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AULA 04 – RADIOLOGIA TORÁCICA NA UTI → As unidades de terapia intensiva (UTI) são setores hospitalares especializados no tratamento de pacientes que têm risco ou apresentam colapso cardiovascular ou respiratório; → Colégio Americano de Radiologia recomenda fazer radiografias diárias com aparelhos portáteis em pacientes sub- metidos à ventilação mecânica e nos portadores de doença pulmonar e cardíaca aguda; → Radiografias são recomendadas, também, após a colocação de dispositivos de suporte ou de monitoração como tubos endotraqueais, tubos de traqueostomia, cateteres venosos centrais, sondas nasogástricas, tubos torácicos, marca-passos e balão intra-aórtico. EDEMA PULMONAR CARDIOGÊNICO → Nesse edema existe um aumento do volume líquido no compartimento extravascular do pulmão em decorrência de insuficiência cardíaca; → Procurar por evento agudo ou crônico relacionado ao coração; → Principal sintoma da falência cardíaca esquerda é a dispneia associada à elevação da pressão venosa pulmonar; → Nas setas abaixo (em vermelho) pode-se ver aumento da pressão venosa pulmonar; → Cefalização pulmonar como principal achado; → Nas setas abaixo (em preto) vemos o espessamento do septo interlobular; → Na periferia dos lóbulos temos vasos linfáticos; → Borramento dos vasos e aumento do calibre indicam aumento da pressão venosa pulmonar; Na imagem ao lado: Associado à hipertensão venosa pulmo- nar, observa-se aumento do diâmetro dos vasos dos lobos superiores em relação àqueles elas bases pulmonares. (Difícil avaliar devido ao exame ser realizado quase sempre em decúbito). PS: aqui ainda vemos uma esternorrafia. Na imagem abaixo: → O edema intersticial pulmonar caracteriza-se por espessamento de septos interlobulares (linhas de Kerley); → As linhas "A" de Kerley são incomuns e caracterizam se por opaci- dades lineares longas dos lobos superiores que se orientam da perife- ria para os hilos pulmonares; → As linhas "B" são mais comuns e são vistas como pequenas opaci- dades lineares e horizontais na periferia das bases pulmonares; Na imagem abaixo: → As fissuras interlobulares tornam-se espessadas de modo re- gular em decorrência do edema intersticial subpleural; → Nota-se ainda a indefinição dos vasos nas bases pulmonares; Lara Dandolini Pavelegini – TXII Imagem 1 → O edema pulmonar alveolar se caracteriza por opacidades com padrão alveolar que têm aparecimento e resolu- ção rápidas; → À mudança de posição, pode também haver alteração na distribuição destas áreas de consolidação; Imagem 2 → O padrão em "asa de borboleta" é um achado pouco comum, sendo visto mais comumente na insuficiência mitral aguda; → Na imagem 1 tem-se a representação de um derrame pleural que geralmente é bilateral, podendo ser de maior volume à direita; → Podemos ter padrão de vidro fosco, enchimento alveolar total, borramento peribronquiovascular e espessamento do interstício. Nas imagens 2 e 3: Sinais de espessamento liso de septos interlobulares, espessamento do interstício peri- broncovascular, opacidades com atenuação em vidro fosco e consolidações. Costuma predominar nas regiões perihi- lares e pendentes. Aumento nas dimensões de linfonodos mediastinais e edema de planos de gordura mediastinais também podem ser observados. EDEMA PULMONAR NÃO-CARDIOGÊNICO →O edema pulmonar não cardiogênico (por aumento de permeabilidade capilar) pode ocorrer em várias doenças, incluindo sepse, trauma, pneumonia, aspiração, grandes queimados e exposição a toxinas exógenas; → Causas sistêmicas causam danos ao endotélio de capilares pulmonares, assim como inúmeros agentes podem lesar o epitélio alveolar, e como consequência destas alterações há passagem de líquido com alto conteúdo proteico para o in- terior dos alvéolos, contudo com pressão hidrostática normal; → Estas lesões, quando menos graves, são geralmente autolimitadas, enquanto nas graves pode haver evolução para o quadro clínico de síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA). Esta síndrome consiste de distresse respiratório refratário à terapia com oxigênio, redução da complacência pulmonar, pressão capilar pulmonar normal e opacidades pulmonares observados nas radiografias do tórax; → As radiografias do tórax no edema pulmonar não cardiogênico são inici- almente normais; → As alterações radiográficas se desenvolvem em um período de horas a dias após um insulto local ou sistêmico; → Entre 24 e 36 horas, há o aparecimento de padrão intersticial peri-hilar, que é acompanhado de sintomas como dispneia, taquipneia, cianose e hi- poxemia; (imagem acima) → Nas 24 e 48 horas seguintes, há piora da saturação de oxigênio, e nas radiografias seriadas observa-se o aparecimento de opacidades alveolares bilaterais mal definidas, multifocais, que tendem à coalescência; (A) → A consolidação geralmente se torna difusa; Na imagem ao lado: TCAR de pulmão de SARA. → Opacidades com atenuação em vidro fosco e consolidações con- tendo broncogramas aéreos são os achados mais comuns na SARA. Espessamentos de septos interlobulares são incomuns nestes ca- sos. Na imagem ao lado: → Na fase mais inicial da doença, a consolidação pode ser esparsa, mas com o tempo torna-se mais confluente e homogênea predominando nas regiões pendentes; → Pequenos derrames pleurais são detectados com frequência na TC, em- bora infrequentemente vistos nas radiografias do tórax; Diagnóstico diferencial → A diferenciação entre edema pulmonar cardiogênico e não cardiogênico é difícil, podendo haver coexistência de achados dos dois padrões; → A presença de consolidações envolvendo a periferia dos pulmões é mais comumente vista nos casos de edema por aumento da permeabilidade capilar (não cardiogênico); → A hemorragia pulmonar difusa e as infecções por agentes oportunistas podem apresentar quadro radiográfico semelhante ao do edema não cardiogênico; ATELECTASIA → Atelectasias são achados comuns em pacientes submetidos à anestesia geral, principalmente no pós-cirúrgico to- rácico e do abdome superior; → A atelectasia pode ocorrer em qualquer paciente internado em uma unidade de terapia intensiva, sendo mais fre- quente em idosos, obesos, tabagistas e portadores de doenças pulmonares prévias; → A frequência de atelectasias aumenta nos casos em que o tempo do procedimento anestésico é mais prolongado; Radiografia e tomografia computadorizada de tórax → As atelectasias ocorrem mais frequentemente em lobos inferiores, principalmente o esquerdo; → Atelectasias de lobo inferior esquerdo são comuns principalmente após cirurgia cardíaca e trauma torácico; → Os achados podem variar desde exames radiográficos totalmente normais, imagens lineares ou opacidades pul- monares semelhantes a pneumonias, inclusive com consolidação lobar total, e aspiração; → A ausência de broncogramas aéreos sugere obstrução brônquica, que pode ser decorrente de arrolhamento de secreções; → A persistência de atelectasias após o terceiro ou quarto dia de pós-operatório torna a possibilidade de pneumonia mais provável, principalmente dentro de um contexto clínico apropriado; Na imagem à direita: em corte axial de TC de tórax com contraste iodado demonstrando broncograma com atelectasia. Em 1 tem-se área do parênquima pulmonar com atelectasia e apresenta realce normal ao meio de con- traste, enquanto que em 2 tem-se consolidação; PNEUMONIA → O diagnóstico de pneumonia em pacientes em UTI baseia-se principalmente no quadro clínico de infecção e no aparecimento ou aumento da extensão de opacidade pulmonar em radiografias de tórax; → Os sinais clínicos podem não estar presentes em pacientes imunodeprimidos ou em tratamento com anti-inflama- tórios; → Além disso, a presença de febre pode ser observada em 50% dos indivíduos portadores de atelectasias, e o diag-nóstico de pneumonia não é feito em cerca de 30% daqueles com SARA; Radiografia e tomografia computadorizada de tórax → O diagnóstico presuntivo de pneumonia em pacientes em UTIs pode ser considerado quando opacidades pulmo- nares aparecem mais tardiamente e têm resolução mais lenta que nos casos de atelectasia e aspiração; → A identificação destas alterações pode ser difícil quando há outras doenças associadas, como as alterações pulmo- nares decorrentes de insuficiência cardíaca congestiva e doença pulmonar obstrutiva crônica; → Nos casos em que se observam alterações pulmonares em pacientes internados em UTI, a análise radiográfica quanto ao padrão evolutivo destas lesões é fundamental, sendo um instrumento útil no auxílio para o diagnóstico diferencial; Diagnóstico diferencial → Nos quadros agudos de consolidações pulmonares, além das pneumonias, devem ser consideradas no diagnóstico diferencial as seguintes causas: edema, hemorragia, aspiração, atelectasias e infartos pulmonares. ASPIRAÇÃO → Aspiração decorre da passagem de materiais sólidos e líquidos para as vias aéreas e os pulmões em pacientes com perda de consciência, distúrbios neuromusculares e de deglutição, alterações estruturais da faringe e do esôfago e alcoolismo. → Na radiografia encontram-se opacidades pulmonares caracterizadas por focos de consolidação uni ou bilaterais localizadas nas regiões pulmonares pendentes; → Estas opacidades são mais comumente vistas nos segmentos posteriores dos lobos superiores e segmentos superiores dos lobos inferiores nos indivíduos que sofrem aspiração em decúbito dorsal e nos segmentos basais dos lobos inferio- res, se o paciente estiver em posição ortostática. → As opacidades podem ter distribuição difusa e peri-hilar; → Obstrução brônquica associada pode ser acom- panhada de atelectasia segmentar ou lobar, e a evolução com escavação pode estar relacionada com a formação de pneumonia necrotizante ou abscesso pulmonar; → Na imagem ao lado, vê-se lesão escavada, única, com paredes espessas e nível hidroaéreo em seu interior. Ausente de focos de dissemina- ção brônquica; → Pode ser utilizada naqueles pacientes em que há suspeita de complicações, como a formação de abscesso, empiema pleural ou embolia pulmonar; → A TC pode auxiliar ainda na identificação de corpos estranhos na luz de brônquios; → Os achados de TC incluem consolidação, opacidades com atenua- ção em vidro fosco e nódulos centrolobulares com predominância nas regiões pendentes do pulmão; → Na imagem tem-se extensas áreas com padrão de pavimentação em mosaico localizadas em ambos os pulmões. Nota-se também di- latação do esôfago com nível liquido (megaesôfago); TROMBOEMBOLIA PULMONAR → Abordado em aula anterior. BAROTRAUMA → Baro = pressão; → O termo barotrauma refere-se a complicações decorrentes de ventilação mecânica; → Em pacientes em que há obstrução grave do fluxo aéreo, aprisionamento aéreo e hiperinsuflação pulmonar do ponto de vista funcional, pode ocorrer ruptura de sacos alveolares e como consequência a formação de pneumotó- rax, que por sua vez pode evoluir para pneumotórax hipertensivo desde que se mantenha o regime de ventilação mecânica com pressão positiva; → Naqueles pacientes em que as alterações pulmonares exigem que se utilizem elevadas pressões para que se obte- nha ventilação satisfatória, pode ocorrer a formação de pneumotórax, pneumomediastino e enfisema subcutâneo como resultado de dissecção aérea ao longo dos planos broncovasculares; Radiografia e tomografia computadorizada de tórax → O pneumotórax é a entidade relacionada ao barotrauma que mais comu- mente está associada a complicações clínicas; → Nos pacientes em UTis, as radiografias habitualmente são realizadas apenas nas incidências supinas; → Nestas radiografias, os casos de pneumotórax são mais comumente obser- vados em posição anteromedial e nas bases dos hemitóraces; → A presença de ar em posição apicolateral sugere a presença de pneumotó- rax de maior volume; → O pneumotórax hipertensivo ocorre quando a pressão no espaço pleural é maior do que a pressão atmosférica; → Podem ser observados colapso pulmonar e desvio mediastinal associados a alterações respiratórias e hemodinâmicas; DERRAME PLEURAL → Os derrames pleurais, assim como as atelectasias, são achados comuns no pós-operatório, tanto de procedimen- tos torácicos, quanto abdominais e pélvicos; Radiografia de tórax → As radiografias de tórax obtidas no leito nos pacientes em UTI podem, com frequência, não demonstrar derrames pleurais, principalmente os de menor volume; → Deve-se considerar a identificação de derrames pleurais volumosos ou que apresentem aumento rápido de tama- nho complicada, como no caso de hemorragia ou infecção pleurais; → Nestes casos, os derrames podem assumir aspecto septado; DISPOSITIVOS DE MONITORIZAÇÃO E MANUTENÇÃO DA VIDA Tubo endotraqueal e traqueostomia → A ponta do tubo deve estar localizada 5 a 7 em acima da carina (que está na altura de T5 a T7), quando a cabeça e o pescoço do paciente estão em posição neutra; → O diâmetro do tubo, idealmente, deve ocupar dois terços da traqueia, e o balonete não deve abaular a parede da traqueia ou reduzir a luz do tubo; → Na traqueostomia não há movimentação do tubo com mobilidade do pescoço ou da cabeça, e a ponta do tubo deve estar aproximadamente na altura de T3; → O tubo deve ocupar de metade a dois terços do diâmetro traqueal, e o balonete não deve distender as paredes da traqueia; → Complicações: • O posicionamento errado mais comum é a inserção muito distal do tubo na traqueia até o brônquio fonte direito, resultando em atelectasia do pulmão esquerdo e, ocasionalmente, hiperinflação do pulmão direito e pneu- motórax à direita; • Eventualmente, o tubo pode progredir até o brônquio intermédio, levando também à atelectasia do lobo superior direito; Se o tubo for colocado muito alto, logo abaixo da laringe, pode haver lesão de pregas vocais; • Algumas vezes ocorre entubação faringoesofagiana, resultando em distensão do esôfago e do estômago e ventilação insuficiente para os pulmões; • Esta última condição é mais facilmente observada na radiografia em perfil, na qual se identifica o tubo pos- teriormente à coluna aérea da traqueia. • Raramente ocorre laceração e/ ou perfuração do seio piriforme, da laringe ou da traqueia; • Estas condições podem ser identificadas pelo surgimento de pneumomediastino, pneumotórax e enfisema subcutâneo; • Além disso, pode-se observar, eventualmente, o tubo posicionado lateralmente à via aérea ou o balonete além dos limites da parede da traqueia; • Aspiração de dentes, obturações ou líquido pode ocorrer durante a entubação, podendo levar a atelectasias e posterior consolidação (pneumo- nia); • Já com a cânula posicionada, deve-se estar atento a substituição do ar por densidade de partes moles acima do balonete traqueal, podendo indi- car líquido no interior da traqueia, que pode ser aspirado quando o balonete for desinflado; • Complicações tardias são decorrentes principalmente de hiperinsu- flação do balonete e entubação prolongada; • Podem ocorrer lesões laríngeas (fusão da comissura posterior, lesão das cartilagens aritenoides, estenose subglótica), fistulização com estruturas adjacentes (artérias, veias, esôfago), estenose traqueal e traqueomalácia. Sonda nasogástrica → Pode ser usada para alimentação, sucção ou administração de medicamentos; → O tubo deve seguir aproximadamente a linha média até abaixo do diafragma; → A localização da ponta depende do uso: para alimentação deve estar no antro gástrico ou duodeno, quando há grande risco de aspiração a ponta deve estar no duodeno; → Mau posicionamento e complicações: • Se a ponta ficar muito alta (no esôfago ou cárdia), por inserção incompletaou espiralamento dentro do esôfago, pode haver aspiração quando líquido for administrado; • Outra complicação, felizmente mais rara, é a colocação da sonda na árvore traqueobrônquica ou até na cavidade pleural, podendo levar a atelectasias (quando há oclusão da via aérea) ou pneumotórax (quando a sonda penetra o pulmão). Dreno torácico → A localização ideal do dreno depende de sua função; → Para drenagem de pneumotórax, deve estar localizado em posição anterossuperior; → No caso de derrames pleurais, a posição do dreno deve ser postero-inferior; → Idealmente deve-se avaliar a posição do dreno tanto nas in- cidências frontais quanto no perfil, principalmente na drena- gem de empiema; Cateter venoso central → É inserido através de veia no antebraço, veia subclávia, veia jugular (interna ou externa) ou veia femoral; → Idealmente a ponta do cateter deve estar na porção inferior da veia cava superior ou porção superior do átrio di- reito; → As principais complicações relacionadas com a colocação do cateter são o desenvolvimento de pneumotórax e a perfuração de uma veia, que pode levar a hemotórax ou formação de hematoma extrapleural; → Além disso, a localização extravascular do cateter pode levar a infusão de líquido no mediastino e na cavidade pleural;
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