Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Imunologia – Vitor Benincá – MED 202 UNESC A gestação é o processo de desenvolvimento e crescimento de um ou mais embrião dentro do útero materno Para que este processo ocorra de maneira adequada e o feto seja mantido durante todo o período de formação no organismo materno, é necessário que ocorra um equilíbrio hormonal e imunológico. Os processos imunológicos envolvidos no desenvolvimento humano são fundamentais para a evolução saudável da gravidez. Propuseram vários mecanismos para explicar o fenômeno de tolerância imunológica que ocorre entre o feto e a mãe durante a gestação: 1- Separação anatômica entre o feto e a mãe (placenta) 2- Imaturidade antigênica do feto (antígeno do feto é menos imunogênico) 3- Inexistência de resposta imunológica por parte da mãe (no período de gestação, os mecanismos de resposta pró- inflamatória diminuíam) O feto era considerado como um semi-enxerto, uma vez que tem antígenos de origem paterna e materna. Grande parte do que se sabe acerca da imunologia materno-fetal resulta de estudos concebidos para explicar como o feto e o sistema placentário evitam a agressão imunológica por parte da mãe. Existem, no entanto, evidencias de que a relação imunológica entre mãe e feto não se enquadra facilmente no paradigma do enxerto. Em vez de ser essencialmente destrutiva, e como tal necessitar de ser interrompida, a interação imunológica normal entre a mãe e tecidos fetais pode servir para promover o crescimento e desenvolvimento do feto. Para que ocorra um transplante de órgão bem-sucedido é necessário que ocorra uma imunossupressão constante, entretanto uma gravidez de êxito requer um sistema imunológico dinâmico, robusto e responsivo. A apresentação de antígenos durante gravidez é mais semelhante a apresentação de antígenos no ambiente de micrometástase tumoral, pois em ambos, há baixos níveis de captação de antígeno pelas células dendríticas e uma apresentação gradual de antígenos fetais/tumorais aos linfócitos T. A gravidez possui três estágios imunológicos que correspondem aos estágios de desenvolvimento do feto: • 1º estágio/trimestre: Implantação do blastocisto e placentação (perfil pró-inflamatório é necessário para o desenvolvimento do feto); • 2º estágio/trimestre: Crescimento fetal (anti-inflamatório); • 3º estágio/trimestre: Início do parto (pró-inflamatório). INTERFACE MATERNO FETAL – TROFOBLASTO As células do trofoblasto tem características imunológicas especificas no que se refere à expressão de HLA (quando há ativação de HLA, há expressão na célula de moléculas MHC1 e MHC2, que apresentam a célula para o TCD8 e TCD4, respectivamente). O HLA do trofoblasto é diferente do HLA de células de resposta imune normal. Elas expressam HLA-C, HLA-G e HLA-E e não as moléculas clássicas de histocompatibilidade A, B, DR, DQ e DP, o que constitui uma potencial justificativa para a não rejeição materno-fetal. Assim, pela mãe e pelo feto terem HLA diferentes, não há interação entre elas. Com isso, o perfil ainda é pró- inflamatório, mas não perde o “controle” disso. INTERFACE MATERNO FETAL - CRESCIMENTO CELULAR, DIFERENCIAÇÃO E APOPTOSE As citocinas produzidas pela mãe podem funcionar como fatores de crescimento placentário e limitar a invasão ao trofoblasto (para que ele não cresça muito e transforme o ambiente em um local ruim para o feto). A natureza proliferativa e invasiva do trofoblasto tem que ser regulada com precisão, de forma a garantir que o endométrio permaneça intacto e não seja invadido pela placenta e o trofoblasto em crescimento. Esta regulação é, em parte, mediada pela apoptose seletiva de células, um processo que não altera a estrutura normal do tecido. INTERFACE MATERNO FETAL - COMPONENTES CELULARES Bastante células T e B, macrófagos, mastócitos e eosinófilos no útero humano normal. Eles permanecem inativados até que haja um antígeno. Contudo, após a implantação, os agregados de células T e B desaparecem, os eosinófilos e mastócitos tornam-se raros, e existe um claro predomínio das células NK e de macrófagos. CÉLULAS NK • As células NK constituem 60% a 70% dos linfócitos maternos e localizam-se fundamentalmente no epitélio glandular do endométrio e em torno das pequenas artérias no primeiro trimestre da gestação. • As NK de origem materna aumentam em número e precedem a implantação durante a fase lútea, diferenciam- se durante a gravidez e diminuem substancialmente em número, quase desaparecendo, no final da gravidez. • Citocinas secretadas por NK no endométrio e blastocisto são fundamentais para o processo de implantação, como o fator estimulador de colônias (CSF-1), o fator inibidor de leucemia (LIF) e a Interleucina 1 (IL-1). • O CSF-1 é encarregado de intensificar a multiplicação e discriminação das células mononucleares, induzindo alterações no útero equivalentes a um processo inflamatório. • O LIF é primordial para a fixação do blastocisto, enquanto a IL-1 regula a evolução do mesmo. • Assim, a implantação do blastocisto é necessária um perfil pró-inflamatório que é alcançado pelas citocinas liberadas pelas células NK. • O fator de necrose tumoral (TNF) é liberado pelas células NK uterinas no começo da gestação. Observou-se seu papel na gestação em camundongos e sua relação com: o Proteção da mãe contra as células anormais fetais; o Restrição do trofoblasto à invasão da decídua materna; o Facilitação da remodelação do tecido requerido para acomodação do embrião; o Proteção contra transmissão de microorganismos da mãe para o feto. Imunologia da Gestação 2 Imunologia – Vitor Benincá – MED 202 UNESC • A progesterona pode contribuir para a quimiotaxia de NK, através do aumento da expressão de receptores de fibronectina. • A expressão de níveis elevados receptores inibitórios da morte (KIR) constitui o aspecto característico destas células NK. Os KIR regulam as células NK para que o perfil pró- inflamatório não seja tão exacerbado. • A forte expressão do HLA-G previne a lise celular mediada pelas células NK através da interação entre as células do trofoblasto e os KIRs; o resultado desta ligação é a emissão de sinais pelos receptores que impedirão que as células NK sejam ativadas. MACRÓFAGOS • O número de macrófagos permanece estável ao longo da gravidez, representando 10 a 15% do número total de células no endométrio. • Há dois tipos: M1 (pró-inflamatório) e M2 (mais anti- inflamatório). Também chamados de macrófagos da via clássica e macrófagos da via alternativa, respectivamente. Assim, no 1º e 3º semestre, há predomínio do M1, enquanto o M2 predomina no 2º trimestre. LINFÓCITOS T • Os linfócitos T do útero tem pelo menos, duas funções conhecidas. o Atividades efetoras/citotóxicas, eliminando antígenos nocivos de bactérias e vírus. o Regulação das células T define as propriedades fundamentais da tolerância imunológica. • No interior do útero, as células T podem contribuir para o ambiente de imunossupressão local, que permite a sobrevivência do feto. • No início da gravidez, o número de linfócitos T agregados no endométrio diminui e aumenta na decídua a medida que a gravidez avança. • O linfócito TH1 é pró-inflamatório, o TH2 é anti-inflamatório. Os T reguladores regulam as respostas de outros, embora tenham perfil mais anti-inflamatório. • Verifica-se igualmente, através da expressão de citocinas, que os linfócitos T intrauterinos se compõem de diferentes fenótipos. • As citocinas Th2 (IL-4, Il-10 que são anti-inflamatórias) podem diminuir as respostas Th1 (IL-2 e IFN-g que são pró- inflamatórias), formando um microambiente essencial no segundo trimestre para uma boa evolução da gravidez. • Além disso, Th2 estimula a produção de fator de crescimento transformante beta (TGF-β), uma citocina que vaiexercer papel fundamental na imunomodulação e na formação da estrutura materno-fetal. • No entanto as células Th1 têm um papel essencial para a implantação e o desenvolvimento placentário e no trabalho de parto com seu perfil pro-inflamatório. • O TNFa liberada pelo Th1 está envolvida: o No crescimento e diferenciação do trofoblasto, o Na produção de outras citocinas com a IL-6 e IL-8 o Na expressão de moléculas de adesão e de metaloproteinases de matriz extracelular. • Essas ações podem estar envolvidas no processo de trabalho de parto. • A oxitocina pode influenciar significativamente na expressão do mRNA e liberação tecidual de TNF-a pelas membranas fetais na gestação a termo. • Assim, no primeiro trimestre os macrófagos, células NK e TH1 liberam citocinas e mantém um perfil mais pró inflamatório. No segundo trimestre há necessidade de diminuir o perfil pró-inflamatório, o TH2 e o Treg liberam IL4 e IL10 e o perfil é mais anti-inflamatório para que o não haja estímulo pró inflamatório exacerbado que pode comprometer o desenvolvimento do feto. No 3º trimestre, há ativação de macrófago M1 e TH1 liberam TNF alfa que são importantes para que haja preparação do mecanismo para o parto através de aumento do oxido nítrico e ativação de células musculares para que haja ativamente o parto. PROGESTERONA • A progesterona, de forma particular, contribui para a imunomodulação associada à gravidez. • Os efeitos imunológicos da progesterona são mediados parcialmente, por uma fração de 34 kDa, denominada fator bloqueador induzido pela progesterona (PIBF). • Este fator, produzido pelas células T ativadas expostas à progesterona, afeta os macrófagos e as células NK placentárias e, também, as células circulantes. • O PIBF é dotado de propriedades imunomoduladoras, tais como a capacidade de regular a expressão de perforinas pelas células NK. • A progesterona no 2º trimestre inibe o perfil pró-inflamatório, facilitando o perfil anti-inflamatório nesse trimestre • Também afeta o balanço Th1/Th2 através do aumento da produção de IL-3, IL-4 e IL-10 e da diminuição da produção de IL-12 nos linfócitos e macrófagos • A progesterona também faz indução de fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) e proteína-1 inflamatória de macrófagos (MIP-1β), no endométrio que regula a permeabilidade placentária e a angiogênesse. • Induzas células endometriais a produzirem IL-15 e prolactina, que regulam a proliferação das NK, a produção e a secreção de citocinas, o que consequentemente induz a imunomodulação local. TRIPTOFANO • É um precursor da serotonina. Quando há um perfil pró- inflamatório há diminuição da serotonina, pois o triptofano forma menos serotonina e forma outros metabólitos. • A degradação do triptofano pela enzima indoleamina 2,3 dioxigenase (IDO) num ambiente inflamatório forma Kyn invés de serotonina e leva à supressão de respostas de células T. Três eventos são cruciais para o sucesso da gestação: 1- A implantação do embrião e a placentação são contrabalanceadas pelo processo de tolerância que é induzido por fatores fetais e hormônios 2- Estes recrutam e proliferam células regulatórias e a expressão de moléculas regulatórias 3- A segunda fase termina com o parto. O parto é caracterizado por um perfil pro-inflamatório.
Compartilhar