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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO E ESTÔMAGO ACALÁSIA Acalasia é uma afecção primária de motilidade do esôfago pouco comum. A mucosa apresenta-se macroscopicamente normal, sendo difícil seu diagnóstico por via endoscópica. A incidência dessa doença aumenta com a idade, tendo em vista que com o passar dos anos, há perda de peristaltismo. • Onda peristáltica primária: inicia-se na orofaringe e tem como função levar o alimento até o estômago. • Onda peristáltica secundária: semelhante a primaria, com poder de propulsão do alimento. Pode se iniciar em qualquer porção do TGI. • Terciária: não tem o poder de propulsar o alimento, são ondas disformes. Em geral, é uma doença idiopática, na qual há perda seletiva da função dos neurônios inibitórios dos plexos mioentéricos, provavelmente devido a fenômeno autoimune em resposta a antígenos desconhecidos. Todavia, no Brasil, temos como etiologia a doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi. Essa doença cursa com o megaesôfago e provoca a perda da motilidade do esôfago pela degeneração dos plexos mioentéricos. Diferencial O diagnóstico diferencial inclui a pseudoacalasia (5%), ocasionada por obstrução neoplásica ou operações na junção esofagogástrica. Quadro clínico • Disfagia lentamente progressiva (70 a 97%), inicialmente apenas para alimentos sólidos. o Difere-se de neoplasia, na qual a disfagia tem instalação mais rápida. • Regurgitação de alimentos não digeridos (75%) o Os alimentos não sofrem ação enzimática e retornar do esôfago para a boca ainda em sua forma original, de forma que é possível identificar qual o alimento em questão. o Obs.: regurgitação é diferente de vômito, sendo que o primeiro é proveniente do esôfago e o segundo, do estômago. • Emagrecimento (60%) • Dor torácica (40%) • Complicações respiratórias o Microaspiração crônica do conteúdo regurgitado, levando a pneumonia o Compressão traqueal pelo esôfago dilatado • Doença de Chagas: acometimento do coração e do intestino grosso concomitantemente Diagnóstico Endoscopia digestiva alta (EDA) A EDA apresenta baixa acurácia para o diagnóstico de acalasia, tendo em vista que há dificuldade em identificar se o órgão está ou não dilatado. Dentre as alterações que podem ser verificadas, temos: • Corpo esofágico dilatado, atônico e frequentemente tortuoso • Resistência ao transpassar a cárdia • Mucosa esofágica o Esofagite com mucosa friável e espessada. Podem ser evidenciadas erosões, as quais ocorrem especialmente à estase crônica – a presença do alimento leva a inflamação do esôfago, tendo em vista que ele é degradado nesse órgão (não é digerido) Radiografia contrastada (EED)) Na imagem da radiografia contrastada é possível identificar afilamento do esôfago distal e graus diversos de dilatação esofagiana. Tomografia computadorizada A TC com contraste também permite a visualização do esôfago e sua dilatação. Geovana Sanches, TXXIV Manometria esofagiana A manometria é o exame ideal para firmar o diagnóstico de acalasia, tendo em vista que ele estuda a motilidade. Em um exame normal (imagem superior) vemos o caminhar da onda peristáltica. Já na acalasia (imagem inferior), verifica-se o início da onda peristáltica na orofaringe, mas esta não progride; há dificuldade do relaxamento do esfíncter inferior do esôfago, podendo ocorrer inclusive aprisionamento do alimento (linha vermelha). Classificação de Megaesôfago (Ferreira-Santos) O megaesôfago é classificado de acordo com o diâmetro transverso da imagem do esôfago contrastado em incidência anteroposterior, e pelo tempo de estase. Vale lembrar que o diâmetro transverso do órgão saudável é de até 2,5 cm e, de acordo com o seu crescimento, o órgão se “deita” junto ao tórax. • Grau I: dilatação moderada, com até 4 cm de diâmetro transverso. A estase é pequena, perdurando cerca de 5 minutos. • Grau II: dilatação de 4 a 7 cm de diâmetro transverso, com estase aos 30 minutos. • Grau III: dilatação de até 10 cm de diâmetro transverso, com alongamento sigmoide do esôfago (dolicomegaesôfago). A estase é pronunciada aos 30 minutos e há resíduo alimentar, o que gera imagens em flocos ao contraste. • Grau IV: dilatação maior que 10 cm de diâmetro transverso. Imagem sem papa de contraste, dado apenas pelo resíduo alimentar. Tratamento O tratamento será definido de acordo com o grau de classificação do megaesôfago, podendo ser por via endoscópica ou cirúrgica. A cirurgia pode ter como efeito colateral doença do refluxo gastroesofágico. • Grau I: tratamento por endoscópio que permite a dilatação do esôfago, dando conformo ao paciente. Inicialmente pode ser necessário realizá-lo mais do que uma vez e, posteriormente, realiza-o uma vez ao ano. • Grau II: em geral, a dilatação endoscópica com balão já não é mais eficiente para esses casos. Segue-se então para a Miotomia de Heller, na qual adentra-se o abdome na junção esôfago-gástrica, separando as fibras da musculatura esofagiana. O procedimento se estende de 3 a 4 cm do estômago até o início desse órgão, criando como uma “herniação”. • Grau III: para mesaesôfagos nesse grau, a miotomia já não é mais eficaz. Propõe-se então a cirurgia de Thal Hatafuku, na qual faz-se um corte longitudinal na junção esôfago-gástrica, com sutura na transversal. Cria-se assim uma bolsa, tendo como consequência o refluxo gastro- esofágico em 100% dos casos – é possível tentar fazer uma valva anti-refluxo, mas isso dificulta a drenagem esofagiana. Geovana Sanches, TXXIV • Grau IV: nessa condição, o paciente já não se alimenta mais, pois a comida não passa do esôfago para o estômago, permanecendo lá por dias. Isso pode propiciar desenvolvimento maligno, de forma que, para esses casos, indica-se a realização de esofagectomia. DIVERTÍCULOS ESOFAGEANOS Classificação quanto a localização Os divertículos esofágicos podem ser divididos, quanto a sua localização, em: • Cervicais (faringoesofagianos) • De terço médio • De terço inferior (epifrênicos) Classificação quanto a parede • Divertículo de pulsão (falsos): são aqueles em que a parede do órgão não é completamente envolvida no divertículo. • Divertículo de tração (verdadeiro): são aqueles em que toda as camadas da parede (mucosa, sub-mucosa, muscular e serosa) estão envolvidas. Os divertículos de terço médio só ocorrem quando há doença mediastinal ou pulmonar que cause a tração no esôfago, sendo que os demais – faringoesofagianos e epifrênicos - são de pulsão (passam por zona de fraqueza). Divertículo de Zenker (Faringoesofagiano) Epidemiologia • É o mais comum, responsável por cerca de 90% dos casos. • Prevalência: 0,01 a 0,11% • > 50 anos • H:M / 1:1 Definição Divertículo de Zenker ou faringoesofágico é uma herniação da mucosa da parede posterior do hipofaringe. Ele foi descrito por Ludlow há mais de 200 anos e revisado pelo patologista alemão Zenker, o qual deu seu nome ao achado. É um falso divertículo, faringoesofágico ou hipofaríngeo. Desenvolve-se em locais frágeis, na região em que o pescoço e o esôfago formam um triângulo, tais como: • Triângulo de Killian: localizado entre o músculo constritor inferior da faringe e as fibras superiores do músculo cricofaríngeo. • Área de Killian-Jamieson: entre as fibras oblíquas e transversas do músculo crico- faríngeo. • Triângulo de Laimer: formado entre o músculo cricofaríngeo e as fibras circulares mais superiores da parede muscular esofagiana. Fisiopatologia Desde o nascimento, há presença de um ponto muscular frágil sobre áreas da hipofaringe que, quando em altas pressões intraesofágicas, sofre herniação. • Teoria da disfunção muscular – divertículo de pulsão: herniação da mucosa é predisposta pela excessiva contração ou descoordenação dos músculos crico- faríngeos; • Teoriada incoordenação muscular (ou espasmo cricofaríngeo) • Anormalidade primária é a abertura incompleta do esfíncter esofagiano superior, mesmo com relaxamento completo do mesmo. Quadro clínico • Disfagia Geovana Sanches, TXXIV • Regurgitação: ao pressionar o pescoço do paciente, há retorno de alimento não digerido. • Halitose: decorrente da presença de alimento degradado no esôfago • Emagrecimento: devido a não ingestão alimentar • Vômitos alimentares • Disfonia • Tumoracao cervical • Odinofagia • Sialorréia • Pirose • Dor cervical Complicações • Aspiração • Pneumonias recorrentes • Perfuração do divertículo • Obstrução esofáfica • Degeneração neoplásica o 0,25 a 0,30% Diagnóstico Caso o diagnóstico não seja realizado por via endoscópica, faz-se um estudo contrastado de esôfago-estômago-duodeno (EED) e deglutograma. Tratamento • Cirúrgico: através da região cervical, corta- se a base do divertículo e realiza a sutura. • Endoscópico: há um septo entre o orifício esôfago-gástrico e o divertículo, sendo que essa trave pode ser endoscopicamente seccionada, transformando o local em uma estrutura única. o Só pode ser realizado quando o divertículo não é grande, pois caso contrário pode ocorrer perfuração do esôfago. Todo divertículo que apresente progressão em tamanho, sintomatologia ou potencialidade para complicações deve ser removido. Para aqueles de médio ou grande tamanho, deve-se realizar diverticulectomia associada a miotomia cricofaríngea, para evitar que ele se forme novamente. Já os divertículos pequenos (menores que 2 cm), em geral assintomáticos, não requerem tratamento ou pode-se realizar apenas miotomia. A miotomia não pode ser realizada em casos de acalasia verdadeira do cricofaríngeo. Divertículo epifrênico Os divertículos epifrênicos são muito raros (15% de todos os casos), com prevalência de 15 casos para cada 100.000 habitantes (EUA). Trata-se de protusões saculares anormais da luz esofágica através da camada muscular, causados por um aumento de pressão intraesofagiana, e estão comumente ligados a distúrbios motores do esôfago. Características • São divertículos falsos, tendo a parede constituída apenas das camadas mucosa e submucosa. • Localizam-se acima do E. I. I – 10 a 25 cm de esôfago distal, na parede posterolateral direita. • Seu tamanho varia entre 1 e 1 cm, com média de 7,4 cm. • Distúrbios motores do esôfago estão muito relacionados, tendo em vista que a alteração da motilidade faz com que o esôfago não consiga transpor o alimento, formando o divertículo. o Associação com acalasia em 3,6 a 7,4% dos casos. o Divertículos epifrênicos se apresentam concomitantes a acalasia em 60% dos casos. Sintomas Os sintomas não estão diretamente relacionados com o tamanho dos divertículos. • Aproximadamente 75 a 80% dos pacientes são assintomáticos • Sintomas: o Disfagia o Regurgitação o Halitose o Perda de peso o Náuseas e vômitos o Broncoaspiração o Infecções respiratórias o Dor retroesternal o Pirose Diagnóstico • Estudo contrastado de esôfago-estômago- duodeno (EED) • Endoscopia digestiva alta (EDA) Geovana Sanches, TXXIV • Manometria esofágica • Tomografia computadorizada Tratamento Divertículos epifrênicos assintomáticos, sem história prévia de aspiração e sem dilatação do esôfago não requerem tratamento, caso sejam menores que 3 cm. Todos os demais devem ser tratados. O tratamento deve se basear na intensidade dos sintomas nos casos sintomáticos. Dentre as complicações, estão o sangramento, perfuração, hemorragia e inflamação; a presença de carcinoma espinocelular é pouco comum. A diverticulectomia com cardiotomia e fundoplicatura laparoscópica é o tratamento cirúrgico de eleição. CÂNCER DE ESÔFAGO Epidemiologia • Terceira causa de morte por câncer digestivo, inferior apenas para o câncer gástrico e câncer de cólon • Prognóstico reservado • Taxa de sobrevida em 5 anos: 15% • Carcinoma de células escamosas (CCE) o Predomina em homens (3,6:1) entre o 5º e 7º decênios de vida o Se diagnóstico inicial, apresenta taxas de sobrevida de 95% Tipos histológicos • Carcinoma espinocelular: origina-se no próprio esôfago. • Adenocarcinoma: quando se encontra na junção esôfago-gástrica. Fatores associados São diversos os fatores associados, todavia o de maior importância é a história de carcinoma esofagiano (CCE) de vias aerodigestivas superiores. • História familiar • Sexo masculino • Exposição a nitrosaminas • Injúria térmica por bebidas quentes, como o mate • Deficiência de micronutrientes o Riboflavina, retinol, ácido ascórbico, alfatocogerol, selênio, magnésio, zinco • Dieta pobre em frutas e vegetais frescos • Radiação • Abuso de álcool e tabaco • Lesões cúasticas do esôfago • Acalasia • Tilose • Síndrome de Plummer-Vinson • Infecção pelo papiloma vírus humano Diagnóstico Para diagnóstico precoce do câncer de esôfago, faz-se necessária a realização de endoscopia digestiva alta (EDA) com cromoscopia (cromoendoscopia) – o iodo cora as células escamosas do esôfago ricas em glicogênio, mas não as neoplásicas e displásicas (pobres em glicogênio), sendo que estas aparecem esbranquiçadas no exame. Sinal da cor rosa: mudança da coloração da lesão neoplásica de amarela (lugol negativa) para rósea cerca de dois a cinco minutos após a aplicação do lugol. Classificação e estadiamento: neoplasia superficial Os cânceres podem ser divididos em neoplasias superficiais e não superficiais. Segundo o Consenso de Paria, a neoplasia superficial é uma lesão cujo aspecto morfológico sugere acometimento das camadas mucosa e submucosa, sem infiltração da muscular própria. Lesões superficiais As lesões superficiais de tipo 0 (Borrmann) são tumores gástricos. • Protuso (tipo 0-I) o Originará um pólipo § Pediculada (0-Ip) § Subpediculada (0-lsp) § Séssil (0-Is) • Plana (tipo 0-ll) o Pode continuar ou não plana § Elevadas § Planas § deprimidas • Escavada (tipo 0-lll) o Originará lesão ulcerosa Quanto ao grau de penetração transmural • M1: epitélio e camada basal • M2: lâmina própria ou córion Geovana Sanches, TXXIV • M3: muscular da mucosa Na ausência de invasão da lâmina própria, a lesão é denominada neoplasia intraepitelial de baixo ou de alto grau, sendo também empregado o termo carcinoma in situ (pTis). Quanto ao grau de comprometimento da submucosa • SM1: terço superior • SM2: terço médio • SM3: terço inferior Classificação TNM • T- Tamanho do tumor primário e se disseminou para outras áreas o Tx. Tumor não pode ser avaliado o T0. Ausência de tumor o Tis. Carcinoma in situ o T1a. O tumor se desenvolveu na lâmina própria ou mucosa o T1b. O tumor se desenvolveu nas outras camadas e dentro da submucosa o T2. O tumor está crescendo na muscular própria o T3. O tumor está crescendo na adventícia o T4a. O tumor está crescendo na pleura, no pericárdio ou no diafragma o T4b. O tumor está crescendo na traqueia, aorta, espinha dorsal ou outras estruturas importantes § Metástase periférica • N- Disseminação para os linfonodos regionais ou se há evidência de metástases em trânsito o Nx. Linfonodo regional não pode ser avaliado o N0. Ausência de linfonodo comprometido o N1. Até 2 linfonodos regionais comprometidos o N2. De 3 a 6 linfonodos regionais comprometidos o N3. Mais de 7 linfonodos regionais comprometidos • M- Metástase em outras partes do corpo o M0. Ausência de metástases à distância o M1. Metástases à distância A partir da união dessas três classificações, faz-se o estadiamento do tumor. Classificação G A classificação G diz respeito ao grau de diferenciação da célula, sendo que quanto mais diferenciada, melhor o prognóstico. • Gx. O grau não pode ser avaliado • G1. As células são bem diferenciadas • G2. As células são moderadamentediferenciadas • G3. As células são pouco diferenciadas • G4. As células são indiferenciadas Estágios para o Carcinoma de Células Escamosas Estágios para o Adenocarcinoma Tratamento O tratamento pode ser realizado via EDA, por mucosectomia endoscópica. Quando o câncer invade a muscularis mucosa (M3) e a porção superior da submucosa até a profundidade de 100ì (SM1), conceitualmente este risco pode atingir de 9% a 19%, respectivamente. Nesses casos que se situam na fronteira do tratamento endoscópico curativo. Obs.: qualquer tumor gastrointestinal que acometa até a muscular da mucosa pode ser tratado via endoscópica, sendo essa camada o limite. ESÔFAGO DE BARRETT Histórico Em 1950, Norman Barrett verificou a presença de úlceras distais à junção escamo- colunar esofágica. Três anos depois, em 1953, Allison e Johnston reconheceram que o órgão se tratava do esôfago, porém com revestimento semelhante ao do estômago. Então, em 1957, Barret verificou o esôfago distal com revestimento colunar, não justificado Geovana Sanches, TXXIV simplesmente por uma hérnia hiatal, e cujo epitélio não satisfazia as características do epitélio gástrico. Diagnóstico: anatomopatológico Presença de mucosa colunar em esôfago distal, visível na Endoscopia Digestiva Alta (EDA), de qualquer extensão, e que à biópsia demonstre metaplasia intestinal especializada, caracterizada pela presença de células caliciformes. Representa estágio avançado da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e constitui fator de risco importante ao desenvolvimento do adenoma de esôfago. Epidemiologia • DRGE: 15 a 30% • Esôfago de Barrett: 5 a 10% do DRGE o Incidência: 0,7 a 3,0% Tratamento A princípio não é necessário tratamento cirúrgico, sendo o enfoque principal a cessação do refluxo. O tratamento será definido pela classificação de acordo com o grau de displasia, tendo em vista que a displasia significa risco aumentado para adenocarcinoma. • Baixo grau de displasia: não é realizado cirurgica • Médio grau de displasia: trata-se com anti- ácidos • Displasia intensa: é prudente o tratamento cirúrgico Risco de Adenocarcinoma • Risco: 0,2 a 2,9% ao ano • Cerca de 30 a 125 vezes o risco da população geral O adenocarcinoma tem apresentado incidência crescente no mundo ocidental, superando o carcinoma epidermóide e se tornando o tipo mais comum de neoplasias de esôfago em algumas populações. Nos casos em que há progressão para câncer esofagiano, faz-se necessário a esofagectomia total por dois motivos: (1) anatômico= o câncer se espalha muito rapidamente; (2) cirúrgico= não é aconselhável realizar uma anastomose na porção média do tórax, pois caso se desenvolva uma fístula, o paciente vem à óbito – faz-se a substituição pelo estômago ou intestino grosso. TUMOR DE CÉLULAS GRANULARES Os tumores de células granulares são raros, com origem nas células de Schwann. Os locais mais comuns de acometimento são a orofaringe, pele, tecido subcutâneo, mamas e qualquer parte do trato digestório ou via biliar. Acomete principalmente os terços médio e distal do esôfago e pode ser diagnosticado por imuno- histoquímica através do marcador S-1002. CÂNCER GÁSTRICO Epidemiologia • 4º tumor maligno mais frequente entre os homens e 6º entre as mulheres o Homens – São Paulo: 24,97 / 100.000 habitantes o Mulheres – Goiânia: 11,32 / 100.000 habitantes • Incidência aumenta a partir dos 35 a 40 anos • Incidência vem diminuindo, mas a mortalidade permanece alta • Sobrevida em 5 anos: o 30% nos países desenvolvidos o 20% nos países em desenvolvimento o Japão e Coreia do Sul – detecção precoce: sobrevida acima de 70% • Alvo: o Homens o Idosos o Indivíduos de classes sociais menos privilegiadas Etiogenia • Causa multivariada Componentes de risco • Infecciosa: Helicobacter pylori o Causa gastrite atrófica, o que é um fator de risco para câncer gástrico, especialmente câncer antro- pilórico § Câncer de fundo de estômago = ao acaso o 1 em 6 indivíduos infectados cursam com úlcera péptica o 1 a 3% nos EUA e 12% no Japão cursam com câncer ao longo da vida o Na classe de gastrite crônica bacteriano-relacionada, a H. pylori é a de maior prevalência • Idade avançada e sexo masculino • Hábitos de vida o Dieta pobre em produtos de origem vegetal Geovana Sanches, TXXIV o Dieta rica em sal o Consumo de alimentos conservados – defumados ou conserva na salga • Exposição a drogas: tabagismo • Associação com doenças o Gastrite crônica atrófica o Metaplasia intestinal da mucosa gástrica o Anemia perniciosa o Pólipo adenomatoso do estômago o Gastrite hipertrófica gigante • Condições hereditárias o Câncer gástrico o Polipose adenomatosa familiar § Em casos de história familiar, a prevenção deve ser feita 10 anos antes da idade do familiar com o histórico • Genética: human epidermal growth fator receptor 2 (HER2) o A superexpressão de HER2 é cada vez mais reconhecida como uma anormalidade molecular frequente no câncer gástrico e gastroesofágico. A determinação do estado de HER2 é crucial para selecionar os pacientes com câncer gástrico avançado que podem se beneficiar terapia de alvo molecular HER2. Tipos histológicos • Adenocarcinoma (90%) • Linfomas gástricos (6%) • Sarcomas • GIST (tumor estromal gastrointestinal) • Tumores neuroendócrinos Diagnóstico O câncer gástrico apresenta quadro muito semelhante a gastrite (perda de peso, presença de dor, rejeição a carne vermelha), de forma que muitas vezes o diagnóstico se dá por uma endoscopia solicitada devido a gastrite. Em todos os casos de suspeita, o diagnóstico ocorrerá por via endoscópica. Faz-se necessário a biópsia anatomopatológica. Ecoendoscopia Quando as lesões não são de mucosa, a endoscopia permite a visualização de um nódulo apenas, sendo necessário a ecoendoscopia para o diagnóstico. Essas lesões, denominadas extramurais, são abaulamentos do trato gastrointestinal recobertos por mucosa normal, sem irregularidades. O exame evidencia as camadas da parede intestinal entre a lesão e a luz do órgão, e o tipo de padrão ecoendoscópico varia de acordo com a estrutura adjacente em questão. Classificação de Borrmann • Borrmann I: lesão polipoide ou vegetante, bem delimitada • Borrmann II: lesão ulcerada, bem delimitada, de bordas elevadas • Borrmann III: lesão ulcerada, infiltrativa • Borrmann IV: lesão difusamente infiltrativa, sem limite entre o tumor e a mucosa - mais dificilmente diagnosticado na endoscopia. Tratamento • Carcinoma in situ: tratamento por via endoscópica o Musectomia x Biópsia: na biópsia, retira-se com a pinça apenas uma porção da lesão para análise, quando na musectomia, retira-se a lesão por completo através de uma alça. o Para demarcação da lesão, utiliza- se nanquim, sendo que as áreas brancas demonstram a metaplasia (áreas de carcinoma) • Carcinomas maiores: gastrectomia Classificação TMN • T- Tamanho do tumor primário e se disseminou para outras áreas o Tx. Tumor principal não pode ser avaliado o T0. Ausência de tumor o Tis. Camada superior da mucosa e não invadiram as camadas mais profundas – carcinoma in situ o T1. Camadas inferiores da mucosa próximo a submucosa o T1a. Atinge muscular da mucosa o T1b. Ultrapassa a parte muscular da mucosa e está presente na submucosa o T2. O tumor está crescendo na camada muscular do estômago Geovana Sanches, TXXIV o T3. O tumor está crescendo na subserosa o T4. O tumor está crescendo na serosa o T4a. Não atingiu órgãos e estruturas adjacentes o T4b. O tumor já atingu órgãos e estruturas vizinhas. • N- Disseminação para os linfonodos regionais ou se há evidência de metástases em trânsito o Nx. Linfonodos não podem ser avaliados o N0. Ausência de linfonodo comprometido o N1. 1 ou 2 linfonodos próximos comprometidos o N2. De 3 a6 linfonodos comprometidos o N3. 7 ou mais linfonodos comprometidos o N3a. Entre 7 e 15 linfonodos comprometidos o N3b. 16 ou mais linfonodos acometidos • M- Metástase em outras partes do corpo o M0. Ausência de metástases à distância o M1. Metástases à distância Estadiamento Fluxograma • Diagnóstico: endoscopia e biópsia • Estadiamento: tomografia, ecoendoscopia ou videolaparoscopia • Tratamento o Carcinoma in situ ou Ia (mucosa): pode ser realizada ressecção endoscópica o Tumores distais: hemigastrectomia o Tumores que acometem corpo gástrico: gastrectomia total Linfadenectomia D1 e D2 Em serviços oncológicos, há um patologista no momento da cirurgia. Ao retirar D1, este é avaliado e, em caso de encontrar linfonodo acometido, segue-se para D2. Caso na análise de D2 ainda apareçam linfonodos acometidos, prossegue-se pra D3. D1 • Nódulos das cadeias N1 (até 3 cm do tumor) • Pâncreas e baço devem ser preservados, exceto se invasão direta • Artéria gástrica esquerda – ligada na sua bifurcação D2 • Cadeias linfonodais N1 e N2 (até 6 cm do tumor primário) • Linfonodos: artérias gástricas esquerda, hepática comum e esplênica e os ao redor do tronco celíaco Prognóstico • Localização • Estadiamento do tumor • Número de linfonodos ressecados e acometidos • Raramente invadindo o duodeno • Mais de 50% dos pacientes com câncer inicial podem ser curados quando totalmente ressecados • Canceres proximais podem ser curados em menos de 20% das vezes, mesmo que iniciais. LINFOMAS Os linfomas são classificados como Hodkin, quando há uma sequência de acometimento, e não Hodki, quando não há uma sequência de acometimento. Os linfomas do trato gastrointestinal são classificados como não- Hodkin. • Linfadenopatia: localizada a generalizada • Linfoma não Hogkin de TGI: 4 a 20% dos linfomas • Linfoma gástrico: 3 a 6% das neoplasias gástricas Geovana Sanches, TXXIV Quadro clínico O quadro clínico dos linfomas é muito inespecífico, o que torna o diagnóstico difícil. Apenas 9% dos pacientes apresentam sintomas constitucionais, tais como perda de peso, febre e sudorese. Diagnóstico Encoscopia digestiva alta (EDA) • Podem estar localizados em todos os pontos o Todo (13,6%) o Fundo (4%) o Corpo + fundo – polo superior (11,8%) o Corpo (18,3%) o Corpo + antro – polo inferior (42,6%) o Antro (11,2%) Classificação de Borrmann • Tipo I (1,5%) • Tipo II (6,9%) • Tipo III (50%) • Tipo IV (7,7%) o Os linfomas tendem a ser infiltrativos e não polipoides • Não classificável – tipo V (33,8%) Tratamento O tratamento é realizado basicamente por quimioterapia, sendo a abordagem cirúrgica muito rara. Linfoma MALT Epidemiologia • Frequência baixa o 10% dos linfomas o 3% das neoplasias gástricas • Incidência anual: 0,4 a 0,9 casos / 100.000 habitantes • A cavidade gástrica constitui a localização extraganglionar mais frequente • Resposta a colonização por H. pylori o Necessário a extinção da bactéria para o tratamento do tumor • Maior incidência: VHB e HIV • Alvo o > 50 anos o Idade média entre 60 e 65 anos o 2 a 3 vezes mais frequentes em homens Características • Assintomáticos ou sintomas inespecíficos • Sintomas dispépticos • Dificuldade diagnóstica o Linfoma de alto grado ou disseminação • Complicação hemorrágica: úlcera gástrica em 20 a 30% dos casos • Em estágios mais avançados: hepato- esplenomegalia e adenomegalia Diagnóstico à EDA • Mucosa completamente normal ou diversas lesões endoscópicas • Padrões: o Ulcerativo: múltiplas ulcerações superficiais e de pequeno tamanho o Exofítico: massa polipoide o Hipertrófico: pregas mucosas grossas e nodulares com aspecto infiltrado • Pode atingir antrogástrico, com lesão difusa (5%) • Podem ser de baixo ou alto grau de diferenciação – índice de blastos no A/P à Ecoendoscopia • Extensão da lesão: amplitude e profundidade o Verifica o que há na parede gástrica, tendo em vista que o linfoma MALT é submucoso • Adenopatias perigástricas Geovana Sanches, TXXIV Tratamento • Tratamento de H. pylori: alta porcentagem de regressão tumoral • Quimioterapia • Radioterapia TUMORES GIST Os GIST são tumores estromais que podem acometer diversos locais, sendo o estômago o sítio mais comum de acometimento. • Idosos o Estômago (60 a 70%) o Intestino delgado (20 a 25%) o Cólon e reto (5%) o Esôfago (menos que 5%) Lesões diferenciais A ecoendoscopia é de extrema importância para o diagnóstico diferencial. • Leiomiomas • Leiomiosarcomas • Schwanomas • Tumores miofibroblásticos • Lipomas • Liposarcomas • Tumores metastáticos • Tumores desmoides Diagnóstico Imunohistoquímica • Marcador molecular c-kit (CD 117) EDA • Lesões recobertas por mucosa normal com diâmetro variável • Mucosa pode estar ulcerada ou com aspecto inflamatório Ecoendoscopia • Lesões tipicamente hipoecoicas e homogêneascom marges bem definidas, embora raramente apresentem limites irregulares. • A maior parte das lesões se origina da muscular própria (quarta camada) e as lesões pequenas podem se originar da muscular da mucosa (segunda camada). • De forma pouco frequente pode aparecer com aspecto heterogêneo, relacionado a necrose, tecido conjuntivo ou degeneração cística ou hialina. • Malignidade (?) o Sensibilidade de 80 a 100% o Dimensões do tumor (maior que 4cm) o Margens irregulares o Heterogenicidade o Focos hipocogênicos o Áreas císticas maiores que 4mm – presença de conteúdo cístico o Linfonodos aumentados • Benignidade o Margens bem definidas o Dimensão menor que 3cm o Homogenicidade Tratamento O estômago apresenta cinco camadas, a saber: mucosa, muscular da mucosa, submucosa, muscular própria e serosa. Lesões até a muscular da mucosa podem ser tratadas por endoscopia, enquanto as demais não podem. • Cirúrgico o Lesões maiores que 3cm § Lesões maiores que 5 cm podem dar metástase o Margens irregulares o Padrão ecográfico heterogêneo LEIOMIOMAS E LEIOMIOSARCOMAS Os leiomiomas e leiomiosarcomas são tumores muito raros, com lesões da quarta camada (muscular própria) e, raramente, segunda camada (muscular da mucosa) da parede do órgão. O diagnóstico pode ser feito pela imunohistoquímica: positividade para actina; desmina de músculo liso; negativo para c-kit (CD 117). LIPOMA São tumores benignos intramucosos contendo adipócitos maduros, frequentes nas colonoscopias e endoscopias. Podem ser encontrados em qualquer porcao do trato gastrointestinal, embora sejam mais comuns no trato digestório baixo. Diagnóstico Endoscopia digestiva alta • Abaulamento subpepitelial isolado recoberto por mucosa íntegra de aspecto amarelado e regular. Geovana Sanches, TXXIV • Amolecidos ao toque da pinça e geralmente menores que 4cm o Quando menores que 4cm, não há indicação cirúrgica Ecoendoscopia • Lesões hiperecoicas e homogêneas o Hiperecoica= imagem branca o Hipoecice= imagem negra • Margens bem delimitadas e originadas na submucosa TUMOR CARCINOIDE Tumores intramucosos com origem em células endócrinas com potencial de malignidade. São frequentemente assintomáticos, constituindo um achado incidental de endoscopia, cirurgia ou necropsia. Nos EUA, acometem principalmente apêndice, reto e íleo, enquanto no Japão, estomago, reto e duodeno. Simulam um carcinoma e devem ser tratados como tal, devido ao desenvolvimento semelhante aos tumores malignos. Diagnóstico Endoscopia digestiva alta (EDA) • Pequenas lesões polipoides ou sésseis recobertas por mucosa normal • Lesões gástricas e ileais geralmente são múltiplas Ecoendoscopia • Tumores homogêneos hipo ou isoecoicos • Margens regulares • Situados na lâmina própria (segunda camada) ou submucosa (terceira camada) CONSENSO PARA O CÂNCER GÁSTRICO NO BRASIL - Musectomia com maisde 3cm há corre risco de perfuração. - Gastrectomia em cunha: retira-se apenas uma parte. É utilizada para tumor de mucosa. - A margem distal é menor porque dificilmente o câncer gástrico atinge o duodeno. - É necessário realizar linfadenectomia em todo câncer pelo menos até D2 - Só é retirada a metástase hepática se esta for única, caso contrário não deve ser realizado. Geovana Sanches, TXXIV - Videolaparoscopia pode ser usado T1. Para T2 e T3 é melhor realizar cirurgia convencional. - Faz-se esplenectomia quando há linfonodo no íleo esplênico - Normalmente faz-se Y-de-Roux e não as demais - Anastomose esofagojejunal mecânico é realizada com grampo.
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