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Vict�ria K. L. Card�so Tubercul�se ne�natal Introdução Definição: ● Trata-se de uma doença infecciosa crônica granulomatosa; seu agente etiológico é o bacilo Mycobacterium tuberculosis (bacilo - ácido - resistente - BAAR), de crescimento lento. ● Entretanto, apesar de aproximadamente 90% das pessoas não ficarem doentes após a primoinfecção pelo M. tuberculosis, as crianças apresentam maior risco de progressão da infecção tuberculosa para a tuberculose ativa, podendo inclusive desenvolver formas extrapulmonares ou disseminadas. ● Transmissão: aérea (aerossóis) → ocorre a partir da inalação de aerossóis oriundos das vias aéreas, expelidos pela tosse, espirro ou fala de pessoas bacilíferas (TB pulmonar ou laríngea). ○ Somente pessoas com TB ativa transmitem a doença. ○ Pacientes diagnosticados com TB e em fase de tratamento, com exames de controle negativos, não são mais transmissores. ● Formas congênitas e perinatal: são raras, há poucos casos registrados. Características gerais: ● A TB é uma das principais causas de morte no mundo. ● Entre as doenças infecciosas era a doença que mais matava com um único agente infeccioso, mas em 2020-2021 o covid foi a doença em primeiro lugar. ● 12% dos casos de TB anuais são entre < 15 anos. ○ Há um número de óbitos elevados em crianças. ○ Mas, mais da metade das crianças não são diagnosticadas. ○ Há um aumento de risco de contaminação pulmonar em adolescentes de 10-15 anos, por conta do ciclo do desenvolvimento e por conta de maior frequência em locais aglomerados. ● Maior incidência: 15-59 anos (Manaus). Vacina BCG: ● Confere proteção especialmente para os casos mais graves de TB → TB meningoencefálica e TB miliar. ● Inicialmente a vacina tem um efeito protetor de 84%, mas esse efeito declina ao longo do tempo, então @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so crianças de 10-11 anos tem um efeito protetor de 50%. ○ Importante: a revacinação com BCG não aumenta o efeito protetor. ● Quando se faz uma “revacinação” ou vacinação pós idade adequada: ○ Pessoa sem registro vacinal de BCG e sem cicatriz no braço. ○ Pessoa com contato próximo a paciente com hanseníase. Obs: se houver o registro de revacinação, mesmo sem a marca no braço, NÃO se revacina. Maior risco de tuberculose ativa: ● Crianças menores de 5 anos. ○ Essas crianças se infeccionam após apenas 15-20 minutos de exposição ao M. tuberculosis. ● Após a infecção, a doença pode se manifestar em qualquer fase da vida, dependendo do patógeno e da imunidade do hospedeiro, por isso saber a história de contato com casos de tuberculose pulmonar (TBP) é tão importante. ○ Lembrando que: crianças são paucibacilíferas, ou seja, NÃO são transmissores, então saber sobre os contatos dessa criança é muito importante para identificar o caso fonte. Crianças menores de 2 anos: ● A primoinfecção tuberculosa geralmente progride para a doença grave, sem sintomas prévios significativos. ○ Geralmente a manifestação da TB ocorre nos primeiros 12 meses após o contato com a tuberculose ativa. ● Formas de infecção de bebês: ○ Antes do nascimento: passagem transplacentária do M. tuberculosis → mãe com carga bacilar alta → raro. ○ Durante o nascimento: a infecção ocorre quando o RN respira ou ingere fluidos infectados do canal de parto (TB genital) → raro. ○ Após o nascimento: inalação de gotículas infectadas que foram expelidas pela tosse ou pelo espirro de familiares ou por funcionários do berçário. Fluxograma da infecção: 1. Exposição ao M. tuberculosis. 2. Primoinfecção OU Não infecção. 3. Se primoinfecção… a. TB primária → mais comum em crianças → 5% dos casos. b. ILTB → infecção latente → 95% dos casos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so c. TB pós-primária (tipo adulto) → mais comum em adolescentes → ocorre após a ILTB. Fisiopatologia 1. Os bacilos atingem uma via aérea terminal. 2. Iniciam um processo inflamatório pulmonar localizado que, posteriormente, pode calcificar e formar o foco parenquimatoso - foco de Ghon. 3. A partir desse foco, os bacilos se disseminam pelo sistema linfático local para os linfonodos regionais. 4. Assim, esse complexo primário (o complexo de Ghon), caracterizado por linfagite tuberculosa local com envolvimento de linfonodos regionais, possibilitam a entrada dos bacilos diretamente na circulação sistêmica ou nos ductos linfáticos. 5. Essa disseminação ocorre antes da resposta imune adequada para combater a tuberculose, impossibilitando a prevenção da tuberculose ativa. 6. Por fim, os bacilos conseguem se desenvolver dentro dos órgãos alvo por longos períodos, podendo ser ativados dependendo do equilíbrio entre a imunidade do hospedeiro e do patógeno. Evolução da tuberculose após a infecção pulmonar na infância Fase 1: 3-8 semanas após a primoinfecção, após a fase assintomática. ● Reações de hipersensibilidade. ● Febre. ● Eritema nodoso. ● Positividade à prova tuberculínica. ● Desenvolvimento do complexo primário - pode ser visto em radiografia simples de tórax. Fase 2: 1-3 meses após a primoinfecção, após a disseminação hematogênica oculta durante a incubação. ● Maior risco de desenvolvimento de meningite tuberculosa e de tuberculose miliar em crianças pequenas. Fase 3: 3-7 meses após a primoinfecção. ● Pode haver derrame pleural em crianças com mais de 5 anos e doença brônquica em crianças com menos de 5 anos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Fase 4: 1-3 anos após a primoinfecção, ou seja, do final da fase 3 até a calcificação do complexo primário. ● Pode ocorrer tuberculose osteoarticular em crianças menores de 5 anos e tuberculose ativa do tipo adulto em adolescentes. Fase 5: mais de 3 anos após a primoinfecção, ou seja, após a calcificação. ● Período de manifestações tardias da tuberculose. ● Pode haver reativação da tuberculose pulmonar. Conduta na suspeita de TB na maternidade Gestante suspeita: ● Presença de tosse por > 2 semanas. ○ Outros sintomas que podem estar associados: febre (baixa), perda de peso, sudorese noturna, adinamia e mal estar. ○ + contactante próximo com diagnóstico de TB. Conduta ambulatorial: 1. Solicitar e orientar a coleta de escarro → coleta oportuna. 2. Encaminhar para o posto de coleta. Conduta em enfermaria, emergência ou UTI: 1. Realizar isolamento respiratório para aerossóis. 2. Coletar o escarro → preferencialmente pela manhã, volume de 5-10 ml de escarro. a. Teste rápido molecular com PCR → pode ser realizado com outros líquidos, como: líquido pericárdico, líquido pleural, líquido ascítico, macerado de tecido… 3. Se positivo: a. Notificar o caso. b. Iniciar o esquema básico. c. Realizar teste rápido para HIV. d. Usar sempre máscara cirúrgica. e. No caso de pós parto ou lactante, pode deixar o aleitamento sem restrição. i. Apenas se restringe o aleitamento no caso de TB mamária. f. Encaminhar para UBS após a alta. 4. Se negativo → continuar a investigação. Obs: ao avaliar a gestante, deve-se rastrear os contactantes para verificar outras pessoas que podem estar infectadas → realizar o teste de escarro. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Conduta RN coabitante de caso bacilífero Coabitação do RN com bacilífero = pai, mãe ou pessoas que moram com o bebê. ● Bacilífero: positividade em teste rápido molecular, em baciloscopia ou em cultura. ● Toda criança nascida de mãe com TB durante a gestação e no momento do parto deve ser clinicamente avaliada para excluir a possibilidade de doença ativa na criança. ○ Deve-se orientar sobre os procedimentos de prevenção com vacinação e ou quimioprofilaxia primária. ● Se confirmação da forma ativa: tratamento. ● Se descartada a forma ativa: prevenção com BCG. Primeira recomendação: ADIAR a vacinação da BCG no bebê. Avaliação de TB ativa em recém nascido: 1. Anamnese + avaliação epidemiolǵica. 2. Avaliação laboratorial → coleta da amostra do escarro em lavado gástrico, ou lavado broncoalveolar ou cultura em líquor, urina… 3. Avaliação por imagem → radiografia de tórax → 50% dos bebês têm uma forma radiológica empadrão miliar (forma disseminada). a. A TB miliar ou disseminada é considerada uma forma extrapulmonar, pois há grande disseminação → mais comum em imunossuprimidos (PVHIV e RN). Sinais e sintomas no RN: (pode ser variável e inespecífica) ● Febre. ● Tosse. ● Letargia ou irritabilidade. ● Dificuldade respiratória, cianose e apneia. ● Otorréia. ● Anorexia e pouco ganho de peso + anemia. ● Vômitos, diarréia com sangue, distensão abdominal, ascite e icterícia. ● Convulsões. ● Lesões dermatológicas. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Alterações laboratoriais e de imagem: ○ Linfadenopatia. ○ Plaquetopenia. ○ Hepatoesplenomegalia. Diagnóstico: ● Critério bacteriológico: ao menos 1 amostra positiva de baciloscopia ou de cultura de TRM-TB (teste rápido molecular). ○ Independente da forma clínica. ● Critério clínico-epidemiológico: todo caso suspeito que NÃO ATENDEU AO CRITÉRIO BACTERIOLÓGICO, mas que tem resultado imagiológico ou histológico sugestivo de TB. Avaliação bacteriológica → TRM-TB → Teste Rápido Molecular para TB: diagnostica tanto TB pulmonar quanto extrapulmonar e avalia também a resistência à rifampicina. ● Amostras recomendadas: ○ Escarro ou escarro induzido → mais comum para adolescentes ou adultos. ○ Lavado broncoalveolar. ○ Lavado gástrico. ○ Líquor. ○ Gânglios. ○ Sist. linfático (punção ou macerado). ○ Macerado de tecidos. ● Resultados: ○ MTB não detectado = teste negativo para TB. ○ MTB detectado = teste positivo para TB. ■ Deve-se tratar todos com esse resultado. ○ MTB detectado traços: teste “positivo” para TB. ■ Apenas se trata o paciente se ele for PVHIV ou crianças < 10 anos ou em suspeita de TB extrapulmonar. ■ População geral com resultado de traços, se faz uma melhor avaliação do caso → clínica, história de contato, outra coleta de amostra. ○ Os exames também vem com o resultado de resistência ou não à rifampicina. Escore diagnóstico: (IMAGEM NO FINAL DO RESUMO) ● Quando fazer: ○ Crianças < 10 anos (incluindo RN). ○ Sem possibilidade de realizar o TRM-TB. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Paciente TRM-TB negativo, mas com suspeita clínica. ● No que se baseia o score: ○ Sintomas. ○ Radiografia. ○ História de contato. ○ Resultado da prova tuberculínica (PPD). ■ Importante: em crianças com estado grave, não necessariamente se precisa do resultado do PPD (que demora em torno de 72h), então se fecha o diagnóstico com os outros critérios. ■ Em crianças o PPD investiga a história de contato E diagnostica a TB ativa. ■ Problema do PPD em RN: pode haver um falso negativo, devido a imaturidade imunológica e também devido a desnutrição (se existente), por isso nesse caso os outros critérios já podem fechar o diagnóstico. ○ Estado nutricional. ● Pontuação: ○ > 40 pontos: iniciar o tratamento para TB. ○ 30 a 35 pontos: orientar o início do tratamento para TB, a critério médico. ○ < 25 pontos: prosseguir a investigação na criança para outras doenças pulmonares. Tratamento Esquema básico para o tratamento de TB pulmonar em crianças < 10 anos e com peso < 25 kg: ● Primeiro ponto: crianças < 10 anos, incluindo RN, não usam etambutol. ● RHZ: (75/50/150) 2 meses - fase intensiva. ○ Rifampicina: 75 mg. ○ Isoniazida: 50 mg. ○ Pirazinamida: 150 mg. ● RH: (75/50) 4 meses - fase de manutenção. ○ Rifampicina: 75 mg. ○ Isoniazida: 50 mg. ● Obs: para crianças < 4 kg, utiliza-se medicamentos individualizados nas seguintes doses e diluir em água para oferecer a criança. ○ Rifampicina: 10-20 mg/kg/dia. ○ Isoniazida: 7-15 mg/kg/dia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Pirimetamina: 30-35 mg/kg/dia. Modo de preparo do medicamento para as doses combinadas: 1. Dissolver os comprimidos em 50 ml de água potável (podendo ser menos, mas não < 10 ml). 2. Agitar vigorosamente a suspensão e adm a quantidade total preparada de uma só vez, imediatamente após o preparo. a. Caso a preparação não seja usada imediatamente, deverá ser descartada. 3. Os medicamentos devem ser tomados em jejum e se deve aguardar ao menos 1h para alimentar a criança. Obs: na TB óssea e ou na TB neurológica (encefálica) o tratamento deve ser por 1 ano → fase intensiva por 2 meses e fase de manutenção por 10 meses. Reações adversas menores: ● Intolerância digestiva → náuseas, vômitos e epigastralgia → Conduta: reformular o horário da medicação para 2h após o café da manhã e considerar o uso de sintomáticos + avaliar a função hepática. ● Prurido e exantema leve → mais comum à rifampicina → Conduta: orientar observação. ● Febre → Conduta: antitérmico. ● Suor ou urina avermelhada → reação à rifampicina → Conduta: orientar que é uma reação normal e que não há problema. Reações adversas maiores: ● Convulsão e icterícia. ○ Conduta → suspender a isoniazida e encaminhar para um centro de referência de TB ● Exantema importante ou hipersensibilidade de moderada a grave. ○ Conduta → suspender o tratamento e encaminhar para um centro de referência de TB. ● Hepatotoxicidade. ○ Conduta → suspender o tratamento e encaminhar para um centro de referência de TB. ● Trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia, agranulocitose e vasculite. ○ Conduta → suspender o tratamento e encaminhar para um centro de referência de TB. ● Rabdomiólise com mioglobinúria e insuficiência renal. ○ Conduta → suspender o tratamento e encaminhar para um centro de referência de TB. Obs: de forma geral as crianças toleram muito bem o tratamento da TB. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Prevenção de TB em RN Fluxograma: 1. RN coabitante de caso bacilífero. 2. Exclusão de TB ativa. 3. Iniciar quimioprofilaxia primária (R ou H → rifampicina ou isoniazida). 4. 3 meses depois realizar PPD (prova tuberculínica). 5. Se PT > 5 mm = manter o tratamento por mais 1 meses com rifampicina ou mais 3 meses com isoniazida e NÃO vacinar com BCG. 6. Se PT < 5 mm = suspender o tratamento e vacinar com BCG. Obs: o regime 3HP (isoniazida + rifamPITINA) para o tratamento de ILTB não pode ser usada em crianças < 2 anos. ATENÇÃO: ● RN inadvertidamente vacinado com BCG antes da quimioprofilaxia deve fazer uso de isoniazida por 6 meses, não estando indicada a realização da PT. ● Deve-se avaliar individualmente a necessidade de revacinar o RN com a BCG após esse período, pois a isoniazida é bactericida e pode interferir na resposta imune aos bacilos da BCG. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Escore diagnóstico @p�sitivamed
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