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1 Khilver Doanne Sousa Soares Dor Torácica Diagnósticos diferenciais em pacientes com dor torácica: Parede torácica: Dor muscular por distensão, costocondrite, fibrose, fratura de costela, artrite esternoclavicular, herpes-zóster; Cardiovascular: DAC, dissecção de aorta, pericardite, IC; Pulmonar: pneumonia, asma, DPOC, pleurite, pneumotórax, EP; Gastrintestinal: DRGE, esofagite, espasmo esofagiano, cólica biliar, colecistite, úlcera péptica, pancreatite; Psicogênica: transtorno ansioso, crise de pânico, hiperventilação, depressão. Dor Torácica Isquêmica É a manifestação mais comum da doença arterial coronariana (DAC). Caracteriza-se por: dor ou desconforto em região retroesternal, tórax, epigástrio, mandíbula, ombro, dorso ou membros superiores. Inicia ou piora com esforço físico e atenua-se em repouso ou com uso de nitroglicerina e derivados. Pontos chave da dor torácica que aumentam a probabilidade de DAC: Desconforto ou dor retroesternal; Desencadeada pelo exercício; Aliviada com repouso ou uso de nitroglicerina; Então como diferenciar dor anginosa atípica e dor torácica não anginosa? Na angina atípica têm-se somente dois dos pontos chave descritos acima; Na dor torácica não anginosa têm-se somente um dos pontos chave acima. Classificações da dor torácica isquêmica: Angina estável: Dor com as características já mencionadas, que ocorre com esforços semelhantes; Angina instável: é o meio termo entre a angina estável e o infarto em si; apresenta 3 tipos: - Angina em repouso: duração > 20 min; ocorrendo há cerda de 1 sem.; - Angina de aparecimento recente: já surge com a execução de atividades habituais; tem início a cerca de 2 meses; - Angina em crescendo: Angina previamente diagnosticada, que se apresenta mais frequente, com episódios de duração maiores e limiar menor. Infarto agudo do miocárdio (IAM): a diferença crucial entre o IAM e a AI é a necrose miocárdica que ocorre no IAM. A apresentação clínica de ambos é semelhante ao ponto de se confundirem (embora a dor do IAM seja mais intensa, mais duradoura e às vezes ligada à instabilidades hemodinâmicas); SCA: é um termo utilizado para designar diferentes estados isquêmicos AI, IAMSSST e IAMCSST. Obs.: Lembrar da mneumônica PEDIR para as 5 causas + fatais de dor torácica!!! Pneumotórax Embolia pulmonar Dissecção de aorta Iam Rotura de esôfago Anamnese Direcionada + Exame Físico Anamnese: - Características da dor: qualidade, localização, irradiação, duração, fatores desencadeantes, fatores de alívio, sintomas associados; - Fatores de risco para DCV: HAS, DM, tabagismo, histórico de DCV precoce na família (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos), histórico pessoal prévio de DCV. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Exame físico: - Palpar parede torácica no ponto doloroso que reproduz a dor do paciente (procurar causa musculoesquelética para a dor); - Ausculta pulmonar: estertores localizados, egofonia, febre presentes? Possível pneumonia; - Dor tipo pleurítica (piora ao respirar fundo, tossir ou espirrar): aponta contra causa cardíaca para a dor; - Hipotensão, galope de S3 e dor que irradia para os dois braços? Sugestão de IAM. Exames Complementares Eletrocardiograma: indicado em pacientes com episódio de dor torácica, suspeita de causa cardíaca para dor torácica (recomendação I, B) – tem limitações e um ECG normal não exclui DAC. Critérios de definição de presença de supra do segmento ST: Elevação do segmento ST de pelo menos 1mm em pelo menos 2 derivações contíguas; Nas derivações V2 e V3: Mulher: maior ou igual a 1,5 mm; Homem > 40 anos: maior ou igual a 2 mm; Homem < 40 anos: maior ou igual a 2,5 mm. Fonte: https://cardiopapers.com.br/dica-rapida-como- diferenciar-o-supra-de-st-de-causa-benigna-do-supra- do-infarto/. Supra “feliz” = concavidade para cima = pensar em causas benignas (ou em IAM em fase inicial). Supra “triste” = concavidade para baixo = pensar em IAM. Fonte: https://med.estrategia.com/portal/conteudos-gratis/resumed/cardiologia-scassst/. Possíveis apresentações de SCASSST. https://cardiopapers.com.br/dica-rapida-como-diferenciar-o-supra-de-st-de-causa-benigna-do-supra-do-infarto/ https://cardiopapers.com.br/dica-rapida-como-diferenciar-o-supra-de-st-de-causa-benigna-do-supra-do-infarto/ https://cardiopapers.com.br/dica-rapida-como-diferenciar-o-supra-de-st-de-causa-benigna-do-supra-do-infarto/ https://med.estrategia.com/portal/conteudos-gratis/resumed/cardiologia-scassst/ 3 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: https://www.sanarmed.com/como-identificar-um-infarto-carreiramed. Correlação das paredes afetadas por um infarto e as derivações acometidas. Radiografia torácica: limitado na investigação de causas cardíacas, é mais voltado para diagnósticos diferenciais, e ICC. Teste ergométrico: indicado em pacientes com probabilidade pré-teste intermediária – em pacientes com probabilidade pré-teste baixa (ex.: homem 30 anos com sintomas atípicos), resultado positivo geralmente significa um falso positivo; em pacientes com probabilidade pré- teste alta, não se pode excluir DAC após um TE normal. IAM a menos de 7 dias, angina instável e IC são contraindicações absolutas ao TE. Ecocardiograma: indicado para avaliação do VE; pode mostras anormalidades de motilidade em pacientes com quadro clínico de DAC. O eco com estresse é útil quando o TE não é diagnóstico. Cintilografia de perfusão miocárdica: pode ser utilizada como alternativa ao TE em pacientes com probabilidade pré-teste intermediária de doença isquêmica, porém com ECG não interpretável ou limitação ao exercício. Angiografia coronariana (CATE): nesse caso é importante escolher pacientes que se enquadrem necessariamente para utilização do CATE, exames menos invasivos devem ser o de primeira escolha. Como já descrito, a diferença crucial entre AI e IAM é a morte do miocárdio, que ocorre no IAM - o quadro clínico de ambas é semelhante. Logo se faz necessária nesses casos a confirmação do quadro através das enzimas cardíacas: a troponina cardíaca (cTn) I e T são biomarcadores específicos e sensíveis de lesão cardíaca; deve ser coletada na chegada, após 1 https://www.sanarmed.com/como-identificar-um-infarto-carreiramed 4 Khilver Doanne Sousa Soares hora e por fim 3 horas após a entrada do paciente no serviço, a depender do protocolo hospitalar. Realiza-se a avaliação do aumento dos níveis de troponina e depois a comparação com os valores de normalidade para predizer o risco de IAM. Vários são os scores de estratificação do risco cardiovascular, no entanto, algumas estão mais presentes na prática clínica. Escore TIMI - avaliação de risco de síndromes coronarianas agudas sem supra de ST: . . . Mneumônica? TIMI FÁCIL (desconsiderar o I e L): Fonte: https://cardiopapers.com.br/sempre-teve- dificuldade-de-decorar-o-escore-timi-gente-lhe-ajuda/ Escore HEART – estima a probabilidade de eventos cardiovasculares maiores em 6 semanas em pacientes com suspeita de SCA: *hipercolesterolemia, diabetes, hipertensão, obesidade (IMC > 30 Kg/m2), tabagismo (atual ou interrupção há 3 meses), história familiar de DAC precoce. Fonte: https://linhasdecuidado- homologacao.saude.gov.br/portal/dor-toracica/escore- heart/ Escore GRACE (Global Registry of Acute Coronary Events) - preditor de mortalidade hospitalar nos pacientes com síndromes coronarianas agudas: o escore de GRACE leva em consideração idade, Killip, PA sistólica, FC, creatinina, PCR na admissão, desvio segmento ST, enzimas cardíacas positivas. GRACE > 140 são considerados pacientes de maior risco e, portanto, candidatos à estratégia invasiva precoce. A equação GRACE foi obtida com base em análise multivariada (regressão múltipla de Cox) foi criado um sistema de pontos, conforme o peso de cada fator: Doble x=(-7.7035) + ((0.0531*[Idade Value])+(0.0087*[FcRepouso Value]) - (0.0168*[PA Sistolica Value])+(0.1823*[Creatinina https://cardiopapers.com.br/sempre-teve-dificuldade-de-decorar-o-escore-timi-gente-lhe-ajuda/ https://cardiopapers.com.br/sempre-teve-dificuldade-de-decorar-o-escore-timi-gente-lhe-ajuda/ https://linhasdecuidado-homologacao.saude.gov.br/portal/dor-toracica/escore-heart/ https://linhasdecuidado-homologacao.saude.gov.br/portal/dor-toracica/escore-heart/ https://linhasdecuidado-homologacao.saude.gov.br/portal/dor-toracica/escore-heart/ 5 Khilver Doanne Sousa Soares Value])+(0.6931*[Classe Killip Value])+(1.4586*[PC admissao Value]) + (0.47*[BioMarcadores]) + (0.8755*[Depressao ST])). MORTALIDADE (%) = 100 * (pow(2.71828, x))/(1+pow(2.71828, x)). (PC à admissão e biomarcadores: 1, se presentes e 0, se ausentes). Obs.: o escore GRACE é a mais fidedigna, no entanto, pela sua complexidade é menos utilizada na prática clínica. Tratamento O tratamento a longo prazo são as mudanças de hábitos de vida: cessação do tabagismo, perda de peso para pacientes obesos, dieta saudável e exercício físico regular adequado. No entanto, em pacientes com quadros agudos, intervenções medicamentosas são necessárias e cada causa específica demanda uma atenção diferente. SCA Nesse caso o tratamento é principalmente hospitalar, o médico de família pode iniciar o manejo do caso. Caso o paciente se apresente com dor de provável origem isquêmica, é importante: Monitorar sinais vitais; Obter ECG durante a dor se possível; Oferecer 300mg de ácido acetilsalicílico (AAS) – exceto em casos de alergia ou úlcera gástrica. Angina Estável Nestes casos o importante é controlar os sintomas da angina e prevenir novos episódios. Se faz necessário em uma ou duas medicações antianginosas* + medidas de prevenção secundária de DCV. *Betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio, nitratos, ivabradina, trimetazidina, outros. Angina Instável Obs.: antes da terapia farmacológica, monitorizar esses pacientes + ECG de 12 derivações. Pacientes com angina instável (AI) ou infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) devem ser tratados com um regime médico precoce semelhante ao usado em um infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) com uma exceção: não há evidência de benefício (e possíveis danos) da fibrinólise. Aspirina: todos os pacientes devem receber aspirina na dose de 162 a 325 mg para mastigar e engolir – a não ser que haja contraindicação: alergia e/ou úlceras gástricas; Nitratos sublinguais: na maioria dos casos a nitroglicerina deve ser administrada em dose de 0,4 mg a cada 5 minutos até 3 doses – é contraindicado se o paciente tiver feito uso de inibidores da fosfodiesterase-5 (viagra) nas últimas 24 a 36 horas; Morfina: utilizar caso não haja alívio da dor com o uso das medicações anteriores. E quanto à terapia trombolítica? A terapia trombolítica não deve ser administrada a pacientes com angina instável ou IAMSSST, a menos que o monitoramento subsequente do ECG documente elevações do segmento ST que persistem. Medicações voltadas à redução dos sintomas anginosos: a) Primeira escolha para sintomáticos: betabloqueadores (principalmente nos que já tiveram IAM ou disfunção ventricular); b) Segunda escolha: bloqueadores do canal de cálcio; c) Outras medicações: nitratos de curta duração (episódio de angina), nitratos de longa duração (associados ou não a 6 Khilver Doanne Sousa Soares betabloqueadores e/ou bloqueadores de canal de cálcio) a pacientes que mantenham os sintomas mesmo após uso das medicações de primeira escolha, ou ainda ivabradina, trimetazidina e ranozalina (não disponíveis no sistema público). Medicações voltadas à prevenção secundária de eventos cardiovasculares: a) Antiagregantes plaquetários e estatinas; b) Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) – indicado em pacientes com disfunção ventricular, IC e/ou DM; c) Betabloqueadores (em pacientes que já tiveram IAM ou disfunção ventricular); d) Tratar fatores de risco associados (HAS, DM, etc.). Tratamento Invasivo Revascularização coronariana ou intervenção coronariana percutânea (ICP): considerados de alívio sintomático em pacientes cujos sintomas anginosos não estão controlados mesmo após tratamento clínico. Obs.: o 1º e recente ensaio clínico randomizado a respeito indicou que em casos de angina estável a ICP não apresentou melhora estatística significativa! Revascularização direta: possível benefício em pacientes com doença triarterial e do tronco de coronária esquerda. Quando Referenciar o Paciente com Dor Torácica? 1. Em suspeita ou diagnóstico de SCA; 2. Paciente que, mesmo após tratamento clínico otimizado, permaneça sintomático; 3. Quando há necessidade de estratificação de risco após evento agudo (realizado para prever os eventos adversos e estabelecer o prognóstico); 4. Suspeita de cardiopatia isquêmica que não pode ser investigada através de exames não invasivos. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 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Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.