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CONTABILIDADE AMBIENTAL AULA 5 Profª Ana Lizete Farias 2 CONVERSA INICIAL Em nossa aula vamos acrescer mais elementos para pensar a Contabilidade Ambiental envolvendo a nossa sociedade e sua gestão. Inicialmente, vamos analisar a importância da divulgação e transparência das informações socioambientais. Será que o cidadão comum tem acesso e compreensão sobre as decisões que impactam a sua vida em nível governamental? Vamos entender esse ponto. No mesmo sentido, também iremos compreender a forma como as empresas estão evidenciando as informações ambientais sobre suas operações. Na sequência, iremos analisar o que é um balanço ecológico, e como isso se relaciona à contabilidade ambiental. Por fim, vamos estudar os Estudos de Impacto Ambiental (EIA), o que são e como são se constituem, assim como o Rima (Relatório de Impacto Ambiental) que é forma comunicar à sociedade as conclusões do EIA. E para dar início a este encontro, partiremos de um texto que mostra a relação entre a responsabilidade socioambiental e a transparência de um importante banco público, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, no caso da hidrelétrica de Belo Monte. Vamos começar! CONTEXTUALIZANDO O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é legalmente corresponsável pelos impactos socioambientais da usina hidrelétrica (UHE) Belo Monte. Financiador de aproximadamente 80% dos custos do empreendimento, estimados em R$ 28,9 bilhões, o banco viabilizou a construção da UHE, ao emprestar ao consórcio Norte Energia S.A. o valor total de R$ 25,4 bilhões, entre dois empréstimos-ponte (de R$ 1,1 bilhão e R$ 1,8 bilhão, respectivamente) e o financiamento principal, de R$ 22,5 bilhões, por um prazo total de 30 anos. O financiamento de Belo Monte não só é o maior da história do banco para um único projeto, como é, sem dúvida, um dos mais arriscados que já operou. [...] O empréstimo de longo prazo prevê investimentos em ações ambientais e sociais (relacionadas ao Projeto Básico Ambiental - PBA e ao cumprimento de outras condicionantes de licenças ambientais) na ordem de R$ 3,2 bilhões, assim como a destinação pelo empreendedor de R$ 500 milhões ao Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX). Quando o BNDES assinou o empréstimo principal com a Norte Energia, ela já tinha acumulado R$ 7 milhões em multas, impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), devido ao descumprimento de condicionantes socioambientais; era ré em pelo menos 15 ações judiciais do Ministério Público Federal (MPF), em 21 ações propostas pela Defensoria Pública e em 18 ações de organizações da sociedade civil, que questionavam a legalidade das autorizações ambientais existentes, apontavam irregularidades nos processos de reassentamento, ou levantavam demandas por reconhecimento de impactos. [...] Desde o início do envolvimento do BNDES em Belo Monte, houve diversos pedidos por parte de organizações da sociedade civil para acessar as informações básicas sobre o processo de tomada de decisão do banco com relação ao gerenciamento dos riscos socioambientais inerentes ao 3 empreendimento, a grande maioria das vezes sem sucesso, a despeito da Lei de Acesso à Informações (Lei nº 12.527/2011), que obriga as entidades públicas a prestarem informações, a qualquer cidadão, sobre suas atividades. Em praticamente todos os requerimentos, o BNDES tem recusado o acesso às informações solicitadas, utilizado argumentos sobre o sigilo bancário – mesmo em casos relativos exclusivamente a dados sobre cumprimento de obrigações socioambientais do beneficiário do empréstimo. [...] A ausência de informação primária de fontes independentes relativas ao atendimento e à efetividade das medidas de mitigação é o principal desafio do licenciamento ambiental e do acompanhamento de obras de alto risco socioambiental para o BNDES. [...] Belo Monte é um caso emblemático para análise e debate público sobre importantes aspectos da atuação do BNDES como instituição financeira pública. [...] A atual política de responsabilidade socioambiental do BNDES não foi capaz de identificar e equacionar adequadamente os riscos socioambientais de Belo Monte, nem durante sua fase de análise prévia, nem ao longo de sua execução e do acompanhamento do financiamento pelo banco. Ao aprovar a concessão do financiamento, a diretoria do banco subestimou os problemas desse megaempreendimento, como, por exemplo, os impactos sobre as comunidades pesqueiras e tradicionais no entorno da UHE. Se todos esses problemas ocorrem em um caso que deveria ser exemplo de aplicação da política de responsabilidade socioambiental do BNDES, então, o que podemos esperar de sua aplicação e eficiência em casos de menor visibilidade? (ISA, 2015). TEMA 1 – DIVULGAÇÃO E TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS Com base em nosso texto inicial, podemos ver que a questão da divulgação e da transparência é um elemento urgente e necessário quando se trata de informações socioambientais, mas que ainda representa um problema no âmbito do cidadão comum, ou seja: nem todas as informações públicas estão disponíveis para nossa análise e compreensão. Nesse sentido, é senso comum que não somente as atividades empresariais, mas também os serviços públicos influenciem o desenvolvimento da sociedade, influência essa que se manifesta pela forma de condução das políticas pública e pelo impacto causado pelos processos produtivos, seja positiva ou negativamente. As informações no Brasil são disponibilizadas para a sociedade através do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima), instituído como um instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente em 1981 (Brasil, 2019). O Sinima é uma plataforma elaborada com vistas à integração e compartilhamento de informações entre os diversos sistemas que já existem, ou que vão ser construídos no âmbito do Sisnama (Lei n. 6.938/81), segundo a Portaria n. 160, de 19 de maio de 2009, que atua sob a forma de três eixos estruturantes (Brasil, 2019): • Inventário de dados: tem por finalidade divulgar uma listagem com todas as bases de dados produzidas pelo Ministério do Meio Ambiente; 4 • Indicadores ambientais: estatísticas selecionadas que representam ou resumem alguns aspectos do estado do meio ambiente, dos recursos naturais e de atividades humanas relacionadas. • Plano de Dados Abertos (PDA-MMA): representa o instrumento de planejamento, coordenação e disseminação das informações sistematizadas para diferentes tipos de usuários, orientando as ações de racionalização, implementação e promoção de abertura de dados, incluindo os geoespacializados, permitindo com isso maior transparência das informações e reutilização dos dados públicos pela sociedade. Por outro lado, ainda que não houvesse exigência legal quanto à divulgação das informações ambientais, as instituições são contínua e crescentemente instadas a informarem sua política ambiental, por meio das mais recentes normas e sistemas de gerenciamento ambiental, além de Relatórios de Impactos Ambientais, como veremos em nossa aula. Outro instrumento jurídico de grande importância, citado no texto da nossa contextualização, é a Lei da Transparência, que entrou em vigor em maio de 2012, permitindo que todo cidadão tenha direito de acessar as contas de qualquer repartição federal, estadual ou municipal. Saber o que acontece com o dinheiro público é um grande avanço, e os efeitos se farão sentir à medida que os diversos atores sociais e a cidadania em geral passem a utilizar desse instrumento legal, pois sabemos que não basta terinformações sobre o dinheiro público, pois é igualmente importante saber o que acontece exatamente com o dinheiro do público. Exatamente no caso do BNDES e de Belo Monte, a sociedade civil exige saber que, além do financiamento, é preciso saber, cada vez mais, como e a que custo foi efetivado esse empréstimo, ou seja, é preciso conhecer o processo. Vemos então a importância da pressão da opinião pública, que pode influenciar significativamente governos e empresas na construção de estratégias de investimentos, o que inclui necessariamente a demanda por transparência em todos os âmbitos da vida em sociedade. É dessa forma que, como bem nos ensina o Instituto Ethos (2010), a transparência, como princípio ético, delimita os espaços das informações de tudo aquilo que, no plano empresarial afetem significativamente os interesses dos diversos públicos envolvidos. Por sua vez esse público, sem dúvida, bem informado, tem as melhores condições de analisar os riscos a que estão submetidos. 5 Ainda segundo o Instituto Ethos (2010) a transparência só é completa quando envolve a franqueza, ou seja, é preciso expor, na comunicação institucional, tanto os dados positivos como os negativos relativos a desempenho, tais como problemas identificados e pendentes de solução, metas estratégicas não alcançadas, além de variações negativas em alguns indicadores operacionais ou financeiros. Quedas de produção, vendas e margens de lucro são exemplos comuns de variações negativas; até há alguns anos, essas estatísticas raramente seriam citadas nos informes distribuídos pelas empresas envolvidas. Quando lemos um relatório anual e só encontramos fatos positivos, dificilmente escapamos de dúvidas: se os fatos estão sendo escondidos, se há problemas ignorados, e assim por diante. Em termos de visibilidade, as empresas modernas estão expostas por um incomparável instrumental de comunicação, que começa pelos profissionais especializados, como o de relações com investidores (RI). Há também sites bem-estruturados, com Relatórios Anuais e/ou de Relatório de Sustentabilidade, que direcionam informes sobre o exercício, em retrospectiva completada pela análise das tendências e perspectivas, com relação a todos os aspectos da atividade empresarial – legal, administrativo, operacional e econômico-financeiro (Ethos, 2010). A partir dessa realidade, se percebe que os relatórios anuais publicados são os veículos mais completos de comunicação em qualquer tipo de entidade, porque abrangem um exercício completo e todas as atividades básicas desenvolvidas. Por isso, as informações contidas devem ir além do que a lei e os regulamentos impõem, incluindo qualquer dado que, embora não obrigatório, possa afetar os interesses do leitor. Por isso, empresas, instituições governamentais, e mesmo membros da sociedade civil buscam divulgar suas ações de forma clara e transparente, de modo que seus valores sejam percebidos como positivos pela sociedade, buscando garantir sua longevidade. De outra forma, tornam-se frágeis, sem competitividade, e ficam suscetíveis a riscos de imagem e reputação. TEMA 2 – FORMAS DE EVIDENCIAÇÃO A transparência das operações socioambientais, incluindo aí o mercado financeiro, é um tema cada vez mais importante nos dias de hoje, pois permite 6 aos cidadãos comuns terem conhecimento dos impactos que afetam a natureza, assim como da qualidade de suas vidas. Dado que a contabilidade está relacionada de forma inerente ao patrimônio, há a necessidade de se registrar e prestar informações de todos os fatos referentes ao meio ambiente, uma vez que esse patrimônio pertence à sociedade. Além disso, é dever do contador ter uma compreensão sobre as questões ambientais, para relatá-las adequadamente, aproximando a linguagem contábil da linguagem dos ambientalistas. Atualmente, no caso do Brasil, têm sido utilizadas três importantes formas de evidenciar as informações perante organismos internacionais, mercado financeiro e ONGs: Balanço Social, relatórios de sustentabilidade no modelo GRI e indicadores Ethos. 2.1 Balanço Social O Balanço Social é um demonstrativo, através do qual as empresas podem apresentar à sociedade informações sobre seus investimentos internos e externos, nas ações de responsabilidade social empresarial. Esse modelo foi lançado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em 1997 (Ibase, 2019), constituindo-se de planilhas nas quais são apresentados indicadores quantitativos referentes a informações sobre investimentos financeiros, sociais e ambientais, coletáveis no sistema contábil e de gestão de pessoas da empresa. Em relação à forma como a empresa faz a gestão das ações de responsabilidade social, os resultados são apresentados por meio de indicadores qualitativos, de múltipla escolha. Os indicadores para divulgação são apresentados em sete grupos, na forma de um modelo que, segundo o próprio Ibase, é essencialmente uma ferramenta de transparência e prestação de contas. Nesse sentido, as empresas que fizerem a opção por divulgá-lo entendem que o estão fazendo para apresentar suas ações periodicamente à sociedade, e como elas estão evoluindo em temas relevantes, como educação, saúde, promoção da diversidade, preservação do meio ambiente, contribuições para a melhoria da qualidade de vida e de trabalho dos funcionários, participação em projetos comunitários, erradicação da pobreza e criação de postos de trabalho. O modelo Ibase, por fim, não exige nenhuma metodologia específica para levantamento de dados nem que as informações passem por uma auditoria prévia (Ibase, 2019). 7 2.2 Relatórios de sustentabilidade do Global Reporting Initiative (GRI) O Global Reporting Initiative (GRI) é uma rede de empresas e organizações sociais responsável pelo desenvolvimento de um padrão internacional para relatórios de sustentabilidade de empresas. O objetivo é fazer com que os relatórios de sustentabilidade se orientem por padrões de qualidade técnica, credibilidade e relevância. São integrantes dessa rede, além de empresas globais, organizações da sociedade civil, organizações de trabalhadores e instituições profissionais. O relatório segundo o modelo GRI é visto muito mais como uma ferramenta de gestão corporativa constituída por um diagnóstico a partir de uma série de indicadores previamente estabelecidos pelo modelo. O GRI não é uma certificação, mas um acordo voluntário e interno, focado na publicação de práticas e ações relacionadas aos principais impactos da empresa nos pilares ambiental, social e econômico – pilares que formam o Tripé da Sustentabilidade. Além disso, objetiva abordar temas que sejam prioritários e relevantes, não só para a empresa, mas também para os seus stakeholders, ou públicos envolvidos e prioritários. 2.3 Indicadores Ethos Desenvolvidos em 2000 pelo Instituto Ethos, os indicadores são considerados, além de uma forma de evidenciação, também uma ferramenta de gestão que visa apoiar as empresas na incorporação da sustentabilidade e da responsabilidade social empresarial (RSE) em suas estratégias de negócio, de modo que venha a ser sustentável e responsável (Instituto Ethos, 2019). Os indicadores são apresentados na forma de um questionário: a empresa realiza ela mesma o autodiagnóstico da sua gestão, em um sistema totalmente on-line. Além disso, podem ser integrados com os relatórios da Global Reporting Initiative (GRI), bem como com a Norma de Responsabilidade Social ABNT NBR ISO 26000. 2.4 Relato Integrado Apesar de ainda não ser um modelo amplamente utilizado, é importante trazermos algumas consideraçõessobre o Relatório Integrado (RI). Esse modelo é a tendência mais atual de apresentação de informações relacionadas às 8 empresas e suas operações, sendo uma das suas características a estrutura concisa das informações e a exposição da forma como a empresa atua a sua cadeia de valor. O Relato Integrado busca mostrar a governança, a gestão e o modelo de negócios a partir de riscos e oportunidades, pensando no desempenho da organização. 2.5 Ferramentas Esse conjunto de ferramentas nos mostra que não há uma única forma de apresentação de informações à sociedade, uma vez que as empresas são regidas e orientadas segundo o seu modelo de gestão, que por sua vez busca atender a um nicho de mercado. Além disso, o suporte para cada uma dessas ferramentas é realizado por organizações diferentes: para os Relatos Integrados, a assistência é a International Integrated Reporting Council (IIRC); para os Relatórios de Sustentabilidade, é a Global Reporting Initiative (GRI), referência na orientação de padrões e princípios de qualidade e abrangência do relatório; no caso do Balanço Social, a orientação vem do Instituto Ethos de Responsabilidade e/ou, complementarmente, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Concluindo, podemos dizer efetivamente que as formas de relato comunicam as ações de forma transparente, com compromissos e metas que são adotadas pelas companhias, que já compreenderam a importância estratégica dessas comunicações, haja vista que a globalização tem tornado os consumidores cada mais conscientes do papel das empresas em prol da sustentabilidade. TEMA 3 – BALANÇO ECOLÓGICO E CONTABILIDADE AMBIENTAL No tema anterior, pudemos entender quais as são as formas usuais com que as empresas relatam os aspectos pertinentes ao seu desempenho operacional. Vimos que todas essas formas incluem os aspectos ambientais, que também podem ser chamados de “ecológicos“, lembrando que a ecologia é a parte da Biologia que se preocupa com o estudo das relações estabelecidas entre os seres vivos, e destes com o meio ambiente em que vivem. Dessa maneira, podemos assumir que o Balanço Ecológico pode ser entendido como o aspecto da contabilidade ambiental que está relacionado aos 9 gastos da empresa na apropriação de recursos ambientais para o desenvolvimento de suas operações e/ou processos produtivos. Existem atualmente diversas ferramentas que podem auxiliar empresas a comporem as informações que subsidiarão o levantamento das informações para o Balanço Ecológico. Dentre elas, estão os indicadores do GRI, como vimos anteriormente. Quadro 1, seguem alguns exemplos desses indicadores. Quadro 1 – Exemplos de indicadores EN3 Consumo de energia direta discriminado por fonte de energia primária EN4 Consumo de energia indireta discriminado por fonte primária EN8 Total de retirada de água por fonte EN9 Adic. Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de água EN10 Adic. Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada EN13 Adic. Habitats protegidos ou restaurados EN20 NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso EN21 Descarte total de água, por qualidade e destinação EN22 Peso total de resíduos, por tipos e métodos de disposição EN28 Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não monetárias resultantes de não conformidade com leis e regulamentos Fonte: GRI, 2019. A norma ISO 14000 traz vários documentos que podem contribuir para o Balanço Ambiental, como ISO 14001 e 14004, que estabelecem padrões de gestão ambiental; 14010, 14011 e 14012, que estabelecem padrões de auditoria ambiental, e 14031, que trata da avaliação de desempenho ambiental. Para a escolha do melhor método de levantamento das informações para compor o Balanço Ecológico, o primeiro passo é realizar uma avaliação dos impactos atuais, potenciais, positivos e negativos que as atividades produtivas têm em toda a cadeia de valor. A partir desse diagnóstico, os indicadores a serem escolhidos devem expor, de forma clara e objetiva, qual a relação entre as atividades relacionadas ao processo operacional da empresa e uma 10 promoção positiva para um desenvolvimento sustentável. Além disso, esses indicadores devem ser passíveis de serem monitorados ao longo do tempo. Muitas vezes, o maior impacto social e ambiental de uma organização pode estar além do escopo dos ativos que detém ou controla. Por isso, é recomendável que a contabilidade considere toda a cadeia de valor – desde a base de abastecimento e logística de entrada, passando pela produção e operações, até a distribuição, uso e fim da vida dos produtos – como o ponto de início para a avaliação do impacto e a definição de prioridades. TEMA 4 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA) Os temas anteriores de nossa aula trouxeram questões importantes sobre transparência e suas ferramentas de divulgação, assim como os elementos ambientais que compõem um Balanço Ecológico. Além disso, vimos como é decisiva a participação da sociedade em todos esses processos. É a partir desse cenário que agora podemos abordar alguns aspectos dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA), os quais, sem dúvida, contribuem para a efetivação de uma perspectiva de desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Seja em empreendimentos da iniciativa privada ou do governo, o EIA permite uma análise da viabilidade ou não de uma atividade, encontrando ao mesmo tempo alternativas que podem ser adotadas para minimizar os impactos negativos ao meio ambiente. Adotados em vários países, o EIA de impacto ambiental tem a função de ser um mecanismo de proteção e defesa do meio ambiente, fator de importância que levou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Rio-92, dispor o Princípio n. 17 da Declaração da Conferência da ONU do Rio de Janeiro (Ramid; Ribeiro, 1992): Princípio 17. – A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente e que dependam de uma decisão da autoridade nacional competente. O desenvolvimento de um Estudo de Impacto Ambiental deve ocorrer antes da execução de uma grande obra ou empreendimento. De uma maneira geral, deve ser dividido em duas etapas: o diagnóstico, quando são considerados todos os efeitos positivos e negativos associados ao projeto, como um todo; o prognóstico, que avalia alternativas durante a implantação; e o desenvolvimento 11 do projeto, visando gerar o menor número possível de efeitos sociais e ambientais negativos, tornando-os aceitáveis pela sociedade, que deve participar da decisão. De acordo com o art. 2° da Resolução Conama 237/1997, a elaboração de estudo de impacto ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima), a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do Ibama em caráter supletivo, devem ser realizados para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente. Ela vale para os seguintes casos (Conama, 1986): I – Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II – Ferrovias; III – Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV – Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66; V – Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos,acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII – Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX – Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X – Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII – Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloro químicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII – Distritos industriais e zonas estritamente industriais – ZEI; XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV – Projetos urbanísticos, acima de 100 ha ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI- Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados ou produtos similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia; XVII – Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha ou menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas áreas de proteção ambiental. O EIA na Legislação Federal, portanto, é referente a um projeto específico a ser implantado em determinada área ou meio, e para tal é um estudo prévio que serve de instrumento de planejamento e subsídio à tomada de decisões políticas na implantação da obra. Além disso, um EIA é interdisciplinar, ou seja, 12 deve ser realizado por uma equipe de diferentes profissionais, de diferentes áreas abrangidas, independentemente do proponente do projeto. Dentro da perspectiva da legislação, a responsabilidade de cada membro da equipe multidisciplinar, ou da equipe como um todo (sendo ou não pessoa jurídica), também é especificada, pois nesse aspecto a conduta dos profissionais que atuam em um EIA pode configurar crime de falsidade ideológica. Um exemplo seria a omissão de documentos importantes para o processo decisório. Nesses casos, a pena pode ser de reclusão e/ou multa. Os estudos são realizados de forma a apresentar a compartimentação do meio ambiente, ou seja, os meios físico, biológico e socioeconômicos, com um roteiro que contempla desde informações sobre a localização do empreendimento e sua área de influência, até a caracterização, com planejamento, implantação, operação e desativação completa. Numa segunda etapa, é realizado o Diagnóstico Ambiental, que definirá um cenário ambiental da área antes da implantação do empreendimento, além da Qualidade Ambiental da região, de forma a especificar as interações e inter-relações entre os componentes bióticos, abióticos e antrópicos do sistema. Somente a partir disso é que são realizadas as Análises dos Impactos Ambientais nas diferentes fases do projeto. Por fim, após essa análise, serão propostas Medidas Mitigadoras – medidas que minimizam os impactos adversos – constando sua natureza, período de adoção, prazo de duração, fator ambiental a que se destinam, e quem deve ser responsável pela sua implantação. É importante ressaltar que todos os documentos gerados pelos Estudos de Impactos Ambientais são públicos, estando acessíveis a qualquer cidadão e devendo conduzir à prevenção de danos e riscos ambientais não toleráveis, exatamente ao encontro da execução da Política Ambiental brasileira. TEMA 5 – RELATÓRIO RIMA Após a elaboração do EIA, é elaborado o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), que deve apresentar uma linguagem simples e objetiva, formalizando para o Poder Público e a sociedade as conclusões obtidas por meio dos Estudos de Impacto Ambiental. Dessa forma, o EIA apresenta uma abrangência maior, de forma a englobar o Rima em seu conteúdo, ressaltando-que é ilegal estabelecer parte transparente das atividades (o Rima) e partes que não serão publicadas. 13 A linguagem para apresentação deve ser objetiva, concisa e clara, permitindo a compreensão de informações complexas que foram elaboradas para o EIA; ou seja, o formato deve ser adequado aos seus leitores, para que entendam as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua implementação. Segundo a legislação vigente, ou seja, a Resolução Conama n. 001/1986, o Rima deve conter os seguintes itens (Conama, 1986): I – Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais; II – A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão- de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III – A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto; IV – A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação; V – A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização; VI – A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado; VII – O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII – Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral). TROCANDO IDEIAS Em janeiro de 2019, o então presidente em exercício, Hamilton Mourão, publicou um decreto que altera a regulamentação da Lei de Acesso à Informação (LAI), prevendo que a classificação “ultrassecreta” de dados poderá ser delegada a altos cargos, comissionados com o DAS 6, e também a dirigentes máximos de autarquias, fundações, empresas públicas e de sociedades de economia mista. Considerando o que vimos em aula, como você classificaria essa decisão? Qual o impacto que isso pode causar em relação às questões socioambientais? Tome como exemplo uma área que tem um grande depósito de um bem mineral, ou ainda os casos de desmatamento da Floresta Amazônica. 14 NA PRÁTICA Leia o artigo "Johnson & Johnson é condenada a pagar US$ 5 bi por talco com amianto", produzido pelo New York Times e publicado pelo Estadão em 13/07/18, e disponibilizado em <https://economia.estadao.com.br/noticias/nego cios,johnson-e-johnson-e-condenada-a-pagar-us-5-bi-por-talco-com- amianto,70002401624> (acesso em: 9 set. 2019). O exemplo da Johnson & Johnson vem ao encontro de tudo o que vimos em aula acerca da importância da transparência das informações, com as consequências não somente ambientais, mas também sociais dos processos produtivos das indústrias. Além disso, aponta uma tendência de cunho irreversível: a demanda e a capacidade da população de exigir cada vez mais os seus direitos. FINALIZANDO Começamos a nossa aula estudando a importância da divulgação e da transparência em relação às informações de cunhosocioambientais que envolvem os projetos de desenvolvimento sustentável. Na sequência, aprendemos sobre as formas mais atuais de evidenciação e divulgação, a saber: modelo Ibase, ou Balanço Social, relatório de sustentabilidade no modelo GRI, e Indicadores Ethos. Depois, conhecemos o Relato Integrado, que já havia sido mencionado em nossas aulas anteriores. Aprendemos também sobre o Balanço Ecológico e sobre o EIA-Rima, e seu respectivo relatório de comunicação à sociedade. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Informações ambientais. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/informacoes-ambientais.html>. Acesso em: 8 set. 2019. CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 01, de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 1986. DISCOVER the GRI Standards. GRI – Global Reporting Initiative. Disponível em: <https://www.globalreporting.org/standards/getting-started-with-the-gri- standards/>. Acesso em: 8 set. 2019. GUIA de elaboração do balanço social e relatório de sustentabilidade. Instituto Ethos, 2007. Disponível em: <https://www.ethos.org.br/cedoc/guia-de- elaboracao-do-balanco-social-versao-2007/#.XF6FnFxKg2w>. Acesso em: 8 set. 2019. IBASE e BS. Ibase. Disponível em: <http://ibase.br/pt/balanco-social/>. Acesso em: 8 set. 2019. ISA – Instituto Socioambiental. Dossiê Belo Monte, 2015. Disponível em: <https://www.socioambiental.org/pt-br/dossie-belo-monte>. Acesso em: 9 set. 2019. JOHNSON & JOHNSON é condenada a pagar U$5 bi por talco com amianto. Estadão, 13 jul. 2018. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticia s/negocios,johnson-e-johnson-e-condenada-a-pagar-us-5-bi-por-talco-com- amianto,70002401624>. Acesso em: 8 set. 2019. RAMID, J.; RIBEIRO, A. Declaração do Rio de Janeiro. Estudos Avançados, v. 6, n. 15, 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 8 set. 2019. VALORES, transparência e governança. Instituto Ethos, 2013. Disponível em: <https://www.ethos.org.br/conteudo/gestao-socialmente-responsavel/valores- transparencia-e-governanca/#.XF6FQlxKg2w>. Acesso em: 8 set. 2019. Conversa inicial Contextualizando Na prática Leia o artigo "Johnson & Johnson é condenada a pagar US$ 5 bi por talco com amianto", produzido pelo New York Times e publicado pelo Estadão em 13/07/18, e disponibilizado em <https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,johnson-e-johnson-e-conde... O exemplo da Johnson & Johnson vem ao encontro de tudo o que vimos em aula acerca da importância da transparência das informações, com as consequências não somente ambientais, mas também sociais dos processos produtivos das indústrias. Além disso, apo... FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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