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AULA 1 CUSTOS DE MÃO DE OBRA Prof. Valter Pereira Francisco Filho 2 CONVERSA INICIAL Gestão tradicional versus estratégica Como podemos adaptar a necessidade de gestão de custo de mão de obra à realidade de cada entidade econômica? Com certeza essa não é uma tarefa fácil ou, pelo menos, que não desperte a ansiedade dos gestores para desenvolver boas práticas que atendam aos objetivos traçados. A diminuição do custo da mão de obra está entre os principais recursos das empresas, sendo em muitos casos o fator fundamental de seu diferencial competitivo. Mas, uma abordagem mais tradicional atende às necessidades de tomada de decisão ou é necessário adotar uma abordagem mais estratégica a esse respeito? TEMA 1 – A CADEIA DE VALOR COMO FONTE DE VANTAGEM COMPETITIVA Quando descrevemos uma empresa, um negócio, podemos enxergar uma série de processos realizados para transformar insumos adquiridos de diversos fornecedores em produtos e serviços entregues aos seus clientes. Assim, Shank e Govindarajan (1997, p. 59) entendem que “cada empresa deve ser entendida no contexto da cadeia de valor global das atividades geradoras de valor da qual ela é apenas uma parte”. O objetivo da abordagem de gestão da cadeia de valor é identificar os fatores relevantes que farão parte do posicionamento estratégico da empresa comparativamente com seus concorrentes, tendo como resultado o desenvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável ou não. Como resultado do seu planejamento estratégico, a empresa pode buscar uma vantagem pela diferenciação de seus produtos e serviços ou uma vantagem de baixo custo, que pode ser traduzida em preços mais baixos que a concorrência e margens mais altas. 1.1 Metodologia da cadeia de valor A metodologia proposta por Shank e Govindarajan (1997, p. 72) envolve três etapas: “Identificar a cadeia de valor do setor e atribuir custos, receitas e ativos às atividades de valor; Diagnosticar os direcionados de custos regulando cada atividade de valor; Desenvolver vantagem competitiva sustentável através 3 de um melhor controle dos direcionadores de custos que os concorrentes ou reconfigurando a cadeia de valor” da empresa. Como qualquer metodologia, teremos dificuldades práticas na sua aplicação. Vamos entender quais aspectos devem ser levados em consideração no mapeamento da cadeia de valor. A cadeia de valor divide o setor em suas atividades estratégicas distintas. [...] Estas atividades são as peças com as quais as empresas do setor criam um produto de valor para os compradores. As atividades devem ser isoladas e separadas se: Elas representam uma porcentagem significativa dos custos operacionais; ou O comportamento de custo das atividades (ou direcionadores de custos) é diferente; ou Elas têm um alto potencial para criar diferenciação. Cada atividade de valor incorre em custos, gera receitas e relaciona ativos no processo. Depois de identificar a cadeia de valor, devem ser atribuídos custos operacionais, receitas e ativos às atividades de valor individuais. Para as atividades de valor intermediárias as receitas devem ser atribuídas ajustando-se os preços internos de transferência para os preços competitivos de mercado. Com a informação deve ser possível calcular o retorno sobre ativos para cada atividade de valor. (Shank; Govindarajan, 1997, p. 73) Podemos considerar direcionadores de custos como fatores críticos de sucesso relacionados a variáveis ambientais da empresa, o que vamos desenvolver melhor no próximo tema. 1.2 Configuração da cadeia de valor Para compreensão da configuração da cadeia de valor, vamos utilizar uma indústria como exemplo (Figura 1). 4 Figura 1 – Cadeia de valor na indústria de produtos de papel Fonte: Shank; Govindarajan, 1997, p. 65. No exemplo da Figura 1 podemos identificar cada atividade criadora de valor que transforma matéria-prima em produto entregue ao consumidor final. Podemos considerar o concorrente A como a empresa mais integrada e o concorrente D, a mais especializada. Para avaliar qual dos concorrentes será o que tem os melhores resultados, a vantagem competitiva mais sustentável e rentável, é necessário compreender os fatores críticos de sucesso que regem cada uma das atividades de valor. Cortar e transportar árvores exige estrutura e habilidades distintas da fabricação de papel, por exemplo; assim, as escolhas estratégicas das empresas para definir em quais atividades devem atuar devem estar alinhadas com suas competências distintivas, aquilo que sabem fazer de melhor, com eficiência. Shank e Govindarajan (1997, p. 65) afirmam que, “[...] se o escopo (integração vertical) for um direcionador estrutural chave do custo da fábrica de 5 papel, a empresa A tem uma significativa vantagem e a empresa D tem uma significativa desvantagem neste mercado”. TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DOS FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO Cada segmento de negócio possui aspectos específicos que devem ser considerados como fatores críticos de sucesso. É claro que o posicionamento competitivo também oferece relevância pela forma como cada empresa trata seus fatores, gerando-lhe vantagem competitiva, seja em diferenciação, seja em liderança em contenção de custos. Quando temos como foco a gestão de custos, podemos identificar fatores tangíveis e intangíveis que vão impactar diretamente o resultado dos empreendimentos. Nesse aspecto, quando exploramos a vasta bibliografia da contabilidade gerencial, aquela voltada para dar suporte ao processo de decisão, identificamos um único fator: o volume de produção. Com certeza o volume de produção, ou melhor, o nível de atividade da empresa é fundamental para que haja a diluição dos custos; mas, será que esse é definitivamente o grande fator que explica uma boa performance das empresas? Vamos tomar como exemplo a indústria de automóveis, cujo investimento para o desenvolvimento de um novo modelo de carro consome muitos recursos. É natural que a produção em escala desses automóveis, o alto volume de unidades produzidas buscam diluir esse investimento, mas com certeza não são o único fator que impacta o sucesso financeiro da empreitada. 2.1 Conceito de direcionador de custos ou cost driver O conceito de cost driver (condutor de custo, numa tradução livre) ou direcionador de custos, termo utilizado na literatura da área, é fundamental para entender os fatores críticos de sucesso de determinado segmento de negócio. Para Shank e Govindarajan (1997), a compreensão do comportamento dos custos e, por consequência, dos resultados gerados, passa por uma complexa interação de fatores. Podemos dividir esses fatores em duas categorias para facilitar a sua análise e a sua abrangência: estruturais e de execução. Quaisquer que sejam os direcionadores de custos que estejam na lista, as ideias-chave são as seguintes: • Para a análise estratégica, o volume não é geralmente a forma mais útil para explicar o comportamento dos custos; 6 • Em um sentido estratégico, é mais útil explicar a posição de custos em termos de escolhas estruturais e das habilidades de execução que moldam a posição competitiva da empresa; • Nem todos os direcionadores estratégicos são igualmente importantes o tempo todo, mas alguns (mais de um) deles são provavelmente muito importantes em todos os casos; • Para cada direcionador de custos existe uma estrutura específica para análise de custos que é fundamental para a compreensão do posicionamento de uma empresa. Ser um analista de custo bem- treinado requer conhecimento destas várias estruturas. (Shank; Govindarajan, 1997, p. 25-26) Para desenvolver a compreensão de cada um dos direcionadores de custos, as empresas desenvolvem, ou pelos menos deveriam desenvolver, estruturas de análise específicas, com indicadores de performance que possam explicitar os efetivos impactos que o direcionadorde custos tem causado. 2.1.1 Direcionadores de custos estruturais Os direcionadores de custos estruturais decorrem das escolhas estratégicas que as empresas realizam, portanto são aspectos que exercem influência de longo prazo e que envolvem todos os produtos e serviços. Outra característica importante é o alto custo para reversão dessas decisões. Nessa primeira categoria há pelo menos cinco fatores importantes: escala, escopo, experiência, tecnologia e complexidade. A escala faz referência ao tamanho do investimento necessário para a pesquisa e desenvolvimento, produção e comercialização dos produtos e serviços. Podemos dizer que se trata do volume de ativos necessários no balanço patrimonial da empresa. O grau de integração vertical representa o direcionador de escopo, pelo qual conseguimos identificar em quais elos da cadeia de valor a empresa está presente. O direcionador de experiência está relacionado ao volume de vezes que a empresa já realizou determinada atividade, se já vivenciou a curva de aprendizado. Quanto mais experiência, maior a possibilidade de sucesso na atividade específica. Para Shank e Govindarajan (1997, p. 23), [...] dos direcionadores estruturais, a escala, o escopo e a experiência receberam muita atenção dos economistas e estrategistas ao longo dos anos. Destes três, somente a experiência despertou interesse dos contadores gerenciais, como observado anteriormente. A opção tecnológica é um tópico tão difícil que não é de se surpreender que os contadores o tenham esquecido. 7 Quais tecnologias que a empresa usa, em cada processo de sua cadeia de valor, impactarão de forma decisiva em seus resultados de custos, sejam elas tecnologias de automação, sejam de informação? Entendemos que esse é um fator de análise constante devido ao ciclo de renovação contínuo e de apoio no tratamento do último direcionador de custos estrutural listado. A complexidade é observada pela amplitude da atuação da empresa: variedade da linha de produtos e serviços; volume de segmentos diferenciados de clientes atendidos; abrangência geográfica de atuação. Shank e Govindarajan (1997, p. 24) destacam que, “[...] embora os direcionadores de custos estruturais não sejam diretamente relacionados com o desempenho, os direcionadores de execução o são. Ou seja, para cada um dos direcionadores estruturais, mais nem sempre significa melhor. Há deseconomias de escala, ou escopo, assim como economias”. Em um ambiente de mudança dinâmica, muita experiência pode ser menos importante do que um processo de aprendizado constante. 2.1.2 Direcionadores de custos de execução Enquanto os direcionadores de custos estruturais dependem das decisões estratégicas, os direcionadores de custos de execução dependem do desempenho, da capacidade de executar de forma bem-sucedida. A lista básica de direcionadores de custos de execução, segundo Shank e Govindarajan (1997, p. 24) incluí: envolvimento da força de trabalho (participação); gestão da qualidade total; utilização da capacidade; eficiência do layout das instalações; configuração do produto; exploração de ligações com fornecedores e/ou clientes para a cadeia de valor da empresa. Um ponto fundamental, o primeiro destacado por Shank e Govindarajan (1997), é o engajamento da mão de obra: qual o comprometimento que os colaboradores possuem com relação aos objetivos empresariais e ao processo de melhoria contínua? Isso com certeza depende de diversos fatores como cultura, ambiente, práticas de avaliação e recompensa, entre outros. A gestão da qualidade total entra num aspecto específico da cadeia de valor, já que problemas de qualidade podem ser transmitidos por diversos elos da cadeia produtiva, eventualmente chegando ao consumidor final. Então, esse é um fator que deve ser administrado com um foco externo e não somente interno na empresa. Passa pelas “[...] crenças e realizações objetivando a qualidade do 8 produto e do processo” (Shank; Govindarajan, 1997, p. 24). Pompermayer (1999, p. 24) destaca que a gestão estratégica de custos, com base no ambiente competitivo globalizado, impôs a utilização de ferramentas que extrapolam o ambiente empresarial, sendo necessária a colaboração entre os diversos elos da cadeia de valor, aplicando-se ferramentas como just-in-time (JIT), gerenciamento da qualidade total (CQT ou TQM) e planejamento dos recursos de manufatura (MRP II). Dadas as escolhas estratégicas feitas na definição da escala e do tamanho do investimento, a utilização da capacidade é um fator determinante do nível de custo. Ociosidade de recursos ou falta deles, quando falamos de infraestrutura, irão impactar diretamente os resultados. Assim, cada vez mais observamos projetos e modelos de negócio modulares, que podem crescer de forma gradual ou controlada, possibilitando uma melhor performance nesse fator. A eficiência do layout das instalações está relacionada ao esforço de movimentação de materiais e insumos durante o processo produtivo, oscilando os recursos que não agregam valor sob a ótica do consumidor final. O projeto e a formulação para aplicação e utilização do produto fazem parte da engenharia de sua configuração, sendo responsáveis diretos pelo número de tarefas que devem ser executadas em cada etapa de produção, comercialização e distribuição de produtos. O último fator, exploração de ligações da cadeia de valor da empresa, seja em vantagens com os fornecedores, seja com os clientes, é um desafio e tanto. Não podemos esquecer que as empresas são forjadas para que busquem a eficiência e eficácia de suas atividades, na maioria dos casos em relações ganha- perde. Assim, o desafio disso é construir relações ganha-ganha com seus parceiros em que possam ser reduzidos os atritos e desperdícios justamente nas áreas de contatos. Para Bateman e Snell (2012, p. 7), “um dos processos mais importantes da gestão do conhecimento é garantir a eficácia da colaboração entre pessoas em diferentes partes da empresa”. Podemos, assim, extrapolar isso nas relações externas, garantindo assim um canal aberto de comunicação com fornecedores e clientes, na busca de melhores práticas de gestão que envolvam a cadeia de valor. 9 2.2 Avaliação do direcionador de custos A análise dos direcionadores de custos é o passo final dessa abordagem estratégica. Para Shank e Govindarajan (1997, p. 26), como exemplo, há uma literatura bem desenvolvida acerca da análise dos custos da qualidade (COQ). Esse tópico é rico em questões de medições. Contudo é virtualmente ignorado na literatura especializada tradicional. O fato de a análise do custo da qualidade (COQ – cost of qualit) ser tão bem desenvolvida e tão rica e, contudo, aparentemente tão estranha aos teóricos da contabilidade torna-a um bom exemplo para o leitor que ainda está imaginando se a gestão estratégica de custos merece mais atenção. Podemos separar a análise de custos da qualidade em quatro partes. A primeira parte, relacionada à prevenção, refere-se aos recursos gastos para garantir que tudo que será realizado terá a qualidade esperada. O aspecto da avaliação trata do controle do nível de qualidade, relacionado a medição e registro. Falha interna pode ser considerada como o problema que é detectado antes de o produto ou serviço ser entregue ao cliente, sendo necessário retrabalho para corrigir o erro. O quarto e último fator refere-se à falha externa, aquela descoberta pela reclamação do consumidor, na maioria dos casos solicitando o uso da garantia do que foi comprado. Observamos que todos os indicadores podem ser quantificados, inclusive em moeda, para que possamos tratá-los como uma parcela explícita do sistema de tomada de decisões de uma empresa. TEMA 3 – APURAÇÃO DOS CUSTOS NA FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA DE UM PRODUTO No mercado, podemos encontrar compradores com desejos sem limite de consumodos mais diversos bens, mas com recursos finitos. “O preço ajuda a dar valor a esses bens e representa uma troca pelo esforço dispendido pela empresa vendedora, como a alocação de recursos (capital, mão-de-obra [sic], manufatura etc.) para a produção e distribuição dos produtos/mercadorias/serviços” (Beulke, 2009, p. 5). 3.1 Função preço Podemos considerar a formação de preço em função do custo do produto como a forma mais tradicional de se precificar algo, adicionando o lucro desejado 10 na equação. Esse é com certeza um processo simples e lógico, mas a realidade competitiva das empresas tem alterado esse cenário, sendo necessária a adaptação da formação de preço a uma nova realidade. Beulke (2009, p. 81) indica que, “[...] quanto mais competitivo o mercado, mais se deve considerar o preço como dado por esse mercado e que, na realidade, dentro desse contexto, são os clientes, e não as empresas, que geralmente determinam o preço”. Considerando que o consumidor final é efetivamente quem toma a decisão de compra, o ideal seria partir de um preço que considerasse o valor percebido por ele em diversos aspectos, como funcionalidades, design, garantias, serviços agregados ao produto, somente com aquilo que soma valor ao produto, eliminando-se o que não é necessário, surgindo o conceito de custo-alvo (target cost). O custo passa a ser uma resultante entre o valor (o preço) que o consumidor está disposto a pagar deduzida disso a remuneração do capital empregado. Nessa nova realidade, podemos considerar que “a competição deixaria de ocorrer num estágio individual entre as organizações e passaria a ser entre cadeias de valores devidamente alinhadas dentro dos seus target costs” (Beulke, 2009, p. 84). 3.2 Principais componentes Os valores que deverão ser apurados para a formação do preço de venda de um produto dependem das estratégias de precificação da empresa. O primeiro ponto é compreender que a formação de preço é uma função gerencial, não sendo necessário seguir critérios contábeis para isso, mas sim a função oferta/demanda, além do valor percebido pelo consumidor. Os componentes do preço de venda de um produto podem ser divididos em custos de produção, despesas e parcela de lucro. Os custos são divididos em diretos e indiretos, já as despesas podem ter um detalhamento maior. Veja a estrutura proposta no Quadro 1. 11 Quadro 1 – Principais componentes da formação de preço de um produto Fonte: Beulke, 2009, p. 88. Como podemos observar no Quadro 1, temos uma estrutura semelhante a um demonstrativo de resultados, considerando todos os gastos incorridos para determinado nível de receitas (preço de venda), além da margem de lucro. A metodologia escolhida pela empresa para precificação de seus produtos definirá quais valores deverão ser considerados na precificação e qual a margem – bruta, de contribuição ou líquida – de resultados esperados, fixos e variáveis. TEMA 4 – A IMPORTÂNCIA DA REDUÇÃO DE CUSTOS NA EMPRESA Quando falamos da importância de fatores competitivos, o tema custo sempre estará contemplado, mas podemos dizer que a estrutura de custos é moldada por várias decisões tomadas por uma empresa, ao longo do tempo. Bateman e Snell (2012, p. 9) indicam que, “[...] para obter êxito os gestores precisam fornecer os vetores fundamentais de sucesso: inovação, qualidade, serviço, velocidade e competitividade em custos.” Os custos representam a linha final dos processos de negócios: depois de todas as demais atividades realizadas, todas as decisões tomadas, ocorre a apuração dos custos incorridos. Nesse sentido, inúmeros fatores irão influenciar os custos e, por consequência, os resultados da produção, sendo necessário seu correto controle. 12 4.1 Inovação As barreiras geográficas foram pulverizadas pela globalização dos mercados, mas a nova frente de batalha é a tecnologia aplicada a todos os processos da empresa, sejam eles mais tangíveis ao consumidor, como o marketing digital, sejam aplicações de roteirização para redução dos custos de distribuição e entrega. “Inovação é a introdução de novos bens e serviços no mercado. Sua empresa precisa adaptar-se a mudanças de demandas dos consumidores e a novos competidores” (Bateman; Snell, 2012, p. 9). Podemos observar que a inovação não está necessariamente no produto. Podemos encontrá-la na forma de relacionamento que a empresa desenvolve, na sua forma de comunicação, na rapidez do seu processo logístico. Mas o fato é que emana das pessoas a inovação, sendo necessário desenvolver inovação também nos processos de recrutamento, seleção, promoção e retenção de talentos, nas empresas. 4.2 Qualidade Podemos entender a qualidade como a excelência esperada de determinado produto ou serviço, tendo sua importância balizada pelos concorrentes. Para Bateman e Snell (2012, p. 10), o objetivo [da qualidade] é solucionar e erradicar desde o início todos os problemas relacionados à qualidade e viver segundo uma filosofia de melhoria contínua da operação empresarial. [...] A excelência também se aprimora quando empresas ajustam seus bens e serviços aos desejos de um consumidor individual. 4.3 Serviço Nosso conceito de serviço não está restrito ao segmento de serviços, mas ao contexto competitivo. Bateman e Snell (2012, p. 10) dizem que “[...] serviço significa dar aos clientes aquilo que querem ou de que precisam, quando e onde o quiserem. Assim, o serviço se dedica a atender continuamente as necessidades dos clientes para estabelecer relacionamentos duradouros e mutuamente benéficos”. Hoje o serviço pode ser visto na experimentação de produtos antes de se tomar a decisão de compra, o que passa por uma mudança radical do processo de marketing, extremamente relevante para as empresas de bens tangíveis. 13 4.4 Velocidade A velocidade está relacionada à capacidade da empresa de adaptar-se às mudanças impostas pelo ambiente competitivo, garantindo assim a sobrevivência e a geração de resultados sustentáveis. Com que velocidade podemos desenvolver e lançar um novo produto? Com que velocidade podemos reagir a pedidos dos clientes? Estaremos em melhor situação se formos mais rápidos do que os concorrentes – e pudermos reagir rapidamente ao que eles fizerem. A velocidade não é tudo – não podemos nos tornar descuidados no esforço para chegar em primeiro lugar. Mas, em igualdade nas demais condições, as empresas rápidas têm maiores chances de sucesso, e as mais lentas, de fracasso. (Bateman; Snell, 2012, p. 11) Quando colocamos a velocidade sob a perspectiva de respostas aos mercados, podemos dizer que ela é uma necessidade estratégica. Mas, qual o equilíbrio entre velocidade e custos que atenda às expectativas dos clientes e gere os resultados esperados? Cada empresa deverá fazer esse equilíbrio. 4.5 Competitividade em custos Competitividade em custos “[...] significa manter os custos baixos o suficiente para que a empresa possa lucrar e estabelecer os preços de seus produtos (bens e serviços) em níveis atraentes para os consumidores” (Bateman; Snell, 2012, p. 11). A informação é a principal arma do comprador. Com muitas ferramentas de comparação de preços disponíveis, ele aumenta seu poder de barganha em uma negociação, exigindo das empresas um esforço extra no controle dos seus custos. Vale ressaltar que não podemos tratar os custos sob a visão apenas monetária que eles representam. Para Pompermayer (1999, p. 22), a visão monetária dos custos leva as empresas a adotarem ações no sentido de controles e reduções muitas vezes de forma indiscriminada, sem uma análise mais adequada sobre quais os recursos ou benefícios atingidos na forma de produtos ou serviços, não permitindo, ainda, a prática de técnicas de otimização dos recursos. Por otimização de recursos entenda-se, aqui, o esforço para produzir mais, com maisqualidade e menor desperdício. TEMA 5 – SISTEMAS TRADICIONAIS DE CUSTOS Podemos voltar no tempo e imaginar como seria a gestão de custos na época em que a produção era artesanal. Nesse sistema de produção, o artesão domina todas as fases do processo produtivo, desde a escolha e preparação da 14 matéria-prima até o acabamento do produto. Assim, com uma única pessoa controlando todas as fases e recursos aplicados, fica mais fácil controlar os custos. Os sistemas de custeio como os conhecemos hoje começaram seu desenvolvimento juntamente com a Revolução Industrial, quando aconteceu a divisão das tarefas para produção em massa, gerando-se a necessidade de um sistema de controle dos recursos aplicados. 5.1 Estágio de desenvolvimento dos sistemas de custos O ambiente competitivo atual demanda, segundo Kaplan (1998, p. 12), informações relevantes relacionadas a custos e desempenho de atividades, processos, produtos, serviços e clientes. Mas o que diferencia um sistema tradicional de um sistema evoluído? Veja o modelo proposto no Quadro 2. Quadro 2 – Modelo em quatro estágios para projetar um sistema de custos Fonte: Kaplan, 1998, p. 23. 15 Analisando e interpretando o modelo proposto por Kaplan (1998), podemos dizer que os sistemas mais tradicionais, menos evoluídos, têm seu foco voltado para atender a demanda dos relatórios financeiros, principalmente balanço patrimonial e demonstração de resultados. No balanço patrimonial a avaliação dos estoques é a principal função que a gestão de custos realiza. Na demonstração de resultados observamos uma visão agregada, a avaliação geral da empresa, sem qualquer detalhamento de quais negócios participaram na geração dos lucros. Vale destacar que os relatórios financeiros seguem os princípios da contabilidade, para que sejam atendidas as demandas e padrões de auditoria. Essa situação é encontrada nos dois estágios iniciais. Kaplan (1998, p. 13) indica que as empresas precisam de sistemas de custeio para realizar três funções principais: avaliar estoques e medir o custo dos bens vendidos para a geração de relatórios financeiros; estimar as despesas operacionais, produtos, serviços e clientes; e oferecer feedback econômico sobre a eficiência do processo a gerentes e operadores. Em muitos casos, um sistema mais tradicional, dependendo dos cost drivers relevantes, falha principalmente numa visão desagregada de resultados, o que significa não indicar quanto cada produto, serviço, cliente ou canal de venda contribui para a geração dos resultados. Nos estágios 3 e 4 observamos características que reforçam a gestão dos custos relacionadas à cadeia de valor na qual a empresa está inserida. Nesses estágios observamos que há uma preocupação mais estratégica, cujo foco é a experimentação de processos de custeio e cujo aprendizado com a tomada de decisão baseia-se em informações adequadas. A evolução dos sistemas de gestão de custos terá uma relação direta com a necessidade de adaptação que cada empresa apresenta, de acordo com o nível de competitividade dos concorrentes. Ambientes de baixa complexidade levam à necessidade de se tomar decisões simples. Já ambientes de alta complexidade vão demandar um sistema mais evoluído, que consiga manipular mais variáveis para a tomada de decisão. 16 REFERÊNCIAS BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração. Tradução: Allan Vidigal Hastings. Revisão técnica: Gilmar Masiero. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. BEULKE, R. Precificação: sinergia do marketing e das finanças. São Paulo: Saraiva, 2009. KAPLAN, R. S. Custo e desempenho: administre seus custos para ser mais competitivo. Tradução de O. P. Traduções. São Paulo: Futura, 1998. POMPERMAYER, C. B. Sistemas de gestão de custos: dificuldades na implantação. Revista da FAE, Curitiba, v. 2, n. 3, , p. 21-28, set./dez. 1999. SHANK, J. K.; GOVINDARAJAN, V. A revolução dos custos: como reinventar e redefinir sua estratégia de custos para vencer em mercados crescentemente competitivos. Tradução de Luiz Orlando Coutinho Lemos. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
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