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Aula 2 1 - Artigo Dirceu Grasel Texto Adam Smith

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TEXTOS DIDÁTICOS 
 
 
 
 
 
 
 
Dirceu Grasel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADAM SMITH 
 
A RIQUEZA DAS NAÇÕES 
INVESTIGAÇÃO SOBRE SUA NATUREZA 
E SUAS CAUSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá-MT 
EdUFMT 
2014 
Versão 15 05 14 = versão final 
da obra de Smith para enviar a 
editora para editoração e 
posterior publicação. 
2 
 
 
3 
 
 
 
 
 
TEXTOS DIDÁTICOS 
 
 
 
 
Dirceu Grasel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADAM SMITH 
 
A RIQUEZA DAS NAÇÕES 
INVESTIGAÇÃO SOBRE SUA NATUREZA 
E SUAS CAUSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá-MT 
EdUFMT 
2014 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O 
trabalho de convencer é uma falta de 
respeito, é uma tentativa de colonização do 
outro”. 
 
 (JOSÉ SARAMAGO) 
 
 
 
5 
 
 
6 
 
 
SUMÁRIO 
 
Introdução ................................................................................................. 
Breve Biografia ................................................................................................. 
Cap. 1 - A origem da riqueza, as causas do aprimoramento das forças 
produtivas do trabalho e a distribuição da riqueza 
produzida........................................................................................ 
 
1. O princípio que dá origem à divisão do trabalho.............................. 
2. A essência/origem da riqueza: o trabalho humano e sua divisão 
em tarefas menores e menos complexas........................................ 
 
3. A divisão do trabalho limitada pela extensão do mercado............... 
 
Cap. 2 - A Troca de Mercadorias, Valor e Valor de Troca dos 
Bens................................................................................................. 
 
1. A Origem e o Uso do Dinheiro......................................................... 
2. Definição dos Preços das Mercadorias: o Preço Natural (Valor) e 
o Preço de Mercado das Mercadorias............................................. 
 
3. Fatores que Compõem o Preço das Mercadorias............................ 
4. O Preço Natural (o valor) e o Preço de Mercado das Mercadorias. 
 
Cap. 3 - Os Determinantes das Três Formas Básicas de Renda: o 
Salário, o Lucro e a Renda da 
Terra................................................................................................ 
 
1. O Salário do trabalho....................................................................... 
2. O Lucro do Capital........................................................................... 
3. Os Salários e o Lucro nos Diversos Empregos de Mão de Obra e 
de Capital......................................................................................... 
 
4. A Renda da Terra............................................................................. 
 
Cap. 4 - A Natureza, o Acumulo e o Emprego do 
Capital............................................................................................. 
 
1. O Impacto da Divisão do Trabalho sobre a Acumulação e 
Emprego do Capital.......................................................................... 
 
2. A Divisão do Capital......................................................................... 
3. O Dinheiro e sua Função de Meio de Troca de Mercadorias.......... 
4. O Dinheiro Emprestado a Juros....................................................... 
5. A Acumulação do Capital: o Trabalho Produtivo e Improdutivo...... 
6. Os Diversos Empregos do Capital................................................... 
 
Cap. 5 - O Progresso da Riqueza nas Diferentes Nações........................ 
1. O Progresso Natural da Riqueza..................................................... 
2. O Desestímulo à Agricultura na Europa, após a Queda do Império 
Romano............................................................................................ 
 
3. A Ascensão e o Progresso das Metrópoles e Cidades após a 
7 
 
 
Queda do Império Romano.............................................................. 
4. A contribuição do Comércio das Cidades para o Progresso do 
Campo.............................................................................................. 
 
 
Cap. 6 - O Sistema Mercantil ou Comercial; o Sistema Agrícola ou 
Feudal e o Livre Comércio............................................................ 
 
1. O Princípio do Sistema Mercantil ou Comercial............................... 
2. Restrições à Importação de Mercadorias Estrangeiras que Podem 
Ser Produzidas no Próprio País....................................................... 
 
3. As Restrições à Importação de Mercadorias com os Países de 
Balança Comercial Supostamente Desfavorável............................. 
 
4. Os Drawbacks.................................................................................. 
5. Os Subsídios.................................................................................... 
6. Os Tratados Comerciais.................................................................. 
7. O Comércio com as Colônias.......................................................... 
 
Cap. 7 - A Natureza e as Causas da Riqueza das Nações: uma Crítica 
aos Fisiocratas............................................................................... 
 
1. O Pensamento Dominante dos Fisiocratas...................................... 
2. O Pensamento de Adam Smith........................................................ 
 
Cap. 8 - A Receita do Estado e Suas Funções.......................................... 
1. Os Gastos do Estado....................................................................... 
2. Os Gastos com Defesa.................................................................... 
3. Os Gastos com Justiça.................................................................... 
4. Os Gastos com Obras e Instituições Públicas................................. 
5. As Fontes da Receita Geral ou Públicas da Sociedade................... 
6. As Dívidas Públicas.......................................................................... 
 
Cap. 9 - O Esquema Básico das Contribuições de Adam Smith............. 
1. A Natureza das Pessoas e a Mão Invisível...................................... 
2. Os Fatores Responsáveis pela Riqueza das Nações...................... 
3. Distribuição da Renda, Poupança e a Acumulação do 
Capital.............................................................................................. 
 
4. A Riqueza é Gerada nos Três Setores da Economia...................... 
 
Bibliografia ......................................................................................................... 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
Prefacio 
 
9 
 
 
Introdução 
 
 
Este texto apresenta as principais contribuições dos principais economistas em 
formato de textos didáticos, com a finalidade de facilitar a compreensão do 
conteúdo para os alunos de graduação de economia, sem ser excessivamente 
sucinto de forma a perder contribuições importantes, ao mesmo tempo em que 
procura apontar questões que foram objeto de discussões posteriores. 
Portanto, não se trata de texto original, muito menos um texto com objetivos 
comerciais. A única pretensão é transcrever as contribuições do autor de forma 
mais didática, para facilitar aos alunos de graduação o primeiro contato com os 
principais economistas das principais escolas do pensamento econômico, sem 
contudo, substituir a leitura dos originais. Portanto, este texto não apresenta 
nenhuma contribuição teórica do autor, trata-se apenas de um texto didático 
com uma finalidade específica. 
Este também é o motivo do elevado uso de transcrições literais, sempre que o 
autor entendeu que esta é fundamental para dar a segurança necessária ao 
leitor de que o texto retrata de forma fiel as ideias dos autores originais. 
Contudo, como se trata de um texto didático, as próprias transcrições literais 
geralmentevêm acompanhadas de notas explicativas. 
Considerando que a maioria dos trabalhos semelhantes aborda o conjunto da 
obra dos autores e outras obras que interpretam os originais, com exceção da 
breve biografia sobre o autor, os texto sempre se baseia exclusivamente na 
leitura da obra original e diretamente relacionada com as ciências econômicas, 
tornando-se uma interpretação baseada exclusivamente no original. 
Merece destaque que este texto não dispensa a leitura do texto original, pois se 
trata apenas de um texto didático que tem a finalidade de introduzir os alunos 
que tem dificuldades para ler o original, sem nenhuma pretensão de ser 
referencia a estudos avançados ou de proporcionar contribuições ao debate. 
 
10 
 
 
ADAM SMITH (1723-1790) 
 
 
 
i) Breve revisão biográfica baseada em Heilbroner (1996); Stewart (2002); 
Schumpeter (1964) e Fritsch (1996). 
O economista e filósofo escocês Adam Smith, nasceu em junho de 17231, na 
cidade de Kirkcaldy, Condado de Fife, na Escócia. Sem pai, que faleceu 
poucos meses antes do seu nascimento, aos três anos de idade foi 
sequestrado por ciganos, mas graças aos esforços do seu tio, o bando foi 
localizado na floresta de Leslie e Smith retornou à sua família. 
Desde pequeno mostrou-se bom aluno e talentoso para ensinar. Num ambiente 
em que instrução era exceção, Smith passou anos sem instrução formal, lendo 
tudo que teve acesso. Da escola primária em Kirkaldy, foi enviado para 
Universidade de Glasgow, em 1737, onde se tornou discípulo do professor de 
filosofia moral, Francis Hutcheson, e permaneceu até 1740, quando aos 
dezessete anos de idade recebeu uma bolsa de estudos e foi para Baliol 
College2, em Oxford. 
Em 1751, com 28 anos incompletos, passou a ensinar Lógica na Universidade 
de Glasgow e no ano seguinte recebeu a cátedra de Filosofia Moral na mesma 
Universidade, onde permaneceu por treze anos. Smith se distinguia pelo zelo e 
habilidade como orador. A sua reputação como professor se espalhou e 
pessoas da vários lugares se deslocavam de grandes distâncias apenas para 
vê-lo. Entre os alunos era popular e seu trabalho era reconhecido. Em 1958 
tornou-se decano3. 
Em 1759 publicou o livro “Teoria dos Sentimentos Morais” onde apresentou a 
base da sua filosofia moral e a ordem natural da sociedade, que despertou 
amplo interesse e consolidou sua fama e importância como autor, acadêmico e 
filósofo4. O referido livro também despertou interesse em Charles Townshend, 
ministro das finanças Inglês que o convidou para ser tutor do filho de sua 
 
1
 Data provável, pois foi registrado no dia 05 de junho de 1723. 
2 O Baliol College, fundado em 1263, é uma das instituições de ensino superior constituintes 
da Universidade de Oxford no Reino Unido. 
3
 Geralmente é o mais antigo dos membros da congregação de professores, representa os 
interesses da faculdade, contrata professores e atua na regulamentação de cursos e exames. 
4 Foi professor na Universidade de Glasgow entre 1751 e 1764, onde ocupou também a função 
de Reitor da Universidade. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AdamSmith.jpg
11 
 
 
mulher, viúva do duque de Buccleuch, com que se casara. A tutoria dos filhos 
da nobreza consistia principalmente em viagens pela Europa com o propósito 
de complementar sua formação. 
Esta tarefa lhe rendeu trezentas libras anuais vitalícias e ressarcimento das 
despesas. Esta proposta era irrecusável, muito mais atraente e remuneração 
bem maior do que as cento e setenta libras anuais que conseguia como 
professor. 
A viagem iniciou em 1764 com destino para Toulouse/França onde 
permaneceram por cerca de um ano. Com duração de mais de dois anos 
incluiu também o sul da França, Genebra e Paris, onde conheceu e interagiu 
com pessoas de reconhecida importância e conhecimento, como Ferney 
Voltaire, David Hume, Turgot e com François Quesnay, o mais destacado e 
influente membro do pensamento fisiocrata e maior economista Francês da 
época. 
Seus debates com David Hume e Quesnay foram muito produtivos e levaram 
ao início de um novo projeto, hoje conhecido como “A Riqueza das Nações: 
investigação sobre sua natureza e suas causas”, publicada em 1776, quando já 
havia retornado para sua terra natal e lá permanecido por aproximadamente 10 
anos desde sua viagem como tutor. Quesnay e os fisiocratas se opunham ao 
pensamento mercantilista que considerava que a riqueza consistia na 
acumulação de metais preciosos, especialmente o ouro e a prata e defendiam 
que uma forte intervenção do Estado na economia favorecia este propósito. 
Smith entendia que o pensamento fisiocrata era o que havia de mais próximo 
da realidade. Enaltecia principalmente a política do laissez-faire, contudo, não 
aceitava as ideias sobre a essência da origem da riqueza. Para os fisiocratas 
apenas os trabalhadores agrícolas geravam a riqueza, os trabalhadores 
alocados nas indústrias e no comércio apenas alteravam a sua forma, eram 
estéreis, contudo, necessários. 
Para Adam Smith o trabalho humano poderia criar riquezas em todos os 
setores da economia, agricultura, indústria e comércio. Perceber que no 
trabalho humano e não na natureza (agricultura) são encontradas as 
explicações para a essência da riqueza representou um ponto de partida que 
distanciou suas contribuições da dos fisiocratas na sua principal obra, a “A 
Riqueza das Nações”. 
Dois anos depois da publicação do livro “A Riqueza das Nações”, Smith foi 
nomeado Diretor da Alfândega de sua Majestade em Edimburgo, na Escócia. 
Sempre em companhia de sua mãe, que faleceu aos noventa e dois anos de 
idade em 1784, Smith viveu uma vida sossegada de solteiro, conheceu 
reconhecimento acadêmico e intelectual, querido por sua mãe e amigos, que o 
consideravam extraordinariamente amigável e generoso. 
Faleceu aos 67 anos, em 17 de julho de 1790, deixando grande legado para a 
filosofia e a ciência econômica. Sua obra é considerada como a origem da 
economia como ciência, uma das obras mais influentes no mundo ocidental, 
que o tornou conhecido como pai da economia moderna e o mais importante 
teórico do liberalismo econômico. "A Riqueza das Nações" lançou as bases do 
liberalismo econômico, como a teoria da livre concorrência e o conceito de livre 
mercado. 
12 
 
 
 
ii) Introdução à Riqueza das Nações: 
Sobre a principal preocupação que envolveu os esforços de Adam Smith, 
podemos afirmar que, embora seja difícil limitar suas contribuições a uma ideia 
central, existe um relativo consenso de que a principal preocupação é com o 
crescimento econômico em longo prazo e a forma como esta riqueza é 
distribuída entre as classes sociais na forma de salários, lucros e aluguéis ou 
rendas afetava este crescimento. 
No primeiro livro, Smith apresenta os elementos que levam ao aprimoramento 
das forças produtivas do trabalho e a forma pelo qual a produção é 
naturalmente distribuída entre as diferentes classes sociais e membros da 
sociedade. 
O segundo livro trata da natureza do capital, de sua acumulação e do emprego 
de mão de obra decorrente. 
O terceiro livro apresenta as diferentes políticas ou estratégias do emprego de 
capital e trabalho, suas teorias decorrentes e as circunstâncias que 
estabeleceram essas políticas ou estratégias. 
O quarto livro Adam Smith detalha as diferentes teorias, as circunstâncias em 
que foram implementadas e os principais efeitos produzidos nas diversas 
épocas e nações. 
O quito livro trata das receitas e despesas dos Estados, quais são as despesas 
necessárias e quem deve cobrir ou arcar com estas despesas. 
 
13 
 
 
CAPÍTULO I 
 
A origem da riqueza, as causas do aprimoramento das 
forças produtivas do trabalho e a distribuição da 
riqueza produzida. 
 
1 – O princípio que dá origem à divisão do trabalho 
A divisão do trabalho, a qual Smith atribui tanta importância, não é fruto da 
sabedoria humana qualquer, mas de tendência ou propensão existente na 
natureza humana. Esta propensãose encontra em todos os homens, e 
somente neles. A permuta é da natureza humana. O homem é um ser social, 
necessita de ajuda ou cooperação do semelhante e é inútil esperar esta ajuda 
da benevolência alheia. Ele terá mais sucesso mostrando que tem a 
possibilidade de ajudá-lo também (ajuda mútua), mostrando que o outro terá 
vantagem ao realizar uma troca. 
 
Dê-me aquilo que eu quero, e você terá isto aqui, que você quer - 
esse é o significado de qualquer oferta deste tipo; e é dessa forma 
que obtemos uns dos outros a grande maioria dos serviços de que 
necessitamos. (...) Não é da benevolência do açougueiro, do 
cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da 
consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos a 
não a sua humanidade, mas sua autoestima, e nunca lhes falamos 
das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão 
para ele (SMITH, 1996, v. 1, p. 74). 
 
 
Segundo Smith, é desta propensão ou tendência a permutar que resulta a 
divisão do trabalho. A certeza de que pode permutar o trabalho que excede seu 
consumo estimula cada um a dedicar-se a uma única atividade e “a cultivar e 
aperfeiçoar todo e qualquer talento ou inclinação que possa ter por aquele tipo 
de ocupação ou negócio” (SMITH, 1996, v. 1, p. 75). Este processo, isto é, a 
divisão do trabalho leva, a um patrimônio comum, ao aprimoramento ou 
aperfeiçoamento na ocupação escolhida, que parece resultar muito mais de 
hábitos, costumes, educação ou formação do que de talentos naturais. 
 
2 – A essência/origem da riqueza: o trabalho humano e sua divisão em 
tarefas menores e menos complexas 
Para Adam Smith, discordando dos Mercantilistas e Fisiocratas, a 
essência/origem da riqueza está no trabalho humano. É o trabalho anualmente 
empregado que constitui o fundo de suprimento de todas as necessidades 
humanas. Contudo, a riqueza gerada pelo trabalho humano pode ser maior ou 
menor de acordo com a eficiência em que este é empregado, ou seja, pelos 
fatores que levam a ampliação da produtividade ou quantidade produzida. 
1.1) Portanto, o produto gerado pelo trabalho humano pode ser maior ou menor 
de acordo com os seguintes aspectos: 
14 
 
 
i) A divisão do trabalho: decisivo para entender o aprimoramento das forças 
produtivas, por ampliar a produtividade do trabalho. 
 
“O maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e a maior 
parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é 
em toda parte dirigido ou executado parece ter sido resultado da 
divisão do trabalho” (SMITH, 1996, v 1, p. 65). 
 
A divisão do trabalho resulta da tendência natural do homem para a troca, 
proporciona aumento de produtividade, que resulta do: 
a) aumento da destreza pessoal, ocasionada pela execução de apenas uma 
tarefa ou subtarefa em um processo de aprimoramento constante. 
A divisão do trabalho, reduzindo a atividade de cada pessoa a 
algumas operações simples e fazendo dela o único emprego de sua 
vida, necessariamente aumenta muito a destreza do operário 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 68). 
 
b) economia de tempo, a execução de apenas uma tarefa ou subtarefa 
elimina movimentos e desperdícios de tempo, pois não há troca de ferramentas 
e deslocamentos, especialmente com a introdução das linhas da produção. 
É impossível passar com muita rapidez de um tipo de trabalho para 
outro, porque este é executado em lugar diferente e com ferramentas 
muito diversas. (SMITH, 1996, v. 1, p. 68). 
 
c) Favorece invenções e/ou aperfeiçoamento, de máquinas e equipamentos 
pelos trabalhadores ou não5, com o propósito de simplificar tarefas e/ou poupar 
esforços. Em função da divisão do trabalho, toda atenção do trabalhador é 
voltada para um único objeto muito simples. 
A invenção de todas essas máquinas que tanto facilitam e abreviam o 
trabalho parece ter sua origem na divisão do trabalho. As pessoas 
têm muito maior probabilidade de descobrir com maior facilidade e 
rapidez métodos para atingir um objetivo quando toda a sua atenção 
está dirigida para esse objeto único, do que quando a mente se 
ocupa com uma grande variedade de coisas. (SMITH, 1996, v. 1, p. 
69). 
 
Para mostrar a importância da divisão do trabalho no aprimoramento das forças 
produtivas (produtividade) e na geração de riquezas, Smith ilustra o caso de 
uma pequena fábrica de alfinetes, que é integralmente transcrito por se tornar 
um exemplo clássico na literatura econômica. 
 
Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito 
pequena, mas na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido 
notada: a fabricação de alfinetes. Um operário não treinado para essa 
 
5
 As inovações podem ser resultantes de ideias dos próprios trabalhadores, com a finalidade de 
facilitar seu trabalho. O seu desenvolvimento pode também advir de um ofício ou profissão 
específica, aos quais Smith denomina de filósofos ou pesquisadores, que destinam seu tempo 
para esta tarefa. 
15 
 
 
atividade (que a divisão do trabalho transformou em uma indústria 
específica) nem familiarizado com a utilização das máquinas ali 
empregadas (cuja invenção provavelmente também se deveu à 
mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar um 
único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de 
qualquer forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, 
da forma como essa atividade é hoje executada, não somente o 
trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido 
em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte 
também constitui provavelmente um ofício especial. Um operário 
desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto 
faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da 
cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 
ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade 
diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos 
alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a 
importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em 
aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas 
manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, 
em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. Vi uma 
pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados, e na 
qual alguns desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, 
embora não fossem muito hábeis, e, portanto, não estivessem 
particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, 
quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por 
dia. Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho 
médio. Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiam produzir 
entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada 
pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se 
considerar que cada uma produzia 4.800 alfinetes diariamente. Se, 
porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem 
que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, 
certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes 
por dia, e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certeza não conseguiria 
produzir a 240ª parte, e talvez nem mesmo a 4 800ª parte daquilo que 
hoje são capazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão 
do trabalho e combinação de suas diferentes operações (SMITH, 
1996, v. 1, p. 65-66). 
 
Fayol6 e Taylor7, pioneiros da administração, aprimoram e aplicam estes 
conceitos desenvolvidos por Adam Smith e o modelo Fordista8 aperfeiçoa na 
prática estas técnicas de gestão e produção no início do século XX. 
 
6 Jules Henri Fayol (1841/1925), engenheiro de minas Francês, teórico fundador da Teoria 
Clássica de Administração, com uma visão gerencial direcionou seus esforços para a empresa 
como um todo. 
7
 Frederick Winslow Taylor (1856/1915) engenheiro mecânico Americano é conhecido como ofundador da Administração Científica. 
8 O engenheiro americano Henry Ford, fundou a Ford Motor Co; em 1903 e adotou três 
princípios básicos de gestão que ficaram conhecidos como modelo Fordista: 1) Principio da 
intensificação: diminuir o tempo da produção, comercialização e emprego imediato dos 
equipamentos e da matéria-prima. 2) Principio da economicidade: aumento da velocidade de 
produção, como objetivo de reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima, criando 
um ciclo produção/comercialização menor que o prazo de pagamento da matéria-prima e dos 
salários, o que permite financiar as atividades da empresa (capital de giro) com recursos de 
terceiros a custo zero ou reduzido. 3) Principio da produtividade, aumento da produtividade do 
trabalho, por meio da especialização e da linha de montagem. 
 
16 
 
 
Desta forma, cada trabalhador produz certa quantidade de um tipo de bem com 
o seu trabalho. O que permite que cada um possa trocar o seu excedente por 
outras mercadorias produzidas por outros trabalhadores e que ele necessita, 
mas não produz. Através das trocas, todos podem satisfazer suas 
necessidades, o que leva a difusão de uma abundância geral de bens para 
todas as camadas da sociedade, resultante do aumento da produtividade 
decorrente. Isto não aconteceria sem a propensão à troca, pois cada pessoa 
teria que se dedicar a produzir tudo que lhe seria necessário ou conveniente. 
 
ii) O produto gerado pelo trabalho humano também é influenciado pela 
proporção do emprego de trabalhadores produtivos em relação aos 
trabalhadores improdutivos: 
Para Adam Smith, trabalho produtivo é todo esforço ou trabalho humano que 
resulta na criação de bens materiais, exemplo, cadeira, mesa, etc. Todos os 
demais trabalhadores que não produzem bens materiais são considerados 
improdutivos. Neste sentido, todos os serviços dos médicos, advogados, 
economistas, sacerdotes, professores, pesquisadores, intelectuais, etc são 
classificados como trabalho improdutivo. Contudo, trabalho improdutivo não 
tem a conotação de trabalho inútil, desnecessário ou negativo, este é essencial 
no processo de criação da riqueza. Representa apenas um instrumental 
analítico que permite entender a realidade e para mostrar como a riqueza é 
gerada. 
Embora represente uma evolução em relação ao conceito do pensamento 
Fisiocrata, este conceito continua insuficiente para entender o processo no 
contexto atual, tendo em vista que, por exemplo, médicos, nutricionistas com 
ações preventivas podem ampliar a produtividade e, portanto, inclusive ampliar 
a geração de riquezas materiais. De outro lado, pesquisas que aprimorem o 
processo produtivo através de novos procedimentos ou novas tecnologias, por 
exemplo, novas máquinas, podem ter o mesmo efeito sobre a criação de 
riquezas, sejam materiais ou não. 
Segundo Smith, existe um limite de divisão de tarefas nas pequenas indústrias 
e, portanto, na ampliação da produtividade do trabalho. O mesmo não se 
verifica nas grandes indústrias que são viabilizadas pela existência de grandes 
mercados, em que o trabalho pode ser dividido em um grande número de 
tarefas menores, o que resulta em maiores ganhos de produtividade. O fato de 
Smith visualizá-la numa pequena indústria se justifica pelo que segue: 
 
Embora, portanto, nessas manufaturas maiores, o trabalho possa ser 
dividido em um número de partes muito maior do que nas 
manufaturas menores, a divisão do trabalho não é tão óbvia, de 
imediato, e por isso tem sido menos observada. (SMITH, 1996, v. 1, 
p. 65). 
 
 
3 – A divisão do trabalho limitada pela extensão do mercado 
Quanto maior o mercado, maior a divisão do trabalho. Para um mercado muito 
restrito, a divisão do trabalho tende a ser pouco desenvolvida, isto é, o produtor 
17 
 
 
tende a dedicar-se a mais de uma tarefa, caso contrário não conseguiria 
permutar toda a produção. 
 
Como é o poder de troca que leva à divisão do trabalho, assim a 
extensão dessa divisão deve sempre ser limitada pela extensão (...) 
do mercado. (...) Nas casas isoladas e nas minúsculas aldeias 
espalhadas pelas regiões montanhosas da Escócia, cada camponês 
deve ao mesmo tempo ser açougueiro, padeiro e fabricante de 
cerveja de sua própria família (SMITH, 1996, v. 1, p. 77). 
 
Fazendo uma comparação ao transporte terrestre, Smith mostra que o 
desenvolvimento do transporte fluvial amplia as possibilidades da divisão do 
trabalho, pois ampliam significativamente o mercado no qual os produtos 
podem ser vendidos. Este tipo de transporte, mais seguro, rápido e barato, 
explica porque o desenvolvimento da divisão do trabalho se deu primeiro na 
costa marítima e ao longo dos rios navegáveis e somente depois se entendem 
ao interior dos países. Smith afirma que sem o transporte fluvial o comércio 
entre regiões distantes da terra seria pequena ou quase nula e recorre ao 
seguinte exemplo para ilustrar esta ideia. 
 
Uma carroça de rodas largas, servida por dois homens e puxada por 
oito cavalos, leva aproximadamente seis semanas para transportar de 
Londres a Edimburgo — ida e volta — mais ou menos 4 toneladas de 
mercadoria. Mais ou menos no mesmo tempo um barco ou navio 
tripulado por seis ou oito homens, e navegando entre os portos de 
Londres e Leith, muitas vezes transporta — ida e volta — 200 
toneladas de mercadoria. Portanto, seis ou oito homens, por 
transporte aquático, podem levar e trazer, no mesmo tempo, a 
mesma quantidade de mercadoria entre Londres e Edimburgo que 
cinquenta carroças de rodas largas, servidas por 100 homens e 
puxadas por 400 cavalos. Para 200 toneladas de mercadorias, 
portanto, transportadas por terra de Londres para Edimburgo, é 
necessário pagar a manutenção de 100 homens durante três 
semanas, e o desgaste e a mobilização de 400 cavalos, mais o de 50 
carroças de rodas largas. Ao contrário, essa mesma quantidade de 
mercadorias, se transportada por hidrovia, será onerada apenas pela 
manutenção de 6 ou 8 homens, e pelo desgaste e movimentação de 
um navio ou barco com carga de 200 toneladas, além do valor do 
risco maior, ou seja, a diferença de seguro entre esses dois sistemas 
de transporte (SMITH, 1996, v. 1, p. 78). 
 
 
Portanto, a extensão dos mercados, isto é as vantagens decorrentes do 
transporte fluvial, que permitem a ampliação da divisão do trabalho, explicam 
os primeiros desenvolvimentos das artes, da manufatura e a densidade 
demográfica das regiões próximas da costa marítima e ao longo dos rios 
navegáveis e o pouco desenvolvimento em outras regiões ou no interior dos 
países. Para ilustrar esta ideia recorre às primeiras civilizações e as colônias 
norte americanas. 
 
Em nossas colônias norte-americanas, as plantações sempre 
acompanharam a costa marítima ou as margens dos rios navegáveis, 
e dificilmente se distanciaram muito dessas vias de transporte. 
Segundo a História bem documentada, as primeiras nações a serem 
18 
 
 
civilizadas foram obviamente as localizadas ao redor da costa do 
Mediterrâneo (SMITH, 1996, v. 1, p. 79). 
 
 
Em síntese, segundo Smith, a divisão do trabalho resulta da tendência nata do 
ser humano para a troca e seu limite está na extensão dos mercados. Portanto, 
a tendência natural às trocas do ser humano induz a divisão do trabalho, pois 
ela permite a ampliação da produtividade, que encontra seus limites na 
extensão dos mercados. Sendo assim, é preciso ampliar os mercados para 
alavancar o aprimoramento das forças produtivas do trabalho e a riqueza 
produzida decorrente. 
A divisão de trabalho geralmente atinge níveis maiores nos países 
desenvolvidos do que em países subdesenvolvidos, que geralmente limitam 
suas atividades econômicas a indústrias pouco desenvolvidas e a agricultura. 
“A natureza da agricultura não comporta tantas subdivisões do trabalho, nem 
uma diferenciação tão grande de uma atividade para outra, quanto ocorre nas 
manufaturas” (SMITH, 1996, v. 1, p. 67). Razão pela qual o aprimoramento das 
forças produtivas na agricultura não acompanhao da manufatura. 
Na agricultura, o trabalho de um país rico nem sempre é muito mais 
produtivo do que o dos países pobres, ou, pelo menos, nunca é mais 
produtivo na mesma proporção em que o é, geralmente, nas 
manufaturas. (...) Todavia, embora um país pobre, não obstante a 
inferioridade no cultivo das terras, possa, até certo ponto, rivalizar 
com os países ricos quanto aos baixos preços e à qualidade do trigo, 
jamais poderá enfrentar a competição no tocante às suas 
manufaturas (SMITH, 1996, v. 1, p. 67). 
 
 
19 
 
 
CAPÍTULO II 
 
A Troca de Mercadorias, Valor e Valor de Troca dos 
Bens 
 
1 – A Origem e o Uso do Dinheiro 
Com a implementação plena da divisão do trabalho, apenas uma parte 
reduzida das necessidades de cada um passa a ser atendida pelo seu próprio 
trabalho. A grande maioria das necessidades das pessoas passa a ser 
atendida pelo trabalho de outras pessoas, que é adquirida pela troca dos bens 
e serviços por ele produzidos que excede as suas necessidades (excedente de 
produção) pelos produzidos em excesso por outras pessoas. Assim se 
estabelece a “sociedade comercial” em que todo homem subsiste por meio da 
troca. 
Contudo, no início, estas trocas devem ter encontrado alguns empecilhos. 
Mesmo que ambas tivessem algum excedente, a troca não seria possível caso 
uma das duas não possuísse o que a outra necessitava. Smith cita o exemplo 
do açougueiro, do cervejeiro e padeiro que tem produtos excedentes, onde o 
cervejeiro e o padeiro necessitam da carne, mas o açougueiro já possui pão e 
cerveja. Neste caso não poderia haver troca entre eles, pois não faria sentido 
ao açougueiro trocar algo por outra que já possui. Esta é uma limitação do 
comércio praticado pela troca de mercadoria por mercadoria, denominada de 
escambo. 
Para evitar tais inconvenientes, todo pessoa prudente deveria ter certa 
quantidade de alguma mercadoria que dificilmente seria recusada em troca do 
seu excedente. Muitas mercadorias passaram a exercer este papel, isto é, a 
função de equivalente geral ou primeiras moedas de troca. Na época das 
sociedades primitivas o gado assumiu este papel. O sal, bambu, batalhão seco, 
fumo, o açúcar, peles e couros preparados e pregos também foram utilizados 
como equivalente geral em alguma época e local. 
Contudo, embora os equivalentes gerais ou moedas mencionadas acima 
tenham resolvido alguns problemas, estas ainda não apresentavam as 
características necessárias de uma moeda como a conhecemos hoje em dia. 
Estas características são a divisibilidade a durabilidade e fácil transporte. 
Nenhuma delas apresenta todas estas características: O gado, de fácil 
transporte, tem dificuldade para ser dividido, sendo assim a troca de sal por 
gado exigiria a aquisição de uma quantidade de sal muito acima da necessária. 
O próprio sal também apresenta suas limitações, tendo em vista que, apesar 
de ser facilmente divisível, apresenta dificuldade no transporte e na 
durabilidade. Considerando as condições de armazenagem da época, não 
seria exagero supor que seria muito provável que se chegasse sem moeda no 
destino, especialmente se chovesse no caminho. 
Embora não de forma plena, estas moedas cumpriram com o seu papel 
enquanto as trocas eram realizadas a curtas distâncias, denominadas de 
comércio local ou regional. Contudo, com o surgimento do comércio de longas 
20 
 
 
distancias não seria possível caso não se encontrasse uma moeda aceitas em 
todas as regiões. Por exemplo, o comércio com a China não seria possível 
propondo-se o bambu como moeda de troca. Sendo assim: 
 
(...) ao que parece, em todos os países as pessoas acabaram sendo 
levadas por motivos irresistíveis a atribuir essa função de instrumento 
de troca preferivelmente aos metais, acima de qualquer outra 
mercadoria. Os metais apresentam a vantagem de poderem ser 
conservados, sem perder valor, com a mesma facilidade que 
qualquer outra mercadoria, por ser difícil encontrar outra que seja 
menos perecível; não somente isso, mas podem ser divididos, sem 
perda alguma, em qualquer número de partes, já que eventuais 
fragmentos perdidos podem ser novamente recuperados pela fusão 
— uma característica que nenhuma outra mercadoria de durabilidade 
igual possui, e que, mais do que qualquer outra, torna os metais 
aptos como instrumentos para o comércio e a circulação (SMITH, 
1996, v. 1, p. 82). 
 
Os metais preciosos, especialmente o ouro e prata, inicialmente eram utilizadas 
em barras brutas, sem gravação e sem cunhagem. Smith afirma que o uso dos 
metais neste estado apresentava dois inconvenientes: o da pesagem e o da 
verificação da autenticidade ou qualidade. Uma pequena diferença na 
quantidade do metal precioso representava uma grande diferença em termos 
de valor, o que gerava insegurança nas trocas e exigia peso e balança muito 
exata para evitar fraudes. 
Diante da impossibilidade de garantir que a barra de metal contivesse a 
quantidade de metal precioso que deveria conter e do aumento das fraudes 
praticadas, especialmente com a raspagem de metal e com a substituição por 
metais menos nobres considerou-se necessário que cada país fizesse uma 
gravação oficial, momento em que surgem as cunhagens e as casas da 
moeda, que passaram a garantir a quantidade e qualidade uniforme dos meios 
de troca, evitavam tais abusos, facilitando as trocas e estimulando todo tipo de 
indústria e comércio. 
As primeiras cunhagens não resolveram o problema na sua totalidade, pois a 
cunhagem era parcial, geralmente em um dos lados, o que garantia apenas 
sua qualidade ou o quilate da moeda, mas não peso do metal. Os fraudadores 
logo perceberam que a raspagem da moeda no lado não cunhado seria de 
difícil percepção. Como a cunhagem de apenas um dos lados não cobria toda a 
superfície do metal, não se tinha nenhuma garantia de que a moeda continha a 
quantidade de metal precioso que deveria conter. Este fato logo levou as 
instituições responsáveis pela sua emissão a cunhar os dois lados da moeda e 
suas extremidades, visando garantir não somente o quilate, mas também o 
peso do metal contido nela. 
Contudo, com o tempo a ganância e a injustiça dos príncipes e Estados 
soberanos foram diminuindo gradualmente a quantidade real de metal precioso 
que a moeda continha originalmente. 
 
Aparentemente, mediante essas operações, os príncipes e os 
Estados soberanos foram capazes de pagar suas dívidas e cumprir 
seus compromissos, com uma quantidade de prata menor do que 
teria sido necessária em caso de não se alterarem os valores das 
21 
 
 
moedas; digo apenas aparentemente, pois seus credores foram 
realmente fraudados de uma parte do que lhes era realmente devido. 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 85). 
 
Ao encerra seu capitulo sobre a origem e o uso do dinheiro, Smith introduz 
outra questão central do seu trabalho. Quais são as normas que as pessoas 
observam ao trocar suas mercadorias por dinheiro ou por outra mercadoria? 
Esta regra denominou de valor relativo ou valor de troca de bens. 
 
2 – Definição dos Preços das Mercadorias: o Preço Natural (Valor) e o 
Preço de Mercado das Mercadorias 
A questão central que Smith procura esclarecer neste item é quais são as 
normas que as pessoas observam ao trocar suas mercadorias por dinheiro ou 
por outras mercadorias, que ele denomina de valor relativo ou valor de troca 
dos bens. Qual é a regra que determina o quanto de um produto se deve trocar 
por outro? O autor deixa um alerta de que o assunto é abstrato e complexo: 
Portanto pretende: 
1) Esclarecer qual é o critério ou medida real do valor de troca, ou seja, em que 
consiste o preço real de todas as mercadorias; 
2) Detalhar as diferentes partes ou componentes que constituem o preço real 
(valor de troca); 
3) Identificar as causas que ás vezes impedem o preço de mercado, isto é o 
preço efetivo das mercadorias, de coincidir exatamente com o que denomina 
de preço natural? 
Para Smith, a palavra valor tem dois significados: o primeiro designa a 
utilidade do objeto ou seuvalor de uso e o segundo define o poder que este 
objeto tem para comprar outras mercadorias ou o seu valor de troca. 
A riqueza do homem está associada com sua capacidade em desfrutar das 
coisas necessárias ou convenientes que lhe proporcionam os prazeres da vida. 
Contudo, com a divisão do trabalho, a maior parte das necessidades das 
pessoas passa a ser atendida pelo resultado do trabalho dos outros. Sendo 
assim: 
O homem será então rico ou pobre, conforme a quantidade de serviço 
alheio que está em condições de encomendar ou comprar. Portanto, 
o valor de qualquer mercadoria, para a pessoa que a possui, mas não 
tenciona usá-la ou consumi-la ela própria, senão trocá-la por outros 
bens, é igual à quantidade de trabalho que essa mercadoria lhe dá 
condições de comprar ou comandar (SMITH, 1996, v. 1, p. 87). 
 
 
 
Portanto, o custo (preço real) das mercadorias para quem as adquire é o 
trabalho e o incômodo que a pessoa pode poupar a si mesmo e impor a outros. 
 
O que é comprado com dinheiro ou com bens é adquirido pelo 
trabalho, tanto quanto aquilo que adquirimos (produzimos)
9
 com o 
nosso próprio trabalho. Aquele dinheiro ou aqueles bens (que 
 
9
 Os textos entre parêntese foram incluídos pelo autor. 
22 
 
 
podemos comprar) na realidade nos poupam este trabalho. Eles 
contêm o valor de certa quantidade de trabalho que permutamos por 
aquilo que, na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade 
igual (de trabalho). O trabalho foi o primeiro preço, o dinheiro de 
compra original que foi pago por todas as coisas (SMITH, 1996, v. 1, 
p. 87). 
 
Portanto, o trabalho é a essência do valor e da riqueza. 
Não foi por ouro ou por prata, mas pelo trabalho, que foi 
originalmente comprada toda a riqueza do mundo; e o valor dessa 
riqueza, para aqueles que a possuem, e desejam trocá-la por novos 
produtos, é exatamente igual à quantidade de trabalho que essa 
riqueza lhes dá condições de comprar ou comandar (poder de 
compra)
10
. (...) Consequentemente, o trabalho é a medida real do 
valor de troca de todas as mercadorias
11
. (SMITH, 1996, v. 1, p. 
87-88). 
 
“O trabalho é o preço real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço 
nominal delas” (SMITH, 1996, v. 1, p. 90), pois este (o trabalho) é a única 
medida invariável de valor. 
Contudo, embora o trabalho seja a melhor forma ou medida do valor de troca, 
isto é, a melhor norma que as pessoas podem usar para efetuar a troca de 
suas mercadorias por dinheiro ou por outras mercadorias (denomina de valor 
relativo ou valor de troca dos bens): 
1) “Deve-se levar em conta também os graus diferentes de dificuldade e de 
engenho empregados nos respectivos trabalhos” (SMITH, 1996, v. 1, p. 88). 
 
Muitas vezes é difícil determinar com certeza a proporção entre duas 
quantidades diferentes de trabalho. Não será sempre só o tempo 
gasto em dois tipos diferentes de trabalho que determinará essa 
proporção. (...) Pode haver mais trabalho em uma tarefa dura de uma 
hora do que em duas horas de trabalho fácil; como pode haver mais 
trabalho em uma hora de aplicação a uma ocupação que custa dez 
anos de trabalho para aprender, do que em um trabalho de um mês 
em uma ocupação comum e de fácil aprendizado. (...) Não é fácil 
encontrar um critério exato para medir a dificuldade ou o engenho 
exigidos por determinado trabalho (SMITH, 1996, v. 1, p. 88). 
 
2) Na prática não é o trabalho a medida de valor de troca de todas as 
mercadorias. Na vida real é difícil fazer a distinção das especificidades do 
trabalho necessário para produzir as mercadorias, sendo assim costuma-se 
considerar uma margem para os dois fatores (dificuldade do trabalho e 
engenho exigido), que é ajustada pela pechincha (processo de negociação), 
que embora não seja exata, é suficiente para proporcionar as trocas de forma 
satisfatória. No dia a dia é mais comum estimar o valor de troca de uma 
mercadoria pela quantidade de outra mercadoria ou por dinheiro - quando este 
se torna comum -, do que por trabalho. 
Entretanto, o ouro e a prata (o dinheiro da época), como qualquer outra 
mercadoria, também variam de valor e dependem da escassez ou abundância 
das minas. Por exemplo, quando é necessário menos trabalho para extrair 
 
10 O texto entre parêntese foi incluído pelo autor. 
11
 Grifo do autor. 
23 
 
 
estes metais das minas e coloca-los no mercado, seu valor diminui e, em 
função disso, menor é a quantidade de trabalho que será possível comprar ou 
comandar com a moeda corrente (ouro e prata). Portanto, as mercadorias, 
todas elas, inclusive o ouro e a prata, mudam constantemente de valor e não 
podem ser consideradas como medida exata ou invariável de valor e, 
consequentemente, não se pode atribuir a elas a função de medida real de 
valor de troca. 
 
Sempre e em toda parte valeu este princípio: é caro o que é difícil de 
se conseguir, ou aquilo que custa muito trabalho para adquirir, e é 
barato aquilo que pode ser conseguido facilmente ou com muito 
pouco trabalho. Por conseguinte, somente o trabalho, pelo fato de 
nunca variar em seu valor, constitui o padrão último e real com base 
no qual se pode sempre e em toda parte estimar e comparar o valor 
de todas as mercadorias. O trabalho é o preço real das 
mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas
12
 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 89-90). 
 
Pelo senso comum, na prática o valor do trabalho parece variar da mesma 
forma que mudam os preços das demais mercadorias e este pode ser caro ou 
barato. Na verdade não é o valor do trabalho que oscila, mas o dos demais 
bens. 
 
Em tal acepção popular, portanto, pode-se dizer que o trabalho, da 
mesma forma que as mercadorias, têm um preço real e um preço 
nominal. Pode-se dizer que seu preço real consiste na quantidade de 
bens necessários e convenientes que se permuta em troca dele; e 
que seu preço nominal consiste na quantidade de dinheiro. O 
trabalhador é rico ou pobre, é bem ou mal remunerado, em proporção 
ao preço real
13
 do seu trabalho, e não em proporção ao respectivo 
preço nominal (SMITH, 1996, v. 1, p. 90). 
 
 
O preço real e o preço nominal são importantes quando consideramos o tempo. 
O mesmo preço real representa sempre o mesmo valor e se refere ao poder de 
compra. O valor nominal (preço em dinheiro) por sua vez oscila de valor em 
função das variações no valor do ouro e da prata (ou da moeda corrente), isto é 
em função da escassez e da abundancia das minas e do trabalho necessário 
para obtê-lo. As rendas estipuladas em ouro e prata (ou moeda corrente) 
tendem a diminuir de valor com o tempo. 
A utilização do trigo com referencia para definição destas rendas tem se 
desvalorizado muito menos que as rendas definidas em dinheiro. Isto é, Smith 
observa que o valor do ouro e da prata (ou da moeda) apresenta pequenas 
oscilações no curto prazo e oscila muito no longo prazo, enquanto que, em 
função das safras e entre safras, valor do trigo oscila bastante no curto prazo e 
pouco no longo prazo. Desta forma, a definição de rendas em períodos longos 
como base no valor do trigo tende a ser mais recomendável do que pelo ouro e 
prata (ou moeda corrente). 
 
12 Grifo do autor. 
13
 Poder de compra ou a quantidade de bens que se pode comprar. 
24 
 
 
 
Quantidades iguais de trabalho são compradas com maior precisão, 
em um futuro distante, com quantidades iguais de trigo — a 
subsistência do trabalhador — do que com quantidades iguais de 
ouro ou de prata, ou talvez com quantidades iguais de qualquer outra 
mercadoria. (...) Fica, pois, evidente que o trabalho é a única 
medida universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o 
único padrão através do qual podemos comparar os valores de 
mercadorias diferentes, em todos os tempos e em todos os 
lugares
14
 (SMITH, 1996, v. 1, p. 91-93). 
 
Portanto, para Smith, o trabalho é a única medida real ou medida universale 
invariável de valor de troca das mercadorias. Contudo, como é difícil 
estabelecer as especificidades dos diferentes tipos de trabalho, especialmente 
os diferentes graus de dificuldade e de engenho empregados nos respectivos 
trabalhos, na prática ou no dia a dia se troca trabalho por dinheiro e a lei da 
oferta e demanda ajusta os preços relativos com precisão suficiente para 
permitir as trocas entre as pessoas. 
 
3 – Fatores que Compõem o Preço das Mercadorias 
Neste capítulo Adam Smith procura responder quais são os componentes do 
valor de troca, isto é, detalhar as diferentes partes ou componentes que 
constituem o preço real, ou do valor de troca. 
Na sociedade primitiva, que precede a propriedade privada dos meios de 
produção, única regra geral para a troca de bens parece ter sido o trabalho 
necessário para adquirir/produzir estes bens. 
Por exemplo, se em uma nação de caçadores abater um castor custa 
duas vezes mais trabalho do que abater um cervo, um castor deve 
ser trocado por — ou então, vale — dois cervos. É natural que aquilo 
que normalmente é o produto do trabalho de dois dias ou de duas 
horas valha o dobro daquilo que é produto do trabalho de um dia ou 
uma hora (SMITH, 1996, v. 1, p. 101). 
 
Contudo, existem diferentes tipos de trabalho e trabalhos mais duros, os que 
exigem maior grau de destreza e engenho devem valer mais, o que dará a 
estes bens um valor maior do que a soma do tempo necessário para produzi-lo. 
Em sociedades desenvolvidas, essa compensação pela maior dureza 
de trabalho ou pela maior habilidade costuma ser feita através dos 
salários pagos pelo trabalho: algo semelhante deve ter havido 
provavelmente nos estágios mais primitivos da civilização (SMITH, 
1996, v. 1, p. 101). 
 
Neste contexto (na sociedade primitiva), o produto integral do trabalho 
pertencia ao trabalhador e a quantidade de trabalho necessária ou empregada 
para produzir um determinado bem equivale à quantidade de trabalho que ela 
deve comandar, comprar ou adquirir. 
Com a propriedade privada dos meios de produção, estas passaram a 
empregar seu capital contratando mão de obra (antecipando salários), 
 
14
 Grifo do autor. 
25 
 
 
fornecendo matérias primas, a fim de auferir lucro com o trabalho adicionado a 
referida matéria prima ao trocá-las no mercado. Este lucro representa a 
remuneração pelos riscos que o proprietário dos meios de produção corre ao 
empreender este negócio. 
 
Nesse caso, o valor que os trabalhadores acrescentam aos materiais 
desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes, sendo que a 
primeira paga os salários dos trabalhadores, e a outra, os lucros do 
empresário, por todo o capital e os salários que ele adianta no 
negócio. Com efeito, o empresário não poderia ter interesse algum 
em empenhar esses bens, se não esperasse da venda do trabalho de 
seus operários algo mais do que seria o suficiente para restituir-lhe o 
estoque, patrimônio ou capital investido (SMITH, 1996, v. 1, p. 102). 
 
É preciso destacar que não se deve confundir lucros e salários ou supor que 
ambos são salários. O lucro é regulado por princípios totalmente distintos dos 
do salário. Diferentemente do salário, que é definido em função da dureza e do 
engenho necessário, o lucro é regulado pelo montante de capital empregado, 
sendo este maior ou menor – em termos absolutos - em proporção ao 
montante de capital empregado. Para ilustrar Smith cita um exemplo de alguém 
que emprega 1.000 libras e outro que emprega 7.300 libras. A uma taxa de 
10% os lucros seriam respectivamente 100 e 730 libras. 
Nesta estrutura de produção o produto do trabalhador já não pertence mais 
exclusivamente ao trabalhador, pois uma parte do trabalho adicionado se 
destina para cobrir o risco que o dono do capital corre por antecipar seu capital, 
que Smith denomina de lucro do capital. Da mesma forma já não é mais 
possível dizer que a quantidade de trabalho necessária ou empregada seja a 
única norma geral que determina a quantidade de trabalho que ela pode 
comprar, comandar ou pela qual pode ser trocada. Pois, com o surgimento do 
lucro, esta regra já não se aplica mais ao trabalhador, que, como vimos, já não 
recebe por todo trabalho que ele adiciona ao produto. 
Da mesma forma, quando todas as terras se tornaram propriedade privada, 
seus proprietários passaram a exigir uma renda por tudo que nela continha e 
era capaz de produzir. O que podia ser simplesmente coletado e dependia 
apenas de dispêndio em trabalho, agora incorpora um pagamento pela 
permissão de apanhar estes bens, que Smith define como Renda da Terra, 
constituindo assim, junto com o salário que remunera do trabalho, o lucro que 
remunera o capital antecipado, outro componente do preço, a Renda da Terra. 
Em última análise o preço das mercadorias é composto por estes três fatores: a 
Renda da Terra, o Salário e o lucro. 
No preço do trigo, por exemplo, uma parte paga a renda devida ao 
dono da terra, outra paga os salários ou manutenção dos 
trabalhadores e do gado empregado na produção do trigo, e a 
terceira paga o lucro do responsável pela exploração da terra. Essas 
três partes perfazem, diretamente ou em última análise, o preço total 
do trigo. (SMITH, 1996, v. 1, p. 102-3). 
 
O preço de qualquer mercadoria incorpora a Renda da Terra, os salários e os 
lucros, isto é, o trabalho necessário para produção de todos os bens anteriores 
(matérias primais) para produção do produto final. Além disso, com o aumento 
26 
 
 
do grau de industrialização, a parte representada pelos lucros e salários tende 
a se tonar maior em comparação com a Renda da Terra. Da mesma forma que 
o lucro incorporado tende a ser maior - em termos absolutos - a cada estágio 
de industrialização, tendo em vista que o lucro final é constituído pela soma do 
lucro de todas as etapas de produção. 
É necessário destacar também que na composição do preço das mercadorias, 
o que resta depois de descontado a Renda da Terra e o preço pago a todo 
trabalho empregado para produzir a matéria prima e de fabricar a mercadoria 
em questão (bem final) é o lucro que remunera o capital. Portanto, o lucro é 
resíduo, ou seja, o que sobra é lucro. 
Da mesma forma toda a riqueza gerada por um país também é constituída por 
estes três componentes e é distribuída entre seus habitantes na forma de 
salário como remuneração do trabalho, lucro que remunera o capital investido e 
renda da terra. Qualquer outra renda em última análise provém de uma destas 
três formas de renda. 
Assim, toda renda auferida por alguém, em última análise provém do seu 
trabalho ou do seu patrimônio: 1) a renda auferida pelo trabalho Smith 
denomina de salário; 2) a renda auferida pelo seu patrimônio ou capital se 
define lucro quando o próprio dono do capital a investe e juros quando o dono o 
empresta para outro administrá-lo. Portanto, o juro é a renda que provém do 
capital que o tomador paga em função do lucro que pode obter ao administrar o 
capital (dinheiro) de outra pessoa. A renda auferida pelo aluguel da terra 
(patrimônio) é denominada de renda da terra, que pertence ao dono da terra. 
 
Todas as taxas, impostos; e toda a renda ou receita fundada neles, 
todos os salários, pensões e anuidades de qualquer espécie, em 
última análise provêm de uma ou outra dessas três fontes originais de 
renda, sendo pagos, direta ou indiretamente, pelos salários do 
trabalho, pelos lucros do capital ou pela renda da terra (SMITH, 1996, 
v. 1, p. 106). 
 
Na prática, estas três formas de renda nem sempre são claramente percebidas. 
Por exemplo, numa pequena propriedade de terra em que o próprio dono 
explora suas terras sem contratação de outros trabalhadores, é comum que 
haja a confusão de que a riqueza gerada seja classificada como lucro somente. 
Contudo, a riqueza gerada neste empreendimento contém as mesmas três 
formas básicas de renda: o salário resultante do trabalho empregado, a renda 
da terra destinada à remuneraçãoda terra (patrimônio) e o lucro destinado à 
remuneração do capital investido. Neste caso, o que ocorre na verdade é que 
todas estas formas da renda são destinadas a uma única pessoa que cumpre 
as três funções. 
 
4 – O Preço Natural (o valor) e o Preço de Mercado das Mercadorias 
Em seguida Smith se propõe a identificar as causas que ás vezes impedem o 
preço de mercado, isto é o preço efetivo das mercadorias, de coincidir 
exatamente com o que denomina de preço natural ou valor. 
27 
 
 
Em cada sociedade existe uma taxa comum ou média para os salários, renda 
da terra e para o lucro do emprego do capital, que é regulada naturalmente por 
mecanismos de mercado e diferem em função das circunstâncias gerais da 
sociedade, seu nível de riqueza, seu progresso, estagnação ou declínio. Estas 
são as taxas naturais dos salários, da renda da terra e do lucro. 
 
Quando o preço de uma mercadoria não é menor nem maior do que o 
suficiente para pagar ao mesmo tempo a renda da terra, os salários 
do trabalho e os lucros do patrimônio ou capital empregado em obter, 
preparar e levar a mercadoria ao mercado, de acordo com suas taxas 
naturais, a mercadoria é nesse caso vendida pelo que se pode 
chamar seu preço natural
15
 (SMITH, 1996, v. 1, p. 109). 
 
Quando uma mercadoria é vendida pelo seu preço natural (soma das taxas 
naturais de salários, renda da terra e lucro), ela é vendida exatamente pelo que 
ela vale ou que ela realmente custa ao produtor para produzi-la e colocá-la no 
mercado. Contudo, quando a referida mercadoria não for vendida por aquele 
que a produz, por exemplo, um comerciante ou outro tipo de intermediário é 
necessário incluir os custos de transporte ou outras formas de trabalho 
empregadas para coloca-la no mercado, isto é, incluir a taxa de lucro mínima 
que remunere os adiantamentos de capital feitos pelo comerciante e o incentive 
a colocá-la no mercado. 
 
O preço efetivo ao qual uma mercadoria é vendida denomina-se seu 
preço de mercado
16
. Esse pode estar acima ou abaixo do preço 
natural, podendo também coincidir exatamente com ele. (SMITH, 
1996, v. 1, p. 110). 
 
O preço de mercado é determinado pela quantidade da mercadoria que é 
efetivamente colocado no mercado (oferta) e pela demanda por aqueles que 
estão dispostos (pretendentes efetivos e não potenciais) a pagar o preço 
natural da mercadoria (demanda efetiva)17. 
O preço de mercado pode estar acima ou abaixo do preço natural. Quando a 
oferta for menor que a demanda efetiva, em função da escassez os 
interessados em adquirir a mercadorias estarão dispostos a pagar um preço 
superior ao preço natural. Neste caso, o preço de mercado subirá acima do 
preço natural na proporção em que a escassez determinar a concorrência entre 
os compradores efetivos. 
Por outro lado, quando a oferta é maior do que a demanda efetiva, nem todas 
as mercadorias poderão ser vendidas e o seu preço tende a cair abaixo do 
preço natural. Neste caso, o nível de queda do preço de mercado abaixo do 
preço natural será na proporção em que o excedente determinar a 
concorrência entre os vendedores. 
 
15
 Grifo do autor. 
16
 Grifo do autor. 
17
 Aqui Smith apresenta de forma clara os elementos necessários para a futura distinção entre 
demanda absoluta e demanda efetiva, que posteriormente se torna um conceito importante na 
obra de Keynes. 
28 
 
 
Por sua vez, quando a oferta coincidir exatamente com a demanda efetiva, o 
preço de mercado tende a ser igual ao preço natural, toda mercadoria poderá 
ser vendida pelo preço natural e nada além deste. A concorrência entre os 
vendedores obrigará todos a aceitar o preço natural ou menos. 
 
(...) o preço natural (o valor)
18
 é como que o preço central ao redor do 
qual continuamente estão gravitando os preços de todas as 
mercadorias. Contingências diversas podem, às vezes, mantê-los 
bastante acima dele, e noutras vezes, forçá-los para baixo desse 
nível. Mas, quaisquer que possam ser os obstáculos que os impeçam 
de fixar-se nesse centro de repouso e continuidade, constantemente 
tenderão para ele (SMITH, 1996, v. 1, p. 111-112). 
 
Portanto, o preço natural é a referencia em torno do qual oscila e tende o preço 
de mercado. Quando a oferta excede a demanda efetiva, o preço de mercado 
cairá baixo do preço natural e algum (ou todos) dos componentes do preço 
natural (salário, renda da terra e lucro) estará sendo remunerado abaixo da sua 
taxa natural. Se, por exemplo, for a renda da terra, os proprietários da terra 
deixarão de investir (esforços e/ou capital) na produção desta mercadoria, o 
mesmo ocorre caso seja o salário ou o lucro. Esta decisão ocasionará uma 
diminuição da oferta desta mercadoria e o preço de mercado tenderá a 
aumentar e retonar ao patamar do preço natural. 
Portanto, quando o retorno na forma de salário, renda da terra e/ou lucro está 
abaixo do necessário para estimular a produção de uma determinada 
mercadoria, a produção desta mercadoria se torna menos atrativa, os esforços 
destinados para sua produção são reduzidos e, consequentemente, também a 
sua oferta, retomando o equilíbrio entre o preço de mercado e preço natural. 
Por outro lado, quando a oferta é inferior a demanda efetiva, o preço de 
mercado aumentará acima do preço natural e algum (ou todos) dos 
componentes do preço natural estará sendo remunerado acima da sua taxa 
natural. Se, por exemplo, for a renda da terra, os proprietários da terra estarão 
estimulados a investir mais (esforços e/ou capital) na produção desta 
mercadoria. O mesmo ocorre caso seja o salário ou o lucro. Esta decisão 
ocasionará um aumento da oferta desta mercadoria, o preço de mercado 
tenderá a cair e retornar ao patamar do preço natural. 
Portanto, quando o retorno na forma de salário, renda da terra e lucro está 
acima do mínimo necessário para estimular a produção de uma determinada 
mercadoria, a produção desta mercadoria se torna mais atrativa, os esforços 
(trabalho e/ou capital) destinados para sua produção aumentam e, 
consequentemente, também a sua oferta, retomando o equilíbrio entre o preço 
de mercado e preço natural. 
Este mecanismo se sustenta em três argumentos: as taxas naturais de 
remuneração dos esforços de produção (taxa natural de salário, renda da terra 
e lucro) são a referencia para a tomada de decisão dos agentes econômicos ao 
empreender seus esforços (trabalho e/ou capital), a livre concorrência e a livre 
mobilidade dos fatores de produção. 
 
18
 O texto entre parêntese foi incluído pelo autor. 
29 
 
 
Desta maneira todos os recursos empregados para colocar uma mercadoria no 
mercado se ajustam a demanda efetiva. 
 
A quantidade de cada mercadoria colocada no mercado ajusta-se 
naturalmente à demanda efetiva.
19
 É interesse de todos os que 
empregam sua terra, seu trabalho ou seu capital para colocar uma 
mercadoria no mercado, que essa quantidade não supere jamais a 
demanda efetiva; e todas as outras pessoas têm interesse em que 
jamais a quantidade seja inferior a essa demanda (SMITH, 1996, v. 1, 
p. 111). 
 
Contudo, mesmo que a demanda efetiva permanecesse a mesma por longos 
períodos, o que não ocorre, o peço de mercado estará sujeito as grandes 
oscilações, ficando às vezes muito abaixo ou muito acima do preço natural. 
Existem mercadorias em que seu preço oscila basicamente em função da 
demanda, enquanto que outras oscilam em função da demanda e da oferta. Os 
produtos agrícolas são um exemplo de mercadorias que estão sujeitas a 
variações tanto da oferta quanto da demanda, em função da dificuldade de 
prever com exatidão a quantidade produzida. 
As oscilações nos preços das mercadorias afetam mais os salários e os lucros 
do que a renda da terra. Os arrendamentos das terras tendem a ser realizadas 
com valores prefixados e não se alteram em função de flutuações ocasionais e 
temporais nos preços das mercadorias. O mesmo não ocorrecom os lucros, 
que em função de uma saturação ou escassez de algum produto, podem 
aumentar ou diminuir, por se tratar de renda residual. Por outro lado, a 
saturação ou escassez de algum produto não influencia os salários, que são 
afetados somente quando há escassez ou abundancia de mão de obra. 
 
O preço de mercado de qualquer mercadoria específica pode, por 
muito tempo, continuar acima do preço natural da referida 
mercadoria, mas raramente pode manter-se muito tempo abaixo dele 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 115). 
 
Embora não seja comum que o preço de mercado permaneça abaixo do preço 
natural por longos períodos, pois ou perceber que algum (ou todos) dos 
componentes do preço natural (salário, renda da terra e lucro) estão sendo 
remunerados abaixo da sua taxa natural, os esforços e/ou capital destinados 
para a produção desta mercadoria seriam reduzidos. Por outro lado, é possível 
que o preço de mercado permaneça acima do preço natural por longos 
períodos, em função de segredos comerciais, industriais e/ou garantias de 
monopólio. Esta realidade proporcionará lucros maiores do que as taxas 
naturais de lucro, portanto, proporcionará lucros extraordinários ao produtor 
detentor desta vantagem. 
 
 
19
 Grifo do autor. Um leitor atendo, poderia facilmente supor que Smith dá indícios claros de 
que aceita o princípio da demanda efetiva posteriormente desenvolvida de forma detalhada e 
consistente por Keynes e que, contrariamente ao que os manuais afirmam, não aceita a Lei de 
Say, e, portanto, não teria fornecido os argumentos para o desenvolvimento da lei de Say. 
30 
 
 
 
31 
 
 
CAPÍTULO III 
 
Os Determinantes das Três Formas Básicas de Renda: 
o Salário, o Lucro e a Renda da Terra 
 
1 – O Salário do trabalho 
Nesta e nas próximas três seções Smith mostra como as três rendas básicas 
(salário, lucro e renda da terra) são definidas e variam: 
 
A produção anual total da terra e do trabalho de cada país — ou, o 
que é a mesma coisa, o preço total dessa produção anual — 
naturalmente se divide, como já foi observado, em três partes: a 
renda da terra, os salários da mão-de-obra e o lucro do capital, 
constituindo uma renda para três categorias de pessoas: para 
aquelas que vivem da renda da terra, para aquelas que vivem de 
salário, e para aquelas que vivem do lucro. Essas são as três grandes 
categorias originais e constituintes de toda sociedade evoluída, de 
cuja receita deriva, em última análise, a renda de todas as demais 
categorias (SMITH, 1996, v. 1, p. 271 e 272). 
 
Antes da propriedade privada dos meios de produção o trabalhador não tinha 
nem a propriedade dos meios de produção e nem patrão para repartir o 
produto do seu trabalho. Neste contexto, o produto integral do trabalho 
pertencia ao trabalhador e a manutenção deste processo produtivo teria 
aumentado o salário do trabalho na mesma proporção do aprimoramento das 
forças produtivas, proporcionadas pela divisão do trabalho. 
Além disso, na estrutura produtiva sem propriedade privada dos meios de 
produção, em função dos ganhos de produtividade da divisão do trabalho, as 
mercadorias seriam produzidas por uma quantidade menor de trabalho, se 
tornariam gradualmente mais baratas e seriam trocadas umas pelas outras 
também por uma quantidade menor de trabalho. 
Contudo, com a propriedade privada dos meios de produção o trabalhador 
perde parte do seu produto. Os donos das terras exigem uma parte de tudo o 
que era produzido pelo trabalhador, denominada de renda da terra. Esta renda 
é a primeira dedução do produto do trabalho empregado na terra. 
Na maioria das vezes os donos das terras geralmente não têm todos os 
recursos para fazer todos os investimentos necessários e se manter até a 
colheita. Este capital geralmente é adiantado pelo arrendatário, que o faz 
mediante a garantia de usufruir de uma parte superior ao capital empregado, 
denominado de lucro. O lucro que remunera o capital adiantado na produção 
agrícola representa a segunda dedução do trabalho empregado na terra. Esta 
dedução do lucro também ocorre nos demais ofícios e manufaturas, pois a 
maior parte do trabalho tem a necessidade de adiantamento de capital para 
aquisição dos insumos e salários do trabalho, até que o produto final esteja 
disponível para ser trocado no mercado. 
32 
 
 
Apesar de não ser muito frequente, quando um trabalhador independente tem 
capital suficiente para adquirir os insumos e antecipar os salários do trabalho, 
ele cumpre ao mesmo tempo a função de capitalista e trabalhador, desfrutando 
sozinho do produto integral do seu trabalho. 
Na pratica os salários comuns ou normais do trabalho são definidos por 
contrato entre o dono do capital e o trabalhador, que tem interesses diferentes. 
O trabalhador deseja ganhar o máximo possível pelo seu trabalho e o dono do 
capital pagar o mínimo possível, levando-os inclusive a se associarem entre si 
(como classe) para atingir seus objetivos. Esta disputa é desigual, os donos do 
capital por serem em menor número têm mais facilidades para se associar e 
levam vantagem, pois podem forçar os trabalhadores a concordar com as suas 
condições. 
Diferentemente da proibição legal imposta aos trabalhadores, aos donos do 
capital na pratica, pois não há lei proibindo, foi concedido amparo legal para se 
associarem. O capital acumulado também representa uma vantagem aos 
donos do capital, tendo em vista que podem subsistir por longos períodos, 
enquanto o trabalhador geralmente não pode fazê-lo por um período maior que 
uma semana sem emprego. 
 
(...) existe uma determinada taxa abaixo da qual parece impossível 
reduzir por longo tempo os salários normais, mesmo em se tratando 
do tipo de trabalho menos qualificado. O homem sempre precisa viver 
do seu trabalho, e seu salário deve ser suficiente, no mínimo, para a 
sua manutenção (SMITH, 1996, v. 1, p. 120). 
 
O mínimo para a subsistência do trabalhador deve incluir também as condições 
para sustentar uma família, tendo em vista que a oferta de mão de obra precisa 
ser reposta. “O trabalho de uma pessoa deve não somente dar-lhe o 
necessário para viver, mas o necessário para viver de acordo com as 
qualificações que a profissão dela exige” (SMITH, 1996, p. 158). Contudo, 
existem circunstâncias que proporcionam ao trabalhador salários maiores do 
que a taxa normal ou natural, que é o mais baixo aceitável. Isto ocorre, quando 
os fundos destinados para a manutenção do trabalho eleva a demanda por 
trabalhadores ao ponto de resultar em escassez de mão de obra que provoca 
concorrência entre os patrões pelos trabalhadores disponíveis. 
 
Não é a extensão efetiva da riqueza nacional, mas seu incremento 
contínuo, que provoca uma elevação dos salários do trabalho. Não 
é, portanto, nos países mais ricos, mas nos países mais 
progressistas, ou seja, naqueles que estão se tornando ricos com 
maior rapidez, que os salários do trabalho são os mais altos 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 121). 
 
Por outro lado, existem circunstâncias que fazem com que o trabalhador 
receba salários próximos ou menores a taxa normal ou natural. Mesmo que o 
país seja muito rico, mas estagnado por um logo período, isto é, um país onde 
os fundos destinados para a manutenção do trabalho são baixos, a mão de 
obra tende a se tronar abundante e o salário baixo. “Haveria uma escassez 
33 
 
 
constante na oferta20 de empregos e os trabalhadores seriam obrigados a lutar 
entre si para consegui-los” (SMITH, 1996, v. 1, p. 123). 
 
Eis por que a remuneração generosa do trabalho é não somente o 
efeito necessário da riqueza nacional em expansão, mas também seu 
sintoma natural. Por outro lado, a manutenção deficiente dos 
trabalhadores pobres constitui o sintoma natural de que a situação 
encontra-se estacionária, ao passo que a condição de fome dos 
trabalhadores é sintoma de que o país está regredindo rapidamente 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 124). 
 
Segundo Smith, o salário real do trabalho(poder de compra) tem aumentado 
no decorrer do século XVIII em função dos melhoramentos das técnicas de 
produção que exige menos trabalho para produzir os bens que os 
trabalhadores consomem - aumento da produtividade. Assim Smith sinaliza que 
o mínimo para subsistência (salário de subsistência) depende do grau de 
desenvolvimento das forças produtivas ou da civilização, o que explica as 
diferenças salariais no decorrer do tempo e entre nações com estágios 
diferentes de desenvolvimento. 
Sendo assim, Smith se questiona se o aumento do salário real deve ser visto 
como uma vantagem ou um inconveniente para a sociedade e conclui. 
 
O que faz melhorar a situação da maioria nunca pode ser 
considerado como um inconveniente para o todo. Nenhuma 
sociedade pode ser florescente e feliz, se a grande maioria de seus 
membros forem pobres e miseráveis (SMITH, 1996, v. 1, p. 129). 
 
Outro aspecto que Smith destaca é que a disponibilidade dos meios de 
subsistência é que determinam o nível de multiplicação da espécie humana21. 
Observa que a procriação entre as classes mais pobres é muito maior do que 
nas classes mais ricas, mas a mortalidade é elevada, pois não dispõem de 
recursos para cuidar delas como as pessoas de melhor condição social. 
Salários reais maiores diminui a mortalidade dos filhos dos trabalhadores, 
assim como salários reais menores aumenta a mortalidade. O salário real22 é o 
mecanismo natural que leva ao equilíbrio entre oferta e demanda por mão de 
obra. Uma demanda maior do que a oferta de mão de obra tende a elevar os 
salários reais dos trabalhadores e criar melhores condições de vida aos 
trabalhadores, que assim poderão cuidar melhor dos seus filhos, diminuir a 
mortalidade, o que resultará no aumento da oferta de mão de obra e o retorno 
ao equilíbrio da oferta e demanda por mão de obra no mercado de trabalho. 
Por outro lado, uma oferta maior do que a demanda por mão de obra tende a 
reduzir os salários reais dos trabalhadores e piorar as condições de vida dos 
trabalhadores, aumentando a mortalidade, resultando na redução da oferta de 
 
20
 Inclusão do autor, para evitar possíveis dúvidas ou equívocos de interpretação. 
21
 Neste capítulo (8) apresenta a essência do teor do famoso e polêmico Livro de Thomas 
Malthus “Ensaio sobre o princípio da população”. 
22
 Poder de compra. 
34 
 
 
mão de obra, o retorno ao equilíbrio da oferta e demanda por mão de obra no 
mercado de trabalho. Este mecanismo tende sempre para a quantidade de 
mão de obra necessária. 
 
Os salários pagos a diaristas e empregados de todo tipo devem ser 
tais que lhes possibilitem continuar a procriar diaristas e empregados, 
conforme a demanda da sociedade — crescente, decrescente ou 
estacionária — exigir eventualmente. (...) É dessa forma que a 
necessidade de mão-de-obra, como a de qualquer outra mercadoria 
(...) regula a produção, apressa-a quando é muito lenta, e a faz parar 
quando avança com excessiva rapidez. (SMITH, 1996, v. 1, p. 130). 
 
Em síntese, duas variáveis são importantes na determinação do salário real do 
trabalho: i) o preço dos mantimentos ou bens que os trabalhadores consomem, 
que aumenta ou diminui o seu salário real ou poder de compra e ii) a oferta e 
demanda por mão de obra, que depende dos fundos destinados a manutenção 
do trabalho, o que lhe permite explicar que os salários são elevados onde há 
incrementos contínuos nos fundos destinados à manutenção do trabalho23 ou 
lugares que o autor define como progressistas e vice versa. Quanto maior os 
fundos destinados à manutenção do trabalho, maior a demanda por mão de 
obre, maior será o salário real. 
 
2 – O Lucro do Capital 
As causas que afetam os salários também afetam os lucros do capital, porem 
de forma inversa. Portanto, o aumento do capital (ou fundos destinados para a 
manutenção do trabalho) que eleva os salários age de forma inversa, 
diminuindo os lucros. 
 
Quando o capital de muitos comerciantes ricos é aplicado no mesmo 
negócio, naturalmente sua concorrência mútua tende a reduzir seus 
lucros; e quando há semelhante aumento de capital em todos os 
diversos ramos de negócio de uma mesma sociedade, a mesma 
concorrência produz necessariamente o mesmo efeito em todos eles. 
(SMITH, 1996, v. 1, p. 137). 
 
Da mesma forma que é difícil dizer com certeza quais são os salários médios 
do trabalho, é também difícil, senão impossível, afirmar com certeza quais são 
os lucros médios do capital, que depende de inúmeras variáveis, eventos ou 
circunstâncias. Contudo, os juros do dinheiro - que são conhecidos - fornecem 
indícios sobre os lucros. 
 
Pode-se adotar como máxima que, onde se pode ganhar muito com o 
uso do dinheiro, muito se pagará por esse uso; e onde pouco se pode 
ganhar com o uso dele, menos ainda é o que se pagará comumente 
por esse uso (SMITH, 1996, v. 1, p. 138). 
 
 
23
 Elevada demanda por mão de obra, o que ele define como países progressistas. 
35 
 
 
Em outras palavras, os lucros devem ser superiores aos juros do dinheiro e 
variar na mesma direção, tendo em vista que não se tomaria dinheiro 
emprestado se não fosse possível obter algum retorno deste empréstimo, isto é 
se os lucros não fossem maiores do que os juros. “Portanto, a evolução dos 
juros do dinheiro pode levar-nos a formar alguma idéia sobre a evolução do 
lucro do capital” (SMITH, 1996, v. 1, p. 138). 
Sobre os lucros sabe-se também que num país em progresso contínuo (rico ou 
não) existe uma inversão elevada de capital que pressiona a demanda por mão 
de obra, elevando os salários e reduzindo os lucros, que são residuais. Isto é, 
descontados todos os custos em trabalho, o que sobra é o lucro. 
Neste caso, o baixo lucro resulta dos salários elevados em função da 
competição por mão de obra e da competição elevada entre as empresas que 
tende a manter os preços baixos. Portanto, para Smith a redução do lucro é um 
efeito natural da prosperidade ou do fato de que se está aplicando um volume 
de capital maior do que o necessário. Por outro lado, em um país estagnado 
tanto os salários quanto os lucros tendem a ser baixos. 
 
Em um país que tivesse adquirido toda a riqueza compatível com a 
natureza de seu solo e clima e com a sua localização em relação a 
outros países, e que, portanto, não tivesse mais possibilidade de 
progredir, mas ao mesmo tempo não estivesse regredindo, 
aconteceria o seguinte: tanto os salários do trabalho como os lucros 
do capital seriam provavelmente muito baixos (SMITH, 1996, v. 1, p. 
142). 
 
A exceção ocorre nas colônias, a exemplo da América do Norte, onde tanto o 
salário quanto o lucro e consequentemente os juros, são elevados. Isto ocorre 
em função da escassez tanto de mão de obra, quanto de capital. 
Contudo, quando há livre mobilidade dos fatores de produção, uma redução de 
lucro em uma atividade econômica acaba deslocando parte do capital antes 
investido para outras atividades que apresentam maior lucratividade. 
 
3 – Os Salários e o Lucro nos Diversos Empregos de Mão de Obra e de 
Capital 
Desde que haja plena liberdade, a livre mobilidade dos fatores de produção 
tende a fazer com que as vantagens e desvantagens do emprego de capital e 
mão de obra se igualem entre regiões vizinhas. Para Smith o interesse de cada 
um levaria a procura do emprego, tanto do capital quanto da mão de obra, mais 
vantajoso. 
 
Em seu conjunto, as vantagens e desvantagens dos diversos 
empregos de mão-de-obra e de capital, em regiões vizinhas entre si, 
devem ser perfeitamente iguais ou continuamente devem tender à 
igualdade (SMITH, 1996, v. 1, p. 147). 
 
36 
 
 
Por outro lado, os diferentes empregos de mão de obra e capital apresentam 
salários e lucros bastante diferentes em toda a Europa. Estas desigualdades 
são decorrentes da natureza dos empregos de mão de obra e de capital. 
A diferença dos salários é explicada pelos seguintes fatores: o

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