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Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina OTITE EXTERNA DIFUSA → DEFINIÇÃO: inflamação difusa do conduto auditivo externo, podendo atingir o pavilhão auricular e a membrana timpânica, geralmente de início agudo - Também conhecida como orelha do nadador -> comum em regiões tropicais e subtropicais onde o clima é quente e úmido e mais frequente no verão → QUADRO CLÍNICO - Geralmente começa a partir de prurido no CAE causado por trauma local (instrumentação por cotonetes e unhas) - Pode ser secundário à maceração da pele induzida por imersão, comumente em ambientes de altas temperaturas e umidade, que remove a camada lipídica de proteção e permite a entrada de bactérias na unidade apopilossebácea - Meio propício para proliferação bacteriana - Estágios Pré-inflamatório - Camada lipídica que cobre a pele é retirada pela umidade ou trauma local Inflamatório agudo - Leve: hiperemia e edema de pele no conduto auditivo externo com otorreia clara, indodora e discreta dor no trago - Moderado: dor e prurido mais intensos, além do lúmen do CAE diminuir pelo edema e retenção de otorreia seropurulenta - Grave: CAE fica completamente obstruído e drena secreção cinza-esverdeada e descamação de debris, a pele se torna edematosa, há edema periauricular pronunciado e adenopatia, otalgia intensa, especialmente após mastigação e manipulação do trago Inflamatório crônico - Prurido de maior duração associado a um CAE com pele atrófica e frequentemente sem cerume - Secura e espessamento leve do canal a completa obliteração do mesmo por pele hipertrófica cronicamente inflamada - Principais sintomas: dor, prurido, plenitude auricular e perda auditiva - Dor à palpação do trago, comumente bastante intensa e desproporcional ao quadro inflamatório observado pelo examinador → DIAGNÓSTICO - Associado a banhos de mar, piscina ou à manipulação do CAE - Patógenos mais frequentes: Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus → TRATAMENTO - Otalgia: paracetamol, dipirona, opiáceos ou AINES - Tratamento local (sem complicações): preparações tópicas de antibiótico de amplo espectro mais potente especialmente contra a P. aeruginosa - Antibioticoterapia oral: extensão da infecção além do CAE (disseminação para o pavilhão auricular e a pele do pescoço e face, osteíte, formação de abscesso e doença da orelha média), no diabetes mellitus ou na síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) - Adição de hidrocortisona ao ciprofloxacino e da hidrocortisona ao ácido acético diminui a duração média da otalgia - Limpeza do CAE em consultório é uma medida importante para que a medicação tópica entre em contato com os tecidos infeccionados - Durante o tratamento devem ser evitados banhos de imersão durante sete a dez dias e o CAE deve ser protegido e seco nos banhos de chuveiro - Medidas preventivas: remover o cerume obstrutivo, o uso de gotas auriculares ácidas antes de nadar, após nadar ou à noite, usar protetores auriculares ao nadar e evitar trauma ao CAE OTITE EXTERNA LOCALIZADA/ FURUNCULOSE → DEFINIÇÃO: infecção dos pilos sebáceos encontrada no terço lateral do CAE, com a formação de uma foliculite, podendo evoluir para um abscesso ou furúnculo - Agente principal é o Staphylococcus aureus → QUADRO CLÍNICO - Varia desde uma pequena pústula superficial até abscessos que ocluem o CAE - Sintomas: forte otalgia, hipoacusia nos casos de oclusão do CAE e secreção quando ocorre drenagem do abscesso → TRATAMENTO - Limpeza local e no uso de analgésicos e AINH para aliviar o desconforto - Antes da drenagem, o uso de antibióticos tópicos e/ou sistêmicos pode resolver o processo - Compressas quentes intermitentes podem levar à drenagem da lesão - Havendo um ponto de flutuação este deve ser incisado e drenando - Gravidade: utilização de antibióticos sistêmicos com atividade antiestafilocócica (penicilina penicilinase-resistente, cefalexina ou clindamicina) PERICONDRITE E CONDRITE AURICULAR → DEFINIÇÃO: processos inflamatórios do pericôndrio e da cartilagem do pavilhão auricular - Causados por extensão de processos infecciosos ou por trauma (acidental, cirúrgico, uso de piercing) - Sangue (hematoma por trauma) pode ser coletado entre o pericôndrio e a cartilagem do pavilhão auricular e vir a se tornar infectado - Pseudomonas aeruginosa é o microrganismo mais encontrado em culturas iniciais → QUADRO CLÍNICO - Área afetada mostra uma hiperemia dolorosa, com enduração de parte ou todo o pavilhão - Pele pode estar descamativa, com crostas ou mesmo ulcerada - Processo de drenagem pode causar deformidade total e permanente da orelha (orelha de couve-flor ou de boxeador) → TRATAMENTO - Estágios iniciais: antibioticoterapia oral -> Ceftazidime ou Ciprofloxacino - Coleções purulentas ou necrose: cirúrgico -> abscessos devem ser drenados e o material enviado para cultura -> drenos devem ser colocados nas lojas e removidos com a resolução do processo -> cicatrização se faz por segunda intenção, com frequentes curativos locais com pomadas antibióticas → POLICONDRITE/ PERICONDRITE RECIDIVANTE - Caracterizada por inflamação intermitente e destruição das cartilagens Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina - Causa desconhecida e associada a doenças autoimunes - Mais prevalente entre a quarta e a sexta década de vida - Quadro Clínico: dor súbita, com eritema e edema das áreas cartilaginosas, sem nenhuma história de trauma ou manipulação - Diagnóstico: clínico, se com pelo menos três das seguintes manifestações: condrite bilateral, poliartrite inflamatória, condrite nasal, inflamação ocular, condrite do trato respiratório ou disfunção vestibular/ auditiva - Tratamento: uso de corticoides, indometacina e salicilatos nas crises . Imunossupressores em casos mais graves OTOMICOSE/ OTITE EXTERNA FÚNGICA → DEFINIÇÃO: infecção causada por fungos da pele do conduto auditivo externo - Comum em regiões tropicais devido ao calor e a umidade - Diminuição das barreiras de defesa da orelha externa, como o uso constante de gotas otológicas, processos inflamatórios crônicos, estenoses do CAE e a perda da camada protetora de cerume - Agentes etiológicos: Aspergillus (mais frequente), Candida, Actinomyces, Phycomycetes, Rhizopus e Penicillium → QUADRO CLÍNICO - Prurido intenso, plenitude auricular pelo acúmulo de secreções e otorreia - Otoscopia: revela um conduto hiperemiado com pouco edema, sendo possível visualizar os micélios fúngicos, que apresentam diversas colorações . Candida albicans: presença de massa esbranquiçada semelhante a fibras de algodão → DIAGNÓSTICO - Achados característicos - Culturas NÃO são rotineiramente realizadas → TRATAMENTO - Remoção completa dos fungos e do macerado epitelial - Evitar a entrada de água que manteria a umidade no local - Antifúngicos tópicos específicos: clotrimazol, nistatina, cetoconazol, miconazol e ciclopirox olamina - Deve ser mantido até que ocorra a eliminação completa do processo - Nos casos de perfuração da membrana timpânica ou cavidade mastóidea aberta devem ser utilizados medicamentos que não demonstraram ototoxicidade (miconazol, clotrimazol, tolnaftato e nistatina) HERPES ZOSTER → DEFINIÇÃO: reativação do vírus varicela-zoster latente de uma infecção prévia (varicela) nos gânglios nervosos → QUADRO CLÍNICO - Dor intensa e a presença de vesículas seguindo a distribuição do nervo atingido - Lesões localizam-se com maior frequência na concha e na parede superior do CAE - Dor ou a sensação de queimação pode preceder em dias as vesículas - Síndrome de Ramsay-Hunt . Paralisia facial transitória ou permanente -> decorrente do edema sofrido pelo nervo facial . Vesículas no CAE . Hipoacusia e/ou Vertigem-> devem-se à proximidade anatômica dos nervos facial e vestibulocolcear → DIAGNÓSTICO - Provável em pacientes com forte otalgia, sem causa aparente e resistente ao tratamento tradicional (antibióticos e anti-inflamatórios) → TRATAMENTO - Cuidados locais e a aplicação de antibióticos tópicos sem corticoides ajudam na prevenção de infecções secundárias - Uso de analgésicos potentes é prioritário - Utilização dos antivirais: valaciclovir, aciclovir ou famciclovir ERISIPELA → DEFINIÇÃO: celulite (infecção da pele e do tecido subcutâneo) superficial causada pelo Streptococcus pyogenes (raramente outros) com envolvimento de vasos linfáticos → QUADRO CLÍNICO - Febre, calafrios e cefaleia - Lesão endurecida, avermelhada, dolorosa e caracteristicamente com bordos bem delimitados e irregulares → TRATAMENTO - Antibioticoterapia sistêmica: penicilina (penincilina V oral ou benzatina intramuscular - Pode-se utilizar clindamicina ou cefalexina como alternativa e nos casos de suspeita de infecção por estafilococos OTITE EXTERNA MALIGNA/ NECROTIZANTE → DEFINIÇÃO: infecção potencialmente letal que começa usualmente no CAE e se estende à base do crânio - Ocorre, principalmente, em pacientes diabéticos idosos e que a despeito de terapia antibiótica prolongada está associada à morbidade e mortalidade elevadas - Agente etiológico: Pseudomonas aeruginosa (bactéria gram – aeróbia obrigatória) -> cepas mais virulentas produzem enzimas líticas (colagenase e elastase) e neurotoxinas responsáveis, respectivamente, pela vasculite e neuropatias cranianas periféricas . Raramente causa infecção em tecidos sadios, mas geralmente progride através de pequenas lesões - Outras bactérias (Proteus mirabilis, Staphylococcus aureus, Klebsiella sp. e Staphylococcus epidermidis) e fungos (Candida albicans e Aspergillus fumigatus) também podem estar presentes → QUADRO CLÍNICO - Otalgia, usualmente lancinante, resistente ao uso de analgésicos e que se irradia para as regiões frontotemporais e parietais com piora à noite + Acompanhada frequentemente de uma otorreia fétida e purulenta, além de hipoacusia condutiva - Geralmente, não há sinais sistêmicos como febre ou taquicardia - Sensibilidade e edema periauricular são achados comuns, além de tecido degranulação que se localiza na porção posteroinferior do CAE ao nível da junção osteocartilaginosa - Deve ser feita biópsia de rotina para descartar a hipótese de carcinoma espinocelular - Edema e hiperemia do CAE podem ser localizados, mas com membrana timpânica usualmente intacta - Deve ser feita cultura de rotina do material do CAE - Infecção pode passar através das fissuras de Santorini do CAE para mastoide e parótida - Disseminação: pode ocorrer por canais venosos e planos faciais dentro do osso temporal e pelos seios durais das fossas média e posterior, podendo chegar ao ápex petroso e eventualmente afetar os nervos facial, vago e espinhal e até os nervos glossofaríngeo e hipoglosso - Complicações: abscesso cerebral, a sinusite esfenoidal, o aneurisma micótico, a parotidite, a trombose do seio lateral e sigmoide → DIAGNÓSTICO 1- Otalgia persistente por mais de um mês 2- Otorreia purulenta persistente associada a tecido de granulação por várias semanas 3- Diabetes mellitus, idade avançada ou outro estado de imunossupressão 4. Envolvimento de pares cranianos - Monitoração clínica deve ser feita com a velocidade de eritrossedimentação, o leucograma e a proteína C reativa - Tomografia computadorizada (TC) do osso temporal com contraste: exame de imagem mais importante para avaliação da extensão da Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina doença e pode mostrar erosão do osso timpânico, espessamento de tecidos moles, velamento da mastoide, sequestro no CAE e erosão da base de crânio - Ressonância nuclear magnética (RM): pode ser vantajosa para definir a extensão medial da infecção em direção à base do crânio, espaço parafaríngeo, forames e canais dos nervos cranianos, dura máter e cérebro - Cintilografia com tecnécio-99: útil para o diagnóstico da osteíte e tem alta sensibilidade - Cintilografia com gálio-67: mostra o foco de infecção aguda, mas não toda a extensão do processo osteomielítico - Recomenda-se o estudo inicial dos pacientes com tecnécio e gálio e para acompanhamento estudos sequenciais mensais com Gálio para monitorizar a resposta à terapia instituída → TRATAMENTO - Instituição de terapia agressiva, com o paciente internado e recebendo antibióticos intravenosos, além de controle estrito do diabetes mellitus e limpeza frequente do CAE -> Ceftazidime -> isoladamente ou associado à amicacina, tobramicina ou gentamicina por um período de 4 a 6 semanas na dose de 2 g a cada 8 horas e tem boa penetração no sistema nervoso central - Casos leves: ciprofloxacino oral por um período de até 6 meses após o término da terapia intravenosa -> terapia ambulatorial primária ou seguindo-se aos esquemas de antibioticoterapia intravenosa - Critérios de Cura: cicatrização da pele do CAE, culturas negativas e a normalização da velocidade de eritrossedimentação OTITE EXTERNA BOLHOSA/ HEMORRÁGICA → DEFINIÇÃO: bolhas são causadas por uma lesão capilar tóxica tanto na camada epitelial da MT quanto do CAE - História de infecção de vias aéreas superiores e melhora da dor após a drenagem - Mais frequente em crianças, adolescentes e adultos jovens - Agentes etiológicos: Mycoplasma pneumoniae e outras bactérias causadoras de otite média aguda (Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Estreptococos ß-hemolítico) e vírus (influenza, parainfluenza, adenovírus e vírus sincicial respiratório) → QUADRO CLÍNICO - Otalgia muito intensa e súbita seguida pela otorreia sanguinolenta ou serossanguinolenta, normalmente escassa, pelo CAE - Pode haver hipoacusia pela ruptura medial de vesículas para dentro da orelha média com formação de hemotímpano e perda auditiva condutiva - Otoscopia: bolhas hemorrágicas vermelho-azuladas cobrindo a pele do CAE ósseo e a membrana timpânica - Orelha interna também pode ser afetada causando perda auditiva neurossensorial e vertigem - Vesículas desaparecem normalmente em torno de 2 a 3 semanas → TRATAMENTO - Analgésicos, corticoides, antibióticos tópicos e eventualmente sistêmicos como a ampicilina, sulfa e eritromicina - Pode ser feita a paracentese das vesículas para descompressão e alívio da dor -> pode causar infecção secundária DERMATITE DE CONTATO → DEFINIÇÃO: inflamação aguda ou crônica causada por uma ação irritante (ácidos, álcalis, fenol, sabão, detergentes) ou alérgica (reação de hipersensibilidade) - Paciente pode relatar o contato de longa data com a substância alergênica sem uma história anterior de dermatite - Brincos são uma causa frequente → QUADRO CLÍNICO - Hiperemia discreta até um edema intenso com formação de vesículas - Prurido é intenso na fase aguda - Casos crônicos podem ocorrer um espessamento da pele com liquenificação → TRATAMENTO - Evitar o contato com o agente causador - Pode-se usar um corticoide tópico, reservando os sistêmicos para os quadros mais graves - Infecção secundária -> terapia antimicrobiana - Anti--histamínicos podem aliviar o prurido DERMATITE ATÓPICA → DEFINIÇÃO: inflamação de curso crônico com períodos de exacerbação, associada à asma e à rinite alérgica - Inicia-se, geralmente, antes dos 5 anos de idade e a evolução é imprevisível, geralmente regredindo até a puberdade, mas exacerbações são frequentes → QUADRO CLÍNICO - Lesões apresentam-se em diferentes locais como a face, o couro cabeludo, a nuca e as dobras cutâneas - CAE é frequentemente acometido - Lesões são muito pruriginosas e podem se apresentar de formas variadas: de eritema discreto até pápulas eritematosas com escoriações e vesículas - Casoscrônicos existe liquenificação e a presença de pápulas fibrosas → DIAGNÓSTICO - Clínico e relacionado com rinite alérgica e/ou asma. IgE elevados e eosinofilia são achados possíveis → TRATAMENTO - Visa o controle e a prevenção, sendo os corticoides tópicos os mais eficazes - Anti-histamínicos também podem ajudar a melhorar o prurido - Corticoides orais devem ser usados apenas em casos graves DERMATITE SEBORREICA → DEFINIÇÃO: afecção crônica em áreas com glândulas sebáceas → QUADRO CLÍNICO - Descamação seca e difusa do couro cabeludo (caspas) - Afeta frequentemente a orelha externa (concha, CAE e sulco retroauricular) - Erupção é acompanhada de prurido discreto → TRATAMENTO - Controle da caspa, com xampus à base de sulfeto de selênio ou zinco - Lesões podem ser tratadas com corticoides tópicos, evitando-se corticoides fluorados OTITE MÉDIA AGUDA → DEFINIÇÃO: surgimento rápido de sinais e sintomas de inflamação do mucoperiósteo da orelha média de etiologia viral ou bacteriana - Atribui-se a vacinação para pneumococo e influenza e campanhas de educação quanto à etiologia viral de IVAS - Pico de incidência ocorre entre 6 e 12 meses de idade, diminuindo com o crescimento da criança, tornando-se pouco frequente por volta dos 7 anos → FATORES DE RISCO - Ambientais . IVAS Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina . Creche/ escola (aglomerados) . Tabagismo passivo . Uso de chupeta . Aleitamento materno . Outros fatores: ordem de nascimento, tamanho da família e condição socioeconômica - Fatores do hospedeiro . Idade: episódio de OMA antes dos 6 meses de idade é um poderoso preditor de OMAR (Otite Média Aguda Recorrente) . Anormalidades craniofaciais . Predisposição genética . Outros fatores: alergia, refluxo gastroesofágico, raça e sexo → PATOGÊNESE - Mais prevalente no lactente e na criança pequena - Fatores anatômicos e imunológicos característicos nesta faixa etária - Tuba auditiva (TA) é o órgão responsável pela ventilação da orelha média -> durante o repouso, encontra-se fechada -> sua luz é virtual e abre-se de forma intermitente pela contração do músculo tensor do véu palatino durante a deglutição ou bocejo - TA da criança é mais curta e mais horizontalizada, o que facilita a progressão de vírus e bactérias da rinofaringe para a orelha média - OMA geralmente é desencadeada por um processo infeccioso, associado a um determinado grau de disfunção da TA e do sistema imunológico -> frequentemente é precedida em 3-4 dias por IVAS -> vírus age como copatógeno, predispondo à infecção bacteriana - Etiologias -> Streptococcus pneumoniae (20-40%), Haemophilus influenzae (15-30%), Moraxella catarrhalis (10-20%) e Streptococcus pyogens e aureus (2-3%) → QUADRO CLÍNICO - Otalgia é sintoma frequente e específico -> ausência não exclui a doença - Febre (presente em metade dos casos) - Irritabilidade, diminuição do apetite, vômitos, diarreia e fadiga → DIAGNÓSTICO - Otoscopia: sinais de alteração da membrana timpânica -> mudanças de translucidez, forma, cor, vascularização e integridade . Achado de maior poder prognóstico -> abaulamento da membrana timpânica - Fase inicial -> abaulamento pode ser provocado pela produção de gases das bactérias na orelha média -> acúmulo de secreção purulenta, levando à distensão da MT e mantendo o abaulamento - Nível hidroaéreo: sugere reabsorção da secreção e pode representar a resolução do quadro - Coloração avermelhada da MT pode ser consequência do reflexo da hiperemia da mucosa do promontório, visualizada através de uma MT normal que pode gerar confusão durante o exame e acentuar-se quando a criança estiver chorando . Avermelhada -> indicar a fase inicial e viral . Alteração de cor (esbranquiçada ou amarelada) -> presença de secreção purulenta na orelha média é mais sugestiva de OMA bacteriana - Presença de otorreia no conduto auditivo significa a drenagem espontânea do processo da orelha média -> exsudato pulsátil, associado a uma perfuração puntiforme da MT raramente visualizada, sendo característica a consistência mucoide da secreção - Ideal seria a realização de timpanocentese para cultura da efusão no momento do diagnóstico → TRATAMENTO - Melhora independe da adesão ao tratamento ou ao tipo de medicação 1- ATB 2- AINE 3- Lavagem nasal 4- Corticoides tópicos nasais - Antibioticoterapia . Crianças -> opção de observação inicial nos casos de OMA não complicada nas primeiras 72 horas, iniciando-se tratamento sintomático com analgésico -> uso de antibióticos é indicado quando os sintomas pioram ou permanecem após este período . Crianças candidatas à observação inicial são aquelas sem sintomas de gravidade (toxemia, otalgia persistente por mais de 48 horas, ou febre acima de 39 ºC) e sem otorreia com OMA unilateral a partir dos 6 meses de idade . Caso a OMA seja bilateral, a observação inicial estará indicada somente a partir dos 2 anos . Não são candidatas para observação inicial: menores do que 6 meses de vida, presença de otorreia, OMA com sintomas de gravidade, OMA bilateral em menores de 2 anos, falhas no tratamento da OMA; recidiva de OMA (em menos de 30 dias), imunodeficiências, anormalidades craniofaciais, outra infecção bacteriana associada (tonsilite ou sinusite) . Amoxicilina é recomendada como tratamento de primeira escolha na OMA na dose elevada de 80-90 mg/kg/dia . Duração do tratamento é determinada pela idade e gravidade -> crianças menores de 2 anos e crianças com sintomas graves, recomendam-se 10 dias, em crianças entre 2 e 5 anos com OMA leve a moderada, sugerem-se 7 dias e, em crianças maiores de 6 anos com OMA leve a moderada, pode-se tratar por 5 a 7 dias - Cirúrgico . Meringotomia: com ou sem tubo de ventilação + Adenoidectomia . Timpanoplastia . Timpanomastoidectomia → PROFILAXIA - Objetivo: prevenir infecções pelos vírus e bactérias mais prevalentes - Influenza, pneumococo (PCV7) e H. influenzae não tipável (HIB) → OTITE MÉDIA AGUDA RECORRENTE (OMAR) - Definição: presença de três ou mais episódios de OMA em um período de 6 meses, ou quatro ou mais episódios de OMA em um período de 12 meses . Episódios devem ocorrer em intervalos separados e bem documentados . Entre os episódios deve haver melhora da orelha média, ficando livre de efusão - Fatores de risco associados: ocorrência do primeiro episódio de OMA antes de 6 meses de idade, frequentar creche, tabagismo passivo, ausência ou curta duração de aleitamento materno e história de outro filho com OMAR - Conduta . Manejo inicial visa à educação familiar e ao controle de potenciais fatores de risco . Timpanotomia para inserção de tubo de ventilação (TV) -> visa à entrada de ar na orelha média através de um artefato colocado cirurgicamente na membrana timpânica, substituindo artificialmente a função da TA . Adenoidectomia -> pode ser indicada em crianças que colocaram TV e após a sua extrusão voltaram a ter OMA -> adenoide pode predispor à otite não pelo seu tamanho, mas por ter função de reservatório bacteriano OTITES MÉDIAS CRÔNICAS → DEFINIÇÃO: condição inflamatória, infecciosa ou não, associada ou não a perfuração da membrana timpânica e otorreia - Cronológico: duração maior que 3 meses - Histológico: inflamação e alterações teciduais irreversíveis - Etiologias Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina . OMA supurativa . OMA necrotizante . Disfunção tubária isolada . Trauma . Tumores . Doenças sistêmicas (Granulomatose de Wegener/ Histiocitose X) → CLASSIFICAÇÃO 1- Não específica - Não coleosteatomatosas: perfuração central, perfuração marginal, retração timpânica * Perfuração bonitinha, retração = “tímpano sugado”- Colesteatomatosas: colesteatoma primário, secundário e congênito - Otite média crônica silenciosa (não tem perfuração) 2- Específica - TB - Actinomicose - Luética Otite Média Crônica Não Colesteatomatosa → FATORES DE RISCO - Frequentar creches - Ter fumantes em casa - Ser filho de mãe com história de otorreia - Ter alta taxa de infecções de vias aéreas superiores - Ser inuíte → QUADRO CLÍNICO - Sinais e sintomas variam de acordo com a apresentação clínica da doença - Perfuração Timpânica . Forma mais característica . Inflamação crônica leva a ruptura das três camadas da membrana timpânica Perfurações centrais Há presença de bordos e anel timpânico ao redor dos 360º da perfuração Perfurações marginais Ausência de bordo em parte da perfuração . Sintomas mais prevalentes: otorreia intermitente e hipoacusia condutiva - Retração Timpânica . Manifestação mais comum: hipoacusia . Pars flácida -> retração atical . Pars tensa → TRATAMENTO - Manter as orelhas secas 1- MEDICAMENTOSO - Controle da otorreia medicações tópicas como gotas antibióticas -> Ciprofloxacino 2- CIRÚRGICO - Objetivos: . Erradicar o processo inflamatório da orelha média e mastoide . Reconstruir a anatomia da orelha média . Reabilitar a função auditiva - Timpanotomia com colocação de tubo de ventilação - Timpanoplastia, - Timpanomastoidectomia: exérese dos tecidos de granulação e pólipos Otite Média Crônica Não Colesteatomatosa → DEFINIÇÃO - Crescimento progressivo, com destruição dos tecidos adjacentes, principalmente com erosão óssea, e possuem uma tendência a recorrência - Histologicamente: presença de células escamosas queratinizadas, . Compostos de matriz (epitélio escamoso queratinizado propriamente dito), conteúdo cístico (queratina) e, mais perifericamente, perimatriz (tecido de granulação e tecido conectivo subepitelial inflamatório) - Os colesteatomas são classificados como congênitos e adquiridos, sendo esses últimos divididos em primários e secundários - Etiopatogenia: principais teorias são: congênita, metaplásica, migratória, hiperplásica, de invaginação e de implantação → FATORES DE RISCO - Retrações moderadas e graves da membrana timpânica e as perfurações marginais - Anormalidades craniofaciais que se apresentam com alterações funcionais e/ou anatômicas da tuba auditiva → QUADRO CLÍNICO - Otorreia: costuma ter odor fétido característico - Perda de audição - Outros sintomas: sangramento, otalgia, vertigem e cefaleia - Contaminação bacteriana é secundária - Flora bacteriana: bactérias aeróbias mais comumente isoladas são Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus → DIAGNÓSTICO - Clínico -> Anamnese + Otoscopia evidenciando acúmulo epitelial - Audiometria: mostrará uma perda auditiva condutiva de grau variável, dependendo do grau de comprometimento da orelha média - Exames de Imagem: tomografia computadorizada é o exame de escolha para definir a extensão da doença, o comprometimento da cadeia ossicular e o grau de pneumatização da mastoide → TRATAMENTO - Cirúrgico -> objetivo primário a erradicação da doença . Timpanomastoidectomia fechada (ou wall up) . Timpanomastoidectomia aberta (ou wall down) . Mastoidectomia radical OTITE MÉDIA SEROSA/ EFUSÃO → DEFINIÇÃO: presença de fluido na orelha média na ausência de sinais ou sintomas de infecção otológica aguda - Efusão na orelha média reduz a mobilidade da membrana timpânica (MT), formando uma barreira na condução da onda sonora - Podem ocorrer pelo mau funcionamento da trompa de Eustáquio (TE) e, principalmente, após quadros de otite média aguda (OMA) e infecções de vias aéreas superiores (IVAS) - Classificação: aguda (menos de 3 semanas), subaguda (3 semanas a 3 meses) ou crônica (mais de 3 meses) → PATOGÊNESE - Pacientes com OME a tuba auditiva (TA) é incapaz de aliviar uma pressão negativa criada dentro da cavidade timpânica - Movimento de bombeamento muscular (pump like action) da TA, na tentativa de drenar líquido, aumentaria a pressão negativa -> na impossibilidade de a TA aliviar essa situação criada pela própria atividade de clearance, resultando na permanência do líquido dentro da fenda auditiva → QUADRO CLÍNICO - Fluido pode ser mucoide, seroso, sanguinolento, purulento ou uma combinação dos mesmos - Apesar da deficiência auditiva ser leve e transitória na maioria dos casos, a OME crônica gera apreensão por potenciais efeitos sobre o desenvolvimento da linguagem e da fala, e potenciais alterações irreversíveis na orelha média Colesteatoma: doença crônica de origem epitelial com características líticas e de migração, levando à erosão óssea, tanto da cadeia ossicular quanto das células da mastoide Acúmulo de queratina esfoliada dentro da orelha média ou dos espaços pneumatizados do osso temporal, sendo originado a partir de epitélio escamoso pneumatizado Otorrinolaringologia Júlia Araújo Medicina - Efusão produzida na orelha média pode ser mucoide, constituída por um exsudato gerado por glândulas secretoras, ou serosa, formada por um transudato, devido ao aumento da permeabilidade capilar - Otoscopia: visualização de bolhas ou nível hidroaéreo está associada a fase de resolução do processo, indicando que a TA está pérvia, recuperando sua função de equalização de pressão dos gases entre a OM e o ambiente externo . Conteúdo na OM torna a visualização da MT opaca, contrastando com o cabo do martelo, que parece ficar mais branco, com um “aspecto gessado” . Frequentemente ocorre um aumento da vascularização radial na pars tensa da MT, onde os vasos não são visíveis no tímpano normal - Membrana timpânica pode apresentar diminuição da transparência, e a efusão da OM, uma coloração âmbar, que pode variar de acordo com o tipo e a consistência do líquido, podendo atingir tonalidades escuras, do marrom até um azulado conhecido como blue ear drum - Outra forma de apresentação é a presença de secreção excessivamente viscosa, conhecida como glue ear → DIAGNÓSTICO - Suspeita clínica - Importante valorizar: falta de atenção, alterações comportamentais, dificuldade em acompanhar uma conversação em volume normal ou uso de aparelhos com som excessivamente elevado, alteração do desempenho escolar, atraso no desenvolvimento de fala ou linguagem; dificuldade em entender adequadamente as frases, sensação de ‘’ouvido tapado’’ ou estalidos, problemas de equilíbrio, falta de coordenação ou atraso no desenvolvimento motor, episódios de reagudização de otite média aguda - Padrão ouro: timpanometria comparada à miringotomia - Teste auditivo: é recomendado quando a OME persistir por mais de três meses, ou em qualquer momento em que se suspeite de atraso de linguagem, problemas de aprendizado ou deficiência auditiva significativa . Consequências da efusão sobre a audição são variáveis, podendo provocar perdas condutivas de até 55 dB → TRATAMENTO - Resolução espontânea da OME é favorável -> 75-90% das crianças após 3 meses - Resolução espontânea é menor nos casos bilaterais e com persistência de três meses ou mais - Crianças com OME sem fatores de risco para dificuldades de desenvolvimento devem ser inicialmente observadas por três meses a partir do início da efusão (se conhecido) ou da data do diagnóstico - Recomenda-se, nas crianças com OME crônica que realizaram avaliação auditiva, a seguinte abordagem, considerando-se o nível auditivo no melhor lado: 1. Níveis ≤ 20 dB (normal): repetir teste auditivo em 3 a 6 meses na persistência de OME 2. Níveis entre 21 e 39 dB (leve): abordagem individualizada de acordo com a duração da efusão, intensidade da perda auditiva e preferência dos pais 3. Níveis ≥ 40 dB (moderado): recomenda-se cirurgia - Tratamentocirúrgico: OME crônica unilateral por período igual ou maior que 6 meses, com perda auditiva condutiva igual ou maior do que 20 Db -> timpanotomia para inserção de TV -> TV permanece em média 8 a 14 meses . Independentemente do nível de audição ou do tempo de evolução, deve-se colocar tubo de ventilação (TV) na presença de bolsa de retração posterossuperior, início de erosão ossicular, atelectasia adesiva ou bolsa de retração com acúmulo de debris de queratina . Associar a adenoidectomia à miringotomia tem eficácia semelhante à inserção isolada do TV somente em crianças maiores de 4 anos, apresentando benefício limitado e de curta duração em crianças menores - Tratamento medicamentoso . Corticoesteroides COMPLICAÇÕES OTITES MÉDIAS → PERFURAÇÃO DA MEMBRANA TIMPÂNICA - Qualquer quebra na integridade da membrana timpânica - Podem ser: centrais ou marginais; benignas ou malignas . Benigna: se restringe à doença tubotimpânica . Maligno: patologia aticoantrais - Avaliação audiométrica completa é mandatória - Perda auditiva é do tipo condutiva - Tratamento: cirúrgico —> miringoplastia - Outros: Timpanoesclerose, atelectasia, erosão ossicular, perda auditiva condutiva ou neurossensorial → EXTRACRANIANAS - Abscesso Retroauricular: abaulamento retroauricular, febre, toxemia e dor intensa. - Fístula Labiríntica: associada a colesteatoma → INTRACRANIANAS - Mais frequente é a meningite, seguida de abscesso cerebral, tromboflebite do seio sigmoide, abscesso epidural, empiema subdural e hidrocefalia otogênica. - Com exceção da meningite, que geralmente é uma complicação de um quadro de otite média aguda, as complicações intracranianas são, normalmente, decorrentes de OMC colesteatomatosa ou não - As vias de disseminação das complicações intracranianas podem ser: contiguidade (disseminação hematogênica ou via tromboflebite) ou por continuidade (através da parede óssea por osteíte). - Sintomas predominantes nas complicações intracranianas são febre persistente, cefaleia e otorreia purulenta
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