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Complicações pós-cirúrgicas gerais

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Geovana Sanches, TXXIV 
COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS GERAIS 
 
INTRODUÇÃO 
 As complicações no período pós-
operatório podem ser divididas em complicações 
gerais, que aparecem após vários tipos de 
cirurgias, e complicações específicas, que ocorrem 
no período pós-operatório específico de algumas 
operações. 
 Além disso, elas podem decorrer da técnica 
e habilidade do cirurgião ou da morbidade própria 
do paciente (complicações decorrentes do 
organismo do hospedeiro). 
 
FEBRE PÓS-OPERATÓRIA 
Para a avaliação da febre pós-operatória, 
não são consideradas pequenas variações na 
temperatura basal. Para cirurgias de médio e 
grande porte, as variações de 0,5 a 1ºC são 
comuns como resposta metabólica ao estresse 
cirúrgico. 
 Diversos fatores influenciam o aumento da 
temperatura, tais como: infecções, pirogênicos, 
desidratação, estímulo endócrino, aumento de 
atividade muscular e lesões do hipotálamo (centro 
termorregulador). 
É importante lembrar que nem sempre a 
febre é um bom parâmetro em crianças, nas quais 
simples lesões podem produzir altas 
temperaturas, ou em idosos, nos quais pode não 
ocorrer aumento da temperatura mesmo na 
presença de infecções graves. 
Causas de febre no pós-operatório imediato (6h) 
• Alterações metabólicas ou endócrinas 
• Hipotensão prolongada com má perfusão 
tecidual 
• Reação pirogênica transfusional 
• Manuseio de focos infectados do paciente. 
Causas de febre no pós-operatório tardio 
• Complicações respiratórias: tornam-se 
mais comuns após as 6 primeiras horas, 
podendo se estender até o 4º ou 5º dia 
após a cirurgia. 
• Trombloflebites: surgem no 2º ou 3º dia e 
se caracterizam por trajeto venoso 
endurecido, hiperemiado e doloroso. 
o Necessário realizar a remoção do 
cateter, fazer compressas mornas e 
úmidas no local 
o Utilizar analgésicos, antibiótico e 
anti-inflamatórios. 
• Infecção urinária: febre que surge no 3º dia 
 
 
• Infecção da ferida operatória: costumam 
ocorrer entre o 3º e 5º dia. 
• Presença de coleções intracavitárias ou 
fístulas: ocorre após uma semana da 
cirurgia. 
Hipertermia maligna 
A hipertermia maligna é uma condição rara 
que pode ocorrer pelo uso de anestésicos voláteis 
(halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano e 
desflurano) e succinilcolina. 
Ocorre acidose respiratória e metabólica, 
hipercalemia e elevação de creatinofosfoquinase 
(CPK). Os sinais incluem taquicardia, taquipneia, 
rigidez muscular e febre elevada. 
O tratamento é feito com suspensão do 
anestésico e/ou relaxante muscular, 
hiperventilação com oxigênio a 100% e dantroleno 
sódico EV 2,5 mg/kg injetado imediatamente e 
repetido até a estabilização do quadro. 
Mesmo com o tratamento adequado, em 
alguns casos a hipertermia maligna persiste e leva 
o paciente a óbito. 
 
COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS 
As complicações respiratórias são mais comuns 
em pacientes tabagistas com alta carga tabágica 
(mais de 20 cigarros/dia), com DPOC, após 
imobilização prolongada e nas cirúrgicas torácicas 
e do abdome superior. 
São as complicações mais comuns e representam 
a segunda causa de mortalidade em pacientes 
idosos (mais de 60 anos) no período pós-
operatório. 
Atelectasia 
A atelectasia é a complicação pulmonar 
mais frequente no pós-operatório, com início nas 
primeiras 48h após a cirurgia. É caracterizada pela 
expansão incompleta do pulmão ou parte dele, 
podendo ser classificada como maciça, segmentar 
ou focal (lamilar ou lobular). 
É autolimitada, tem bom prognóstico e 
evolução favorável na maioria dos casos, com 
recuperação sem sequelas. Constitui a causa de 
aproximadamente 90% dos episódios febris nos 
dois primeiros dias. 
Fatores de risco 
• Tabagismo crônico 
• Envelhecimento (devido a perda da 
elasticidade pulmonar) 
• Diminuição da capacidade pulmonar 
residual 
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• Redução do surfactante pulmonar 
• Enrijecimento das articulações costais 
Atelectasia maciça 
• Quadro clínico 
o Febre: pode chegar a 39ºC 
o Taquicardia 
o Taquipneia 
• Exame físico 
o Desvio de ictus cordis para o 
pulmão afetado 
o MV+ diminuídos 
o Estertoração nas bases e 
segmentos posteriores 
• Radiografia de tórax 
o Elevação do diafragma 
o Desvio do mediastino para o lado 
afetado 
o Diminuição dos espaços 
intercostais ipsilateral 
o Imagem hipotransparente 
§ Representa a condensação 
parenquimatosa do pulmão 
comprometido. 
Atelectasia segmentar 
• Radiografia de tórax: demonstra áreas 
hipotransparentes entre áreas de 
parênquima normal. 
Atelectasia focal 
• Atelectasia laminar ou lobular, geralmente 
em bases 
• Aspecto de linhas horizontais ou laminares 
delgadas 
• Mais associada às cirurgias de abdome 
superior e às distensões abdominais 
Tratamento 
 O tratamento se baseia no estímulo da 
tosse durante a inspiração profunda ou na troca 
de decúbito no leito, estimulando o paciente a 
deambulação precoce, a levantar-se e a sentar-se. 
Indica-se também a nebulização contínua com 
água destilada, repetida de 3 a 4 horas. 
Em pacientes que não podem realizar o 
tratamento, podem ser utilizadas aspirações 
endotraqueais repetidas por sonda via oral ou 
nasal. 
A fisioterapia respiratória com tapotagens 
e vibrações sobre o tórax também é benéfica. Em 
pacientes com patologias pulmonares prévias, o 
fisioterapeuta deve começar o preparo no pré-
operatório de pacientes com cirurgias 
programadas. 
 
Aspiração pós-operatória 
 A aspiração pós-operatória pode ocorrer 
em pacientes que se alimentaram nas situações 
descritas abaixo, quando o paciente está com os 
reflexos de tosse e deglutição diminuídos. 
• Menos de 6 horas 
• Período pós-anestésico imediato 
• Início da anestesia 
• Após a extubação 
A forma mais grave é após vômitos, devido 
a aspiração do conteúdo gástrico. Ocorre 
normalmente em crianças, pacientes com 
rebaixamento do nível de consciência, poli-
traumatizados e parturientes (devido ao aumento 
da pressão intra-abdominal durante o parto e 
diminuição da motilidade gástrica). 
Podem ocorrer em cirurgias torácicas e 
abdominais, sendo toleradas em pequena 
quantidade nos pacientes traqueostomizados. 
Quando o pH aspirado for < 2,5, pode ocorrer 
pneumonite química, uma complicação gravíssima 
que pode levar o paciente ao óbito. 
O tratamento é realizado com 
antibioticoterapia, aspiração endotraqueal 
imediata e/ou broncoscopia aspirativa. Em casos 
mais graves, pode ser necessário o uso de 
ventilação por pressão positiva (VPP). 
Pneumonia 
 Causada principalmente por agente Gram-
positivo, podendo ocorrer em pacientes após 
atelectasia, aspiração, secreções aumentadas das 
vias aéreas, nas peritonites bacterianas no pós-
operatório e em pacientes que permaneceram 
longos períodos em suporte respiratório. É uma 
condição muito comum, contribuindo para mais 
da metade das infecções pós-operatórias. 
 O quadro clínico inclui febre, dispneia, 
taquicardia, taquipneia e aumento das secreções, 
com presença de escarros hemoptoicos ou 
coloridos. Ao exame físico, encontram-se sinais de 
consolidação pulmonar, como macicez, 
broncofonia e pectoriloquia. Na radiografia de 
tórax há hipotransparência difusa ou consolidação 
lobar. 
 O tratamento é feito com antibióticos que 
englobem Gram-positivos (Pneumococus) e Gram-
negativos (Escherichia coli). Podem ser realizados 
exercícios respiratórios, respiração profunda e 
estímulo da tosse para prevenir atelectasia 
(precursor da pneumonia). 
 
 
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Tromboembolismo pulmonar 
 Ocorre do 7º ao 10º dia pós-operatório, 
manifestando-se com taquipneia e taquicardia. A 
tríade clássica de dor torácica, dispneia e 
hemoptise ocorre em 10% dos pacientes, nos 
quais os êmbolos causam infarto pulmonar. Pode 
ser assintomático em 10% dos pacientes. 
 A radiografia de tórax pode apresentar 
uma condensação em forma de triângulo, com a 
base voltada para a parede torácica (corcova de 
Hampton), mas esse sinal é raro. Em geral, 
encontra-se uma ou mais áreas esbranquiçadas 
irregulares, asquais se confundem com 
broncopneumonia. 
 O diagnóstico padrão-ouro costumava ser 
a angiografia, mas este é um método invasivo. 
Atualmente, é a angiotomografia, o qual além de 
não ser um método invasivo, apresenta alta 
qualidade das imagens. 
 A prevenção é feita com deambulação 
precoce, movimentação ativa e passiva dos 
membros no leito, imobilização e tratamento das 
fraturas e heparinização subcutânea preventiva, 
além de fisioterapia respiratória e motora. 
Pulmão de choque 
O pulmão de choque também é 
denominado pulmão bomba, pulmão de Moore, 
síndrome da angústia respiratória pós-traumática 
ou síndrome do desconforto respiratório agudo. 
Ocorre com maior prevalência em 
pacientes politraumatizados, vítimas de 
queimaduras de grande extensão e no choque 
hipovolêmico, cardiogênico e séptico. 
Relaciona-se a hipo-oxigenação resultante 
de uma resposta inflamatória patológica 
inespecífica, gerando acúmulo de líquido alveolar 
e espessamento das paredes alveolares; o edema 
surge nas primeiras 24h e a cicatrização dos 
alvéolos rompidos se inicia após uma semana. O 
paciente apresenta dispneia, taquipneia 
progressiva, com diminuição da pO2 e aumento da 
pCO2. 
 Se o tratamento for precoce, há 
possibilidade de regressão total das alterações 
teciduais. Caso contrário, se o processo não for 
contido, ocorre hepatização pulmonar e o pulmão 
se torna maciço e ingurgitado, instalando-se uma 
fibrose pulmonar após 2 semanas. 
 A radiografia de tórax e a tomografia 
computadorizada mostram infiltrado pulmonar 
bilateral difuso com formações esbranquiçadas, 
em forma de “algodão” e condensações difusas 
mínimas. Esses achados se assemelham aos da 
embolia pulmonar pós-operatória e podem ser 
diferenciados com uma cintilografia pulmonar e 
angiotomografia. 
 Caso haja dúvidas, trata-se o paciente em 
unidade de terapia intensiva (UTI), como pulmão 
de choque ou pelo estado clínico do paciente, 
utilizando-se sedação, intubação orotraqueal, 
ventilação com pressão expiratória final positiva, 
antibioticoterapia, hidratação parenteral e 
nutrição parenteral prolongada. 
 Caso o pCO2 esteja abaixo de 60mmHg, 
deve-se realizar intubação orotraqueal (IOT) 
seguida de suporte ventilatório com pressão 
positiva expiratória final. Se pO2 for mantida entre 
70 e 100 mmHg, o quadro pode ser revertido e 
recuperado entre 3 a 7 dias. 
Derrame pleural pós-operatório 
 Derrame pleural é mais comum em 
pacientes com atelectasias pós-traumáticas e 
ascite decorrente da cirurgia. 
Quando não há insuficiência cardíaca ou 
lesão pulmonar associada, o derrame pode indicar 
inflamação subdiafragmática com abscesso 
subfrênico, abscessos intraperitoneais ou 
pancreatite aguda. 
O raio-X de tórax pode visualizar, além do 
derrame, elevação da hemicúpula diafragmática 
afetada, coleções subdiafragmáticas e atelectasia 
de base pulmonar. 
Pneumotórax pós-operatório 
 Pode ocorrer por lesão da pleura, 
ventilação com pressão positiva (VPP) em crianças 
e cateterismo da veia subclávia. 
 
COMPLICAÇÕES DAS FERIDAS OPERATÓRIAS 
 As complicações das feridas operatórias 
podem ser imediatas à cirurgia, recentes 
(primeiros 15 dias pós-cirurgia) ou tardias (após 
semanas e meses da cirurgia). 
Hematoma 
 Hematoma é uma coleção de sangue ou 
coágulo entre os tecidos da ferida operatórias; 
está relacionado a hemostasia imperfeita. 
Aparece nas primeiras 24 horas e é uma 
complicação comum da ferida operatória. 
 Caso ele seja proveniente de planos 
profundos, pode passar despercebido até que 
ocorra infecção ou drenagem espontânea. 
Grandes hematomas cursam com dor 
persistente ou abaulamento, devendo ser 
explorados e retirados com condições assépticas 
através da ligadura dos vasos sangrantes com 
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fechamento primário da ferida. Se não houver 
vasos com sangramento, o hematoma deve ser 
retirado e os tecidos lavados com soro fisiológico. 
Pode-se optar por novo fechamento dos planos 
anatômicos da ferida ou somente pelos planos 
profundos, deixando-se a pele e o tecido 
subcutâneo abertos para fechamento após 72 a 
96h ou aguardando-se o fechamento por segunda 
intenção. 
Nos casos de hematomas parcialmente 
organizados, pode-se instituir como tratamento a 
lavagem da loja repetidamente com soro 
fisiológico. 
Seroma 
 Seroma é uma coleção de soro, linfa 
liquefeita e gordura na ferida operatória que se 
acumula onde existe um espaço morto. 
Cirurgias com grande descolamento do 
tecido celular subcutâneo, transecções de 
inúmeros canais linfáticos ou necrose gordura 
aumentam o risco do aparecimento dessa 
complicação. Em geral, ocorre na região inguinal, 
mamas e cirurgias oncológicas nas quais é 
realizada linfadenectomia regional. 
A presença do seroma aumenta o risco de 
infecção da ferida operatória. A prevenção 
consiste no fechamento dos planos da ferida, 
assim como ligadura dos vasos identificáveis 
durante o ato cirúrgico e cauterização de 
pequenos pontos sangrantes. 
Os seromas localizados abaixo da pele 
podem ser esvaziados por punções assépticas 
seriadas. Em cirurgias com grande deslocamento 
de subcutâneo, deve-se utilizar um sistema de 
dreno a vácuo e evitar a ligadura em grande 
quantidade de tecido gorduroso. 
Infecção 
 Classificada como precoce, quando 
manifesta nas primeiras 48h pós-operatório, e 
tardia, entre o 4º e 7º dia pós-operatório. Pode-se 
classificá-las, ainda, em superficial, profunda e de 
cavidade, a depender da profundidade de 
acometimento. 
 As infecções precoces em geral são 
causadas por estreptococos beta-hemolíticos, 
anaeróbios, clostrídios anaeróbios e Escherichia 
coli. Nas tardias, o principal agente é o 
Staphylococcus aureus. Cirurgias do sistema 
digestório ou genitais apresentam infecções 
polimicrobianas pela exposição da microbiota 
local. 
 Em infecções por Gram-negativo, a dor 
acentuada na ferida operatório pode não estar 
presente. 
 Nos casos de dor forte, persistente e 
localizada, realiza-se exploração local com 
drenagem do pus do tecido subcutâneo e das 
regiões próximas. Caso não seja efetivo, procede-
se à revisão da ferida operatória. Em paciente com 
piora progressiva local e sintomas sistêmicos, a 
ferida é aberta amplamente e é necessária 
antibioticoterapia sistêmica. 
Deiscência e evisceração 
 Deiscência é a abertura parcial ou total das 
camadas anatômicas da parede corporal, como 
peritônio, planos aponeuróticos e pele da ferida 
operatória. Evisceração se refere à extrusão 
(saída) de vísceras com a rotura de todas as 
camadas. Ambas podem estar presentes em 
qualquer momento do pós-operatório, mas 
costumam ocorrem nos primeiros dias (5º ao 10º). 
 Tem como apresentação inicial a saída de 
secreção serossanguinolenta da ferida, assim 
como a sua abertura espontânea, o que pode 
gerar rápida evolução de rotura parcial para total 
dos planos de incisão. 
 Os fatores de risco incluem obesidade, 
desnutrição severa, DM, imunodepressão, 
corticoterapia, quimioterapia e/ou radioterapia, 
sepse, tabagismo, DPOC e hiboalbuminemia. 
Relacionam-se com técnica cirúrgica 
inadequada, como fechamento inadequado da 
parede, pontos cirúrgicos afastados, nós muito 
apertados ou frouxos ou erro no tipo de fio 
utilizado. Pode ocorrer também em situações de 
aumento da pressão intra-abdominal, como em 
tosse excessiva, distensão das alças do íleo 
paralítico prolongado, síndrome compartimental 
abdominal, cirrose com formação de ascite, ou 
também nas paredes com planos aponeuróticos 
pouco resistentes. 
Pacientes com dor na incisão e drenagem 
espontânea de secreção serossanguinolenta (tipo 
água de carne), em geral, apresentam deiscência 
pós-operatória. Pode estar associada à infecção da 
ferida, a depender do número de bactérias 
patogênicas e ambiente propício à sua 
propagação, associado a resposta inadequada do 
hospedeiro. 
 Nos casos em que a ferida expõe o 
peritônio e as alças intestinais (deiscência total da 
parede abdominal), deve-se realizar cobertura da 
ferida com compressasmornas esterilizadas, 
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antibioticoterapia adequada e reabordagem 
cirúrgica imediata. 
Hérnia incisional 
 A hérnia incisional pode ser decorrente de 
uma deiscência aponeurótica não reconhecida, do 
uso de fios inadequados, de má técnica cirúrgica e 
de enfraquecimento dos tecidos do paciente. 
Pode-se realizar tratamento cirúrgico eletivo. 
 
COMPLICAÇÕES INTRACAVITÁRIAS 
Hemoperitônio 
 Hemoperitônio é a principal causa de 
choque circulatório das cirurgias abdominais nas 
primeiras 24 horas, com rápida evolução. O 
quadro clínico inclui taquicardia, hipotensão, 
diminuição do débito urinário, vasoconstrição 
periférica, febre e dor abdominal intensa. 
 Trata-se de uma urgência médica, sendo 
que a conduta consiste na expansão volêmica e 
investigação diagnóstica com ultrassonografia ou 
TC. A reabordagem cirúrgica (controle de 
sangramento, remoção de coágulos e lavagem da 
cavidade peritoneal) é realizada em pacientes 
hipotensos e com sinais persistentes de 
hipovolemia. A reposição de sangue e cristaloides 
(ringer lactato, soro fisiológico) pode ser 
necessária. 
Síndrome compartimental abdominal 
 Define-se por elevação intermitente ou 
persistente da pressão intra-abdominal, acima de 
12 mmHg. 
Pode ocorrer após grandes sangramentos 
intra-abdominais, paciente em choque 
hemorrágico com infusão maciça de cristaloide, 
após laparotomia em pacientes poli-
traumatizados, quadros de sangramento 
retroperitoneal, ascites volumosas, rotura de 
aneurisma de aorta, rotura de aneurisma da 
artéria esplênica em grávidas, entre outras. 
 
COMPLICAÇÕES GASTROINTESTINAIS 
Dilatação gástrica 
 Ocorre por acúmulo de ar no estômago. O 
tratamento consiste em esvaziamento do 
estômago por aspirações, realizadas a cada 3 a 4 
horas, por meio de uma sonda nasogástrica. 
 A presença de hemorragia secundária pode 
gerar uma distensão gástrica volumosa, com 
mudança da coloração do suco gástrico, o qual se 
torna vermelho, marrom ou preto. 
Íleo pós-operatório 
 Caracteriza-se pela perda da peristalse 
efetiva e coordenada do íleo. Pode resultar de 
sepse intraperitoneal, TCE ou baixo débito 
cardíaco. Os fatores envolvidos são manipulação 
do intestino, irritação do peritônio, distúrbios 
hidroeletrolíticos e metabólicos, drogas pré-
anestésicas, agendes anestésicos, analgésicos e 
drogas antiperistálticas (como hioscina – 
Buscopam®). 
 No pós-operatório abdominal, o intestino 
delgado normalmente inicia seus movimentos 
peristálticos 12h após a cirurgia, mas só é capaz de 
conduzir uma refeição após 24h, sendo este o 
período o qual pode durar também a estase 
gástrica. A contratilidade do cólon está diminuída 
nas primeiras 48h do ato cirúrgico; o direito é o 
primeiro a se recuperar, enquanto o esquerdo 
pode demorar até 72h. 
 Clinicamente, há distensão abdominal, 
parada da eliminação de gases e fezes, náuseas, 
vômitos e anorexia. Ao exame físico, taquicardia 
com abdome distendido, timpânico e com ruídos 
hidroaéreos ausentes. 
 Em uma radiografia de abdome na posição 
ortostática, encontra-se nível hidroaéreo e 
contraste irregular das alças intestinais por conta 
da presença de gás difusamente contido em seu 
interior. Isso pode ser tratado com a passagem de 
sonda nasogástrica e aspiração a cada 2 a 4h, 
deixando aberta em sifonagem pelo menos 24h. 
Obstrução intestinal mecânica 
 Ocorre com maior prevalência após 
peritonite localizada ou generalizada e grandes 
desperitonizações. As bridas ou aderências 
costumam ser frouxas e são formadas após alguns 
dias do ato cirúrgico. 
 As suboclusões podem ser tratadas 
inicialmente com reposição volêmica e 
descompressão nasogástrica. A reabordagem 
cirúrgica é necessária quando a descompressão 
não for efetiva por 48 a 72h. 
Enterocolite pseusomembranosa 
 Apresenta-se com diarreia sanguinolenta 
de grande quantidade, decorrente de ulcerações 
difusas do intestino e formação de pseudo-
membranas. Pode-se encontrar Clostridium 
difficile na cultura das fezes, assim como outras 
bactérias não habituais à microbiota intestinal. 
 Com o uso rotineiro de antibióticos de 
amplo espectro, essa complicação raramente 
acontece. Todavia, o uso indiscriminado de 
antibióticos pode causar a doença. 
Fecaloma 
 Pode ser diagnosticado por fezes 
endurecidas no toque retal. Decorre da 
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diminuição da ingestão de líquidos, em pacientes 
idosos ou restritos ao leito, ou após enemas 
baritados. 
O paciente pode apresentar distensão 
abdominal moderada e episódios de diarreia em 
pequenas quantidades (pseudo ou falsa diarreia, 
ou diarreia paradoxal). O tratamento pode ser 
realizado com enema glicerinado associado a 
deimpactação digital. 
Pancreatite 
 Não é comum, mas, quando presente, 
ocorre nas primeiras 48h, podendo-se apresentar 
de forma leve edematosa até grave necrotizante. 
Está mais relacionada a pacientes submetidos a 
cirurgias de vias biliares e/ou manipulação 
peripancreática (descolamento duodenal – 
manobra de Kosher – e/ou pancreático). 
 Pode ocorrer dor abdominal em faixa, 
epigastralgia, hiperamilasemia e hiperlipasemia. 
Faz-se um hemograma, dosagem de eletrólitos, 
exames laboratoriais de amilase e lipase. O 
tratamento inicialmente é conservador, com 
passagem de sonda nasogástrica, analgesia e 
reposição volêmica, permanecendo o paciente em 
observação. 
 
COMPLICAÇÕES CARDÍACAS 
 As complicações cardíacas podem ocorrer 
durante ou após uma cirurgia. Nas cirurgias 
eletivas, costumam ser minimizadas devido a 
avaliação cardiológica prévia. Como nas cirurgias 
de urgência o preparo cardíaco não pode ser feito, 
resta o tratamento caso haja alguma complicação. 
Arritmias 
 Podem aparecer durante a cirurgia ou nos 
primeiros 3 dias do pós-operatório, sendo comuns 
em procedimentos intratorácicos. Podem ser 
causadas por hipocalemia, hipoxemia, toxicidade 
digitálica, alcalose ou estresse durante as cirurgias 
de emergência. 
As arritmias por indução anestésica podem 
ser causadas por gases anestésicos, como 
ciclopropano ou halotano, e drogas 
simpaticomiméticas. 
Em geral, as arritmias do pós-operatório 
não estão relacionadas a isquemia miocárdica e 
normalmente são assintomáticas, podendo haver 
em alguns casos dor torácica, dispneia e 
palpitações. 
A investigação é feita através de um ECG, 
raio-X de tórax, gasometria, ionograma, enzimas 
(CPK e CKMB, por exemplo) e dosagem de 
mioglobina e troponina. 
Infarto agudo do miocárdio pós-operatório 
 O paciente pode apresentar dor torácica 
ou no abdome superior, associado a respiração 
truncada. Pode haver hipotensão e arritmia 
cardíaca. Em um terço dos casos, o paciente pode 
ser assintomático, geralmente por efeito residual 
de anestésicos e analgesia ou diabetes. 
 São considerados pacientes de risco 
aumentado aqueles submetidos a cirurgias 
vasculares, com insuficiência cardíaca, isquemia 
identificada em teste ergométrico e cintilografia 
cardíaca e idosos com mais de 70 anos. 
O diagnóstico é feito com base no 
eletrocardiograma (alteração das ondas de 
despolarização), enzimas cardíacas e/ou dor típica 
com sudorese e fácies de sofrimento. 
O tratamento inclui medidas de suporte, 
como monitorização em unidade intensiva, 
hidratação com fluidos e eletrólitos, 
oxigenioterapia e analgesia. A anticoagulação 
plena em geral não é possível em decorrência da 
cirurgia realizada, podendo-se aplicar heparina 
subcutânea 5.000 unidades a cada 12h ou de 8/8h. 
Em casos de falência miocárdica aguda, 
pode-se indicar cateterismo cardíaco de urgência 
e colocação de stents nas artérias coronárias ou 
em seus ramos ocluídos. O procedimento não 
deve ser postergado (caso haja serviço de 
hemodinâmica), pois restabelece a função 
cardíaca (mesmo com a área infartada). 
Falência ventricular esquerda e edema agudo de 
pulmão 
 Ocorre em pacientes com baixas reservas 
miocárdicas (idosos ou cardiopatas), após 
administração excessiva de fluidos intravenosos. 
Pode haver dispneia progressiva, hipoxemia, 
taquicardia,sudorese e congestão pulmonar na 
radiografia de tórax. 
 Em caso de choque cardiogênico, deve-se 
realizar monitorização em UTI, passagem de 
cateter na artéria pulmonar e redução da pós-
carga (com diurético) e da pré-carga (com 
nitroprussato de sódio). Em caso de insuficiência 
respiratória associada, pode ser necessária 
intubação orotraqueal associada a ventilação 
mecânica assistida controlada com pressão 
positiva expiratória final. 
 Para pacientes que não estão em choque 
cardiogênico, pode-se utilizar digitálicos. 
 
 
 
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COMPLICAÇÕES GENITURINÁRIAS 
 Ocorrem, geralmente, após cirurgias 
proctológicas, geniturinárias, obstétricas, 
ginecológicas e aquelas nas quais a analgesia é 
feita por bloqueios (raquianestesia, epidural sacra 
ou peridural baixa). 
Retenção urinária 
 Retenção urinária transitória pode ocorrer 
por bloqueios regionais, com regressão após o 
término da anestesia. 
É mais comum em pacientes submetidos a 
cirurgia proctológica, idosos, pessoas restritas ao 
leito, melhores após correção de colpocistocele ou 
cesariana e homens com hiperplasia prostática 
benigna. 
O tratamento é realizado com medidas que 
estimulam a diurese, como deambulação e sentar-
se precocemente. Caso o paciente apresente 
bexigoma palpável com desconforto associado, 
realiza-se a sondagem vesical de alívio ou de 
demora (sonda de Foley). 
Infecção pós-operatória do trato urinário 
 Ocorre após 48h de pós-operatório e tem 
como fatores contribuintes contaminação 
preexistente do trato urinário, instrumentação 
pré, peri e pós-operatória e retenção urinária. 
 É comum a infecção por bactérias entéricas 
Gram-negativas (Escherichia coli), podendo ser 
baixa (cistite) ou ascendente pelo trato urinário 
(pielonefrite). O quadro clínico inclui disúria, 
calafrios, aumento da frequência de micção, 
retenção urinária ou piúria. 
 O exame de urina I pode evidenciar 
bacteriúria e leucocitúria. O tratamento inclui 
hidratação, analgesia, antibioticoterapia e, em 
alguns casos, uso de sonda vesical de demora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMPLICAÇÕES DO SNC E SNP 
Acidente vascular encefálico 
 É a maior complicação neurológica, 
ocorrendo principalmente em pacientes idosos. 
Está relacionado a pacientes que estiveram 
hipotensos durante ou após a cirurgia, 
arteriosclerose com obstrução parcial carotídea, 
hipertensos, diabéticos ou pacientes com DPOC. 
O tratamento é feito em UTI, com controle 
da pressão arterial, manutenção da oxigenação 
pulmonar e tecidual (pO2 arterial), reposição 
volêmica, fisioterapia motora e respiratória e 
mudança periódica de decúbito (para evitar 
úlceras de pressão). 
Pcicose pós-operatórias 
 Ocorre em pacientes que faziam uso prévio 
de drogas ilícitas, como Cannabis sativa, ácido 
lisérgico (LSD), cocaína, crack, haxixe, entre 
outros, e também em pacientes alcoólatras em 
crises de abstinência. 
 O paciente pode apresentar delírios e/ou 
alucinação e o tratamento é feito inicialmente 
com boa oxigenação, contenção no leito e 
sedação. 
Delirium 
 Estado confusional agudo, de nível 
flutuante, que gera distúrbios de consciência 
(memória, atenção, orientação, pensamento e 
percepção) e comportamento. 
Pode ter como fatores precipitantes os 
distúrbios hidroeletrolíticos (hipomagnesemia, 
por exemplo) e infecções. Costuma ocorrer em 
idosos no 2º dia pós-operatório, sendo mais 
frequente em cirurgias ortopédicas por fraturas do 
quadril. 
Lombociatalgia 
 Lombociatalgia é uma dor que inicia na 
região lombar e acompanha o trajeto do nervo 
ciático. Pode ocorrer em cirurgias prolongadas. 
O tratamento consiste em vitamina B12 IM 
e analgesia (cetoprofeno ou tramadol).

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