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1 Louyse Jerônimo de Morais Depressão Referência: aula do prof. Alfredo Minervino Introdução Existe uma referência muito grande quando se fala em depressão, devido ao uso leigo desse termo. Precisamos começar a entender que é uma doença bem grave. A depressão é uma síndrome com sintomas nas seguintes esferas: cognitivas, controle dos impulsos, comportamental, física [somática]. • Cognição: refere-se à atenção, inteligência, compreensão e tomada de decisões. • Controle dos impulsos: suicídio. • Comportamental: as pessoas sentem dificuldade em se relacionar com outras, sair de casa, trabalhar etc. • Física: dor – é o que mais negligenciamos. Impacto da depressão Usualmente, é uma condição crônica incapacitante, sendo difícil separar causas e consequências. A depressão debilita o indivíduo em diversas esferas, gerando comprometimentos sociais, físicos e psicológicos • Isolamento, solidão, divórcio: de todas as doenças, o que mais gera divórcio é a depressão. • Mortalidade, doenças, aumento do uso de redes de saúde: toda doença piora se tiver um quadro depressivo associado. • Má qualidade de vida, suicídio, declínio cognitivo Histórico • Descrições de quadros clínicos: a depressão é uma doença bastante antiga, sendo descrita já há 2500 anos. • Gregos e romanos: as três máscaras mostram raiva, tristeza e alegria. Na mitologia, Paracelso falava de depressão com espíritos malignos que acompanhavam o indivíduo. Galeno falava da referência de você com o seu meio na depressão. • Avanço das ciências: passou-se a se observar os neurotransmissores, receptores e relações do nosso corpo em relação à doença. • Divulgação na mídia: uma das coisas mais importantes. • Melhor tolerabilidade dos medicamentos: permite que se tenha uma vida normal, mesmo tomando antidepressivos. Fatores de risco • Desestruturação familiar • Doenças psiquiátricas • Doenças clínicas: hipotireoidismo, por exemplo. • Síndrome neurocardiogênica: principalmente do nervo vago. • Estresse pós-traumático • Abuso sexual • Álcool e drogas • Perda de amigo • Violência • Mudanças bruscas no ciclo de vida • Doença mental na família: principalmente se for depressão ou bipolaridade. • Falta de acolhimento em situação de crise • Suicídio: família, amigo próximo. Em média, um suicídio atinge 12 pessoas ao redor dele. Epidemiologia • Sexo feminino: duas vezes mais frequente. • Idade de início: 20 e 40 anos, geralmente. • Situação conjugal o Maior incidência em separados e divorciados o Homens casados: menor incidência do que em solteiros. o Mulheres casadas: maior incidência do que em solteiras. • Risco maior seis meses subsequentes ao parto • Possível associação com eventos vitais negativos e morte precoce dos pais. Fatores protetores • Flexibilidade interpessoal • Bons suportes familiar, social e ambiental • Escola estruturadora e acolhedora das diferenças individuais • Intervenção precoce especializada • Sentimento de esperança e boa autoestima Prevalência • Cerca de 15% da população geral, nas mais diversas culturas. 2 Louyse Jerônimo de Morais o 12% dos homens o 20% das mulheres • Primeira causa de má qualidade de vida • OMS: a depressão será a segunda causa de incapacitação no mundo em 2020, superada apenas pelas doenças cardiovasculares. Talvez tenhamos pacientes deprimidos e/ou ansiosos nessa junta do primeiro lugar – doenças cardiovasculares. Pacientes com depressão e população geral Dos pacientes com depressão, 69% relatam apenas sintomas físicos em atenção primária à saúde. Por exemplo, insônia, hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, alterações do apetite, fadiga. Além disso, esses indivíduos têm um risco quatro vezes maior de apresentar uma condição dolorosa crônica do que a população geral. São, também, mais propensos a apresentar problemas médicos de longa duração do que indivíduos que não têm depressão. Depressão: uma doença sistêmica • Sintomas “emocionais” e cognitivos: humor deprimido, anedonia, desesperança, baixa autoestima, prejuízo da memória, dificuldade de concentração, ansiedade, raiva/irritabilidade. Os dois primeiros têm que ter, dos restantes, é preciso haver pelo menos cinco. • Sintomas físicos: cefaleia, fadiga, cansaço fácil e constante, distúrbio do sono [insônia terminal ou hipersonia], perda ou aumento do apetite/peso, constipação, indigestão, distúrbios sexuais [diminuição da libido, disfunção erétil], palidez, alterações na menstruação. Sintomas físicos e gravidade da depressão • Sintomas físicos predizem gravidade dos sintomas depressivos. • Até 46% dos pacientes deprimidos apresentam apenas resposta parcial ou ausência de resposta ao tratamento. • 95% dos pacientes resistentes apresentavam ao menos um sintoma somático. • Presença de maior número de sintomas somáticos prediz resistência a tratamentos futuros. Sintomas cognitivos da depressão • Anedonia: falta de prazer nas coisas. • Tríade de Beck: visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro. • Desesperança • Culpa • Ideação suicida Tríade de Beck A “máscara” da depressão Muitas vezes, nós entendemos que a depressão tem sentimento de culpa, inutilidade, perda do interesse, baixa energia, dores, alterações do apetite, incapacidade de concentração etc. No entanto, do lado há ansiedade e fobias, irritabilidade, choro fácil, ideação mórbida, ruminação obsessiva, queixa de dores e preocupação excessiva com a saúde física. Para diferenciar de uma doença física, elimina os sintomas clínicos e reavalia. Curso da depressão Mostra como é que se faz para tratar a depressão. Pode ter resposta ou remissão, que são coisas diferentes. 3 Louyse Jerônimo de Morais • Resposta: voltou a fazer algumas coisas que não fazia antes; melhora pelo menos metade dos sintomas. • Remissão: ausência total dos sintomas. Toda vez que se tem um episódio depressivo, perde-se neurônios. Neurobiologia da depressão Todo o cérebro está envolvido na depressão. Não existe nenhuma parte dele que não esteja envolvida. Temos toda uma circuitaria relacionada com a sintomatologia depressiva, desde sono, apetite, fadiga, alterações psicomotoras etc. Neurofisiologia Lembra-se das vias serotonérgicas. Temos a hipótese monoaminérgica, em que se acredita que existe uma alteração em serotonina, dopamina e noradrenalina. Elas podem estar diminuídas, com alteração nos receptores ou na neurotransmissão. No indivíduo normal, existem muitos neurotransmissores, na depressão, as monoaminas reduzem. Sempre pensávamos que era só serotonina, mas são os três. • Primeira coisa: redução de neurotransmissor. Com isso, ocorre uma up regulation, com aumento dos receptores. A expressão clínica do aumento de receptores é a diminuição do humor e aumento da ansiedade. Quando o indivíduo está doente, vamos querer medicar, mas é preciso ter cuidado. Todos esses neurotransmissores estão relacionados a uma alteração do humor de forma muito clara. Todos estão no córtex pré-frontal. • Diminuição da fome: noradrenérgico e dopaminérgico. Córtex pré-frontal. • Sono: os três vão estar junto dentro dessa condição. • Fadiga: dopamina e noradrenalina. Pensar em medicação dual. • Tristeza: córtex pré-frontal dorsolateral, principalmente relacionado com dopamina e noradrenalina. • Agitação: os três juntos. • Peso: sempre relacionado com a serotonina. • Ideação suicida: serotonina. Hipótese monoaminérgica da depressão. A. No cérebro normal, os neurotransmissores monoaminérgicos (em amarelo) são liberados e ativam receptores pós-sinápticos. A neurotransmissão é terminada pela recaptação do neurotransmissor no neurônio pré-sináptico. B. Na depressão, a concentração de monoaminas na fenda sináptica está diminuída, acarretando o transtornode humor. C. O bloqueio dos sítios de recaptação (em vermelho) aumenta a disponibilidade dos neurotransmissores monoaminérgicos para ativarem seus receptores pós-sinápticos, e o humor é reestabelecido. (Adaptado de Castrén, 2005). Sintomas e neurotransmissores Tratamento da depressão • Menos que 5% dos pacientes são tratados adequadamente. • Medicamentos associados a sintomas depressivos: alfametildopa, cinarizina, flunarizina, esteroides, reserpina, interferon, efedrina, pseudoefedreina, propranolol, digoxina, agentes hormonais [anticoncepcional oral], benzodiazepínicos, barbitúricos etc. 4 Louyse Jerônimo de Morais o Mecanismos de medicamentos oncológicos também causam depressão. o Uma medicação que se vê muito é o roacutan. A depressão é subdiagnosticada demais, principalmente no SUS. Na América Latina, o diagnóstico demora 11 meses para ser feito desde os primeiros sintomas. Base terapêutica • Medicamentos antidepressivos • Psicoterapia • ECT Recorrência • Primeiro episódio: 50% • Segundo episódio: 70% • Terceiro episódio: > 90%. Farmacoterapia dos transtornos depressivos. Para depressão resistente, quetamina é uma boa opção, mas é de alto custo. Antidepressivos por grupos 1. Tricíclicos: ação noradrenérgica, dopaminérgica e serotononinérgica. • Imipramina • Amitriptilina • Clomipramina: padrão ouro para TOC • Nortriptilina • Maprotilina. São drogas mais sujas e atingem mais receptores, então apresentam mais efeitos colaterais, especialmente efeitos anticolinérgicos – ganho de peso, tontura, boca seca, anorgasmia. Quase não usa hoje em dia. 2. Inibidor da recaptação da serotonina e noradrenalina [DUAL] • Venlafaxina: acima de 150 mg é dual. • Milnaciprano: não tem no Brasil. • Duloxetina • Desvenlafaxina: metabólito ativo da venlafaxina; tem ação estrogênica muito boa e pode ser usada para transtorno disfórico pré-menstrual e em mulheres menopausadas. 3. IMAOs Na periferia do neurônio, tanto o aferente quanto o eferente, vai ter uma condição de bloqueio de neurotransmissor, que é uma bomba que o reabsorve. Ao joga-lo dentro da célula, vem a MAO, que vai lá e quebra, transformando novamente em neurotransmissor. A partir da cascata da dopa, pode-se obter serotonina, dopamina ou noradrenalina. Dependendo do que se necessita naquele momento, usa-se uma enzima que vai tirar ou mexer com carbono, oxigênio e hidrogênio e gerar ações que transformam essa condição em um neurotransmissor. • Selegilina – única que se tem no Brasil hoje. Não dá certo com absolutamente nada, devendo ser utilizado de forma isolada. Depois que tirar, só pode inserir outro antidepressivo 30 dias depois. Usa quando nada dá certo, em depressões graves. o Cuidado com dieta: existe uma série de alimentos que interage. 4. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina • Citalopram: muito mais serotonérgico. • Escitalopram: talvez o medicamento mais usado, mas em idoso pode dar hiponatremia. • Fluoxetina: serotonérgico; só inibe apetite na primeira semana. Terapêutica com antidepressivo por, pelo menos, 4 semanas Se boa resposta, mantém por 12 meses; depois retira aos poucos. Se sem resposta, faz dose terapêutica de um antidepressivo com outro mecanismo de ação, por pelo menos 4 semanas. Se boa resposta, mantém por 12 meses; depois retira aos poucos. Se ainda sem resposta, faz dose terapêutica de um outro antidepressivo com outro mecanismo de ação, por pelo menos 4 semanas. Se boa resposta, mantém por 12 meses e depois retira aos poucos. Sem resposta = depressão resistente 5 Louyse Jerônimo de Morais • Fluvoxamina: muito boa para TOC; tem um receptor sigma, que é um pró-cognitivo. Então, acredita-se que melhora atenção, memória e concentração. • Paroxetina: gera grande sedação; acima de 30 mg é um dual, por estímulo ao receptor alfa-1 [serotonérgico e noradrenérgico]. Tem interação muito ruim, principalmente em paciente que tem câncer e naqueles que fazem uso de metotrexato. • Sertralina: ótima medicação, bem indicada para idosos. 5. Inibidores de 5-HT2 • Nefazodona: não usa muito hoje em dia, por conta das queixas de tontura. • Trazodona: usa em doses baixas, bom para sono, usa muito em idoso. Acima de 300 mg é um antidepressivo meia boca. 6. Outros • Amineptina • Bupropriona: não é antidepressivo. Foi lançada para cigarro, melhorando ansiedade e depressão em paciente que fumava. O efeito colateral é de inibir o apetite. É dopaminérgica por natureza. • Hypericum • Mianserina: funciona como antidepressivo, mas raramente é usado. Às vezes, pode ser usada como potencializador. • Mirtazapina: inibidor superseletivo de recaptação da serotonina. Quando foi lançada, era tão serotonérgica que só atuava no 5-HT2A. O problema é que engorda muito e dá muita fome. Para idoso e em doses muito baixas para indução de sono em deprimidos é boa. • Reboxetina: não tem mais no Brasil. É tipicamente noradrenérgica. • Tianeptina: muito noradrenérgica e pode levar os pacientes a infarto, porque aumenta muito a pressão arterial. Não tem no Brasil ainda. • Agomelatina: tem ação diferente, porque atua nos receptores M1 e M2 – melatoninérgicos. Então, tem que dar à noite, quando o paciente for dormir, pois a liberação da melatonina só é feita no escuro e no sono. Vai agir no interneurônio que libera dopamina, noradrenalina e serotonina. • Esketamina: droga mais nova de todas; é um spray nasal; pegaram a cetamina, que é um anestésico, mas é bom antidepressivo. Contudo, é uma molécula muito instável. Consequências de não atingir a remissão • Risco de recaída três vezes maior e mais rápida • Depressões prolongadas podem gerar dano cerebral. • Episódios posteriores tendem a ser mais resistentes ao tratamento e mais graves.
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