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PRÁTICA PENAL 3ª AULA – QUEIXA-CRIME QUEIXA-CRIME 1. Conceito: É peça processual em crimes de ação penal de iniciativa privada, subscrita por advogado dotado de procuração com poderes especiais (ou pelo próprio ofendido, caso seja profissional da advocacia). Em resumo, queixa-crime é a peça inicial da ação penal de iniciativa privada. Ação Penal Privada é aquela em que o Estado, titular exclusivo do poder punitivo, transfere a legitimidade para a propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal. Os crimes processados através de ação penal privada, são aqueles crimes em que no tipo penal consta a expressão “somente se procede mediante queixa”. QUEIXA-CRIME 2. Disciplina legal: a queixa-crime está regulada nos arts. 24 a 62 do Código de Processo Penal e no art. 100, §§ 2º e 3º do Código Penal. 3. Princípios 3.1 Oportunidade: cabe ao titular do direito de agir a faculdade de concordar ou não com a lavratura do auto de prisão em flagrante, com a instauração do inquérito policial e com a propositura da ação penal privada ou queixa-crime, ou seja, não obrigação de oferecimento. QUEIXA-CRIME 3.2 Disponibilidade: cabe ao titular do direito de agir a faculdade de prosseguir ou não com a ação penal até o final, ou seja, pode desistir da ação penal. A disponibilidade pode ser manifestada por perdão, perempção (art. 60 do CPP) ou desistência. 3.3 Indivisibilidade: o titular do direito de agir não pode deixar de incluir na queixa-crime todos os coautores ou partícipes do fato, nos termos do art. 48 do CPP. O titular do direito de queixa não deve escolher quem processar; ou processa todos ou não processa ninguém. 3.4 Intranscendência ou personalidade da pena: a ação penal é limitada aos responsáveis pela infração, nos termos do art. 5º, inciso XLV, da CF. QUEIXA-CRIME 4. Condições da ação de iniciativa privada 4.1 Legitimidade: 4.1.1. Legitimidade ativa – vítima ou representante legal. Art. 30, CPP. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá- lo caberá intentar a ação privada. a) curador especial: (1) ofendido menor de 18 anos ou mentalmente enfermo ou retardado mental e que não tiver representante legal; (2) quando os interesses do ofendido menor de 18 anos ou mentalmente enfermo ou retardado mental colidirem com os interesses do representante legal. Ver art. 33 do CPP. QUEIXA-CRIME b) morte ou ausência: o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CADI). Art. 31, CPP. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. c) pessoa jurídica: serão representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem; no silêncio, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. Ver art. 37 do CPP. QUEIXA-CRIME 4.1.2. Legitimidade passiva – pessoa física e maior de 18 anos. 4.1.3. Legitimidade da pessoa jurídica: (a) Ativa – sim. (b) Passiva – não, salvo em crimes ambientais. QUEIXA-CRIME 4.2 Interesse de agir: não ocorreu a extinção da punibilidade. O juiz pode de ofício reconhecer a extinção da punibilidade (Art. 61, caput, do CPP). Código Penal Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. QUEIXA-CRIME 4.3 Possibilidade jurídica do pedido: pedido de condenação para fato típico. 4.4 Justa causa: Inserida em 2008; Lastro probatório mínimo (autoria e materialidade); Recebimento da queixa-crime/denúncia = in dúbio pro societate. A queixa-crime é ajuizada por um advogado contratado pelo ofendido ou seu representante legal. No caso de vítima pobre, esta pode requerer advogado ao juiz (art. 32 do CPP). QUEIXA-CRIME 5. Prazo: em regra, seis meses do conhecimento da autoria do fato pelo ofendido (ou representante legal). Art. 38. do CPP - Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. Art. 103, CP - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Impetração da queixa-crime perante juiz incompetente interrompe o prazo decadencial. A instauração do inquérito policial não interrompe o prazo decadencial. QUEIXA-CRIME 6. Documento indispensável: procuração com poderes especiais: (1) se comprovada pobreza, o juiz nomeia advogado para promover a ação penal; (2) o procurador deve ter poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelado e menção do fato criminoso (não é necessária a descrição pormenorizada do delito, bastando a menção do nomen juris). A falha na representação processual do querelante pode ser sanada a qualquer tempo, desde que dentro do prazo decadencial. QUEIXA-CRIME 7) Quadro comparativo de recursos possíveis ITENS RECEBIMENTO REJEIÇÃO Normal Habeas Corpus Recurso em sentido estrito (RESE – art. 581, I, do CPP) Ação penal originária de tribunal Agravo Agravo (art. 39, da Lei nº 8.038/90) Juizado especiais Habeas Corpus Apelação QUEIXA-CRIME 8) Requisitos – art. 41 do CPP. 8.1 exposição do fato, com todas as suas circunstâncias: a) o fato narrado deve constituir crime ou contravenção; b) o fato criminoso deve ser descrito de forma especificada; c) devem ser descritos todos os elementos do tipo penal; d) devem constar de forma clara o sujeito ativo do crime, os autores e meios empregados, o mal produzido, o lugar do crime, os motivos do crime, a maneira pela qual foi praticado e o tempo do fato; e) se houver concurso de pessoas, deve ser descrito o modo como cada um dos coautores ou partícipes concorreu para o evento; QUEIXA-CRIME 8.2 qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo: • indicar as qualidades que individuam a pessoa; 8.3 classificação jurídica do crime; 8.4 rol de testemunhas, quando necessário. Art. 41 do CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. QUEIXA-CRIME 9. Espécies de ação penal de iniciativa privada a) exclusiva ou principal ou propriamente dita: proposta pela vítima ou seu representante legal; no caso de morte ou ausência, os legitimados são o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão; b) personalíssima: proposta somente pela vítima; no caso de sua morte ou ausência, haverá extinção da punibilidade, por perempção; só é admitida na hipótese prevista no art. 236, § 2º, do CP; c) subsidiária da pública ou supletiva: cabível quando houver inércia do Ministério Público. É proposta pela vítima ou seu representante legal. Não cabe quando o MP pede arquivamento do IP ou requer diligências. QUEIXA-CRIME 10. Atuação do MP na ação penal de iniciativa privada a) Na ação penal privada exclusiva e personalíssima, o MP atua como fiscal da lei, cabendo-lhe intervir em todos os termos do processo, conforme o previsto no art. 45 do CPP. A falta de intervenção do MP na ação penal privada gera nulidade relativado processo (art. 564, inciso III, do CPP). b) Na ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública, o MP funciona como interveniente adesivo obrigatório ou assistente litisconsorcial, cabendo-lhe aditar, repudiar e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e retomar ação quando houver negligência pelo querelante. QUEIXA-CRIME 11. Aditamento da queixa a) Legitimidade: Ministério Público (art. 45, CPP). b) Prazo: 3 dias (art. 46, § 2º, do CPP). c) Início do prazo: data do recebimento dos autos pelo Ministério Público (art. 46, § 2º, do CPP). d) Alcance: há dois posicionamentos: (1) só alcança as imperfeições formais; (2) pode incluir novos crimes ou novos infratores. QUEIXA-CRIME e) Não aditamento no prazo: há a presunção de que o MP não quis aditar a queixa. f) Ação privada subsidiária da pública: o MP pode não só aditar a queixa como também repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva. QUEIXA-CRIME 12. Não observância do prazo: se a queixa-crime não for intentada no prazo legal, ocorrerá decadência do direito de queixa e, por consequência, extinção da punibilidade. Mesmo que a queixa-crime tenha sido apresentada perante juízo incompetente, o certo é que o seu simples ajuizamento é suficiente para obstar a decadência. 13. Termos: na peça prática da queixa usar, para o réu, querelado; e para o autor – vítima, querelante. QUEIXA-CRIME 14. Estrutura da peça prático-profissional: a peça prática da queixa-crime tem as seguintes partes: (a) Endereçamento; (b) Preâmbulo: nome e qualificação do querelante (autor da ação – ofendido); capacidade postulatória, fundamento legal (artigo da lei sobre a peça), nome da peça, nome e qualificação do querelado (réu da ação – querelado) e frase final; (c) Corpo: fatos e direito; (d) Pedido; (e) Parte final. QUEIXA-CRIME 15. Queixa-crime subsidiária constatação da inércia ministerial: quando o MP, diante do inquérito policial ou outras peças de informação, não pede arquivamento, novas diligências ou oferece denúncia. Os efeitos da inércia ministerial: (a) punição administrativa para o promotor ou procurador desidioso; (b) relaxamento ou revogação da prisão; (c) propositura da ação penal privada subsidiária da pública. Negligência do ofendido ou desídia do querelante: não gera a perempção, devendo o Ministério Público retomar a titularidade da ação penal. QUEIXA-CRIME 15. Queixa-crime subsidiária Prazo: em regra, seis meses, a contar do esgotamento do prazo para o MP oferecer denúncia, pedir arquivamento ou novas diligências (5 dias, se o indiciado estiver preso, e de 15 dias, se estiver solto, a contar da data em que for recebido o inquérito policial ou peça de informação). Ministério Público: aditar, repudiar e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e retomar ação quando houver negligência do querelante. QUEIXA-CRIME 15. Queixa-crime subsidiária Aditamento: será formado um litisconsórcio ativo, no qual o MP atuará como assistente litisconsorcial. Neste aditamento, o MP pode corrigir falhas, bem como incluir corréu, crime conexo, qualificadoras ou causas de aumento de pena. O prazo para o aditamento é de 3 dias (art. 46, § 2º, do CPP). QUEIXA-CRIME 16. Rejeição da queixa (= denúncia) – art. 395 do CPP I - for manifestamente inepta – confusa ou incompreensível. II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
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