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Livro-Texto Unidade I brasil imperio

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Vinícius Carneiro de Albuquerque
Colaboradores: Prof. Francisco Alves da Silva 
 Prof. Gabriel Lohner Grof
História do Brasil Império
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Professor conteudista: Vinícius Carneiro de Albuquerque
Vinícius Carneiro de Albuquerque é historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da Universidade de São Paulo e licenciado pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Obteve o título de 
mestre pelo programa de História Social, para o qual apresentou, em 2007, a dissertação Ceará: 1824. A Confederação 
das Províncias Unidas do Equador contra o Império do Brasil. Seu mestrado foi resultado de diversas discussões 
historiográficas com as quais teve contato ainda durante a graduação como membro do Programa Especial de 
Treinamento (PET) sob a tutoria do prof. Dr. István Jancsó, seu orientador depois no mestrado e também professor 
responsável pela coordenação do Projeto Temático “A fundação do Estado e da Nação Brasileiros, 1750/1850”, grupo 
de pesquisadores com o qual seu mestrado dialoga constantemente. Suas áreas de interesse são relacionadas à história 
política e social, principalmente no século XIX, mas também no Brasil e a América Latina, nos séculos XX e XXI.
Atualmente é professor do colégio e curso pré‑vestibular Objetivo, instituição na qual atua há mais de dez anos, 
tendo amplo contato com modernas tecnologias utilizadas na preparação de aulas digitais em diversas plataformas 
midiáticas. No colégio e curso pré‑vestibular também desenvolveu um vasto trabalho na preparação de material 
didático para turmas de ensino médio. É também professor da Universidade Paulista, na qual trabalha com especial 
interesse na área de Educação a Distância voltada para a formação de professores de História.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A345h Albuquerque, Vinícius Carneiro.
História do Brasil Império. / Vinícius Carneiro Albuquerque. – 
São Paulo: UNIP, 2015. 
176 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2‑042/15, ISSN 1517‑9230.
1. Brasil império. 2. Primeiro e segundo reinados. 3. Período 
regencial. I. Albuquerque, Vinícius Carneiro. II.Título.
CDU 981.04 
A‑XIX
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marcilia Brito
 Lucas Ricardi
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Sumário
História do Brasil Império
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 A CRISE DO ANTIGO REGIME E DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS: 
A CORTE NO BRASIL ........................................................................................................................................... 11
1.1 Liberalismo político e crise na América Portuguesa .............................................................. 18
1.2 Revolução Liberal e Constitucional do Porto (1820) ............................................................. 20
2 SETE DE SETEMBRO DE 1822: INDEPENDÊNCIA DO BRASIL? ....................................................... 22
2.1 Assembleia Geral e Constituinte dos Povos do Brasil ............................................................ 33
3 A CONSTITUIÇÃO OUTORGADA DE 1824 ............................................................................................... 36
3.1 A Confederação do Equador: 1824 ............................................................................................... 39
4 CRISE DO I REINADO E ABDICAÇÃO ........................................................................................................ 43
4.1 Sete de abril de 1831 – a abdicação de Pedro I ....................................................................... 56
Unidade II
5 REGÊNCIAS, ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ................................................................................................... 64
5.1 Regência Trina Provisória .................................................................................................................. 68
5.2 Regência Trina Permanente ............................................................................................................. 70
5.3 Ato Adicional de 1834 ........................................................................................................................ 73
5.4 Regência Una – Feijó .......................................................................................................................... 74
5.5 Regência Una – Araújo Lima ........................................................................................................... 77
6 REVOLTAS OU REBELIÕES REGENCIAIS .................................................................................................. 81
6.1 Guerra dos Farrapos ou Farroupilha ............................................................................................. 82
6.2 Revolta de Pinto Bandeira e do Benze‑Cacetes ...................................................................... 87
6.3 Guerra dos Cabanos, ou Os “Guerrilheiros do Imperador” .................................................. 88
6.4 Os Restauradores do Ano da Fumaça .......................................................................................... 89
6.5 Cabanagem ............................................................................................................................................. 90
6.6 Sabinada................................................................................................................................................... 92
6.7 Balaiada .................................................................................................................................................... 94
6.8 Revolta dos Malês ................................................................................................................................ 97
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Unidade III
7 II REINADO – 23 DE JULHO DE 1840 ATÉ 15 DE NOVEMBRO DE 1889 ..................................104
7.1 Segundo Reinado: organização social, política e econômica ..........................................1047.2 Eleições do Cacete: violência na política imperial ................................................................106
7.3 A Praieira: Pernambuco (1848) .....................................................................................................108
7.4 O parlamentarismo às avessas: fortalecimento de Pedro II ..............................................112
8 II REINADO: APOGEU E CRISE ..................................................................................................................115
8.1 Conflitos no Sul e a Guerra do Paraguai ..................................................................................117
8.2 Economia: modernizações e crises ..............................................................................................125
8.3 Expansão do café e imigração ......................................................................................................132
8.4 Mais revoltas e a crise final do Império ....................................................................................140
8.5 Abolicionismo ......................................................................................................................................142
8.6 Do aumento das críticas à monarquia ou a degringolada ................................................148
8.7 Os militares e o positivismo ...........................................................................................................151
8.8 II Reinado: momentos finais ou o golpe de 15 de novembro ..........................................153
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APRESENTAÇÃO
A disciplina de História do Brasil Império, cujo livro‑texto agora se apresenta, tem como objetivo 
primordial oferecer um olhar sobre a história do Império do Brasil, desde sua fundação em 1822 até seus 
momentos finais em 1889.
Nossa concepção partiu da ideia de que considerar Império a obra política de Pedro I ou de Pedro II 
não contribui para se entender a construção do Estado nacional brasileiro que, no fundo, é do que se 
trata politicamente a estruturação do Império do Brasil no decorrer do século XIX.
Nos últimos anos, o estudo do período da História do Brasil conhecido como Império tem levantado 
novos problemas e abordagens. Os novos olhares fogem bastante aos esquemas mais tradicionalistas 
que buscaram justificar a existência do Estado e da Nação brasileiros como o feito de algumas grandes 
personagens alçadas à condição de próceres da Nação.
Os debates relativos ao Império precisam superar as armadilhas que certas datas nos impõem para 
que possamos avançar na compreensão de importantes aspectos da História do Brasil ao longo do 
século XIX.
O período que se estendeu de 1822 até 1889 é bastante longo e passou por momentos distintos 
conhecidos como I Reinado (1822‑1831), Período Regencial (1831‑1840) e, por fim, II Reinado 
(1840‑1889). E seus diferentes aspectos políticos, econômicos e sociais serão abordados em cada uma 
das três unidades que agora apresentamos.
A Unidade I inicia‑se com a apresentação do quadro geral de crise do Antigo Regime e do Antigo 
Sistema Colonial. Essa crise não ocorreu em um único país, mas em quase todo o mundo ocidental, 
representando a emergência de uma nova classe social: a burguesia, e a contestação à ordem absolutista 
de tipo estamental ainda vigente.
O liberalismo político, os ataques napoleônicos e a fuga da família real portuguesa com a sua corte para 
o Brasil simbolizam muito bem a agudização da crise que demonstraremos ocorrer no mundo português.
Em seguida apresentamos a construção do Estado português na América e as consequências para 
ambos os lados do Atlântico, inclusive com o Vintismo português. Assim, chegaremos ao problema 
fundamental para se compreender o período: os vários sentidos da Independência do Brasil e suas 
múltiplas possibilidades expostas; logo, analisaremos quais projetos políticos foram vitoriosos e quais 
foram derrotados. Dessa forma, apresentaremos o Primeiro Reinado propriamente dito (1822‑1831), 
com a construção da persona de Pedro I, a Constituição de 1824, o Poder Moderador, o voto nessa 
constituição e a revolta da Confederação do Equador, que foi severamente reprimida em nome da 
ordem constitucional ou mesmo da “Boa Ordem”.
Buscando enfatizar que o Estado nacional não se apresentou no Brasil pronto em 1822, indicaremos 
as crises do Primeiro Reinado que levaram à abdicação de Pedro I e ao seu retorno para Portugal, onde 
morre como Pedro IV.
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A Unidade II inicia‑se com o quadro geral da crise no Brasil devido à volta de Pedro I para Portugal, 
uma vez que o herdeiro do trono é menor de idade. Nesse momento, foi apresentada a difícil construção 
da ordem, pois em 1831 e, pelo menos, até o Ato Adicional de 1834, a tensão entre centralização e 
descentralização era um sério risco ao Império. Passando pelas diferentes Regências (Trina Provisória, 
Trina Permanente, Una comandada pelos liberais e, por fim, Una comandada pelos conservadores) ficam 
expostas as dificuldades do universo da política às quais as populações não estavam alheias, apesar de 
apartadas das decisões políticas no centro do Império.
Assim, as muitas revoltas que abalaram o Império foram apresentadas e discutidas, não como simples 
fases a serem superadas na manutenção de nosso país, já definido em 1822, mas como movimentos 
particulares que, a seu modo, contestaram a ordem que se buscava estabelecer. O conturbado período 
das Rebeliões Regenciais apresentou‑nos o problema da própria sobrevivência do Brasil como Estado 
imperial.
A Unidade III tem a particularidade de abarcar um período longo em aspectos temporais, no qual o 
Estado Imperial afirmava‑se como ordem política. Ao iniciar com o Golpe da Maioridade, procuramos 
esclarecer que o gesto forte e simbólico de coroar o herdeiro do trono não garantiu a estabilidade, uma 
vez que diversas revoltas continuavam a ocorrer.
A articulação política em torno da acomodação das elites liberais e conservadoras, bem com a 
superação de grandes revoltas, ainda marcaram os anos iniciais do Segundo Reinado, que se estendeu 
de 1840 até 1889. A política do Parlamentarismo às Avessas, um recurso de estabilização na década de 
1840, marcou o início da organização e do apogeu político do Império, mas, como a história não para, 
tampouco acaba, a estrutura política foi também constantemente afetada pelas mudanças sociais e 
econômicas do século XIX.
O dinamismo da era foi, no século XIX, uma das marcas da economia do Brasil, apesar do arcaísmo 
social e da mentalidade fundamentalmente retrógrada das elites latifundiárias. Nesse sentido, 
abordaremos a expansão do café, das comunicações, das cidades e do comércio e o desenvolvimento de 
um momento singular, que foi apelidado de Era Mauá.
O apogeu e a crise do império foram marcados pelo avento externo da Guerra do Paraguai que aqui 
foi apresentada, não para comprovar a superioridade de um povo sobre outro, mas pelo fato de como ela 
era percebida em sua época, ou seja, pela destruição, pelo consumo de recursos sociais essenciais e, mais 
que tudo, pelos impactos na vida das pessoas das mais variadas origens sociais. A Guerra do Paraguai, 
chamada, por ninguém menos do que Caxias, de maldita, representou um momento de inflexão e, com 
isso, passamos a abordar a crise do Império.
A crise política com o republicanismo, o federalismo e o positivismo, teve ainda aspectos econômicos, 
religiosos e sociais, pois pensar o Império era pensar a manutenção da escravidão. Logo, os esforços 
desprendidos para sua manutenção ou para a sua abolição definitiva ocuparam a centralidade nos 
debates políticos e sociais nas décadas de 1870e 1880.
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INTRODUÇÃO
Nossa visão foi marcada pelos aspectos sociopolíticos e econômicos, procurando abordar os impactos 
da realidade nas vidas das pessoas de carne e osso e não apenas em figuras com retratos e nomes que 
às vezes podem soar apenas como aquelas coisas que aconteceram há tanto tempo.
Ao longo de todo o texto e em todas as unidades buscamos apresentar imagens que pudessem 
esclarecer o aspecto abordado nos textos, mas na Unidade III enfatizamos um recurso um pouco 
diferente que foi a apresentação também, e em escala maior, de documentos históricos e de tabelas, pois 
acreditamos ser fundamental a familiarização com esses recursos, tanto para melhor compreender os 
conteúdos apresentados como para poder utilizar como subsídios para discussões em sala de aula. Dessa 
maneira, a crise do Segundo Reinado que culminou na Proclamação da República proporcionou que 
apresentássemos diversos documentos, o que nos pareceu enriquecedor para a capacidade de entender 
a época. Nas palavras de Novais (1985), na apresentação da Coleção Estudos Históricos em seu livro 
Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777‑1808), o mestre de muitos de historiadores 
e professores de história afirma que “conhecer o passado é a única maneira de nos libertarmos dele, 
isto é, destruir os seus mitos”, frase breve que nos serve como norte nas muitas discussões que aqui 
apresentaremos.
Conforme Holanda (apud MARTINS, 1990) pontuou, 
para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe, 
não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição 
escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que 
enchem o panorama da História e são muitas vezes mais interessantes e 
mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a história.
Lucien Febvre, a respeito da História, teria dito:
eu qualifico a história como estudo cientificamente conduzido [...] a 
necessidade de retomar, refazer, repensar, quando preciso e desde que seja 
preciso, os resultados conquistados para readaptá‑los às concepções e, 
através delas, às condições de existência novas que o tempo e os homens, 
no quadro do tempo, não cessam de imaginar.
E por último e não menos importante, as palavras de Pierre Vilar (apud COHEN, 2007, p. 56), quando 
afirma que “é preciso compreender o passado para conhecer o presente”.
Assim, esclarecemos que essas são as maiores preocupações que conduziram nossas discussões, 
aqui apresentadas, e que perpassaram todo o período que abordamos para podermos compreender os 
aspectos mais importantes da construção da ordem imperial no Brasil e do Estado nacional, tratando de 
sua origem, tensões, contradições e conflitos, e de seu apogeu e queda em 1889.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Unidade I
REINADO (1822‑1831)
Na Unidade I, vamos apresentar uma visão a respeito do I Reinado (1822‑1831) que vai desde suas 
origens até sua crise final. Nossa intenção é desenvolver a noção da existência de uma história integrada 
que vai para além das fronteiras do Estado Nacional. Assim, as problematizações devem começar na 
crise do Antigo Regime Português, anteriores, portanto, ao 7 de setembro de 1822. Para isso, nosso olhar 
deve voltar‑se para o contexto do final do século XVIII e início do século XIX, quando da Independência 
do Brasil, ressaltando as dificuldades, articulações e alternativas que se apresentavam na construção e 
organização do Primeiro Reinado.
1 A CRISE DO ANTIGO REGIME E DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL 
PORTUGUÊS: A CORTE NO BRASIL
A crise que levou à desintegração do Império Colonial Português, entre o final do século XVIII e o 
início do século XIX, fez surgir um novo mundo no qual a independência do Brasil marcaria o início da 
construção de um estado‑nação que lutaria muito no decorrer do século XIX por sua consolidação.
A Independência do Brasil, considerada por muitos como um evento ocorrido em 1822, não é, de 
modo algum, um acontecimento isolado em nossa História. Para entender alguns de seus diversos 
significados é preciso retroceder aos momentos de agudização da crise final do Antigo Sistema Colonial 
Português nas Américas.
O final do século XVIII, com a Revolução Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789, foi 
marcado pelo rompimento das estruturas do Antigo Sistema Colonial e do Antigo Regime que, somados 
às consequências da Era Napoleônica (1799‑1815), irá transformar significativamente o universo político 
de ambos os lados do Atlântico.
O Império português foi literalmente sacudido pelos diversos acontecimentos que irão contribuir 
para o rompimento definitivo entre Portugal e o Brasil, que nesse momento não era mais uma simples 
colônia portuguesa, pois já havia sido elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, desde 
1815. As revoluções que convulsionaram a Europa no período de fins do século XVIII e início do XIX 
também tiveram sua expressão portuguesa e em 1820 ocorre em Portugal a Revolução Liberal e 
Constitucional do Porto.
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Unidade I
Figura 1 – Europa no tempo de Napoleão Bonaparte
Em 7 de março de 1808 desembarcava no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, a Família Real 
Portuguesa e sua Corte. A bem sucedida fuga da invasão napoleônica proporcionou a sobrevivência 
da Coroa dos Bragança num momento em que parecia impossível o pequeno Reino de Portugal resistir 
ao imperador dos franceses. Caso único na história mundial, o corpo político da corte metropolitana 
transferia‑se para a uma colônia, buscando sobreviver às mudanças em uma época bastante agitada.
Ao contrário do que frequentemente se imagina, não se tratava de fuga 
ou de medida covarde para não ter que enfrentar graves circunstâncias. 
Na opinião dos principais homens públicos de Portugal, naquela época a 
transferência da Corte era uma decisão que, por vários motivos, mostrava 
esperteza. Primeiro, estaria resguardada a parte mais rica dos domínios 
portugueses, já que o governo de D. João sabia das intenções da França 
e da Espanha de partilharem as possessões coloniais lusitanas, caso se 
concretizasse a invasão do Reino. Segundo, asseguraria nas mãos da família 
real de Bragança a Coroa Portuguesa. E, finalmente, era uma forma de os 
grupos dirigentes portugueses se precaverem também diante dos interesses 
dos ingleses e da provável desorganização do domínio português na América 
(OLIVEIRA, 1995, p. 54).
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Após a chegada da esquadra do almirante inglês Sidney Smith à Bahia em 22 de janeiro, o príncipe 
regente de Portugal Dom João assinou o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas e com isso o 
status de colônia foi abalado em sua essência, pois o exclusivo metropolitano que o sustentava deixava 
de existir. Mesmo não tendo sido elevado a Reino, como acontecerá em 1815, a América Portuguesa já 
sentia os efeitos nos novos tempos.
Exemplo de aplicação
Como um importante recurso para organizar informações de ordem econômica e material, além 
da escala das pessoas, e para melhor percebermos as mudanças que se desenvolveram na sociedade 
brasileira no decorrer de todo o século XIX, lançaremos mão de um recurso importante para 
apresentar esses dados, ou seja, faremos o uso de tabelas. Pode, no primeiro momento, aparentar 
ser uma forma um tanto quanto arcaica, mas nos justificamos com a preocupação em oferecer, 
sempre quepossível, os números, os produtos e as mudanças, da forma mais sistematizada possível 
para que seja facilitada a observação e também a posterior consulta de uma informação ou dado 
aqui lançado.
Vale ressaltar, ainda, que é fundamental saber ler e interpretar tabelas e listas, e, assim, conseguir 
construir as escalas e grandezas representadas. Observar valores e saber compreendê‑los em si e em 
relação aos demais é fundamental na organização do raciocínio para uma aula, por exemplo.
O que significa dizer que o café é o maior produto de exportação? Quer dizer que era 30% do 
total e o resto estava pulverizado entre os demais? Que era 51%? Que era 90%? Assim, consideramos 
fundamental a prática dessa leitura de grandezas para a familiarização e uso das informações da maneira 
mais adequada possível. Portanto, ao longo de nosso texto, será frequente a apresentação de tabelas e 
listas, para que essa familiarização comece a ser construída.
O comércio recebeu um grande impulso, conforme demonstra a entrada de navios no Rio de Janeiro.
Tabela 1 
Anos Portugueses Estrangeiros 
1808 756 90
1810 1214 422
1819 1313 340
1820 1311 354
Fonte: Teixeira (1993, p. 60).
A diversidade de produtos e também das origens desses produtos dá a medida da complexidade do 
momento, onde a ruptura dos laços coloniais inaugura uma nova realidade econômica pautada pelo 
dinamismo e pelo liberalismo econômico, bem ao estilo das mudanças relacionadas com revolução 
industrial que se acelerava e conquistava mercados pelo mundo.
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Unidade I
Ainda como indica Teixeira (1993, p. 60‑1) o quadro de produtos importados e seus respectivos 
locais de origem permite‑nos observar o que foi assinalado:
Quadro 1 
Artigos importados Locais de origem
Vinhos, azeite, trigo, biscoitos, sal, manteiga, vinagre, bacalhau Portugal
Tecidos de lã, chitas, linhos, porcelanas, ferro, chumbo, cobre, zinco Inglaterra
Jóias, móveis, velas, medicamentos, licores finos, pinturas, gravuras em cobre França
Cerveja, objetos de vidro, lãs, papel Holanda
Relógios, pianos, espingardas, estojos de lã Áustria
Objetos de ferro e latão, brinquedos de Nuremberg Alemanha
Cereais, velas, biscoitos, azeite de baleia, alcatrão, couros, breu, móveis Estados Unidos
Escravos, ouro em pó, ébano, marfim, pimenta, cera, óleos, enxofre, gomas África
Porcelanas, chás, tintas, canela, cânfora, sedas Macau
Fonte: Teixeira (1993, p. 60‑1).
O seguinte quadro, que demonstra quais eram os produtos exportados e a partir de quais portos, 
também lança o olhar sobre o dinamismo econômico e assinala a complexidade existente na região, que 
não era um mundo estático e completamente submisso exclusivamente aos ditames externos.
Quadro 2 
Artigos exportados Portos brasileiros
Açúcar, café, algodão, couros de boi, fumo Rio de Janeiro
Cachaça, melado, azeite de baleia, couros, arroz, cacau, drogas nativas Salvador
Algodão e açúcar Recife
Algodão Fortaleza
Algodão, arroz, couros curtidos, solas, polvilhos São Luis
Açúcar, cachaça, melado, café, cacau, baunilha Belém
Açúcar, couros, arroz, anil Santos
Carne seca, sebo, graxa, couros de boi e de égua e chifres Rio Grande
Fonte: Teixeira (1993, p. 61).
Conforme ressaltou Dias (2005, p. 12), a vinda da Corte para o Brasil e a opção de fundar um novo 
Império nos trópicos já significaram em si uma ruptura interna nos setores políticos do velho reino.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Figura 2 – D. João VI. Regente do Império Português que conseguiu 
enganar Napoleão, decretou a Abertura dos Portos rompendo o Pacto Colonial 
e elevou o Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves
O significado da Abertura dos Portos foi, de imediato, a presença do capitalismo inglês nos 
moldes do liberalismo do século XIX, e assim o Rio de Janeiro foi inundado por lojas inglesas dos 
mais diversos artigos. Além disso, a assinatura dos Tratados de Aliança e Amizade, Comércio e 
Navegação com os ingleses em 1810 dava a eles uma condição privilegiada em relação ao comércio 
com o Brasil.
A capital rapidamente se modernizava em diversos setores com a instalação de Ministérios (do 
Reino, Marinha e Ultramar e também da Guerra) e com a criação do Erário Régio (depois Ministério 
da Fazenda em 1821), da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordem, do Conselho de 
Estado, do Conselho da Fazenda e Supremo Conselho Militar, do Banco do Brasil (1808), da Biblioteca 
Real, das Juntas do Comércio, da Agricultura e da Navegação, além da Academia Militar, da Marinha e 
da Imprensa Régia. Havia também a presença de artistas, cientistas e viajantes com a chamada Missão 
Francesa em 1816.
Com todas essas mudanças, o Rio de Janeiro deixava a condição de capital de uma colônia para 
abrigar as mais altas instâncias do poder português num movimento consagrado – na expressão de Dias 
(2005), a “interiorização da metrópole”. A sofisticação ocorria em vários aspectos que eram sentidos 
no dia a dia da população, influenciando a sociedade, a economia, os impostos, as artes e mesmo os 
padrões de sociabilidade.
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Unidade I
 Observação
A presença da corte portuguesa no Brasil e a internacionalização do 
comércio brasileiro alteravam a vida provinciana que caracterizava nossa 
capital administrativa. Em 1816 o Rio de Janeiro já era um importante 
centro comercial e cultural, contando com mais de 110.000 habitantes. A 
alfândega carioca transbordava de produtos ingleses e já havia mais de 30 
casas de negócios estabelecidas no Brasil, em conexão com firmas inglesas. 
Em 1824, de 53 negociantes estrangeiros estabelecidos no Brasil, 40 eram 
ingleses, que dominavam o mercado de tecidos e metais (TEIXEIRA, 1993, 
p. 62).
Figura 3 – Vista da Baía de Guanabara no início do século XIX, em pintura de F. E. Taunay
A Abertura dos Portos em 1808, na prática, abolia o status colonial do Brasil, os tratados de 1810 
davam uma condição preferencial aos ingleses, logo, a condição de economia fechada e exclusiva para 
a metrópole lusa acabava definitivamente.
As mudanças do lado de cá do Atlântico ocorreram não sem consequências para Portugal, uma vez 
que o próprio príncipe regente estava ausente, pois a invasão napoleônica era inconteste, mas, com a 
queda de Napoleão em 1815 e a restauração das antigas dinastias europeias em seus tronos, caberia 
aos Bragança decidir se voltariam de uma vez por todas a Portugal ou se manteriam a Coroa em solo 
americano.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Figura 4 – Carta de D. João VI de elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves
 Saiba mais
Indicamos, como forma de ilustrar a época, o filme:
CARLOTA Joaquina: Princesa do Brasil. Dir. Carla Camurati. Brasil: 
Copacabana Filmes e Produções, 1995, 100 min.
E ainda como forma alternativa de familiarização, indicamos os 
quadrinhos:
SCHWARCZ, L. M.; SPACCA, D. João Carioca: a corte portuguesa chega 
ao Brasil – 1808‑1821. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
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Unidade I
Retornar ao Reino na Europa significaria, de imediato, o confronto da Coroa com setores 
liberais portugueses descontentes com aquilo que era percebido como uma inversão de papeis, 
quando Portugal mais parecia ser a colônia do que a metrópole. Permanecer no Rio deJaneiro, 
no entanto, não era a solução automática, uma vez que poderia significar abrir fissuras no 
Império Português, que poderia não resistir às mudanças. A perspectiva no Rio de Janeiro de 
perder a Corte também mobilizava projetos políticos, conforme o parecer de Silvestre Pinheiro 
Ferreira (apud SOUZA, 1999, p. 56):
A questão de Estado, que se agita sobre o regresso da Corte de V. A. R. para 
a Europa, e sobre a qual V. A. R., por efeito de Sua Alta Benevolência, se 
há dignado de ordenar‑me que diga o meu parecer, é sem dúvida um dos 
maiores problemas políticos, que jamais soberano algum teve de resolver. 
[...] Trata‑se de nada menos que de suspender e dissipar a torrente de males, 
com que a vertigem revolucionária do século, o exemplo dos povos vizinhos, 
e a mal entendida política que vai devastando a Europa, ameaçam de uma 
próxima dissolução, e de total ruína os Estados de V. A. R., espalhados pelas 
cinco partes do mundo: quer seja pela emancipação das colônias, no caso 
de V. A. R. regressar para a Europa: quer seja pela insurreição do Reino de 
Portugal, se aqueles povos, perdida a esperança que ainda os anima, de 
tornarem a ver seu amado Príncipe, se julgarem reduzidos à humilhante 
qualidade de colônia.
1.1 Liberalismo político e crise na América Portuguesa
Devemos lembrar, inicialmente, que D. João VI e sua corte estavam no Brasil desde 1808; que a 
Abertura dos Portos às Nações Amigas e os Tratados de Aliança e Amizade, Comércio e Navegação 
com os ingleses ocasionou certa inversão de papeis entre a metrópole e a colônia. Além disso, D. João 
havia assinado também a liberação das fábricas no Brasil. Contudo, havia também a percepção em 
diversas regiões da América Portuguesa de que a Corte no Rio de Janeiro era excessivamente custosa 
e que, afinal de contas, os benefícios de sua existência não eram tão significativos assim. Apesar da 
liberalização econômica em alguns setores, noutros as práticas mercantis monopolistas não haviam 
sido modificadas.
Ao mesmo tempo, a arrecadação de impostos instituída pelo Real Erário 
em 1812 recaía, em Pernambuco, não só sobre os gêneros exportáveis, mas 
especialmente sobre aqueles de consumo interno, como alimentos. Some‑se 
a isso a baixa nos preços de seus principais produtos iniciada naquele 
mesmo ano, o resultado é uma insatisfação bastante generalizada com o 
governo do Rio de Janeiro entre setores mercantis e agrários de Pernambuco 
e capitanias adjacentes (SLEMIAN, 2003, p.43).
Tal foi o que ocorreu em Pernambuco em 1817, quando irrompeu uma Revolução Republicana que 
procurou articular as capitanias próximas na fundação de uma República que romperia com o Rio de 
Janeiro, como efetivamente o fez, entre março e maio, tendo inclusive governo e bandeira própria.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
A repressão ao movimento rebelde expõe uma das faces do Antigo Regime que sobrevivia no 
século XIX, a saber, a extrema violência de que lançava mão para conter ameaças de rupturas internas. 
O movimento de 1817 em Pernambuco funciona como uma reação, nas palavras de Slemian (2003), 
como algo que se voltou contra aquilo que era considerado uma excessiva e indevida centralização do 
governo das capitanias do Brasil nas mãos do Rio de Janeiro. O movimento pernambucano reivindicava 
antes autonomia do que soberania. E ainda, nas palavras de D. João, um “horrível atentado contra 
a Minha Real Soberania e Suprema Autoridade, que uns malévolos indignos do nome português [...] 
se atreveram a cometer (SLEMIAN, 2003, p. 43)”. Vale lembrar que ainda estavam num contexto de 
Antigo Regime e, dessa maneira, as punições seriam, como impunha a tradição, severas, cruéis e 
exemplares – inclusive com desmembramentos e cenas espetaculares de sangue e afirmação do poder 
dos monarcas.
Centenas de homens foram presos e condenados. A alguns foi aplicada esta 
sentença: Depois de mortos são cortadas as mãos, e decepadas as cabeças, 
se pregarão em postes a saber: a cabeça do primeiro réu na Soledade e as 
mãos no quartel; a cabeça do segundo em Olinda e as mãos no quartel; 
a cabeça do terceiro em Itamaracá, e as mãos em Goiana; e o resto dos 
seus cadáveres será ligado a caudas de cavalos e arrastado até o cemitério 
(SLEMIAN, 2003, p. 43‑4).
O Império Português sobrevivera a mais essa crise e ao republicanismo que já havia produzido 
significativos movimentos no final do século XVIII, como foram os casos da Inconfidência Mineira 
de 1789 e do Movimento dos Alfaiates, na Bahia, em 1798. No entanto, o caráter emancipacionista 
presente nesses movimentos de contestação demonstra a gravidade da época. Projetos alternativos 
não são apenas pensados e planejados, são também executados e violentamente contidos. Para Slemian 
(2003, p. 47), os projetos, as práticas políticas, os temores e os novos paradigmas de ação advindos da 
revolução de Pernambuco serão responsáveis por uma importante redefinição no jogo de luta política 
em curso no Império Português.
A partir de 1817, as alternativas anteriormente esboçadas em resposta à crise que, cada vez mais, se 
fazia perceptível e angustiosa aos homens da época irão cristalizar‑se em torno de projetos mais definidos 
e, por isso mesmo, mais incompatíveis entre si. A consolidação da ideia de que a heterogeneidade do 
Império carecia, nos novos tempos, de sustentação, chegará com um movimento de reação peninsular, 
de cuja resposta americana surgirão as condições para a concretização de um Brasil politicamente 
autônomo e soberano.
De maneira geral, nos diversos movimentos que tiveram características emancipacionistas, 
de acordo com Oliveira (1995, p. 37), a decisão de romper com a metrópole foi adotada 
porque, na interpretação dos protagonistas, os problemas que os afligiam somente poderiam 
ser solucionados caso conquistassem a liberdade para administrar os negócios públicos. Mas 
a ruptura com a política metropolitana significava também o questionamento das práticas do 
Antigo Regime.
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Unidade I
 Lembrete
Ao falar em emancipacionismo cabe especificar que eram movimentos 
que optaram pela ruptura política com a metrópole, escolhendo como 
alternativa não pertencer mais ao Antigo Regime e ao Sistema Colonial. 
São importantes exemplos nesse sentido a Inconfidência Mineira de 1789, 
a Inconfidência Baiana de 1789, também conhecida como movimento dos 
alfaiates, e ainda a Revolução de 1817 em Pernambuco.
Esses três movimentos são radicalmente diferentes dos movimentos 
nativistas anteriores, como a Guerra dos Emboabas, a Revolta de Nosso Pai, 
a Botada dos Padres para Fora, a Aclamação de Amador Bueno, a Revolta de 
Filipe dos Santos, a Revolta dos Beckman ou o caso da Guerra dos Mascates, 
pois nesses casos não estava na agenda a ruptura e sim o reajuste para 
poder permanecer naquele mundo que era português.
1.2 Revolução Liberal e Constitucional do Porto (1820)
A Europa, no início do século XIX, fora convulsionada pela expansão napoleônica e após sua queda 
e prisão em Santa Helena, em 1815, sentira o peso da reação absolutista deflagrada pelo Congresso 
de Viena e pela Santa Aliança. Uma das expressões políticas desse momento foi o aparecimento de 
reivindicações de natureza constitucionalista seguindo, portanto, moldes liberais revolucionários para 
a época. No entanto, também é muito importante para os atores envolvidos na crise a ideia geral da 
possibilidade de regeneração do quadro que rapidamente se deteriorava.
No caso de Portugal, o Manifesto aos Portugueses, de 24 de agosto de 1820, de Fernandes Tomás, 
trazia escrito:
[...] para cúmulo de desventura deixou de viver entre nós o nosso adorável 
soberano. Portugueses!Desde esse dia fatal contamos nossas desgraças 
pelos momentos que têm durado a nossa orfandade [...] Tenhamos, pois, 
essa constituição e tornaremos a ser venturosos. O senhor D. João VI, nosso 
adorado monarca, tem deixado de a dar porque ignora nossos desejos [...]. 
Não nos intimideis, portanto, porque decerto não atraiçoais os sentimentos 
de vossa natural fidelidade [...]. A mudança que fazemos não ataca as partes 
estáveis da monarquia (SLEMIAN, 2003, p. 51).
Considerando o teor monarquista e também propositivo de uma constituição para o Império 
Português, limites seriam impostos ao rei por meio da criação de uma Monarquia Constitucional. Era 
o início da Revolução Constitucional e Liberal do Porto, que mais tarde seria transferida para Lisboa e 
transformada em um uma espécie de congresso do mundo lusitano. A crise, instaurada há muito no 
Império, ganhava, então, um projeto político como sua expressão.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
A ação dos revolucionários, a partir do Porto, transfere‑se para Lisboa e lá são estabelecidas as Cortes 
(espécie de Assembleia Constituinte) sob a designação de Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes 
da Nação Portuguesa. Cabe, nesse momento, indagar quem fazia parte da Nação Portuguesa. A resposta 
não é tão óbvia quanto pode parecer, pois quem nascia no Brasil também era membro desse grupo 
identitário. Foram eleitos deputados para as Cortes em Portugal e também no Brasil.
O liberalismo se alastrava nesse momento pelo Brasil com o aparecimento de Juntas de governo 
no Pará, na Bahia e que se relacionavam com o poder de Lisboa, afastando‑se do Rio de Janeiro, onde 
estava D. João VI. A tensão, incertezas e ameaças de fragmentação do Império exercem pressão sobre 
o rei, ao mesmo tempo que no Rio de Janeiro se exigia a adesão do monarca ao liberalismo. Pedro, 
filho de D. João VI e herdeiro da Coroa de Portugal, jurou adesão à Constituição que se fazia em Lisboa 
e pouco depois D. João VI parte para Portugal deixando Pedro como regente. O rei D. João, revelando 
posteriormente que jurou as bases da Constituição devido às pressões, teria dito: “algum dia fez‑se 
alguém jurar o que ainda não se conhece e talvez nem exista?” (LUSTOSA, 2006, p. 104).
Note‑se que ele, Pedro, ainda não tinha condições de exercer uma autoridade sobre todo o Brasil, 
uma vez que o Pará e a Bahia se aproximavam do governo de Lisboa, bem como ocorreu em Goiás, no 
Rio Grande do Sul e no, então, Norte do Brasil (atual Nordeste). A tensão do liberalismo das Cortes faz‑se 
presente no Brasil quando serão formadas as Juntas de Governo e assim fica evidente a oposição de 
interesses entre Lisboa e o Rio de Janeiro.
Em 26 de abril de 1821, D. João VI partira para Portugal e Pedro, seu filho mais velho, ficou no 
Brasil como Regente. Pouco antes do embarque D. João teria expressado na última reunião em que 
estivera presente com seu Conselho de Estado no Rio de Janeiro: “Que remédio, Silvestre Pinheiro! 
Fomos vencidos!” (LUSTOSA, 2006, p. 110).
 Observação
As Juntas de Governo também surgiram na América Espanhola, no momento 
da desagregação do Império Colonial Espanhol, quando as elites criollas resolveram 
tomar para si o poder político e assim romperam com a metrópole, deflagrando 
um movimento sangrento, demorado e que provocaria a fragmentação do 
mundo colonial espanhol em diversas novas nações no decorrer do século XIX.
O Congresso de Viena foi uma reunião das potências europeias após a derrota de Napoleão, tendo 
como principais participantes os vendedores de Napoleão e mais a própria França. Foram os debates 
tensionados pelas discussões entre os Princípios da Legitimidade das Dinastias Derrubadas, defendida 
pelo francês Talleyrand, e o Principio do Intervencionismo, do austríaco Metternich. Sua expressão 
armada foi a Santa Aliança (composta por forças da Áustria, Rússia e Prússia), tendo como missão 
combater quaisquer possibilidades de eclosão de movimentos liberais na Europa, e mesmo fora dela. 
Dessa forma, havia pressões para a Europa retornar ao mundo anterior à própria Revolução Francesa, o 
que era profundamente conservador e reacionário, mas também refletia em ameaças às independências 
na América, sempre com receio de um ataque direto das principais potências.
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Unidade I
 Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o caso da América 
Portuguesa, indicamos a leitura:
BERNARDES, D. O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820‑1822. 
São Paulo: Hucitec, 2006.
2 SETE DE SETEMBRO DE 1822: INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
A partida de D. João VI, D. Carlota Joaquina e a corte para a Europa, em função das pressões das Cortes 
de Lisboa, evidenciava o avanço do liberalismo em Portugal e a percepção da gravidade do momento; 
no entanto, Pedro ficou no Brasil, o que demonstrava, também, que não haveria uma subordinação tão 
imediata às ordens chegadas de Portugal.
Figura 5 – D. Pedro, então regente no Rio de Janeiro, 
tornar‑se‑ia Pedro I, Imperador do Brasil
O Rio de Janeiro havia crescido economicamente e politicamente com a corte e a ideia de recondução 
ao status colonial assombrava a elite econômica local – composta por comerciantes portugueses, 
latifundiários da região e das províncias no entorno.
Os principais articuladores políticos buscaram, na figura de Pedro, manter a condição recém alcançada 
no Império Português. O Senado da Câmara do Rio de Janeiro e a imprensa extremamente ativa naquele 
momento são espaços privilegiados da política por volta de 1821‑1822.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Naquele momento, no Rio de Janeiro, apareceram os periódicos: Revérbero Constitucional; O 
Espelho; A Malagueta; O Conciliador do Reino Unido; A Sabatina Familiar; O Regulador Brasílico Luso 
e o Correio do Rio de Janeiro. Assinaram folhetos para marcar sua posição e atuar na esfera da opinião 
pública, que emergia, pela primeira vez, neste início da década de 1820: José Bonifácio, padre Perereca, 
José Clemente Pereira, Martim Francisco de Andrada, Silva Porto, Raimundo José da Cunha Mattos, Luis 
Pereira da Nóbrega Coutinho, todos mobilizados pela ideia de felicidade geral da nação, considerada 
como obra política, conforme indica Souza (1999, p. 121).
O jornalismo, em princípios da década de 1820, ganhava viés político, mas desde 1808 essas tendências 
já se faziam sentir no mundo lusófono. O Correio Braziliense era publicado em Londres por Hipólito José 
da Costa desde 1808, criticando Portugal abertamente e propugnando que D. João ficasse na porção 
americana de seus domínios, chegando mesmo a tratar da Independência do Brasil contra as cortes.
Em 1821, segundo Lustosa (2006, p. 126‑7), três jornais saudavam a união luso‑brasileira: O Amigo 
do Rei e da Nação, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva; O Bem da Ordem, do cônego Francisco Vieira 
Goulart; e O Conciliador do Reino Unido, de José da Silva Lisboa. Ainda em 1821, o Revérbero, do 
maçom Joaquim Gonçalves Ledo, O Espelho, A Malagueta e a Gazeta do Rio de Janeiro, além da revista O 
Patriota, repercutiam os debates políticos. Em termos de valor, já se questionou, inclusive, a possibilidade 
do acesso da população às folhas que circulavam na capital, pois o Diário do Rio de Janeiro custava 20 
réis, o valor equivalente a uma porção de manteiga, enquanto uma empada de recheio de ave custava 
100 réis; um arrátel [equivalente a 459 gramas] de linguiça, 280 réis; e um quartilho [0,6655 litro] de 
tinta para escrever, 320 réis. As tiragens eram pequenas, cerca de 200 a 500 exemplares.Era uma verdadeira guerra de publicações que se desenvolvia, chegando até mesmo aos não letrados, 
pois aqueles que liam contavam, recontavam e popularizavam o debate. A leitura era coletiva em praça 
pública e também nas tavernas. Diversas propostas geravam discussões e polêmicas e as articulações 
transformam‑se em projetos políticos.
As pressões políticas eram sentidas dos dois lados do Atlântico e rapidamente as articulações em 
Portugal ganham características de exigências de que o príncipe Pedro, regente no Rio de Janeiro, 
retorne a Portugal. A notícia foi sentida no Rio de Janeiro como um golpe, pois em Lisboa articulava‑se 
um movimento potencialmente ameaçador. Os grupos políticos do Rio de Janeiro, de São Paulo, de 
Minas Gerais e da Bahia articulavam‑se no sentido de manter um governo na América e isso deveria 
ser equacionado com uma monarquia constitucional. Algumas ações da Revolução de 1820, em certo 
sentido, passam a ser vistas como uma possibilidade de recolonização do Brasil, seja politicamente, seja 
economicamente.
Os projetos políticos articulados no momento da Regência de Pedro no Rio de Janeiro dão a clara 
dimensão de que não havia uma única possibilidade a seguir. O poder de Pedro no Rio de Janeiro não se 
estendia automaticamente às demais províncias e havia quem desconfiasse das vantagens políticas do 
fortalecimento de Pedro e de sua adesão ao constitucionalismo. Mesmo no Rio de Janeiro, importantes 
figuras como Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa e João Soares Lisboa 
articulavam‑se para contrabalançar o poder do regente por meio de um legislativo muito mais forte, 
fruto das discussões liberais da época e do constitucionalismo que ganhava corpo.
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Unidade I
Os decretos das Cortes de Lisboa que começaram a chegar ao Rio de Janeiro tornaram a situação 
ainda mais crítica. Em primeiro lugar, eram assinados antes mesmo de que alguns dos representantes 
eleitos na América Portuguesa tivessem tomado assento na assembleia. As eleições foram realizadas 
entre 15 e 16 de maio de 1821, sendo escolhidos os deputados do Brasil às Cortes de Lisboa. Logo em 
seguida chegava de Portugal a notícia da promulgação das bases da Constituição.
A ausência dos deputados do Brasil fazia com que as medidas tomadas do outro lado do Atlântico 
fossem percebidas como unilaterais, não por todos os envolvidos nos acontecimentos, mas, pelo menos, 
pelo grupo mais próximo de Pedro.
Figura 6 – Províncias rebeldes
A política era feita em Lisboa e no Rio de Janeiro, num tenso e emaranhado jogo de forças, e que 
naquele momento, permanecia em aberto quanto ao seu desfecho. Emissários do Grão‑Pará noticiaram 
em Lisboa sua adesão às Cortes e não sua adesão a Pedro no Rio de Janeiro. Os deputados de Pernambuco 
tomaram assento em 30 de agosto de 1821 e em 30 de setembro o Congresso aprovava a criação das 
Juntas Provisórias nas províncias, sendo constituídas por cinco ou seis membros.
Os boatos na capital não paravam de circular, chegando mesmo a aparecer publicações desde 
setembro de 1821, e já nos primeiros dias de outubro se afirmava que os brasileiros queriam 
declarar o rompimento definitivo para aclamar Pedro como imperador em 12 de outubro, data de 
seu aniversário.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
 Saiba mais
Indicamos, para que se tenha uma visão da construção de figura de 
Pedro I, o filme:
INDEPENDÊNCIA ou Morte. Dir. Carlos Coimbra. Brasil: Cinedistri, 1972, 
108 min.
O longa foi produzido por ocasião dos 150 anos da Independência do 
Brasil, celebrados num contexto de Ditadura Militar.
Ainda nesse formato, em 2002, foi realizada a minissérie O Quinto dos Infernos, 
cobrindo desde a chegada da Família Real até aspectos da vida de Pedro I.
O QUINTO dos Infernos. Dir. Wolf Maya; Alexandre Avancini. Brasil: Rede 
Globo de Televisão, 2002, 50 min. (48 episódios).
As Cortes de Lisboa enviaram um decreto impondo a volta de Pedro a Portugal, ainda em 1821, e tal 
exigência não passou despercebida como manobra portuguesa. Além disso, as Cortes contrabalançavam 
o poder do Rio de Janeiro sobre as demais províncias convocando eleições locais para a formação das 
Juntas de Governo, até mesmo no Rio de Janeiro.
De acordo com o liberalismo vintista, essas juntas desfrutariam maior 
legitimidade, na medida que eram eleitas. Assim, tentava‑se criar e 
sedimentar uma rede de interlocutores, aliados às Cortes. No Brasil, desde 
o começo de 1821, organizavam‑se governos provisórios nas províncias 
sem se articularem ou se submeterem, obrigatoriamente, a um comando 
do Rio de Janeiro, experimentando uma certa autonomia. Roderick Barman 
chamou a isto de governo de pequenas pátrias, que estaria na origem da 
influência local na administração e nos assuntos fiscais das províncias, 
que caracterizaria a estrutura política do Brasil no Império e impediria 
qualquer tentativa de um forte governo centralizado no Rio de Janeiro 
(SOUZA, 1999, p. 116).
Além disso, as Cortes de Lisboa ordenaram também a existência de Governadores de Armas como 
uma forma de garantir, pela violência, se preciso fosse, subordinação às leis que aprovassem.
Nas palavras de Oliveira (1995, p. 88‑9) os decretos contaram com o aval dos deputados brasileiros já 
presentes em Lisboa, dispostos a reajustar os vínculos entre Brasil e Portugal a partir de uma federação 
de províncias autônomas, que manteriam relações comerciais recíprocas e encontrariam nas Cortes da 
nação portuguesa seu fórum legislativo comum.
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Unidade I
Mesmo existindo a preocupação com a fundação de um novo pacto político que pudesse unir o 
império luso‑brasileiro, como bem notou Souza (1999, p. 129), muitas possibilidades confrontavam‑se 
naquele momento.
As constantes pressões pelo retorno do regente a Portugal exigiam o posicionamento das forças 
políticas no Brasil. Pedro, como regente, era uma parte interessada da discussão, mas havia também 
outros atores políticos.
Sentindo‑se diminuído, D. Pedro queixava‑se em carta ao pai: “Vossa honra, senhor, exige que o vosso 
herdeiro presuntivo seja algo mais que um simples governador de província” (LUSTOSA, 2006, p. 117).
A gravidade do momento era tal que mesmo Pedro não havia se decidido por romper com o pai e 
lhe escrevera dizendo:
Queriam e dizem que me querem aclamar imperador. Protesto a Vossa 
Majestade que nunca serei perjuro, que nunca lhe serei falso; e que eles 
farão essa loucura, mas será depois de eu e todos os portugueses estarem 
feitos em postas, o que juro a Vossa Majestade, escrevendo nesta com o meu 
sangue estas palavras: – Juro sempre ser fiel a Vossa Majestade, à nação e à 
Constituição portuguesa (LUSTOSA, 2006, p. 118).
Apesar de tão elevados protestos de fidelidade ao pai e ao constitucionalismo vintista, ocorreu 
a chegada em 9 de dezembro de 1821 dos Decretos das Cortes, que foram publicados no dia 11 do 
mesmo mês na Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro. O Despertador Brasiliense, um panfleto 
de autoria desconhecida, alardeava que os portugueses fomentavam o cisma, pois a resolução 
das Cortes era “ilegal, injuriosa e impolítica” (LUSTOSA, 2006, p. 119). Logo na sequência foi 
apresentada a Pedro, ainda em dezembro, uma solicitação de que ficasse no Brasil. O manifesto 
de 29 de dezembro de 1821 pedia que Pedro ficasse no Brasil, e entre 8 e 9 de janeiro de 1822 
recebeu cerca de 8.000 assinaturas.
Em janeiro de 1822 Pedro anunciava seu posicionamento frente às pressões das Cortes com uma 
importante recusa de subordinação.Após ter considerado partir para Portugal para juntar‑se ao pai, 
decide pela permanência no Rio de Janeiro. Esse momento referenciado na história política do Brasil 
como o Dia do Fico (dia 9 de janeiro de 1822) não deve ser pensado como um impulso nacionalista 
de um príncipe que sonhava com um Brasil independente, mas antes, uma articulação política que 
foi instrumentalizada por José da Silva Lisboa (o Visconde de Cairu) e Nogueira da Gama, em uma 
importante articulação com São Paulo, na figura de José Bonifácio de Andrada e Silva (visto depois 
como o Patriarca da Independência).
Frente às pressões da época, Pedro teria dito que:
Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao bem 
de toda a nação portuguesa e conhecendo que a vontade de algumas 
províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes e meu 
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augusto pai e senhor deliberem a este respeito com o perfeito conhecimento 
das circunstâncias que têm ocorrido. [O Espelho, 11 de janeiro de 1821] 
(LUSTOSA, 2006, p. 124).
 Observação
Foi no Dia do Fico, tradicionalmente considerado como 9 de janeiro de 
1822, que o então Príncipe Regente Pedro teria proferido a célebre frase 
em que afirmou “Como é para o bem de todos, e felicidade geral da nação, 
diga ao povo que fico”.
Essa articulação tinha como objetivo fundamental neutralizar o sucesso do apoio ao 
constitucionalismo das Cortes no Brasil, representado pelo grupo de Gonçalves Ledo e pela formação 
das Juntas de Provinciais de Governo, que reduziam as possibilidades de supremacia do Rio de Janeiro.
A própria esposa de Pedro, D. Leopoldina, em 8 de janeiro de 1822 escrevia em carta:
Receiam‑se aqui muitos distúrbios para o dia de amanhã. Terá v. ouvido 
alguma coisa? O príncipe está decidido, mas não tanto quanto eu desejava. 
Os ministros vão ser substituídos por filhos do país que sejam capazes. O 
governo será administrado de modo análogo aos Estados Unidos da América. 
Muito me tem custado alcançar isto tudo: só desejava insuflar uma decisão 
mais firme (LUSTOSA, 2006, p 123).
A gravidade do momento ficou ainda mais evidente quando as Cortes enviaram ao Brasil uma divisão 
comandada pelo general Avilez, mas Pedro conseguiu que embarcassem para Portugal em fevereiro 
de 1822, livrando‑se de forças portuguesas que poderiam seriamente comprometer seu poder. Sendo 
expulsa a Divisão Auxiliadora Portuguesa, Pedro tratou de proibir quaisquer desembarques de tropas 
mandadas por Portugal, sendo conhecido como batalhão dos Algarves.
Em maio de 1822, o Senado da Câmara do Rio de Janeiro oferecia a Pedro o pomposo título de 
Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil. Souza (1999, p. 136) sinaliza que ao acolher esta honra, de forte 
caráter militar, D. Pedro estreitava seus laços com a causa do Brasil.
A atuação política do governo do regente no Rio de Janeiro ganhava contornos de projeto nacional 
ao buscar cooptar lideranças baianas, pernambucanas, paulistas e mineiras. Pedro foi até Vila Rica 
apresentar‑se como possibilidade política concreta. No Rio de Janeiro, as expectativas em torno das 
eleições de uma Assembleia Geral das Províncias do Brasil era uma clara ameaça ao poder de Pedro. 
As manifestações de rua, do povo e da tropa, em torno da solicitação da convocação da Assembleia 
por meio de eleições, deixavam claro o posicionamento liberal de Gonçalves Ledo e Clemente Pereira, 
favoráveis à supremacia do legislativo. O resultado das pressões foi que em junho de 1822 Pedro teve 
que assinar o decreto de convocação de uma Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro, que ocorreria em 
3 de junho de 1822.
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Havendo‑Me representado os Procuradores Gerais de algumas províncias 
do Brasil já reunidos nesta Corte, e diferentes Câmaras, e Povo de outras, 
o quanto era necessário, e urgente para a mantença da Integridade da 
Monarquia Portuguesa, e justo decoro do Brasil, a Convocação de uma 
Assembleia Luso‑Brasiliense, que investida daquela porção de Soberania, 
que essencialmente reside no Povo deste grande, e riquíssimo Continente. 
Constitua as bases sobre que se devam erigir a sua Independência, que a 
Natureza marcara, e de que já estava de posse, e a sua União com todas as 
outras partes integrantes da Grande Família Portuguesa, que cordialmente 
deseja. Com a rubrica do Príncipe Regente (BONAVIDES, 1991, p. 538).
Contrariamente às instruções portuguesas quando da recomendação de eleições no Brasil, as eleições 
foram definidas como um processo indireto, em duas etapas, sendo a fase inicial realizada nas paróquias, 
para a indicação dos eleitores provinciais. O critério adotado seria a possibilidade de participação de 
homens livres com mais de 20 anos, com ocupação comprovada, mas que não recebessem soldos nem 
salários, além de residência de mais de um ano no distrito de votação. Estrangeiros, religiosos, escravos, 
e comerciários estavam assim excluídos. Para eleitor provincial era preciso ter mais de 25 anos, com 
domicílio por mais de 4 anos e também “sem nenhuma sombra de suspeita e inimizade à causa do 
Brasil”, como aponta Oliveira (1995, p. 96). E ainda, para ser deputado, era preciso saber ler e escrever, 
ter bens e virtudes reconhecidas, “zelar pela causa do Brasil” e, no caso de nascido em Portugal, ter mais 
de doze anos de residência no Brasil.
Na eleição para a Assembleia, que teria poderes legislativos para elaborar uma Constituição 
independente daquela que as Cortes elaboravam, a distribuição ficaria assim:
Província Cisplatina: 2; Rio Grande do Sul: 3; Santa Catarina: 1; São 
Paulo: 9; Mato Grosso: 1; Goiás: 2; Minas Gerais: 20; Rio de Janeiro: 
8; Capitania [Espírito Santo]: 1; Bahia: 13; Alagoas: 5; Pernambuco: 
13; Paraíba: 5; Rio Grande do Norte: 1; Ceará: 8; Piauí: 1; Maranhão: 4 
(BONAVIDES, 1991, p. 545‑6).
Em junho de 1822, antes mesmo da consolidação de uma ruptura política definitiva com Portugal, 
estava posta a questão da participação política em termos de construção de uma determinada 
cidadania. A legitimidade do governo que se buscava consolidar em terras americanas, por oposição 
a Lisboa, não se daria por direitos dinásticos nos moldes do Antigo Regime, pelo contrário, seria 
uma monarquia constitucional que devesse assegurar o direito de representação política e liberdades 
civis contra a ação de setores absolutistas, além da ligação das províncias ao Rio de Janeiro, e não a 
Lisboa, com a representação política de proprietários e grupos escravistas, sendo a base de um Estado 
Nacional moderno.
Em que pese a existência de diversos grupos políticos, faz‑se necessário esclarecer a denominação de 
um grupo, especificamente, os chamados republicanos. Gonçalves Ledo, Clemente Pereira e João Soares 
Lisboa, distanciando‑se do grupo que mais tarde será visto como áulicos e até mesmo absolutistas, em 
razão do fortalecimento de Pedro, aproximavam‑se de ideias republicanas, mas isso no início do século 
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XIX, em meados de 1820, indicava lutar pela participação dos cidadãos nas leis e na administração 
pública. Vale dizer que defendiam uma determinada liberdade política, como muito bem salientou 
Oliveira (1995, p. 100).
Concordando com as observações de Oliveira (1995), impõe‑se questionar a construção em torno de 
Pedro I como príncipe herói e valente, disposto, inclusive, a morrer pelo Brasil. No entanto, a iconografia 
da época pode ser de grande serventia, não como mera ilustração, mas como fonte de conhecimento. 
Sabendo‑seda trajetória do quadro, pode‑se pensar mais sobre o momento e sobre quem e como se 
retratava a cena.
Figura 7 – Proclamação da Independência, por René Moureaux, pintado em 1844
Nas palavras de Oliveira (1995, p. 102), independência e separação de Portugal não eram 
necessariamente sinônimos. O governo da Regência havia assegurado o rompimento com as Cortes de 
Lisboa e, portanto, a cisão dentro da monarquia portuguesa por meio de duas iniciativas: o movimento 
pela permanência do príncipe, em janeiro de 1822, e a lei eleitoral de junho do mesmo ano, que excluiu 
da cidadania os imigrantes portugueses. Lembra, ainda, que em agosto de 1822, José Bonifácio, em dois 
manifestos, anunciava que a Regência do Brasil e as províncias que a apoiavam (São Paulo, Minas Gerais, 
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco e Rio Grande do Sul) estavam dispostas a declarar 
a independência. Os manifestos dirigiam‑se aos povos do Brasil, aos diplomatas presentes no Rio de 
Janeiro e aos governos europeus (OLIVEIRA, 1995, p. 102‑3).
E mais, a historiadora problematiza a construção histórica do 7 de setembro quando afirma:
Ao contrário daquilo que frequentemente se imagina, a proclamação do 
príncipe D. Pedro, na colina do Ipiranga e às margens do riacho do mesmo 
nome, não teve repercussão no momento de sua ocorrência. Além de não 
merecer acolhida especial da parte dos inúmeros e atuantes jornais que 
circulavam na Corte do Rio de Janeiro e em várias outras regiões do Reino do 
Brasil, a ela também não se referiram os membros do governo da Regência 
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e tampouco foi àquela interpretada como baliza definidora do curso da 
história. Nem mesmo D. Pedro na carta dirigida aos paulistas, datada de 
8 de setembro, deixou registros específicos a respeito do episódio do dia 
anterior (OLIVEIRA, 2002).
Ao considerarmos o que foi apresentado, é fundamental ressaltar que a Independência do Brasil 
faz parte de um processo histórico no qual diferentes projetos políticos estavam presentes e que a 
articulação de determinados grupos logrou suplantar outros. Foi um momento tenso não apenas 
pela oposição entre Brasil e Portugal, mas antes, por disputas nas Cortes de Lisboa e também no 
Brasil, entre o Rio de Janeiro e diversos grupos, nas províncias e também na capital. É evidente a 
necessidade de construção de uma ordem política, não apenas uma subordinação nos moldes do 
Antigo Regime, pois o príncipe regente precisou viajar a Minas Gerais e a São Paulo, como uma 
estratégia de forjar alianças.
Assim, o famoso grito “Independência ou Morte”, que deu acabamento a 
decisões anteriormente definidas, aconteceu em São Paulo, à distância da 
agitação que tomava conta da Corte do Rio de Janeiro. Mas realizou‑se 
sob o patrocínio do ministério e contou com o aval de D. Leopoldina, 
que presidiu a Regência durante a viagem de D. Pedro. A declaração foi 
justificada com base nas ameaças dos deputados de Portugal em iniciar uma 
guerra enviando tropas ao Rio de Janeiro, diante do não cumprimento de 
suas deliberações, especialmente a que dizia respeito ao retorno do príncipe 
a Portugal. O curioso é que, no momento de sua ocorrência, o ato do 
príncipe em 7 de setembro não mereceu atenção especial dos protagonistas 
do processo histórico. Foi sobrepujado em importância pelas articulações 
do ministério em torno da aclamação popular de D. Pedro como imperador 
e pelas negociações para que lideranças provinciais de Minas Gerais, São 
Paulo e Pernambuco reconhecessem publicamente não só a autoridade do 
príncipe, mas sua nova condição de dirigente máximo do Império que se 
pretendia criar (OLIVEIRA, 1995, p. 104).
O senso comum, e mesmo certas épocas históricas, escolhe datas e personagens e constrói 
suas imagens que são glorificadas como versões realistas do passado. Lembramos que isso é 
um grande risco, pois deixamos de entender a sociedade que produziu tal ou qual versão. Não 
devemos afirmar que os quadros de Debret são um olhar realista sobre o Rio de Janeiro do século 
XIX, mas sim, nos questionarmos porque Debret pintou daquela maneira e mais, qual discurso 
– visão de mundo – estava presente ali. Isso vale para diversos momentos e os exemplos quase 
inumeráveis.
O quadro consagrado à independência do Brasil, presente no Museu Paulista da Universidade de 
São Paulo no salão principal de um edifício construído justamente para seu abrigo e exposição, talvez 
seja o melhor exemplo disso. O quadro foi produzido muitos anos depois do evento, numa construção 
absolutamente fictícia de imagens e que até a atualidade nos parece tão bem estruturado que é comum 
as pessoas se perguntarem se foi daquela maneira mesmo que ocorreu.
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Figura 8 – Independência ou Morte, de Pedro Américo
Vale aqui ressaltar que o início da construção da nova nação não se dava pela atuação de um 
indivíduo isolado e que, por qualidades pessoais de liderança inequívoca, conseguia a adesão de todos 
ao seu sacrifício pessoal em nome de um novo país que escolhia defender. É preciso lembrar que desde 
1821, ao longo de 1822 e 1823 e chegando até mesmo a 1824, o jogo não estava ganho para os 
partidários mais próximos de Pedro.
Símbolos, festas públicas, jornais, bandeiras e mesmo um hino fizeram parte do arsenal mobilizado 
por Pedro na construção de sua imagem pública, na efetivação de sua persona como representante dos 
interesses do Brasil (SOUZA, 1999, p. 257). É conhecida a divisa Independência ou Morte e no Hino da 
Independência registrou‑se:
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.
Fonte: Veiga (2013).
A construção dessa nova percepção de Brasil necessitava de mudanças muito significativas nos 
vínculos políticos, sendo Pedro aclamado imperador em 12 de outubro e coroado, no mesmo ano de 
1822, em dezembro. Uma vez coroado imperador, as dificuldades não se dissiparam automaticamente e 
seria ainda preciso negociar externamente, por meio de diplomacia, o reconhecimento da independência. 
Além disso, em solo brasileiro ainda se travavam lutas entre os partidários da separação os seus contrários, 
havendo combates nas províncias do Norte do Brasil, sendo os mais célebres no Pará e especialmente 
na Bahia, de onde as tropas portuguesas do general Madeira somente seriam expulsas em 2 de julho 
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de 1823. Politicamente, havia ainda a questão da reunião da Assembleia Constituinte e essa somente 
ocorreria em maio de 1823, quando Pedro já havia sido coroado imperador.
 Lembrete
As províncias tinham a possibilidade em 1822 de não ficarem unidas 
ao Brasil, conforme o mapa dos conflitos pode apontar na figura 6. Vale 
ressaltar que o Brasil na Colônia, apesar de ter uma capital, articulava‑se 
por fora, em Lisboa. Quando da independência, foi preciso romper os 
antigos laços e construir novos elos de uma cadeia forjada, muitas vezes, 
por guerras.
Os confrontos políticos levaram à perseguição dos opositores, prisões e exílios, e mesmo processos 
criminais com perseguição policial contra aqueles acusados de articulações contra Pedro e seus 
partidários. Os opositores a Pedro foram tomados como “inimigos do Brasil”. Uma analise superficial 
poderia concluir que era apenas uma questão de xenofobia, antilusitanismo, pura e simplesmente, mas 
seria uma conclusão equivocada, pois as identidades políticas estavam mudando e esse reordenamento 
provocava choques, rupturas e conflitos.
As articulações em torno de Pedro e de determinadosgrupos do Rio de Janeiro levaram àquilo que foi 
percebido por diversos grupos como um pacto político, um pacto de cidadãos formando uma sociedade 
civil no Brasil, e esta precisava de direitos. Em 1823, o ordenamento legal desse pacto precisava ser 
definido e isso ocorreria por meio de uma Constituição, definida finalmente em 1824.
No decorrer do século XIX, já em 1821, mas principalmente durante o II Reinado (1840‑1889), a 
figura de Pedro I foi construída para parecer a única das possibilidades legítima. Existiam, inclusive, 
idealizações como Pereira da Silva faz na História da Fundação do Império Brasileiro, de 1865, quando 
diz: “Raiava a primeira ocasião em que devia aparecer francamente o príncipe na cena política” (SOUZA, 
1999, p. 97). As poesias que circulavam em 1821 enalteciam‑no como um herói:
Os Heróis sempre marcaram
Um dia com grandes Feitos?
Ou mais troféus, que ganharam,
Outros além levantaram
Padrões de valor inteiro;
Mas o Rio de Janeiro
Um Herói em si achou,
Que de mais glória coroou,
26 de fevereiro (SOUZA, 1999, p. 97).
Ainda nas palavras de Souza (1999, p. 108) é necessário pensar a opção pela monarquia constitucional 
como forma de governo no começo da década de 1820. A questão capital entre 1820 e 1822 residia na 
maneira de celebrar um pacto entre Brasil e Portugal.
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No entanto, ressaltamos aqui que para além de um gesto heroico, havia disseminada na cultura 
política certa noção contratualista, de construção de pactos políticos em torno de noções de cidadania 
política tributária do vintismo, mas que no Brasil ganhava outras cores.
Em 11 de dezembro de 1823 foi publicada oficialmente a Constituição 
Política do Império do Brasil e em 25 de março de 1824 a Carta de Lei 
assinada pelos ministros e pelo imperador foi enviada para todas as 
autoridades, ordenando‑se seu cumprimento. O documento legitimava a 
formação, pela primeira vez no Brasil, do “pacto de cidadãos” e da sociedade 
civil. Estabelecia que o governo da nação brasileira era uma monarquia 
representativa cuja soberania estava concentrada no imperador e na 
Assembleia Geral. Garantia os direitos de liberdade, segurança, propriedade 
e igualdade a todos os homens livres e considerava cidadãos os brasileiros 
e portugueses radicados no território do Império, assegurando o direito de 
participação nas eleições primárias a pequenos proprietários, lavradores, 
caixeiros, empregados públicos e oficiais militares (OLIVEIRA, 1995, p. 110).
Dessa forma, é necessário questionar como foi feita a primeira constituição, para que ela servia 
e a quem servia, pois o mundo que ruía como o fim do Antigo Regime necessitava da formulação de 
normas.
2.1 Assembleia Geral e Constituinte dos Povos do Brasil
Para refletir sobre os interesses que estavam em confronto entre 1820 e 1824 deve‑se escapar da 
ideia construída de que o gesto de Pedro, em 7 de setembro, foi a revelação de um caráter movido para 
o bem público, superior aos enfrentamentos da época, que são, até mesmo, considerados de menor 
importância frente ao glorioso ato.
Pedro I era realmente uma figura privilegiada? Era o único capaz de manter a situação nos rumos 
dos interesses que satisfaziam o bem público? Os choques entre Pedro e a Assembleia Geral sinalizam 
que talvez a figura histórica do primeiro imperador do Brasil seja mais complexa.
Eleitos os representantes da Nação Brasileira, foi convocada a Assembleia que tomaria assento 
no Rio de Janeiro. Vale lembrar que no Império existiam 19 províncias, mas nem todas estavam ali 
representadas no início dos trabalhos, como foi o caso do Maranhão, do Piauí, de Sergipe, do Grão‑Pará 
e no sul, da Cisplatina.
No dia 3 de maio de 1823, após uma série de sessões preparatórias para a abertura dos trabalhos, 
Pedro I entrou no recinto e proferiu seu discurso dizendo:
Dignos representantes na nação brasileira. É hoje o dia maior, que o Brasil 
tem tido, dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao mundo, 
que é império, e império livre. [...] como imperador constitucional, e mui 
principalemente como defensor perpertuo deste império, disse ao povo no 
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dia 1º de Dezembro do anno proximo passado, em que fui coroado, e sagrado, 
que com minha espada defenderia a patria, a nação e a constituição, se 
fosse digna do Brasil e de mim (BRASIL, 1874, p. 13).
Figura 9 – Senado da Câmara do Rio de Janeiro, local de reunião da Assembleia Constituinte do Brasil
Quando da instalação da Assembleia, muitas possibilidades estavam em aberto, e Dom Pedro usou 
uma expressão indicativa do que poderia acontecer. No entanto, a frase não era sua, mas uma cópia da 
existente na carta constitucional da França, de julho de 1814, por meio da qual o Rei Luís XVIII tentou 
retomar a tradição monárquica, após a derrota de Napoleão. O imperador jurava defender a futura 
Constituição “se fosse digna do Brasil e dele próprio”. O condicional deixava em suas mãos a última 
palavra (FAUSTO, 1997. p.148).
As possibilidades de conflitos estavam presentes e logo seriam reveladas. E ainda, de acordo com 
Fausto (1997, p. 148) posicionar‑se assim, logo na primeira Sessão da Assembleia, frente ao Legislativo, 
impondo condições à aceitação da Constituição que seria elaborada, colocava a audiência presente de 
sobreaviso. Nas discussões que se seguiram, começaram a definir quais as atribuições dos diferentes 
poderes; assim, alguns dos mais importantes e ativos membros do poder legislativo tenderiam a impor 
limitações ao imperador, quando buscaram determinar que o orçamento do Império ficaria a cargo dos 
deputados e senadores. Condição inaceitável para um poder executivo que ainda buscava se afirmar.
No decorrer de 1823 os trabalhos legislativos se intensificaram e nenhum grupo em específico 
conseguiu controlar os debates que, afinal de contas, não foram assim tão demorados, uma vez que o 
funcionamento da Assembleia ocorreu, apenas, entre maio e novembro.
Os principais pontos de discussão presentes nos debates eram relativos, principalmente, à educação, 
à criação de cursos de Direito (o que ocorreria ainda no I Reinado em Recife e São Paulo), à educação 
básica, à Justiça Criminal e Civil, à mão de obra escrava e livre e às possibilidades de colonização. Outro 
ponto de grande discussão era relativo ao próprio território – quando surge a discussão sobre a Cisplatina 
e as ameaças no Norte do Império, no Pará e no Maranhão, assim como o gravíssimo problema na Bahia, 
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onde a Guerra de Independência ainda não findara (o que somente aconteceu em 2 de julho de 1823, 
com a expulsão das tropas do general Madeira). Politicamente, estava em aberto a questão da divisão de 
poderes e os embates ganharam expressão no Anteprojeto da Constituição da Mandioca.
Pedro I, ao perceber as articulações como possibilidades concretas de redução de sua soberania 
e poder, mobiliza‑se também. No dia 12 de novembro de 1823 a Assembleia foi dissolvida. Um dos 
momentos importantes da crise que levaria à dissolução foi a apresentação, na sessão de 6 de novembro, 
de um requerimento de David Pamplona Corte Real que alegava ter sido espancado por militares 
portugueses e exigia uma providência. Em 10 de novembro a situação fica mais complicada, pois se 
discute na Assembleia um projeto de lei sobre a liberdade de imprensa, sendo, inclusive, solicitado pelo 
deputado cearense Alencar que o povo adentrasse ao recinto para acompanhar as discussões, e assim a 
sala ficou repleta.

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