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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇAS DA TIREOIDE INTRODUÇÃO As doenças tiroidianas apresentam alta prevalência no mundo, sendo sua investigação presente na prática clínica de várias especialidades médicas. Os resultados de exames às vezes são conflitantes ou incompatíveis com o quadro clínico, levando a diagnósticos incorretos e tratamentos desnecessários e/ou errôneos. TIREOIDE A tireoide é uma glândula com formato de borboleta, constituída por 2 lobos unidos através um istmo. Cada lobo tem cerca de 4 cm e a glândula inteira entre 15 a 20cm3. Ela é revestida por uma cápsula fibrosa e, em seu interior, há milhares de folículos. Cada folículo é composto por células foliculares dispostas circularmente e preenchido por coloide. Entre os folículos se encontra o estroma, local onde passam os capilares sanguíneos e estão as células C (parafoliculares), responsáveis pela secreção de calcitonina (envolvida no metabolismo de cálcio). FISIOLOGIA Síntese hormonal As células foliculares produzem e secretam a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), hormônios envolvidos na regulação do metabolismo. Para a síntese, são necessários os seguintes passos: 1. O iodo dietético é absorvido no TGI e distribuído no líquido extracelular; 2. Transporte ativo de iodeto para o interior da célula tireoidiana através da Bomba NIS (simportador sódio-iodeto), localizada na membrana basal das células foliculares; 3. Carregamento do iodeto até o interior do coloide, através da pendrina (localizada na membrana apical da célula folicular); 4. Oxidação do iodeto pela H2O2, reação catalisada pela tireopexoxidase; 5. Ligação do iodo oxidado à tireoglobulina, com formação da mono-iodotirosina. 6. Ainda sob ação da tireoperoxidase, há acoplamento do iodo para formação do DIT; 7. Junção de 2 DIT para formação de T4 e DIT + MIT para formação de T3; 8. Após a síntese no coloide, há formação de uma vesícula pela membrana apical da célula folicular e transporte. O transporte se dá com participação de enzimas proteolíticas, as quais retiram os hormônios da tireoglobulina; 9. Liberação dos hormônios na circulação. 100% do T4 e 20% do T3 são produzidos na tireoide, ou seja, há muito mais liberação de T4 do que T3. Todavia, na periferia há deiodinação do T4, com conversão para T3, o qual apresenta maior afinidade pelo receptor nuclear dos tecidos-alvo (4 a 10 vezes mais potente que o T4), sendo considerado o hormônio ativo. Transporte Os hormônios tireoidianos circulantes em sua maior parte, ligados a proteínas plasmáticas: 70 a 80% do T3 e T4 são ligados à TBG (globulina de ligação da tiroxina) e 15% são ligados à albumina A fração livre é a metabolicamente ativa, de forma que para avaliar a função tireoidiana, o exame solicitado é o T4 livre. Metabolismo Na periferia, há conversão de T4 em T3 por meio das deidodinases ou desionases, enzimas que retiram um iodo do T4, transformando-o em T3 na maioria das células alvo. Esse iodo retirado pode ser reutilizado. • Desiodinase 1: presente nas células-alvo • Desiodinase 2: presente no SNC • Desiodinase 3: metabolização periférica do T4 em T3 reverso, metabolicamente inativo. Geovana Sanches, TXXIV Regulação O TRH (hormônio com liberação de tirotropina) é produzido no hipotálamo e estimula a produção do TSH (hormônio estimulador da tireoide) pela hipófise. Esse hormônio percorre a corrente sanguínea e se liga a receptores específicos nas células tireoideanas, estimulando todas as etapas da síntese e liberação hormonal. A secreção do TSH é pulsátil (ritmo circadiano), com picos entre 22 e 4h. O T3 e o T4 exercem feedback tanto sobre o hipotálamo, quanto à hipófise, inibindo ou estimulando a produção de TRH e TSH respectivamente. Pacientes patologicamente com altos níveis de TSH tem estímulo para aumento na produção de T3 e T4. Isso pode gerar bócio, pois esse hormônio tem efeito trófico, além de estimular a tireoperoxidase, bomba NIS e produção de tireoglobulina. Ação dos hormônios tireoidianos Os hormônios tireoidianos atuam em todo o organismo, de forma que quando há alterações, todos os sistemas estarão alterados. • Aparelho cardiovascular: aumento da contratilidade do miocárdio; aumento da FC • TGI: aumento da motilidade • Ossos: crescimento e maturação óssea e aumento da remodelação óssea • Sistema neurológico: desenvolvimento SNC fetal, alerta mental • Sistema endócrino: aumento da degradação de LDL • Geral: catabolismo, termogênese EXAME FÍSICO: AVALIAÇÃO DA TIREOIDE O exame físico da tireoide começa com a inspeção da porção anteroinferior do pescoço, para verificar o tamanho da glândula e a simetria. Deve-se verificar se há aumento glandular difuso ou assimétrico, desvio traqueal, linfadenopatia e distensão venosa jugular. A palpação pode ser realizada por abordagem anterior ou posterior. Durante o processo, deve-se avaliar a consistência e a superfície da glândula, determinando se é homogênea ou heterogênea, se há nódulos e a presença ou ausência de linfonodos cervicais palpáveis. AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA TIREOIDE • Dosagens hormonais: TSH e T4 livre o Eventualmente é solicitado T3 o Não é possível dosar TRH • Pesquisa de auto-imunidade: Anti-TPO, AATG e TRaB o Quando há suspeita de doença auto-imune. • Outras dosagens: o Tireoglobulina o Calcitonina (CA medular) o T3 reverso Exames de imagem • USG: é o principal exame para avaliar a tireoide • Cintilografia: utilizada em situações particulares, para avaliar a presença de nódulos captantes o No hipotireoidismo normalmente não é utilizado Geovana Sanches, TXXIV • TC: utilizada em situações específicas, como em um câncer de tireoide em que o cirurgião quer avaliar melhor a região o Não é exame de rotina PATOLOGIAS TIREOIDEANAS As patologias tireoideanas podem ocorrer tanto por alterações na forma da glândula, quanto por alteração na função tireoideana. As duas alterações podem, ainda, ser encontradas em conjunto. • Bócio com ou sem alteração hormonal • Tireoidite • Tireotoxicose (Graves, Plummer, factícia) • Tumores HIPOTIREOIDISMO DEFINIÇÃO O hipotireoidismo é caracterizado pela dificuldade e deficiência na produção de hormônios tireoidianos. O quadro clínico dependerá da idade e da velocidade de instalação da deficiência hormonal. Em uma tireoidite de Hashimoto, por exemplo, o quadro é mais lento e progressivo, enquanto após uma tiroidectomia por tumor, a instalação é quase instantânea. CLASSIFICAÇÃO O hipotireoidismo primário é decorrente de disfunção intrínseca da glândula tireoide e corresponde a 95% de todos os casos. Cursa com aumento dos níveis de TSH. O hipotireoidismo secundário se dá por estímulo inadequado da tireoide por alteração na hipófise, enquanto o hipotireoidismo terciário se dá por estímulo inadequado por alteração no hipotálamo. Ambos os casos acima cursam com baixas concentrações de TSH e são denominados em conjunto como hipotireoidismo central. Podem ocorrer por tumores, radioterapia, TCE, Sheehan (necrose hipofisária pós-parto), hipofisite linfocítica, entre outros, mas correspondem a cerca de 1% dos casos. A alteração pode ser, ainda, congênita. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico inclui sintomas que demonstram a lentificação do metabolismo: • Alterações de pele, unhas, cabelos • Intolerância ao frio • Edema, aumento do peso o Aumento leve de peso, que não ultrapassa de 2 a 3kg. Uma vez tratada a doença, o peso retorna ao normal • Sonolência, letargia, depressão, astenia e déficits cognitivos • Parestesias, túnel do carpo, câimbras, artralgia • Obstipação, anorexia, distensão gasosa • Rouquidão • Bradicardia, derrame pericárdico (casos avançados) • Irregularidade menstrual, infertilidade, diminuição de libido, oligospermia • Aumento de LDL • Anemiao Normo/Normo, decorrente da diminuição do metabolismo: há menor incorporação do ferro e a produção de glóbulos vermelhos encontra-se lentificada. • Hiperprolactinemia o Ocorre por aumento do TRH, o qual estimula secreção de prolactina o Sinal exclusivo no hipotireoidismo primário, tendo em vista que depende do TRH DIAGNÓSTICO O diagnóstico se dá pela dosagem de T4 livre e TSH. O hipotireoidismo manifesto se caracteriza por nível elevado de TSH, normalmente maior que 10 mlU/L, associado a nível de T4 livre abaixo do limite inferior da taxa de referência. Geovana Sanches, TXXIV O hipotireoidismo subclínico é caracterizado por nível de TSH modestamente elevado, com níveis de T4 livre ainda normais. O paciente apresenta quadro clínico ausente ou é oligossintomático. Todavia, essa situação pode evoluir para hipotireoidismo clínico. TRATAMENTO Independente da causa do hipotireoidismo, o tratamento é feito a partir da levotiroxina sódica, hormônio sintético que substitui o endógeno deficiente. Existem várias formulações da medicação e é indicado que o paciente não fique alterando a marca escolhida, pois podem ocorrer pequenas alterações que influenciam no tratamento: • Synthroid® • Euthyrox® • Levoid® • Puran T4® A dose farmacológica inicial depende do peso corporal, do grau do hipotireoidismo, da idade do paciente e do seu estado geral de saúde. Para adultos, normalmente iniciamos com uma dose de 25 ou 50mg. Já para idosos, devemos nos atentar para doenças cardíacas, iniciando com doses mais baixas, como 12,5mg. Independente da dose inicial, deve-se fazer avaliação dos níveis de TSH de 4 a 8 semanas após o início do tratamento. Caso a dose prescrita esteja muito alta, o TSH do paciente estará diminuído e, caso a dose da medicação esteja baixa, o TSH permanecerá aumentado. Se o TSH estiver dentro dos limites de normalidade, o paciente está controlado. Caso seja necessário, antes de aumentar a dose do medicamento, é importante verificar a aderência do tratamento pelo paciente, tendo em vista o risco de tireotoxicose caso as doses prescritas sejam elevadas. Além disso, devemos lembrar ao paciente que a medicação deve ser ingerida 30 minutos antes do desjejum, pela manhã e que ela não pode ser administrada em conjunto com omeprazol, tendo em vista que o medicamento necessita do pH ácido para correta absorção. Após estabilização dos níveis de TSH e estabelecimento da dose adequada, é necessário avaliar o TSH anualmente. A meta de tratamento é que esse hormônio seja mantido dentro dos limites e, para otimização, em níveis próximos a 2,5. Hipotireoidismo subclínico O tratamento para hipotireoidismo subclínico só tem um consenso caso o TSH esteja acima de 10mUI/L. Caso ele se encontre entre 4,5 e 10, é necessário avaliar cada caso. A exceção é para gestantes, as quais sempre devem ser tratadas. HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO O hipotireoidismo primário é relativamente comum, acometendo cerca de 5% da população geral. Ocorre mais em mulheres e a principal causa é a tireoidite linfocitária (crônica ou de Hashimoto). Outras possíveis causas são: • Tireoidite subaguda (2ª fase) • Tireoidite pós-parto • Tireoidite de Riedel • Pós-tratamento o Cirurgia o Radioiodo o Radioterapia • Doenças infiltrativas • Congênito o Agenesia o Ectopia • Fármacos o Iodo o Lítio: elemento que está na mesma fileira da tabela periódica que o iodo, causando confusão na glândula e impedindo produção adequada de hormônio o Amiodarona: possui iodo tem sua formulação o Contrastes o Entre outros • Deficiência grave de iodo o Não existe mais no Brasil, tendo em vista a estipulação de lei para inserção de iodo no sal Tireoidite de Hashimoto A tireoidite de Hashimoto, também denominada tireoidite crônica, linfocítica ou autoimune, é a causa mais frequente de Geovana Sanches, TXXIV hipotireoidismo primário. Trata-se de um quadro alto-imune, que acomete mais mulheres em qualquer faixa etária, porém predomina no menacme. Sabe-se que há predisposição genética com agregação familiar, porém ainda não há certeza sobre qual o tipo de herança envolvido. O paciente se apresenta cansado normalmente e, ao exame físico, a tireoide tem consistência aumentada e superfície irregular. Normalmente identifica-se diminuição da glândula à palpação, mas no início ela pode estar aumentada. Pode-se realizar exame laboratorial para identificação de anticorpos, principalmente anti- TPO e anti-tireoglobulina, mas caso esses venham negativos a possibilidade de Hashimoto não é afastada. Esse exame só deve ser realizado em caso de suspeita de tireoidite de Hashimoto, tendo em vista que uma parcela da população possui anticorpos e não desenvolvem a doença. Tireoidite pós-parto A tireoidite pós-parto também é autoimune, sendo considerada por alguns autores como uma possível variante do Hashimoto, ocorrendo em mulheres que já tinham predisposição. Ela pode ocorrer até 1 ano após o parto (ou abortamento) e há história familiar de doença autoimune da tireoide em 50% dos casos. Possui incidência aumentada em portadores de DM1. Pode haver discreta tireotoxicose logo após o parto seguido de hipotireoidismo. Isso pois, os anticorpos fazem com que os hormônios previamente produzidos sejam liberados no organismo, podendo causar leve caso de tireotoxicose. Logo após, tendo em vista a produção deficiente dos hormônios, inicia-se a fase de hipotireoidismo A maioria dos casos não requer tratamento, mas alguns podem evoluir para hipotireoidismo definitivo. É importante lembrar que o quadro clínico de hipotireoidismo inclui sintomas depressivos. Com isso, ao diagnosticar uma depressão pós- parto, é essencial excluir a possibilidade de tireoidite pós-parto. Tireoidite sub-aguda Na tireoidite sub-aguda, há um discreto predomínio de prevalência em mulheres, mas não como nas auto-imunes. O quadro clínico inclui dor no pescoço e aumento difuso da glândula, se ocorre normalmente após quadro de infecção viral de vias aéreas superiores. Possui 3 fases: 1. Tireotoxicose: em conjunto com o quadro inflamatório, se dá por 2 a 6 semanas e é caracterizado por dor cervical e sintomas de hipertireoidismo. O paciente pode apresentar febre, taquicardia, tremor, sudorese e mal estar em decorrência da virose. 2. Hipotireoidismo: ocorre por 2 a 8 semanas e é caracterizado por letargia, cansaço excessivo e mal-estar geral. 3. Eutireoidismo O diagnóstico se dá ao verificarmos aumento nos marcadores da inflamação (VSH e PCR) e aumento difuso ou focal a ultrassonografia. Caso seja realizada cintilografia, verifica-se diminuição da captação do iodo radioativo. O tratamento é realizado com AINH e/ou corticoide na fase inicial. Caso seja necessário, pode-se associar beta bloqueador para sintomas de hipertireoidismo. Se houver evolução para hipotireoidismo definitivo, é necessário terapia com levotiroxina. Tireoidite aguda A tireoidite aguda é rara e caracterizada por dor no pescoço, aumento da glândula, febre e disfagia. Pode ser ocasionada por infecção bacteriana e, mais raramente, por fungos e micobactérias. Pode ocorrer formação de abcesso e o tratamento é feito com antibióticos e, alguns casos, por cirurgia. Tireoidite de Riedel A tireoidite de Riedel é rara, com leve predomínio em mulheres. Caracteriza-se por fibrose extensa da glândula tireoide (glândula pétrea), com comprometimento extra-glandular. O quadro clínico inclui rouquidão e disfagia, mas não há dor. Pode estar acompanhada de fibroesclerose inflamatória (mediastino, retroperitônio, colangite esclerosante). Geovana Sanches, TXXIV HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO O hipotireoidismo congênito é ocasionado principalmente por alterações na embriogênese, como agenesia e hipoplasia. O diagnóstico ocorre ainda no rastreamento neonatal, através do testedo pezinho, no qual faz- se dosagem do TSH e, em caso de alteração, realiza-se exame de sangue no RN. O quadro clínico é pobre quando a criança nasce, mas se não tratado precocemente, leva a alterações irreversíveis no SNC, como retardo mental grave, baixa estatura, ataxia, movimentos coreiformes e perda auditiva neurossensorial. Para que o indivíduo possa se desenvolver normalmente, é necessário que o tratamento seja realizado antes dos 3 meses de idade. Quadro clínico no recém-nascido • 1: 3000 – 4000 nascidos vivos • Assintomático • Hérnia umbilical • Icterícia prolongada • Hipotonia • Dificuldade para mamar • Choro rouco • Macroglossia A imagem à direita demonstra uma criança de 5 anos, que não teve o tratamento adequado para hipotireoidismo congênito. Quadro clínico na criança (a partir da primeira infância) • Insidioso • Bócio (tireoidite de Hashimoto) • Atraso na velocidade de crescimento e baixa estatura. • Falta de atenção, sonolência extrema, dificuldade na escola • Sobrepeso em relação à altura, mas raramente obesos • Atraso na dentição e idade óssea • Letargia, intolerância ao frio, constipação, pele seca e edema SITUAÇÕES ESPECIAIS • Tireoidite subaguda • Coma mixedematoso o Mortalidade > 60% o Ocasionado por Hipotireoidismo grave de longa duração e/ou tratamento inadequado o Há exacerbação dos sintomas, culminando com anasarca, derrame pleural e pericárdico, hipotensão, hipotermia, bradicardia, coma o Tratamento: levotiroxina EV, suporte intensivo e tratamento de comorbidades • Gestação • Síndrome do eutireoideano doente o Paciente que está em UTI por algum motivo e apresenta alteração de hormônio tireoidiano à decorrente da diminuição da conversão periférica de T4 para T3 (provável adaptação do organismo) o Não é necessário o tratamento • Resistência aos hormônios tireoidianos o Situação rara em que os receptores dos hormônios tireoidianos não se ligam adequadamente ao hormônio, podendo ter alterações com quadro clínico. NÓDULOS DE TIROIDE IMPORTÂNCIA Os nódulos de tireoide palpáveis estão presentes em 4 a 7% dos indivíduos adultos, sendo que aos 50 anos, quase 50% da população apresenta algum nódulo à ultrassonografia. Geovana Sanches, TXXIV Eles são mais comuns em mulheres, idosos e regiões com deficiência do iodo – não é o caso do Brasil, tendo em vista que temos uma lei para que o sal seja iodado. Dentre as causas mais frequentes temos: • Cistos e tireoodites: 80% • Neoplasias benignas (adenomas): 10 a 15% • Carcinomas: 5 a 10% DIFERENCIAÇÃO A diferenciação entre nódulos malignos e benignos é de extrema importância, tendo em vista que os malignos devem ser tratados. Além da classificação de benignidade e malignidade, classificamos os nódulos em tóxico (produz hormônio tireoidiano) e atóxico (não produz hormônio – são a maioria). Anamnese • Geralmente o paciente é assintomático o Só é sintomático se houver informação, nódulo muito grande ou nódulo tóxico • Dados sugestivos de malignidade (não pode dar diagnóstico de malignidade sem o PAAF): o Sexo masculino § Maior taxa de malignidade em homens) o Idade < 20 ou > 70 anos o História de irradiação (radioterapia) em cabeça ou pescoço o História familiar de câncer de tireoide, NEM 2 ou carcinoma medular familiar o Crescimento rápido, com sintomas compressivos o Linfadenite satélite o Nódulo > 4 cm Exames Físico • Tamanho do nódulo • Consistência o FIbroelástica: normal o Pétrea: mais sugestiva de malignidade • Mobilidade o Móvel: normalmente a tireoide é móvel à deglutição. o Não móvel • Verificar sinais de hipertireoidismo o Nódulos tóxicos normalmente são benignos • Linfadenopatia regional suspeita o Presença de vários gânglios palpáveis. Dosagens laboratoriais • Não diferenciam benignidade ou malignidade, apenas dizem se é tóxico ou atóxico • TSH e T4 livre normais o Nódulo atóxico • Anticorpos, TRAB, Calcitonina – quando indicados Ultrassom • Melhor exame para detecção de nódulos • Sensibilidade > 95% • Baixo custo • Muito dependente do operador: para bons resultados, são necessários um bom aparelho e um bom médico Características avaliadas • Ecogenicidade o Isoecogênico: nódulo com mesma coloração que o parênquima o Hiperecogênico: nódulo mais esbranquiçado o Hipoecogênico: nódulo mais escuro • Presença de calcificações o Em geral, são preocupantes • Presença de halo o Nódulos benignos apresentam um halo ao seu redor, o qual aparece como uma borda bem delimitada Geovana Sanches, TXXIV o Caso o halo não seja identificado, não quer dizer que é maligno. • Margens o Bem delimitadas e lisas: benigno o Mal delimitado • Vascularização nodular o Quanto maior a vascularização, maior a chance de câncer de tireoide • Diâmetro AP x transverso • Linfonodos Para a suspeita de malignidade, somamos diversos critérios. à Característica sugestiva de benignidade • Lesões homogêneas de limites definidos • Lesões predominantemente císticas (nódulo espongiforme): gerado pelo acúmulo de coloide, não sendo celular • Presença de halo • Textura isso ou hiperecogênica • Ausência de calcificaçãoes ou calcificações em casca de ovo (só na borda, significando que é um nódulo mais antigo) • Ausência de vascularização ou predominantemente periférica à Características que podem levar à suspeita de malignidade • Nódulos sólidos > 1 cm (solicita-se a punção caso haja outras alterações suspeitas) • Hipoecogenicidade • Margens irregulares • Halo ausente ou incompleto • Microcalcificações • Vascularização com fluxo intranodular ao doppler • Infiltração ou invasão de tecidos paratireoideanos • Linfadenomegalia à Exemplos Nódulo hipoecogênico, bem delimitado e aparentemente sem calcificação Presença de halo Nódulo muito vascularizado Nódulo isoecogênico, sem calcificação e com vascularização periférica Cintilografia É feita com radioiodo ou tecnécio e tem pouca especificidade para diferenciar se o nódulo é benigno ou maligno. Indicações: • Patologia nodular + hipertireoidismo o Plummer, BMNT • Tireoidite subaguda • Tireoide ectópica Geovana Sanches, TXXIV PAAF: Citopatologia O PAAR é solicitado apenas quando há características suspeitas na história, exame físico ou ultrassonografia. Classificação de BETHESDA I. Não diagnóstico ou material insatisfatório • Repetir punção após 3 meses II. Benigno • Risco de malignidade muito baixo (0 – 3%) III. Lesão folicular de significado indeterminado • Repunção após 3 meses reclassifica 80% dos casos em risco de malignidade baixo (5 a 10%) IV. Suspeito para neoplasia folicular • Risco de malignidade entre 12 e 32% V. Suspeito para malignidade • Risco de malignidade entre 50 e 75% VI. Maligno • Risco de malignidade entre 97 e 99% Para os BETHESDA III e IV há indicação de PEG (perfil de expressão gênica). Trata-se de um exame caro, sem acesso para a maioria dos casos, mas caso seja feito, consegue verificar a suspeita de malignidade. Pacientes em classificação III normalmente não são enviados para cirurgia, fazendo acompanhamento via USG e repetição da PAAF eventualmente. Para aqueles em classificação IV, há maior complicação, podendo-se considerar a cirurgia. A partir de V, normalmente indica-se a remoção cirúrgica. TRATAMENTO • Bócio atóxico o Expectante § Acompanhamento pelo resto da vida o Cirurgia caso haja suspeita de malignidade, sinais de compressão ou crescimento intratorácico • Nódulos tóxicos (BUNT, BMNT – bócio uninodular ou multinodular): o Cirurgia o Radioiodo o Drogas anti-tireoidianas TUMORES DE TIREOIDE Os principais tumores de tireoide são os papilíferos, foliculares, anaplásicos e medulares. Os genes envolvidos na patogênese de cada um desses tumores são distintos, de formaque o paciente não costuma apresentá-los em conjunto. Os tumores são de 2 a 4 vezes mais frequentes em mulheres, em qualquer faixa etária. São raros em crianças e, caso presentes, com mais agressivos, com maior probabilidade de metástases e recorrência. Os nódulos normalmente são diagnosticados em exames de rotina, com o paciente assintomático. CARCINOMA PAPILÍFERO • É o mais comum (80%), tem baixo grau de agressividade e crescimento lento o Sobrevida 97-100% em 5 anos • Mais frequente em mulheres dos 30 aos 50 anos • Uni ou multifocais (disseminação linfática no interior da glândula ou crescimento de diferentes clones tumorais) o São mais comuns os unifocais o Metástases locorregionais, ou seja, não há metástase distância. § Na cirurgia, faz-se análise dos gânglios cervicais • Nódulo menor que 1 cm à microcarcinoma o Melhor prognóstico • Há dúvida se deveria operar todos, mas a conduta atual no Brasil é a tireoidectomia total. ADENOMA E CARDINOMA FOLICULAR Adenoma folicular • Acometimento de 6 mulheres para cada homem • Maior incidência dos 20 aos 50 anos • Boa evolução, não sendo necessário tratar normalmente, fazendo apenas o acompanhamento Carcinoma folicular • 5 a 20% dos tumores da tireoide • Mais frequente após 60 anos • Pior prognóstico o Invasivos o Metástases ósseas e pulmonares o Sexo masculino o Tamanho o Idade o Extensão o Invasão capsular e vascular • 5 a 20% com metástase à distância ao diagnóstico (disseminação hematogênica) Geovana Sanches, TXXIV • Intensamente vascularizados ao ultrassom Adenoma e carcinoma de Hurthle • Células oncocíticas • Variante das lesões foliculares • Pior prognóstico CARCINOMA MEDULAR • 5 a 10% dos tumores malignos da tireoide • Origem nas células C (parafoliculares) produtoras de calcitonina • Esporádicos (70 a 80%) ou familiares (NEM 2 A e B) • 20 a 40% dos pacientes tem sintomas sistêmicos devido a calcitonina alta o Diarreia o Fogachos o Rubor facial o Outros • Pode ser lesão circunscrita ou francamente invasiva, com metástases para linfonodos cervicais e mediastino superior, pulmões, ossos e fígado o Durante a cirúrgia é realizado o esvaziamento ganglionar devido ao alto risco de metástase • Recorrência em 1/3 dos pacientes • Sobrevida de 65 a 95% em 5 anos, a depender da extensão e invasão do tumor CARCINOMA ANAPLÁSICO • 3 a 5% dos tumores malignos da tireoide • Mais frequente após 60 anos e discretamente mais frequente em mulheres • Crescimento rápido com extensa invasão local e metástases precoces (pulmões, supra-renais, ossos) • Quadro clínico relacionado com o crescimento local: disfagia, dispneia, rouquidão • 50% das lesões são inoperáveis e metastáticas ao diagnóstico • Prognóstico ruim, com sobrevida de 7% em 5 anos LINFOMA PRIMÁRIO • Tumor do sistema hematopoiético que acomete a tireoide o Encaminhar ao hematologista • Incidência < 2% de todos os CA de tireoide • Pico de incidência: 70 anos • Massa indolor com crescimento rápido • Associação com tireoidite autoimune METÁSTASES Pode ocorrer metástases de outros tumores para a tireoide, mas isso não é frequente. TRATAMENTO DOS TUMORES DE TIREOIDE Tireoidectomia O tratamento padrão para os tumores de tireoide é a tireoidectomia total com esvaziamento ganglionar se metástase ganglionar. Após a cirurgia, é realizado tratamento com levotiroxina a fim de manter o TSH baixo (no limite inferior de normalidade), tendo em vista que esse hormônio estimula o crescimento da tireoide. Radioiodoterapia É indicada em tumores de alto risco (idade, tamanho, tipo histológico, metástases, Tg elevada) e para tratamento de metástases. Aplicar com TSH > 30 Controle pós-operatório • Dosagem de Tireoglobulina: tendo em vista que apenas o tecido tireoidiano produz Tg, caso ele seja encontrado isso significa que há tecido remanescente. • Anti-Tg • TSH • Ultrassom de pescoço • Raio-x de tórax • PCI (pesquisa de corpo inteiro): é uma cintilografia feita com iodo para verificar se há locais de captação do mesmo. Caso haja captação, isso indica que há tecido tireoidiano remanescente ou metástase. o É realizado apenas nos primeiros anos do pós-operatório, sendo que posteriormente só é necessário caso seja encontrado aumento de tireoglobulina. HIPERTIREOIDISMO Apesar do hipertireoidismo ser uma doença mais rara que o hipotireoidismo, também apresenta epidemiologia importante. Geovana Sanches, TXXIV EIXO HIPOTALÂMICO HIPOFISÁRIO TIREOIDIANO DEFINIÇÃO Tireotoxicose A tireotoxicose se refere ao excesso de hormônio tireoidiano (HT) nos tecidos, independente da fonte hormonal. Sendo assim, esse hormônio pode ser decorrente da própria tireoide (hipertireoidismo), ou ainda da ingestão de HT e tecido tireoidiano ectópico. Ao exame, caso a origem não seja a glândula, o paciente não a apresenta aumentada. Hipertireoidismo Refere-se a produção excessiva dos hormônios tireoidianos pela tireoide, ou seja, há síntese aumentada de T3 e T4. Nesses casos, como a produção é autônoma, o paciente apresenta níveis elevados de hormônio tireoidiano, associado a níveis suprimidos de TSH. Na cintilografia, verifica-se uma glândula hipercaptante. Nas tireoidites subagudas (TSA), ocorre destruição da tireoide com liberação de hormônios pré-formados pela glândula, o que leva a supressão do TSH e elevação das concentrações de T3 e T4. Nesses casos, a distinção com os estados de hiperfunção tireoidiana é feita pela determinação da captação tireoidiana do 131I (RAIU) nas 24 horas. Esta última se encontra muito baixo ou indetectável nas TSA e praticamente sempre elevadas nas outras condições. TIREOTOXICOSE COM HIPERTIROIDISMO • Doença de Graves (80%) • Bócio Multinodular Tóxico (BMT) • Adenoma Multinodular Tóxico • Adenoma tóxico (doença de Pliummer) • Excesso de iodo (Sd. de Job-Basedow) • Tumores trofoblásticos (HCG) o Há excesso de HCG, o qual se assemelha muito ao TSH e estimula a produção de T4 livre pela tireoide § HCG, TSH, LH e FSH apresentam a mesma unidade alfa • Hipertireoidismo central (î TSH) • Hipertireoidismo familiar • Hipertireoidismo neonato transitório TIRETOTOXICOSE SEM HIPERTIROIDISMO • Tireotoxicose factícia: uso exógeno de hormônios tireoidianos • Tireoidites (sem hiperfunção) o A primeira fase das tireoidites envolve lise celular e, conforme isso ocorre, há liberação dos HTs. o Considera-se que não há hiper- tireoidismo pois não há aumento da produção, apenas liberação do hormônio já formado previamente § Não há hipercaptação na cintilografia. • Tecidos tireoidianos ectópicos: struma ovarii, metástase de câncer folicular DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE TIREOTOXICOSE • Feocromocitoma: tumor das adrenais, produtor de adrenalina e noradrenalina • Arritmias • Ansiedade • Síndrome de abstinência • Uso de cocaína, ecstasy • Menopausa o Fogachos QUADRO CLÍINCO O aumento de T3 aumenta a sensibilidade dos receptores de adrenalina, de forma que os sinais e sintomas condizem com ativação adrenérgica (resposta simpática). Sinais e sintomas Frequência Nervosismo 99% Taquicardia 99% Tremor fino de extremidades 97% Aumento de sudorese 91% Intolerância ao calor 89% Palpitação 89% Sinais oculares 71% Aumento de PAS e PAD Perde de peso 85% Fraqueza 70% Aumento do apetite 65% Geovana Sanches, TXXIV Aumento do hábito intestinal 33% Fibrilação atrial 10% Aumento do peso 2% Dispneia Paralisia periódica Hipocalcemia tireotóxica Taquicinético (inquietude) DOENÇA DE GRAVES A doença de Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo. Ela acomete de 5 a 10 vezes mais mulheres do que homens, com pico de incidência entre os 30 aos 60 anos. Está associada a outros distúrbios autoimunes endócrinos, como DM1, e não endócrino, como miastenia gravis, LES, artritereumatoide, entre outros. Em 97% dos casos, se manifesta por um bócio difuso associado a tireotoxicose, orbitopatia infiltrativa, oftalmopatia e dermopatia (mais rara, porém muito característica da doença). Entre 10 e 20% dos pacientes apresentam remissão espontânea da doença. Por outro lado, na ausência de qualquer tratamento, cerca de 50% deles se tornam hipotireoideos após 20 a 30 anos de doença. Devido a complicações cardiovasculares do hipertireoidismo (taquiarritmias, insuficiência cardíaca e fenômenos tromboembólicos), a doença de Graves não tratada se mostra potencialmente fatal, sendo de suma importância que seu diagnóstico e tratamento sejam precoces. Fisiopatologia O hipertireoidismo da doença de Graves se origina da produção de anticorpos contra o TSHR (TRAb) pelos linfócitos B. Tais anticorpos se ligam ao TSHR e ativam complexos de sinalização das proteínas Gsα e Gsq, o que, em última análise, resulta em crescimento da tireoide, aumento de sua vascularização e incremento da taxa de produção e secreção dos hormônios tireoidianos. Ao se ligarem ao receptor do TSH, os TRAbs estimulam a síntese e liberação de T3 e T4, os quais, por sua vez, exercem retroalimentação negativa sobre a hipófise (mas não sobre os TRAb). Como consequência, há elevação de T3 e T4, associado à supressão do TSH. Além do TRAb, podem ser identificados o anticorpo anti-peroxidase (Anti-TPO) e o anticorpo anti-tireoglobulina (Anti-TG). Quando esses anticorpos são identificados em exames e há quadro clínico e laboratorial (TSH baixo com T3 e T4 aumentados) compatíveis, a chance de Doença de Graves é muito grande. Indaga-se a predisposição genética para a doença e hoje acredita-se que ela exista. Todavia, isso não basta, havendo grande interferência de fatores ambientais: • Cigarro • Estresse: muitos pacientes têm história de trauma emocional anterior ao desenvolvimento da doença. • Infecção Prevalência dos anticorpos antitireoidianos • DTA: doença autoimune da tireoide Apresentação Cerca de 80% dos pacientes cursam com sintomas de hipertireoidismo e apresentam bócio difuso sem nódulos (podem ter nódulos, mas isso não é comum), que pode dobrar ou até triplicar o tamanho da glândula. A consistência é geralmente fibroelástica (sem alterações) e a vascularização e aumentada, podendo gerar frêmitos nos polos superiores. As mãos dos pacientes costumam quer quentes e úmidas, acompanhado de tremor. De modo geral, quanto mais idoso é o paciente, mais atípicas são as manifestações da doença de Graves. Sintomas Os sintomas mais comuns são nervosismo, sudorese excessiva, intolerância ao calor, palpitação, fadiga, perda de peso, dispneia, fraqueza, aumento do apetite e queixas oculares, os quais acometem mais da metade dos pacientes. Outros possíveis sintomas são edema de MMII, hiperdefecação (aumento do número de idas ao banheiro, porém sem diarreia), diarreia, distúrbios Geovana Sanches, TXXIV menstruais (amenorreia), anorexia, constipação intestinal e ganho ponderal. Oftalmopatia A oftalmopatia é uma manifestação do hipertireoidismo que consiste na retração e tremor palpebral. Trata-se de uma inflamação e edema da musculatura ocular extrínseca e gordura orbital que gera: • Proptose ou exoftalmia o Olho “para fora”, com olhar assustado o Edema periorbital e exoftalmia praticamente confirmar o diagnóstico de Doença de Graves • Acometimento dos músculos extra- oculares • Compressão do nervo óptico o Emergência oftálmica Mesmo com a melhora da doença de Graves, essa condição pode não melhorar. Sendo assim, o curso da oftalmopatia é independente da tireotoxicose e do tratamento. Esses pacientes podem ser encaminhados para o oftalmologista, o qual solicita uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética para verificar se há alterações oculares (além da estética). Orbitopatia • Curso clínico as vezes é independente da tireotoxicose e do tratamento, mas raramente ocorre sem tireotoxicose • Geralmente bilateral • Clinicamente: 50% dos pacientes tem orbitopatia • TC ou RNM demonstram alterações na maioria dos casos • Fator de piora: hipotireoidismo; tabagismo Quadro clínico • Irritação, sensação de corpo estranho, olho seco • Edema e hiperemia de conjuntiva (quemose) • Ceratite com úlcera de córnea • Diplopia, visão embaçada o Sinal de gravidade, sendo necessário o encaminhamento ao oftalmologista com urgência Exame físico • Olhar assustado • Edema palpebral • Borda visível da esclera entre a pálpebra superior e a margem superior da íris durante o olhar para baixo (lid lag) o Hiperatividade adrenérgica o Retardo na descida da pálpebra superior quando o globo ocular é movido para baixo § A pálpebra é mais lenta do que o olho • Sinais de inflamação da conjuntiva • Paralisia da musculatura ocular extrínseca Dermopatia Mixedema pré-tibial • Manifestação tardia e rara, acometendo de 5 a 10% dos indivíduos • 99% dos portadores de dermopatias têm orbitopatia associada o Presente nas formas graves da doença Geovana Sanches, TXXIV • Edema pré-tibial não depressível (sem sinal do cacifo), decorrente do acúmulo de mucopolissacarídeos (substâncias hidrofílicas) • Em geral, acometimento nas áreas de trauma, com aspecto de casca de laranja • Títulos elevados de TRAb o Normalmente permanece em torno de 1.75, sendo que nesses indivíduos pode chegar a 30 Diagnóstico da doença de graves • Quadro clínico • TSH suprimido, T3 e T4 livre aumentados • TRAb (+) o Há doença de Graves com TRAb negativo o Pode-se solicitar Anti-TPO e anti- TGP, os quais podem ser positivos • Cintilografia o Útil apenas no diagnóstico diferencial o Solicitado especialmente para diagnóstico diferencial, sendo que caso seja DG haverá hipercaptação difusa e caso seja por hormônio exógeno, haverá hipocaptação. • Ultrassom de tireoide com doppler colorido o Normalmente é solicitado em todos os casos de Doença de Graves, sendo útil para o segmento de tamanho do bócio e avaliação da existência de nódulos. o Demonstra a glândula aumentada, hipercaptante, com vascularização exuberante. § Tamanho normal da tireoide: 5 a 15 cm3 § Na DG: pode chegar a 90 cm3 • Inespecíficos o Leucopenia: decorrente do processo autoimune o Hipercalciúria o Hipercalcemia § Há receptor de T4 no osso, aumento o turn-over ósseo e, consequentemente, a liberação de cálcio o Redução de CT (LDL): o T4 livre estimula o aumento dos receptores de LDL no fígado, de forma que quando esta passa na circulação, é rapidamente captado, deixando o sangue. Cintilografia Ultrassonografia • Observação: para realizar uma punção de nódulo de tireoide, o paciente deve estar com níveis normais de T4 livre. Isso pois, ao puncionar um individuo descontrolado, pode-se ocasionar uma tempestade tireotóxica. Doença de Graves em idosos A maioria dos idosos cm DG apresentam menos sinais e sintomas, mas isso não é uma realidade para todos eles. • Menos irritabilidade e intolerância ao calor • Bócio discreto ou ausente • Mais evidente: o Perda de peso o Hipertireoidismo apático § Depressão o Fibrilação atrial o Osteoporose Tratamento primário da Doença de Graves O tratamento da doença de Graves é realizado com drogas anti-tireoidianas, tais como metimazol (Tapazol®), carbimazol ou propriltiouracil. Esse tratamento é não ablativo, ou seja, não definitivo – isso é de extrema importância, pois devemos lembrar que cerca de 50% dos pacientes tem remissão da doença. Em geral, faz-se tratamento por ao menos 1,5 ano a fim de verificar se o paciente retorna ao estado normal. O iodeto de potássio é descrito como uma opção terapêutica para pacientes com alergia a Geovana Sanches, TXXIV drogas anti-tireoidianas, mas ele não é utilizado na doença de Graves normalmente. Oiodo radioativo, por sua vez, é um tratamento definitivo e, para ser realizado, a doença deve estar anteriormente controlada, tendo em vista o risco de toxicidade (lise celular com liberação do hormônio na circulação). Após o tratamento, a maioria dos pacientes evoluem com hipotireoidismo e piora da oftalmopatia, sendo que esta última constitui uma contra-indicação para esse tratamento. A cirurgia (tireoidectomia total) é outro tratamento definitivo, sendo indicada principalmente na oftalmopatia e alteração cardíaca muito importante, assim como na presença de nódulos suspeitos. Idealmente, faz-se ao menos um tratamento clínico antes de indicar um tratamento definitivo. Crise tireotóxica • Quadro mais grave de hipertireoidismo • Fatores precipitantes: infecção, trauma, ingestão de iodo, uso de contraste iodado • Diagnóstico clínico: não é necessário a realização de exames para confirmação do diagnóstico • Hipertermia, taquicardia (ICC), diarreia, vômitos, icterícia, psicose • Emergência médica • Tratamento imediato o Tratamento anti-tireoidiano § PTU: propiltiouracil (nos EUA tem apresentação EV) o Beta-bloqueadores o CO o Medidas de suporte Gestação Durante a gravidez, o anti-tireoideano de escolha é o PTU (propiltiouracil), especialmente no primeiro trimestre, devido ao risco de aplasia cútis do metimazol. • Usar sempre a menor dose possível • Sem controle: CX no 2º trimestre • Risco para o feto: descolamento de placenta, pré-eclâmpsia, abortamento, prematuridade, nascimento com hipertireoidismo pré-natal BÓCIO MULTINODULAR TÓXICO Bócio multinodular tóxico diz respeito ao hipertireoidismo que se origina de um bócio multinodular, geralmente de longa duração. Esse bócio normalmente é irregular, assimétrico e com vários nódulos. Em geral, acomete mulheres mais velhas, com maior incidência em lugares onde há deficiência de idoso. A mudança de fase não-tóxica para tóxica ocorre em cerca de 10% dos casos e é mais frequente em bócios maiores. Questiona-se se essa mudança está associada a exposição à maior concentração de iodo. Quadro clínico e exames laboratoriais • Bócio de longa duração • Acomete mais idosos • Quadro clínico mais leve • Não tem oftalmopatia • Laboratório o Anticorpos anti-tireoidianos negativos o TSH suprimido o T3 eT4 aumentados Geovana Sanches, TXXIV ADENOMA TÓXICO: DOENÇA DE PLUMMER O adenoma tóxico é um tumor benigno caracterizado pela presença de um único nódulo (adenoma folicular) em glândula normal. Em geral, esse nódulo cresce lentamente e, quando apresenta mais do que 3 cm, costuma provocar hipertireoidismo; o restante da glândula começa a ficar suprimida. A doença acomete adultos e é decorrente de mutações somáticas no gene TSHR, com ganho de função. O quadro clínico inclui onicólise (unha de plummer) e descolamento da unha do leito ungueal. Exames laboratoriais • No início: o TSH suprimido, com T3 e T4 normais (hipertireoidismo subclínico) o Quando TSH suprimido e T3 e T4 aumentados à hipertireoidismo • Causa mais frequente de toxicose por T3 • Anticorpos anti=-tireoidianos negativos • USG: nódulo único • Cintilografia: nódulo único com restante da glândula suprimida (há hipercaptação apenas no nódulo) Familiar não autoimune • Início precoce • Padrão familiar • Difícil tratamento • Anticorpos negativos Tratamento • Tionamidas o PTU: inibe a conversão periférica de T4 em T3 o Metimazol: inibe a enzima TPO (a qual participa da sintetize T4 e T3) • Complicações: agranulocitose (redução de leucócitos) com consequente IVAS o Quando o paciente tem febre, é importante ir ao pronto-socorro para verificar se há redução de leucócitos no hemograma • Dose terapêutica com I-131: alto risco em plummer e DG • Cirurgia: é recomendada na presença do nódulo único o Deve-se realizar dieta sem iodo anteriormente • Complicação do tratamento: hipotireoidismo FLUXOGRAMA