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Mecanismos Básicos das Doenças | MEDICINA – 4º período Bruna Rodrigues Choque O QUE É CHOQUE? É uma síndrome caracterizada por uma redução considerável da perfusão tecidual sistêmica devido a diferentes etiologias e fisiopatologias, levando a uma baixa oferta de oxigênio e nutriente aos tecidos, bem como sua efetiva utilização. Sendo assim, é definido como o desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio celular com inadequada perfusão tecidual. Além de apresentar o lactato aumentado. O organismo dos seres humanos possui capacidade de manter constante o VO2, em uma determinada faixa de variação da DO2. Se a DO2 cai abaixo de um nível crítico (DO2Crit), o VO2 passa a ser dependente linearmente das variações de DO2. O DO2Crit é constate (para cada demanda metabólica) e independente da maneira pela qual a DO2 diminuiu. Quando ocorre uma queda na DO2 e os valores atinge o ponto de DO2Crit, o VO2 começa cair linearmente a queda na DO2, e como a taxa de extração tecidual de oxigênio (TEO2), já tenha tingido sua capacidade máxima de compensação, a demanda para aquela situação metabólica deixa de ser atendida, e então inicia-se metabolismo anaeróbico provocando elevação nos valores do lactato sanguíneo. Este fenômeno da relação entre DO2 e VO2, com VO2 independente da oferta em altos níveis de DO2, passando pela dependência linear quando a oferta de O2 reduz abaixo do DO2Crit, chamamos de dependência fisiológica da oferta de O2. Nas condições metabólicas na presença de sepse devido aumento da demanda de O2, devido a depressão miocárdica e a alteração na capacidade de otimizar a extração de O2, essa dependência é modificada, e passa a ser uma dependência patológica do VO2 em relação a DO2, até mesmo quando o DO2 não se apresenta tão reduzida. Dessa forma o organismo está numa situação de mais elevado VO2, e o DO2Crit se desloca para um valor muito maior que o fisiológico, antes de começar a variação linear entre DO2 e VO2. Na dependência patológica de DO2, a demanda de VO2 é muito aumentada e o DO2Crit deslocado, bem mais precoce que na situação de normalidade. ESTÁGIOS DO CHOQUE 1. ESTÁGIO COMPENSATÓRIO: PA normal; Ativação do SRAA, causando vasoconstrição; Liberação de aldosterona, causando o aumento da reabsorção de sódio e água SNS + catecolaminas = aumento da FC e DC 2. ESTÁGIO PROGRESSIVO = HIPOTENSÃO Descompensação do mecanismo compensatório PAM < 70 mmHg Bomba cardíaca comprometida Mediadores inflamatórios, levando ao aumento da permeabilidade vascular, extravasa volume para o terceiro espaço, paciente fica edemaciado. Ativação da cascata de coagulação (desequilíbrio entre a fibrinólise e Mecanismos Básicos das Doenças | MEDICINA – 4º período Bruna Rodrigues coagulação), pode fazer micro tromboses da periferia e com isso gerar isquemia. 3. ESTÁGIO REFRATÁRIO = IRREVERSÍVEL Acontece por um atendimento mal feito nos estágios 1 e 2. Acidose avassaladora e disfunção generalizada CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE HIPERDINÂMICO DC alto e RVS (resistência na aorta) baixa, devido à apresentação de vasodilatação, onde a resistência vascular irá cair, e consequentemente aumentar o DC. O paciente estará apresentando batimentos cardíacos elevados, temperatura elevada, e ele acaba ficando hipotenso (queda da PA devido a vasodilatação). DISTRIBUTIVO: redução severa da RVS. Sempre relacionado com o aumento dos vasos. (choque séptico). HIPODINÂMICO DC baixo e RVS alta → alguma coisa está acontecendo com o paciente no qual faz seu débito cardíaco caia. Quando ele caí, o corpo responde com uma vasoconstrição para tentar aumentar a pressão arterial e manter a perfusão periférica. HIPOVOLÊMICO: redução do volume intravascular com redução de pré carga e DC. CARDIOGÊNICO: falência de bomba cardíaca com redução do DC por déficit de contratilidade. OBSTRUTIVO: obstrução mecânica ao DC. (derrame pericárdico onde esse aumento de liquido irá comprimir o coração e impedir sua contradibilidade, ou pode ocorrer o tromboembolismo pulmonar que irá obstruir a circulação pulmonar) MISTO: (ex: séptico que ocorre devido a perdão de funções que ocorre em inúmeros órgãos). TIPOS DE CHOQUE DIAGNÓSTICO Hipotensão arterial = PAS (pressão arterial sistólica) < 90 mmHg ou PAM (pressão arterial média)< 70 mmHg. SINAIS DE HIPOPERFUSÃO TECIDUAL EVIDENTES ATRAVÉS DAS 3 JANELAS DO CORPO: • Cutânea = pele e úmida, com vasoconstrição e cianose. • Renal = débito urinário < 0,5 ml/kg/ h. • SNC = alteração do nível de consciência. • Hiperlactatemia = metabolismo celular anormal do oxigênio (> 1,5-2 mmol/L). SINAIS CLÍNICOS HIPOVOLÊMICO, CARDIOGÊNICO E SÉPTICO Temperatura: fria, úmida e pegajosa. Cor da pele: pálida e cianótica PA: normal e reduzida Consciência: alterada Mecanismos Básicos das Doenças | MEDICINA – 4º período Bruna Rodrigues Tempo de enchimento capilar: >2 segundos FC: aumentada NEUROGÊNICO (ÚNICO DIFERENTE) Temperatura: quente e seca. Cor da pele: rosada PA: normal e reduzida Consciência: alerta, lucido e orientado Tempo de enchimento capilar: <2 segundos FC: aumentada (como meio compensatório) SUPORTE INICIAL A ressuscitação deve ser iniciada mesmo enquanto a investigação da causa estiver em andamento. Uma vez identificada, a causa deve ser corrigida rapidamente. O gerenciamento inicial do choque é orientado a problemas e, portanto, os objetivos são os mesmos, independentemente da causa. Então o objetivo é melhorar a perfusão, e para isso eu preciso: diminuir o lactato, subir a circulação venosa central, diminuir o GAP Co2, aumentar a taxa de extração. VIP rule = ventilate/ infuse / pump. SUPORTE VENTILATÓRIO A administração de oxigênio deve ser iniciada imediatamente para aumentar a oferta de oxigênio. A intubação endotraqueal deve ser realizada para fornecer ventilação mecânica invasiva se dispneia importante, hipoxemia grave ou acidose persistente. A ventilação mecânica invasiva tem os benefícios adicionais de reduzir a demanda de oxigênio dos músculos respiratórios e diminuir a pós-carga do ventrículo esquerdo, aumentando a pressão intratorácica. O uso de agentes sedativos deve ser reduzido ao mínimo para evitar novas reduções na pressão arterial e no débito cardíaco. RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA A fluidoterapia para melhorar o fluxo sanguíneo microvascular e aumentar o débito cardíaco é uma parte essencial do tratamento de qualquer forma de choque. A administração de líquidos deve ser monitorada de perto, uma vez que muito líquido acarreta o risco de edema, com consequências indesejadas. Pontos finais pragmáticos para ressuscitação fluida são difíceis de definir. O objetivo é que o débito cardíaco se torne independente da pré-carga (ou seja, na porção do platô da curva de Frank-Starling). As soluções cristalóides são a primeira escolha, porque são bem toleradas e baratas. Definir objetivos com a fluidoterapia (PA, FC, débito urinário) e limites de segurança (PVC). DROGAS VASOATIVAS Se a hipotensão for grave ou persistir, apesar da administração de líquidos, é indicado o uso de vasopressores. É prática aceitável administrar um vasopressor temporariamente enquanto a ressuscitação hídrica está em andamento, com o objetivo de interrompê-lo, se possível, após a correção da hipovolemia. Os agonistas adrenérgicos são os vasopressores de primeira linha devido ao seu rápido início de ação, alta potência e meia-vida curta, o que permite fácil ajuste da dose. Noradrenalina = vasopressor de primeira escolha, propriedades predominantemente α- adrenérgicas, mas seus modestos efeitos β- adrenérgicos ajudam a manter o débitocardíaco. A administração geralmente resulta em um aumento clinicamente significativo na pressão arterial média, com pouca alteração na freqüência cardíaca ou no débito cardíaco. A dose habitual é de 0,1 a 2,0 μg por quilograma de peso corporal por minuto. Mecanismos Básicos das Doenças | MEDICINA – 4º período Bruna Rodrigues Vasopressina = sua deficiência pode se desenvolver em pacientes com formas muito hipercinéticas de choque distributivo, e a administração de baixas doses de vasopressina pode resultar em aumentos substanciais na pressão arterial. Não deve ser usada em doses superiores a 0,04 UI/min e apenas em choques com alto DC. Dobutamina = agente inotrópico de escolha para aumentar o débito cardíaco. Propriedades predominantemente β-adrenérgicas. A dose deve ser ajustada individualmente para obter uma perfusão tecidual adequada. Nitratos = ao reduzir a pós-carga ventricular, os agentes vasodilatadores podem aumentar o débito cardíaco sem aumentar a demanda miocárdica de oxigênio. TRATAMENTO PONTE BIA: O BIA é dispositivo invasivo de assistência circulatória, posicionado no interior da aorta, por meio de punção arterial (principalmente por punção da artéria femoral, mas podemos realizar punção de outros sítios) e alocado na aorta descendente. O balão possui propriedade de insuflação intermitente, sincronizada com o ciclo cardíaco. Para que ocorra a insuflação, é utilizado aproximadamente 40mL de gás hélio. O balão não oclui completamente a aorta – ocluindo cerca de 80% de sua secção transversal, de modo que durante a diástole o balão se insufla, favorecendo a perfusão coronariana. Na sístole, o balão fica desinflado, reduzindo a pós-carga e o trabalho miocárdico, consequentemente há redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio e aumento do débito cardíaco. ECMO: A ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea) funciona como um coração artificial e um pulmão artificial para o paciente, usando um circuito de tubos, bomba, oxigenador e aquecedor que fica instalado fora do corpo. A sofisticada tecnologia imita a função natural do coração e dos pulmões, permitindo que o paciente poupe esses órgãos enquanto a cura acontece. METAS RESTAURAR PRESSÃO ARTERIAL: PAM entre 65-70 mmHg. O nível deve ser ajustado para restaurar a perfusão tecidual, avaliada com base no estado mental, aparência da pele e débito urinário. DÉBITO CARDÍACO E OFERTA DE OXIGÊNIO: Após a correção da hipoxemia e anemia grave, o débito cardíaco é o principal determinante da oferta de oxigênio. As medidas absolutas do débito cardíaco são menos importantes do que o monitoramento de tendências em resposta a intervenções. O direcionamento de um débito cardíaco predefinido não é aconselhável, pois o débito cardíaco necessário varia entre os pacientes e no mesmo paciente ao longo do tempo. SvO2 =útil na avaliação do adequado equilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio e na interpretação do DC. Manter acima de 70%. NIVEIS DE LACTATO ARTERIAL: O valor das medições seriais de lactato no manejo do choque é reconhecido há 30 anos. Mecanismos Básicos das Doenças | MEDICINA – 4º período Bruna Rodrigues Embora as mudanças no lactato ocorram mais lentamente do que as mudanças na pressão arterial sistêmica ou no débito cardíaco, o nível de lactato sanguíneo deve diminuir por um período de horas com eficácia terapia. MELHORA DAS VARIÁVEIS DE MICROCIRCULAÇÃO: OPS = imagens espectrais de polarização ortogonal. Fornece novos meios de visualizar diretamente a microcirculação e avaliar os efeitos de intervenções no fluxo microcirculatório em superfícies facilmente acessíveis, como como a área sublingual. Alterações microcirculatórias, incluindo densidade capilar diminuída, proporção reduzida de capilares perfundidos e aumento da heterogeneidade do fluxo sanguíneo, foram identificadas em vários tipos de choque circulatório e a persistência dessas alterações está associada com piores resultados. PRIORIDADES TERAPÊUTICAS PRIMEIRA FASE = RESGATE. O objetivo da terapia é atingir pressão arterial mínima e débito cardíaco compatíveis com a sobrevivência imediata. Monitorização mínima (PAM e PVC). SEGUNDA FASE = OTIMIZAÇÃO. O objetivo é aumentar a disponibilidade celular de oxigênio (DO2). A ressuscitação hemodinâmica adequada reduz a inflamação e disfunção mitocondrial. Os níveis de SvO2 e lactato podem ajudar a orientar a terapia, e o monitoramento do débito cardíaco deve ser considerado. TERCEIRA FASE = ESTABILIZAÇÃO. O objetivo é prevenir a disfunção orgânica, mesmo após a estabilidade hemodinâmica. O suprimento de oxigênio para os tecidos não é mais o principal problema, e o apoio de órgãos se torna mais relevante. QUARTA FASE = DESCALONAMENTO. O objetivo é afastar o paciente dos agentes vasoativos e promover a poliúria espontânea ou provocar a eliminação de líquidos através do uso de diuréticos ou ultrafiltração para obter um balanço hídrico negativo. CONCLUSÃO O choque circulatório está associado a alta morbimortalidade. A identificação imediata é essencial para que o gerenciamento agressivo possa ser iniciado. O tratamento apropriado é baseado em uma boa compreensão dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes. O tratamento deve incluir a correção da causa do choque e a estabilização hemodinâmica, principalmente através da infusão de líquidos e administração de agentes vasoativos. A resposta do paciente pode ser monitorada por meio de cuidadosa avaliação clínica e medidas de lactato sanguíneo; avaliação microvascular pode ser viável no futuro.
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