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Maria Clara Cavalcante DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ, IDADE GESTACIONAL E DATA PROVÁVEL DO PARTO DIAGNÓSTICO DA GRAVIDEZ Esse diagnóstico deve ser o mais precoce possível, uma vez que permite logo o início do pré-natal O diagnostico é baseado principalmente na avaliação laboratorial da gonadotrofina humana (HCG) no exame de urina ou de sangue É importante salientar que a anamnese e o exame físico não são altamente sensíveis para o DIAGNÓSTICO PRECOCE, porém os dados coletados podem ser úteis para as características do fluxo da gravidez Diagnóstico precoce: • Acompanhamento pré- natal • Mudanças comportamentais • Estimativa da idade gestacional Fluxograma para diagnóstico da gravidez: O diagnóstico pode ser: • Clínico • Hormonal • Ultrassonográfico DIAGNÓSTICO CLÍNICO Anamnese + exame clínico Sinais de presunção • Sintomas – amenorreia, neurossensorial, náuseas, perversão alimentar, congestão mamária, tubérculos, aréola secundária, colostro, rede de Haller, urinário (polaciúria), aumento da sensibilidade álgica mamária, cloasma gravídico ou máscara gravídica (são manchas causadas pelo aumento de melanina, comuns na testa, ao redor do nariz, lábio superior e bochecha), linha nigra (pigmentação da linha alba), sinal de hunter • Sinais • Atraso menstrual ATÉ 14 dias Sinais de probabilidade • Atraso menstrual (> 14 dias) Ciclos menstruais Última menstruação Vida sexual Contracepção • Aumento de volume uterino – toque vaginal combinado • Alteração da consistência uterina - Consistência elástico - pastosa (amolecimento) • Alteração do formato uterino - Sinal de Piskasek, Nobile- Budin, Osiander, Sinal de Jacquemier, Kluge, Hegar • Aumento do volume abdominal- 16 semanas Sinais de certeza • São os sinais de origem fetal • Batimentos cardíacos (Sonar a partir de 10-12 semanas/ Pinard > 20 semanas) • Percepção dos movimentos fetais e partes do feto pelo examinador (pela palpação abdominal pode- se perceber os movimentos a partir de 18-20 semanas) • Reconhecimento ultrassonográfico da Gravidez • Rechaço = Puzos (rechaço fetal intrauterino – impulso no útero durante o exame bimanual) • Delimitação do feto - Leopold • Movimentação corpórea - 16 a 20 semanas Idade menstrual DIAGNÓSTICO HORMONAL Gonadotrofina coriônica humana: • É secretado após a implantação (6-12 dias após a ovulação) – É o 1º momento em que pode ser detectado e os valores >25 MUI/ML já sugerem a gravidez • Essa concentração duplica a cada 29-53h no período dos 30 primeiros dias após a implantação – o aumento mais lento pode ser sugestivo de gravidez fora da normalidade (morte) • A concentração máxima ocorre em 8-10 semanas da gestação (60.000 a 90.000 mUI/mL) – mas os intervalos podem ser amplos • Após a 10ª semana - valores tendem a cair, atingindo a concentração média de 12.000 mUI/mL • Na 20ª semana – Permanece constante Maria Clara Cavalcante • Os valores da HCG não são úteis para calcular a IG – Pq? Porque os intervalos são longos, exceto nas 3ª’s semanas após a concepção 1 semana após fertilização – Sinciciotrofoblasto Produção- testes dependem de: concentração, sensibilidade Sequência: 1. DUM 2. Ovulação 3. Fertilização 4. Implantação 5. HCG detectável (1 semana após a fecundação) Tipos de testes: • Sanguíneo: É o método + sensível, a concentração de HCG aqui é > que na urina No início da gestação o teste de sangue (soro) pode ser positivo enquanto o de urina ainda negativa (pois ele acusa posteriormente) – Porém, se o de urina já acusar, pode-se praticamente confirmar a gestação A única vantagem do teste sanguíneo (do soro) em relação ao de urina é a rapidez em que é confirmado (o de sangue é qualitativo) • Urina: Positiva em valores a partir de 20 a 50 mUI/mL Como os valores da urina podem ser menores que no soro, eles podem negativar enquanto os de sangue positivam Pode ser usada uma amostra aleatória de urina para o teste, pois a produção de HCG não é circadiana, logo não altera a sensibilidade do exame SANGUE URINA SENSIBILIDADE (mUI/mL) 1-5 20-50 ANÁLISE Laboratorial Domiciliar RESULTADO QuaLI/QuanTItativo QuaLItativo • Testes rápidos (farmácia ou caseiros): Usam métodos de ensaio imunométricos para detectar HCG na urina O mais usado no Brasil é o de tira e para fazê-lo a tira só deverá ser retirada na hora da realização dele Faixa de controle – é a linha que surge abaixo da área azul, é fina, pode ser rosada ou roxa – indica que o teste foi realizado com sucesso, mas ainda não tem a ver com o resultado Abaixo da faixa de controle poderá surgir outra faixa da mesma coloração, que pode ser fraca ou forte – Fraca: Se for de início recente e os níveis de HCG estiverem ainda baixos Assim, se no final de 5 minutos tiverem duas faixas roxas (mesmo fracas) é + (mesmo assim deve-se realizar outros exames) • Se for – só haverá a única faixa inicial, que é a de controle • Se não houver nenhuma faixa quer dizer que o teste não foi realizado da forma correta e deve ser repetido com uma nova tira Quais as causas de resultados falso-negativos em testes de dosagem de hCG? Causa + comum é quando a ovulação ocorreu mais tarde do que o que foi esperado e a realização do teste é muito próxima do período de concepção Se existe a suspeita de gravidez, mesmo que tenha negativado, deve-se repetir o teste em 1 semana – Essa espera minimiza os resultados falso-negativos Mulheres com ciclo menstrual irregular devem esperar pelo menos 14 dias a partir da relação sexual antes de fazerem o teste de gravidez Quais as causas de falso-positivo? Ocorrem raramente, pois quando positivam geralmente é gravidez! Mesmo assim, quando ocorrem, podem ser por causa: • Erro do operador • Gravidez bioquímica (aborto subclínico após a implantação) • Secreção de hCg por um tumor (esse marcador pode ser tumoral) • Secreção pituitária de HCG, comumente em mulheres perimenopáusicas Orientações após o teste sorológico: Teste negativo e não desejo de gravidez – Orientar e oferecer métodos de contracepção, ofertar os testes rápidos Teste negativo e desejo de gravidez – Verificar se há esterilidade do casal e encaminhar, prescrever ácido fólico com orientações Teste positivo e desejo de gravidez – Iniciar o pré-natal, informações sobre a gestação, engajar a participação do pai nas consultas Teste positivo e não desejo de gravidez – Orientar possibilidade de adoção, informar que a legislação brasileira permite a interrupção da gravidez em casos de violência sexual, risco de morte materna e anencefalia fetal, informar a paciente sobre os riscos da interrupção da gestação (sobretudo em casa) Maria Clara Cavalcante DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO Transvaginal - confirma: • Gestação • Localização • Idade gestacional As medidas biométricas são importantes para a IG e DPP – O comprimento cabeça-nádega (CCN) é o referencial no 1º trimestre! A atividade cardíaca do feto é identificada por volta da 5ª semana em embriões com 2mm, mas em 5-10% não se consegue identificar em até 4mm Marcos importantes da USG no 1º trimestre: ➔ 4 semanas – saco gestacional (3-4 semanas após a OVULAÇÃO) – O saco vitelínico é a 1ª estrutura a ser vista no saco gestacional ➔ 5-6 semanas - vesícula vitelínica ➔ 6- 7 semanas - embrião com batimentos (eco com BCF) ➔ 10-12 semanas – embrião e placenta (11-12: Cabeça fetal e 12: placenta) ➔ 16 semanas – placenta definida MARCOS SEMANAS Saco gestacional 4 Vesícula vitelina 5-6 Eco fetal com BCF 6-7 Cabeça fetal 11-12 Placenta 12 Em resumo, o diagnóstico da gravidez se baseia em qualquer um dos seguintes parâmetros: • Detecção de hCG no sangue ou na urina • Identificação da gravidezpor USG • Identificação da atividade cardíaca fetal por USG Doppler A probabilidade da gestação é aumentada se existirem sinais de gravidez, porém a falta deles não exclui ela Os testes de gravidez têm mais riscos de serem + se forem feitos no dia esperado para a descida menstrual IDADE GESTACIONAL E DATA PROVÁVEL DO PARTO DEFINIÇÃO DE IG: Menstrual X Embrionária: 2 semanas Clínica: anamnese, exame clínico Ultrassonografia EXAME CLÍNICO Palpado a partir de 12 semanas Mensuração do fundo como indicador Depende: • Examinador • Posição • Leiomioma • Obesidade • Gemelaridade ERRO DE DATA DUM incerta, ciclos irregulares, uso recente de contraceptivos hormonais, sangramentos no início da gestação, altura uterina discordante COMO CALCULAR A IG? Através da DUM: Se for conhecida: • Contar o número de semanas a partir do 1º dia da última menstruação, até o dia da consulta Se for desconhecida: • Realizar exame obstétrico e USG Assim sendo, pode-se calcular a IG através da DUM e de USG precoce • OBS: se discrepância (> 2 semanas) prevalece a estimada pela ultrassonografia Maria Clara Cavalcante Exemplo: DUM - 02.10.2019 - Qual a idade gestacional da data de hoje- 07.04.2020? Outubro: 29 dias Novembro: 30 dias Dezembro: 31 dias Janeiro: 31 dias Fevereiro: 28 dias Março: 31 dias Abril: 7 dias Tudo isso totaliza 186, que deverá ser dividido por 7 dias para dar o total de semanas, ficando = 26 semanas e 5 dias DATA PROVÁVEL DO PARTO A partir da DUM ou da USG de 1º trimestre Confiabilidade: • DUM conhecida • Ciclos regulares • Sem uso de ACHO (contraceptivos) • Sem sangramento Usa-se a Regra de Naegale (DPP) • Pega a DUM, soma-se 7 ao número de dias e subtrai 3 meses • Cuidado com a mudança de mês, pois deve-se adicionar 1 mês quando ultrapassar o número de dias de cada mês Exemplo: DUM - 01.09.2019 DPP? - 08.06.2020 DUM - 28.01.2019 DPP? - 04.11.2020 GESTAÇÃO Termo precoce: entre 37 sem e 38 sem e 6 dias Termo completo: 39 sem a 40 sem e 6 dias Termo tardio: 41 sem a 41 sem e 6 dias ESTIMATIVA USG BASEADA EM PARÂMETROS BIOMÉTRICOS ESTIMATIVA USG Parâmetros biométricos Variação normal: • No início é menor entre fetos de mesma idade • Aumenta à medida que a gestação avança • Ajustar Ultrassonografia com DUM confiável- 5 dias PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO – 1º TRIMESTRE Até 13ª semana tem uma melhor acurácia de ± 5-7 dias Melhor predição da data do parto Reduz induções por pós- datismo Se FIV- data da transferência SACO GESTACIONAL - Usado quando ainda não se identifica o embrião < 6 semanas COMPRIMENTO CABEÇA-NÁDEGAS - Melhor parâmetro- até 13 semanas 2º TRIMESTRE Entre 14 - 21 semanas - acurácia de 10 a 14 dias Não trocar idade da gravidez se diferir da USG 1º T • Diâmetro biparietal • Circunferência cefálica • Circunferência abdominal • Comprimento do fêmur • Outras medidas 3º TRIMESTRE É a mais imprecisa Parâmetros biométricos: DBP, CF Avaliação única é insuficiente Padrão de crescimento fetal Avaliação seriada em 2 semanas Centros de ossificação epifisários: fêmur distal (32sem), tíbia proximal (35sem), úmero proximal Em resumo: • Exames USG não altera a idade gestacional anteriormente definida • Exames subsequentes avaliam crescimento e não a IG 1º TRIMESTRE CCN Melhor predição Menor variabilidade 2º TRIMESTRE Múltiplos parâmetros Atenção a parâmetros discordantes 3º TRIMESTRE Múltiplos parâmetros É a mais imprecisa Maria Clara Cavalcante PARÂMETRO ERRO 95% (DIAS) Fertilização in vitro 1 CCN 5-7 Saco gestacional 7 DBP (até 20 semanas) 7-10 Exame clínico (1º trimestre) 14 DUM confiável 14-17 Altura uterina (3º trimestre) 28-36 DATANDO A GRAVIDEZ É concluído, então: • Tem atraso? Pode ser gravidez? • Se é gestação, qual o risco inerente ao perfil da paciente? • Risco habitual X Alto Risco • Iniciar precocemente o pré- natal • Fazer USG obstétrico precoce (1º T), IG e DPP • Repetir para avaliar morfologia fetal • Repetir para avaliar crescimento, bem estar fetal PONTOS-CHAVE A gravidez é um estado fisiológico, mas é muito importante seu diagnóstico As alterações endocrinológicas, fisiológicas e anatômicas que acompanham a gravidez causam sinais e sintomas que fornecem evidências Classificadas em 3 grupos: • Presunção • Probabilidade • Certeza Os sinais de presunção e probabilidade podem ocorrer em outras situações clínicas que gerem dúvidas no diagnóstico, até mesmo o hCG positivo Os 3 sinais positivos de certeza de gravidez são os únicos que asseguram o diagnóstico (BCF, percepção dos movimentos fetais e USG confirmatória) A idade gestacional é melhor definida quando a USG obstétrica é realizada até 12- 13 semanas (1º trimestre) Diagnosticar gestação precocemente, para realizar seguimento de forma oportuna • Primeiro trimestre: 0 a 13 semanas • Segundo trimestre: 14 a 26 semanas • Terceiro trimestre: 27 a 40/41 semanas REFERÊNCIAS: Aula ministrada pela professora Eveline Valeriano Linhares Tratado de Obstetrícia FEBRASGO, 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019, Cap. 7 REZENDE Filho, Jorge de, MONTENEGRO, Carlos A. Barbosa, Obstetrícia. 13ª ed, RJ: Granabara Koogan, 2017, capítulos 09 ( DIAGNÓSTICO DA GRAVIDEZ) e 10 (IDADE DA GESTAÇÃO E DATA PROVÁVEL DO PARTO). Ministério da Saúde 2005: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prenatal_puerperio_atencao_ humanizada.pdf
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