreensão. Deferimento liminar. Adimplemento substancial. 
Não viola a lei a decisão que indefere o pedido liminar de busca e apreensão considerando 
o pequeno valor do bem e o fato de que este é essencial à atividade da devedora. Recurso 
não conhecido (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, REsp. 469.577/SC).
Encargos excessivos. Ausência de mora. Repetição dos valores. Na linha da jurisprudência 
firmada na Segunda Seção deste Tribunal, a cobrança de encargos ilegais e abusivos 
descaracteriza a mora do devedor. A jurisprudência desta Corte já assentou que aquele 
que recebe pagamento indevido deve restituí-lo para impedir o enriquecimento indevido, 
prescindindo da discussão a respeito de erro de pagamento. Agravo regimental desprovido 
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, AgRg no REsp. 903.592/RS).
A cobrança de encargos excessivos descaracteriza a mora do devedor, entendimento que 
tem amparo na jurisprudência pacificada da Segunda Seção do STJ [...] Agravo improvido 
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, AgRg. No REsp. 793.588/RS).
3. Obrigação como Relação Jurídica Patrimonial. Como Distingui-la dos 
Direitos Reais?
 
O que são relações jurídicas patrimoniais? O Código Civil é monista/unitário 
ou binário/dualista (Pietro Perlingieri)?
Direitos Reais Direitos Obrigacionais
Numerus Clausus – Taxativos ou 
Típicos.
Numerus apertus – exemplificativos.
Direito de sequela – reivindicar a 
coisa onde quer que esteja e nas 
mãos de quem quer que esteja.
Não há sequela – executa-se o contrato 
apenas, incidindo a sanção pelo 
descumprimento no patrimônio do 
devedor.
Eficácia erga omnes – opõe-se contra 
todos.
Eficácia inter-partes – relativos.
Registrabilidade e publicidade – 
submetem-se ao registro.
Forma livre, em regra (Art. 107 do CC) – 
não exigem registro, nem publicidade.
A relação jurídica se estrutura entre uma 
pessoa e a própria coisa (jus in re – 
direito sobre a coisa).
A relação jurídica se estrutura entre 
pessoas determinadas ou 
determináveis (jus ad rem– direito 
contra a pessoa).
Direito de preferência. Direito quirografário (comum).
Inerência ou aderência – acompanha, 
adere, às mutações da coisa.
Não inerência – não acompanha as 
mutações da coisa, pois gira em torno da 
prestação.
Encerra direito de gozo, fruição ou 
garantia sobre coisa corpórea.
Encerra direitos de crédito a uma 
prestação, entre sujeitos.
3.1 Zonas de Confluência. Figuras Híbridas Relativas às Relações 
Patrimoniais. a) Obrigações Propter Rem; b) Obrigações de Ônus Real 
e c) Obrigação de Eficácia Real.
 
a) Obrigações Propter Rem (Ob Rem, In Rem, Ambulatoriais ou mistas)
 
O que é?
 
Exemplos IPTU, ITR, IPVA e as taxas condominiais (Informativo 291, STJ e 
REsp. 659.584-SP). 
Como se pronunciou o SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA sobre o tema?
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já entendeu que a 
obrigação de recuperar área ambiental degradada é do 
atual proprietário, independente deste ter sido o autor da 
degração, porque isto decorre de uma “obrigação propter 
rem, que adere ao título de domínio ou posse”. Também a 
obrigação tributária real de pagar o IPTU (REsp. 840.623-
BA) e as taxas condominiais (REsp. 717.265-SP).
b) Obrigações de Ônus Real
 
O que é?
 
Exemplo: Rendas constituídas sobre imóveis
 
CC, Art. 803:
Art. 803. Pode uma pessoa, pelo contrato de constituição de renda, obrigar-
se para com outra a uma prestação periódica, a título gratuito.
Como as diferenciar da propter rem?
 
c) Obrigação de Eficácia Real
 
O que é?
Exemplo: Lei 8.245/91, art. 8:
 
Lei 8.245/91, Art. 8:
Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá 
denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, 
salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula 
de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do 
imóvel.
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
OBRIGAÇÕES PROPTER REM, OBRIGAÇÕES DE ÔNUS REAL E 
OBRIGAÇÕES DE EFICÁCIA REAL
 
São figuras híbridas, mistas ou simbióticas. Confluem elementos de direitos 
reais e elementos de direitos pessoais a um só tempo.
 
a) Obrigações propter rem. São as próprias da coisa (propter rem), ou na 
coisa (in rem), ou da coisa (ob rem), também denominadas de obrigações 
ambulatoriais, reais ou mistas. São impostas ao titular do direito real 
simplesmente por esta sua condição. Exemplos: taxas condominiais, IPTU, 
ITR:
Como o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já entendeu esta questão?
 
No AgRg no AG 776.699-SP, a 3ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA reconheceu que as despesas de condomínio constituem obrigação 
propter rem, de modo que são de responsabilidade do proprietário da unidade 
“que tem posterior ação de regresso contra o ex-mutuário”. 
 
Já no REsp. 829.312-RS, a 4ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA afirmou que “o adquirente, em adjudicação, responde pelos 
encargos condominiais incidentes sobre o imóvel adjudicado”, também 
admitindo o caráter propter rem da obrigação condominial. 
Em 2017 afirmou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, através da 
Súmula 585, que a responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no 
art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente 
sobre o veículo automotor, no que se refere ao período posterior à sua 
alienação. A explicação é cristalina: após a alienação a incumbência de 
pagamento do IPVA passará a ser do novo proprietário, tendo em vista a já 
citada natureza propter rem desta obrigação.
 
O mesmo STJ afirma que o promitente comprador tem legitimidade 
passiva para figurar na ação de cobrança de condomínio, ainda que a 
referida promessa não esteja registrada, desde que o condomínio saiba da 
aludida promessa (REsp 657.506/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto 
Direito, j. 07.12.2006). Tal posicionamento, igualmente, tem embasamento 
legal, especificamente no art. 1.334, parágrafo segundo do Código Civil.
Ainda nas pegadas do mesmo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 
verifica-se que este já consignou que a obrigação de recuperar área 
ambiental degradada é do atual proprietário,independente deste ter sido o 
autor da degradação, porque isto decorre de uma “obrigação propter rem, 
que adere ao título de domínio ou posse”. Na mesma linha afirma o Tribunal 
da Cidadania ser propter rem a obrigação tributária real de pagar o IPTU 
(REsp. 840.623-BA).
Informativo n. 471. REsp. 1.237.071-PR.
 
b) Obrigação de ônus real é aquela que limita o uso e o gozo da 
propriedade, consistindo em um gravame. É um direito sobre coisa alheia, 
oponível erga omnes. Verifica-se esta casuística na renda constituída sobre 
imóvel, na qual há um direito temporário que grava determinado bem, 
obrigando o seu proprietário a pagar prestações periódicas (art. 803 do CC). 
Exemplifica-se: João doa uma fazenda para Maria, obrigando esta (Maria) a 
destinar 50% (cinquenta por cento) da safra colhida, todo ano, para Caio. 
Enquadra-se igualmente aqui a hipoteca, o penhor e a anticrese, que são 
direitos reais de garantia, posto darem garantia a uma obrigação pré-
existente, onerando um bem.
c) A obrigação de eficácia real é aquela que, sem perder o ser caráter de 
direito pessoal, ou direito a uma prestação, ganha oponibilidade contra 
terceiros, que adquiram direitos sobre determinado bem, tendo em vista o 
seu registro. É o que tecnicamente chama-se de oponibilidade erga omnes. 
São obrigações que se transmitem. Exemplifica-se com o direito de 
preferência, em um contrato de locação devidamente registrado, conforme 
previsto no art. 33 da Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91). Outro exemplo é o 
registro do contrato de locação com cláusula de vigência, com o escopo de 
proporcionar sua continuidade, mesmo na hipótese de alienação do imóvel 
(art. 8° da Lei 8.245/91). São obrigações que atingem até mesmo o terceiro 
adquirente, ante ao seu registro.
Atenção!
Já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (REsp. 252.158-
RJ) que o direito de preferência previsto na Lei de Locações e no 
Código Civil (8.245/91, arts. 27 e 33, e no CC, art. 576), quando não 
respeitado, enseja perdas e danos. Isto não impede que o interessado 
requeira a adjudicação do imóvel. Lembra-se que a referida 
adjudicação demanda a prévia averbação do instrumento contratual de 
locação no cartório imobiliário, pelo prazo de ao menos 30 (trinta) dias 
antes da alienação. Outrossim, o pedido de adjudicação há de ser 
realizado no prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados da venda. 
No mesmo sentido caminha o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, na 
Súmula 488.
CLASSIFICAÇÃO BÁSICA DAS OBRIGAÇÕES
OBRIGAÇÃO DE DAR (OBLIGATIO AD DANDUM)
 
As obrigações de dar têm por objeto prestação de coisas e consistem na 
atividade de:
a) Dar: Transferindo a propriedade das coisas;
b) Entregar: Transferindo a posse ou detenção das coisas;
c) Restituir: Devolução ao credor da posse ou detenção da coisa.
A obrigação de dar pode ser dividida em um dar coisa certa (arts. 233 
usque 242 do CC) e dar coisa incerta (arts. 243 a 246 do CC). 
 
Obrigação de Dar Coisa Certa
Nas obrigações de dar coisa certa o objeto está completamente 
individualizado; leia-se: tem gênero, quantidade e qualidade. (Exempo - a 
entrega de um veículo de marca, ano, placa policial e chassi identificados). 
Nas pegadas do art. 233 do CC e à luz do princípio segundo o qual o 
acessório segue a sorte do principal, nas obrigações de dar coisa certa, as 
benfeitorias e os demais acessórios, à exceção das pertenças (arts. 93 e 94 
do CC), devem acompanhar a transferência ou a restituição do bem principal.
Enquanto a coisa certa não for dada, mediante tradição ou registro, a 
propriedade não será transferida, vigorando o princípio res perit domino 
suo.
E se houver o perecimento (perda total) do bem antes da entrega? 
O tema é tratado nos arts. 234 do CC, cuja leitura recomendamos. Assim:
a) Se ocorrer sem culpa do devedor, a exemplo de um caso fortuito ou 
força maior, antes da tradição ou pendente condição suspensiva, aplicar-
se-á a regra do res perit domino. O devedor experimenta o prejuízo e 
restitui eventual crédito recebido.
 
b) Se houver culpa do devedor, o credor terá direito de restituição do 
equivalente mais as perdas e danos, ante a presença da culpa.
 
E se houver a deterioração (perda parcial) do bem antes da entrega? 
Quem se dedica ao assunto são os arts. 235 e 236 do CC, cuja leitura é 
indicada.
a) Se a deterioração ocorrer sem culpa do devedor, a exemplo de um caso 
fortuito ou força maior, o credor poderá optar entre o abatimento 
proporcional do preço ou resolução da obrigação.
b) Contudo, se houver culpa do devedor, o credor poderá optar entre o 
abatimento proporcional do preço, somado as perdas e danos; ou a 
resolução da obrigação, somada as perdas e danos. Aqui se abre ainda 
ao credor o direito de exigir o equivalente do objeto.
 
E como proceder com os melhoramentos e acréscimos?
Os arts. 237 e 238 do CC regulam o direito aos cômodos, os quais 
envolvem os melhoramentos, acréscimos e frutos. Segundo a regra, até a 
tradição pertence a coisa ao devedor, com os seus acréscimos e 
melhoramentos. Significa isto que o devedor possui direito de exigir do credor 
a complementação do preço, para a hipótese de valorização da coisa, antes 
da entrega, sob pena de desfazimento do negócio.
Portanto, o art. 237 do CC constitui importante exemplo de relativização do 
pacta sunt servanda, diante da função social do contrato, a qual exige a 
equivalência material entre as prestações, evitando-se o enriquecimento 
sem causa e o locupletamento ilícito.
Quanto aos frutos, antes da tradição ou do registro (antes da entrega), é 
importante lembrar que estes podem ser colhidos naturalmente, 
precipitadamente ou, ainda, podem estar pendentes à época da transferência 
(da entrega). 
Os frutos naturalmente colhidos são do dono à época da colheita; ou seja: 
do devedor que ainda não entregou o bem, haja vista ainda não ser o 
momento da entrega. Aplica-se, para este caso, o princípio segundo o qual o 
acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica, art. 92 
do CC). À vista desta regra também é possível afirmar que se o fruto está 
pendente à época da transferência, o credor que recebe a coisa passa a 
titularizar o direito pelo acessório, de modo que será dono do fruto, devendo 
reembolsar as despesas de produção e custeio.
 
Se o fruto, porém, é colhido precipitadamente, antes da tradição ou do 
registro, significa dizer que o devedor praticou ato ilícito, pois retirou o fruto 
anter tempus. Neste caso, o princípio segundo o qual ninguém pode se 
beneficiar da própria torpeza prevalece em detrimento do princípio segundo o 
qual o acessório segue a sorte do principal. Haverá o devedor de indenizar 
tais frutos.
E se a obrigação for de restituir?
 
a) Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do 
devedor, se perder (perecer), antes da tradição, sofrerá o credor a perda e 
a obrigação se resolverá.
b) Se a coisa se perder (perecer) por culpa do devedor, responderá este 
pelo equivalente, mais as perdas e danos.
c) Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o 
credor, tal qual se ache, sem direito a indenização. 
d) Se houver culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais 
as perdas e danos. 
  
Em relação aos melhoramentos, acréscimos e frutos na obrigação de restituir, 
há duas possibilidades
 
Se tais benefícios são agregados à coisa principal, sem concurso de 
vontade ou despesas do devedor, lucra o credor, sem direito à 
indenização (art. 241 do CC); Caso os benefícios tenham exigido concurso 
de vontade ou despesas para o devedor, o Código ordena que se 
apliquem as regras relativas aos efeitos da posse (art. 242 do CC); ou seja:
  
 
(i) Possuidor de Boa-Fé: Terá direito de indenização e retenção pelas 
benfeitorias necessárias e úteis. Em relação às voluptuárias, poderá 
levantá-las, sem detrimento da coisa principal. Será indenizado pelo valoratual.
(ii) Possuidor de Má-Fé: Terá apenas direito de indenização pelas 
benfeitorias necessárias. Aqui o reivindicante poderá optar, ainda, se 
indenizará pelo valor atual ou de custo.
  
São disposições muito próximas à perda do objeto na obrigação de dar 
coisa certa. Justo por isto, informa o Enunciado 15 do CONSELHO DA 
JUSTIÇA FEDERAL que as disposições do art. 236 do CC – que autorizam, 
na hipótese de culpa do devedor, que o credor exija o equivalente, ou aceite a 
coisa no estado em que se ache, com direito a reclamar, em ambos os casos, 
perdas e danos – também se aplicam ao art. 240. Vale dizer: nas obrigações 
de restituir deve-se aplicar a mesma lógica jurídica do que está previsto no 
art. 236, em fiel respeito ao princípio da conservação do negócio jurídico e da 
autonomia privada.
 
  
Obrigação de Dar Dinheiro (Pecuniária)
 
Digno de nota a novidade trazida pelo Código Civil quanto à positivação da 
obrigação pecuniária. Em verdade, nada mais é senão uma obrigação de 
dar dinheiro, modalidade, portanto, de uma obrigação de dar coisa certa. 
Consistem na entrega, pelo devedor ao credor, de um determinado valor em 
dinheiro, havendo adimplemento obrigacional. Na forma dos arts. 315 e 947 
do CC, sem precedentes na legislação anterior, as dívidas pecuniárias devem 
ser pagas em moeda corrente, no lugar do cumprimento, pelo valor nominal 
(princípio do nominalismo). Este valor é aquele fixado pelo Poder Público 
quando da emissão ou cunhagem da moeda, como adverte CARLOS 
ROBERTO GONÇALVES.
In Direito das Obrigações – Parte Geral. V. 5. São Paulo: Saraiva, 
1998. p. 62.
 
 
  
Obrigação de Dar Coisa Incerta ou Genérica
 
A obrigação de dar coisa incerta, também denominada de obrigação 
genérica, é aquela cujo objeto está individualizado apenas no seu gênero 
(espécie) e quantidade, carecendo de qualidade (art. 243 do CC). 
Exemplifica-se com a obrigação de entregar 15 (quinze) sacas de cacau. Há 
espécie (cacau) e quantidade (quinze sacas). Todavia, como não houve ainda 
individualização, não há qualidade.
Malgrado ser possível o objeto incerto (determinável), o fato é que, em 
algum momento, a coisa haverá de ser acertada, individualizada ou 
determinada. Ao gênero e quantidade haverá de ser somada a qualidade. 
Mas, como isto irá acontecer?
 
  
Malgrado a doutrina falar em espécie, o Código Civil utiliza-se da 
expressão gênero. 
 
Apesar do art. 243 do CC afirmar que a coisa incerta será indicada, 
ao menos, pelo gênero e pela quantidade, tecnicamente é mais 
correto utilizar o signo espécie no lugar do gênero, termo 
extremamente genérico.
 
  
A operação jurídica que transforma o incerto (determinável) em certo 
(determinado) é denominada de concentração do débito ou da prestação. 
Esta, salvo disposição em contrário, caberá ao devedor (CC, art. 244). Nada 
impede, por conseguinte, que as próprias partes pactuem a escolha por parte 
do credor ou de terceiro. A norma é dispositiva ou supletiva: aplica-se apenas 
no silêncio das partes.
A escolha deverá guiar-se por um critério médio. Não deverá ser escolhido 
nem o melhor e nem o pior objeto, mas sim o médio (intermediário), segundo 
o viés da boa-fé e eticidade (CC, arts. 113 e 245).
Após a escolha, passam a serem aplicadas as regras da obrigação de dar 
coisa certa. A incerteza do objeto obrigacional é sempre transitória (relativa).
 
  
Atenção!
Está consolidada no direito civil a expressão segundo a qual o 
gênero não perece nunca (genus nunquam perit). Desta 
forma, não se deve aplicar para as obrigações de dar coisa 
incerta, antes da escolha do objeto, o regramento do res perit 
domino. É o que prescreve o art. 246 do CC. Sendo assim, se 
a perda do objeto ocorrer antes da concentração do débito, 
responderá o devedor, ainda que diante de um caso fortuito ou 
força maior.
 
OBRIGAÇÃO DE FAZER (OBLIGATIO AD FACIENDUM)
 
Trata-se de uma obrigação positiva que impõe uma conduta, um facere, 
uma prestação de fato para o devedor. E é justamente através da prática 
desta ação específica, entabulada na obrigação, que o devedor irá adimplir 
sua prestação.
 
Fungível: Aqui pouco importa quem está cumprindo com a prestação (arts. 
816 e 817 do CPC). 
 
Infungível: Personalíssima, seja pela natureza do bem, seja pela convenção 
das partes. Nesta, o devedor é o elemento causal da obrigação. 
 
  
Mas, como proceder na hipótese de descumprimento da obrigação de 
fazer?
 
A problemática do inadimplemento da obrigação de fazer deve considerar a 
presença, ou não, do elemento culpa no caso concreto. É dizer: sem culpa, 
resolve-se a relação obrigacional. Com culpa, surge o dever de reparar, 
pois a hipótese é de responsabilidade civil subjetiva por ato próprio, onde a 
Teoria da Culpa está presente. 
  
Caso no descumprimento culposo a prestação não mais interesse ao credor, 
a solução será o ressarcimento em perdas e danos. Exemplifica-se com o 
longo atraso, culposo, de um animador de festa ao aniversário de uma 
criança. O aludido animador possuía uma obrigação de fazer pactuada. 
Ocorre que, ante ao descumprimento culposo, provavelmente o credor não 
mais tenha interesse na prestação. Aqui, a solução, será a busca da 
reparação integral.
 
A obrigação fungível é substituível. Assim, diante do descumprimento 
obrigacional culposo, poderá o credor, que ainda tem interesse no 
cumprimento, exigir que outra pessoa adimpla a obrigação, às custas do 
devedor, sem prejuízo da indenização cabível (CC, art. 249).
  
Atenção!
 
Polêmica interessante diz respeito à revogação, ou não, do art. 249 do 
Código Civil, em face do novel art. 816 do Código de Processo Civil. 
 
Com efeito, o art. 816 do CPC firma que se o executado não satisfizer a 
obrigação no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do 
processo, requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas 
e danos, hipótese em que se converterá em indenização. Vê-se, da redação 
processual, que haveria uma aparente alternância, possibilitando-se ao 
lesado ou o pedido de cumprimento obrigacional ou as perdas e danos. 
 
  
Infere-se, portanto, saída processual diversa do Código Civil, o qual 
possibilita ao lesado cumulação do pedido de cumprimento obrigacional 
com as perdas e danos pelo atraso, acaso não seja do interesse do 
lesado conversão integral em perdas e danos.. 
 
E então? Teria o Código de Processo Civil revogado a possibilidade de 
cumulação do Código Civil?
 
A resposta é negativa. Mesmo diante do art. 816 do Código de Processo 
Civil, poderá o exequente – em execução de obrigação de fazer fungível, 
decorrente do inadimplemento relativo, voluntário e inescusável do executado 
– requerer a satisfação da obrigação por terceiro, cumuladamente ou não, 
com as perdas e danos. Isto, porque, o caput do art. 816 do CPC não 
derrogou o caput do art. 249 do Código Civil. 
Como pouco importa quem venha a cumprir com a obrigação, em caso de 
urgência poderá o credor, de próprio punho e independentemente de 
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois 
ressarcido, como numa espécie de autotutela civil ou justiça de mão 
própria, elogiada por SILVIO DE SALVO VENOSAA expressão “será livre” é, 
de certo modo, polêmica, na medida em que enseja debate sobre a 
(des)necessidade de o credor atuar sem passar, digamos assim, pelo 
Judiciário.
 
 
Já a obrigação infungível é insubstituível. Assim, diante do descumprimento 
culposo, inicialmente poderá o credor, ainda interessado no adimplemento 
obrigacional, valer-se do pedido de tutela específica (medida de apoio), a 
exemplo de uma multa diária – astreintes (CPC, art. 497 e CDC, art. 84)– 
somada ao pleito de perdas e danos (CC, art. 248). Caso não haja mais 
interesse, ou possibilidade de adimplemento, tudo será convertido em perdas 
e danos.
In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 83.
Já houvetempo em que o direito enxergava a liberdade humana como 
plena. Neste cenário, a Teoria da Incoercibilidade da Vontade Humana era 
absoluta. Ou seja: se o devedor não deseja cumprir com a sua obrigação de 
fazer pessoal, a única via possível seria a reparação pecuniária do credor. 
Isto, porém, gerava um grande senso de irresponsabilidade, mormente para 
os mais abastados. Com o passar do tempo, o Processo Civil passou a 
flexibilizar a Teoria da Incoercibilidade Humana, desde que respeitados os 
direitos fundamentais. Passaram a ser utilizados mecanismos de coerção, 
com tutelas específicas, com o fito de proporcionar o adimplemento in natura, 
sem embargo das perdas e danos. 
O Enunciado 589 do CJF cristalizou o entendimento segundo o qual a 
compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano 
extrapatrimonial, sendo admitida a reparação “in natura, na forma de 
retratação pública ou outro meio”.
 
Neste cenário, sintetizando o tema, eis um quadro ilustrativo da Tutela 
Jurisdicional de Obrigação de Fazer e das medidas as quais o magistrado 
pode lançar mão:
 
Tutela Inibitória
Tutela 
Sub-Rogatória
Tutela 
de Remoção do 
Ilícito
NCPC, art. 497. NCPC, art. 497. Lei 11.340/06, art. 22.
Inibe o devedor 
mediante multa 
diária (astreintes). 
O Juiz fixa prazo 
para cumprimento 
da prestação.
A sentença 
substitui a 
vontade do 
inadimplente. 
Supre a vontade 
não emitida. 
Chega-se ao 
efeito prático 
equivalente.
A medida de remoção 
do ilícito pode ser 
ilustrada com o 
mandado de 
distanciamento da Lei 
Maria da Penha, a 
demolição de um 
muro, o desbloqueio 
de uma rua.
Atenção!
O CPC assume posição visivelmente enfática ao resultado prático do 
processo, prestigiando as diretrizes da simplificação, economia, 
celeridade e efetividade. Desta maneira, a tutela jurisdicional específica 
que assegure o resultado útil e prático da demanda e que melhor se 
adeque ao bem da vida objeto de proteção judicial. A tutela específica é 
numerus apertus de forma que o magistrado estará autorizado, nos 
limites das garantias fundamentais e dos direitos sociais, a conceder 
toda e qualquer medida à justa atividade judiciária. 
Em arremate, cumpre anotar algumas considerações quanto ao rol de 
tutelas específicas do art. 497 do NCPC:
• Trata-se de rol meramente exemplificativo, sendo possível a utilização de 
outras medidas.
• As medidas específicas podem ser concedidas de ofício.
• É possível, durante o processo, que o juiz amplie, reduza ou modifique a 
tutela específica até que encontre a medida adequada.
• O descumprimento das medidas impostas pelo juiz configura crime de 
desobediência (CP, art. 330), quanto ao particular; e de prevaricação, 
quanto ao servidor público, além das demais sanções processuais, como a 
litigância de má-fé a quem é parte ou o contempt of court a quem não é 
parte (NCPC, art. 77, §6º).
Caso a tutela específica não gere o cumprimento obrigacional, caberá ao 
credor apenas as perdas e danos (CC, art. 248). Isto se justifica ante o 
princípio da conservação dos negócios jurídicos, que mantém íntima relação 
com o princípio da função social dos contratos (Enunciado 22, CJF).
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (OBLIGATIO AD NON FACIENDUM)
 
A obrigação de não fazer está prevista nos arts. 250/251 do CC. É a única 
obrigação negativa admitida no Direito Privado. Configura-se pelo 
compromisso de abstenção de uma conduta, de modo que o devedor fica 
proibido de praticar um determinado ato, sob pena de inadimplemento. É uma 
abstenção juridicamente relevante. Exemplo: não despejar lixo em 
determinado local; não divulgar segredo industrial; não construir acima do 
terceiro andar; não abrir um estabelecimento comercial nesta vizinhança; não 
poluir o meio ambiente; não concorrer num determinado ramo do comércio, 
etc.
 
Obrigação 
de não fazer 
instantânea
Obrigação 
de não fazer 
permanente
Inadimpl
emento
Perdas e danos
Desfazimento 
do ato
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DOS ELEMENTOS 
OBRIGACIONAIS
 
Simples são as obrigações que se caracterizam pela singularidade de 
sujeitos e de prestação. São aquelas que só possuem um credor, um devedor 
e uma prestação. 
 
Compostas são as obrigações com mais de um objeto ou sujeito. São 
aquelas caracterizadas ou pela multiplicidade de objetos, ou de sujeitos.
OBRIGAÇÕES COMPOSTAS PELA MULTIPLICIDADE DE OBJETOS
 
As obrigações compostas pela multiplicidade de objetos podem ser (i) 
comutativas-conjuntivas ou (ii) alternativas-dijuntivas.
 
Em regra, a escolha do objeto (concentração da prestação) caberá ao 
devedor, se outra coisa não se estipular, ou não se extrair da interpretação 
do caso concreto. Aqui se insere o brocardo: electa una via, altera non 
datur; ou seja: eleita uma via, não há retorno.
Se houver uma pluralidade de optantes, a escolha haverá de ser unânime. 
Em não existindo unanimidade no prazo delineado na obrigação, a escolha 
caberá ao juiz (CC, art. 252, §3º). Se não houver prazo estabelecido no 
vínculo obrigacional, este será de 10 (dez) dias, contados da citação (NCPC, 
art. 800). No silêncio, o magistrado irá suprir a escolha.
 
E poderia o devedor concentrar o débito parcialmente em uma prestação e 
parcialmente em outra?
 
Em sendo a obrigação de trato sucessivo, ou diferida no tempo, como 
proceder a escolha?
Sendo a obrigação de trato sucessivo, diferida no tempo, o direito de 
escolha poderá ser realizado em cada um dos respectivos momentos, ante o 
jus variandi na hipótese. GUSTAVO TEPEDINO denomina tal casuística de 
balanceamento da concentração. Assim, em cada pagamento será 
exercido o direito de escolha.
 
Como proceder na hipótese de perda do objeto nas obrigações alternativas?
 
Assim como na obrigação de dar coisa certa, aqui irão influir de 
sobremaneira perquirir se a perda é total (perecimento), ou parcial 
(deterioração), e a verificação se há, ou não, culpa na aludida perda.
In Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 529.
 
Vamos iniciar tratando do perecimento (perda total):
 
a) Se o perecimento foi sem culpa do devedor, a exemplo de um caso 
fortuito ou força maior, a obrigação se resolve (CC, art. 256).
b) Se a escolha caberia ao devedor e o perecimento foi com culpa, 
haverá de adimplir ao credor o valor equivalente da prestação que por 
último se impossibilitou, mais as perdas e danos.
c) Se a escolha caberia ao credor e houve culpa do devedor no 
perecimento, o credor poderá escolher o valor de quaisquer das prestações 
impossibilitadas, mais as perdas e danos (CC, art. 255).
Já diante da deterioração (perda parcial):
 
a) Se a deterioração foi sem culpa do devedor, o débito será concentrado 
na prestação remanescente (CC, art. 253).
 
b) Se a deterioração foi com culpa do devedor:
b.1) e a escolha caberia ao credor, este poderá exigir a prestação 
remanescente, ou o equivalente da impossibilitada, mais as perdas e 
danos (CC, art. 255);
b.2) e a escolha cabe ao devedor, basta que este concentre o débito na 
prestação remanescente (CC, art. 253).
Atenção!
No campo do Direito Processual, o art. 325 do 
NCPC autoriza a elaboração de pedidos 
alternativos, toda vez que a obrigação, no 
plano do direito material, for alternativa.
 
Uma questão controvertida na doutrina é a denominada obrigação 
facultativa, também chamada de obrigação com faculdade alternativa ou 
obrigação com faculdade de substituição.
 
Apesar de não prevista explicitamente com este nome na lei, é defendida 
por parte da doutrina. Nesta modalidade obrigacional (para quem admite a 
existência da mesma), haveria apenas uma prestação, acompanhada por 
uma faculdade a ser exclusivamente realizada pelo devedor, de acordo com a 
sua opção ou conveniência, no sentido de substituir a prestação, de modo 
que o credor não poderia exigir qualquer tipo de alternância. 
Portanto,a obrigação facultativa seria uma obrigação simples, como 
sustentam MARIA HELENA DINIZ e SILVIO DE SALVO VENOSA, trazendo a 
doutrina o exemplo do contrato estimatório ou por consignação (CC, art. 534). 
O poder de substituição da prestação é exclusivo do devedor.
 
Seguindo nas suas ilações, SÍLVIO DE SALVO VENOSA apresenta o 
conceito da obrigação facultativa que se encontra no art. 643 do Código Civil 
Argentino, segundo o qual obrigação facultativa é aquela que, não tendo por 
objeto senão uma única prestação, dá ao devedor a faculdade de substituir 
essa prestação por outra. Trata-se de importante preceito que pode servir 
como um parâmetro ao entendimento da matéria no Brasil.
In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 124.
In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 360.
In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 89.
 
Exemplifica-se: o devedor deve entregar um carro, mas, acaso não o tenha, 
deverá adimplir com uma prestação de serviço. Trata-se de uma relação de 
preferência, e não de alternância.
 
OBRIGAÇÕES COMPOSTAS PELA MULTIPLICIDADE DE SUJEITOS
 
As obrigações solidárias são aquelas compostas pela multiplicidade dos 
sujeitos que a integram, seja no polo ativo (solidariedade ativa), seja no polo 
passivo (solidariedade passiva), seja em ambos (solidariedade mista). 
Também se caracteriza pela unidade objetiva da obrigação (CC, art. 264). 
Duas questões devem, inicialmente, serem lembradas:
 
(i) A solidariedade não se presume, decorre de lei (solidariedade legal) ou 
da vontade das partes (solidariedade convencional) – CC, art. 265. Pode 
decorrer da lei, por exemplo, quando consequente de um ato ilícito, a 
exemplo dos arts. 932 e 942 do CC, bem como no art. 7º, parágrafo único, 
do CDC, segundo o qual tendo mais de um autor a ofensa, todos 
responderão solidariamente pela reparação de danos. Outros exemplos de 
solidariedade legal são vistos na pluralidade de inquilinos de um mesmo 
imóvel urbano (art. 2º da Lei 8.245/91); pluralidade de fiadores (art. 829 do 
CC) e pluralidade de comodatários (art. 585 do CC).
(ii) Decorrendo da autonomia privada, nada impede que a solidariedade 
seja pura ou simples, condicional, a termo ou com modo ou encargo, 
conforme rol exemplificativo do art. 266 do CC e o Enunciado 347 do CJF: 
“A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do 
rol previsto no art. 266 do Código Civil”. Com efeito, é até mesmo possível 
que a solidariedade seja, em um mesmo vínculo, pura para um dos 
devedores e condicionada para outro.
Afirma-se que na solidariedade há uma relação jurídica interna (dentro do 
polo ativo ou do polo passivo), ao lado de uma relação jurídica externa (entre 
o polo ativo e o passivo). Isto é facilmente percebido pelo fato daquele que 
adimpliu poder exigir reembolso dos demais codevedores que não o tenham 
ajudado no pagamento (relação interna no polo passivo após a conclusão da 
relação externa entre credor e devedor). O mesmo ocorre com quem receber 
toda a dívida (relação externa), pois terá que redistribuir observando a quota-
parte dos demais credores (relação interna no polo ativo).
Para SÍLVIO DE SALVO VENOSA a solidariedade se trata de um artifício 
técnico utilizado com o objetivo de reforçar o vínculo e facilitar o cumprimento 
da dívida, de modo que a totalidade do seu objeto pode ser reclamada por 
qualquer um dos credores ou dos devedores, configurando, pois, obrigação 
unitária, in solidum. Um belo exemplo dessa tese pode ser identificado 
no conteúdo da súmula 581 do STJ, segundo a qual “A recuperação 
judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e 
execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou 
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória”. A 
solidariedade, neste caso, facilita o cumprimento da dívida.
In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 98/99.
 
A solidariedade ativa (CC, 268) pode gerar, para o caso de um credor ajuizar 
ação judicial, o instituto da prevenção judicial, “podendo a satisfação da 
obrigação somente ocorrer em relação àquele que promoveu a ação”, como 
sustenta MARIA HELENA DINIZ.
 
O instituto da prevenção judicial é bem simples. Enquanto não houver 
demanda alguma, qualquer credor pode, extrajudicialmente, receber todo o 
valor; e qualquer devedor quitar toda a prestação. Contudo, acaso um dos 
credores, por hipótese, venha a ajuizar ação de cobrança, por exemplo, 
nenhum devedor poderá mais realizar o pagamento de modo extrajudicial. A 
prevenção impõe que o pagamento somente aconteça dentro do processo. 
Importante lembrar que a prevenção ocorre a partir da distribuição ou do 
registro da inicial.
In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
p. 299.
 
A denominada refração do crédito solidário é prevista no art. 270 do CC, 
que traz disciplina sobre eventual morte de um dos credores no bojo de uma 
relação que contenha solidariedade ativa. Sabe-se que a obrigação se 
transmite causa mortis até as forças da herança, de modo que, com o óbito, 
haverá a refração do crédito, ou seja, da obrigação, nos limites da quota 
hereditária recebida. Ex: credor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) falece e 
deixa 3 (três) filhos herdeiros. Cada um destes herdeiros somente poderá 
exigir uma quota de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). A regra só não incide 
acaso a obrigação seja indivisível, por razões óbvias.
A refração do débito solidário, por sua vez, está prevista no art. 276 do CC. 
Se um dos devedores solidários falecer e deixar herdeiros, estes serão 
obrigados a pagar apenas a quota que corresponder ao quinhão hereditário, 
salvo se a obrigação for indivisível.
 
Sendo a dívida indivisível, qualquer herdeiro pode ser constrangido a 
realizar toda a prestação. Sendo divisível, ou se pretende contra o herdeiro, 
nos limites do seu quinhão, ou se pretende contra todos, reunidos na 
qualidade de litisconsórcio passivo necessário.
Atenção! 
A morte cessa a solidariedade, responsabilizando-se 
eventuais herdeiros apenas até os limites da força da 
herança. Como já vimos, para tal hipótese incide o instituto 
da refração do crédito ou do débito solidário, o que se 
conforma com o instituto processual da saisine (CC, art. 
1.784) e das forças da herança (CC, art. 1.792).
O devedor solidário demandando em processo poderá arguir as suas 
exceções (defesas) pessoais e as demais defesas (exceções) comuns. As 
exceções pessoais são incomunicáveis, pois relacionadas apenas ao sujeito. 
Exemplifica-se com um vício de consentimento, a exemplo de um devedor 
que fora coagido a celebrar o contrato. Apenas ele – o coagido – poderá 
arguir tal fato em defesa, buscando a anulabilidade do vínculo (art. 171 do 
CC). O outro codevedor solidário não poderá fazê-lo. Caso, porém, tenha 
havido a quitação por parte de um dos codevedores, quaisquer um deles 
poderá arguir, pois é uma questão comum (CC, art. 281).
Ainda neste sentido, o art. 273 prevê que o devedor não pode opor 
exceções pessoais indistintamente aos credores solidários, ante a natureza 
personalíssima destas. Ex: “se o devedor foi coagido por um credor solidário 
a celebrar determinado negócio jurídico, a anulabilidade do negócio somente 
poderá ser oposta em relação a esse credor, não em relação aos demais 
credores, que nada têm a ver com a coação exercida”, na lição de FLÁVIO 
TARTUCE.
 
Importante, para não se dizer polêmico, é o assunto abordado no art. 274 do 
CC, ao informar que o julgamento contrário a um dos credores solidários não 
atinge os demais; enquanto que o julgamento favorável aproveita-lhes, ao 
menos que se funde em exceção pessoal. 
In Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Método, 2009. p. 101.
 
Outrossim, o art. 275 codificado aduz ainda que a propositura de ação em 
face de um, ou alguns dos devedores, não exonera os demais, os quais 
persistemsolidariamente obrigados. Logo, se “A” é credor de “B”, “C” e “D” 
(devedores solidários), e propõe ação apenas em face de “B”, isso não quer 
significar que ele está renunciando a solidariedade em face de “C” e “D”.
O que fazer na hipótese de perda culposa do objeto na obrigação solidária?
 
Na hipótese de perda do objeto da obrigação solidária por culpa de um dos 
devedores, todos subsistem solidariamente obrigados a indenizar o credor 
pelo equivalente da perda. Todavia, em relação às perdas e danos, apenas 
será devida pelo culpado (CC, art. 279). Exemplifica-se. Imagine que “B”, “C” 
e “D” são devedores solidários, por força do contrato, da entrega de um 
caminhão de soja para “A”. Fica a cargo de “B” levar a aludida carga. “B”, por 
desídia sua – embriaguez, por exemplo – tomba o caminhão e perde toda a 
carga. Aqui, “B”, “C” e “D” subsistem solidariamente obrigados pelo 
equivalente da carga, inclusive a mora, mas apenas “B”, o culpado, arcará 
com as perdas e danos (obrigação acrescida). 
Ainda no tratamento da solidariedade, a dívida paga pelo devedor solidário a 
quem interessar exclusivamente o cumprimento da obrigação, impossibilita o 
direito ao regresso (CC, art. 285). Assim, se há solidariedade entre o devedor 
principal e os fiadores, em função da renúncia ao benefício de ordem (art. 
827/828 do CC), e o devedor principal quita com a sua dívida, logicamente 
não há de se falar em ação regressiva em face dos demais devedores 
solidários – que seriam meros garantidores/fiadores.
 
Tendo em vista ser a solidariedade uma classificação afeta aos sujeitos da 
obrigação, a conversão do objeto em perdas e danos não a atingirá, 
persistindo a solidariedade (CC, art. 271).
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DIVISIBILIDADE DO OBJETO
 
Quando falamos em obrigações solidárias, estamos a nos referir aos 
sujeitos. Já ao falarmos das obrigações indivisíveis, tratamos do objeto.
 
O art. 87 do CC já disciplinava, na Parte Geral, os bens divisíveis como os 
que podem se partir em porções iguais, autônomas e distintas, sem alteração 
da substância. O art. 257 do CC avança para situações ainda mais 
complexas de indivisibilidade, para além da natureza do bem em si, 
disciplinando a obrigação divisível da seguinte maneira: “Havendo mais de 
um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se 
dividida em tantas obrigações iguais e distintas, quantos os credores ou 
devedores”.
Portanto, segundo a lei, é possível que uma relação obrigacional seja fixada 
de modo a se admitir uma pluralidade de devedores ou credores, os quais 
arquem apenas com parte da dívida fracionável. Eis o brocardo concursu 
partes fiunt (em havendo concurso de credores ou devedores a obrigação 
fraciona-se). Nesta senda, estaríamos diante das obrigações fracionárias 
ou parciais que não constituem um crédito coletivo, como as que decorrem 
de um condomínio, na forma do art. 3º da Lei 2.757/56 e do art. 1.317 do CC. 
São obrigações passíveis, pois, de divisão (divisíveis).
A obrigação será indivisível quando sua prestação não puder ser 
fracionada, seja ante a natureza do objeto, por motivo de ordem 
econômica, ou em decorrência da vontade dos contratantes, que podem 
inserir esta cláusula nos negócios jurídicos. É o que afirma o art. 258 do CC.
Os condôminos responderão proporcionalmente pelas obrigações 
previstas nas leis trabalhistas, inclusive as judiciais e extrajudiciais.
 
O módulo rural a que se refere a Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra) e 
as servidões prediais do art. 1.386 do CC são exemplos de 
indivisibilidade legal.
 
Portanto, segundo a lei, é possível que uma relação obrigacional seja fixada 
de modo a se admitir uma pluralidade de devedores ou credores, os quais 
arquem apenas com parte da dívida fracionável. Eis o brocardo concursu 
partes fiunt (em havendo concurso de credores ou devedores a obrigação 
fraciona-se). Nesta senda, estaríamos diante das obrigações fracionárias 
ou parciais que não constituem um crédito coletivo, como as que decorrem 
de um condomínio, na forma do art. 3º da Lei 2.757/56 e do art. 1.317 do CC. 
São obrigações passíveis, pois, de divisão (divisíveis).
A obrigação será indivisível quando sua prestação não puder ser 
fracionada, seja ante a natureza do objeto, por motivo de ordem 
econômica, ou em decorrência da vontade dos contratantes, que podem 
inserir esta cláusula nos negócios jurídicos. É o que afirma o art. 258 do CC.
A grande discussão na obrigação indivisível é: como proceder com o 
pagamento caso haja uma pluralidade de credores? Dois caminhos possíveis 
(CC, art. 260):
 
a) O devedor convocar todos os credores para a entrega conjunta da 
coisa;
b) O devedor cumprir a obrigação em face de um só credor, desde que 
obtenha deste a caução de ratificação dos demais. Trata-se de uma 
garantia pela qual este confirma que repassará o correspondente aos 
demais credores.
O art. 263 do CC traz a principal diferença entre a obrigação indivisível e 
solidária, qual seja: a perda do caráter daquela (indivisibilidade) quando 
convertida em perdas e danos. Isto jamais ocorre na solidariedade. Explica-
se: na forma do art. 263 do CC, a obrigação indivisível perde esta natureza 
quando convertida em perdas e danos; o que não ocorre com a solidária 
ativa, que permanece com o dever do sujeito passivo obrigacional pagar a 
quem quer que seja.
 
Nessa ordem de ideias, informa o Enunciado 540 do CJF que em havendo 
perecimento do objeto indivisível, todos os devedores haverão de arcar 
proporcionalmente com o fato, de forma divisível. Todavia, as perdas e danos 
apenas serão devidos pelo culpado.Isto porque a indivisibilidade relaciona-se 
ao objeto. Com efeito, perdas e danos consistem em um objeto divisível.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO FIM: OBRIGAÇÕES DE MEIO, 
RESULTADO E GARANTIA
 
Existem obrigações que são de resultado, porque o devedor se compromete 
(assume o risco) com a ocorrência de um determinado evento futuro, sob 
pena de responsabilidade civil. Leia-se: apenas há cumprimento obrigacional, 
acaso atingido o resultado. Exemplo: “Eu prometo que você estará em casa 
às 8h, afinal de contas o meu transporte jamais atrasou, de modo que garanto, 
você não perderá o compromisso ajustado naquele horário”. Visível que nesta 
hipótese o devedor assume não apenas a execução da atividade, como 
também a consecução do fim desejado, ou seja, do resultado pretendido pelo 
credor.
Na lição de SÍLVIO DE SALVO VENOSA, nesta modalidade de obrigação o 
resultado é o que importa, independente dos meios utilizados para tanto, de 
modo que apenas assim a obrigação será considerada adimplida. O 
fundamental é saber o que o devedor prometeu e o que o credor pode 
razoavelmente esperar.
 
Exemplifica-se com o contrato de transporte (CC, art. 737). Neste o 
transportador haverá de lhe levar de um ponto a outro, sob pena, em regra, 
de responsabilidade civil. Ainda na legislação codificada, outro exemplo é a 
promessa de fato de terceiro (CC. Art. 439 do CC). Aqui, se o contratado 
prometeu que o terceiro cumprirá com a avença, este haverá de fazê-lo. 
Pouco importa afirmar que encetou todos os esforços para tanto. A obrigação 
é de resultado.
In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 52/53.
Na obrigação de resultado cabe arguição de excludente de responsabilidade 
civil?
 
Sim! No caso de contrato de transporte, por exemplo, malgrado resistências 
doutrinárias, que serão enfrentadas quando da análise das excludentes de 
responsabilidade civil, o art. 737 do CC firma a possibilidade de arguição da 
força maior, especialmente o fortuito externo. 
Como se posicionou o SUPERIOR TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA sobre o tema?
Em outubro de 2012 o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
decidiu que processo alérgico posterior à cirurgia plástica 
estética é fortuito. Desde que o médico tenha agido com toda 
a diligência possível, não há de ser responsabilizado (REsp 
985888

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