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Arte e seus agentes Prof.ª Adriana Sanajotti Nakamuta Descrição Os agentes da arte, compreendidos por instituições e indivíduos, constituem parte importante do sistema da arte e do campo da cultura. Propósito Analisar os agentes da arte, a partir dos mercados (galerias, leilões e feiras), da crítica e da curadoria de exposições, fundamentais para a compreensão dos aspectos econômicos, técnico-intelectuais e simbólicos, pelos profissionais em formação no campo da arte. Preparação Antes de iniciar seu estudo, certifique-se de que tem acesso a dicionários on-line de cultura e artes para conhecer biografias artísticas e compreender os termos específicos da área. Objetivos Módulo 1 Arte e seus agentes: mercado (galeria e leilão) Analisar o papel de leilões e feiras no mercado de arte e no comportamento do consumo de cultura artística na atualidade. Módulo 2 Arte e seus agentes: comentadores (críticos de arte) Identificar o papel da crítica de arte na formação de opinião e gosto e na atribuição de valor. Módulo 3 Arte e seus agentes: curadores Reconhecer o lugar da curadoria na prática expositiva e na seleção de obras e narrativas para apresentação pública. Introdução Feiras, leilões e galerias constituem parte das instituições que movimentam e/ou fomentam o mercado de arte. Mercado? Sim! A arte em todas as suas formas se tornou um poderoso negócio contemporâneo, movimentando milhões de dólares e pessoas. Um bom exemplo desse negócio lucrativo pode ser visto nos resultados apresentados pela Christie’s e pela Sotheby’s. Só a Sotheby’s, tradicional casa de leilões em solo americano, apresentou faturamento de mais de 7 bilhões de dólares em 2021, o seu melhor desempenho em 277 anos de atividade, um marco dos caminhos que passaram a ser percorridos. Dentro da perspectiva dos agentes da arte, veremos também como a participação de curadores e críticos de arte contribui para a inserção de uma obra de arte no cenário expositivo e no próprio mercado. Os museus e as galerias, instituições responsáveis por exposições, também são peças importantes nesse conjunto de indivíduos e lugares que movimentam o campo artístico. Mas quem são esses profissionais? Quais são as suas funções nos campos que se vinculam à arte, que estão longe de serem somente galerias? Onde são seus ambientes de negociação? É isso que passaremos a descobrir. 1 - Arte e seus agentes: mercado (galeria e leilão) Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o papel de leilões e feiras no mercado de arte e no comportamento do consumo de cultura artística na atualidade. Mercado da arte Jeff Koons mandará esculturas de arte à Lua. Esse é o título de uma matéria publicada recentemente na revista Forbes (2022) sobre o aquecimento e as novidades no âmbito do mercado de arte contemporânea. Você, provavelmente, deve estar se perguntando: como isso é possível e qual o objetivo de enviar uma obra à Lua? Os modelos do projeto Fases lunares de Jeff Koons incluem um cubo transparente contendo luas em miniatura e uma escultura de uma lua maior que permanecerá na Terra. Jeff Koons e sua escultura, Rabbit, de 1986, que é a obra de arte mais cara a ser vendida por um artista vivo em um leilão. A resposta, embora objetiva, é bastante complexa, pois envolve um terreno ainda desconhecido no campo da arte contemporânea, inclusive em termos de valor simbólico. Os tokens não fungíveis, ou NFTs, como ficaram conhecidas as obras de arte não fungíveis, ganharam notoriedade, com grande crescimento em plataformas como OpenSea, Nifty Gateway e SuperRare, especialmente com a pandemia provocada pela covid-19. Um exemplo de grande repercussão foi a venda de uma obra de arte NFT do artista Mike Winkelmann, conhecido como Beeple, designer gráfico e artista digital americano, pela quantia de 69,3 milhões de dólares, na casa de leilão Christie's, em 2021. Essa venda é representativa no âmbito do mercado de arte, principalmente para o tradicional leilão Christie's, por se tratar da primeira obra desse gênero leiloada pela casa. Intitulada de Everydays: The First 5000 Days, a obra representa uma coleção de cinco mil peças do artista e configura esse novo cenário de ativos digitais: os NFTs. Cabe destacar que Beeple já havia vendido outra arte criptográfica no valor de 6,6 milhões de dólares. Everydays: The First 5000 Days, obra de arte NFT criada em 16 de fevereiro de 2021 por Mike Winkelmann (Beeple). Mike Winkelmann, conhecido como Beeple. O que Beeple e Jeff Koons têm em comum? Ambos já bateram recordes em leilões com obras autorais. Além do exemplo já citado de Everydays: The First 5000 Days, a escultura Rabbit, de Koons, bateu a casa dos 91 milhões de dólares. Rabbit, escultura em aço inox, de Jeff Koons, feita em 1986 e vendida por US$91,1 milhões em maio de 2019 Os dois artistas ainda trazem novidades que indicam o aquecimento do mercado de arte: Jeff Koons, com a exposição de obras na Lua, e Beeple, com arquivos em JPEG à venda em leilões. Ambos são exemplos importantes e significativos para compreendermos o posicionamento atual do mercado de arte, inclusive a contemporânea. Isso porque o mercado de arte de hoje está se mostrando mais importante e globalizado, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais desafiador. Leilões de arte Quando o assunto é mercado, que inclui também o campo das artes, é impossível não tocar no tema da pandemia causada pelo coronavírus em 2020, uma vez que diversos tipos de serviços, em diferentes setores, tiveram alterações em suas atividades, desde algumas restrições até cancelamentos. Como resultado, observamos grandes mudanças: isolamento social, rescisão de contratos, fechamento de estabelecimentos, aumento do número de desemprego e outras ações que trouxeram incertezas para o primeiro, segundo e terceiro setores. Eternidade e Brevidade, Pang Maokun, 2020. Alguns serviços tiveram de ser modificados para que pudessem resistir aos tempos de pandemia. Segundo o Sebrae, 31% das empresas no Brasil passaram por mudanças, ou seja, 5,3 milhões de pequenas empresas brasileiras tiveram sua forma de funcionar alterada pelo vírus. No entanto, nem todos os mercados que dependiam de atividades presenciais foram afetados. Pelo contrário, atividades como delivery e a realização de eventos on-line salvaram alguns negócios e alavancaram outros. Self-portrait, wearing a ruff and black hat, de Rembrandt, 1632, leiloda on-line, atingiu US$363 milhões na Sotheby's London em 28 de julho 2020. Os representantes da Sotheby’s divulgaram que o leilão em plena pandemia, em julho de 2020, atraiu um total de 150.000 espectadores nos canais on-line da empresa. Os leilões de arte, por exemplo, ganharam destaque em 2021, visto que diferentes produtos, incluindo obras de artes raras, NFTs, mansões e até mesmo viagem espacial, foram leiloados por valores expressivos. O mercado de artes está no grupo de negócios que não se enfraqueceu com as restrições impostas para conter o vírus. Prova disso é que as maiores casas de leilões do mundo estão anunciando desempenhos fantásticos mesmo nos períodos mais críticos da pandemia. No ano de 2021, os leilões de arte negociaram 17,08 bilhões de dólares, o que representa um aumento de 60% e 28% quando comparado aos anos de 2020 e 2019, respectivamente, segundo o relatório The Art Market 2021. Vale destacar que embora o mercado de arte tenha encolhido 22% em 2020 - diminuindo de 64,4 bilhões de dólares em vendas em 2019 para 50,1 bilhões de dólares em 2021 -, os leilões virtuais e os ativos digitais nesses mercados contribuíram para a elevação dos lucros. Ou seja, a covid-19 forçou grande parte do mundo da arte a mudar as transações para a modalidade on-line. A Christie’s e a Sotheby’s revelaram vendas de 7,1 e 7,3 bilhões de dólares, respectivamente, em 2021. Além desse balanço superpositivo, as empresas também bateram recordes em suas atividades: a Christie’s movimentou o maior valor nos últimos cinco anos e a Sotheby’s atingiu seu melhor desempenhoem 277 anos de atividade (FORBES, 2021). Além desses valores altíssimos, é fato que os leilões superaram as expectativas em tempos em que a economia mundial ficou desaquecida e fragilizada. Especialistas consideram que o motivo da resiliência do mercado de artes, mesmo em tempos de incertezas, ocorreu em virtude de leilões virtuais e da presença de novos compradores e colecionadores, considerados jovens, na faixa etária entre 18 e 30 anos. No ano de 2021, 30% dos compradores da Christie’s se enquadravam nesse perfil. Assim, a pandemia acabou por promover uma atualização nas casas de leilões que se encontram, em sua maioria, preparadas para a realização de vendas on-line de agora em diante. Feiras e galerias No Brasil, eventos importantes dentro do mercado de arte tiveram suas atividades suspensas e não podem ser comparados à superestrutura e rápida adequação das casas de leilões internacionais, como o caso da Christie’s e a Sotheby’s, analisando na perspectiva do cenário pandêmico provocado pela covid-19. Contudo, o campo das artes, no qual se enquadram agentes ligados ao mercado - feiras, galerias e leilões -, também tem crescido e ganhado novos contornos. Exemplo As feiras anuais são realizadas nas duas principais capitais culturais do país, Rio de Janeiro e São Paulo, como a SP-Arte, realizada desde 2005, consolidando-se como a maior da América Latina, e a ArtRio, desde 2011. As feiras, apesar da estreita ligação direta com o mercado da arte, representam também um espaço importante para apresentação das galerias, por meio de suas obras, atraindo colecionadores, críticos, pesquisadores, curadores e interessados em arte. Essa movimentação proporcionada pelas feiras atrai novos públicos, aproxima a sociedade da arte e ainda movimenta o mercado e a economia. ArtRio 2021. ArtRio 2021. SP-Arte 2021. Para galeristas como Fernanda Resstom, diretora da Central Galeria, o ideal, no Brasil, seria convergir a realização das feiras para uma mesma data, pois isso estimularia a viagem de visitantes e colecionadores ao país para o evento. Um exemplo de agenda convergente é a Art Basel, na Suíça. entral Galeria Para mais informações, consulte o site da galeria em https://www.centralgaleria.com/ Art Basel 2021. Se, no Brasil, as galerias de todo território nacional se concentram em eventos que acontecem prioritariamente no eixo Rio-SP, no exterior a realidade é completamente diferente. O aumento expressivo de feiras pelo mundo tem levado pesquisadores em artes a estudar para compreender o fenômeno, pois o número de eventos desse tipo e porte quadriplicou. Affordable Art Fair, em Sydney, na Austrália, em abril de 2022. Exemplo No segundo semestre de 2018, mais de 46 feiras de grande porte foram realizadas em todo planeta, inclusive em continentes como Oceania e Ásia. O estabelecimento dessa agenda também tem sido visto com bons olhos para a formação de um turismo especializado, o que inclui a venda para colecionadores de diferentes perfis e aquisições por museus e instituições de cultura. Podemos concluir que esse formato de evento - feira - seja ele de pequeno, médio ou de grande porte, tem aquecido e ajudado na moldagem do sistema da arte. Confira as 30 principais feiras, com base nos calendários divulgados pelas feiras em 2022 e 2023, com a sua localização geográfica e temporal de realização: Este Arte O P t d l E t First Art Fair O A t d London Art Fair O L d Saboneteira branca portuguesa, 2022, da artista Ana Elisa Egreja, representada pela Galeria Leme. Óleo sobre tela. A SP-Arte, realizada em abril de 2022, retomou as atividades presenciais e comemorou a volta dos encontros promovidos no país com a arte e pela arte. Mais de 130 galerias e estúdios de design participaram do evento, que contou a presença de milhares de pessoas no Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Ambientes autônomos A grande novidade da mais recente edição da SP-Arte foi a inserção de projetos especiais, como o Radar SP-Arte, que visa aproximar o mercado de agentes autônomos, ou seja, artistas e/ou grupos que são autogeridos, como os coletivos de arte, apresentando seus projetos durante a feira. Ocorre em Punta del Este, no Uruguai, em Janeiro. Ocorre em Amsterdam, na Holanda, em Janeiro. Ocorre em Londres, na Inglaterra, em Janeiro. Estande do GDA Galeria de Artistas no Radar SP-Arte 2022. Exemplo A Casa Chama, de acordo com a própria definição de missão feita pela instituição, trata-se de uma “ONG fundada e coordenada por pessoas transvestigêneres, cuja atuação sociopolítica e cultural visa garantir emancipação, valorização e qualidade de vida para as populações trans”. E ainda, “a partir de uma ética antirracista e antitransfóbica, busca promover a dignidade para vidas trans a fim de prolongá-las e potencializá-las, fomentando e assegurando espaços de participação política, artística e social” (2022). Desse modo, esse importante espaço de arte, o SP-Arte, garante a presença e a participação da curadoria de artistas trans e cis de diversas mídias, indivíduos e grupos necessários nesse esforço atual de novas narrativas e iconografias. Casa Chama, expositora na SP-Arte, dentro do projeto especial Radar SP-Arte. Essa novidade da SP-Arte contribuiu em seu estudo para conhecer aspectos contemporâneos do sistema da arte, que incluem agentes que não estão ou não são representados por galerias, da mesma forma que não participam de leilões com as suas obras, sendo, portanto, autogeridos com propósitos de produção artística distintos das instituições e dos espaços tratados até o momento, especialmente na possibilidade de dar voz, representar e valorizar populações marginalizadas, por tempo excluídas desse sistema. Arte na galeria, no leilão? Arte em ambientes marginais Vamos à prática? A professora Monique Serenado nos faz pensar sobre os ambientes marginais de galeria e leilão de arte. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A pandemia causada pela covid-19 afetou negativamente muitos negócios no mundo todo. No entanto, os leilões superaram as expectativas mesmo diante desse cenário. Um dos motivos que levaram a esse resultado positivo foi Parabéns! A alternativa A está correta. Os leilões superaram as expectativas mesmo durante o período mais crítico da pandemia devido à realização de leilões virtuais, que possibilitaram a compra de obras por um grande público, mesmo com o comprador estando em sua casa e, inclusive, muito distante geograficamente da casa de leilões. A a realização de leilões virtuais. B a definição de um novo calendário para a realização de eventos presenciais pós- pandemia. C a entrada dos NFTs no mercado de arte. D a estrutura prévia existente nas casas de leilões que não precisaram de adaptações para continuar funcionando. E a grande quantidade de obras disponíveis para venda antes da pandemia. Questão 2 Atualmente, considera-se que o mercado de arte está passando por uma revolução, especialmente com o uso da tecnologia, por meio do registro de originalidade para obras NFTs. Essa descrição se relaciona com Parabéns! A alternativa D está correta. Os NFTs (tokens não fungíveis) estão modernizando o mercado de artes. Essa tecnologia, que ainda é considerada nova na área, garante que as obras tenham um selo de autenticidade digital, de modo que a obra tenha garantia de ser única e autêntica. A telas. B esculturas em aço inox. C gravuras. D obras de arte não fungíveis. E fotografia. 2 - Arte e seus agentes: comentadores (críticos de arte) Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o papel da crítica de arte na formação de opinião e gosto e na atribuição de valor. A história dos críticos de arte Duas imagens abrem este módulo de estudo. A primeira se trata do folder de divulgação da Jornada da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), de 2021, com a temática Crítica de arte diante das crises atuais, e a segundaé uma foto de Frederico Morais (Belo Horizonte, 1936), um dos mais importantes críticos de arte do Brasil, particularmente da produção artística dos anos de 1970. Folder da Jornada 2021 da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Frederico Morais, crítico de arte. Comentário Dois pontos, unidos pelo mesmo tema, contribuem para o reconhecimento dos agentes da crítica de arte - pesquisadores (indivíduos) e instituições. Vamos analisar a crítica da arte na perspectiva da sua consolidação como área dentro do campo artístico, mas, sobretudo, dos agentes da crítica, ou seja, de quem exerceu o papel de analisar e criticar obras e contribuiu com a constituição de um reportório de exposições, coleções e seleções de objetos e obras de arte. Vamos tratar particularmente dos críticos como parte integrante e significativa dos agentes que operam no campo artístico. Para iniciar, é importante situar o próprio campo da crítica, sua constituição como área de conhecimento dentro da arte e de outras definições. A crítica de arte, de maneira objetiva, pode ser definida como um processo de avaliação e/ou atribuição de valor - artístico e histórico - de obras de arte. Giulio Carlo Argan. É um campo de atuação técnica e intelectual no âmbito das artes visuais. Giulio Carlo Argan, historiador da arte, em sua obra sobre as teorias da arte (1992), ao afirmar que a história da arte é a história das obras de arte, destaca também que quem decide se uma obra é uma obra de arte é parte fundamental na história da arte. A ideia de juízo crítico há séculos vem delineando a atuação crítica do historiador da arte. O que se fortaleceu, no século XVIII, com a delimitação da Estética como um campo de conhecimento. Saiba mais Estética, etimologicamente, refere-se à percepção e estrutura; a partir de Alexander Gottlieb Baumgarten (filósofo alemão, que estabeleceu a estética como campo distinto da filosofia), uma ciência da sensibilidade, como ele a definiu em suas Meditações: “a ciência do modo sensível de conhecimento de um objeto”. Essa definição se completou no capítulo primeiro de sua Metafísica, intitulado “Psicologia empírica”, mais precisamente na segunda seção do capítulo, nomeada “A faculdade de conhecimento inferior”: “a ciência do modo de conhecimento e de exposição sensível é a estética - arte da beleza do pensar, arte do análogo da razão” (BAUMGARTEN, 1963, p. 75). É no século XVIII que a crítica de arte surge dentro dos salões literários e artísticos, especialmente com a realização de exposições e o aparecimento da imprensa. Esses processos que envolvem análises, juízos críticos, narrativas de reconhecimento de valor e de qualificações artísticas ocuparam parte dos textos divulgados em livros e pela imprensa e, ao mesmo tempo, fomentaram a abertura de museus e coleções particulares e a realização de exposições temporárias para apreciação pública da arte. Um exemplo importante de agente desse período foi o filósofo Denis Diderot (1713-1784), autor que transformou a literatura em um ofício, deixando registrados, dentro de suas formulações teóricas, os primeiros esforços de definição do papel distinto do historiador e do crítico de arte. Diderot delimitou a atuação do historiador à arte do passado e a do crítico com a análise da produção do seu tempo. Embora pareça bastante objetiva essa delimitação, ela possuiu limitações que se sobrepõem, especialmente no que tange à definição/delimitação de histórico. Denis Diderot. Mais tarde, no século XIX, a ampliação do campo crítico contou com a expansão das exposições e a publicação de textos críticos pelos próprios pintores, como as considerações de Eugène Delacroix (1798- 1863) sobre o romântico, e as de Gustave Courbet (1819-1877) sobre o realismo. Gustave Courbet. Eugène Delacroix. Esses debates críticos sobre a arte do seu tempo, nos casos de Delacroix e Courbet, também podem ser consideradas como prenúncio do que viria no século XX, com escritores e poetas com posições críticas dentro dos movimentos de vanguarda, como Apollinaire e André Breton sobre o cubismo e o surrealismo, respectivamente. Guillaume Apollinaire. André Breton. Internacionalmente, com as atividades de revistas como a The Spectator, fundada em 1711, vemos a consolidação de uma crítica sistemática e contínua com periódicos diários já na década de 1950. Edição original de The Spectator, de 1º de março de 1711. Antes, como vimos, esse trabalho se assemelhava à literatura e era realizado por escritores como Denis Diderot e Charles Baudelaire. Em Paris, Baudelaire, por exemplo, em suas atividades como crítico, contribuiu para o estabelecimento de critérios que se tornaram uma espécie de regra para a crítica posterior. Entre suas principais características, destacava-se o texto informal em primeira pessoa. A história da crítica da arte no Brasil Essa perspectiva histórica da crítica da arte também é fundamental para compreensão dessa área no Brasil, em que veremos os primeiros esforços narrativos literários do campo artístico a partir da implementação da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) e a formalização do ensino artístico no país. Fachada original da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), atualmente exposta no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Cabe destacar o papel do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a importância de Manuel de Araújo Porto-Alegre - pintor, crítico e historiador da arte - tanto nos textos publicados na Revista do IHGB quanto na participação na AIBA. Assim como no exterior, no Brasil, as exposições terão um papel fundamental na construção crítica da arte, inclusive com a construção expográfica de novas narrativas e, ao mesmo tempo, a ampla publicação de textos na imprensa. Exemplo O Diário de Notícias, jornal carioca, informou em 27 de setembro de 1941, que Burle Marx inauguraria, no dia 29 do mesmo mês, sua primeira exposição de pintura, na Associação de Artistas Brasileiros (Palace Hotel). Para a crítica apresentada no jornal, “o jovem artista é um dos valores mais destacados entre nossos pintores modernos, tendo exposto com sucesso no salão oficial, seção dos independentes” (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1941, grifo nosso). Roberto Burle Marx, Roberio Dias e Buckminster Fuller no Sítio Santo Antônio da Bica, 1980, Rio de Janeiro. Segundo o jornal, foram expostos 34 quadros com diferentes gêneros e motivos, e o catálogo da exposição era acompanhado de um “artigo da Dra. Hanna Levy estudando as características da arte do Sr. R. B. M. e o valor que ele representa entre as expressões mais afirmativas da atualidade em nossas artes plásticas” (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1941). Nesse período, especialmente na década de 1950, o jornalismo cultural no país estava em alta. Um mesmo periódico chegava a publicar até quatro críticas de uma única atração ou evento durante sua temporada de exibição. O crítico de arte, no Brasil, nessa época, era considerado a autoridade no assunto e seu discurso, em certa medida, definia e estruturava a noção de valor (simbólico e artístico) de determinada obra de arte ou mesmo de uma exposição. Porém, na década de 1960, a cultura sofreu grande impacto no Brasil: o aumento no preço dos papéis levou à redução no espaço destinado à publicação cultural e, depois disso, a censura instituída pelo regime militar impediu a liberdade de expressão. As atrizes Eva Todor, Tônia Carreiro, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara, Cacilda Becker e Norma Bengell, em uma passeata contra a censura do governo em plena ditadura milita, 1968. Mais tarde, nos anos 1990, o padrão de notícias apresentado pela internet e pelos telejornais acabou por chegar aos jornais. Esse modelo basicamente apresentava notícias mais curtas e reduziu ainda mais o espaço/periodicidade para a crítica, que já vinha sofrendo alterações importantes. A crítica de arte hoje Mesmo com tantas mudanças ao longo da história, é importante destacar que o Brasil contou com nomes importantes na crítica culturalno período entre 1950 e 1980: Mário Pedrosa. Ferreira Gullar. Ronaldo Brito. Frederico Morais. Mário Pedrosa, Ferreira Gullar, Ronaldo Brito e Frederico Morais representam o esforço significativo de manter vivos, nas páginas dos impressos e nos periódicos, a pesquisa e o olhar crítico sobre a produção artística brasileira. Os textos produzidos por eles eram carregados de conhecimento teórico-metodológicos da história e crítica da arte, fazendo com que o leitor compreendesse a obra em si e a sua justificação, inclusive com narrativas de valoração simbólico-cultural. A importância desses nomes também está na própria consolidação da crítica de arte como um campo de conhecimento e atuação profissional no Brasil. Atualmente, vemos poucos (às vezes, raros) textos críticos de arte nos jornais, exceto em periódicos especializados no assunto. Os espaços nos impressos ficaram cada dia mais concorridos e seletivos em virtude de interesses diversos. O que se vê é a publicação de textos motivados pela abertura de grandes exposições, como a Bienal de São Paulo, ou sobre feiras e eventos promovidos por galeristas e pelo mercado de arte, como SP-Arte, SP-Foto e ArtRio. Mas o que esses textos têm de diferente da crítica feita, por exemplo, pela geração de Frederico Morais? Manchetes de jornais sobre a 32ª Bienal de São Paulo. A geração dos anos de 1950, da qual tratamos neste módulo, travava, por vezes, embates críticos sobre a arte do seu tempo. Dedicava-se à construção de uma narrativa inédita, de atribuição de valor e de debate estético sobre determinada produção. Era a própria construção de conhecimento sobre aquela arte que se via estampada em jornais e revistas. Hoje em dia, os problemas estéticos e da produção de vanguarda não permeiam o debate ou a opinião sobre as obras de arte, refletem mais uma opinião sensibilizada pela potencialidade da obra e/ou pela sua representatividade e diversidade, possibilitando gatilhos sobre os inúmeros problemas sociais. A crítica de arte tem passado por muitas transformações, principalmente no Brasil, com instituições dedicadas à cultura em condições precárias, sem falar nos jornais, que enfrentam grandes crises ou despareceram. Um bom exemplo é o Jornal do Brasil que, em 1957, publicava textos com crítica de artes, diariamente, no seu primeiro caderno. De acordo com Marcos Augusto Gonçalves, jornalista e editor do caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo: [...] o próprio leitor, em meio à dispersão midiática, tende a impor uma demanda por informações mais rápidas e pragmáticas, voltadas para a orientação do consumo, do tipo ’vale a pena ou não eu sair de casa para ver isso?’ (SELECT ART, 2015) Exposição do artista argentino Leandro Erlich, no CCBB-RJ. Soma-se a isso a potencialidade das mídias sociais e o papel delas na divulgação rápida da informação, inclusive quando o tema é exposição de arte ou eventos culturais. Estar presente em exposições que bateram recorde de público tornou-se parada obrigatória para muitas pessoas, principalmente pela necessidade de publicar em suas redes sociais imagens de registros do cotidiano que incluem lugares e agendas badaladas. Apesar de a crítica ter perdido espaço (e sentido) diariamente nas páginas de jornais e revistas, as exposições vêm batendo recordes de públicos nos últimos anos. Isso porque na esteira dessas transformações do campo crítico, o curador assumiu um papel importante de instância crítica não só pela própria função de seleção de obras, objetos e imagens, mas também pela potencialidade do trabalho nas revisões historiográficas construídas por meio de novas narrativas e projetos expográficos. Reconhecendo os personagens Vamos reforçar alguns conceitos importantes com a professora Adriana Nakamuta. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No Brasil, a redução no espaço das publicações relativas à cultura, a censura à liberdade de expressão e a definição de novos padrões na forma de apresentação das notícias com textos mais curtos foram aspectos que resultaram em Parabéns! A alternativa C está correta. Nas décadas de 1960 e 1990, ocorreram muitas mudanças que impactaram a cultura no Brasil. Os jornais e cadernos destinados à crítica de arte do país se tornaram cada vez mais escassos, de modo que as críticas de arte praticamente só são encontradas em revistas especializadas. A surgimento de novos profissionais de crítica de arte. B interesse nos debates sobre obras de arte. C diminuição expressiva nas publicações de crítica de arte. D incentivo às instituições de arte. E proposição de novos cadernos para crítica e debate sobre arte. Questão 2 Na década de 1950, a periodicidade de publicação de críticas de arte em jornais no Brasil era bem expressiva, até mesmo para um único evento. Os profissionais que atuavam nessa área A não eram considerados como importantes para o mercado de arte. Parabéns! A alternativa E está correta. O Brasil contou com nomes importantes na crítica da produção artística brasileira. Esses profissionais produziam materiais ricos em conhecimento sobre a história e a crítica à arte, levando o público a compreender o valor das obras, seu significado e importância. Eram profissionais essenciais para a educação do público sobre a arte. B realizavam críticas que não eram respeitadas pelo mercado de arte. C apenas apresentavam seu trabalho em periódicos especializados. D apresentavam críticas que definiam somente a importância histórica de uma obra ou evento. E eram autoridades do assunto sobre o qual faziam suas críticas e seus conteúdos eram considerados, até mesmo para a definição de valores para artes ou algum evento, como exposições. 3 - Arte e seus agentes: curadores Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o lugar da curadoria na prática expositiva e na seleção de obras e narrativas para apresentação pública. Identi�cando a curadoria A atividade curatorial, logo, os curadores, compõe parte dos agentes atuantes e importantes para o campo artístico. Antes de apresentar alguns nomes e suas atuações profissionais, vamos estabelecer algumas definições. A curadoria de arte é um ofício desempenhado por um curador. No Brasil, essa profissão, que já foi chamada de diretor artístico, obteve destaque, inicialmente, na década de 1950, com a expansão do mercado de arte. Esse profissional era formado em cursos específicos como os do Royal College of Art, de Londres, e o Center for Curatorial Studies Bard, em Nova York. Essas instituições ofertaram os primeiros cursos profissionalizantes de curadoria. Royal College of Art. Center for Curatorial Studies Bard. Já no início dos anos 1990, a formação acadêmica em artes não se apresenta como o único caminho a ser seguido para ser um curador. Existem, por exemplo, casos de sucesso de curadores que iniciaram suas carreiras no jornalismo, escrevendo sobre artes, e outros que partiram de cursos, como artes visuais, museologia, história, engenharia ou arquitetura. Contudo, vale destacar que a bagagem cultural é um importante quesito para a formação desse profissional, juntamente com a compreensão do valor cultural e simbólico das obras, além do conhecimento do mercado de arte. Independentemente da sua formação, esse profissional desempenha diferentes funções que envolvem a pesquisa, a seleção e o gerenciamento de projetos expográficos das pinturas, esculturas e artes digitais, bem como do patrimônio histórico-artístico e cultural de locais, como museus e galerias. Pela sua atuação como pesquisador e atribuidor de valor - tendo em vista o trabalho de seleção -, o curador também tem desempenhado um papel importante no campo da crítica e das informações noticiadas sobre a arte e as exposições em diferentes veículos de comunicação, inclusive mídias sociais. Tipos de curadoria Em termos operacionais, pode-se afirmar que existem dois tipos de curadoria, a institucional e a independente: Curadoria institucionalO curador institucional trabalha com o acervo existente em determinada instituição. Esse profissional é o responsável por trabalhar esse acervo durante todo o período proposto para as atividades, planejando uma programação que envolva diferentes eventos, como cursos, exposições e palestras, entre outros. Esse curador também pode atuar definindo a programação de exposições externas para ocorrerem nesse espaço em questão. Horace D. Ballard, curador do Harvard Art Museums. Curadoria independente A curadoria independente não está relacionada a uma instituição específica. Aqui falamos de uma modalidade na qual o profissional tem a liberdade de trabalhar para instituições diferentes (museus, galerias, pinacotecas, centros culturais etc.) e atividades (exposições, mostras, feiras etc.). O curador independente Shanay Jhaveri liderou a turnê da exposição de Camille Henrot, em 2014. Um ponto importante do papel desempenhado pelo curador, seja institucional ou independente, é a realização do contato do público com o conteúdo das obras. É função do curador apresentar ao público informações culturais, textos críticos e outras informações relevantes para a recepção do público. Além de todo seu trabalho crítico e de pesquisa, o curador tem um papel fundamental: aproximar a arte da sociedade. Tendo em vista a definição de curador e sua importância para o sistema da arte, vamos analisar em que medida essa função contribui para a aproximação da sociedade com a arte, ao mesmo tempo que consolida as transformações no campo da crítica de arte na atualidade. Fernanda Pitta, uma das curadoras da Pinacoteca de São Paulo, declarou em entrevista ao editorial SP-Arte de 2020 seu entendimento sobre o papel curatorial na contemporaneidade. Para ela, nesse tipo de atividade, é preciso considerar a urgência de determinadas posturas, tais como: [...] postura antirracista, antimachista e decolonial, como compromissos de uma atitude crítica [...] haja vista que a produção de conhecimentos, de saberes e de posturas são exercícios de transformação do mundo. (DE OLIVEIRA DIAS; HENNING, 2020, p. 100) Atenção Questões reflexivas e críticas nunca podem se apartar da prática, nesse caso, a curatorial. O posicionamento de Pitta contribui e corrobora com a noção de transformação do papel da crítica de arte pela via da curadoria, ou seja, a atividade criativa e intelectual de propor exposições e constituir coleções e acervos em instituições, como museus, passa pela missão e pelo propósito de formação crítica e do olhar do indivíduo por meio de objetos e obras de arte. Outro ponto que merece destaque deve-se há quem se apresenta como curador ou curadora, particularmente, o que eles representam. Vamos analisar o papel e o perfil da curadoria, a partir de alguns casos exemplares de exposições recentemente ocorridas no Brasil. Começamos pela exposição realizada na Pinacoteca de São Paulo: A Máquina do Mundo: Arte e Indústria no Brasil 1901/2001, em 2021. A Máquina do Mundo: Arte e Indústria no Brasil 1901/2001, em 2021. A Máquina do Mundo: Arte e Indústria no Brasil 1901/2001, em 2021. A Máquina do Mundo: Arte e Indústria no Brasil 1901/2001, em 2021. A Máquina do Mundo: Arte e Indústria no Brasil 1901/2001, em 2021. Seleção de obras O papel curatorial na seleção das obras também exerceu função importante na construção crítica da arte brasileira, pois José Augusto Ribeiro observa a máquina e as transformações da indústria como próprio produto do objeto artístico. A seleção de obra e o projeto expográfico contribuíram para a construção de uma narrativa dos diferentes materiais, de técnicas e tecnologias no âmbito da indústria, materializadas na arte e no objeto artístico. Esses novos materiais e precisos questionamentos aparecem como matéria e/ou obra final na exposição. O segundo exemplo é a exposição STOP!, a maior mostra individual de Cranio, nome artístico de Fabio de Oliveira Parnaiba, na Usina Luis Maluf, também na cidade de São Paulo. Pagando pela morte, Cranio, 2021, na exposição STOP! Contrabando de cultura, Cranio, em 2021, na exposição STOP!. Pagando pela morte, Round 6 e Stop 2.0, Cranio, em 2021, na exposição STOP!. Sono dos inocentes VI, Cranio, em 2021, na exposição STOP!. Lacoste Gangue, Cranio, em 2021, na exposição STOP!. Essa mostra individual de Cranio trouxe para esse espaço coletivo de experiências e criatividade obras influenciadas pelas dinâmicas urbanas - como material principal, o spray - e pelas questões sociais. O artista é o próprio curador de suas obras e da exposição, possibilitando uma reflexão crítica social e profunda que trata de identidades culturais, de questões étnico-raciais, do meio ambiente e das relações de consumo. Cranio é internacionalmente conhecido por suas esculturas azuis de indígenas de diferentes tamanhos. Esse caso exemplar destaca-se pelo fato de o artista se inserir no sistema como agente crítico de sua própria obra, em um movimento de apresentação pública que já inova ao utilizar um espaço multiuso e coletivo das artes e da cultura. O espaço da Usina Luis Maluf, aberto recentemente, abriga programas de residências artísticas e tornou-se um novo espaço para atividades coletivas de arte e cultura. Ateliês coletivos de trabalho dentro da Usina Luis Maluf. Ateliês coletivos de trabalho dentro da Usina Luis Maluf. Ateliês coletivos de trabalho dentro da Usina Luis Maluf. Ateliês coletivos de trabalho dentro da Usina Luis Maluf. Ateliês coletivos de trabalho dentro da Usina Luis Maluf. Resumindo Os dois casos tratam de perspectivas distintas de abordagem da obra de arte e expografias, de lugares com propósitos diversos e, sobretudo, com função curatorial e crítica, que revisita a própria produção, no caso de Cranio e da Pinacoteca, com a narrativa histórica e artística da concepção de indústria no Brasil por meio das obras de arte. Embora importantes e representativos de diversas experiências semelhantes que ocorrem ou ocorreram no Brasil em matéria de exposição, atualmente um dos principais questionamentos sobre a representatividade em termos de curadoria está na verificação da presença - em grande parte ausência - de negras, negros e indígenas. De acordo com Luciara Ribeiro, curadora e integrante do Projeto Afro e coletivo Trabalhadores da Arte, os resultados da pesquisa Curadorias em disputa: quem são as curadoras e curadores negras, negros e indígenas brasileiros?, iniciado em 2020, trouxeram números impressionantes e foram consolidados nos infográficos a seguir. Curadorias em disputa: quem são as curadoras e curadores negras, negros e indígenas brasileiros?, publicados no Portal do Projeto Afro. Curadorias em disputa: quem são as curadoras e curadores negras, negros e indígenas brasileiros?, publicados no Portal do Projeto Afro. Como pode ser observado, somente 20% dos curadores indígenas, negros e negras atuam profissionalmente com vínculos institucional. Além disso, grande parte dos curadores negros e negras atua no estado de São Paulo, o que significa 46% do levantamento realizado. Já os indígenas estão divididos prioritariamente entre São Paulo (20%), Minas Gerais (20%) e Rio de Janeiro (15%). E o restante está dividido entre os demais estados participantes da pesquisa. Cunhatain, antropofagia musical, Denilson Baniwa, 2018. Ekúkwe (a terra envenenada e com odor de morte), Denilson Baniwa, 2018. Memória Pataxó, Arissana Pataxó, 2016. Depois dos 500, Arissana Pataxó, 2006. Salvação das almas?, Rosana Paulino, 2016. Efeito dominó, Kika Carvalho, 2018. 111 tiros x 3 jovens negros, Maré de Matos, 2016. Luciara Ribeiro. Para a curadora Luciara Ribeiro, “vivemos recentemente uma série de exposições e projetos organizados por instituições artísticas com o objetivo de promover maior ‘diversidade’ racial, de gênero e classe em suas equipes”, contudo, apesar de se tratar de projetos consistentes e com boas intenções: [...] os dados aqui [na pesquisa] revelam que ainda falta muito para queessas ações interfiram na base e promovam uma mudança real na contratação dos profissionais negros e indígenas nas equipes curatoriais. (RIBEIRO, 2020, grifo nosso) Isso quer dizer que não basta promover boas ações, é preciso que as equipes contem com curadores e curadoras negros e indígenas, na busca por ações antirracistas efetivas no âmbito do sistema das artes, como também bem afirmou Fernanda Pitta, da Pinacoteca de São Paulo. Vale destacar que, em 2018, o Museu de Arte de São Paulo, o MASP, contratou duas curadoras negras - Horrana de Kássia Santoz e Amanda Carneiro - e, em 2019, uma indígena - Sandra Benites. Horrana de Kássia Santoz. Amanda Carneiro. Sandra Benites. A experiência de ser curadora Neste vídeo, a professora Adriana Nakamuta vai nos contar sobre a sua experiência como curadora. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considerando as diversas funções desempenhadas por um curador, avalie as opções a seguir e assinale a alternativa correta em relação à(s) atividade(s) que esse profissional exerce: I. Pesquisador. II. Selecionador de projetos expográficos de pinturas, esculturas e artes digitais. III. Atribuidor de valor. Parabéns! A alternativa E está correta. O profissional de curadoria exerce diferentes funções, independentemente de sua formação (que não precisa, necessariamente, passar por uma formação acadêmica específica em artes). Entretanto, é importante lembrar que esse profissional precisa, obrigatoriamente, possuir conhecimento cultural, além de compreender o mercado de artes e as obras no tocante cultural e simbólico. A Apenas I. B Apenas II.. C Apenas III. D Apenas I e III. E I, II e III. Questão 2 A questão da curadoria é pouco vista, mas fundamental para o mundo da arte. Ela tem vários tipos e formas. Sobre o curador institucional, é correto afirmar que A esse profissional trabalha com seu acervo próprio. B seu material de trabalho pode ser o acervo já existente na instituição à qual está vinculado. Considerações �nais Compreender amplamente o sistema da arte envolve analisar a participação de agentes que atuam frente ao mercado de arte (galerias, leilões e feiras) e à crítica e curadoria. Nesses dois últimos casos, uma atividade se associa à outra na contemporaneidade, fomentando a organização e realização de exposições para apresentação pública de obras e objetos artísticos. O papel desempenhado por muitos curadores, atualmente, supre lacunas da ausência (ou pouco interesse por parte dos grandes jornais) de textos críticos da mídia impressa, ao mesmo tempo que levanta questionamentos sobre a ausência de representatividade nos quadros profissionais e institucionais na luta antirracista, antimachista e decolonial. O mercado, que também “bebe da fonte” do posicionamento crítico das exposições e de trabalhos curatoriais, os quais funcionam como uma espécie de termômetro da aceitação pública, bateu recordes em tempos pandêmicos, em virtude da rápida adaptação on-line e da presença de um novo perfil de colecionadores. São novos tempos comerciais e financeiros para os negócios de arte, dos ativos digitais e da presença de novos públicos. Parabéns! A alternativa B está correta. O curador institucional atua com o acervo existente em determinada instituição, durante o período de eventos propostos para a instituição, o acervo ou para exposições externas à instituição. Esses eventos são variados, podendo ser palestras, cursos, eventos, entre outros. Parte importante de sua atuação está na realização da aproximação da arte com o público por meio, principalmente, de informações culturais aos visitantes/espectadores. C é o profissional responsável por gerenciar apenas exposições. D não tem ligação com eventos externos que possam acontecer na instituição na qual atua. E atua somente no âmbito do conteúdo de obras, sem focar no contato do público com a arte. Podcast Para encerrar, ouça o professor Rodrigo Rainha apresentar os principais pontos sobre o sistema da arte e como ocorre a participação de agentes nesse mercado, nas críticas e na curadoria. Referências ALMEIDA, Filipa. Mercado de arte contemporânea: construção do valor artístico e do estatuto de mercado do artista. Forum Sociológico, série III, n. 19, 2009. AMARAL, Aracy. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Perspectiva, 1976. ARGAN, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1988. ARGAN, Giulio Carlo ; FAGIOLO, Maurizio. Guia de história da arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1992 ARTRIO. Entrevista com Angela Ancora da Luz. Consultado na internet em: 12 maio 2022. BAUMGARTEN, Alexander Gottlieb. Metaphysica. (S.I.). ed. 7, 1963. CASA CHAMA. 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Leia o artigo de Frederico Morais, A crítica de arte de Frederico Morais aos novos media nos anos 1960 e 1970. Assista ao vídeo do debate sobre as exposições "Do Corpo à Terra; Domingos de Criação; Como Vai Você, Geração 80?", pelos respectivos curadores Frederico Moraes e Marcus Lontra.
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