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DESCRIÇÃO Conceitos e saberes sobre a bioética no uso de animais em ensino e pesquisa, animais de companhia e produção, leis de proteção animal, direitos dos animais no ordenamento jurídico e os órgãos de controle e proteção animal. PROPÓSITO Identificar princípios e práticas bioéticas para o uso de animais em ensino e pesquisa, assim como para animais de companhia e produção, em conformidade com a declaração universal dos direitos dos animais e atualidades jurídicas sobre o tema, e alinhados com o funcionamento dos diferentes órgãos de proteção e bem-estar animal. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os princípios éticos e legais da experimentação animal e aplicados aos animais de companhia e produção MÓDULO 2 Reconhecer o histórico e as atualidades sobre os direitos dos animais MÓDULO 3 Identificar os órgãos de controle e proteção do bem-estar animal INTRODUÇÃO Neste tema, conheceremos os animais utilizados em ensino e pesquisa, como se desenvolvem de forma ética e legal os experimentos com animais e como a bioética é atribuída aos animais de companhia e produção. A seguir, conheceremos a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, o seu histórico e as atualizações jurídicas sobre o tema. Por fim, conheceremos as organizações de controle e proteção do bem-estar animal, como as Comissões de Ética, o CONCEA e a CEUA, as ONGs e os órgãos de proteção animal. MÓDULO 1 Identificar os princípios éticos e legais da experimentação animal e aplicados aos animais de companhia e produção ANIMAIS UTILIZADOS EM ENSINO E PESQUISA Para entendermos o valor atribuído à vida animal no passar dos séculos, veremos a percepção e experiência de grandes nomes da filosofia e ciência acerca do assunto. Fonte: Enciclopédia de pessoas e lugares para jovens, 1881/Wikimedia commons HIPÓCRATES O emprego de animais em experimentação é reportado desde o século V a.C., nos estudos desenvolvidos pelo “pai da Medicina”, Hipócrates, que utilizava órgãos de animais doentes para compará-los aos de humanos, com a finalidade de demonstrar, de forma didática, suas semelhanças. ALCMEON, HEROPHILUS E ERASISTRATUS O filósofo Alcméon (500 a.C.) e os anatomistas Herophilus (330-250 a.C.) e Erasistratus (305-240 a.C.) praticavam a vivissecção para observar estruturas orgânicas e elaborar hipóteses sobre o funcionamento destas estruturas. Fonte: Autor desconhecido / Wikimedia commons Fonte: Busto de Aristóteles, Lysippos, 322 a.C. / Wikimedia commons ARISTÓTELES O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) promovia vivissecções a fim de pesquisar semelhanças e diferenças entre as estruturas animais e humanas, para verificar seu funcionamento. Aristóteles tinha por base o pensamento de que os animais existiam para servir aos humanos, pois, graças à sua irracionalidade, não possuíam direitos. CLAUDIO GALENO O médico e filósofo Claudio Galeno (129-217 a.C.), conhecido como “pai da vivissecção”, utilizou diferentes espécies animais para fins experimentais, com o intuito de compreender não só a anatomia destas, mas também como se dava a fisiologia nas diferentes espécies, além das ocorrências patológicas. Galeno testava variáveis ao provocar alterações nos animais e, por isso, é considerado responsável pelo estabelecimento das ciências médicas experimentais. javascript:void(0) Fonte: Galen of Pergamon, Pierre Roche Vigneron, 1865/Wikimedia commons Fonte: Retrato de René Descartes, Frans Hals, 1649 / Wikimedia commons RENÉ DESCARTES No século XVII, René Descartes defendia que os animais não apresentavam dor, fome ou calor, igualando-os à condição de seres autômatos, onde fenômenos involuntários, como respiração e fluxo sanguíneo, estariam atribuídos ao funcionamento do corpo. Descartes acreditava que, diferente do homem, os animais seriam desprovidos de alma. As pesquisam que utilizam animais passaram de um formato investigativo e descritivo para predominantemente experimental, a partir do século XVI. Nesta época, muitas descobertas científicas promoveram o avanço na atenção à saúde humana e animal. Os experimentos desenvolvidos com animais passaram de um aspecto investigativo para invasivo, sem que a questão moral do uso de animais fosse debatida. VIVISSECÇÃO Utilização de animal vivo com propósito de estudo ou pesquisa. HÁ MUITOS SÉCULOS, ANIMAIS VÊM SENDO UTILIZADOS EM PESQUISAS PARA O CONHECIMENTO DA FISIOLOGIA ANIMAL E HUMANA. Atualmente, de forma rotineira, animais são utilizados para fins educacionais e experimentais. No ensino, a finalidade é ilustrar de forma prática conhecimentos adquiridos nas áreas de fisiologia, anatomia, estudos comportamentais, dentre outros. Na pesquisa, são explorados os mecanismos de doença e cura de diversas enfermidades e a busca por novos medicamentos para tratamento e prevenção de doenças. Fonte: Shutterstock.com Dissecação de rato para estudo de anatomia. Os animais utilizados em ensino e pesquisa são denominados: CONVENCIONAIS As espécies convencionais são aquelas mais comumente utilizadas, pela facilidade de manejo, criação, manutenção e por apresentarem similaridade filogenética com o homem. São elas: Camundongos (Mus musculus domesticus). Ratos (Rattus norvegicus). Cobaias ou porquinhos-da-índia (Cavia porcellus). Coelhos (Oryctolagus cunicullus). Hamsters sírios (Mesocricetus auratus). NÃO CONVENCIONAIS As espécies não convencionais são as menos utilizadas e, normalmente, são usadas somente em pesquisas, por apresentarem um organismo mais complexo. Sua utilização deve ser amplamente justificada e somente é aceita quando não existir, para o estudo proposto, possibilidade de utilização de uma espécie convencional. As mais comuns são: Cão (Canis familiaris). Macaco Rhesus (Macaca mulatta). Macacos são menos utilizados em pesquisas. Geralmente, são usados para estudos específicos de tratamento e imunização contra certas doenças. FILOGENÉTICA Relações entre diferentes grupos de organismos, as quais podem ser determinadas por estudos moleculares, morfológicos e genéticos das espécies envolvidas. VOCÊ SABIA Camundongos são a espécie mais utilizada em pesquisa no mundo, por serem fáceis de criar e manter, além de sua similaridade genética com o homem. No ensino, como a utilização de animais é realizada para demonstração prática de procedimentos já conhecidos, o uso de animais é bem menor do que aquele utilizado em pesquisas, que buscam compreender fenômenos e adquirir novos conhecimentos. Dependendo do propósito do estudo, seleciona-se a espécie mais adequada, ou modelo animal ideal, capaz de fornecer resultados confiáveis e reprodutíveis. As técnicas de engenharia genética permitiram a obtenção de modelos geneticamente modificados para expressarem genes que os tornam propensos a manifestar certas doenças, como a diabetes mellitus e a hipertensão arterial, por exemplo. O QUE É BIOÉTICA? A Bioética é considerada uma ciência recente, do início do século XX, e tem sua origem na Ética. Ela nasceu da necessidade de se discutir sobre a responsabilidade ética do homem para com ele próprio e os seres vivos em geral. A partir dos anos 1970, a Bioética começou a tomar dimensões maiores devido aos avanços tecnológicos na área de saúde. Em 1978, Warren Reich a definiu, em sua “Enciclopédia de Bioética”, como: O ESTUDO SISTEMÁTICO DAS DIMENSÕES MORAIS, INCLUINDO A VISÃO, A DECISÃO, A CONDUTA E AS NORMAS DAS CIÊNCIAS DA VIDA E DA SAÚDE. Ao longo dos anos, tal definição foi se aprimorando devido à necessidade de se ampliar o campo da Bioética, que antes era delineado pelos estudos científicos e filosóficos voltados para a biologia e medicina humanas, para uma visão globalizada e interdisciplinar. Desta forma, a sobrevivência do homem deve levar em conta não somente a preservação de sua saúde, mas suas relações éticas com o ecossistema, a preservação da biodiversidade e a utilização ética das tecnologias biomédicas. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com A Bioética passa, então, de uma visão antropocêntricapara uma visão biocêntrica e plural. Neste contexto, a Bioética busca discutir a solução de conflitos morais, éticos/bioéticos que surgem nas diferentes áreas da Biologia e Medicina, podendo ser delimitada de acordo com seu campo de atuação. Exemplos: Fonte: Shutterstock.com BIOÉTICA MÉDICA Fonte: Shutterstock.com BIOÉTICA ANIMAL Fonte: Shutterstock.com BIOÉTICA AMBIENTAL BIOCÊNTRICA O biocentrismo é uma teoria que propõe a noção de que todas as formas de vida são importantes, diferentemente do antropocentrismo, no qual o homem é considerado o centro do Universo. PRINCÍPIOS ÉTICOS DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL javascript:void(0) O PRINCÍPIO DOS 3 RS NA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL Com a virada do século XX e a ampliação das discussões éticas sobre o uso de animais, os pesquisadores William Russel e Rex Burch publicaram, em 1959, os princípios éticos que deveriam nortear o uso de animais em pesquisas, denominado princípio dos 3 Rs. O nome se deve ao fato de que cada princípio possui em sua grafia a inicial “R”: Fonte: Shutterstock.com REDUCTION (Redução) Fonte: Shutterstock.com REPLACEMENT (Substituição) Fonte: Shutterstock.com REFINEMENT (Refinamento) Tais princípios passaram a ser os precursores no debate sobre o uso ético de animais em pesquisas. Veja mais detalhes a seguir. REDUCTION O primeiro princípio, Reduction ou redução, recomenda a utilização do menor número possível de animais que seja capaz de produzir resultados confiáveis e reprodutíveis. Como exemplos para alcançarmos este propósito, temos os bancos de dados para acesso a resultados, evitando-se estudos duplicados; o compartilhamento de animais em experimentos, com o devido planejamento e avaliação; e a padronização do modelo animal com qualidade sanitária e genética, proporcionando resultados uniformes e não dispersos. REPLACEMENT O segundo princípio, Replacement ou substituição, orienta que, em caso de existência de método alternativo validado, o uso de animais não é justificável. Como métodos alternativos, podemos citar: As técnicas in vitro, com cultivo celular ou tecidual. Os modelos computacionais para processos fisiológicos, com o uso da Bioinformática. Os procedimentos utilizando tecidos ou órgãos de animais já mortos. A utilização de animais invertebrados ou microrganismos. REFINAMENT O terceiro princípio, Refinament ou refinamento, postula a aplicação de procedimentos que minimizem o sofrimento, a dor ou o estresse animal. Tal princípio pode ser praticado de inúmeras formas, tais como: javascript:void(0) javascript:void(0) Utilização de analgesia pré e pós-cirúrgica, bem como estabelecimento de cuidados pós-cirúrgicos. Capacitação técnica da equipe para procedimentos invasivos e críticos. Identificação precoce de sinais de dor, sofrimento e estresse para tomada de decisão premeditada. IN VITRO In vitro significa fora do organismo vivo, ou seja, dentro de um tubo de ensaio, em uma placa de cultivo etc. BIOINFORMÁTICA Área da ciência que usa computadores para construir modelos das moléculas que compõem os seres vivos, como proteínas e DNA. O QUARTO “R”: REABILITAÇÃO Neste vídeo a especialista Patricia Barizon Cepeda fala sobre os princípios adotados na experimentação animal. PRINCÍPIOS LEGAIS DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL No Brasil, as discussões em Bioética Animal tiveram início após a década de 1970. Até aquele momento, somente o bom senso do pesquisador era responsável por delinear sua conduta moral em experimentos com animais e também nas práticas de ensino nas instituições. No aspecto legal, o Decreto-Lei 24.645, de 1934, foi o primeiro a estabelecer as primeiras medidas de proteção aos animais e, em seu artigo 3º, considerava como maus tratos, dentre outros: “I - PRATICAR ATO DE ABUSO OU CRUELDADE EM QUALQUER ANIMAL; IV - GOLPEAR, FERIR OU MUTILAR, VOLUNTARIAMENTE, QUALQUER ÓRGÃO OU TECIDO DE ECONOMIA, EXCETO A CASTRAÇÃO, SÓ PARA ANIMAIS DOMÉSTICOS, OU OPERAÇÕES OUTRAS PRATICADAS EM BENEFÍCIO EXCLUSIVO DO ANIMAL E AS EXIGIDAS PARA DEFESA DO HOMEM, OU NO INTERESSE DA CIÊNCIA; VI - NÃO DAR MORTE RÁPIDA, LIVRE DE SOFRIMENTOS PROLONGADOS, A TODO ANIMAL CUJO EXTERMÍNIO SEJA NECESSÁRIO, PARA CONSUMO OU NÃO.” Em 1979, a Lei 6.638 foi a primeira a estabelecer normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais. A lei estabelecia que os biotérios e centros de experiência tinham permissão para a vivissecção animal, mas deveriam ser registrados em órgão competente. Estabelecia, ainda, que procedimentos em animais não poderiam ser realizados sem anestesia e sem a supervisão de técnico especializado e que os animais deveriam receber cuidados especiais, dentre outros. O ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, QUE TRATA DO MEIO AMBIENTE, VEDA AS PRÁTICAS DE CRUELDADE CONTRA ANIMAIS E PRECONIZA SER DEVER DO ESTADO A PROTEÇÃO DA FAUNA BRASILEIRA. A Lei 9.605/98, também chamada de Lei de Crimes Ambientais, foi a primeira a imputar sanções penais e administrativas a quem cause danos ou prejuízos aos elementos constituidores do meio ambiente, dentre eles sua fauna (art. 29 a 37). Fonte: Shutterstock.com LEI 11.794/2008 – LEI AROUCA O marco da regulação do uso de animais em ensino e experimentação finalmente ocorreu em 2008, após 13 anos de tramitação de seu projeto, com a sanção da Lei 11.794, de autoria do então Deputado Sérgio Arouca. A Lei Arouca estabelece critérios para “a criação e a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica, em todo o território nacional”. Dela, podemos citar as seguintes regras restritivas: ART. 1º § 1º A UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM ATIVIDADES EDUCACIONAIS FICA RESTRITA A: I – ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR. II – ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO DA ÁREA BIOMÉDICA. ART. 2º O DISPOSTO NESTA LEI APLICA-SE AOS ANIMAIS DAS ESPÉCIES CLASSIFICADAS COMO FILO CHORDATA, SUBFILO VERTEBRATA. FILO CHORDATA Indivíduos com tubo nervoso dorsal, fendas faringianas ou branquiais (nos cordados aquáticos) e cauda em algum momento da vida (os humanos a perdem na fase embrionária). SUBFILO VERTEBRATA Refere-se aos animais com vértebras e caixa craniana com encéfalo. Exemplos: anfíbios, répteis, peixes, aves e mamíferos. A lei se refere aos animais vertebrados por considerar que estes possuem capacidade de sentir e sofrer e, portanto, estão predispostos a uma análise bioética que fundamente sua utilização. A Lei Arouca foi responsável pela criação do CONCEA (Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal) , com competência, dentre outras, para: Fonte: Shutterstock.com Credenciamento de instituições de ensino e pesquisa com animais. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com Avaliação de métodos alternativos ao uso de animais. Fonte: Shutterstock.com Estabelecimento de normas para a criação e funcionamento de biotérios. Fonte: Shutterstock.com Manutenção de cadastro de procedimentos de ensino e pesquisa no país, através de informações repassadas pela CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais). A criação do CONCEA prevê a existência de Comissões (CEUA) institucionais para avaliação de procedimentos de ensino e pesquisa conduzidos com animais, os quais somente são aprovados se desenvolvidos dentro de princípios éticos, baseados no princípio dos 3 Rs de Russel & Burch. Na área de experimentação animal, a Lei Arouca prevê que: Animais devem receber cuidados especiais e somente podem ser submetidos às intervenções aprovadas nos protocolos experimentais. A eutanásia deve ser realizada ao final do experimento ou a qualquer momento, caso seja detectado sofrimento animal. Animais utilizados em experiências ou demonstrações que não forem submetidos a eutanásia podem, em caráter excepcional, sair do biotério, ouvida a respectiva CEUA, desde que destinados a pessoas idôneas ou entidades protetoras de animais devidamente legalizadas. O número de animais e o tempo de duração do projeto devem ser o mínimo necessários para a obtençãode resultados conclusivos. Experimentos que causem dor devem apresentar em seus protocolos técnicas para sedação, analgesia ou anestesia, com proibição do uso de bloqueadores neuromusculares ou bloqueadores musculares. Para as atividades de ensino, preconiza-se, dentre outros, que: As práticas de ensino devem ser fotografadas, filmadas ou gravadas, para reprodução e ilustração de práticas futuras, evitando-se repetição desnecessária de procedimentos. Em caso de emprego de métodos traumáticos, vários procedimentos podem ser realizados num mesmo animal, desde que todos sejam executados durante a vigência de um único anestésico. Nesse caso, o animal deve ser eutanasiado antes de recobrar a consciência. EUTANASIADO Procedimento realizado para causar a morte de um animal, sem dor ou sofrimento. A lei preconiza ainda que, independentemente do procedimento a ser realizado, seja na área de ensino, seja na área de pesquisa, o mesmo deve ser supervisionado por profissional de nível superior, graduado ou pós-graduado na área biomédica. Este deve estar vinculado à entidade de ensino ou à pesquisa credenciada pelo CONCEA. A Lei Arouca prevê ainda penalidades para as instituições que transgredirem regras e disposições estabelecidas pela norma, bem como para as pessoas que executem procedimentos de forma indevida, ou que não sejam autorizados pelo CONCEA. As penalidades variam de multa a interdição definitiva do estabelecimento de ensino/pesquisa. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com BIOÉTICA APLICADA AOS ANIMAIS DE COMPANHIA E PRODUÇÃO CONCEITO DE BEM-ESTAR ANIMAL (BEA) O conceito de bem-estar animal está relacionado ao equilíbrio entre os meios interno (Temperatura, conteúdo hídrico etc.) e externo (Temperatura, ruídos, convívio social etc.) capazes de gerar homeostase e inclui três elementos básicos: FUNCIONAMENTO BIOLÓGICO NORMAL DO ANIMAL Aspectos relacionados à saúde física e nutrição ESTADO EMOCIONAL DO ANIMAL Como a ausência de dor e medo CAPACIDADE DE EXPRESSAR COMPORTAMENTOS NORMAIS A Lei 11.974/08, que regulamenta a utilização de animais em ensino e pesquisa, legalizou a discussão do bem-estar animal, obrigando as instituições que utilizam animais a promover o equilíbrio físico e mental do animal com o seu ambiente. QUANTO AOS ANIMAIS DE COMPANHIA E PRODUÇÃO, COMO A QUESTÃO É ABORDADA? VEREMOS A SEGUIR. Fonte: Shutterstock.com AS CINCO LIBERDADES Em 1964, no Reino Unido, a publicação do livro Animal Machines (Máquinas animais) , de Ruth Harrison, discutiu sobre a cadeia produtiva de animais, a qual desconsiderava o sofrimento deles. O livro abordava o tratamento imposto aos animais de produção e teve como resultado a abertura, no ano seguinte, de um estudo investigativo sobre as condições de criação destes animais. Esta investigação foi responsável pela elaboração do Relatório Brambell, publicado em 1965, o qual recomendava as condições mínimas capazes de promover bem-estar e gerar o menor sofrimento possível aos animais em sistemas de produção. Fonte: Shutterstock.com Estas recomendações são conhecidas como as Cinco Liberdades, consideradas norteadoras para a prática de exploração animal. São elas: javascript:void(0) ANIMAIS DE PRODUÇÃO Animais criados em fazendas (sistema de produção pecuária), geralmente para consumo humano. Exemplos: suínos, bovinos, caprinos, aves etc. 1. LIBERDADE DE FOME E SEDE 2. LIBERDADE DE DESCONFORTO 3. LIBERDADE DE DOR, LESÃO E DOENÇA 4. LIBERDADE PARA EXPRESSAR SEU COMPORTAMENTO NATURAL 5. LIBERDADE DE MEDO E DISTRESSE 1. LIBERDADE DE FOME E SEDE Acesso irrestrito à água e a alimento adequado às suas necessidades, a fim de que se mantenham saudáveis. 2. LIBERDADE DE DESCONFORTO Permanência em ambiente adequado, provido de abrigo e área para descanso. 3. LIBERDADE DE DOR, LESÃO E DOENÇA Programas preventivos contra doenças, ferimentos ou sofrimento, com pronta assistência médico-veterinária caso algum problema seja detectado. 4. LIBERDADE PARA EXPRESSAR SEU COMPORTAMENTO NATURAL Espaço adequado que favoreça a expressão de suas necessidades naturais e companhia de outros animais da mesma espécie, de acordo com seus hábitos e suas necessidades sociais. 5. LIBERDADE DE MEDO E DISTRESSE Condições de manutenção e tratamento que evite sofrimento psicológico e emocional. Como resultado deste relatório e da publicação das Cinco Liberdades, foi criado, em 1979, o Farm Animal Welfare Council (Conselho de Bem-estar de Animais de Produção) , órgão do governo britânico responsável pela elaboração da regulamentação sobre o sistema agropecuário na União Europeia, o qual influencia a discussão da bioética animal no Brasil. As Cinco Liberdades constituem indicadores de avaliação do bem-estar animal, a partir do comprometimento de organizações e profissionais envolvidos na produção animal (aplicável também aos animais utilizados em ensino e pesquisa) e serve de alerta à população em geral sobre como tratamos os animais e de que forma podemos modificar nossas atitudes. Fonte: Shutterstock.com ASSEGURAR TAIS LIBERDADES SIGNIFICA AGIR DE FORMA ÉTICA COM OS ANIMAIS. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE BEM-ESTAR DE ANIMAIS DE PRODUÇÃO No Brasil, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) , publicado através do Decreto 9.013/2017, prevê, dentre outras normas, que: Fonte: Shutterstock.com ART. 12 A INSPEÇÃO E A FISCALIZAÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL ABRANGEM, ENTRE OUTROS, OS SEGUINTES PROCEDIMENTOS: VIII - avaliação do bem-estar dos animais destinados ao abate. Fonte: Shutterstock.com ART. 43 OS ESTABELECIMENTOS DE CARNES E DERIVADOS, RESPEITADAS AS PARTICULARIDADES TECNOLÓGICAS CABÍVEIS, TAMBÉM DEVEM DISPOR DE: I - Instalações e equipamentos para recepção e acomodação dos animais, com vistas ao atendimento dos preceitos de bem-estar animal, localizados a uma distância que não comprometa a inocuidade dos produtos. Fonte: Shutterstock.com ART. 88 O ESTABELECIMENTO É OBRIGADO A ADOTAR MEDIDAS PARA EVITAR MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS E APLICAR AÇÕES QUE VISEM À PROTEÇÃO E AO BEM-ESTAR ANIMAL, DESDE O EMBARQUE NA ORIGEM ATÉ O MOMENTO DO ABATE. Fonte: Shutterstock.com ART. 103 É PROIBIDO O ABATE DE ANIMAIS QUE NÃO TENHAM PERMANECIDO EM DESCANSO, JEJUM E DIETA HÍDRICA, RESPEITADAS AS PARTICULARIDADES DE CADA ESPÉCIE E AS SITUAÇÕES EMERGENCIAIS QUE COMPROMETEM O BEM-ESTAR ANIMAL. Fonte: Shutterstock.com ART. 496 CONSTITUEM INFRAÇÕES AO DISPOSTO NESTE DECRETO, ALÉM DE OUTRAS PREVISTAS: VIII - Desobedecer ou inobservar os preceitos de bem-estar animal dispostos neste Decreto e em normas complementares referentes aos produtos de origem animal. Vale lembrar que o novo RIISPOA substituiu o regulamento anterior, publicado em 1952 e vigente até então. O antigo regulamento não mencionava sequer a questão do bem-estar animal. Isso demonstra por quanto tempo permanecemos excludentes quanto à discussão bioética sobre o sistema produtivo animal. Outra norma que regulamenta o uso de animais de produção é a Lei 10.519/02, que dispõe sobre a promoção e a fiscalização da defesa sanitária animal a respeito da realização de rodeios. De acordo com a norma: “Art. 3º Caberá à entidade promotora do rodeio, a suas expensas, prover: II – Médico veterinário habilitado, responsável pela garantia da boa condição física e sanitária dos animais e pelo cumprimento das normas disciplinadoras, impedindo maus tratos e injúrias de qualquer ordem.” “Art. 4º Os apetrechos técnicos utilizados nas montarias, bem como as características do arreamento, não poderão causar injúrias ou ferimentos aos animais...” 1º As cintas, cilhas e as barrigueiras deverão ser confeccionadas em lã natural com dimensões adequadas para garantir o conforto dos animais. 2º Fica expressamente proibido o uso de esporas com rosetas pontiagudas ou qualquer outro instrumento que cause ferimentos nos animais, incluindo aparelhos que provoquem choques elétricos. 3º As cordas utilizadasnas provas de laço deverão dispor de redutor de impacto para o animal.” PARA REFLETIR... APESAR DA EXISTÊNCIA DE LEIS QUE REGULAMENTAM A FORMA COMO OS ANIMAIS DEVEM SER TRATADOS COM VISTAS À PROMOÇÃO DE SEU BEM-ESTAR, É POSSÍVEL GARANTIR QUE ISSO OCORRA? PODEMOS DE FATO ASSEGURAR QUE OS ANIMAIS PERTENCENTES A SISTEMAS PRODUTIVOS ESTÃO LIVRES DE ESTRESSE, DOR OU SOFRIMENTO PELO SIMPLES CUMPRIMENTO DA LEI? SOLUÇÃO SOLUÇÃO Nenhum animal nasce consciente de que está sendo criado para morrer. Ainda que técnicas voltadas para a promoção do bem-estar animal sejam implementadas e, frequentemente, monitoradas, o ponto de vista analisado será sempre o do homem, nunca do animal. A BIOÉTICA E OS ANIMAIS DE COMPANHIA Desde longa data, animais de companhia são considerados elementos importantes dentro do contexto familiar, principalmente nos momentos atuais, com dados apontando para a queda do número de casais com filhos e o aumento do número das atualmente denominadas famílias multiespécie, ou seja, aquelas formadas por animais humanos e não humanos. Os laços entre o homem e os animais foram se estreitando na história da humanidade, pela necessidade humana de socialização e afeto. A relação de afeto e companheirismo do homem com seu animal de estimação e a percepção, por parte do homem, de que o animal consegue “compreendê-lo”, faz da humanização animal uma realidade. O ser humano passa a infantilizar o animal, adotando práticas comprometedoras de seu bem-estar. Algumas dessas práticas, como, por exemplo, dar banho no animal de forma muito frequente, para que ele fique sempre cheiroso, ou utilizar perfumes fortes após procedimento de tosa e banho, prejudicando o faro dos animais, ferem diretamente as Cinco Liberdades já citadas, por causarem estresse, desconforto e serem contrárias à natureza animal. Fonte: Shutterstock.com javascript:void(0) AO RETIRAR O ANIMAL DE SEU AMBIENTE NATURAL PARA DOMESTICAÇÃO, O HOMEM, AGORA NA POSIÇÃO DE GUARDIÃO, PASSA A SER RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA, SAÚDE E PELO BEM-ESTAR DAQUELE. POR VEZES, ALGUNS DESSES SÃO UTILIZADOS EM ZOOTERAPIA, TAMBÉM CONHECIDA COMO TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS, OU TAA. TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA) A TAA é conduzida por profissionais da área da saúde, e caracteriza-se pela interação de pacientes que apresentem problemas cognitivos, emocionais ou sociais com animais (geralmente cães e equinos) considerados saudáveis e sociáveis. Geralmente, a TAA é conduzida com: Fonte: Shutterstock.com CÃES A melhoria no quadro de pacientes em coterapia com cães é notória, com diminuição do tempo de internação e redução na percepção de dor, além da melhora do humor e da sociabilidade de pacientes. Fonte: Shutterstock.com CAVALOS A equoterapia, ou terapia com cavalos, é também reconhecida pela Medicina e utiliza cavalos de competição já aposentados, com a justificativa de mantê-los ativos. É um processo adotado no mundo todo, porém somente padronizado nos Estados Unidos da América. No Brasil, é realizada em centro de reabilitação e hospitais, por meio do credenciamento de animais e tutores, e envolve diferentes profissionais, como fisioterapeutas, psiquiatras, assistentes sociais, dentre outros. Apesar do ganho para estes pacientes, cabe a discussão sobre a utilização destes animais do ponto de vista ético. Ainda que o animal seja considerado o protagonista do processo, este não pode ser questionado quanto à sua vontade ou escolha em participar do programa, bem como não é possível mensurar se há algum benefício direto para o animal nem como avaliar em tempo real seu bem-estar. A prática necessita de regulamentação e de profissionalização de todos os serviços envolvidos, tais como adestramento, certificação de animais, transporte e monitoramento da saúde destes, evitando sua mercantilização. O animal deve ser assistido constantemente por um profissional, a fim de serem avaliados sinais de estresse ou sobrecarga em virtude da função, com dosagem frequente dos níveis de catecolaminas. Fonte: Shutterstock.com Com exceção da proibição de abuso e maus-tratos aos animais, conforme art. 32 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), e previsão de pena de detenção, o Brasil não possui regulamentação específica para promoção do bem-estar de animais de companhia. É necessário considerar que a utilização de animais para companhia ou TAA demanda a elaboração de diretrizes éticas e prescritivas, visando a tutela responsável e permitindo ao poder público mediar a decisão sobre a tutela do animal, combatendo sua exploração. CATECOLAMINAS javascript:void(0) Hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais em situações de estresse e liberados na corrente sanguínea. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS PRINCÍPIOS DOS 3 RS SÃO RECONHECIDAMENTE OS BALIZADORES PARA A DISCUSSÃO E REGULAMENTAÇÃO DE LEIS PARA O USO DE ANIMAIS EM ENSINO E PESQUISA CIENTÍFICA. SOBRE ESTES PRINCÍPIOS, É CORRETO AFIRMAR: A) A substituição (replacement) é recomendada para a utilização de um menor número de animais em ensino/pesquisa. B) O refinamento (refinement) diz respeito à adoção de métodos alternativos ao uso de animais. C) O princípio da redução (reduction) defende, dentre outros, a capacitação técnica para o uso de animais. D) O refinamento (refinement) está relacionado à adoção de medidas que diminuam dor e sofrimento dos animais, como uso de analgésicos. E) Modelos computacionais, com auxílio de ferramentas da Bioinformática, são exemplos de aplicação do princípio de redução (reduction). 2. A LEI 11.794/08, CONHECIDA COMO LEI AROUCA, DEFINIU REGRAS PARA O USO DE ANIMAIS EM ENSINO E PESQUISA, BASEANDO-SE NOS PRINCÍPIOS DOS 3 RS E VISANDO O BEM-ESTAR ANIMAL. DE ACORDO COM O QUE VERSA ESTA LEI, PODEMOS AFIRMAR: A) A eutanásia em animais utilizados em experimentação é recomendada ao final do experimento, de acordo com o protocolo de pesquisa. B) Procedimentos traumáticos podem ser realizados em um único animal, porém em diferentes experimentos, sob diferentes protocolos anestésicos, para que se utilize ao máximo o mesmo animal. C) Procedimentos de ensino devem ser fotografados e filmados, a fim de se reduzir o número de animais utilizados. D) Projetos de pesquisa ainda não aprovados podem ser iniciados, desde que sejam comunicados ao CONCEA. E) É permitido o uso de bloqueadores neuromusculares ou bloqueadores musculares quando houver sinais de dor e sofrimento animal perceptíveis. GABARITO 1. Os princípios dos 3 Rs são reconhecidamente os balizadores para a discussão e regulamentação de leis para o uso de animais em ensino e pesquisa científica. Sobre estes princípios, é correto afirmar: A alternativa "D " está correta. O refinamento busca reduzir ao máximo situações indesejáveis de dor, sofrimento e estresse animal, com uso de analgésicos, anestésicos, além de cuidados pré e pós-operatórios. 2. A Lei 11.794/08, conhecida como Lei Arouca, definiu regras para o uso de animais em ensino e pesquisa, baseando-se nos princípios dos 3 Rs e visando o bem-estar animal. De acordo com o que versa esta lei, podemos afirmar: A alternativa "C " está correta. Como procedimentos de ensino são realizados com o intuito de repasse de conhecimento, devem, sempre que possível, ser fotografados, filmados ou gravados para evitar repetições desnecessárias. MÓDULO 2 Reconhecer o histórico e as atualidades sobre os direitos dos animais Os princípios éticos, apesar de não mandatórios, passaram a nortear as regulamentações de uso de animais em ensino e pesquisa, assim como para os animais de produção. Entretanto, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais chancelou a responsabilidade do homem em tratar animais de forma digna, responsabilizando-se por eles, como seres pertencentes ao mesmo ecossistema. BREVE HISTÓRICO Ao longo dos tempos, a visão do homem sobre a utilização de animais em experimentos vem sendo modificada, conforme veremos no breve histórico a seguir. SÉCULO XVII René Descartes, na França do século XVII, comparava animais a máquinasdesprovidas de sentimentos, que teriam sido criados por Deus apenas para usufruto do homem, porém seriam privados de alma. Nessa época, a maioria dos estudos em animais seguia um modelo especulativo e descritivo. SÉCULO XVIII O filósofo alemão Immanuel Kant, no século XVIII, admitia que os animais sentiam dor e prazer e que, portanto, o ser humano teria obrigações para com eles. Apesar disso, Kant concluía que a utilização dos animais pelo homem era justificável, já que os primeiros não possuíam consciência, atribuição unicamente humana. Nesta época, os estudos em animais já incluíam procedimentos invasivos e predominantemente experimentais. O pensamento de Jeremy Bentham, filósofo inglês do século XVIII, foi precursor nas discussões acerca do uso de animais e serviu de base para o que hoje entendemos como proteção dos animais. Bentham defendia que todos os seres possuíam direitos iguais, pelo fato de sentirem e sofrerem, introduzindo a questão da senciência animal. Para o filósofo, “o problema não consiste em saber se os animais podem raciocinar; tampouco interessa se falam ou não; o verdadeiro problema é este: podem eles sofrer?“. À época, permanecia ainda a ideia de que o homem poderia usufruir dos animais, contanto que não os fizesse sofrer. Predominava, portanto, a visão antropocêntrica de instrumentalização do animal. SÉCULO XIX Na França do século XIX, Claude Bernard defendia as pesquisas desenvolvidas com animais caso ocorressem de acordo com um método científico, o que garantiria a fidedignidade e reprodutibilidade dos resultados, justificando o uso dos animais. Certa vez, para demonstração em uma de suas aulas, Bernard utilizou o cachorro de sua própria filha, o que levou a esposa a fundar a primeira associação para defesa dos direitos dos animais de laboratório. O século XIX foi marcado pelo início do crescimento do interesse no debate sobre proteção dos animais, especialmente na Inglaterra. Apesar de as primeiras leis de proteção animal terem surgido ainda no século XVII com o intuito de proteger o homem e sua moralidade, mas não a saúde ou integridade física dos animais, avanços foram obtidos desde então, com a criação das primeiras associações de proteção animal. A primeira entidade criada para promover o bem-estar animal foi a SPCA, ou Sociedade para a Prevenção de Crueldades contra Animais, na Inglaterra. Esta passou, em 1840, a contar com a associação de membros da nobreza e da própria rainha Victoria, obtendo status de Sociedade Real, com sua sigla alterada para RSCPA. javascript:void(0) SENCIÊNCIA Capacidade de os seres terem sensações e sentimentos, como medo, dor e alegria de forma consciente. PUBLICAÇÃO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS Alguns outros atos e declarações publicados na Europa levantaram o debate sobre os direitos dos animais ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, mas somente em 1978 a Organização das Nações Unidas (ONU) , baseando-se na Declaração Universal dos Direitos dos Homens (1948), promulgou, em Bruxelas, a primeira norma sobre proibição de maus-tratos a animais, da qual vários países são signatários, incluindo o Brasil. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais reconhece o valor da vida de todos os seres vivos e a obrigação do homem em respeitar e tratar os animais de forma digna. A Declaração não possui força jurídica, mas serve até hoje de base para a regulamentação de leis de proteção animal. A Declaração proclama que: Fonte: Shutterstock.com ART. 1º Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência. Fonte: Shutterstock.com ART. 2º Todo animal tem direito a ser respeitado. O homem, enquanto espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito, e tem o dever de colocar os seus conhecimentos a serviço dos animais. Todo animal tem direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. Fonte: Shutterstock.com ART. 3º Nenhum animal será submetido a maus-tratos ou a atos cruéis. Se a morte de um animal for necessária, esta deve ser instantânea, sem dor ou angústia. Fonte: Shutterstock.com ART. 4º Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu ambiente natural, seja terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir. A privação de liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito. Fonte: Shutterstock.com ART. 5º Todo animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer no ritmo e nas condições de vida e de liberdade próprias da sua espécie. Toda modificação deste ritmo ou destas condições impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito. Fonte: Shutterstock.com ART. 6º Todo animal que o homem escolheu como seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Fonte: Shutterstock.com ART. 7º Todo animal que trabalha tem direito a limitação razoável de duração e intensidade de trabalho, a alimentação reparadora e ao repouso. Fonte: Shutterstock.com ART. 8º Experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação. Técnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas. Fonte: Shutterstock.com ART. 9º Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele ansiedade nem dor. Fonte: Shutterstock.com ART. 10º Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. Fonte: Shutterstock.com ART. 11º Todo ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é, um crime contra a vida. Fonte: Shutterstock.com ART. 12º Todo ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio. Fonte: Shutterstock.com ART. 13º O animal morto deve de ser tratado com respeito. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser proibidas no cinema e na televisão, com exceção das que tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos dos animais. Fonte: Shutterstock.com ART. 14º Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representados a nível governamental. Os direitos dos animais devem ser defendidos por lei, assim como os direitos do homem. ANÁLISE DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS Embora a declaração tenha como objetivo influenciar novas discussões legais sobre proteção dos animais e não possua força de lei, é notório que novos valores passam a ser reconhecidos, o que acaba estimulando uma nova tomada de consciência pela sociedade e, subsequentemente, induzindo a elaboração de normas regulamentares. A declaração defende o abolicionismo animal quando revela, no art. 1°, que: ABOLICIONISMO ANIMAL javascript:void(0) Abordagem de direito dos animais que defende a abolição total da exploração animal, mesmo que regulamentada, embasada na senciência animal. OS ANIMAIS NASCEM IGUAIS PERANTE A VIDA E TÊM OS MESMOS DIREITOS À EXISTÊNCIA. De forma contraditória, reconhece que animais podem ser explorados pelo homem, desde que sejam tratados com respeito e dignidade, como demonstram os artigos 7° e 9°. Ou seja, a exploração animal para interesse do homem é possível, desde que sejam empregados padrões de tratamento considerados éticos, premissas essas relacionadas pelos que defendem o bem-estar animal, de cunho utilitarista. UTILITARISTA O utilitarismo foi criado por Jeremy Bentham e John Stuart Mill no século XVIII, e consiste em uma teoria filosófica que considera um ato como moral e ético seseus efeitos promoverem o bem-estar geral (ou da maioria das pessoas). DE ACORDO COM A DECLARAÇÃO, ANIMAIS NÃO DEVEM SOFRER, A NÃO SER QUE SEJA NECESSÁRIO PARA ATENDER OS INTERESSES HUMANOS. NESSE CASO, A ADOÇÃO DE MEDIDAS QUE PROMOVAM O BEM-ESTAR ANIMAL E O SOFRIMENTO DESNECESSÁRIO SERIAM SUFICIENTES. Para a corrente abolicionista, diferentemente da bem-estarista (Defende o bem-estar animal.) , o sofrimento e a morte de animais não são moralmente justificáveis, pois animais possuem valor inerente, interesse em se manterem vivos (conferido pela senciência) e não devem ser tratados como objetos de posse. Cabe, então, refletir se, de fato, a declaração defende o direito à vida dos animais, o que nos leva a outro conceito importante, o de especismo. O termo, criado em 1970 pelo psicólogo britânico Richard Ryder, diz respeito à discriminação do homem por espécies que ele considera inferiores a ele. O especismo conduz à exploração animal, por entender que animais não fazem parte da esfera de consideração moral do homem. Fonte: Shutterstock.com OS DIREITOS DOS ANIMAIS NA EUROPA Neste vídeo, a especialista Patrícia Barizon Cepeda explica como funcionam as leis de proteção animal em países da Europa, como a Inglaterra. ATUALIDADES JURÍDICAS SOBRE PROTEÇÃO DOS ANIMAIS Em alguns países, como a Inglaterra ou os Estados Unidos, o Direito Animal é uma área específica dentro do Direito, o que não ocorre no Brasil. Nestes países, o sistema jurídico é o da commom law, isto é, formado pelo conjunto de costumes e decisões de tribunais. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 225, o direito comum ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e proíbe práticas que extingam espécies ou submetam os animais a crueldade. Entretanto, o Código Civil de 2002, no artigo 82, indica: javascript:void(0) SÃO MÓVEIS OS BENS SUSCETÍVEIS DE MOVIMENTO PRÓPRIO, OU DE REMOÇÃO POR FORÇA ALHEIA, SEM ALTERAÇÃO DA SUBSTÂNCIA OU DA DESTINAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL. O Código Civil Brasileiro considera animais com capacidade de movimento próprio bens ou coisas, o que não ocorre há algumas décadas em países como Áustria, Suíça e Holanda, os quais adotam, assim como no Brasil, a civil law, isto é, o sistema jurídico baseado no conjunto de leis positivadas (escritas) nos códigos. Tentativas de modificar o Código Civil sobre essa questão vêm sendo defendidas, como o Projeto de Lei do Senado n° 351, de 2015 (PLS 351/15), que acrescenta um parágrafo único ao art. 82, determinando que animais não serão considerados coisas. O pedido se justifica pelo avanço de países europeus em suas legislações, que consideram expressamente que animais não são objetos nem coisas. O projeto destaca ainda a necessidade de se regular os direitos dos animais, a exemplo de outros países europeus, que tratam da dignidade do animal como ser vivo possuidor de direitos. O PLS encontra-se atualmente na Câmara dos Deputados, aguardando votação. O Projeto de Lei Complementar 27/2018 (PLC 27/18) acrescenta dispositivos à Lei nº 9.605/98, a fim de discutir a natureza jurídica dos animais, determinando que: Fonte: Shutterstock.com OS ANIMAIS DOMÉSTICOS E SILVESTRES POSSUEM NATUREZA JURÍDICA SUI GENERIS, SENDO SUJEITOS DE DIREITOS DESPERSONIFICADOS, DOS QUAIS PODEM GOZAR E OBTER A TUTELA JURISDICIONAL EM CASO DE VIOLAÇÃO, SENDO VEDADO O SEU TRATAMENTO COMO COISA. SUJEITOS DE DIREITOS DESPERSONIFICADOS Entidades que não possuem, no Direito, autorização para a prática de atos, por não serem consideradas pessoas (físicas ou jurídicas) e necessitam de regulamentação complementar. Com a mudança, busca-se conferir aos animais tratamento de seres sencientes. Críticas ao PLC foram feitas, sob alegação de possíveis problemas para a economia do país, conforme fala do Senador Telmário Mota (Pros-RR): PODE-SE EXIGIR O USO DE ANESTÉSICO PARA ABATE DE ANIMAIS, UMA VEZ QUE A LEI ESTIPULA AGORA QUE OS ANIMAIS SÃO SENCIENTES E, POR ISSO, NÃO PODERIAM SOFRER QUALQUER TIPO DE DOR AO SER ABATIDO. IMAGINEM QUANTO ISSO PODE CUSTAR PARA TODOS OS PRODUTORES DE CARNE DO PAÍS! IMAGINEM O VALOR QUE O QUILO DE ALIMENTO PODERÁ CUSTAR PARA NÓS, CONSUMIDORES. O PLC foi aprovado pelo Plenário e se encontra atualmente na Câmara dos Deputados, para votação. Sobre o comentário do parlamentar, que não possui formação técnica nem conhecimento na área, é importante ressaltar que existem procedimentos de abate que não preveem o uso de anestésicos e que são permitidos nos regulamentos para abate de animais publicados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como a pistola de dardo cativo e a insensibilização elétrica. Importante também destacar que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) , em julgamento de Recurso Especial (REsp 1.797.175/SP), utilizou, em seu relatório, o termo “guarda”, em vez de “posse”, atribuindo dignidade de direitos aos animais. Adicionalmente, o STJ vem regulamentando visitas a animais de estimação após a dissolução de união estável ou casamento, fixando regime de visitas para ex-companheiros. O STJ entende que animais não podem ser considerados “coisas inanimadas”. Importante ressaltar que, para o caso em questão, buscou-se preservar a dignidade da pessoa humana e a proteção de seu vínculo afetivo com o animal, e não uma tentativa de humanização do animal, tratando-o como pessoa ou sujeito de direito. Fonte: Shutterstock.com Já o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou, em março de 2020, a suspensão, em âmbito nacional, de decisões que autorizem o sacrifício de animais silvestres ou domésticos apreendidos em situação de maus-tratos, incluídos nestes casos os animais de rinhas de galo ou cães. De acordo com o Tribunal, a prática de sacrifício ofenderia preceitos javascript:void(0) fundamentais inscritos no artigo 225 (parágrafo 1º, inciso VII) da Constituição Federal, abaixo descrito, e, em vez de proteger os animais apreendidos em situação de maus-tratos, estaria permitindo a prática de crueldade. Fonte: Shutterstock.com Animais silvestres vendidos em mercados clandestinos. “ART. 225 TODOS TÊM DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO, BEM DE USO COMUM DO POVO E ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA, IMPONDO-SE AO PODER PÚBLICO E À COLETIVIDADE O DEVER DE DEFENDÊ-LO E PRESERVÁ-LO PARA AS PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES. § 1º ASSEGURAR A EFETIVIDADE DESSE DIREITO, INCUMBE AO PODER PÚBLICO: VII - PROTEGER A FAUNA E A FLORA, VEDADAS, NA FORMA DA LEI, AS PRÁTICAS QUE COLOQUEM EM RISCO SUA FUNÇÃO ECOLÓGICA, PROVOQUEM A EXTINÇÃO DE ESPÉCIES OU SUBMETAM OS ANIMAIS A CRUELDADE.” Em oposição à deliberação acima, o Congresso Nacional publicou, em 2017, a Emenda Constitucional n° 96 (EC 96/17), que libera vaquejadas e rodeios em todo o território brasileiro. O texto define que não são consideradas modalidades desportivas com animais aquelas que sejam parte de manifestações culturais registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro. A vaquejada e o rodeio já haviam sido reconhecidos dessa forma por lei anterior (Lei 13.364/16). O STF, por sua vez, concluiu em julgamento de Recurso Extraordinário (RE 494.601-RS) que, em matéria de sacrifício de animais em virtude de cultos ou atividades religiosas, não há de se falar em inconstitucionalidade, uma vez que a Constituição Federal edita normas gerais de proteção ambiental, não se pronunciando em relação ao abate de animais para fins religiosos. Portanto, tal regulamentação ficaria a cargo dos estados, que podem permitir o sacrifício de animais pautando-se pela liberdade de crença, considerada princípio constitucional. Fonte: Shutterstock Tourada na Espanha. Apesar de muitos países terem avançado no que diz respeito à proteção animal, ainda é possível verificar que a utilização de animais é adotada com fins econômicos, como no caso das touradas na Espanha. Os eventos, promovidos pelo Ministério da Cultura da Espanha, reúnem cerca de 1 milhão de pessoas anualmente e movimentam mais de 4 bilhões dereais por ano. Apesar de ser considerada como patrimônio cultural, a atividade vem rendendo discussões e protestos contra a morte de touros. ESTIMA-SE QUE, ANUALMENTE, 250 MIL TOUROS SÃO MORTOS EM TOURADAS NA ESPANHA. ESSA ATIVIDADE TAMBÉM OCORRE, EM MENOR NÚMERO, EM PAÍSES COMO PORTUGAL, MÉXICO, COLÔMBIA E PERU. É possível verificar que o Direito dos Animais é uma área ainda em crescimento dentro do Direito, dada a necessidade de se fomentar discussões acerca da proteção dos animais e da lacuna existente quanto à regulamentação na área. Portanto, é necessário que se desenvolvam projetos visando a conscientização da sociedade e de profissionais da área do Direito, para que trabalhem conjuntamente na defesa dos direitos fundamentais do homem, que perpassam os direitos dos animais, em convivência harmoniosa. A comoção e a conscientização por parte da sociedade devem ser os propulsores para a elaboração de leis que regulamentem a proteção aos animais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS, PUBLICADA EM 1978, CONFERE, DE FORMA CLARA, DIREITOS AOS ANIMAIS, COMO O DIREITO À VIDA E À LIBERDADE, APESAR DE NÃO POSSUIR FORÇA DE LEI. SOBRE SEU CONTEÚDO, É CORRETO DIZER: A) Espetáculos que utilizam animais são incompatíveis com a dignidade destes. B) Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais não necessitam de representação em nível governamental. C) Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre, porém pode, sob determinadas circunstâncias, ser capturado. D) A experimentação animal, ainda que implique sofrimento físico e psicológico, pode ser fundamentada se houver benefício para o homem. E) Nenhum animal deve ser criado para alimentação. 2. OS DIREITOS DOS ANIMAIS É ASSUNTO AINDA CARENTE DE DISCUSSÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. SOBRE ESSE TEMA, PODE-SE AFIRMAR: A) De acordo com entendimento do STF, qualquer animal silvestre ou doméstico apreendido em situação de maus-tratos deve ser eutanasiado, no intuito de aliviar seu sofrimento. B) O Código Civil Brasileiro considera animais como coisas e, portanto, não detentores de direitos. C) O STF proibiu a prática de rodeios e vaquejadas em território nacional, por entender que elas estão associadas a práticas de maus-tratos e crueldades contra animais. D) Países como Estados Unidos e Inglaterra apresentaram, assim como o Brasil, pouco avanço na discussão para a regulamentação sobre direitos dos animais. E) O artigo 225 da Constituição Federal Brasileira profere que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público o dever de preservá-lo”. GABARITO 1. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, publicada em 1978, confere, de forma clara, direitos aos animais, como o direito à vida e à liberdade, apesar de não possuir força de Lei. Sobre seu conteúdo, é correto dizer: A alternativa "A " está correta. Qualquer ato que utilize animais para divertimento do homem é considerado cruel. 2. Os direitos dos animais é assunto ainda carente de discussão no ordenamento jurídico brasileiro. Sobre esse tema, pode-se afirmar: A alternativa "B " está correta. O Código Civil Brasileiro considera animais (seres semoventes, ou seja, seres móveis que se movimentam por conta própria) como coisas. Por serem desprovidos de personalidade, não possuem direitos. MÓDULO 3 Identificar os órgãos de controle e proteção do bem-estar animal MECANISMOS DE PROTEÇÃO ANIMAL Ao longo da História, o antropocentrismo foi sendo substituído pelo ecocentrismo, reconhecendo que o homem faz parte de um ecossistema e que os outros seres são também merecedores de respeito e de direitos. O homem não mais se encontra no centro do Universo, mas é parte integrante deste, juntamente aos outros seres. Pudemos também verificar como o Direito evoluiu nesse sentido, ao regulamentar o uso de animais nos diferentes segmentos. Porém, de que forma os animais podem ser protegidos, já que não são detentores de direitos em nosso ordenamento jurídico? ANTROPOCENTRISMO É uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o Universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o ser humano, sendo que as demais espécies, bem como tudo o que existe, estão aí para servir ao homem. Fonte: Shutterstock.com CONCEA javascript:void(0) O CONCEA é o órgão do atual Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e foi criado pela Lei 11.794/08 (Lei Arouca), com a finalidade de garantir tratamento humanitário e ético a todos os animais utilizados em atividades de ensino ou pesquisa científica no território nacional. As referências adotadas pelo CONCEA para a proposição de normas se originam de agências regulatórias internacionais, principalmente dos Estados Unidos da América e de países da Europa, em virtude do avanço das discussões sobre políticas éticas para o uso de animais nestes países. O CONCEA é um órgão deliberativo, normativo, consultivo e recursal. Com a sua criação e o estabelecimento de regras para o uso de animais em ensino e pesquisa, o princípio dos 3 Rs passou a ser obrigatoriamente adotado. O Decreto 6.899/09 estabelece as normas para o funcionamento do CONCEA e cria o CIUCA (Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais ) . Como competências do CONCEA, podemos destacar as seguintes: Formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária e ética de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica. Credenciar instituições para criação ou utilização de animais com finalidade de ensino ou pesquisa científica, estabelecendo e revendo normas de credenciamento. Monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais em ensino ou pesquisa científica. Estabelecer e rever, periodicamente, as normas para uso e cuidados com animais para ensino e pesquisa científica, em consonância com as convenções internacionais das quais o Brasil seja signatário. Manter cadastro atualizado de protocolos experimentais ou pedagógicos, assim como dos pesquisadores, a partir de informações remetidas pelas CEUAs. Apreciar e decidir recursos interpostos contra decisões das CEUAs. O CONCEA é presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia, por representantes de outros ministérios e por cidadãos brasileiros com grau acadêmico de doutor ou equivalente nas áreas de Ciências Agrárias e Biológicas, Saúde Humana e Animal, Biotecnologia, Bioquímica ou Ética, caracterizando a multidisciplinaridade do órgão. O CIUCA destina-se ao registro das instituições para criação ou utilização de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, dos protocolos experimentais ou pedagógicos em andamento no país, assim como dos pesquisadores, a partir de informações remetidas pelas CEUAs, além das solicitações de credenciamento institucional no CONCEA. Fonte: Shutterstock.com Biotério para criação de animais utilizados em pesquisas. O CONCEA também delibera quanto à aplicação de sanções para o uso indevido de animais, e considera como infração administrativa o que consta do artigo 46 do decreto, conforme descrito abaixo: “I - criar ou utilizar animais em atividades de ensino e pesquisa científica como pessoa física em atuação autônoma; II - criar ou utilizar animais em atividades de ensino e pesquisa científica sem estar credenciado no CONCEA ou em desacordo com as normas por ele expedidas; III - deixar de oferecer cuidados especiais aos animais antes, durante e após as intervenções recomendadas nos protocolos dos experimentos(...); IV - deixar de submeter o animal a eutanásia, dada as prescrições pertinentes a cada espécie, conforme as diretrizes do Ministério da Ciência e Tecnologia, sempre que, encerrado o experimento ou em qualquer de suas fases, for tecnicamente recomendado o procedimento ou quando ocorrer intenso sofrimento (...); V - realizar experimentosque possam causar dor ou angústia sem sedação, analgesia ou anestesia adequadas; VI - realizar experimentos cujo objetivo seja o estudo dos processos relacionados à dor e à angústia sem autorização específica da CEUA; VII - utilizar bloqueadores neuromusculares ou relaxantes musculares em substituição a substâncias sedativas, analgésicas ou anestésicas; VIII - reutilizar o mesmo animal depois de alcançado o objetivo principal do projeto de pesquisa; IX - realizar trabalhos de criação e experimentação de animais em sistemas fechados em desacordo com as condições e normas de segurança recomendadas pelos organismos internacionais aos quais o Brasil se vincula; X - realizar, em programa de ensino, vários procedimentos traumáticos num mesmo animal, sem que todos os procedimentos sejam executados durante os efeitos de um único anestésico ou sem que o animal seja sacrificado antes de recobrar o sentido; XI - realizar pesquisa científica ou atividade de ensino reguladas por este Decreto sem supervisão de profissional de nível superior, graduado ou pós-graduado na área biomédica (...).” O CONCEA não possui poder fiscalizatório, mas determina que qualquer pessoa pode oferecer denúncia a respeito de procedimentos em desacordo com o Decreto 6.899/09 ao próprio CONCEA e a órgão ou entidade de fiscalização competente, como os conselhos de regulamentação profissional. Em caso de conclusão de prática em desacordo com o que regulamenta o CONCEA, as sanções previstas são: PARA PESSOAS JURÍDICAS São consideradas pessoas jurídicas os estabelecimentos credenciados no CONCEA ou em situação de clandestinidade, aos quais se aplicam: Advertência. Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Interdição temporária. Suspensão de financiamentos provenientes de fontes oficiais de crédito e fomento científico. Interdição definitiva. PARA PESSOAS FÍSICAS São consideradas pessoas físicas os pesquisadores envolvidos em experimentos e docentes em procedimentos pedagógicos, aos quais se aplicam: Advertência. Multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Suspensão temporária. Interdição definitiva para o exercício da atividade. O CONCEA é também responsável pela publicação de guias para cuidado, criação, manejo e experimentação destinadas às diferentes espécies animais utilizadas em ensino e pesquisa, que fornecem de forma detalhada os procedimentos permitidos ou proibidos conduzidos com animais. CEUA As CEUAs foram instituídas também pela Lei Arouca (Lei 11.794/08), a qual condiciona o credenciamento institucional no CONCEA à constituição prévia da CEUA. A Resolução Normativa n° 1, de 2010 (RN 01/10) do CONCEA, estabelece que cada instituição de ensino (técnico ou superior) ou pesquisa científica com animais (pública ou privada) deverá constituir sua própria CEUA, que deverá ser integrada, obrigatoriamente, por: Médicos veterinários e biólogos. Docentes e pesquisadores na área específica. Um representante de sociedades protetoras de animais legalmente estabelecidas no país, na forma do regulamento. Caso não ocorra indicação de membro de sociedade protetora de animais, deve ser apresentada recusa de no mínimo três convites formais destinados a essas instituições com posterior indicação de consultor ad hoc, com notório saber e experiência em uso ético de animais. Os membros da CEUA, de acordo com o Decreto 6.899/09, devem possuir reconhecida competência técnica e notório saber, em nível superior ou pós-graduação, e com destacada atividade profissional nas áreas anteriormente descritas. A CEUA deve contar com membros titulares e suplentes. Destacam-se como competências da CEUA, de acordo com o artigo 6º da RN 01/10, dentre outras: “I - cumprir e fazer cumprir (...) o disposto na Lei n.º 11.794/08, nas demais normas aplicáveis e nas Resoluções Normativas do CONCEA; II - examinar previamente os protocolos experimentais ou pedagógicos aplicáveis aos procedimentos de ensino e de projetos de pesquisa científica a serem realizados na instituição à qual esteja vinculada, para determinar sua compatibilidade com a legislação aplicável; III - manter cadastro atualizado dos protocolos experimentais ou pedagógicos, (...) realizados na instituição ou em andamento, enviando cópia ao CONCEA, por meio CIUCA; IV - manter cadastro dos pesquisadores e docentes que desenvolvam protocolos experimentais ou pedagógicos, (...) enviando cópia ao CONCEA, por meio do CIUCA; V - expedir, no âmbito de suas atribuições, certificados que se fizerem necessários perante órgãos de financiamento de pesquisa, periódicos científicos ou outras entidades; VI - notificar imediatamente ao CONCEA e às autoridades sanitárias a ocorrência de qualquer acidente envolvendo animais nas instituições credenciadas (...); VII - investigar acidentes ocorridos no curso das atividades de criação, pesquisa e ensino e enviar o relatório respectivo ao CONCEA (...); VIII - estabelecer programas preventivos e realizar inspeções anuais, com vistas a garantir o funcionamento e a adequação das instalações sob sua responsabilidade (...); IX - solicitar e manter relatório final dos projetos realizados na instituição, que envolvam uso científico de animais; X - avaliar a qualificação e a experiência do pessoal envolvido nas atividades de criação, ensino e pesquisa científica, de modo a garantir o uso adequado dos animais; XI - divulgar normas e tomar decisões sobre procedimentos e protocolos pedagógicos e experimentais, sempre em consonância com as normas em vigor; (...) XIII - consultar formalmente o CONCEA sobre assuntos de seu interesse, quando julgar necessário; (...) XV - incentivar a adoção dos princípios de refinamento, redução e substituição no uso de animais em ensino e pesquisa científica; XVI - determinar a paralisação de qualquer procedimento em desacordo com a Lei nº 11.794/08, na execução de atividades de ensino e de pesquisa científica, até que a irregularidade seja sanada, sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis.” Podemos observar que as CEUAs locais funcionam como braços do CONCEA, agindo em consonância com ele, na observância da aplicação de normas para aprovação, controle e vigilância das atividades de criação, ensino e pesquisa com animais. A CEUA não pode se omitir quanto à observância das normas estipuladas pelo CONCEA, sob risco de se submeter às sanções cabíveis, já descritas anteriormente. Os membros também respondem por prejuízos que, por dolo, venham a causar às atividades de ensino e pesquisa nas instituições que atuem. A Resolução Normativa n° 6, de 2012 (RN 06/12) do CONCEA, institui o coordenador de biotério, ou responsável técnico, indicando que este deverá ser médico veterinário com conhecimento na área de Ciência de Animais de Laboratório, e que deve gerir o biotério visando o bem-estar animal, o manejo adequado, bem como a qualidade de produção. O responsável técnico deve ainda prover cuidados veterinários aos animais criados. Fonte: Shutterstock.com Médico veterinário administrando vitaminas a hamster criado em biotério. Para que um procedimento de ensino ou pesquisa científica que utilize animais seja aprovado, ele deve ser apresentado à CEUA, que deverá deliberar sobre sua aprovação ou não, de acordo com os princípios éticos para uso de animais. Aos pesquisadores, docentes e responsáveis por procedimentos experimentais e de ensino compete, de acordo com a RN 06/12 do CONCEA, além de outras: Submeter à CEUA proposta de atividade, especificando os protocolos a serem adotados. Apresentar à CEUA, antes do início de qualquer atividade, as informações e a respectiva documentação. Assegurar que as atividades serão iniciadas somente após decisão técnica favorável da CEUA. Solicitar a autorização prévia à CEUA para efetuar qualquer mudança nos protocolos anteriormente aprovados. Assegurar que as equipes técnicas e de apoio envolvidas nas atividades com animais recebam treinamento apropriado e estejam cientes da responsabilidade no tratodestes. Notificar à CEUA as mudanças na equipe técnica. Comunicar à CEUA, imediatamente, todos os acidentes com animais, relatando as ações saneadoras adotadas. Observamos como o Brasil avançou em termos legais para o uso ético de animais em ensino e pesquisa. Procedimentos que, há algumas décadas, ocorriam sem nenhum critério com vistas ao bem-estar animal e ignorando o fato de que animais, assim como os humanos, são capazes de sentir e sofrer, hoje devem seguir protocolos que zelem pelo respeito aos animais e pelo não sofrimento físico e mental destes, com a avaliação e adoção, sempre que possível, do princípio dos 3 Rs. Fonte: Shutterstock.com CONFLITOS DE INTERESSES NAS COMISSÕES DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS Neste vídeo, a especialista Patrícia Barizon Cepeda fala sobre as dificuldades em se garantir os trabalhos isentos da CEUA, visto que muitos dos participantes das comissões também são pesquisadores e docentes que utilizam animais . ONGS E ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO ANIMAL Conheça algumas das entidades de proteção animal. RSPCA As primeiras leis destinadas à proteção animal surgiram na Inglaterra, no século XIX, com a criação da Sociedade para a Prevenção de Crueldades contra Animais (RSPCA) . A partir de então, outras associações foram criadas na Europa e nos Estados Unidos. A RSPCA possui filiais em diferentes países da Europa, Ásia e África com serviços veterinários, programas educativos para escolas e centros de adoção de animais, dentre outros. UIPA No Brasil, a UIPA (União Internacional Protetora dos Animais) , criada em 1895, em São Paulo, é pioneira na proteção aos animais, existindo até hoje, e se originou de manifestos publicados em jornais da época, convocando a população a discutir sobre maus-tratos a animais. O Estado de São Paulo foi o que mais se destacou nas discussões sobre políticas de proteção animal no país, apesar da criação de outras organizações fora do estado. A UIPA foi uma das responsáveis pela publicação da Lei 9.605/98, que torna crime os maus-tratos imputados a animais, além de fundar o movimento antivivisseccionista brasileiro. Participa, ainda, de trabalhos contra a prática de rodeios e auxiliou na colheita de provas para decisão favorável do STF contra a “Farra do Boi” em Santa Catarina (a qual consiste em soltar um animal em local afastado, fazendo-o correr atrás de pessoas). Além disso, foi responsável pela redação da Lei Municipal 14.146/06, que proíbe a circulação de veículos de tração animal no Município de São Paulo. A UIPA conta ainda com uma clínica médico-veterinária para atendimento de animais pertencentes à população carente e promove adoção de cães e gatos, após avaliação do pretendente à adoção. Foi declarada legalmente como de utilidade pública estadual e municipal e é fomentada por meio de doações de seus associados. SUIPA A SUIPA (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais) foi inaugurada em 1943, no Rio de Janeiro. Inicialmente voltada ao tratamento de cães recolhidos das ruas da cidade, passou a atuar ativamente, reivindicando, junto às autoridades, o cumprimento de medidas de proteção aos animais. Participou ainda de movimentos contra as “carrocinhas”, que coletavam animais errantes em via públicas e os destinava à eutanásia, além de combater maus-tratos a cavalos utilizados em charretes e auxiliar na apreensão de animais silvestres encontrados em locais inadequados. É também considerada como de utilidade pública, sem fins lucrativos, e mantém atendimento médico-veterinário a animais de populações carentes a preços populares, financiando seus gastos com doações de seus associados. É inegável que a pressão exercida por organizações foi responsável pela promulgação da primeira lei brasileira que estabeleceu, de forma específica, em 1934, medidas de proteção animal (Decreto 24.645/34). A partir deste decreto, os animais passaram a ser tutelados pelo Estado, e práticas de maus-tratos passaram a ser passíveis de multas e até mesmo prisão. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, só no Brasil, existem mais de 30 milhões de animais abandonados, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Fonte: Shutterstock.com Abrigo para animais abandonados e recolhidos das ruas. O abandono de animais ainda é frequente e aumenta quando as festas de fim de ano e o período de férias estão próximos, sendo deixados em vias públicas. Tal prática, além de antiética, confere ameaças para a saúde pública, pela possibilidade de ocorrência de zoonoses (Doenças transmissíveis entre animais e pessoas.) , aumenta o risco de acidentes automobilísticos com animais vagando por estradas, além de gerar problemas ecológicos, pelo impacto ambiental envolvido, e econômicos, devido à necessidade de se prever projetos de controle populacional de animais. Em 2019, o Instituto Pet Brasil, entidade criada para liderar projetos de fomento ao conhecimento, empreendedorismo e à inovação para o setor de serviços e produtos para animais de estimação, apurou a existência de 370 ONGs atuando na proteção animal. Tal dado revela o constante crescimento de se estimular discussões sobre a ética animal e as práticas humanas associadas. É NECESSÁRIO, CADA VEZ MAIS, PROBLEMATIZAR E COMPREENDER A DINÂMICA DAS RELAÇÕES ENTRE O HOMEM E SEU ECOSSISTEMA, DENTRO DE UMA ANÁLISE ÉTICA, PARA QUE, AO LONGO DA HISTÓRIA, A PROTEÇÃO E OS DIREITOS DOS ANIMAIS POSSAM SE ESTRUTURAR CONFORME A REALIDADE SOCIAL, POLÍTICA E CULTURAL DA SOCIEDADE. Fonte: Shutterstock.com VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CONSELHO NACIONAL DE CONTROLE DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL (CONCEA), ÓRGÃO CRIADO PELA LEI AROUCA E PERTENCENTE AO ATUAL MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÕES, POSSUI COMO COMPETÊNCIAS, DENTRE OUTRAS: A) Credenciar as Comissões de Ética no uso de Animais. B) Manter cadastro de protocolos experimentais ou de ensino, repassados pelas CEUAs locais. C) Fiscalizar estabelecimentos credenciados, para atendimento a denúncias de procedimentos proibidos ou inadequados. D) Implementar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais. E) Apreciar e decidir sobre recursos interpostos contra decisões dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária. 2. AS COMISSÕES DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS (CEUAS) SÃO RESPONSÁVEIS POR MONITORAR LOCALMENTE AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM ANIMAIS EM ENSINO E PESQUISA, REMETENDO AO CONCEA AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS. SOBRE SUA COMPOSIÇÃO, ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES, É CORRETO AFIRMAR: A) Deve ser formada, obrigatoriamente, dentre outros, por médicos e médicos veterinários. B) É responsável por estabelecer programas preventivos e realizar inspeções semestrais, com vistas a garantir o funcionamento e a adequação das instalações sob sua responsabilidade. C) Representante de sociedade protetora de animais deve participar da CEUA, não podendo ser substituído sob nenhuma hipótese, a fim de garantir a participação da sociedade na comissão. D) É responsável por expedir, quando necessário, certificados a órgãos de fomento de pesquisa e periódicos científicos. E) A não observância de preceitos éticos no uso científico de animais gera sanções cabíveis aos pesquisadores responsáveis, não se estendendo aos membros da CEUA. GABARITO 1. O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), órgão criado pela Lei Arouca e pertencente ao atual Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, possui como competências, dentre outras: A alternativa "B " está correta. Uma das competências do CONCEA é manter cadastro atualizado dos protocolos de ensino/pesquisa, assim como dos pesquisadores vinculados, a fim de monitorar o uso de animais nas instituições credenciadas. 2. As Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) são responsáveis por monitorar localmente as atividades desenvolvidas com animais em ensino e pesquisa, remetendo ao CONCEA as informações necessárias. Sobre sua composição, atribuições e responsabilidades, é correto afirmar: A alternativa "D " está correta. As CEUAs sãoresponsáveis pela expedição de certificados junto a revistas científicas ou órgãos que fornecem verbas para o desenvolvimento de pesquisas, a fim de comprovar que possuem projetos aprovados. A não comprovação inabilita a publicação em periódico, assim como pode suspender o repasse de verba para o desenvolvimento da pesquisa. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A busca pelo tratamento ético destinado a animais é de longa data. Inúmeras publicações em diferentes países buscam fomentar a discussão sobre os direitos dos animais, descrevendo-os como seres sencientes e merecedores de respeito. A Inglaterra e outros países da Europa avançam na regulamentação do uso de animais, seja para produção, seja para ensino, seja para experimentação, tendo como marco a publicação da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, base de toda discussão sobre direitos dos animais no mundo. No Brasil, a regulamentação para uso de animais em ensino e experimentação foi alcançada com a Lei Arouca, de 2008 (Lei 11.794/08), que reconhece a senciência de vertebrados e regulamenta a forma como estudos e pesquisas devem ser conduzidos em um âmbito ético e responsável, baseado nos princípios dos 3 Rs, de Russel & Burch. A Lei Arouca criou, ainda, o CONCEA, órgão governamental responsável pela normatização de funcionamento de biotérios e de guias para cuidados com animais em ensino e experimentação. A obrigatoriedade da instituição de CEUAs para o credenciamento de estabelecimentos de ensino e pesquisa no CONCEA tornou indispensável a avaliação de projetos de ensino/pesquisa, que devem operar dentro de princípios éticos e legais, com possível responsabilização da instituição e de seus pesquisadores associados. Os órgãos de proteção animal atuam de forma ativa dentro e fora das CEUAs, operando como membros avaliadores de procedimentos que envolvem animais. Essas instituições de proteção pressionam os órgãos governamentais a regulamentarem dispositivos que protejam animais contra maus-tratos e abusos, ao mesmo tempo em que trabalham para promover a conscientização da população de que pertencemos ao mesmo ecossistema e somos dignos de respeito e direitos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n° 6.899, de 15 de julho de 2009. Dispõe sobre a composição do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal - CONCEA, estabelece as normas para o seu funcionamento e de sua Secretaria-Executiva, cria o Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais – CIUCA, mediante a regulamentação da Lei no 11.794, de 8 de outubro de 2008, que dispõe sobre procedimentos para o uso científico de animais, e dá outras providências. Consultado em meio eletrônico em: 9 dez. 2020. BRASIL. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Consultado em meio eletrônico em: 9 dez. 2020. BRASIL. Lei n° 11.794, de 8 de outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei no 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Consultado em meio eletrônico em: 9 dez. 2020. BRASIL. Resolução Normativa n° 1, de 9 de julho de 2010 (CONCEA). Dispõe sobre a instalação e o funcionamento das Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) Publicação consolidada da Resolução Normativa nº 1, de 9 de julho de 2010, considerando as alterações introduzidas com a edição das Resoluções Normativas nº s 2, de 30 de dezembro de 2010, 3, de 14 de dezembro de 2011 e 6, de 10 de julho de 2012. Consultado em meio eletrônico em: 9 dez. 2020. BRASIL. Resolução Normativa n° 6, de 10 de julho de 2012 (CONCEA). Altera a Resolução Normativa nº 1, de 9 de julho de 2010, que "Dispõe sobre a instalação e o funcionamento das Comissões de Éticas no Uso de Animais (CEUA's)". Consultado em meio eletrônico em: 9 dez. 2020. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG). Bem-Estar Animal. Nº 67 – 2012 – Belo Horizonte. OLIVEIRA, E. M.; GOLDIM, J. R. Legislação de proteção animal para fins científicos e a não inclusão dos invertebrados – análise bioética. Revista Bioética (impressa). 2014; 22 (1): 45-56. PESSINI, L.; HOSSNE, W. S. A nova edição (4ª) da Enciclopédia de Bioética. Revista Bioethikos. Centro Universitário São Camilo - 2014; 8(4):359-364. TINOCO, I. A. P.; CORREIA, M. L. A. Análise Crítica sobre a Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Revista Brasileira de Direito Animal. Ano 5, vol. 7. Jul-Dez 2010. EXPLORE+ Conheça a publicação da FAWC sobre bem-estar animal para animais de produção. Conheça As Cinco Liberdades dos Animais acessando o site do Certified Humane Brasil. Leia outras publicações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) sobre bem-estar animal. Assista aos vídeos do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que estão disponíveis no canal do conselho no YouTube, sobre bem-estar animal. Assista ao vídeo institucional sobre os 12 anos de criação do CONCEA disponível no site do conselho. No site do CONCEA, você encontra resoluções normativas, contendo os Guias Brasileiros de Produção, Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica. Acesse o site da RSPCA, associação britânica que luta contra a crueldade e pelos direitos dos animais, para conhecer mais sobre seu trabalho. Para conhecer mais sobre a UIPA, acesse o site da associação brasileira mais antiga na luta pelos direitos dos animais. O jornal Diário de Pernambuco fez uma reportagem sobre touradas e montarias denominada Público de touradas na Espanha cai pela metade em menos de uma década, disponível no site do jornal. Acesse e saiba mais sobre o assunto. CONTEUDISTA Renata Batista da Silva CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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