Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIA CIENTÍFICA AULA 1 Prof.ª Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Olá! Bem-vindo, hoje abordaremos as informações fundamentais para a compreensão de como se realiza uma pesquisa científica. Os conhecimentos conseguidos serão fundamentais para a compreensão da importância da pesquisa, dos tipos de pesquisa existentes e do processo de elaboração de um trabalho científico. Nesta aula abordaremos os seguintes temas: Pesquisa científica; Evolução da pesquisa no Brasil; Classificação dos tipos de pesquisa; Pesquisa qualitativa; Pesquisa quantitativa. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A Metodologia Científica tem papel central na formação de estudantes em diferentes áreas do conhecimento, uma vez que se presta a despertar nos acadêmicos o interesse na busca por conhecimento e por respostas a seus questionamentos científicos. A palavra metodologia significa estudo do método. A palavra método tem origem grega (methodos) e significa caminho, enquanto logia vem do grego logos, que tem relação com discurso, estudo ou teoria. Dessa forma, a metodologia seria o estudo do caminho a ser seguido para determinada finalidade ou fim. Os recursos científicos a serem utilizados em pesquisas nas diferentes áreas do conhecimento são os mais diversos, dependendo das características dos assuntos pesquisados. Ou seja, uma pesquisa elaborada para a colocação de um novo medicamento no mercado será conduzida de forma bastante diferente que uma pesquisa antropológica sobre o comportamento humano. No entanto, apesar de suas diferenças, é necessário seguir uma padronização na construção do texto, escolha do método e apresentação de resultados e conclusões. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 3 TEMA 1 – PESQUISA CIENTÍFICA Antes de falarmos de pesquisa, é necessário, primeiramente, entender o que é ciência. Sabe-se que, ao privilegiar o uso da razão no lugar de suas crenças religiosas e concepções pessoais, o homem passou a ser capaz de alcançar respostas melhores e mais realistas para seus questionamentos. De acordo com Lakatos e Marconi (2007, p. 80) ciência seria “um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar”. Enquanto isso, com base na versão para consulta on-line do dicionário Michaelis, ciência seria: 1 Conhecimento sistematizado como campo de estudo […]. 2 Observação e classificação dos fatos inerentes a um determinado grupo de fenômenos e formulação das leis gerais que o regem. 3 O saber adquirido pela leitura e meditação. 4 Soma dos conhecimentos práticos que servem a determinado fim. 5 Conjunto de conhecimentos humanos considerados no seu todo, segundo sua natureza. 6 Sistema racional usado pelo ser humano para se relacionar com a natureza a fim de obter resultados favoráveis. 7 Estudo focado em qualquer área do conhecimento. 8 Conjunto de conhecimentos teóricos e práticos canalizados para um determinado ramo de atividade [...]. 9 FILOS Ramo específico do conhecimento, caracterizado por seu princípio empírico e lógico, com base em provas concretas, que legitima sua validade. É possível verificar algumas características que se repetem quando se busca definir o que é ciência. Entre elas estão: a observação de fenômenos, as tentativas de explicar situações e condições observáveis, o embasamento por testes e provas, entre outras. Isso nos faz refletir que a ciência está intimamente relacionada à busca pela resolução de problemas e situações, bem como à busca pelo conhecimento e entendimento do funcionamento daquilo que existe no mundo. Mas, para ser entendido como ciência, todo esse conhecimento precisa ser conseguido com base em provas e resultados, ou seja, com embasamento científico. Assim, quando trabalhamos com o conhecimento e com a pesquisa científica, é importante que saibamos separar nossos achados daquilo que é A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 4 considerado como “senso comum”. O conhecimento de senso comum pode ser definido como aquele que é conseguido pelo indivíduo com base no convívio e na vivência de diversas situações com outras pessoas (Oliveira, 2011). Sendo assim, os resultados de uma pesquisa devem permitir que sejam tiradas conclusões com possibilidade de comprovação, independentemente daquilo que já é amplamente aceito e que, mesmo sem existência real de problematização, acaba sendo tomado pela população como algo válido (senso comum). Em pesquisa científica também se deve evitar posição puramente ideológica, de modo que toda a discussão deve estar baseada em história ou dados concretos, muito embora seja característica própria da ciência a eterna “guerra” entre diferentes paradigmas e essa disputa seja justamente o “combustível” de novas descobertas. O ponto de partida de uma pesquisa científica seria encontrar um questionamento com base no qual se possa estabelecer um método para obtenção de resultados e elaboração de uma discussão pautada em argumentos e que seja capaz de levar a uma conclusão convincente sobre o referido questionamento. Em outras palavras, o conhecimento científico surgiria com base na escolha de um objeto de investigação específico e na determinação de um método para condução dessa investigação. TEMA 2 – EVOLUÇÃO DA PESQUISA NO BRASIL Nos últimos anos, a pesquisa teve um aumento quantitativo importante no Brasil, no entanto o impacto dessas pesquisas mundialmente, ou seja, seu progresso qualitativo, não chegou a ser tão expressivo. Entre 2007 e 2010 foi implantado no Brasil o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI). De acordo com Rezende (2011), havia quatro estratégias norteadoras para esse plano: 1. Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; 2. Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas; 3. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas; 4. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 5 Ao realizar um balanço dos resultados obtidos com a implantação desse plano, em 2010, foi possível perceber que houve uma série de melhorias no campo científico. Entre as melhorias percebidas encontram-se: o aumento de bolsas de estudo CNPq e CAPES, aumento nos recursos de financiamento para pesquisa, bem como a ampliação de ações internacionais de cooperação no campo de ciência e tecnologia. O PACTI também trouxe como benefício a implantação da chamada Nova Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o estabelecimento de conexão de alta velocidade para todas as universidades e instituições destinadas à pesquisa no Brasil. Com isso, percebeu-se nos últimos anos um importante aumento no quantitativo da produção científica e das publicações brasileiras. Sendo que, segundo observação feita por Rezende (2011), nosso país detinha 2,69% da produção científica mundial em 2009, o que já correspondia ao dobro do valor levantado para o ano 2000. Segundo dados publicados em uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo, em novembro de 2014, o Brasil subiu bastante no ranking mundial de países com maior produção, indo da 24ª posição em 1993 para 17ª em 2003 e, finalmente, para 13ª em 2013. E, ao levar em consideração as pesquisas na área de medicina clínica, o Brasil deu um salto nos números de artigos publicados que figuram entre os mais citados no mundo, passando de 14.324 artigos de 2003-2007 para 34.957 entre os anos de 2008-2012 (Leite, 2014). Esses dados revelam uma melhora também do ponto de vista de qualidade das publicaçõesbrasileiras nos últimos tempos. Essa melhoria na qualidade das publicações mostrava-se não só como algo necessário, mas essencial, tendo em vista que durante muito tempo o Brasil fez parte da relação de países considerados como meros “consumidores de inovação em Ciência e Tecnologia”, apoiado grandemente em pesquisa básica, ficando atrás de países desenvolvidos e tecnologicamente mais avançados, conhecidos como aqueles que pensam cientificamente e efetivamente inventam, descobrem e produzem coisas novas. Segundo dados de 2011 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), os programas de pós-graduação formaram no Brasil de 2007 a 2010 um total de 140 mil portadores de títulos, sendo 100 mil mestres, 32 mil doutores e 8 mil mestres profissionais (Moritz et al., 2011). A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 6 No entanto, ainda há muito a evoluir nesse sentido, pois os avanços da ciência e da pesquisa não dependem apenas dos recursos financeiros que são aplicados no setor e do número de pesquisadores envolvidos. Um país só se torna efetivamente forte em produção científica a partir do momento em que sua sociedade passa a ver na ciência e em suas descobertas algo realmente essencial, algo que traz inúmeros benefícios e que, além do avanço tecnológico, também é capaz de proporcionar soluções e melhoria na qualidade de vida de toda a população. Essa característica é muito bem ilustrada no texto dos professores que compõem o Fórum de Reflexão Universitária da UNICAMP: [...] a existência de ciência num país depende mais da visão do mundo que sua sociedade possui, do que da fração do PIB aplicada na compra de telescópios, espectrômetros, computadores, e outros equipamentos necessários à pesquisa. [...] Ter uma sociedade com cultura científica capaz de gerar conhecimento original não é o mesmo que ter alguns poucos grandes cientistas. Com recursos expressivos aplicados de forma continuada e um programa de formação de pesquisadores no exterior, um país pode gerar, em pouco tempo, grupos de pesquisa altamente qualificados, com alguns pesquisadores de nível internacional capazes de obter importantes prêmios acadêmicos. Entretanto, esses grupos estarão inteiramente desvinculados da realidade social do país e terão poucas chances de fertilizar, com suas descobertas, o sistema industrial e de serviços e gerar emprego e renda. Têm-se hoje no mundo vários países nessas condições, países cujos cientistas receberam até prêmios Nobel, mas cuja população continua a viver majoritariamente na miséria e na ignorância. (FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP) E pensando nas perspectivas para o futuro, na visão de Moritz et al. (2011), espera-se que até 2020 a pós-graduação brasileira já seja capaz de atuar efetivamente como uma espécie de “consciência social ampliada” voltada para os novos tempos e para dar condições a “aprendizagens significativas”. E tudo isso deve ocorrer em um contexto em que os profissionais que atuam nessa área da educação utilizem sua capacidade para aplicar práticas que contribuam para uma qualificação consistente de pessoas que atuem de forma relevante em um Brasil inovador e com visão de futuro. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PESQUISA Há mais de uma forma para classificação dos diferentes tipos de pesquisas. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 7 Ao levarmos em consideração o nível de profundidade do estudo realizado, as pesquisas podem ser classificadas em: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa. Quando classificamos as pesquisas de acordo com os procedimentos utilizados para obtenção dos dados ou informações que as embasam, podemos separá-las basicamente em dois grupos. Há um grupo de pesquisas cujas fontes de dados/informações são bibliográficas ou documentais, e outro grupo em que predominam as fontes de dados/informações fornecidos por pessoas ou obtidos por meio de medições e determinações. Nesse último grupo figuram os estudos chamados experimentais, estudos de caso, caso-controle, levantamentos e demais estudos com pesquisa de campo. Vamos olhar mais de perto quais seriam as características dos diferentes tipos de pesquisa, classificados de acordo com a profundidade do estudo. Tabela 1 – Características dos diferentes tipos de pesquisa Exploratória Descritiva Explicativa Objetivo: tornar determinado objeto de estudo mais familiar. Obter mais informações sobre certo assunto Objetivo: realizar uma análise ou correlação entre variáveis, sendo que tais variáveis dizem respeito a fatos ou fenômenos. Objetivo: determinar ou identificar quais são os fatores que causam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos que se busca estudar. Problema de pesquisa: em geral não tem relação entre variáveis. Costuma-se ter uma única variável, com relação a qual são obtidas informações. Problema de pesquisa: focado na investigação, sem interferência direta do pesquisador, da frequência de determinado fato ou fenômeno, estabelecendo suas características e sua relação com outros fatores. Problema de pesquisa: em geral esses estudos não se limitam à descrição de fatos ou fenômenos, concentrando-se nas explicações das causas e das relações de tais fatos/fenômenos com outros fatores. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 8 Planejamento ou estrutura: é flexível, de modo que pode se constituir em uma revisão bibliográfica ou documental, um levantamento de dados, um estudo de caso ou até mesmo outros tipos de pesquisa. Planejamento e estrutura: pode ser estruturada como um levantamento, um estudo de caso ou mesmo outro tipo de pesquisa. O importante é que o trabalho estabeleça relação/correlação entre pelo menos duas variáveis. Planejamento e estrutura: as pesquisas explicativas são estruturadas como estudos tipo caso- controle ou como pesquisas experimentais. Instrumentos de pesquisa: entrevistas, formulários, avaliações clínicas, de comportamento, de situação entre outros. Instrumentos de pesquisa: questionários, formulários de pesquisa, entrevistas, fichas de registro de observações. Instrumentos de pesquisa: população ou amostra. As pesquisas científicas também podem ser classificadas levando em consideração diferentes características, conforme demonstrado na tabela a seguir. Tabela 2 – Classificação de pesquisa científicas Classificação Tipos de pesquisa Quanto à finalidade Pesquisa básica ou fundamental Pesquisa aplicada ou tecnológica Quanto à natureza Pesquisa observacional Pesquisa experimental Quanto à forma de abordagem Pesquisa qualitativa Pesquisa quantitativa: descritiva analítica Quanto aos objetivos Pesquisa exploratória Pesquisa explicativa A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 9 Quanto aos procedimentos técnicos Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental Pesquisa de laboratório Pesquisa de campo Quanto ao desenvolvimento no tempo Pesquisa transversal Pesquisa longitudinal Pesquisa prospectiva Pesquisa retrospectiva Fonte: Fontelles et al, 2009. TEMA 4 – PESQUISA QUALITATIVA Os métodos qualitativos de pesquisa permitem que seja estudado, com maior profundidade, o contexto de ocorrência de determinado fenômeno, além de possibilitarem a observação de vários aspectos em uma pequena população de estudo. A principal preocupação em pesquisas qualitativas é a real aproximação com o objeto de estudo, por meio, por exemplo, do levantamento de dados, de características e comportamentos em um grupo de indivíduos, procurando trabalhar esses dados na busca por seu significado. Desse modo,não há preocupação efetiva em medir determinado fenômeno, sobretudo em grandes populações, mas sim em entender o contexto em que certo fenômeno acontece ou suas razões de ocorrência. Também é possível dizer que a pesquisa qualitativa é adequada para investigações em que se busca entender um fenômeno específico. Para isso, utiliza-se de interpretações, comparações e descrições de modo a compreender sua essência, inter-relações com outros fenômenos e até mesmo inferir algumas consequências sem, em geral, preocupar-se com quantificação e amostragem. É comum em pesquisas qualitativas que os sujeitos ou objetos de pesquisa sejam selecionados com certa “intencionalidade”, ou seja, estes não são escolhidos de modo aleatório, mas sim levando em consideração alguns critérios preestabelecidos e que têm relação direta com os objetivos do estudo. Além disso, também é possível levar em consideração a comodidade no contato com os indivíduos, a disponibilidade ou mesmo a importância destes para o A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 10 embasamento e esclarecimento do tema e da hipótese propostos (Oliveira, 2011). Como técnicas para coleta de dados, costumam-se utilizar: observações diretas ou participantes, entrevistas com profundidade, elaboração de redes de relações e entrevistas em grupo (Víctora et al, 2000). De acordo com Oliveira (2011), nesse tipo de pesquisa a configuração é baseada em cinco características principais: 1. Ambiente natural: o pesquisador costuma fazer trabalho intensivo de campo, mantendo, dessa forma, um contato mais prolongado com o ambiente e com o objeto de estudo. Assim, o ambiente natural é usado como fonte direta de dados, e o pesquisador funciona como principal instrumento. 2. Dados descritivos: os dados apresentados nessas pesquisas são predominantemente descritivos, e estas são ricas em descrições tanto de pessoas quanto de acontecimentos ou situações, além de fotografias, desenhos etc. 3. Preocupação com o processo: o principal intuito do pesquisador é estudar como determinado problema (levantado como problema de pesquisa) se relaciona com o cotidiano e como este se manifesta em atividades e procedimentos. Dessa forma, a preocupação com o processo é muito maior que com o produto. 4. Preocupação com o significado: nos estudos qualitativos há preocupação em captar a perspectiva dos participantes, ou seja, busca-se verificar o significado que os participantes dão àquelas questões que estão sendo abordadas. 5. Processo de análise indutivo: não constitui uma preocupação buscar, antes do início das pesquisas, evidências que realmente comprovem as hipóteses levantadas. Os resultados baseiam-se na consolidação de discussões por meio da avaliação dos dados em um processo “de baixo para cima”, por processo de análise indutivo. Em resumo, segundo Oliveira (2011, p. 24), a pesquisa qualitativa ou naturalista “ (...) envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Entre as A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 11 várias formas que pode assumir uma pesquisa qualitativa, destacam-se a pesquisa do tipo etnográfico e o estudo de caso.” Um exemplo que nos ajuda a visualizar essa correlação pode ser encontrado na pesquisa realizada por Gonçalves (1998), que trata da questão da adesão ao tratamento para tuberculose em Pelotas, RS. Tendo como pressuposto que cultura de um grupo afeta as suas decisões sobre saúde, doença, medicalização, cura e morte, a pesquisadora constrói uma problemática de pesquisa que enfoca aspectos da cultura de um grupo de pessoas vinculadas ao Programa de Controle da Tuberculose - PCT - promovido pelo Ministério da Saúde e suas relações com a adesão ou não ao tratamento da doença. Gonçalves, partindo de pressupostos antropológicos relativos à forma de inserção no mundo cultural, opta por uma metodologia qualitativa de pesquisa que permite maior penetração do pesquisador no mundo dos pesquisados, obtendo assim dados que não se limitavam ao seguimento ou ao abandono formal conforme o cadastro do PCT, mas a um intrincado processo de aproximações e distanciamentos do tratamento para tuberculose a partir de diferenças de gênero, idade, expectativas e trajetórias sociais dos pacientes, entre outras coisas. Fica evidente nessa pesquisa que o dado relativo às formas diferentes de adesão ao tratamento só se constitui como evidência na medida em que se pressupõe que os "pacientes" são, acima de tudo, "agentes", os quais podem fazer, e de fato fazem, uso diferenciado do tratamento proposto. (Victora, et al, 2000) Uma das principais limitações das pesquisas qualitativas vem do fato de demandar um longo período de dedicação para permitir a realização de um trabalho com profundidade e bastante detalhado. Outra limitação seria a importância da experiência do pesquisador em campo, tendo em vista que em geral esse tipo de pesquisa não se baseia apenas na simples realização de uma entrevista. Desse modo, não costuma ser viável realizar essas pesquisas com um grande número de indivíduos ou com amostras grandes, o que acaba por inviabilizar certas generalizações na discussão dos resultados. TEMA 5 – PESQUISA QUANTITATIVA Nas pesquisas quantitativas, trabalha-se com variáveis, e os dados são expressos numericamente, empregando-se a quantificação tanto no momento de coleta das informações quanto no momento de sua análise. Para análise dos dados, são utilizados métodos ou regras estatísticas, entre eles médias, coeficientes de correlação, regressões etc. Em geral busca-se caracterizar as variáveis do ponto de vista de sua dispersão ou tendência central, ou verificar sua frequência. Nesse tipo de pesquisa busca-se a validação de hipóteses por meio do uso de dados estruturados e da análise de um número grande de casos A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 12 (indivíduos, produtos etc.) que sejam representativos e que permitam, assim, um curso final de ação (Oliveira, 2011). Tendo em vista sua característica de análise, é possível conseguir maior precisão e, dessa forma, seus resultados permitem quantificação, utilização no planejamento de ações coletivas e na generalização de resultados da amostra, sobretudo quando essa amostra selecionada para estudo é representativa do todo. A determinação do tamanho da amostra e de sua composição para uso em pesquisas quantitativas utiliza ferramentas da estatística. Essa composição deve ser muito bem delimitada caso se pretenda, ao final da pesquisa, inferir soluções ou aplicações para a população de dados como um todo, ou seja, deve- se fazer a composição da amostra pressupondo que as determinações realizadas para um grupo determinado sejam capazes de representar a totalidade. Em estudos populacionais, pode-se trabalhar com amostragens do tipo aleatória ou estratificada, sendo essas técnicas mais comuns em estudos de coorte, prevalência ou caso-controle (Víctora et al, 2000). A forma mais comum de coleta de dados em pesquisas quantitativas é a aplicação de questionários, compostos em geral por questões fechadas com opções de resposta já previamente determinadas pelo pesquisador. Entre as limitações desse tipo de técnica de coleta de dados, podemos citar a ocorrência de possíveis mal-entendidos na escolha das opções de resposta. Isso pode ocorrer devido ao contato breve do pesquisador com o entrevistado e o fato de não haver possibilidade de resposta diferente daquelas já previamente estabelecidas durante a construção do instrumento de coleta. No entanto, essa limitação pode ser corrigida ao realizar a aplicação desse questionário emum estudo ou projeto-piloto para uma população aleatória, com o objetivo de verificar antecipadamente a necessidade de ajustes no instrumento antes da sua aplicação à população do estudo. As pesquisas quantitativas podem ser divididas em dois grupos, com base na complexidade de análise e de apresentação dos resultados (Fontelles et al., 2009): 1. Pesquisa descritiva: nas pesquisas quantitativas do tipo descritiva, a forma de condução do estudo pelo pesquisador, em geral, não permite testes de hipóteses com base nos dados levantados. O objetivo do estudo A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 13 costuma ser a obtenção de uma descrição do fato, da característica ou da população em si. Dessa forma, as hipóteses podem ser levantadas posteriormente, pois a pesquisa descritiva não visa inicialmente avaliar o mérito, mas sim descrever as características de algo que ocorre em determinada amostra ou população. 2. Pesquisa analítica: esse tipo de pesquisa quantitativa busca explicar o contexto de ocorrência de um fenômeno em uma amostra ou grupo. Sendo assim, pode ser considerada mais complexa que a pesquisa descritiva. As pesquisas analíticas demandam uma avaliação mais aprofundada, pois buscam determinar uma relação entre causa e efeito de determinado fenômeno. Mas, em síntese, a principal diferença entre estudos analíticos e descritivos reside no fato de os estudos analíticos permitirem a realização de predições com relação à população da qual faz parte a amostra estudada, além da possibilidade de aplicação de testes de hipótese. FINALIZANDO Analisando tudo que foi abordado a respeito da pesquisa científica, é possível verificar que a escolha da metodologia a ser utilizada para obtenção dos dados ou informações deve estar intimamente atrelada aos objetivos e ao objeto de pesquisa. Em outras palavras, dependendo do objetivo a que se presta determinado estudo e dependendo também do objeto (aquilo que se pretende estudar), um tipo de pesquisa dará melhores resultados do que outro. Ou seja, dependendo do tipo de abordagem escolhida, você será ou não capaz de chegar a resultados que realmente atendem aos objetivos propostos e que permitem responder às hipóteses levantadas. Apesar de terem sido abordadas separadamente nesta aula, há momentos em que, dependendo dos resultados que se busca, pode haver inclusive a necessidade de combinação de técnicas qualitativas e quantitativas em uma mesma pesquisa. Pois é possível encarar as abordagens qualitativas e quantitativas como complementares, em vez de concorrentes. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com 14 REFERÊNCIAS CIÊNCIA. Dicionário Michaelis on-line. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- brasileiro/ciencia/>. Acesso em: 19 dez. 2017. FONTELLES, M. et al. Metodologia da pesquisa científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de pesquisa. Rev. para. Med, v. 23, n. 3, 2009. FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP. Os desafios da pesquisa no Brasil. São Paulo em perspectiva. v. 16, n. 4, p.15-23, 2002. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LEITE, M. Em 20 anos, país vai de 24º a 13º em ranking de pesquisa. Folha de São Paulo, São Paulo, 1º nov. 2014. Caderno Ciência. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/11/1541834-em-20-anos-pais-vai- de-24-a-13-em-ranking-de-pesquisa.shtml>. Acesso em: 19 dez. 2017. MORITZ, G., et al. A pós-graduação brasileira: evolução e principais desafios no ambiente de cenários prospectivos. XI Colóquio Internacional sobre Gestão Universitária na América do Sul / II Congresso Internacional IGLU. Florianópolis, 2011. OLIVEIRA, M. F. de. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em administração. Catalão: UFG, 2011. 72 p. REZENDE, S. M. Produção científica e tecnológica no Brasil: conquistas recentes e desafios para a próxima década. RAE, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 202 - 209, 2011. VICTORA, C. G. et al. Metodologias qualitativa e quantitativa. In: _____. Pesquisa qualitativa em saúde – uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. A luno: M onica C ristina M uza E m ail: m onica_m uza@ hotm ail.com
Compartilhar