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Saúde da Criança ( ) Definição Condição patológica que decorre da exposição, por meio de via enteral, dérmica, inalatória ou parenteral, a algum produto químico, biológico ou mineral, que, em doses ou quantidades consideravelmente grandes, gerando variados sinais e sintomas causados pela disfunção ou insuficiência de órgãos atingidos pela substância. Em qualquer situação em que ocorra alteração aguda do quadro clínico de uma criança previamente hígida, resultando em sintomas e sinais suspeitos, é preciso checar: • A história medicamentosa familiar e • Os locais em que a criança esteve nas últimas horas A fim de investigar uma possível causa toxicológica, seja ela acidental, voluntária, iatrogênica ou por contaminação ambiental ou alimentar. A alteração aguda do quadro clínico decorrente de IE medicamentosa também deve ser investigada em pacientes internados. Abordagem inicial na suspeita de IE Aguda: quando evento aconteceu em tempo < 24 horas Diante da certeza ou não da ingestão de algum possível tóxico, deve-se fazer a correlação do quadro clínico da vítima com as possíveis síndromes toxicológicas ou toxíndromes. Coletar amostras biológicas (lavado gástrico, sangue e urina) Dosagem do nível sérico, quando a substância é conhecida Conjunto de sinais e sintomas desencadeado por um determinado veneno ou classe de veneno e decorrente das suas características ações sobre determinados órgãos ou sistemas. Síndrome anticolinérgica Caracterizada por: • Febre • Taquicardia • Pele e mucosas secas • Rubor facial • Midríase • Visão borrada • Íleo paralítico • Delirium • Constipação e retenção urinária Principais agentes tóxicos Síndrome Colinérgica Caracterizada por ação nos receptores muscarínicos: • Miose • Aumento exacerbado de secreções salivares e pulmonares • Lacrimejamento • Diarreia • Hiperperistaltismo • Bradicardia • Sudorese Caracterizada por ação nos receptores nicotínicos: • Agitação • Tremores musculares • Fasciculações • Mioclonias • Cefaleia • Hipertensão arterial Principais agentes tóxicos na síndrome colinérgica são: • Carbamatos • Organofosforados • Nicotina • Fisostigmina Síndrome Serotoninérgica Caracterizada por: • Alterações do estado mental • Acidose • Agitação • Alucinação • Confusão mental • Hipertermia • Hiperatividade muscular • Mioclonias • Tremores • Hiperreflexia • Incoordenação motora Principais agentes tóxicos: • Antidepressivo tricíclico • Tramadol • Meperidina • Antieméticos • Linezolida • Ecstasy • Sumatriptano • Dextrometorfano Síndrome Simpatomimética Caracterizada por: • Agitação • Midríase • Taquicardia • Hipertermia • Hipertensão • Pele úmida Pode ser classificada em quatro graus: agitação, irritabilidade, sudorese e midríase confusão, hiperatividade, febre, hipertensão arterial, taquicardia delírio, arritmias, febre alta, hipertensão grave e autoagressão – convulsão, coma, colapso cardiocirculatório e óbito. Síndrome Fenotiazínica Caracterizada por: • Reações distônicas e discinesias • Crises oculógiras • Dificuldade de deglutição • Opistótonos • Reações extrapiramidais* • Hipotermia • Hipotensão • Taquicardia • Midríase e retenção urinária Principais agentes tóxicos: • Antipsicóticos (clorpromazina e levomepromazina) Reações extrapiramidais São caracterizadas por: tremores, hipertonia muscular, sonolência e trismo. Os principais medicamentos são: metoclopramida, bromoprida, haloperidol e a própria fenotiazina IE com alteração do ânion GAP Acidose com aumento do ânion GAP Substâncias responsáveis pelo estado de coma Substâncias com Absorção Cutânea ou Inalatória Triagem diagnóstica Na suspeita de uma possível intoxicação e diante de um quadro clínico compatível com a substância envolvida, podem ser realizadas provas terapêuticas com os antagonistas: Exame Físico Avaliar o estado geral, recorrendo a todos os sentidos: Ver Cheirar Tocar Sentir Cheirar- alguns tóxicos produzem odores característicos: Aliáceo – acetona e salicilatos Alcóolico – etanol e metanol De amêndoa amarga – cianeto De ovo podre – sulfeto e enxofre De cânfora – naftalina Exame físico geral Estado geral Hidratação Nível de consciência Temperatura corporal Coloração da pele e das mucosas Perfusão das extremidades Turgor Padrão respiratório Permeabilidade das vias aéreas FC/ PA Exame físico específico FR, padrão respiratório, ruídos adventícios, uso de musculatura acessória e saturação de oxigênio. FC e ritmo cardíaco, perfusão e débito urinário lesão da mucosa oral, dor, cólicas ou distensão abdominal, hemorragias digestivas ou presença de ruído hidroaéreo. postura, movimentos e sinais focais, escore na Escala de Coma de Glasgow, reflexo fotomotor das pupilas e diâmetro pupilar, agitação, delírio, convulsão e fasciculação. Exames Laboratoriais Específicos Cromatografia em camada delgada Dosagens quantitativas do tóxico Outros: hemograma, eletrólitos, lactato, VHS, creatinina, glicemia, enzimas hepáticas e cardíacas, coagulograma, ECG, lactato, gasometria arterial, urina I. Condutas Terapêuticas Primeiro tratar o doente, e não o veneno ABC da reanimação e monitorização dos sinais vitais Prevenção da absorção da substância tóxica Descontaminação – procedimento utilizado para impedir a absorção tóxica pela corrente sanguínea a partir do local da exposição e minimizar os danos locais. Descontaminação cutânea: retirada das roupas e lavagem do corpo com água e sabão neutro. Descontaminação do trato gastrointestinal: Lavagem gástrica Carvão ativado Lavagem gástrica: Existem riscos associados à passagem de sonda nasogástica (SNG) PNM aspirativa Arritmia cardíaca Laringoespasmo Perfuração de vísceras (esôfago e estômago) Hemorragia digestiva alta por trauma ou perfuração Lavagem gástrica Anomalias cranioencefálicas Traumatismos craniofaciais Politraumatismo Depressão do nível de consciência Convulsões Risco de broncoaspiração Risco de hemorragias ou perfuração gastrintestinal (coagulopatia ou cirurgia recente no TGI) Substâncias cáusticas Reservado para ingestão de substâncias potencialmente fatais e em até 1 hora da sua ingestão, a não ser que elas sejam capazes de diminuir o trânsito intestinal ou de liberação prolongada, quando a sua indicação pode ser considerada até mais tardia. Carvão ativado Conhecido como “antídoto universal”. É o melhor produto para reduzir a absorção intestinal de vários medicamentos e substâncias tóxicas, como: - Antidepressivo tricíclico. - AAS - Carbamazepina - Clorpropamida - Fenobarbital - Metrotexato - Teofilina - Digitálicos É um pó adsorvente inerte, não tóxico e que possui elevada superfície de absorção. 1g do pó tem 950 a 2000m2 de área adsorvente. Dependendo da toxicocinética e do potencial toxicológico pode ser administrado em até 2 a 3 horas da ingestão para diminuir a sua absorção. Dose preconizada: 1g/kg, administrado por gavagem, através SNG, a cada 2 horas para tóxicos com ciclo êntero-hepático. Eventos adversos • Bronquiolite obliterante (por broncoaspiração devida ao posicionamento inadequado da SNG ou a vômito); • Obstipação intestinal • Abdome agudo obstrutivo O uso de catárticos (sorbitol, soluções salinas, manitol) após administração do carvão ativado, principalmente em múltiplas doses, como nas intoxicações por antidepressivo tricíclico. Lavagem Intestinal Procedimento raramente utilizado, a não ser nos casos de ingestão de grande quantidade de substâncias potencialmentetóxicas e que não sejam adsorvíveis pelo carvão ativado: ferro e lítio Consiste na administração de grande volume de solução de polietilenoglicol por SNG para introduzir a eliminação do produto através do TGI. Na presença de íleo paralítico Perfuração gastrintestinal Hemorragia gastrintestinal Instabilidade hemodinâmica • Crianças de 9 meses a 6 anos – 500 mL/h • Crianças de 6 a 12 anos – 1000mL/h • Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/h Eliminação do Tóxico Existem dois mecanismos fisiológicos de eliminação de substâncias tóxicas do organismo: • Biotransformação em metabólitos inativos • Eliminação da substância ativa ou de seus metabólitos ativos por meio do sistema urinário. Muitos compostos são eliminados por meio da urina, nas formas ionizadas; assim, com a promoção da ionização de um produto tóxico, haverá aumento da sua eliminação. Pode ser usado para eliminação de substâncias ácidas ou de bases fracas, por meio da alcalinização ou de acidificação urinária. Ex: salicilatos e fenobarbital Alcalinização urinária • Insuficiência renal • Edema pulmonar ou cerebral • Doenças cardíacas Paracetamol Doses de paracetamol acima de 140mg/Kg em crianças e 7,5g em adultos podem causar 1ª Fase – anorexia, náuseas, vômitos 2ª Fase – resolução da primeira fase e dor no QSD, hepatomegalia, oligúria, aumento de bilirrubinas, enzimas hepáticas e tempo de protrombina 3ª Fase – Após 3 a 5 dias, retorno de anorexia, náusea vômito e mais sinais de falência hepática (icterícia, hiperglicemia, coagulopatia e encefalopatia). Tratamento Deve ser iniciado o mais breve possível, nas primeiras 24 horas da ingestão, com N- acetilcisteína em infusão IV por 20 horas ou por via oral por período de 72 horas. Reações adversas: rash cutâneo, náusea, vômito, hipotensão e broncoespasmo. Ácido Acetilsalicílico • Intoxicações leves e moderadas: náusea, vômito, taquipneia, taquicardia e letargia. • Intoxicação grave: coma, convulsões, edema cerebral, hipertermia e falência cardiovascular • É frequente: hiper ou hipoglicemia, cetonemia, acidose lática, alterações das enzimas hepáticas e alterações do coagulograma, aumento do ânion-gap. Tratamento • Esvaziamento gástrico e administração de carvão ativado em múltiplas doses e catárticos. • Alcalinização urinária aumenta a eliminação renal • Nos casos mais graves: hemodiálise e hemoperfusão • Não há antídoto específico • Estabilização hemodinâmica, correção hidroeletrolítica e metabólica.
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