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2 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 3 
2 TEORIA FREUDIANA ................................................................................... 4 
2.1 O que a Psicanálise tem a comentar sobre a política, de qual política se 
trata?..............................................................................................................................5 
2.2 A noção de política e a sua necessária compreensão ........................... 8 
2.3 Psicanálise, estética e a política ........................................................... 10 
3 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS ................................................... 14 
3.1 Reequilibração cognitiva ...................................................................... 15 
4 FREUD E A INSTABILIDADE TEÓRICA NA METAPSICOLOGIA ............. 17 
5 HABITAR O INÓSPITO: A CONDIÇÃO HUMANA ...................................... 20 
5.1 O inconsciente freudiano ...................................................................... 21 
5.2 Eu na teoria freudiana .......................................................................... 22 
6 FANTASIA E REALIDADE PARA A PSICANÁLISE FREUDIANA .............. 24 
7 FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE SEGUNDO A PSICANÁLISE ........... 26 
7.1 A formação da personalidade segundo a Teoria Estrutural .................. 28 
7.2 O ID ...................................................................................................... 29 
7.3 O EGO .................................................................................................. 30 
7.4 O SUPEREGO ..................................................................................... 32 
7.5 Relações entre os três componentes da psique na formação da 
personalidade ...............................................................................................................33 
8 NEUROSE E PSICOSE .............................................................................. 34 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 37 
 
 
 
 
 
 
3 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe 
convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
2 TEORIA FREUDIANA 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Na extensa mitologia que se encontra difundida em parte significativa da 
historiografia da psicanálise, um dos mitos mais recorrentes é o da absoluta 
originalidade de Freud (SIMANKE; CAROPRESO, 2017). Mesmo quando Freud retoma 
– e desenvolve à sua maneira, certamente – ideias amplamente difundidas na literatura 
científica e filosófica de sua época, essas ideias são apontadas como criações originais 
suas, com uma veemência que se manifesta na razão direta da sua importância para a 
construção do aparato teórico psicanalítico. A etiologia sexual dos transtornos mentais, 
a sexualidade infantil, a repressão e o inconsciente são apenas os exemplos mais 
destacados de questões que têm uma longa história, anterior e independente de Freud, 
que é sistematicamente ignorada por esse tipo de historiografia (SIMANKE, 2016). 
O resultado é um enaltecimento imaginário e ingênuo de que um personagem 
da estatura de Freud realmente não carece. Além disso, essa atitude impede que se 
percebam os vínculos de Freud com o contexto intelectual em que seu pensamento se 
formou. Isso traz evidentes prejuízos para a compreensão do processo de constituição 
dos conceitos psicanalíticos, mas também para a avaliação efetiva da contribuição de 
Freud para as diversas áreas de conhecimento com as quais dialogou (SIMANKE, 
2019). 
 
5 
2.1 O que a Psicanálise tem a comentar sobre a política, de qual política se trata? 
Sobre qual política estão discorrendo os psicanalistas se torna um assunto de 
grande relevância, sobretudo no que toca ao seu lugar de escuta e compreensão dos 
fenômenos sociais. A intenção é distanciar em definitivo a Psicanálise de uma pretensa 
neutralidade científica. Estamos, sem dúvida alguma, optando por dizer que o analista 
não precisa ter a escolha de permanecer em sua torre de marfim, na poltrona 
acolchoada de seu consultório. Do ponto de vista da ética da Psicanálise, é 
inapropriado ao analista a escolha de tomar uma posição diante das demandas sociais 
e das violências que acometem a população? Antes de imediatamente respondermos 
com um alto e sonoro “não”, de antemão já assumido por nós, vale expormos o que os 
analistas têm discursado sobre o tema. 
Segundo Rosa (2016), a política é o que engendra gozo e desejo nas cenas, 
nos acontecimentos experimentados pelos sujeitos nas relações sociais, numa 
realidade compartilhada. Mais do que aquilo que pode gerar um governo, exercendo 
um poder sobre o sujeito, diz respeito a uma produção, a um consenso do que é comum 
para ser apropriado e elegível por uma sociedade. Percebamos que não se trata 
apenas de ideias veiculadas entre povos; diz-se de ações impregnadas por ideias e 
que se materializam em ato. Na política, há uma determinada forma de enxergar o 
mundo, de se posicionar, de dirigir-se às escolhas, de reconhecer e de aceitar as 
diferenças entre cada sujeito. Importa salientarmos - para o espanto de alguns de nós, 
inadvertidos do que há na enunciação das palavras - a coexistência de “políticas” nas 
vidas das pessoas; e não “política”, como poderíamos supor. 
Ainda para Rosa (2016), “A política apresenta-se em duas faces: não apenas 
como poder e domínio sobre o sujeito, mas também como a ação no espaço entre as 
relações, ou seja, aquela que tem no horizonte a produção do mundo comum”. Posto 
isso, cumpre trazer à baila neste momento a primeira face apresentada pela autora. 
Vejamos que o poder e o domínio exercido pela política mencionada fazem jus a um 
discurso que no contemporâneo se mostra regulador do laço social, da relação que os 
sujeitos constroem com o mundo ao seu redor e com os outros sujeitos. Este discurso 
foi definido por Jacques como o discurso do capitalista. O sujeito enredado na 
maquinaria do poder é aquele constituído por esse discurso que pode supor um Outro 
não barrado, discurso social que não admite o equívoco, a separação, a falta ou a 
diferença. O “todos somos iguais”, a imagem, a autoestima e a onipotência do “eu me 
 
6 
basto e não preciso dos outros para tocar a minha vida” são os emblemas e pilares 
desse discurso. Pois bem, estes não são os traços que caracterizam o tempo do 
narcisismo? A agressividade, a violência, a ambivalência do amor e do ódio (elevados 
ao extremo) marcam o narcisismo: momento que inaugura a identificação primordial 
(da conquista) da primeira imagem de si (unificada) para o infans, “eu sou tudo para ela 
e ela é tudo para mim”. (COSTA, COSTA-ROSA, 2020). 
Junto aos valores que impulsionam ímpetos narcisistas e incitam a 
competitividade, de vencer a qualquer “custo”, Rosa sublinha uma violência nesses 
discursos, 
[...] modalidadesde violência que ficam mascaradas em inúmeras questões 
sociais como nas situações de miséria, sempre acompanhadas de um 
processo histórico de exploração e de humilhação, ou nas catástrofes ditas 
naturais que, embora aparentemente atinjam a todos, certamente incidem mais 
direta e intensamente sobre aqueles mais frágeis na organização social e sem 
recursos para minorar os efeitos da natureza. (ROSA, 2016, p. 26). 
Dessa constatação material e histórica, chama-se a atenção para as 
consequências da política social-econômica capitalista, “toda” estruturada no consumo 
e no lucro. Uma política que existe à bancarrota da classe trabalhadora paupérrima, 
daqueles que estão à margem da sociedade. Nas argumentações de Checcia (2015), 
associado à política sempre está o poder - o poder de analisar ou o poder de coibir. Os 
poderes atrelados a uma política teriam a potência de colocar uma posição em análise 
a ponto de retificá-la ou infligir uma coerção a um lugar ocupado. Estes poderes, em 
um específico panorama, estariam ligados ao Estado. 
Para nos determos à política com a qual, a nosso ver, a Psicanálise partilha, é 
pertinente tecer considerações sobre a política contemporânea de Estado. O Estado 
entendido como nação representaria os interesses de uma população; ele é subscrito 
a um país. Em um sentido objetivo, a nação se define como um conjunto de pessoas, 
com suas histórias particulares, regionais e localizadas, que se consideram parte de 
um mesmo território - geográfico, cultural e político. É notável, portanto, que desde a 1ª 
Revolução Industrial, por volta do século XVIII, vige um sistema econômico nomeado 
por Marx de modo de produção capitalista. Por intermédio deste, o Estado é o seu 
principal representante, logo, não se posiciona de forma neutra e defende claramente 
os interesses de uma determinada classe social. Nesta perspectiva, o Estado, em seu 
ideário neoliberal, enquanto expressão dos interesses do capital, visará o 
fortalecimento do mercado, assegurando-se de obter as condições propícias para o 
 
7 
enriquecimento e acúmulo das riquezas. Notemos que a classe social mais favorecida 
neste sistema econômico de funcionamento é a que detém a maior capacidade 
financeira de poder de compra (COSTA, COSTA-ROSA, 2020). 
Nutrindo e concomitante às diversas violências às minorias, assinalamos o 
MCP, edificando-se no campo das formações sociais de maneira hegemônica e 
conduzindo discursos que agem para anular as diferenças, a história dos sujeitos. Tudo 
se passa como se a única história a ser contada devesse ser a dos vencedores, dos 
colonizadores, ou, como brincou Lacan, a do herói “comum” - aquele que está a serviço 
dos bens. Esta é uma lógica estruturante de um modo de se portar na realidade, de 
relacionar-se com o Outro. Apresenta-se como um modelo de identificação que propaga 
como lei fundante da vida aquela que dita que quem deve vencer é o mais forte. Isso é 
o que pode justificar a irônica (para dizer trágica, de uma outra maneira) cena em que 
o explorado se identifica com o explorador (ROSA, PENHA, FERREIRA, 2018). 
Ainda conforme Rosa (2016): “Aqui, política e Psicanálise nos ajudam a 
entender. Explico: a ambivalência está no cerne do sujeito e da agressividade que 
habita cada um, ou seja, amor e ódio são dirigidos ao mesmo objeto, e o ódio está 
sempre presente como potencialidade”. O amor e o ódio, colocados em ato 
intensamente, trazem ao palco um enredo ideológico que anula o sujeito, individuando-
o. Há a produção de uma realidade na qual o sujeito não se reconhece fora dela, não 
há dentro ou fora, “eu e o Outro somos um só”. 
A reflexão que se segue, com Braunstein (2010), permite-nos afirmar que o 
sujeito - ao se estruturar pelos significantes-mestres que vêm do discurso capitalista, 
ou, como propõe o autor, do discurso dos mercados - não só não admite o que é 
diferente de si, mas adere muito bem aos estereótipos, aos padrões de ser humano e 
de conduta fornecidos pela cultura de mercado. O sujeito, além de consumir a imagem, 
as bugigangas, os objetos comprados, consome a si próprio, adora-se. Ele é o próprio 
objeto, consumido pelos ideais vendidos pela política de vida neoliberalista nos 
“mercados” do MCP. 
Nos questionamentos levantados por Rosa, Penha e Ferreira (2018), acerca da 
forte intolerância existente entre as pessoas no contemporâneo, no discurso do 
capitalista, os sujeitos não fazem laços. Concordamos com os autores quando estes 
ainda apontam que, no Brasil, essa análise se expressa por meio de uma “onda” 
crescente de jovens eleitores conduzidos por um revisionismo histórico e intolerantes à 
política, interessados em candidatos à presidência que propagam o ódio e a violência. 
 
8 
Nossa metodologia de investigação psicanalítica nos permite explorar esse 
tema sem abrir mão de sua polissemia. Trata-se de um método que surge de 
nossas experiências de atendimento psicanalítico em territórios marcados pela 
exclusão social e política; da escuta dos sujeitos em situações sociais críticas. 
(Rosa, Penha e Ferreira, 2018, p. 107). 
A escolha de alinhar a Psicanálise às análises críticas oferecidas pelo 
materialismo histórico - em relação ao que fornece suporte às formas de organização 
da vida em sociedade. Na altura em que a pesquisa deste artigo foi realizada, os 
autores encontrados para dialogar com o tema proposto no texto eram os que mais se 
dedicavam ao tema “Psicanálise e política”. 
Ressaltamos que os autores exploram, cada um ao seu modo, o conceito de 
política à luz da Psicanálise de Freud e Lacan. Checcia (2015), se dedica mais a tecer 
considerações acerca de uma política da Psicanálise, enquanto (ROSA, 2016), e em 
outros artigos nos quais divide a autoria (ROSA; PENHA; FERREIRA, 2018), 
desenvolve exaustivamente a noção de política em suas consequências devastadoras 
ao sujeito, em sua concepção de desejo e produção de laço social. Os autores trazem 
contribuições que muito nos interessam e nos servem de âncora para sustentar as 
teorizações que iniciamos, contudo, acreditamos que não fica claro ainda acerca de 
qual política estão comentando. Em torno das práxis psicanalíticas da qual partimos e 
a partir do objeto de estudo recortado, este aspecto que ressaltamos é imprescindível. 
Poli (2017) nos possibilita dar conta desta lacuna, ao passo que estão ao 
encontro do que optamos ao redor da articulação entre Psicanálise e política. Antes de 
enveredarmos para uma política da Psicanálise, preferimos debater sobre qual política 
confere materialidade ao sofrimento psíquico e às demandas populares em seus 
clamores. Esse olhar muda a nossa empreitada, exigindo-nos recorrer a outros campos 
do saber. Neste caso, seguindo de Lacan aos escritos de Marx, em especial à 
caracterização conhecida do que é a mais-valia em sua obra. 
2.2 A noção de política e a sua necessária compreensão 
Uma pequena digressão sobre o conceito de política é oportuna para o 
desenvolvimento de nossa reflexão. A mínima compreensão deste conceito, em 
Bordieu (2014), e Marx (2010), na leitura que fizemos dos textos cotejados de suas 
obras, faz parte das contribuições da Psicanálise, apropriando-se da estética, a uma 
escuta que alcance a política em vigor no nosso tempo. 
 
9 
Antes de definir o que é a “política”, Bordieu (2014), introduz a concepção de 
“campo”. O campo seria um “microcosmo”, componente do mundo social, o espaço 
onde ocorrem as disputas, as lutas, os jogos de forças. Como exemplo da definição 
citada, por exemplo, há o campo artístico, o campo religioso, os campos da Saúde e da 
Assistencial Social, pensados como instituições. A política, enquanto isso, “[...] é uma 
luta em prol de ideias, mas um tipo de ideias absolutamente particular, a saber, as 
ideias-força, ideias que dão força ao funcionar como força de mobilização” (BORDIEU, 
2014, p. 108). A política, vista sob a perspectiva de um dispositivo de produção, de umespecífico laço social, seria um conjunto de ideias que agencia alguém ou alguma coisa 
a produzir um produto. 
Bordieu (2014), lembrou que existem condições diferentes de acesso à política 
e, para cada condição social de ingresso à política, isto é, se o sujeito é mulher ou 
homem, negro ou branco, pobre ou rico, há uma propensão maior ou menor de 
responder aos problemas colocados por essa política. No funcionamento do campo 
político, um certo número de pessoas - a minoria em termos de proporção numérica, 
mormente os donos do capital - detém as condições sociais de acesso a este campo, 
ao passo que os demais estão excluídos; no caso, a grande massa populacional. 
Do ensaio que utilizamos de Bordieu (2014), levantamos duas perguntas, às 
quais, em nossa compreensão Marx pôde responder há um século e algumas décadas 
atrás: via de regra, quem são aqueles que fazem política e quem são os políticos? No 
campo político, as lutas travadas em vista do poder sobre o Estado são entre quais 
adversários? Principiando as respostas, de pronto, por intermédio do próprio sociólogo 
Bordieu, existe no campo político um jogo particular de forças, dentre as quais uma 
delas instaura a imposição de princípios que determinam uma visão e uma divisão do 
mundo social. 
No pensamento de Marx, a política é mediada pela economia. Não por menos, 
Marx não deixou de medir esforços para criticar a economia e a política de sua época. 
O questionamento do pensamento marxiano aponta para uma organização social do 
trabalho na qual o trabalhador recebe apenas uma pequena parte do produto que ele 
mesmo ajudou a produzir, para depois este mesmo produto circular no mercado como 
mercadoria. Este mecanismo se associa ao que chamamos de economia política (nos 
Manuscritos econômico-filosóficos, por estar dialogando com Adam Smith, Marx 
prefere adotar a locução “economia nacional” no lugar de “economia política”), em 
 
10 
outros termos, esta é a política arregimentada pelo modo de produção do capital, ao 
ver de Marx, com o desígnio de instituir a infelicidade da sociedade. 
Sustentada no livre-comércio, e na consequente não intervenção do Estado, o 
caráter capitalista da economia política visa a acumulação do excedente que se extrai 
pela circulação da mercadoria, venda e capital ganho. E o que permitiria a acumulação 
do excedente? A exploração do proletariado, os trabalhadores que existem senão para 
(re) produzir a perda de sua humanidade ao se tornarem uma classe de escravos, como 
afirmara Marx (COSTA, COSTA-ROSA, 2020). 
2.3 Psicanálise, estética e a política 
 
Fonte: cliapsicologia.com.br/wp-content/uploads 
O recurso aos domínios do saber derivados da estética é crucial para a 
Psicanálise em seu arcabouço ético-político-clínico. A ética que corresponde ao desejo, 
a política de fazer oposição a toda ou qualquer prática que ameace extinguir a 
diferença, a clínica com sua técnica amparada nos pilares anteriores, aliadas à estética, 
ganham em oportunidade de abertura e sensibilização aos sentidos constantemente 
ignorados no convívio social. 
No início do ensaio intitulado O ‘Estranho’, Freud afirmou que entendia por 
estética “[...] a teoria das qualidades do sentir”. Ele mencionou que raramente os 
psicanalistas se sentem convocados a pesquisar este tema. Buscando contribuir com 
Freud, perguntaríamos: a estética se preocupa com as qualidades do sentir; e a 
Psicanálise, também não se preocuparia? Não é para o que sente o sujeito em suas 
 
11 
experiências no sofrimento e no desejo que a escuta do analista está voltada? E, se 
raramente os analistas estudam o tema da estética, por outro lado, ou pelo menos 
acreditamos que assim deveria ser, os analistas não fazem outra coisa que não estarem 
atentos aos temas que tocam no interesse da estética. 
Em tempos de indiferença e insensibilidade a acontecimentos que subestimam 
a vida humana, tratando-a somente a partir da posição (status quo) social que ela 
ocupa, propomos aproximar a Psicanálise do ramo da estética. Diante da atual política 
e do regime de relações de poder existentes nas instituições do Estado, torna-se 
fundamental dar um destino, nomear as sensações que nos sãos provocados. As 
elaborações teóricas de Dionísio (2010 - 2018) sobre a relação entre Psicanálise, 
estética e arte são bem-vindas para o objeto de trabalho neste artigo. 
Dionísio (2010) investe numa aproximação entre a recepção-estética e a 
Psicanálise quando em relação ao sujeito do inconsciente, à experiência de si defronte 
às injunções apresentadas pela realidade. O autor destaca que a análise toca naquilo 
que há de mais íntimo do sujeito no plano das suas sensações, à semelhança do que 
seria o encontro do artista e do espectador com a obra de arte. Segundo Rancière 
(2009), na teoria freudiana, a relação entre o pensamento (consciente) e o não-
pensamento (inconsciente) se forma no terreno da estética. 
Tanto a Psicanálise quanto a estética tratariam do indizível, do que não se pode 
dizer em palavras e do que está na enunciação dos discursos. Nesse sentido, parece-
nos interessante o que discorreu Dionísio (2018) sobre a dimensão sensível da escuta 
flutuante em Psicanálise e o seu tom análogo ao trabalho de recepção-estética. Das 
aproximações sugeridas pelos autores, é pertinente uma escuta que seja estética, 
sensível e implicada nos eventos irrompidos da política econômica capitalista 
(DIONÍSIO 2010; 2018; RANCIÈRE 2009). 
Na esteira da presente reflexão, perguntarmos sobre como estamos escutando 
a política, precavidos pela Psicanálise, é o mesmo que respondermos: há que se ter 
um posicionamento, lê-se implicação, frente à política pautada na manutenção de 
privilégios. Freyze-Pereira (2010), no que toca a relação da obra de arte com o 
intérprete/espectador, trouxe a noção de “Psicanálise implicada” para expressar a 
escuta analítica que se faz num contexto diferente do tradicional setting. Rosa também 
decidiu aderir ao termo, contudo, localizando-o nas problematizações possíveis a 
serem feitas em relação ao sujeito no laço social, nos seus modos de gozar e desejar 
na relação com o Outro. Este é o trabalho que nos conduz à “[...] perspectiva da 
 
12 
Psicanálise implicada, aquela em que as teorizações sobre desejo e gozo incluem o 
modo como os sujeitos são capturados e enredados na máquina do poder, de modo 
que algumas vezes tenha suspendido seu lugar discursivo” (DIONÍSIO, 2018). 
A escuta estética, na marcação que expomos, alcança a arte do bem-dizer, a 
implicação e a responsabilidade do sujeito nas escolhas que tateiam o desejo que o 
habita. O reconhecimento do sujeito naquilo que a maquinaria do poder em suas 
capturas o impele a sentir é o ponto-de-estofo necessário para que outros sentidos 
sejam criados com base neste vínculo. A Psicanálise implicada no registro de uma 
intensão ampliada, para além dos consultórios, mostra-se em seu ato estético como um 
proveitoso meio de operar junto aos sujeitos e aos efeitos (danosos à singularidade do 
desejo na dimensão criativa) da política econômica capitalista (ROSA, 2010). 
A partir do caminho trilhado por Freud na psicanálise e por Husserl na filosofia, 
temos o que Assoun chama de “divórcio epistêmico” (2009) operado pela psicanálise 
em relação à filosofia, um divórcio que se dá na medida em que Freud coloca o status 
do psiquismo em outra dimensão que não a da consciência. Todavia, embora tenha 
inicialmente sido sustentado por Freud, este afastamento entre os dois campos de 
estudo parece não ter sido assumido pelos filósofos contemporâneos, os quais, de 
modo recorrente, viram nas ideias deste autor um grande desafio e um vasto campo a 
ser interrogado (MEZAN, 2013). 
Contudo, não só os filósofos questionaram o saber psicanalítico. Diante da 
provocação freudiana de que o sujeito não encontra seu fundamento na razão e sim no 
inconsciente, outras ciências, entre as quais podemos citar a psiquiatriafenomenológica, também interpelaram a psicanálise, seja para lhe cobrar rigor 
epistemológico, seja para questionar a cientificidade do seu conhecimento, ou ainda, 
para tentar extrair dela apenas os aspectos que deveriam ser tomados como suas 
principais contribuições. Dessa forma, se até aquele momento fenomenologia e 
psicanálise caminharam isoladas entre si com seus fundadores, algumas décadas 
depois, os seguidores de Freud, Husserl, ou de ambos, acabaram por encontrar meios 
de fazer com elas se encontrassem. A respeito desse encontro, um primeiro aspecto a 
ser considerado por conta de suas implicações históricas, refere-se à particularidade 
com que filosofia e psiquiatria tomaram parte nesse debate (TATOSSIAN, 2012). 
Nos países de língua alemã, a psiquiatria fenomenológica, por ter sido 
marcadamente influenciada pelos trabalhos de Husserl e Heidegger, tendeu a se 
afastar do inconsciente freudiano, ora opondo-se explicitamente a ele, ora ignorando a 
 
13 
sua existência. Tal posicionamento representa, em grande medida, a tendência que a 
tradição alemã seguiu em suas críticas dirigidas à psicanálise, que consistiu em atacar 
a“ doença incurável” que acometeu a metapsicologia freudiana, a saber, sua herança 
materialista, mecanicista, determinista e naturalista, a fim de lhe oferecer um outro solo 
epistemológico ou, ainda, de negar seu ineditismo. Em solo francês, no entanto, a 
trajetória do diálogo entre fenomenologia e psicanálise se constituiu de modo mais 
consistente e por outras vias daquelas iniciadas na tradição germânica. Segundo 
Tatossian (2006), duas foram as razões para isso, a saber, a inflexão antropológica e 
existencial que a fenomenologia husserliana ganhou entre seus seguidores – Sartre, 
Merleau-Ponty e Ricoeur –e, em especial, a renovação psicanalítica proposta por 
Lacan. No caso francês, embora a discussão com a psicanálise tenha se dado muito 
mais pelas mãos dos filósofos do que dos psiquiatras, não se pode deixar de considerar 
que a abertura proporcionada por aqueles acabou por persuadir alguns psiquiatras 
nessa direção. No caso destes, contudo, tal aproximação se deu menos por motivos 
epistemológicos do que pelas necessidades oriundas da confrontação com os 
pacientes doentes no curso de suas experiências clínicas, fato este que levou os 
franceses a se aproximarem do método clínico psicanalítico, ao mesmo tempo em que 
criticavam as bases teóricas da metapsicologia e tentavam, assim, revê-las 
(TATOSSIAN, 2012). 
Por este motivo, Assoun considera que a relação dos franceses com a 
psicanálise freudiana é controversa, haja vista que aceitar o método psicanalítico e 
tratar a doutrina psicanalítica como um sistema arbitrário faz com que aquele fique sem 
respaldo. No que diz respeito às críticas tecidas pela tradição fenomenológica, o 
principal ponto de impasse com o qual a psicanálise se depara seria a incompatibilidade 
que há em assumir um modelo energético para explicar o funcionamento do psiquismo 
e utilizar-se de um método que busca traduzir o sentido dos fenômenos apresentados 
no contexto clínico. Assim, cabe melhor precisar de que forma o diálogo entre 
fenomenologia e psicanálise se construiu no campo da psiquiatria germânica e, 
também, que rumos ele tomou no contexto intelectual francês. 
 
14 
3 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS 
Partindo da constatação do paradoxo contido nos direitos humanos 
fundamentais, discutiremos como a subjetividade se articula na composição política da 
presença dos corpos jovens na periferia. Os direitos humanos fazem valer uma forma 
de regulação abstrata que desconsidera as condições materiais e simbólicas dos 
sujeitos por eles protegidos. Ao serem universalizados e destituídos de carga étnica, 
racial, econômica, social e de gênero, os direitos se tornam transcendências que, na 
rotina dos corpos, hierarquias e instituições, naturalizam processos de desigualdade 
social. A título de exemplo, o Brasil é o país com a terceira maior população carcerária 
do mundo, sendo dois terços homens negros e pardos. O Brasil mata seus jovens 
negros de periferia trinta vezes mais do que os países europeus, inclusive em guerra. 
Nas periferias, discursos sobre a implementação de direitos humanos universais 
convivem com práticas iníquas, excludentes e desiguais de aplicação da justiça 
(GUERRA, 2020). 
Esse paradoxo da disjunção reaparece com nova roupagem ao tomarmos pela 
psicanálise a não coincidência do sujeito consigo mesmo, dado que o inconsciente é 
destituído de qualidades. Além disso, a imagem do sujeito não corresponde ao seu eu 
nem se reduz à representação de seu corpo. As diferentes representações do sujeito 
escapam, inclusive, a sua experiência inconsciente de satisfação, sendo matriciadas 
pela forma que ganham na linguagem (GUERRA 2017). 
A essa multiplicidade de maneiras de presentificação de um corpo no mundo 
corresponde uma multiplicidade de modos regulatórios no laço social. Direitos humanos 
universais, leis jurídicas nacionais, lei do crime e lei superegoica - que rege 
inconscientemente os atos compulsivos e repetitivos do sujeito - convivem no mesmo 
plano em que sujeito e corpo social estabelecem suas tensionadas formas de 
convivência. A relação que se firma entre esses códigos não é exatamente hierárquica. 
Com igual força, eles disputam o campo político, comunitário e subjetivo, e se mesclam, 
ganhando maior ou menor intensidade, conforme a perspectiva que se tome para ler o 
complexo sistema que, então, se cria (GUERRA; BISPO; SOUZA, 2016). 
 
15 
3.1 Reequilibração cognitiva 
 
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Freud foi, como se viu, mais de uma vez alinhado com uma visão da 
memória como conservação de um registro estático da experiência do organismo e 
do sujeito psíquico, que podia estar ou não acessível ao resgate, mas que 
permanecia relativamente idêntico a si mesmo ao longo do tempo, salvo pelo 
eventual desgaste passivo devido à corrupção de sua base física no cérebro. Restituído 
ao seu contexto, a abordagem freudiana pode aparecer mais claramente como 
apontando para uma visão dinâmica e integrativa da memória, protagonizada pela 
reorganização constante das conexões ativas que formam o seu correlato neural. 
Assim, se a neurobiologia contemporânea da memória se afastou 
consideravelmente das concepções do localizacionismo oitocentista e da 
morfologia especulativa dos engramas, foi numa direção que a aproxima de uma 
teoria como a de Freud e de outros autores que tomaram a mesma orientação e/ou a 
desenvolveram nas décadas posteriores, até o presente. O resultado é que Freud e as 
correntes teóricas psicanalíticas que deram continuidade aos seus pontos de vista 
ainda parecem ser interlocutores relevantes para o debate contemporâneo sobre a 
memória na psicologia e nas neurociências cognitivas (SHEVRIN, 2014; BOCCHI; 
VIANA, 2012). 
Uma concepção psicodinâmica sobre a memória remonta, sob muitos 
aspectos, à natureza criativa que a memória tem em Freud, na qual a fantasia 
inconsciente e o desejo são capazes de res-significar vivências e de instaurar 
 
16 
novos sentidos a partir da experiência passada. Existem aproximações entre 
aspectos da teoria da memória em Freud, a neurobiologia subjacente ao conceito 
de facilitação (Bahnung), a ideia de LTP e essa concepção dinâmica que 
desponta a partir de investigações neurocientíficas mais recentes, a fim de 
apontar a existência de uma mesma linha de pensamento sobre a memória, 
ligada à integração contínua de funções psíquicas e à experiência do seu uso. 
Ou seja, se hoje a memória é entendida sob um ponto de vista neurodinâmico, 
isso não foi inaugurado recentemente. A novidade encontra-se nas evidências 
científicas e experimentais que lhe dão respaldo, e que surpreendentemente 
corroboram algumas prerrogativas de Freud sobre o tema.E Freud, ao que tudo 
indica, estava ciente das implicações da sua teoria psicodinâmica sobre a 
memória quando a formulou como uma função construída ao longo da história 
das vivências do aparelho psíquico. Através das vicissitudes do aparelho, a 
percepção e a memória são modificadas por novas representações trazidas 
pelas diferentes fases do desenvolvimento do indivíduo, o que imprime um modo 
particular de organização e de atualização dos traços mnêmicos. Na Carta 52, o 
autor se refere à memória como um “rearranjo” entre os processos: “o material 
presente sob a forma de traços mnêmicos fica sujeito, de tempos em tempos, a 
um rearranjo, de acordo com as novas circunstâncias – a uma retranscrição”. 
Empolgado, anuncia a Fliess essa grande novidade: “o que há de 
essencialmente novo em minha teoria é a tese de que a memória não se faz 
presente de uma só vez, e sim ao longo de diversas vezes, e que é registrada 
em vários tipos de indicação” (BOCCHI; VIANA, 2012). 
 
17 
4 FREUD E A INSTABILIDADE TEÓRICA NA METAPSICOLOGIA 
 
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Para o historiador, a transformação da ciência constitui um desafio sério, 
sobretudo na medida em que a mera verificação de uma teoria se torna difícil 
por causa de seu caráter abstrato. Para o clínico interessado em aplicações, 
porém, é também desorientador não encontrar uma base teórica firme sobre a qual 
possa alicerçar sua prática. A existência de mudanças teóricas significativas indicaria 
confusão por parte do cientista, o que comprometeria sua credibilidade. Daí uma baixa 
tolerância para aquilo que podemos denominar instabilidade teórica, ou seja, a 
constante reformulação de pressupostos na atividade teorizante do cientista 
(TORRIANI; TRISTAN, 2016). 
No âmbito da literatura psicanalítica, a questão da continuidade ou ruptura 
nas teorias de Freud se mostrou uma falsa alternativa, requerendo uma abordagem 
mais diferenciada. Após uma aprofundada análise do pensamento freudiano, 
Monzani (2014) conclui que: 
Trata-se de vários procedimentos e operações. [...] O que temos é sempre uma 
progressiva rearticulação e redefinição dos conceitos determinada por sua 
lógica interna e pela progressiva integração dos dados da experiência. 
Ora se trata do aprofundamento e do alargamento de um conceito 
(sedução). Ora se trata de uma progressiva diferenciação no interior de 
um mesmo conceito (ego). Ora da emergência de uma noção implícita mas 
ordenadora (a pulsão de morte) etc. E cada uma dessas operações leva, 
por sua vez, frequentemente, a que se obrigue a repensar o conjunto dos 
conceitos que lhe são vizinhos e assim por diante. (MONZANI, 2014, p. 
295). 
Pelo movimento pendular, Monzani entende a alternação entre um polo e seu 
oposto, seu exemplo disso sendo o tratamento dado aos conceitos de ego consciente 
por um lado e o de inconsciente por outro lado. Freud teria inicialmente elaborado um 
 
18 
conceito de ego no Projeto de uma psicologia para neurológios (1895) que passaria 
então por um certo abandono, durante o qual ele se ocupou do conceito oposto, o 
inconsciente, até os anos 1920, quando voltaria a tratar do ego. Pelo movimento 
espiralado, trata-se de entender “[...]essa imagem no espaço e cilindricamente, em que 
as mesmas questões são abordadas, “esquecidas”, retomadas, mas não no mesmo 
nível em que estavam sendo tratadas anteriormente” (MONZANI, 2014). Isso sugere a 
figura da hélice, pois a espiral em três dimensões gera um cone. 
Em seus escritos metapsicológicos, Freud relaciona explicitamente a questão 
da instabilidade teórica com a sua compreensão do que seria um conceito, sobretudo 
em duas breves passagens de Introdução ao narcisismo (1914) e Os instintos e seus 
destinos (1915). Vejamos estes trechos na íntegra: 
Não nos sentimos bem ao abandonar a observação em favor de estéreis 
disputas teóricas, mas não podemos nos furtar a uma tentativa de 
esclarecimento. É certo que noções como a de uma libido do Eu, energia dos 
instintos do Eu e assim por diante não são particularmente fáceis de apreender 
nem suficientemente ricas de conteúdo; uma teoria especulativa das relações 
em jogo procuraria antes de tudo obter um conceito nitidamente circunscrito 
como fundamento. Acredito, no entanto, ser justamente essa a diferença entre 
uma teoria especulativa e uma ciência edificada sobre a interpretação da 
empiria. Esta não invejará à especulação o privilégio de uma fundamentação 
limpa, logicamente inatacável, mas de bom grado se contentará com 
pensamentos básicos nebulosos, dificilmente imagináveis, os quais espera 
apreender de modo mais claro no curso de seu desenvolvimento, e está 
disposta a eventualmente trocar por outros. Pois essas ideias não são o 
fundamento da ciência, sobre o qual tudo repousa; tal fundamento é apenas a 
observação. Elas não são a parte inferior, mas o topo da construção inteira, 
podendo ser substituídas e afastadas sem prejuízo. Em nossos dias vemos 
algo semelhante na física, cujas concepções básicas sobre matéria, centros de 
força, atração etc. não seriam menos problemáticas do que as correspondentes 
na psicanálise. (FREUD, [1914] 2010, p. 13). 
Tomando como referência a física, o pai da Psicanálise esclarece que entende 
a empiria como fundamento da ciência e a teoria como uma superestrutura descartável. 
Os fatos clínicos permaneceriam inalterados como pedras coloridas num caleidoscópio, 
e as hipóteses poderiam ser reformuladas, dando - nos múltiplas interpretações. 
Podemos notar inicialmente a dificuldade de que tal substitutibilidade requereria um 
desacoplamento total da empiria em relação à teoria, o que é impossível após a 
aquisição da linguagem, pois pelo menos alguns fatos terão que ser 
interpretados segundo conceitos (ou habilidades categorizadoras verbais). Em 
outras palavras, não é possível termos uma empiria puramente nocional ou intuitiva, 
pré-verbal), logo, alguns conceitos deverão permanecer após o processo de revisão 
teórica. Freud opõe uma teoria especulativa a uma ciência intérprete da empiria, 
 
19 
reconhecendo que a primeira poderia se dar ao luxo de procurar conceitos claros e 
fixos como fundamento. A porém, supostamente teria que se contentar apenas com 
conceitos imprecisos e mutáveis. Deste modo, a consulta à experiência não precisaria 
de maiores controles lógicos. A teoria especulativa se moveria de cima para baixo, 
ao passo que a ciência empírica - interpretativa avançaria no sentido inverso, 
de baixo para cima. Fica sugerido, pouco convincentemente, que o lidar com a 
empiria seria razão suficiente para eximir o pesquisador de maior rigor lógico e controle 
experimental (TORRIANI; TRISTAN, 2016). 
A Física é invocada como referência metodológica, apesar da grande diferença 
entre o seu objeto de estudo e o da Psicologia. Como observa Kathleen Wilkes, “Freud 
me parece ter sido um daqueles que acolhiam as ciências físicas como um superego 
para a Psicologia em geral. ” Pode-se perceber agora também um cuidado maior em 
reconhecer a impossibilidade de se evitar o uso de conceitos na descrição dos 
fenômenos. Se, na passagem citada do ano anterior, poderia talvez ter havido um 
pressuposto mais ingenuamente empirista, agora Freud parece admitir o que Immanuel 
Kant poderia ter considerado serem conceitos empíricos. O caráter convencional dos 
conceitos é aceito, pois sem maleabilidade não haveria avanços científicos, mas isso 
seria distinto de uma mera arbitrariedade. É bom lembrar que, na sua 
autocompreensão, Freud se imagina como o fundador de uma nova ciência que, por 
meio de sua capacidade de intervenção terapêutica, poderia trazer grandes benefícios 
(ou malefícios) à humanidade. Como vimos, segundo o pai da Psicanálise, haveria pelo 
menos dois momentosna prática científica. O primeiro momento seria o de uma 
abordagem necessariamente confusa e exploratória da experiência. Não é claro, 
porém, porque o pesquisador não poderia e não deveria tentar buscar clareza 
conceitual. Freud afirma que a experiência não seria a fonte dos conceitos, mas, ao 
contrário, que os dados estariam submetidos aos conceitos, e o sentido destes últimos 
seria continuamente negociado. Deste modo, parece haver um afastamento da 
concepção empirista ingênua da ciência e uma aproximação a um tipo de 
convencionalismo ou mesmo pragmatismo. O segundo momento seria um de 
rearrumação lógica, em que os conceitos seriam revistos para que se tornassem mais 
consistentes, mas Freud avisa que mesmo assim o progresso da ciência exigiria do 
teórico conceitos maleáveis. Estas duas passagens se limitam a registrar instantes no 
que podemos chamar o devir (evitaremos o termo ‘desenvolvimento’) teórico freudiano, 
em que a reflexão metodológica se mostra incontornável. Devem ser tomadas pelo que 
 
20 
são, sem tentativas de extrapolação ou generalização indevida (TORRIANI; TRISTAN, 
2016). 
5 HABITAR O INÓSPITO: A CONDIÇÃO HUMANA 
 
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“Na angústia, ele sente-se '‘estranho’'” (2012), escreveu Martin Heidegger, 
naquela que é conhecida por ser uma das obras mais notáveis do século XX, a saber, 
Ser e Tempo. Apresentando a angústia como uma abertura ao estranho, o a 
inospitalidade do Dasein. Não se tratava, todavia, de um simples lampejo autor em 
meio a uma obra marcada exatamente pela aridez de linguagem. Ao contrário, essa 
frase revela, sobretudo, a condição fundamental do existir humano. Iniciar por ela, 
portanto, transcende a um mero recurso estético ou de estilo, porquanto lança-nos de 
imediato para aquele que é o tema central da presente tese, especificamente, a 
condição de indeterminação revelada pelo afeto da angústia. Além disso, ela nos serve 
de ponto de partida para pensar um possível diálogo entre as preocupações ontológicas 
do filósofo alemão e aquelas que, suspeitamos, ocuparam o psicanalista Sigmund 
Freud. Este, ao desenvolver os alicerces da metapsicologia, apresentou a angústia 
como uma manifestação afetiva desvinculada de qualquer objeto e, por isso, como uma 
expressão privilegiada da pulsão em toda sua potência de indeterminação e 
estranheza. Assim, se para Freud as pulsões são marcadas pela indeterminação de 
seu objeto e estão no fundamento do aparelho psíquico, para Heidegger, o nada é o 
lugar onde se sustenta o existir humano. Em todo caso, parece que para ambos é a 
 
21 
radical face da indeterminação que está em questão quando a angústia se manifesta. 
Caso as coisas se deem desse modo, então, talvez não soe demasiado arriscado 
afirmar que a angústia, tal como a concebem Heidegger e Freud, abre a possibilidade 
de se conquistar um solo comum de diálogo entre o filósofo e o psicanalista, naquilo 
em que apontam para os fundamentos do desenvolvimento psíquico e emocional 
humano (BARBOSA, 2020). 
5.1 O inconsciente freudiano 
É preciso ter clareza de qual é o objeto da psicanálise. Ainda que o biológico 
exista e não seja recusado por Freud, não é o seu objeto. O objeto da psicanálise é o 
psíquico, em particular, o inconsciente. 
Nas Conferências Introdutórias, Freud demarca o campo psicanalítico: 
Essa é a lacuna que a psicanálise busca preencher. Ela pretende fornecer à 
psiquiatria o fundamento psicológico faltante; espera descobrir o terreno 
comum a partir do qual se possa compreender a convergência do distúrbio 
físico e do psíquico. Para tanto, é necessário que ela se mantenha livre de todo 
e qualquer pressuposto anatômico, químico ou fisiológico que lhe seja 
estranho, que trabalhe com conceitos auxiliares puramente psicológicos, e é 
por essa mesma razão que, receio, ela lhes parecerá estranha inicialmente 
(FREUD, 1916a, p. 27). 
A razão por que Freud recorre a essa analogia é para argumentar que as 
instâncias operam com leis diferentes: “essa diferenciação espacial corresponde a uma 
diferenciação funcional, na medida em que cada um desses lugares é regulado por leis 
próprias, constituindo assim uma espécie de subsistema no interior do aparelho”. 
Precisamos distinguir, então, inconsciente, pré-consciente e consciente. Em uma nota 
de rodapé de 1919, Freud identifica a consciência com a percepção. A consciência, diz 
Freud: “nada mais é do que um órgão sensorial para a percepção de qualidades 
psíquicas” (ZAIDAN et al, 2019). 
No sentido dinâmico, podemos diferenciar o inconsciente do pré-consciente, 
pois enquanto o último caracteriza conteúdos que, ainda que não estejam na 
consciência, podem se tornar conscientes a qualquer momento, o reprimido caracteriza 
conteúdos que apesar de sua intensidade não podem se tornar conscientes. O aspecto 
dinâmico expressa o jogo de forças que ocorre no aparelho psíquico. O inconsciente 
enquanto sistema está presente na concepção de que as localidades psíquicas são 
regidas por leis próprias. Enquanto o inconsciente é regido predominante mente por 
 
22 
processos primários, na consciência e no pré-consciente predominam processos 
secundários. Dizemos predominantemente porque Freud nos faz uma advertência 
importante, a respeito da presença da consciência durante o sonho, de que isto: “nos 
alerta contra identificar os processos primários com processos inconscientes” (ZAIDAN 
et al, 2019). 
5.2 Eu na teoria freudiana 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Basicamente, Longuenesse afirma que é possível que o Eu de Freud seja 
considerado como um descendente da unidade transcendental da apercepção de Kant. 
Assim como, para Kant, o uso do Eu no Eu penso estaria conectado à consciência de 
uma unidade de conteúdos mentais ordenada por regras lógicas, a saber, à consciência 
de que se está engajado em uma atividade, que o indivíduo considera como própria, de 
ligação de representações de acordo com regras, o conceito freudiano de Eu também 
consistiria em uma organização de eventos mentais cujos conteúdos apresentariam um 
tipo específico de unidade, na medida em que os últimos seriam estruturados conforme 
regras lógicas elementares, levando em conta que o Eu é governado pelo princípio de 
realidade e opera por processos psíquicos secundários, segundo a terminologia 
psicanalítica de Freud (CORDEIRO, 2014). 
A primeira relação explorada por Longuenesse, a mais próxima da hipótese geral 
e aquela que se pretende retomar, consiste no seguinte paralelo - da mesma forma que 
a unidade transcendental da apercepção, que fundamenta o uso do Eu no Eu penso, é 
 
23 
uma condição necessária para a aquisição de conceitos, para a ligação dos conceitos 
em juízos e inferências e para que haja “representações de objetos externos 
sistematicamente conectadas” (LONGUENESSE, 2017), o Eu de Freud “é aquele 
aspecto da nossa vida mental cujos conteúdos intencionais obedecem regras lógicas 
elementares e são ordenados de acordo com o ‘princípio de realidade’” (idem, ibidem). 
Tanto a unidade da apercepção quanto o Eu referem-se, em última análise, a 
organizações de processos mentais que encontram sua expressão nos conceitos e nos 
juízos - no pensamento discursivo, nos termos kantianos; nos processos psíquicos 
secundários sob o império do princípio de realidade, segundo Freud. Como parte da 
justificativa, Longuenesse recorre a duas referências que compõem a extensa obra do 
psicanalista; de modo mais rápido, ao texto intitulado Formulações sobre os dois 
princípios do acontecer psíquico, publicado em 1911, e ao artigo de 1923, O Eu e o 
Isso, que é a fonte principal da autora quanto à noção freudiana de Eu (FILLA, 2019). 
Nas Formulações, a principal preocupação de Freud é indicar algumas 
consequências resultantes da imposição do princípio de realidade ao aparelho psíquico. 
Para uma breve explanação, é suficiente recuperar do texto freudianoque, a princípio, 
em seu funcionamento primário, os processos psíquicos eram governados pelo 
princípio de prazer, cuja tendência se resumia à satisfação, mas este estado de repouso 
psíquico passa a ser perturbado por urgentes necessidades internas. O organismo, que 
procurava livrar-se de qualquer aumento de tensão que lhe afligia, tenta o caminho da 
satisfação alucinatória de desejo para resolvê-lo, por meio da reanimação de traços 
mnêmicos do objeto desejado, retidos de vivências anteriores de satisfação. Contudo, 
a via alucinatória se mostra ineficaz para eliminar os estímulos endógenos, que 
continuam perturbando o indivíduo, de modo que, logo no início de seu 
desenvolvimento, ele se vê obrigado a buscar uma alteração no mundo real que 
viabilize a satisfação – “Assim se introduziu um novo princípio na atividade psíquica; já 
não se representou o que era agradável, mas sim o que era real, ainda que fosse 
desagradável” (FILLA, 2019). 
Contudo, a imposição desse novo princípio, representante da realidade, não se 
desenrola sem consequências, as quais, como já foi dito, são elencadas por Freud, a 
começar por uma série de adaptações do aparelho psíquico, como o aumento da 
importância dos órgãos sensoriais dirigidos ao mundo exterior, da consciência ligada a 
eles e o desenvolvimento das funções da atenção e da memória. Todavia, 
Longuenesse destaca especialmente o papel do princípio de realidade quanto ao 
 
24 
surgimento da capacidade de formar juízos, visto que, depois do seu estabelecimento, 
ao invés de excluir ideias causadoras de desprazer dos processos associativos através 
da repressão, “surgiu o juízo imparcial que decidiria se uma determinada representação 
era verdadeira ou falsa, quer dizer, se estava ou não em consonância com a realidade; 
e o fazia por comparação com os traços mnêmicos da realidade”. Em outras palavras, 
o estabelecimento do princípio de realidade passa a exigir que o indivíduo diferencie 
percepção objetiva de recordação e julgue se é possível reencontrar um objeto real que 
corresponda àquilo que é representado subjetivamente. Este exame de realidade, que 
busca inibir o investimento de uma imagem mnêmica até a alucinação, é uma das 
atribuições do Eu, conforme virá a afirmar Freud. É ao que Longuenesse (2017) parece 
se referir quando afirma que o Eu nos permite “adquirir uma representação perceptiva 
confiável do mundo”. 
6 FANTASIA E REALIDADE PARA A PSICANÁLISE FREUDIANA 
 
Fonte: data:image/png 
Investigar o estatuto da realidade para a Psicanálise tem grande relevância 
clínica, uma vez que permite situar a especificidade da clínica psicanalítica ao se propor 
a operar com o sujeito do inconsciente. Tem ainda interesse particular na atualidade 
quando a noção de indício, derivada da Medicina baseada em evidências, ganha 
destaque e poder nos discursos sobre tratamentos psicológicos. Pode-se, assim, 
apresentar algumas questões: qual a relação das fantasias inconscientes, da realidade 
psíquica, com os eventos sociais? Como correlacionar o que ocorre na cena social com 
 
25 
o que ocorre no que Freud nomeou como Outra Cena, palco das fantasias? Esclarecer 
o sentido em que essas relações podem ser pensadas implica situar como a Psicanálise 
poderia ler, por exemplo, os efeitos das modificações sociais contemporâneas para o 
sujeito. Essa discussão mostra a forma como a Psicanálise, de modo subversivo e na 
contramão da perspectiva de controle defendida pela sociedade contemporânea, traz 
o sujeito como resposta inédita. Assim, a noção de realidade permite situar como a 
clínica psicanalítica deve operar e como considerar o discurso e a narrativa do paciente. 
Permite, ainda, discutir como a Psicanálise se posiciona eticamente na cultura. Trata-
se, então, de uma noção bastante específica para a Psicanálise, polêmica, mas 
fundamental para o entendimento da própria Psicanálise, especialmente de suas práxis. 
Freud elabora a Psicanálise a partir da escuta de suas pacientes histéricas 
e da consideração daquilo que em seus relatos remetia ao que nomeou como 
Outra Cena, o Inconsciente. Ou seja, a Psicanálise surge de uma demanda 
clínicae de um trabalho que reconfigura essa demanda. Assim, considera-se que a 
Psicanálise fulgura no momento em que Freud declara que sua escuta analítica 
não tinha como desígnio extrair informações sobre os fatos, mas sobre as 
fantasias inconscientes. Isto é, a Psicanálise passa a existir quando Freud afirma 
que se interessa pela realidade psíquica. 
O sintoma histérico foi lido por Freud como uma solução de compromisso entre 
forças conflitantes. Essa construção diante do não suportável, conflitivo, resultaria na 
conversão histérica, a qual mostra que Freud aposta em uma realidade psíquica, 
havendo, portanto, a passagem da consideração do trauma como evento social para 
evento inconsciente. Consequentemente, as mulheres ditas histéricas encontravam na 
expressão corporal do sintoma a maneira legítima de denunciar a opressão que as 
acometia. Uma vez que ninguém estava disposto a promover uma escuta dessa 
angústia, essas mulheres encontraram em Freud ouvidos dispostos à escuta daquilo 
que não se pode dizer. 
Como ratifica Coppus (2013), o corpo humano inclui-se na análise. É a partir 
desse corpo que a Psicanálise instaurou uma realidade que se difere da realidade 
compartilhada: uma realidade psíquica. Freud esbarra na realidade psíquica da 
histérica vendo ali uma expressão do psiquismo como uma forma de arranjo de seu 
inconsciente ao tentar significar corpo e realidade. Na obra “Estudos sobre a histeria”, 
Freud aponta três pontos basilares da histeria: haveria um episódio traumático tendo 
relação com impulsos libidinais que foram recalcados; os sintomas histéricos não 
 
26 
estavam desconexos, havia uma lógica, eles faziam sentindo e tinham um porquê de 
ser; e uma alternativa para se buscar a cura seria a evocação da lembrança traumática 
seguida por um episódio catártico. Ele precisou redimensionar esses pontos para 
elaborar a Psicanálise. 
A clínica da histeria conduz Freud à adoção da hipótese do inconsciente e à 
extração das consequências clínicas dessa hipótese de trabalho, empreendimento que 
será a veia condutora de toda a sua obra. Assim, é situando a fantasia inconsciente 
como realidade psíquica que Freud cria a Psicanálise, ainda que a realidade psíquica 
se constitua a partir de um hiato, de uma falta. Para se aprofundarem essas noções, 
remete-se à experiência do desamparo descrita por Freud nos primórdios de sua obra 
(REIS E SILVA, 2020). 
7 FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE SEGUNDO A PSICANÁLISE 
 
Fonte: data:image/jpeg 
Para a Psicanálise, a formação da personalidade coincide com a formação e 
estruturação da mente. Para Freud, o ser humano não é um indivíduo. Isso porque ele 
está “dividido”. Seus desejos, suas razões e seus apelos morais não coincidem. Pois 
são formados em momentos diferentes da vida, usando estruturas mentais diferentes. 
A infância tem papel essencial na formação da personalidade. Para Freud, a 
infância já é um lugar da sexualidade, do desejo, das pulsões. E os eventos da infância, 
mesmo quando “esquecidos” (recalcados), podem perdurar por toda nossa vida, 
guiando nossas percepções, emoções e crenças. Polêmicas, ousadas e radicais, suas 
 
27 
teorias a respeito de fenômenos como interpretação dos sonhos, sexualidade e 
inconsciente ainda são alguns dos temas mais estudados e criticados nesse campo de 
saber. Como se sabe, a motivação sexual foi muito enfatizada por Freud, 
particularmente, nos seus primeiros trabalhos. Uma das mais conhecidas - as cinco 
fases do desenvolvimento psicossexual da criança - ainda provoca acaloradas 
discussões entre os profissionais da área (FERREIRA, 2014). 
De acordo com Freud, as crianças passam por cinco fases de desenvolvimento: 
 
I – A faseoral (0 – 1 ano) 
Desde o nascimento, Freud afirma que a primeira fase de desenvolvimento de 
uma criança se concentra na região oral. Tendo como exemplo principal foco a 
amamentação da mãe, a criança obtém prazer no momento da sucção e sente 
satisfação com a nutrição proporcionada pelo ato. Caso a amamentação fosse 
interrompida precocemente, o autor afirmava que a criança teria atitudes suspeitas, não 
confiáveis ou sarcásticas, enquanto aquela que for constantemente amamentada terá 
uma personalidade confiante e ingênua. Com duração de um ano a um ano e meio, a 
fase oral termina com na época do desmame. 
 
II – A fase anal (1 – 3 anos) 
Após receber orientações sobre higiene íntima, a criança desenvolve uma 
obsessão para com a região anal e o ato de brincar com as próprias fezes. Freud 
afirmava que a criança vê esta fase como uma forma de se orgulhar das suas 
"criações", o que levaria à personalidade "anal expulsiva". A criança poderia também 
propositadamente reter seu sistema digestivo como forma de confrontar os pais, o que 
levaria à personalidade "anal retentiva". Esta fase tem duração de um a dois anos. 
 
III – A fase fálica (3 – 5 anos) 
De acordo com o psicanalista, a fase fálica é a mais crucial para o 
desenvolvimento sexual na vida de uma criança. Ela se concentra nos órgãos genitais 
- ou a falta deles, se a criança for do sexo feminino - e os complexos de Édipo ou Electra 
surgiriam. Para um homem, a energia sexual é canalizada no amor por sua mãe, 
levando a sentimentos de inveja (às vezes violentos) contra o pai. Geralmente, no 
entanto, o menino aprenderá a se identificar com o pai, em termos de órgãos genitais 
correspondentes, reprimindo assim o complexo de Édipo. Por outro lado, o complexo 
 
28 
de Electra, embora Freud não tenha sido tão claro assim, principalmente diz respeito 
ao mesmo fenômeno, porém invertido, para as meninas. Esta fase dura de três a quatro 
anos. 
 
IV – O período de latência (5 anos – puberdade) 
Freud dizia que o período de latência no desenvolvimento da criança não é um 
período psicossexual, mas sim uma fase de desejos inconscientes reprimidos. Neste 
período, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora desejos e impulsos 
sexuais possam ainda existir, eles são expressos de forma assexuada em atividades 
como amizades, estudos ou esportes, até o começo da puberdade. 
 
V- A fase genital (puberdade e vida adulta) 
Segundo Freud, na fase genital, a criança mais uma vez volta a sua energia 
sexual para seus órgãos genitais e, portanto, em direção às relações amorosas. Ele diz 
que esta é a primeira vez que uma criança quer agir de acordo com seu instinto de 
procriar. Os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem aqui uma relativa 
estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os 
desafios da idade adulta. Neste momento, meninos e meninas estão ambos 
conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de 
satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais (FERREIRA, 2014). 
7.1 A formação da personalidade segundo a Teoria Estrutural 
As observações feitas por Freud revelaram uma série interminável de conflitos 
psíquicos. A um instinto opunha-se outro. Eram proibições sociais que bloqueavam 
pulsões biológicas e os modos de enfrentar situações que se chocavam. 
Freud tentou ordenar este caos aparente propondo três hipotéticas instâncias da 
formação da personalidade: id, ego e superego. 
 
29 
7.2 O ID 
 
Fonte: data:image/jpeg 
É no Id que estão as pulsões. O Id é irracional, ilógico e impulsivo. O Id busca o 
prazer, desconsiderando as consequências. Ele quer a satisfação imediata de seus 
impulsos. O Id pode ser comparado a um cavalo que tem muita força, mas que depende 
do cavaleiro para usar adequadamente essa força. 
Os conteúdo do Id são quase todos inconscientes, e isto inclui as configurações 
mentais que nunca se tornaram conscientes, da mesma forma como o material que não 
foi aceito pela consciência. 
Um pensamento ou uma lembrança, que foi excluído da consciência, mas que 
se encontra na área do Id, será capaz de influenciar toda vida mental de uma pessoa 
(QUEDER, 2018). 
O id representa e se faz lugar da parte pulsional da vida psíquica humana, ele 
não conhece nem normas (interditos ou exigências) nem realidade (tempo ou espaço) 
e é regido unicamente pelo princípio do prazer, pela satisfação imediata e incondicional 
de seus imperativos. O id é portanto o eixo fundamental das pulsões sexuais. Trata-se 
de uma instância inteiramente inconsciente. Em A decomposição da personalidade 
psíquica, Freud nos diz que ele: 
 […] é a parte obscura, inacessível, de nossa personalidade; o pouco que nós 
sabemos dele, o aprendemos pelo estudo do trabalho dos sonhos e da 
formação de sintomas neuróticos, e o essencial disto possui um caráter 
negativo, não se deixando descrever em posição oposta ao ego. 
 
30 
Enquanto instância completamente inconsciente, o id é vivido como algo que faz 
irrupção a despeito do ego e do superego, ele faz fazer e ao mesmo tempo tende a 
escapar de toda possibilidade de discernimento. Podemos encontrar neste ponto um 
aspecto impessoal justamente onde existe um ponto que se impõe de maneira 
inconsciente, como a experiência de uma força quase exterior e não menos imperativa 
por isso. Ele possui um aspecto impessoal exatamente lá onde é inconsciente, onde o 
indivíduo encontraria dificuldades a se reconhecer. Em francês – língua na qual 
Deleuze e Guattari leram Freud e o criticaram –, podemos ilustrar tal questão de 
maneira ainda mais precisa graças ao uso corrente e pronominal da palavra que é 
usada para traduzir o que no Brasil foi traduzido como id18: le ça pode ser traduzido 
como o id ou o isto. Esta segunda variante, talvez menos freudiana, nos mostra 
entretanto o caráter impessoal de tal instância pelo simples fato de que se trata de um 
pronome demonstrativo substantificado, sublinhando justamente este aspecto do 
problema de descentramento da personalidade (MARTINS, 2015). 
7.3 O EGO 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
O Ego está em contato com a realidade. Funciona a nível consciente e pré-
consciente, embora também contenha elementos inconscientes. O Ego protege o Id, 
mas extrai dele a energia suficiente para suas realizações. O Ego tem a tarefa de 
garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade (autopreservação). 
 
31 
Ego tem a função controlar as exigências dos instintos do Id, decidindo se elas 
devem ou não ser satisfeitas, adiando-as para momentos mais favoráveis ou as 
suprimindo inteiramente. O ego busca o prazer e evita o desprazer. Assim, o ego é 
originalmente criado pelo Id, na tentativa de melhor enfrentar as necessidades de 
reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o Ego tem de controlar 
ou regular os impulsos do Id, de modo que a pessoa possa buscar soluções mais 
adequadas, ainda que menos imediatas e mais realistas (QUEDER, 2018). 
O ego é uma espécie de altar das identificações, ele é propriamente um produto 
das relações identificatórias. Depois da concepção de um superego de cunho arcaico 
e que foi determinado por imagines parentais de certa forma herdadas pelo complexo 
de Édipo, as identificações sucessivas que nos acometem fazem com que ao longo 
desta lógica sucessiva nos distanciemos gradativamente dos pais de uma cena arcaica, 
numa trajetória rumo a uma impessoalidade crescente. O ego é uma instância que abre 
o indivíduo a uma multiplicação de referências identificatórias que ultrapassa e excede 
a rigidez marcadamente mais regressiva do superego. A respeito desta questão, Freud 
nos diz: 
Não esqueçamos […] que a criança aprecia seus pais diferentemente nas 
diversas épocas de sua vida. Na época em que o complexo de Édipo cede seu 
lugar ao superego, eles são certamente grandiosos, e posteriormente 
testemunhamde uma grande desvalorização. Produzem-se então também 
identificações com certos pais posteriores (educadores, chefes…), tais 
identificações fornecem regularmente contribuições importantes à formação do 
caráter, mas concernem apenas ao ego; elas não influenciam mais o superego, 
que foi formado a partir das imagines parentais. 
O ego é lugar de toda identificação que se dá num tempo lógico posterior ao 
campo identificatório mais regressivo do psiquismo humano, isto é, das chamadas 
identificações primárias, que foram para o indivíduo os trilhos para uma saída no 
declínio do complexo de Édipo e cederam seus lugares ao superego (MARTINS, 2015). 
 
32 
7.4 O SUPEREGO 
 
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O Superego se desenvolve a partir do Ego e atua como um juiz ou censor sobre 
as atividades e pensamentos do Ego. 
Nele estão os códigos morais, modelos de conduta e os parâmetros que 
constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do Superego: 
consciência, auto-observação e formação de ideais. 
Enquanto consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou 
julgar a atividade consciente, porém, ele também pode agir inconscientemente. As 
restrições inconscientes são indiretas e podem aparecer sob a forma de compulsões 
ou proibições. O Superego tem a capacidade de avaliar as atividades da pessoa, 
independentemente das pulsões do Id para tensão-redução e independentemente do 
Ego, que também está envolvido na satisfação das necessidades (QUEDER, 2018). 
Esta instância psíquica é apresentada por Freud como uma herdeira 
transgeracional que remonta, ao menos, aos avós quando estes imprimiram um 
superego aos pais e estes imprimiram um superego em seus filhos. O superegonão se 
constituiria a partir de uma identificação aos pais, mas a partir da transmissão do 
superego que foi transmitido aos pais pelos avós, e assim por diante no sentido 
ascendente. Freud supõe também a existência de uma temporalidade surperegoica 
marcadamente arcaica que se dá em uma relação viva com o passado e as tradições 
de cada povo, nas origens do que Freud chamava de Kultur. Algumas linhas de A 
decomposição da personalidade psíquica a respeito da temporalidade em jogo nas 
questões do superego: 
 
33 
O superego da criança não se edifica verdadeiramente sobre o modelo dos 
pais, mas sobre o modelo do superego dos pais; ele se preenche do mesmo 
conteúdo, ele se torna um portador da tradição, de todos os julgamentos de 
valor à prova do tempo que por esta via são perpetuados geração após geração 
[…] nesta tradição da raça e do povo, que só cede muito lentamente à influência 
do presente, às novas modificações. Este passado age através do superego 
depois de muito tempo, ele tem um papel importante na vida humana, 
independente das condições econômicas. 
Presumimos encontrar nessa instância psíquica portadora de toda uma tradição, 
um papel que ultrapassa a forma de experiência subjetiva que atribuímos a uma pessoa 
e remonta aos mais diversos interditos ascendentes, ancestrais. Neste sentido, grosso 
modo, para o que Freud apresenta como sendo o superego, não há descendência, 
apenas ascendência. Em última instância, toda descendência é produzida e sobre 
determinada pela ascendência à qual remontaria uma genealogia do superego. Neste 
aspecto, o indivíduo se encontra finalmente reduzido a um ponto de uma linhagem da 
espécie humana e da sua própria família. A relação entre o indivíduo e sua genealogia 
superegoica seria assim uma concepção impessoal e quase metafísica do superego 
(MARTINS, 2015). 
7.5 Relações entre os três componentes da psique na formação da 
personalidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: miro.medium.com 
 
34 
A meta fundamental da psique é manter e/ou recuperar um nível aceitável de 
equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. 
Todo o processo inicia-se no Id, que é de natureza primitiva, instintiva. 0 ego, 
surge do id e existe para lidar com a realidade das pulsões básicas do id e também 
atua como mediador entre as forças que operam no Id e no Superego e as exigências 
da realidade externa. O Superego, surge do ego, e age como um freio moral ou uma 
força contrária aos interesses do ego. Ele determina normas que definem e limitam a 
flexibilidade do Ego. 
É necessário esforço para tornar consciente os conteúdos do inconsciente 
O id é inteiramente inconsciente, o ego e o superego o são em parte. “Grande 
parte do ego e do superego pode permanecer inconsciente e é normalmente 
inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário 
despender esforços para torná-los conscientes”. O propósito da psicanálise nesses 
termos, o propósito prático da psicanálise “é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais 
independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua 
organização, de maneira a poder assenhorear-se de novas partes do id” (QUEDER, 
2018). 
8 NEUROSE E PSICOSE 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Os primeiros escritos da obra freudiana categorizavam transtornos emocionais 
em três grupos e Freud os denominava de psiconeuroses. As neuroses atuais 
 
35 
compunham o primeiro agrupamento, caracterizando-se como transtornos emocionais 
resultantes da ausência ou inadequação da satisfação sexual; seus sintomas não eram 
de natureza simbólica. Para tal transtorno a investigação deveria ser direcionada para 
as desordens sexuais atuais e não em acontecimentos importantes da vida passada. 
Sua etiologia, neste sentido, é somática e não psíquica. Essa denominação está em 
desuso na psicanálise, entretanto, recentemente tem servido como embasamento para 
o estudo da psicossomática. As neuroses de transferência constituem o segundo grupo. 
Elas foram também chamadas de psiconeuroses de defesa. Este agrupamento engloba 
as histerias, fobias e as neuroses obsessivas. Segundo Freud, apenas estas poderiam 
produzir a transferência, pois para isso seria necessário dirigir catexias libidinais às 
pessoas. O terceiro grupo era composto pelas neuroses narcísicas, ou seja, as 
psicoses. De acordo com Freud, a psicanálise não reunia condições para tratar 
pacientes acometidos desse tipo de neurose. A justificativa usada pelo fundador da 
psicanálise era a de que tais pacientes não conseguiam a revivescência do conflito 
patogênico e a superação da resistência devido à regressão. Freud supunha que essas 
pessoas abandonavam as catexias objetais e que sua libido objetal se transformava em 
libido do ego (POLETTO, 2012). 
Nos trabalhos iniciais de Freud verifica-se uma distinção mais radical entre 
neurose e psicose. Correspondendo às neuroses, os conflitos interiores do indivíduo, 
cujo significado inicial lhe escapa, remetendo para os conflitos infantis recalcados que 
serão acessíveis pela transferência. Já as psicoses envolvem os conflitos entre o 
indivíduo e o mundo, pouco ou dificilmente acessíveis pela transferência, mesmo com 
revelações diretas do inconsciente. No Rascunho H, a paranoia, Freud classifica então 
como psicoses: a confusão alucinatória, a paranoia e a psicose histérica. No texto “As 
neuropsicoses de defesa”, Freud refere que os pacientes que analisou apresentavam 
boa saúde antes do adoecimento. Entretanto, em determinado momento “houve uma 
ocorrência de incompatibilidade em sua vida representativa”. Isto é, seu eu foi 
confrontado com uma experiência, representação ou sentimento que provocou um afeto 
aflitivo que o indivíduo optou por esquecê-lo. Sendo assim, percebe-se uma dificuldade 
de mediação entre a representação incompatível e seu próprio eu (POLETTO, 2012). 
Freud afirma que quando a defesa utilizada contra uma representação 
incompatível é efetivada, separando-a do seu afeto, esta representação permanece na 
consciência, embora enfraquecida e isolada, o mecanismo em ação nessa situação é 
o de recalcamento (verdrängung) que é caracteristicamenteusado pelas neuroses. 
 
36 
Conforme Verdrängung é habitualmente traduzido como recalque ou repressão. Esta 
palavra vem do verbo verdrängeng, que significa em alemão empurrar para o lado, 
desalojar. Este verbo ainda remete a uma sensação de sufoco, de incomodo que leva 
o sujeito a desalojar, deixar de lado o material que o incomoda. Entretanto, segundo 
essa significação, tal material permanece junto ao sujeito, pressionando pelo retorno, e 
exigindo a mobilização de esforço para mantê-lo longe. Partindo desses elementos, as 
conotações mencionadas da significação relacionadas ao termo verdrängung se 
aproximam ao emprego do termo no contexto psicanalítico (POLETTO, 2012). 
O recalque, mecanismo de defesa relacionado por Freud às neuroses, não 
consegue eliminar a fonte pulsional que, de maneira constante, emite estímulos que 
chegam à consciência e reivindicam satisfação. O que este mecanismo faz é empurrar 
para o lado e não extinguir por definitivo determinado conteúdo. O material recalcado 
está de certa forma presente também em sua ausência e, mesmo desalojado, se 
manifesta à distância. Ele pressiona pela volta à consciência, fica numa espécie de 
‘salão contíguo ao consciente’ tentando o retorno, já que sua manutenção afastada 
exige um esforço para mantê-lo fora de cena. O recalque é um estado que exige grande 
empenho de força para se manter, pois a pressão pelo regresso é constante. Este 
retorno aparecerá, segundo Freud, sob a forma de sintomas, dos atos falhos, dos 
chistes e dos sonhos (POLETTO, 2012). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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