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18/05/2014 1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ProcuradoriaProcuradoria--Geral da RepúblicaGeral da República X Curso de Ingresso e X Curso de Ingresso e VitaliciamentoVitaliciamento para Procuradores da Repúblicapara Procuradores da República Brasília, Brasília, 18 18 de maio de 2014de maio de 2014 2 Denúncia: Técnica de Elaboração.Denúncia: Técnica de Elaboração. Questões Relevantes.Questões Relevantes. Wellington Cabral SaraivaWellington Cabral Saraiva Procurador Regional da RepúblicaProcurador Regional da República Mestre em Direito (Universidade de Brasília)Mestre em Direito (Universidade de Brasília) Coordenador da Assessoria Jurídica Constitucional do Coordenador da Assessoria Jurídica Constitucional do ProcuradorProcurador--Geral da RepúblicaGeral da República TwitterTwitter: @: @WSaraiWSarai –– InstagramInstagram: : WSaraiWSarai –– Blog: Blog: wsaraiva.comwsaraiva.com 3 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 4 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 5 Aspectos gerais (1)Aspectos gerais (1) A sociedade quer RESULTADOS da atuação do Ministério Público 6 Aspectos gerais (2)Aspectos gerais (2) A denúncia é peça essencial do processo penal Fixa o litígio a ser julgado e serve como baliza para toda a atuação do MP e da defesa daí em diante Estabelece a definição jurídica da conduta delituosa para todos os efeitos (prescrição, suspensão condicional do processo, liberdade provisória etc.), até a sentença ou acórdão 18/05/2014 2 7 Aspectos gerais (3)Aspectos gerais (3) Defeitos da denúncia, a depender de sua gravidade, podem dar ensejo à rejeição dela (CPP, art. 43), à absolvição indevida, ao trancamento da ação penal por habeas corpus, à anulação do processo (mesmo após condenação transitada em julgado) e até à responsabilização do PR Exemplo: caso juiz Casem Mazloum (STF, HC 89.310/SP, G. Mendes) 8 Aspectos gerais (4)Aspectos gerais (4) “HABEAS CORPUS. QUADRILHA OU BANDO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. POSSIBILIDADE DE EXAME MESMO DEPOIS DE JULGADA A AÇÃO PENAL. ORDEM DEFERIDA. 1. A sobrevinda de acórdão condenatório julgando procedente a denúncia cuja inépcia é questionada no habeas corpus não afasta o interesse de exame do writ, sendo plenamente possível o reconhecimento da inviabilidade da inicial acusatória e o trancamento da respectiva ação penal, mesmo considerando-se a posterior confirmação levada a efeito pelo Superior Tribunal de Justiça no exame de recurso especial. [...] 3. Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua devida conformação, não se coadunam com os postulados básicos do Estado de Direito. 4. Não é difícil perceber os danos que a mera existência de uma ação penal impõe ao indivíduo. Daí a necessidade de rigor e prudência por parte daqueles que têm o poder de iniciativa nas ações penais e daqueles que podem decidir sobre o seu curso. 5. Ordem deferida para determinar o trancamento da ação penal instaurada em face do paciente.” STF. 2a T. HC 89.310/SP. Rel.: Min. Gilmar Mendes. 31 mar. 2009, maioria. DJe 213, publ. 13 nov. 2009. 9 Aspectos gerais (5)Aspectos gerais (5) Defeitos da denúncia: dificultam a compreensão exata dos crimes por parte de todos os membros que venham a intervir no processo (audiências, substituições, precatórias, sessões etc.), de juízes e de testemunhas podem gerar aplicação incorreta de rito processual, de concurso material ou formal, de continuidade delitiva, de circunstâncias agravantes, de causas de aumento ou diminuição da pena etc. 10 Aspectos gerais (6A)Aspectos gerais (6A) “Em uma palavra: denúncia que não descreve, adequadamente, o fato criminoso e que também deixa de estabelecer a necessária vinculação da conduta individual de cada agente ao evento delituoso qualifica-se – como ressaltado pela jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal - como denúncia inepta (RTJ 57/389 – RTJ 163/268-269). Essa diretriz jurisprudencial, que tem preponderado na prática processual desta Suprema Corte, nada mais reflete senão antigo e clássico magistério de JOÃO MENDES DE ALMEIDA JÚNIOR (O Processo Criminal Brasileiro, vol. II/183, item n. 305, 4. ed., 1959, Freitas Bastos), eminente Professor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e Ministro deste Supremo Tribunal Federal: 11 Aspectos gerais (6B)Aspectos gerais (6B) “Vamos, agora, determinar as formalidades da queixa e da denúncia. ....................................................... É uma exposição narrativa e demonstrativa. Narrativa, porque deve revelar o fato com todas as suas circunstâncias, isto é, não só a ação transitiva, como a pessoa que a praticou (quis), os meios que empregou (quibus auxiliis), o malefício que produziu (quid), os motivos que o determinaram a isso (cur), a maneira por que a praticou (quomodo), o lugar onde a praticou (ubi), o tempo (quando). Demonstrativa, porque deve descrever o corpo de delito, dar as razões de convicção ou presunção e nomear as testemunhas e informantes.” (grifei) STF. 2a T. HC 93.033/DF. Rel.: Min. Celso de Mello. Decisão monocrática, 1o ago. 2011. DJe 151, divulg. 5 ago. 2011. 12 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 18/05/2014 3 13 Linguagem (1)Linguagem (1) Uma denúncia bem construída pode salvar investigação deficiente; uma denúncia mal redigida pode fazer naufragar uma ótima investigação A denúncia clara e suficiente facilita a apresentação das alegações finais em audiência (arts. 403 e 534 do CPP) e a sustentação oral na sessão 14 Linguagem (2)Linguagem (2) A denúncia é o relato de uma história, que precisa ser clara e completa para todos os que intervenham no processo A denúncia é uma peça de trabalho processual, não é uma peça literária, muito menos de estilo gongórico A sabedoria do subscritor revela-se na clareza, não no rebuscamento nem na afetação 15 Linguagem (3)Linguagem (3) A denúncia deve transmitir segurança à acusação Deve refletir consistência, ainda que a acusação não esteja plenamente provada (e não precisa estar nesse momento) A denúncia deve demonstrar segurança, ainda que seu autor não a sinta plenamente (in dubio pro societate!) 16 Linguagem (4)Linguagem (4) É recomendável utilizar linguagem precisa e acessível na denúncia. Riscos da linguagem rebuscada: O alvo da denúncia é o réu, que tem direito de compreendê-la (e os colegas também...) Dificulta a compreensão por parte de testemunhas, quando lhes for lida ou resumida, como frequentemente ocorre em audiências Pode gerar problemas graves no caso de tradução, seja para pedidos de cooperação internacional, seja para réus que não falem português 17 Linguagem (5)Linguagem (5) Abolir o futuro do pretérito Evitar adjetivos ao máximo Cuidado com saltos lógicos Provou-se X. X causou Y. Então π... Abolir referências desnecessárias ao relatório do inquérito e à polícia A acusação é do Ministério Público, não da polícia criminal 18 Linguagem (6)Linguagem (6) São dispensáveis e indesejáveis: “Consta que...”, “Segundo o anexo inquérito policial...”, “Conforme a digna autoridade policial” e equivalentes A denúncia narra os fatos, não a investigação O que narra a investigação é o relatório do inquérito 18/05/2014 4 19 Linguagem (7)Linguagem (7) Exemplos do que não fazer: “Consoante consta do fólio investigativo, o increpadoassacou contra a desditosa vítima golpes que, por sua sede, extensão e letalidade, a levaram a óbito.” “De acordo com o relatório conclusivo da digna autoridade policial, o denunciando, à testa do ente da administração pública direta, tredestinou recursos públicos de monta das burras da edilidade, os quais haviam sido transferidos da peça orçamentária da União por esta, na qualidade de convenente.” 20 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 21 22 23 24 18/05/2014 5 25 Identificação das fotografiasIdentificação das fotografias Foto 1: Carl Bernstein e Bob Woodward, Califórnia, 1974 Foto 2: W. Mark Felt, Chefe do Escritório do FBI em Salt Lake City, 20/1/1958 Foto 3: W. Mark Felt sai de tribunal em 1978 Foto 4: W. Mark Felt e sua filha, após a revelação da identidade do “Garganta Profunda”, 2005 26 Algumas “regras de ouro”Algumas “regras de ouro” 1) Entenda o caso! Faça que os outros o entendam! 2) “Follow the money.” (“Siga o dinheiro” – Deep Throat) 3) “A quem aproveitar o fato, este o terá praticado.” (“Cui prodest scelus, is fecit.” – Sêneca) 27 Exemplos de aplicação da regraExemplos de aplicação da regra Peculato Fraudes em licitação Desvio de verbas federais Lavagem de bens Estelionato Crimes financeiros Sonegação tributária e previdenciária 28 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 29 Disciplina no CPP (1)Disciplina no CPP (1) Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 30 Disciplina no CPP (2)Disciplina no CPP (2) Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I – for manifestamente inepta; II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. 18/05/2014 6 31 Disciplina no CPP (3)Disciplina no CPP (3) Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente. 32 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 33 A identificação dos denunciados deve ser o mais cabal possível identificação completa: nome completo, alcunha, nacionalidade, estado civil, ocupação, data de nascimento, idade na época do crime, naturalidade, grau de instrução, filiação, documentos de identidade (cédula de identidade, CIC, CTPS, passaporte, título eleitoral, identidade profissional etc.), residências, endereços profissionais Identificação dos denunciados (1)Identificação dos denunciados (1) 34 Se não estiverem disponíveis todos os dados, pode oferecer-se denúncia com os existentes Na filiação, frequentemente não se sabe o nome do pai; indica-se apenas o da mãe Identificação dos denunciados (2)Identificação dos denunciados (2) 35 A identificação é importante na própria denúncia Evita homonímia Facilita futuras pesquisas relativas ao réu (endereços, antecedentes, mandados de prisão etc.) Auxilia a identificação do réu em caso de precatória ou CJI (cooperação jurídica internacional) e até em simples diligências (citação, intimação etc.) Serve para extração de carta de guia Identificação dos denunciados (3)Identificação dos denunciados (3) 36 Evitar “o primeiro”, “o oitavo”... “o décimo terceiro” denunciado: os denunciados têm nome, e isso facilita o trabalho de todos Identificação dos denunciados (4)Identificação dos denunciados (4) 18/05/2014 7 37 Se o crime se prolongou no tempo, convém indicar a idade do denunciado no início dos fatos (chama a atenção para a menoridade e para a condição pessoal do denunciado) Se o denunciado estiver preso, deve-se indicar o local da prisão, para que aí seja citado Identificação dos denunciados (5)Identificação dos denunciados (5) 38 Se existir mais de um endereço em que haja probabilidade de o denunciado ainda poder ser encontrado, todos devem ser indicados Serve para que o denunciado seja sucessivamente procurado em todos eles, caso não seja localizado, a fim de evitar nulidade Evita a necessidade de depois rever os autos por completo, à procura de endereços do denunciado Identificação dos denunciados (6)Identificação dos denunciados (6) 39 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 40 Descrição dos crimes (1)Descrição dos crimes (1) O CPP exige que a descrição do crime se faça com todas as suas circunstâncias relevantes 41 Descrição dos crimes (2)Descrição dos crimes (2) É absolutamente indispensável que todos os elementos dos tipos penais aplicáveis sejam concretamente apontados, sob pena de a denúncia poder ser tida como inepta, a qualquer momento O perigo dos HCs e o acesso per saltum ao STJ e STF: o “HC canguru” 42 Descrição dos crimes (3)Descrição dos crimes (3) A narrativa deve ser completa, precisa, clara e (tanto quanto possível) breve 18/05/2014 8 43 Descrição dos crimes (4)Descrição dos crimes (4) A narrativa deve ter a extensão necessária para a compreensão cabal e o mais fácil possível do caso O tamanho correto da denúncia é o recomendado pelo binômio necessidade—bom senso O objetivo a alcançar é a descrição completa do relevante, com a brevidade possível 44 Descrição dos crimes (5)Descrição dos crimes (5) Todos os fatos narrados devem ser imputados aos denunciados As frases devem ser diretas e dizer o que os denunciados fizeram a cada momento 45 Descrição dos crimes (6)Descrição dos crimes (6) Cuidado com orações sem sujeito, com sujeito indeterminado, com a voz passiva “Apurou-se na investigação que houve desvio de verba pública.” “A empresa sonegou R$...” “Conforme demonstrou o Ibama, ocorreu supressão de Mata Atlântica.” “Os documentos anexos mostram que o convênio não foi cumprido.” 46 Descrição dos crimes (7)Descrição dos crimes (7) É fundamental rever a interpretação jurisprudencial e doutrinária acerca do tipo penal invocado, para verificar se foram apontados TODOS os elementos que configuram o delito, sob risco de inépcia 47 Descrição dos crimes (8)Descrição dos crimes (8) datas, o mais aproximado possível horários, se possível valores (históricos, corrigidos e em reais) nome dos envolvidos, com o papel de cada qual no crime laudos periciais fluxo dos bens documentos que provem o delito (autos de infração, autos de apreensão etc.) volumes e folhas em que se encontram todos os elementos mencionados na denúncia Conforme o caso, devem-se indicar: 48 Descrição dos crimes (9)Descrição dos crimes (9) É indispensável indicar o elemento subjetivo do crime No crime doloso, fazer referência pelo menos à “vontade livre e consciente” de o denunciado praticar o crime No crime culposo, se legalmente admitido (CP, art. 18, parágrafo único), indicar a modalidadede culpa e de que forma o réu a praticou No concurso de agentes, indicar a “unidade de desígnios” 18/05/2014 9 49 Descrição dos crimes (10)Descrição dos crimes (10) Não se deve, em princípio, fazer discussão acerca dos elementos da investigação Por ser apenas hipótese de trabalho para a ação penal, a denúncia deve descrever o crime como se ele estivesse induvidosamente provado A discussão da prova é, em regra, para as alegações finais Regra temperada nas ações penais originárias e em casos especiais 50 Descrição dos crimes (11)Descrição dos crimes (11) Não se devem transcrever depoimentos, em princípio Exceções possíveis: denúncia por crime contra a honra, em que a ofensa haja sido proferida em depoimento; crime de falso testemunho Transcrever interceptação telefônica pode ser útil, eloquente e saboroso, mas insuficiente para atender ao art. 41 do CPP 51 Descrição dos crimes (12)Descrição dos crimes (12) Transcrever trechos de laudos, informações técnicas, autos etc. pode ser relevante ou até essencial A mera remissão pode resultar insuficiente, seja porque o juiz poderá não consultar o documento, seja porque cópia da denúncia usada em outros autos (HCs, precatórias etc.) pode não estar acompanhada dos documentos citados Use notas de rodapé, se for o caso 52 Descrição dos crimes (13)Descrição dos crimes (13) No caso de ação criminosa complexa ou no concurso de muitos crimes, pode ser conveniente dividir a denúncia em capítulos Pode ser necessário capítulo de introdução, para esclarecer aspectos gerais do caso ou da investigação O uso de capítulos organiza a denúncia, o raciocínio do autor e facilita a compreensão 53 Descrição dos crimes (14)Descrição dos crimes (14) Capítulos (cont.): Os capítulos podem destinar-se a cada crime ou conjunto de crimes Podem também destinar-se a descrever a participação diferenciada de cada denunciado ou grupo de denunciados Pode ser conveniente inserir índice 54 Descrição dos crimes (15)Descrição dos crimes (15) Capítulos (cont.): Em casos de grandes proporções, os capítulos podem destinar-se a delimitar a atuação de núcleos da quadrilha ou organização criminosa, a fim de permitir, se for o caso, posterior desmembramento dos autos Pode ser indispensável inserir capítulo final, com resumo das condutas e da função dos denunciados ou com outros elementos Não é caso de desmembrar? 18/05/2014 10 55 Descrição dos crimes (16)Descrição dos crimes (16) A depender do caso, pode ser conveniente inserir no corpo da denúncia: reprodução gráfica de documentos atalho para arquivos de som ou imagem (para reprodução de imagem de alvos monitorados, de comunicações telefônicas interceptadas etc.) – anexar, à denúncia impressa, CD, DVD ou HD com o arquivo da denúncia e os arquivos a ela vinculados 56 Descrição dos crimes (17)Descrição dos crimes (17) Nos crimes societários, é importante indicar, o mais detalhadamente possível, a função do sócio na empresa, a participação dele nos atos delitivos e o proveito que sua conduta tenha gerado para si ou para a empresa A mera condição de sócio não implica responsabilidade penal Cautela recomendável em face da mudança hermenêutica – virtual ou real – no STF e STJ no que tange à chamada “denúncia genérica” 57 Descrição dos crimes (18)Descrição dos crimes (18) Quando o crime tiver tido repercussão econômica, é importante citar os valores envolvidos na moeda da época e também corrigi-los monetariamente, para permitir a compreensão da magnitude do dano gerado pela conduta ilícita Importante para o recebimento da denúncia, para requerimento de prisão preventiva, para a fixação da pena, para a definição do dano (CPP, art. 387, IV) e até para a atenção que o juiz dará ao caso) 58 Descrição dos crimes (19)Descrição dos crimes (19) Conforme o caso, deve-se indicar desde logo a lesão econômica que sofreu o ofendido, se possível, para reparação na sentença condenatória (CPP, art. 387, IV) 59 Descrição dos crimes (20)Descrição dos crimes (20) Deve-se atentar para requisitos especiais de certos crimes Exemplo 1:Exemplo 1: Nos crimes contra a honra crimes contra a honra e no de desacatodesacato, convém, em face da jurisprudência, transcrever as palavras ou descrever os gestos que consubstanciaram a ofensa 60 Descrição dos crimes (21)Descrição dos crimes (21) Exemplo 2:Exemplo 2: No crime de sonegação de sonegação de autosautos (CP, art. 356), deve-se indicar a data da intimação prévia não atendida para a devolução dos autos 18/05/2014 11 61 Descrição dos crimes (22)Descrição dos crimes (22) Exemplo 3:Exemplo 3: No crime de patrocínio infielpatrocínio infiel (CP, art. 355, caput), é indispensável indicar o prejuízo sofrido pelo cliente Exemplo 4:Exemplo 4: No crime de estelionatoestelionato, deve-se indicar a vantagem ilícita, o prejuízo alheio (inclusive o valor dele) e o meio fraudulento 62 Descrição dos crimes (23)Descrição dos crimes (23) Exemplo 5:Exemplo 5: No crime de falso falso testemunhotestemunho (CP, art. 342), deve-se indicar em que consistiu a mentira, sua potencialidade lesiva e com base em que se chegou à conclusão de ser falso o depoimento 63 Descrição dos crimes (24)Descrição dos crimes (24) Exemplo 6:Exemplo 6: Nas fraudes para obtenção fraudes para obtenção de benefício previdenciáriode benefício previdenciário, deve-se indicar o valor pago pelo INSS, o período em que o benefício foi pago, a espécie e os dados de identificação do benefício: NB (número do benefício), DIB (data de início) 64 Descrição dos crimes (25)Descrição dos crimes (25) Exemplo 7:Exemplo 7: No não recolhimento de não recolhimento de contribuição previdenciária descontadacontribuição previdenciária descontada (“apropriação indébita previdenciária” — CP, art. 168-A) e nos crimes societários em geral, devem-se indicar os dirigentes da empresa, a função de cada qual e o período em que estiveram à frente da pessoa jurídica 65 Descrição dos crimes (26)Descrição dos crimes (26) Exemplo 8:Exemplo 8: Na operação clandestina de operação clandestina de estação de telecomunicaçõesestação de telecomunicações (“rádio pirata” — Lei 9.472/97, art. 183), deve- se indicar a potência do transmissor (em watts), o alcance dele, se disponível, e a ausência de requerimento administrativo de autorização da estação 66 Descrição dos crimes (27)Descrição dos crimes (27) Exemplo 9:Exemplo 9: No crime de lavagem de lavagem de bensbens, é necessário delinear como ocorreram os crimes antecedentes, com indicação adequada e suficiente de detalhes e de que modo ocorreu a lavagem 18/05/2014 12 67 Descrição dos crimes (28)Descrição dos crimes (28) Exemplo 9Exemplo 9 (cont.): atentar para as fases do processo de lavagem: • placement: captação, concentração e conversão/colocação dos ativos no sistema • layering: estratificação ou dissimulação, movimentação dos recursos e despistamento dos vestígios da operação • integration: integração e reciclagem (especialização do crime); colocação dos ativos à disposição dos criminosos, mantendo o sigilo da fonte, com utilização dos ativos Em determinados casos, essas fases podem não estar presentes ou claramente separadas 68 Descrição dos crimes (29)Descrição dos crimes (29) Exemplo 10:Exemplo 10: No caso de delitos delitos tributários e previdenciários de tributários e previdenciários de natureza materialnatureza material, indicar o trânsito em julgado do procedimento administrativo-fiscal, em face do julgamento do HC 81.611/DF (Plenário. Rel.: Min. Sepúlveda Pertence. 10 dez. 2003, maioria. DJ 1, 13 maio 2005, p. 6) 69 Descrição dos crimes (30)Descrição dos crimes (30) Exemplo 11:Exemplo 11: No crime de prevaricaçãoprevaricação, é indispensável indicar o ato de ofício do agente e o sentimento ou interesse pessoal que ele pretendeu satisfazer Exemplo 12:Exemplo 12: No caso de desvio de verba desvio de verba por gestor público oriundade convêniopor gestor público oriunda de convênio (p.ex., Decreto-lei 201/67, art. 1o, I), a prova da inexecução do ajuste não demonstra automaticamente o desvio 70 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 71 Definição jurídica dos crimes (1)Definição jurídica dos crimes (1) É necessário completa correlação entre a descrição dos atos e a definição jurídica apontada na denúncia Se a conduta se adequar à definição jurídica do tipo básico, indicar a incidência do caput do dispositivo penal (ex.: CP, art. 171, caput) Se não for aplicável o tipo básico, indicar o parágrafo, inciso e alínea aplicáveis (ex.: CP, art. 171, § 2o, VI) 72 Definição jurídica dos crimes (2)Definição jurídica dos crimes (2) No caso de concurso de pessoas, indicar o art. 29 do CP Deve-se examinar se incidem circunstâncias agravantes ou atenuantes ou causas de aumento ou diminuição da pena e desde logo indicá-las 18/05/2014 13 73 Definição jurídica dos crimes (3)Definição jurídica dos crimes (3) No caso de concurso de pessoas, deve-se indicar a capitulação aplicável a cada denunciado, se diversa 74 Definição jurídica dos crimes (4)Definição jurídica dos crimes (4) Ao longo do processo, deve-se permanentemente atentar para a possibilidade de surgirem elementos que recomendem a correção da definição jurídica apontada na denúncia (emendatio libelli — CPP, art. 383) ou a alteração dela (mutatio libelli — CPP, art. 384) Nesse caso, oferecer aditamento à denúncia (o recomendável) ou, nas alegações finais, requerer que se considere a correta definição jurídica (emendatio libelli) 75 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 76 Requerimentos (1)Requerimentos (1) A fase do art. 402 do CPP não serve para suprir deficiências probatórias originárias da denúncia “Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.” Documentos e provas essenciais devem acompanhar a denúncia 77 Requerimentos (2)Requerimentos (2) Convém que todas as diligências ainda necessárias sejam de logo requeridas Diminui o risco de rejeição da denúncia por ausência de justa causa Diminui o risco de indeferimento dos requerimentos posteriormente Evita atrasos no processo 78 Requerimentos (3)Requerimentos (3) (cont.): Evita surpresas para o MP em fases posteriores da ação penal Evita o esquecimento de diligências relevantes, caso futuramente o autor da denúncia não mais acompanhe o processo ou esteja com pouco tempo para examiná-lo 18/05/2014 14 79 Requerimentos (4)Requerimentos (4) Convém requerer os antecedentes dos denunciados (FAC – folha de antecedentes criminais), caso os disponíveis sejam antigos Se o denunciado não souber se expressar em português, requerer a nomeação de intérprete (CPP, art. 193) 80 Requerimentos (5)Requerimentos (5) Se o denunciado era menor de 21 anos ao tempo dos fatos, requerer a designação de curador (CPP, arts. 262 e 564, III, c) A Lei 10.792, de 1o/12/2003, revogou o art. 194, mas não os outros acima 81 Requerimentos (6)Requerimentos (6) Se o denunciado for estrangeiro e se encontrar preso, requerer a comunicação do fato à representação diplomática do país dele, para evitar nulidade processual e relaxamento da prisão Art. 36, seção 1, letra b, da Convenção de Viena sobre Relações Consulares (aprovada pelo Decreto Legislativo 6, de 5/4/1967, e promulgada pelo Decreto 61.078, de 26/7/1967) 82 Requerimentos (Requerimentos (7a)7a) Ao lado do nome das testemunhas, indicar todas as folhas em que haja referência a elas e que seja conveniente abordar durante a inquirição Isso facilita que, no momento da audiência ou sessão, se saiba que folhas examinar para obter depoimento produtivo Máximo: oito (por fato) – CPP, art. 401. O excesso é mera irregularidade 83 Requerimentos (Requerimentos (7b)7b) Testemunhas (cont.): Se for o caso, o rol pode indicar que certas testemunhas se referem apenas a determinadas acusações 84 Requerimentos (8)Requerimentos (8) Avaliar a necessidade de requerer cooperação internacional Recorrer à Secretaria de Cooperação Internacional da PGR (SCI) – PRR Vladimir Aras; Assessora Geórgia Diogo Verificar cabimento de requerimentos para tutela do ofendido (CPP, art. 201) 18/05/2014 15 85 Requerimentos (9)Requerimentos (9) No caso de crimes ambientais, usar a ação penal para obter a reparação do dano (Lei 9.605/98, arts. 27 e 28) 86 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 87 Outros aspectos (1)Outros aspectos (1) Muita atenção aos detalhes (nomes, datas, valores, locais, folhas etc.) Atenção à notação de moeda estrangeira dólar dos Estados Unidos: US$ euro: € libra esterlina: £ iene: ¥ Atenção a nomes de pessoas e localidades, sobretudo se estrangeiros 88 Outros aspectos (2)Outros aspectos (2) Verificar cabimento de ação por improbidade administrativa ou outra ação Verificar necessidade de requerer medidas de cunho patrimonial Em caso de rejeição, a depender do fundamento, nova denúncia deve ser oferecida Se o crime deixou vestígios, o laudo pericial deve acompanhar a denúncia (pena de nulidade: CPP, art. 564, III, b) 89 Outros aspectos (3)Outros aspectos (3) Cuidado com documentos e fontes de segunda mão 90 Aditamento (1)Aditamento (1) Finalidades: suprir deficiências da denúncia, até a sentença (CPP, art. 569) nova definição jurídica do fato, ao fim da instrução, por prova dos autos de elemento ou circunstância não contida na acusação (CPP, art. 384) 18/05/2014 16 91 Aditamento (2)Aditamento (2) Se o aditamento não incluir nova acusação, requerer intimação dos réus e prosseguimento do processo, para evitar reinício desnecessário 92 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 93 Relevância do confisco (1)Relevância do confisco (1) Juan Carlos Ramírez Abadía, vulgo “Chupeta” Operação Faraó (Operación Faraón) Fiscalía General de la Nación e Policía Nacional de Colombia – 2006/2007 Preso em São Paulo em 7/8/2007 94 Valor apreendido na casa: US$ 13.474.632,00 + € 1.923.510,00 + $ 25.000.000,00 (pesos colombianos US$ 11.800,00) Relevância do confisco (2)Relevância do confisco (2) 95 Valor apreendido na casa: US$ 19.789.380,00 Relevância do confisco (3)Relevância do confisco (3) 96 Valor apreendido na casa: Total apreendido: US$ 18.999.350,00 US$ 90 milhões Relevância do confisco (4)Relevância do confisco (4) 18/05/2014 17 97 Outros bens arrestados (no Brasil) Relevância do confisco (5)Relevância do confisco (5) Casa em Campinas (SP)Lancha em Vila Velha (ES) Patrimônio estimado: US$ 1,8 bilhão 98 Relevância do confisco (6)Relevância do confisco (6) Asfixia economicamente o esquema ou organização criminosa Ex.: EUA, ano fiscal de 2004: US$ 614 milhões confiscados; em 2005: US$ 767 milhões* Insuficiência e ineficiência das penas privativas de liberdade • Capacidade de controle de organizações criminosas do interior de estabelecimentos prisionais • Rápida substituição dos administradoresde organizações criminosas [Continua] * Fonte: 2007 National Money Laundering Strategy, Apêndice D, p. 103-4 99 Relevância do confisco (7)Relevância do confisco (7) [Continuação] Insuficiência e ineficiência das penas privativas de liberdade • Possibilidade de investimento ou guarda de valores para uso após cumprimento da pena • Regime legal deficiente de acompanhamento da execução da pena • Inutilidade da prisão para reinserção social de certos criminosos da elite social ou econômica ou do crime organizado • Possibilidade de deixar a salvo dos efeitos da condenação bens transferidos a terceiros (familiares, comparsas, procuradores etc.) 100 Relevância do confisco (8)Relevância do confisco (8) Permite a indenização de vítimas específicas (ação civil ex delicto) Enseja melhor aparelhamento do Estado para o combate ao crime Capacitação Equipamentos Custeio ordinário Montagem e custeio de equipes especiais (forças-tarefa etc.) Desenvolvimento de sistemas 101 Relevância do confisco (9)Relevância do confisco (9) Possibilita melhor cooperação internacional: mediante rateio de valores confiscados (asset sharing) por meio da punição econômica de agentes de crimes transnacionais ou praticados no exterior (evita a importação de criminosos e valores de procedência delitiva) 102 SumárioSumário Aspectos gerais Linguagem Algumas “regras de ouro” para denúncias Disciplina no CPP Identificação dos denunciados Descrição dos crimes Definição jurídica dos crimes Requerimentos Outros aspectos Relevância do confisco Trabalho em equipe 18/05/2014 18 103 Trabalho em equipe (1)Trabalho em equipe (1) Caso da Força-tarefa CC-5 16 acordos escritos de colaboração (21 colaboradores), com reversão de R$ 27,46 milhões para a União cerca de R$ 333,5 mi em bloqueios no Brasil cerca de R$ 34,6 mi em bloqueios no exterior R$ 1,94 bi em autuações fiscais mais de 200 pedidos de cooperação internacional desde 2004 (mais do que todo o resto do país) 104 Trabalho em equipe (2)Trabalho em equipe (2) Força-tarefa CC-5 (cont.) mais de 1.170 contas investigadas no exterior 631 denunciados em 100 ações penais denúncias envolvendo US$ 27,5 mi formação de base de dados com 1,9 mi de registros, correspondentes a movimentação superior a US$ 105 bi instauração de milhares de inquéritos no Brasil 105 Trabalho em equipe (3)Trabalho em equipe (3) Atuação: Ministério Público Federal Secretaria da Receita Federal Departamento de Polícia Federal Banco Central do Brasil Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI/MJ) Department of Homeland Security (DHS) Immigration and Customs Enforcement (ICE) New York District Attorney’s Office (Poder Judiciário Federal) 106 Trabalho em equipe (4)Trabalho em equipe (4) Fatores: Alocação de pessoal qualificado e em número suficiente Aquisição de equipamentos e softwares de investigação Conjugação de membros de todas as esferas do MPF Apoio efetivo da Procuradoria-Geral da República Concentração da persecução em fatos relevantes 107 Trabalho em equipe (5)Trabalho em equipe (5) Fatores (cont.): Formação de bancos de dados para retroalimentar a investigação Seguimento de trilhas no exterior, com formação de “árvore genealógica” de contas e subcontas de doleiros Aplicação intensa de técnicas especiais de investigação, especialmente delação premiada, com pagamento de pesadas multas previstas como condição do acordo Efetiva coordenação com o DPF, a Receita Federal e o Banco Central 108 Trabalho em equipe (6)Trabalho em equipe (6) Fatores (cont.): Diuturna cooperação internacional com agências norte-americanas (principalmente DHS/ICE e DA/NY), com contato e intercâmbio de informação direto e quase diário Alocação de espaço físico específico em modelo de trabalho colegiado Foco no bloqueio e congelamento de ativos aqui e no exterior 18/05/2014 19 109 AgradecimentoAgradecimento WellingtonWellington Cabral SaraivaCabral Saraiva Assessoria Jurídica Constitucional do Procurador-Geral da República Tel.: (61) 3105-7094 Cel.: (81) 9217-8254 E-mail: wsaraiva@mpf.mp.br Twitter: @WSarai
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