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neoplasia de estômago epidemiologia → 4º tumor maligno mais frequente entre os homens e 6º entre as mulheres (Brasil) → em ambos os gêneros, a incidência aumenta a partir de 35-40 anos (aumento da incidência em pacientes <30 anos – AM) → homens, idosos e de baixa renda são mais afetados → tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma → a incidência vem diminuindo, mas a mortalidade permanece alta → no Ocidente, a sobrevida em 5 anos: - 30% nos países desenvolvidos - 20% nos países em desenvolvimento → no Oriente: - Japão e Coréia do Sul: programa de detecção precoce - sobrevida acima de 70% etiologia → multivariada e os componentes de risco são de origem: → infecciosa, como a infecção gástrica pelo Hpy → idade avançada e gênero masculino → hábitos de vida: - dieta pobre em produtos de origem vegetal - dieta rica em sal, consumo de alimentos conservados de determinadas formas, como defumação, conserva, em salga (alimentos com nitratos) - ingestão de água com níveis elevados de nitrito → exposição à drogas, como o tabagismo → associação com doenças - gastrite crônica atrófica (pelo Hpy) - metaplasia intestinal da mucosa gástrica - anemia perniciosa (gastrite atrófica autoimune) - pólipo adenomatoso do estômago (pólipos → polipectomia → biópsia /análise histopatológica) - gastrite hipertrófica gigante - doença de Menetrier - gastrectomia parcial → história pessoal ou familiar de algumas condições hereditárias, como o próprio câncer gástrico e a polipose adenomatosa familiar → grupo sanguíneo A tipos histológicos → 90-95% adenocarcinoma (cerca de 8% dis AG tem componente familial) → epidermóide → adenoescamoso → tumor do estroma gastrointestinal (GIST) → carcinóide → linfóide (MALT, alto grau) aspectos morfológicos – adenocarcinoma → 60% antro gástrico – pequena curvatura → 20% antro e corpo → 10% corpo → 4 cardia – mudança nas últimas décadas → classificação quanto a invasão da parede: - precoce - avançado adenocarcinoma adquirido (exposição ambiental) adenocarcinoma hereditário → cerca de 8% dos casos → tipo difuso → mutação do gene CDH1 que codifica a síntese de E-caderina aspecto macroscópico carcinoma gástrico avançado → os tipos 1 e 2 estão diminuindo em incidência em relação aos tipos 3 e 4 → Borrmann 1: sobrevida média em 5 anos de 40% →Borrmann 2: nenhuma infiltração, é impossível de ser diferenciada, somente pelo aspecto, da úlcera gástrica benigna; sobrevida média em 5 anos de 35% → Borrmann 3: margens rasas e pouco definidas, geralmente há infiltração da submucosa, muscular própria e serosa; mais comum; sobrevida média em 5 anos de 20% → Borrmann 4: lesão difícil de ser definida, se estende por todas as camadas do estômago e em todas as direções; quando há infiltração de todo o estômago, é chamado de linitis plástica → Borrmann 5: câncer gástrico cuja definição não se encaixa em nenhuma das descritas acima (- comum) carcinoma gástrico precoce classificação histológica → laurén (1965) → carcinoma tipo intestinal: tumor glandular bem ou moderadamente diferenciado → carcinoma tipo difuso (linite plástica) - tumor com células isoladas - carcinoma de células em “anel de sinete” - carcinoma anaplástico - carcinomas tubulares pouco diferenciados quadro clínico → primeiros sintomas são inespecíficos (diagnóstico tardio) → sintomas mais comuns - sintomas dispépticos (dispepsia, disfagia e náuseas) - perda de peso (40%) secundária à anorexia - dor abdominal vaga (58%) - dor epigástrica - alteração do hábito intestinal → os sintomas também variam com base na localização da lesão primária → tumores proximais envolvendo a junção gastroesofágica: disfagia → tumores distais ou antrais: náuseas e vômitos → doença infiltrativa difusa (linitis plástica): saciedade precoce → anemia crônica também é um achado comum (40%); deficiência de ferro em pacientes com sangue oculto nas fezes → obs: sangramento gastrointestinal franco com hematêmese é raro (5%) exame físico → massa abdominal palpável (epigástrio), tipicamente tem um grande tumor localmente avançado → metástases hematogênicas para o fígado (fase mais avançada) podem resultar em icterícia, ascite ou hepatomegalia → alterações que denotam doença avançada: - hepatomegalia - ascite - icterícia - caquexia → disseminação linfática pode levar: - linfadenopatia (metástase em linfonodo) supraclavicular esquerdo palpável (linfonodo de Virchow – sinal de Troisier) - metástase em linfonodo axilar esquerdo (gânglios de Irish) - linfonodo periumbilical (linfonodo de Irmã Mary Joseph) - metástase peritoneal pode ser identificada como uma massa palpável de ovário (tumor Krukenberg) no exame pélvico - massa extraluminal, metástase peritoneal palpável pelo toque retal (prateleira de Blumer) → achados cutâneos inespecíficos incluem acantose nigricans (lesão cutânea elevada e hiperpigmentada, que atinge principalmente as superfícies flexoras do corpo) e erupção de múltiplas queratoses seborreicas diagnóstico → estadiamento pré-operatório → EDA com biópsia → RX contrastado de estômago → TC de tórax, abdome e pelve → marcadores tumorais (CEA, CA 19-9, CA 125) endoscopia digestiva alta → acurácia entre 90-96% (quando combinada com biópsia e exame citológico do escovado de mucosa) → permite localização do tumor, caracterização morfológica e diagnóstico do tecido através de biópsia → indicada para: - paciente que apresenta dispepsia com idade > 45 anos - sinais de alarme: perda ponderal, anemia, sangramento GI, disfagia, vômitos recorrentes, massa abdominal palpável, gastrectomia prévia e história familiar de CA gástrico → obs: terapia anti-secretora pode mascarar os sintomas e atrasar o diagnóstico (prestar atenção nos sinais e sintomas) → o CA gástrico precoce (EGC) pode assumir diferentes aparições morfológicas na endoscopia: saliências polipoides sutis, placas → os tumores ulcerados apresentam um risco maior de invasão profunda e de metástases linfáticas, em comparação com lesões planas → a distinção entre câncer ulcerado e ulceras pépticas benignas nem sempre pode ser óbvia → 6 a 8 amostras de biopsia a partir das bordas e base da ulcera são recomendados (sensibilidade de 98% para detectar malignidade) → a localização mais comum do CA é na mucosa da transição do corpo com o antro na pequena curvatura (incisura angular) → classificação de Borrmann ecoendoscopia → as camadas distintas (mucosa, muscular e serosa) da parede luminal do TGI podem ser visualizadas → avaliação da profundidade de penetração de malignidades → avaliação da linfadenopatia loco-regional e envolvimento de órgãos adjacentes (linfonodos regionais) TC e RM → é o método de escolha para o estadiamento (sensibilidade para o estadiamento nodal é 50- 95%, e a especificidade de 40 para 99%) → RM é inferior a TC para o estadiamento nodal (55-65% vs 59-73%) → a tomografia por emissão de pósitrons (PETSCAN) com 18F-fluoro-2-desoxiglucose (FDG-PET) é cada vez mais utilizada e pode fornecer informações adicionais, especialmente para a doença metastática análise histopatológica. Os tumores tendem a se apresentar como uma massa friá- vel, ulcerada ou nodular. • Tomografia computadorizada (TC): fornece imagens do tumor primário e ainda pos- sibilita avaliação de metástases à distância, por isso é o exame de escolha para es- tadiamento (N e M), devendo ser analisado abdome, tórax e pelve. • USG endoscópica: esse exame ganhou espaço nos últimos anos e se tornou o exa- me de maior acurácia para avaliação da invasão tumoral na parede gástrica (T), indi- cada quando não há uma invasão evidente pela TC. Pode ser realizada simultanea-mente à EDA durante a coleta de biópsias. • Estudo contrastado com bário: era muito utilizado para análise anatômica, porém vem caindo em desuso pela superioridade das demais técnicas descritas. Tem como benefícios o fato de ser rápido, pouco invasivo e de baixo custo. • Laparoscopia: pode ser realizada para avaliação de metástases peritoneais ocultas em pacientes sem evidência de lesões metastáticas à TC e com tumor invadindo a parede gástrica (T3 ou 4). ESTADIAMENTO E PROGNÓSTICO Existem duas principais formas de estadiamento do câncer gástrico, o sistema japonês (Ja- panese Gastric Cancer) e o norte-americano (American Joint Commitee on Cancer - AJCC), sendo o último mais utilizado no Brasil. Ambas levam em consideração a profundidade de invasão da parede gástrica (T), o acometimento linfonodal (N) e a presença de metástases à distância (M). T Tis Carcinoma in situ (intraepitelial sem invasão da lâmina própria) T1a Tumor invade a lâmina própria ou muscular da mucosa T1b Tumor invade a submucosa T2 Tumor invade a muscular própria T3 Tumor penetra o tecido conjuntivo subseroso, mas não invade peritô- nio visceral ou estruturas adjacentes T4a Tumor invade serosa (peritônio visceral) T4b Tumor invade estruturas adjacentes N N0 Sem metástases linfonodais N1 Metástases em um a dois linfonodos regionais N2 Metástases em três a seis linfonodos regionais N3a Metástases em sete a 15 linfonodos regionais N3b Metástases em 16 ou mais linfonodos regionais M M0 Sem metástases à distância M1 Metástases à distância Estadiamento T N M 0 Tis N0 M0 IA T1 N0 M0 IB T2 N0 M0 IIA T1 N2 M0 T2 N1 M0 T3 N0 M0 IIB T1 N3 M0 T2 N2 M0 T3 N1 M0 T4a N0 M0 IIIA T2 N3 M0 T3 N2 M0 T4a N1 M0 IIIB T3 N3 M0 T4a N2 M0 T4b N1 M0 T4b N0 M0 IIIC T4a N3 M0 T4b N3 M0 T4b N2 M0 IV qualquer T qualquer N M1 São fatores de pior prognóstico no câncer gástrico a profundidade de invasão na parede, invasão linfonodal, tumores localizados no fundo ou cárdia e do tipo difuso. Os sítios mais frequentes de metástases são o fígado, o peritônio e linfonodos. No câncer do tipo intesti- nal geralmente as metástases são hematológicas, tardias e para órgãos distantes (fígado), enquanto o tipo difuso tem metástases precoces, principalmente por via linfática. CONDUTAS Há duas bases para o tratamento do câncer gástrico: a quimioterapia/radioterapia e a ci- rurgia. 1) Tratamento clínico Uma parte do tratamento clínico que é comum a todos os pacientes é a terapia nutricional. Devido aos sintomas apresentados (náuseas, plenitude pós prandial) e ao estado con- sumptivo do câncer, esses pacientes frequentemente apresentam graus avançados de desnutrição ao diagnóstico, sendo indicado um período de terapia nutricional para melhorar as condições pré-operatórias e os distúrbios hidroeletrolíticos. A quimioterapia associada ou não à radioterapia é utilizada como tratamento adjuvante (após a cirurgia) e demonstrou redução na taxa de recidiva e aumento da sobrevida dos pacientes. 2) Tratamento cirúrgico A ressecção tumoral é o método padrão no tratamento de tumores gástricos, que oferece melhores resultados curativos, porém nem todo paciente será candidato a ela. A técnica utilizada dependerá do tipo de tumor, de sua localização e estadiamento. 2.1) Ressecção cirúrgica do adenocarcinoma intestinal Os tumores do tipo intestinal têm melhor prognóstico e são mais facilmente ressecáveis. A ressecção endoscópica da mucosa é o método menos invasivo, indicado para tumores in situ ou que não invadem a mucosa, menores que 2cm, sem ulceração e sem invasão linfo- nodal ou vascular. Demais casos irão necessitar de cirurgia para exérese do tumor com margens cirúrgicas (mínimo 6 cm) e remoção de linfonodos regionais. Para tumores locali- zados no corpo ou no antro geralmente é realizada gastrectomia parcial com reconstrução à Billroth II, enquanto tumores no fundo ou na cárdia são mais frequentemente tratados com gastrectomia total com esofagojejunostomia em Y de Roux. 2.2) Ressecção cirúrgica do adenocarcinoma difuso: Como mencionado, esse tumor é muito invasivo, difuso e gera metástases precoces. Rara- mente é diagnosticado em fases iniciais, quando ainda seria candidato à ressecção. Nesses poucos casos é indicada uma terapia mais agressiva, com gastrectomia total. 2.3) Linfadenectomia Existem três principais técnicas de ressecção de linfonodos que são fonte de amplos deba- tes. A dissecção a D1 é a técnica mais conservadora, que retira nódulos periepigástricos até 3 cm de distância das margens do tumor, com preservação do pâncreas e do baço, in- dicada apenas para tumores em estágios muito iniciais ou já sem possibilidade de cura. A técnica D2 é a mais utilizada no Brasil, consiste na retirada de linfonodos periepigástricos e o das artérias mais próximas, incluindo os do tronco celíaco, artérias gástrica esquerda, he- pática comum e esplênica. A esplenectomia pode ser realizada simultaneamente, mas não demonstrou melhora na morbimortalidade associada. A linfadenectomia a D3 é mais inva- siva e mostrou pouco custo benefício em relação à D2, com aumento do tempo e da morta- lidade cirúrgica associada. Consiste na retirada dos nódulos de D2 acrescida dos periaórti- cos e porta hepáticos. 3) Terapia paliativa Pacientes sem condições clínicas ou sem perspectiva cirúrgica curativa (câncer irressecável ou metastático) são candidatos à terapia paliativa, com objetivo de reduzir a morbidade, aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida. A quimioterapia e a radioterapia po- dem ser utilizadas para reduzir a dor e o sangramento associados. Alguns pacientes se be- neficiam de tratamento endoscópico com colocação de próteses para correção de obstru- ções ou até mesmo de gastrectomias totais, que não melhoram a sobrevida quando o cân- cer já é metastático, mas podem reduzir sintomas associados. RASTREAMENTO O rastreamento do câncer gástrico em população de baixo risco não se mostrou custo- efetiva e não é recomendado pelo Ministério da Saúde. Pacientes com alto risco, entretan- to, se beneficiam da realização periódica de EDA, sendo recomendada em casos de história pregressa de adenoma gástrico, polipose adenomatosa familiar, carcinoma colorretal here- ditário não associado à polipose (HNPCC), história prévia de doença péptica ou gastrecto- mia e história familiar de câncer gástrico ou de cólon. Pelo elevado risco de câncer avança- do e invasivo, pacientes de famílias com mutação do gene da E-caderina podem ser candi- datos à gastrectomia profilática entre os 20 e 30 anos de idade. LINFOMA GÁSTRICO O estômago é o sítio extralinfonodal mais comum de ocorrência de linfoma, apesar de esta ainda ser uma neoplasia relativamente incomum, correspondendo de 3 a 5% dos tumores gástricos. Suas formas mais comuns são Linfomas não Hodgkin de células B, que podem ser do tipo linfoma difuso de grandes células B ou linfomas de tecido linfóide associado à mucosa (MALT, de mucosa-associated lymphoid tissue). Acomete pacientes mais idosos e sua clínica é semelhante à do adenocarcinoma. Também tem como fator de risco a infecção pelo H. Pylori e a gastrite crônica, que leva à formação de folículos linfoides no estômago. Na endoscopia é caracterizado por enantema e erosões ou ulcerações difusas, principal- mente no antro. Em geral os tumores de grandes células são mais agressivos, enquanto os MALT têm boa resposta terapêutica, muitas das vezes regredindo apenas com o tratamen- to do H. Pylori. Nos casos não responsivos é indicada gastrectomia subtotal, em geral se- guida de poliquimioterapia. TUMORES ESTROMAIS GASTROINTESTINAIS (GIST) O GIST é uma neoplasia rara, que pode acometer todo o trato gastrointestinal, sendo mais comum no estômago. Se origina a partir das células intersticiais de Cajal, quecompõem a musculatura do TGI funcionando como um marca-passo, responsável pela motilidade in- testinal. Resulta de uma mutação de um proto-oncogene que leva à expressão da proteína KIT. Essa proteína é utilizada para confirmação diagnóstica e é alvo terapêutico desses tu- mores. Seus fatores de risco não são bem definidos e têm pouco componente genético. O tratamento consiste na ressecção cirúrgica em associação com imatinibe, um inibidor de tirosina quinase. CÂNCER GÁSTRICO Tipos histológicos Linfoma gástrico (4%) Adenocarcinom a (95%) Sarcomas gástricos (1%) Intestinal (55%) L. MALT L. Difuso de grandes cel. B Difuso (45%) Localização Corpo (15-30%) Antro (35%) Fundo (30-40%) Fatores de risco Pólipos adenomatoso s Tabagismo Anemia perniciosa Infecção por H. pylori Clínica Anemia ferropriva (40%) Disfagia Dispepsia Perda ponderal (62%) Sintoma mais comum Apenas em tumores da cárdia Diagnóstico Biópsia + Citologia do escovado EDA Estadiamento TMN TC de abdome e tórax Tratamento CirúrgicoOncológico Endoscópico Gastrectomia parcial ou total Se diagnóstico precoce Quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante Mapa mental 3NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO 1. DEFINIÇÃO O adenocarcinoma é a lesão malig- na mais comum do estômago, repre- sentando de 90 a 95% de todos os cânceres gástricos. Aproximadamen- te 3% dos tumores malignos do es- tômago são do grupo dos linfomas, mais frequentemente Linfomas não- -Hodgkin. 2. EPIDEMIOLOGIA 3º mais frequente em homens (Brasil) 4º câncer mais comum no mundo 2 homens : 1 mulher 5º mais frequente em mulheres (Brasil) Pico de incidência: 50 – 70a Como abordamos na definição, o adenocarcinoma gástrico é muito frequente e responsável pela maio- ria dos tumores no estômago, sendo destacado como 4º câncer mais co- mum no mundo. É a segunda principal causa mundial de morte por câncer e parte disso se dá pela dificuldade em ser detectado nas fases iniciais da doença. No Brasil, é o terceiro tipo mais fre- quente entre homens e o quinto entre as mulheres, sendo mais frequente no sexo masculino (2:1) com um pico de incidência entre 50 a 70 anos para ambos os sexos. O câncer gástrico é raro antes dos 35 anos de idade. A incidência de câncer gástrico é vari- ável com a região. Na Europa Oriental, Japão, Chile e Costa Rica a incidência é até 20 vezes maior do que na Amé- rica do Norte e Europa Ocidental. As- sim, em locais com incidência mais baixa não são viáveis estratégias para mapeamento em massa, levando ao diagnóstico tardio. O Japão é uma referência em cân- ceres gástricos pela alta incidência e alguns dos fatores de risco serão discutidos mais a frente. Com isso, os seus programas de mapeamento endoscópicos conseguem detectar precocemente os cânceres gástricos, como tumores limitados à mucosa e submucosa. Os pacientes costumam procurar as- sistência médica tarde demais, por- que os sintomas na fase inicial (po- tencialmente curável) são discretos e inespecíficos. Nos Estados Unidos, as taxas de cân- cer gástrico diminuíram em mais 85% durante o século vinte. Declínios simi- lares foram relatados em muitos ou- tros países ocidentais, sugerindo que os fatores ambientais e da dieta se- jam os responsáveis. O motivo da redução total no câncer gástrico ainda é desconhecido. Uma 4NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO explicação possível é o consumo de- crescente de carcinógenos na dieta, tais como compostos N-nitrosos e benzo[α]pirenos, graças ao uso redu- zido de sal e fumaça para a preserva- ção de alimentos e a disponibilidade muito difundida de refrigeração de alimentos. Contrariamente, a inges- tão de vegetais verdes folhosos e fru- tas cítricas, que contêm antioxidantes tais como vitamina C, vitamina E e be- tacaroteno, e está correlacionada ao risco reduzido de cânceres gástricos, pode ter aumentado como resultado da melhora nas redes de transporte de alimentos. O câncer gástrico é mais comum em grupos socioeconômicos baixos e em indivíduos com atrofia de muco- sa multifocal e metaplasia intestinal. A doença ulcerosa péptica (DUP) não apresenta alto risco de câncer gástri- co, mas pacientes que tiveram gas- trectomias parciais pela DUP ou ou- tras razões, como cirurgia bariátrica apresentam um risco levemente mais alto de desenvolver câncer na porção gástrica residual como resultado de hipoclorídria, refluxo de bile e gastrite crônica. SAIBA MAIS! Embora a incidência total de adenocarcinoma gástrico esteja diminuindo, principalmente nos países ricos como EUA e Inglaterra, a de câncer da cárdia gástrica está aumentando. Isso está provavelmente relacionado ao esôfago de Barrett e pode refletir a incidência crescente do refluxo gastresofágico e da obesidade. 3. FATORES DE RISCO Os fatores de risco pra o adenocarci- noma gástrico incluem principalmen- te fatores: FATORES DE RISCO Dietéticos Ambientais Infecciosos Anemia perniciosa Pólipos Fatores dietéticos Sabe-se que consumo de alimentos ricos em nitrito e nitrato, assim como alimentos malconservados e dietas com baixo consumo de vegetais es- tão relacionados com o aumento na incidência de câncer gástrico. Além disso, a dieta pode criar um ambiente ideal para proliferação de bactérias, como a H. pylori. Acredita-se que o mecanismo carcinogênico é a con- versão de nitratos nos alimentos em compostos N-nitrosos por bactérias no estômago. 5NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO Infecção por H.pylori Em relação a infecção por H. pylori, temos desde 1994 o conhecimen- to dessa bactéria como um promo- tor que predispõe o aparecimento de câncer gástrico. A infecção por H. pylori aumenta cer- ca de 5 a 6 vezes o risco de câncer gástrico, podendo desencadear em longo prazo gastrite atrófica crônica, principalmente no corpo gástrico. Infecção Gastrite atrófica Metaplasia intestinal Displasia Adenocarcinoma SE LIGA! Importante lembrar que a me- taplasia intestinal, embora possa pre- dispor o desenvolvimento de adeno- carcinoma, não é obrigatória. Nem todo paciente com metaplasia intestinal de- senvolve adenocarcinoma gástrico. Anemia perniciosa Constitui-se um fator de risco por conta da acloridria que ocorre quando as células principais e parietais do es- tomago são destruídas por uma rea- ção autoimune. Essa mucosa atrófica aumenta o risco relativo de desenvol- vimento de câncer gástrico nos pa- cientes com anemia perniciosa. Pólipos Os pólipos gástricos podem se apre- sentar como hiperplásicos (inflama- tórios) ou adenomatosos. Os pólipos hiperplásticos são inflamatórios e raramente malignizam, funcionando como marcadores de população de risco. Quando adenomatosos, apre- sentam atipia nas células de revesti- mento mucoso e podem evoluir com displasia e formação de carcinoma. Nesse caso, quanto maior o pólipo, maior a chance de câncer. SAIBA MAIS! Os Inibidores de bomba de prótons podem constituir fator de risco por bloquear a secreção gástrica do estômago. Em longo prazo, a baixa acidez do ambiente permite que as bactérias colonizem o corpo gástrico levando a gastrite que pode se tornar atrófica. Os estudos apre- sentam essa associação, mas não determinam causalidade. 6NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO 4. FISIOPATOLOGIA Nesse material, os adenocarcinomas gástricos serão divididos segundo duas classificações: de Borrmann e de Lauren. Classificação de Lauren Intestinal Difuso Subtipo Intestinal Subtipo Difuso A classificação de Lauren para ade- nocarcinoma gástrico o diferencia histologicamente em dois subtipos: intestinal, e difuso. O subtipo intestinal é um tumor bem diferenciado com formação de estru- turas glandulares. É o mais comum no Brasil e em outros países com alta in- cidência, predominando em homens (2:1) com idade média em torno de 55-60 anos. Manifestando-se como lesões ex- pansivas, polipoides e ulceradas na endoscopia, mais comumente no es- tomago distal. Está ainda relacionado a presença de gastrite crônica com atrofia, metaplasiaintestinal e displa- sia epitelial antecedendo o apareci- mento do câncer. Sua disseminação é quase sempre hematogênica para órgãos distantes. O subtipo difuso é um tumor indife- renciado sem formações glandulares, apresentando as famosas células em anel de sinete (acumulo de muco no citoplasma deslocando o núcleo para a periferia). É um tumor infiltrativo manifestando-se na endoscopia com ulceras infiltrativas ou linite plástica. 7NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO Acomete mais o estomago proximal e tem prognostico pior que o subtipo intestinal por apresentar maior pro- babilidade de metástases precoces. Incide igualmente em ambos os se- xos e comumente acomete pacientes mais jovens. Sua disseminação se faz mais comu- mente por contiguidade e por metás- tases nodais. Esse subtipo geralmente não está as- sociado a gastrite crônica. Características histopatológicas im- portantes no câncer gástrico: Grau de diferenciação Invasão da parede gástrica Comprometiment o de linfonodos Presença do anel de sinete A classificação de Borrmann é uma classificação macroscópica para achados endoscópicos. Este sistema divide o carcinoma gástrico em cinco tipos. SAIBA MAIS! Linite plástica é uma infiltração difusa do órgão – estômago não distensível, sem pregas e luz estreitada pela infiltração da parede gástrica pelo tumor. CLASSIFICAÇÃO DE BORRMANN Borrmann I: lesão é bem demarcada com áreas de tecido normal em toda a sua volta. É um carcinoma polipoide bem demarcado e a sobrevi- da média em cinco anos é de 40%. Borrmann II: carcinoma ulcerado com margens bem demarcadas sem infiltração. Esta lesão é impossível de ser diferenciada da úlcera gástri- ca benigna somente pelo aspecto endoscópico. A sobrevida media em cinco anos é de 35%. Borrmann III: trata-se de um carcinoma ulcerado infiltrante pouco defi- nido. É o tipo mais frequente de câncer gástrico. Geralmente há infil- tração da submucosa, muscular própria e serosa. A sobrevida em cinco anos é 20%. Borrmann IV: é um carcinoma infiltrativo difuso e pouco definido. Quando há infiltração de todo estomago, este tipo é chamado de Linite plástica. Borrmann V Carcinoma cuja definição não se encaixa em nenhuma das descritas acima. 8NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO 5. QUADRO CLÍNICO Em seus estágios iniciais o câncer gástrico pode muitas vezes ser assin- tomático ou provocar sintomas ines- pecíficos, dificultando o diagnóstico precoce. Os sintomas tardios incluem inchaço, disfagia, dor epigástrica ou saciedade precoce. QUADRO CLÍNICO Perda ponderal Quadro clínico AnemiaNáuseas e vômitos Sintomas variáveis decorrentes de metástases Dor epigástrica contínua Os sintomas mais comuns são a perda ponderal (62%), dor epigás- trica (52%), náusea (34%), anorexia (32%), disfagia (26%), melena (20%), saciedade precoce (17%) e dor se- melhante à da úlcera péptica (17%). A dor costuma ser constante, sem irradiação e não aliviada com a in- gestão de alimentos. Em alguns pa- cientes o alívio temporário pode ser obtido com o uso de antissecretórios do ácido gástrico. Nos estágios iniciais do câncer gás- trico, o exame físico é normal. Nos es- tádios tardios, os pacientes se tomam caquéticos e é possível palpar mas- sas epigástricas. Se houver metástase hepática é pos- sível encontrar hepatomegalia com icterícia e ascite. OUTROS ACHADOS Linfonodo de Virchow Comprometimento do linfonodo supraclavicular esquerdo Linfonodo de Mary Josepeh Comprometimento do lin- fonodo periumbilical Tumor de krukenberg Metástase do ovário pro- veniente do trato digesti- vo, não necessariamente gástrico 9NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO 6. DIAGNÓSTICO Endoscopia Biopsia Citologia A endoscopia quando combinada a biopsia e citologia tem precisão diag- nostica de 98% para ambos os tipos de câncer gástrico. INDICAÇÃO DE ENDOSCOPIA Idade > 45 anos Dispepsia Sinais de alarme: perda ponderal, anemia, san- gramento, disfagia, vômito recorrentes, massa abdominal palpável, gastrectomia prévia, história familiar de Ca gástrico Pela endoscopia é obtida a classifica- ção de Borrmann que já discutimos e a partir desse estadiamento, obtemos a implicação prognóstica. A biopsia é fundamental para confir- mação diagnóstica. Os sinais radiológicos que sugerem malignidade são: SINAIS RADIOLÓGICOS Lesão em massa com ou sem obstrução luminal Ulcera com pregas irregulares Ulcera com fundo irregular Irregularidade de mucosa com perda da distensão Pregas alargadas Massa polipoide Quando está presente a linite plásti- ca pode-se observar um aspecto de garrafa de couro. Figura 1. Sinal da garrafa de couroFonte: http://3.bp.b- logspot.com/-8GV_5UbEw9g/TtTVtW_VtjI/AAAAAAA- AARs/VSghObBjjMI/s1600/caso8_c.jpg Uma úlcera gástrica benigna geral- mente se apresenta com uma base regular e lisa, enquanto uma úlcera maligna se manifesta com uma mas- sa em torno da lesão, pregas irregula- res e base irregular. 7. ESTADIAMENTO O câncer de estômago pode ser clas- sificado no sistema TNM quando ao grau de invasão do tumor, ao numero de linfonodos acometidos e à presen- ça ou não de metástases. O prognós- tico depende do estágio da doença e da localização do tumor. 10NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO Alguns exames podem ser usados para o estadiamento dos cânceres gástricos e discutiremos separada- mente cada um deles e sua impor- tância: Tomografia A TC é considerada um bom método para detecção de metástases à dis- tância, possuindo maior sensibilidade quando comparada a radiografia sim- ples. Para o estadiamento do ade- nocarcinoma gástricos possui uma acurácia que varia de 40 a 50%, não sendo a melhor escolha. Essa bai- xa acurácia implica na ineficiência na detecção de tumores <T2 no sistema TNM. Ecoendoscopia A ecoendoscopia é uma associação entre a endoscopia digestiva alta (EDA), utilizada para o diagnóstico, e a utilização do ultrassom. É o principal exame para o estadiamento e estrati- ficação de riscos do paciente com tu- mor e avalia a profundidade do tumor e envolvimento linfonodal regional. Além do caráter diagnóstico a ultras- sonografia endoscópica (USE) pode ser terapêutica. Como veremos adian- te em tratamento, lesões pequenas menores de 2cm de diâmetro podem ser submetidas à ressecção endos- cópica da mucosa ou da submucosa. Essa ressecção pode fornecer dados ao patologista na obtenção do diag- nóstico preciso e ser potencialmen- te curativa pra canceres em estágios iniciais, evitando a necessidade de qualquer intervenção cirúrgica mais invasiva. Laparoscopia Outro exame utilizado é a laparos- copia, que possui uma sensibilidade maior que 95%. É feito em pacientes em que os demais exames de esta- diamento não revelam metástases à distância. Seu objetivo é nos certificar que de fato não existem metástases. A videolaparoscopia visualiza even- tuais implantes peritoneais que não foram identificados pela TC, podendo avaliar a possibilidade de implantes hepáticos e permitindo a coleta de material pra estudo histológico e cito- lógico. 8. TRATAMENTO A cirurgia é o único tratamento cura- tivo para a doença e a forma final de determinar o estadiamento. Baseada no estadiamento, temos o seguinte fluxograma: Inserir slide 13 – fluxograma de trata- mento A cirurgia curativa deve ser realizada na ausência de metástases à distân- cia e a ressecção de toda extensão deve ser feita, devido à tendência de 11NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO disseminação intramural desses tu- mores. Portanto, o cirurgião deve ob- ter uma ampla margem de segurança. Nas neoplasias de terço distal pode ser feita a gastrectomia subtotal com reconstrução Billroth II. No entanto, as lesões mais próximas da cárdia de- vem ser tratadas com gastrectomia total e reconstrução em Y de Roux. SAIBA MAIS! A reconstrução Billroth II apresenta como complicações a gastrite alcalina e a colangite. Por- tanto, a reconstrução em Y de Roux apresenta como vantagem a não mistura de conteúdos digestivos e a diminuição de refluxos A linfadenectomiaé obrigatória e cos- tuma ser feita de três maneiras: • LD1: retirada dos linfonodos até 3cm da margem de ressecção • LD2, LD1 +: linfonodos das arté- rias mais próximas • LD3, LD2 +: linfonodos do liga- mento hepatoduodenal, pâncreas e raiz do mesentério do delgado. SAIBA MAIS! Atualmente, a linfadenectomia de D3 está em desuso visto que quando ocorre seu acometi- mento, o paciente é inoperável quando a metástase é detectada. Nos casos onde o estadiamento pós- -cirúrgico mostra acometimento linfo- nodal ou de órgãos adjacentes alguns pacientes podem ter benefício na so- brevida com a radioquimioterapia ad- juvante (após a cirurgia). Para fechar o módulo, podemos sin- tetizar a conduta a partir do diagnós- tico de acordo com o fluxo: 12NEOPLASIAS DE ESTÔMAGO MAPA MENTAL - TRATAMENTO Japanese Gastric Cancer Association, 2016. Sim SimNão Não Ressecção Endoscópia Gastrectomia D1 Gastrectomia D1+ Gastrectomia D2 Gastrectomia combinada D2 Quimio, Radio, Cirurg. Paliativa Diferenciado, ≤ 2cm Diferenciado, ≤ 1,5cm T1a T1b N0 N+ T1 T2/T3/T4a T4b M0 M1 ADENOCARCINOMA
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