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Resenha crítica do documentário Blue Eyed (Olhos azuis)

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Jade Mattos Faria Coelho 
Resenha crítica do documentário “Blue Eyed” 
É possível relacionar o documentário Blue Eyed a vários pontos discutidos durante
as aulas de Processos Grupais. Em suma, o vídeo trata principalmente do experimento da
professora e estudiosa Jane Elliott no qual, por meio do rótulo da cor dos olhos, as
pessoas de olhos castanhos são privilegiadas, enquanto que as de olhos azuis são
separadas das demais e tratadas de modo ofensivo e discriminatório para que sintam por
menos de três horas o que as pessoas negras (assim como mulheres, homossexuais,
deficientes…) sofrem diariamente. 
Uma das inspirações para a criação e realização do experimento veio de livros
nazistas e, considerando o contexto desta época, é possível articulá-lo com o conteúdo
abordado ao longo das aulas. A autoridade de Hitler e seu discurso de extermínio
(principalmente de judeus) como solução dos problemas econômicos é um grande
exemplo de como a massa está sujeita à manipulação. Assim, é possível desmembrar essa
informação. 
Primeiro, foi visto o quanto a massa controla os indivíduos que a compõem.
Segundo Le Bon, a massa cria um tipo de mente ou alma coletiva que faz seus membros
sentir, pensar e agir bem diferente do que cada um faria isoladamente. Para Freud, a
massa só acentua as forças que já existem no indivíduo, sendo um terreno para
manifestação/exposição das funções inconscientes, que são controladas quando estamos
isolados, pois desperta a satisfação imediata dos desejos e enfraquece o ego (que
controla/equilibra/filtra essa busca impulsiva pela satisfação); o indivíduo racional estaria
num estado de vigília, consciente, enquanto que na massa, ele estaria num estado onírico,
inconsciente. Ou seja, a personalidade inconsciente assume o lugar da consciente e, sob
influência da sugestão, o sujeito é capaz de realizar grandes atos, como um sujeito
hipnotizado, porém ainda mais impetuoso na massa devido à reciprocidade, já que a
sugestão é a mesma para todos. 
Segundo, a massa também está sujeita ao poder mágico das palavras. A figura de
autoridade, através de uma linguagem encantada, repetitiva e estruturada, remete aos
desejos de onipotência do indivíduo, seduzindo, atraindo, fascinando a massa,
estimulando a ação e “domando” a reflexão. A massa, manipulada e conformada, aceita
discursos prontos. 
Terceiro, para a existência de um grupo, é necessário a presença de um chefe e de
uma “estrutura libidinal” que une os membros do grupo ao chefe. O líder, o “pai”,
concentra os desejos de todos da massa (as vontades são submetidas a ele, que entra no
lugar do ideal). Os indivíduos de massa precisam da ilusão de que são amados igualmente,
mas o próprio líder não precisa amar ninguém. Seduzindo pelas palavras, o líder alimenta
as crenças do grupo; se colocar como a figura que defende o interesse dos membros é
uma “prova de amor”. A sensação de proteção/segurança faz os membros estarem “em
dívida” com esse pai. 
Pelo fenômeno da identificação, a individualidade egocêntrica é transformada em
coletividade. Nessa relação horizontal (entre os membros) e vertical (entre os membros e o
chefe), o amor é o vínculo. Mas nessa organização o ódio deve existir também. Os
sentimentos negativos e hostis são projetados a quem está de fora. Freud chama de
“narcisismo das pequenas diferenças” o ódio contra o exterior, visto como inimigos, e o
exagero das diferenças entre grupos para a sensação de superioridade. Ou seja, a massa é
unida por amor (aos pares e ao chefe) e por ódio (às ameaças externas). 
Tudo isso, que foi analisado em aula, pode ser associado à época do nazismo, uma
vez que a massa facilita a condução, e a ausência de consciência de grupo gera
intolerância. Acolhendo hipóteses de outros teóricos, em especial Le Bon, Freud usa a
reação por sugestionamento para explicar a adesão cega à opinião comum. Pela repetição
sem reflexão, preconceitos são manifestados e o ódio é mantido pelo inimigo em comum
(negros, judeus e homossexuais, por exemplo). Assim, cidadãos seguem leais aos seus
líderes mesmo diante de um caráter impróprio (racismo, homofobia, misoginia,
xenofobia…), onde o líder, idolatrado, se torna incensurável, uma vez que representa o
grupo e permite a cumplicidade, assim como se deu o fanatismo por Hitler. 
Dando continuidade ao documentário, Jane Elliot evidencia alguns truques usados
pela autoridade para manipular o grupo, ao usar, por exemplo, da intimidação e das
contradições, que deixam o grupo confuso, incapacitado de reagir, e apenas vão
obedecendo, numa postura regressiva infantil. Freud fala sobre o “caráter infantil” que a
massa tem de aceitar passivamente como verdade o que a liderança diz. 
Quando um deles é humilhado num jogo psicológico de Jane, ela questiona por
que ninguém do grupo saiu em defesa dele e demonstra, com isso, o quanto uma pessoa
é cúmplice quando não reage diante de uma situação (no caso, de preconceito). Esse fato
nos leva a uma aula onde vimos que os registros simbólicos dos sujeitos alimentam a
continuidade dos fenômenos e das práticas sociais. Uma vez que o coletivo se mantém em
silêncio, ele contribui para a perpetuação/manutenção do opressor. 
Ao adotar a postura de um chefe autoritário e intimidador, Jane revela a passividade
e a submissão de um grupo que resulta nos mecanismos da psicologia de massas e suas
consequências, várias já discutidas no presente material. 
Em um dado momento, Jane Elliot faz um impactante comentário sobre muitos
homens negros terem problemas de saúde como pressão alta e de coração, que os levam
à morte prematura, antes de homens brancos. Isso nos remete a uma discussão, vista num
artigo, sobre a possibilidade de atribuição de doenças à situação da civilização. Assim, um
indivíduo poderia adoecer ao crescer em seu meio tolerando essas agressões (muito além
das físicas) contra si, sua família, seu grupo etc. 
O vídeo também mostra um experimento da professora com crianças. Ao final, é
possível diferenciar facilmente o semblante e a atitude de alguém quando em
posição/situação de privilégio e de discriminação. Nas primeiras aulas vimos a importância
dos grupos na estrutura psíquica do indivíduo, constituído pela existência do outro (objeto
de desejo, modelo/referencial de identificação, auxiliar ou adversário). O outro não é
indiferente a nós, e não somos indiferentes ao outro; e assim vamos influenciando e sendo
influenciados, construindo nossa identidade. 
Apesar das polêmicas geradas pelo experimento, a discriminação social
demonstrada gera sentimentos de desconforto, tanto aos participantes do estudo quanto
aos espectadores do documentário, justamente com o objetivo de fazer com que as
pessoas assumam responsabilidade na luta antirracista e que entendam o sofrimento que
muitos passam simplesmente por uma característica da qual não têm controle. 
Em suas diferentes interações, o sujeito se constrói socialmente e participa
ativamente da construção social/cultural (o que leva a teoria de que a psicologia individual
é, também, psicologia social). Sendo o grupo uma produção do seu contexto sócio-
histórico, não existindo isoladamente, o facilitador deve estar ciente da realidade vigente
do grupo, se localizar sócio historicamente e entender a importância do contexto no
desenvolvimento individual, num movimento de humanização. 
Portanto, por mais que a tradição torne o grupo mais automático na reprodução de
comportamentos e práticas, nenhuma conduta deve ser considerada definitiva/fixa. É ideal
uma reestruturação nos grupos, produzindo novos conhecimentos, trabalhando os
vínculos e estimulando nos indivíduos o potencialde ação e de mudança, e não de
submissão, como aprendemos. 
Para concluir, com base na técnica de grupo operativo (Pichon-Rivière), é possível
dizer que aprende-se em interação, numa postura crítica, investigativa e aberta sobre a
realidade, além de favorecer o rompimento dos estereótipos que impedem a mudança

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