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ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS PARA O TRABALHADOR EM UMA LAVANDERIA HOSPITALAR
Conference Paper · November 2010
DOI: 10.13140/2.1.4686.0805
	
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3 authors, including:
Daily Morales
State University of Maringá - UEM
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Maria de Lourdes Santiago Luz Universidade Estadual de Maringá
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A
)NÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS PARA O TRABALHADOR EM UMA LAVANDERIA HOSPITALAR
DAILY MORALES (UEM)
dmorales@uem.br
MARIA DE LOURDES SANTIAGO LUZ (UEM)
santluz@ibest.com.br
MARINA MACHADO DA SILVA (UEM)
marinamachado_@hotmail.com
Resumo: O PRESENTE TRABALHO ABORDA O TRABALHO EM UMA LAVANDERIA HOSPITALAR, ENFATIZANDO AS QUESTÕES ERGONÔMICAS RELATIVAS À ANÁLISE DA TAREFA E, MAIS, ESPECIFICAMENTE, OS CONSTRANGIMENTOS POSTURAIS IMPOSTOS AOS TRABALHADORES. BUSCOU-SE IDENTIFICAR OS ITENS DE DEMANDA ERGONÔMICA A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS QUANTO AOS TIPOS DE DESCONFORTOS EXPERIMENTADOS PELOS MESMOS E DA ANÁLISE DAS TAREFAS EXECUTADAS PELOS TRABALHADORES PREDISPONENTES PARA O SURGIMENTO DE DOENÇAS OSTEOMUSCULARES RELACIONADAS AO TRABALHO (DORT). A AVALIAÇÃO ERGONÔMICA SEGUIU A METODOLOGIA OWAS (OVAKO WORKING POSTURE ANALYSIS) ATRAVÉS DA ANALISE DO REGISTRO EM VÍDEO DAS ATIVIDADES LABORAIS EXECUTADAS PELOS TRABALHADORES E O USO DE QUESTIONÁRIOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE DESCONFORTOS FÍSICOS EXPERIMENTADOS PELOS TRABALHADORES. A ANALISE DOS RESULTADOS DOS DADOS OBTIDOS POSSIBILITOU PERCEBER QUE, DENTRE OS VÁRIOS SEGMENTOS CORPORAIS, OS OMBROS, BRAÇOS E A COLUNA SÃO OS MAIS AFETADOS, RESULTADOS ESTES QUE CORROBORAM A PERCEPÇÃO DE DESCONFORTO/DOR CONFORME RELATADOS NA LITERATURA, OS QUAIS IDENTIFICAM A REGIÃO CÉRVICO-TORÁCICA COMO A DE MAIOR ACOMETIMENTO, RESULTANDO, COMO CONSEQÜÊNCIA UM COMPROMETIMENTO DOS OMBROS NA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES LABORAIS.
Palavras-chaves: ERGONÔMICA; ANÁLISE DA TAREFA; LAVANDERIA HOSPITALAR
ERGONOMIC RISK ANALYSIS FOR WORKERS IN A HOSPITAL LAUNDRY
Abstract: THIS PAPER DISCUSSES THE WORK IN A HOSPITAL LAUNDRY, EMPHASIZING THE ERGONOMIC ISSUES RELATED TO THE ANALYSIS OF THE TASK AND, MORE SPECIFICALLY, THE POSTURAL CONSTRAINTS IMPOSED ON WORKERS. WE TRIED TO IDENTIFY ITEMS ERGONOMIC DEMAND FROM THE PERCEPTION OF EMPLOYEES REGARDING THE TYPES OF DISCOMFORT EXPERIENCED BY OURSELVES AND ANALYSIS OF TASKS PERFORMED BY WORKERS THAT PREDISPOSE TO THE EMERGENCE OF WORK RELATED MUSCULOSKELETAL DISORDERS (WMSDS). THE ERGONOMIC EVALUATION FOLLOWED THE METHODOLOGY OWAS (OVAKO WORKING POSTURE ANALYSIS) BY ANALYZING THE VIDEO DOCUMENTATION OF WORK ACTIVITIES PERFORMED BY WORKERS AND THE USE OF QUESTIONNAIRES TO IDENTIFY AREAS OF PHYSICAL DISCOMFORT EXPERIENCED BY WORKERS. THE ANALYSIS OF THE RESULTS OF THE DATA OBTAINED ALLOWED REALIZE THAT AMONG THE VARIOUS SEGMENTS OF THE BODY, SHOULDERS, ARMS AND SPINE ARE THE MOST AFFECTED, THESE RESULTS CORROBORATE THE PERCEPTION OF DISCOMFORT / PAIN AS REPORTED IN THE LITERATURE, WHICH IDENTIFY THE CERVICAL REGION CHEST AS THE MOST AFFECTED, RESULTING AS A CONSEQUENCE AN IMPAIRMENT OF THE SHOULDER IN CARRYING OUT WORK ACTIVITIES.
Keyword: ERGONOMICS; TASK ANALYSIS; HOSPITAL LAUNDRY
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1. Introdução
Ao analisar os aspectos característicos relacionados à complexidade de uma organização hospitalar, Mirshawka (1994), conclui que “de todas as empresas modernas, nenhuma é mais complexa do que o hospital. Como objetivo fundamental, ele tem um simples propósito: receber o corpo humano quando, por alguma razão, se tornou doente ou ferido, e cuidar dele de modo a restaurá-lo ao normal, ou tão próximo quanto possível do normal”.
Neste sistema, a lavanderia hospitalar constitui-se em um dos serviços de apoio ao atendimento do paciente, responsável pelo processamento da roupa e sua distribuição em perfeitas condições de higiene e conservação, em quantidade adequada a todas as unidades do hospital. Da eficácia de seu funcionamento, depende a eficiência do hospital, refletindo-se especialmente nos seguintes aspectos: controle das infecções; recuperação, conforto e segurança do paciente; facilidade, segurança e conforto da equipe de trabalho; racionalização de tempo e material e redução dos custos operacionais (BRASIL, 1986).
De acordo com Prochet (2000) o serviço de processamento de roupas é uma área da saúde pouco conhecida e estudada, que pode, entretanto, representar um grave problema, principalmente pelas condições e riscos que oferece ao trabalhador desse setor, o qual está sujeito aos riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, psicossociais e de acidentes. Dentro dessa classificação destacam-se aqueles relacionados ao uso de produtos químicos, à manipulação e à operação dos equipamentos e a inadequação da infra-estrutura física.
Em seu estudo, Lisboa e Torres (1999 apud CALEGARI, 2003) destacam que uma característica predominante no ambiente das lavanderias hospitalares é adoção de posturas inadequadas por parte dos trabalhadores para a manipulação das máquinas e peças de roupas, chamando atenção para a manutenção de posturas de trabalho essencialmente em pé, ou sentado em grande parte da jornada de trabalho, manipulação de peso excessivo e movimentação de carros de roupa. Além disso, destacam os autores, que os trabalhadores estão submetidos a cargas psíquicas decorrentes do trabalho repetitivo, monótono, manual/automatizado, ritmo intenso (necessidade x demanda), estresse, tensão, ansiedade, trabalho parcelado e insatisfação.
Conforme nos ensina IIDA (2005), em qualquer condição de trabalho considerada, as condições ambientais desfavoráveis de trabalho podem tornar-se uma grande fonte de tensão na execução das tarefas, podendo provocar desconforto, insatisfação, diminuição da produtividade, aumento do risco de acidentes e, conseqüentemente, danos à saúde do trabalhador.
A adoção de posturas incorretas, e ainda o levantamento, transporte e manuseio de cargas com pesos acima dos limites máximos permitidos, ainda que esporadicamente, podem provocar dores, deformações nas articulações, causar artrites e algias, podendo levar a um quadro de incapacitação do trabalhador (IIDA, 2005).
A maior dificuldade em analisar e corrigir a má postura está em identificá-la. Para tanto, a grandeza adotada na pesquisa para a avaliação postural foi o desconforto percebido pelo trabalhador, por ser resultante do mal posicionamento no confronto atividade/tarefa.
Neste trabalho, se procurou analisar os constrangimentos e custos relacionados à atividade laboral em três níveis: exigências e ambiente da tarefa e/ou atividade; condições de
trabalho e efeitos da atividade laboral, diretamente ligado a carga de trabalho e suas conseqüências. limitando a abordagem apenas aos aspectos ergonômicos da análise da tarefa.
O presente trabalho configura-se como um estudo de caso de natureza qualitativa e quantitativa. A natureza qualitativa envolveu a aplicação de um formulário individual e entrevistas estruturadas com o objetivo de caracterizar a população trabalhadora levantando dados a respeito da atividade laboral dos trabalhadores. Já o aspecto quantitativo da pesquisa está no uso do método OWAS (Ovako Working Posture Analyzing System) o qual, segundo IIDA (2005),cria informações para melhoria dos métodos de trabalho pela identificação de posturas corporais inadequadas durante a realização da atividade.
Criado na década de 1970 pela Ovako Oy Company e o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, este método foi, inicialmente, concebido como uma ferramenta para análise das posturas adotadas pelos trabalhadores na indústria do aço. Sua nomenclatura “OWAS” deriva- se de Ovako Working Posture Analysing System tendo sido proposto por três pesquisadores finlandeses (KARHU; KANSI; KOURINKA, 1977). Estes pesquisadores encontraram 72 posturas típicas resultantes de diferentes combinações das posições do dorso (4 posições típicas), braços (3 posições típicas) e pernas (7 posições típicas). Conforme IIDA (2005), esse método criou informações para melhorias dos métodos de trabalho pela identificação de posturas corporais inadequadas durante a realização das atividades laborais.
Durante a observação são consideradas as posturas relacionadas às costas, braços, pernas, ao uso de força e a fase da atividade que está sendo observada, sendo atribuídos valores e um código de seis dígitos. O primeiro dígito do código indica a posição das costas, o segundo, posição dos braços, o terceiro, das pernas, o quarto indica levantamento de carga ou uso de força . Dois dígitos são reservados para fase da atividade variando de 00 a 99, selecionados a partir da subdivisão de tarefas. A combinação das posições das costas, braços e pernas determinam níveis de ação para as medidas corretivas.
2. Descrição do setor estudado
O trabalho de pesquisa foi desenvolvido na lavanderia hospitalar do Hospital Universitário Regional de Maringá – HUM no período de dezembro/2009 a março/2010. Atendendo a pacientes vindos de aproximadamente 30 cidades localizadas no entorno da cidade de Maringá, no HUM são realizados mais de 6000 atendimentos/mês, dos quais aproximadamente 230 são cirurgias. No seu Pronto Socorro são atendidos em média 100 pessoas/dia.
A lavanderia hospitalar conta com 22 funcionários em atividade. Deste total, 19 responderam o questionário para identificação, representando 86,3 % da força de trabalho. Diariamente, a lavanderia processa entre 1300 a 1500 kg de roupas em três turnos de trabalho.
2.1 Processamento da roupa
A principal medida introduzida na moderna lavanderia hospitalar, para o controle das infecções, foi a instalação da barreira de contaminação que separa a lavanderia em duas áreas distintas (BRASIL, 1986):
a) Área suja ou contaminada: destinada à coleta, separação, pesagem e processo de lavagem da roupa hospitalar;
b) Área limpa: destinada a centrifugagem, secagem, calandragem e prensagem da roupa hospitalar.
2.1.1 Processamento da roupa na área suja
Na área de recepção, a roupa é retirada do carro de coleta, a fim de ser separada e pesada. Na área de separação, os sacos de roupa suja são pesados e o resultado do peso é registrado. A boa lavagem começa na separação da roupa suja, quando será classificada segundo o grau de sujidade, tipo de tecido e cor. Após a separação, já em lotes, fardos ou sacos identificados, a roupa é novamente pesada em balança bem nivelada, para controle contábil operacional da lavanderia e da capacidade das lavadoras. Após a pesagem, os fardos ou sacos de roupa identificados devem ser levados até a(s) lavadora(s), onde todo o material necessário para a lavagem deve ser colocado à mão, para evitar desperdícios de tempo e energia.
Finalmente, é executada a lavagem da roupa, que consiste na eliminação da sujeira fixada na roupa, deixando-a com aspecto e cheiro agradáveis, nível bacteriológico reduzido ao mínimo e confortável para o uso. Não existe um único processo de lavagem para toda a roupa do hospital, daí a necessidade de classificação ou triagem da mesma, para se determinar o ciclo a ser utilizado.
2.1.2 Processamento da roupa na área limpa
Terminada a operação ou ciclo de lavagem, a roupa passa por um processo que consiste nas seguintes operações: centrifugagem, secagem, armazenamento e distribuição.
Dependendo do tipo de roupa a ser processada, é realizada, após a secagem, a calandragem, operação que seca e passa ao mesmo tempo as peças de roupa lisa (lençóis, conchas leves e campos). Após o aquecimento, a calandra deve ser operada continuamente, em determinado período, para evitar desperdício de energia. Nsta operação, são necessários dois operadores para colocar a roupa molhada e dois para retirar e dobrar a roupa seca ao mesmo tempo. Ao se retirar a roupa, faz-se uma seleção das roupas danificadas, que deverão ser encaminhadas para a costura para reparo ou baixa.
FIGURA 1. Fluxograma de funcionamento de uma lavanderia hospitalar (Adaptado de BRASIL, 1986).
Depois de secar, as roupas são retiradas da secadora e colocadas em carros-cestos apropriados, sendo então selecionadas, dobradas e encaminhadas para a rouparia para repouso. Na seleção, a roupa danificada é encaminhada para o setor de costura para reparo ou baixa.
A rouparia é um elemento da área física, complementar a área limpa, e centraliza o movimento de toda a roupa do hospital. A centralização em um único local permite um controle eficiente da roupa limpa, do estoque e sua distribuição adequada, em quantidade e qualidade, às diversas unidades do hospital. É na rouparia que se faz a estocagem (repouso) da roupa, distribuição e costura, incluindo conserto, baixa e reaproveitamento.
As atividades da lavanderia são desenvolvidas fundamentalmente em duas posições: em pé com postura estática ou limitada a um pequeno espaço no entorno do funcionário e andando. Nesta última posição são desenvolvidas as atividades de coleta e distribuição das roupas processadas na lavanderia. Nenhuma atividade é desenvolvida com o trabalhador na posição sentado. As tarefas consideradas mais cansativas pelos funcionários são as de centrifugação e calandragem (Figura 2).
 (
Atividades
 
mais
 
cansativas
3,4% 
3,4%
6,9%
20,7%
13,8%
20,7%
13,8%
17,2%
Atividade
Centrifugação
 
Calandragem
 
Distribuição
Coleta
 
Dobragem
 
Separação
 
Pesagem
 
Secagem
)
FIGURA 2. Tarefas consideradas mais cansativas pelos funcionários da lavanderia.
3. Metodologia
O trabalho foi filmado e fotografado, sendo este material utilizado para a análise postural dos trabalhadores com o objetivo de cruzarem-se os dados das entrevistas com a observação dos postos de trabalho (Figura 3).
	
	
	
	
FIGURA 3. Posturas adotadas pelo funcionário durante a atividade de coleta.
Para facilitar o registro e determinar o nível de esforço físico, foi utilizado o software WinOWAS, disponibilizado pelo grupo de pesquisa em engenharia de saúde ocupacional da Tempere University of Technology (TEMPERE UNIVERSITY OF TECHNOLOGY, 2010). Cada atividade, depois de registradas as suas fases constituintes, foi cronometrada, tendo-se atribuído a cada uma delas um índice associado à postura assumida pelas costas, braços, pernas e também pela carga movimentada pelo trabalhador ao executar a atividade (Figura 4).
FIGURA 4. Tarefas Recomendações de ações para a coleta segundo a metodologia OWAS.
Com o objetivo de detectar aspectos importantes do ambiente de trabalho e, que poderiam passar despercebidos durante a avaliação in loco, foi feita uma entrevista individual com os trabalhadores. Tal entrevista, com duração de, no máximo dez minutos, foi realizada no próprio local de trabalho, com o uso de um questionário para identificação das áreas dolorosas, conforme proposto por Corlett e Manenica (1980 apud IIDA, 2005). e que tem por finalidade detectar e registrar os níveis de desconforto associados a desenvolvimento das atividades laborais.
4. Resultados e Discussão
Na lavanderia, as atividades são desenvolvidas em três turnos de trabalho. Cada trabalhador exerce uma ou mais atividades. Quanto à jornada extra de trabalho, 95% dos funcionários entrevistados afirmaram exercer um tempo de atividade que excede a jornada normal de trabalho. A extensão da jornada de trabalho além do normal vai desde um período de 6 até 36 horas extras, ficando o valormédio ponderado semanal de 16,5 horas extras por funcionário.
Quando questionados sobre a existência ou não de desconfortos físicos experimentados nos últimos 6 meses, 79% dos funcionários entrevistados responderam afirmativamente, enquanto 21% disseram não ter experimentado nenhum desconforto físico durante este período. Com relação aos desconfortos físicos, a maior parte dos relatos está relacionada a sensação de peso e dor contínua, conforme é possível visualizar na Figura 5.
Com respeito aos funcionários que relataram sensação de desconforto físico, 27% afirmam que este desconforto tem sido experimentado em um período que vai de seis meses a um ano, enquanto que 73% relataram que esta sensação de desconforto os acompanha há mais de um ano.
 (
Tipo
 
de
 
Desconforto
 
Físico
9,4%
31,3%
28,1%
31,3%
Desconforto
 
Peso
Dor
 
-
 
Contínua
 
Formigamento
 
Dor
 
-
 
Agulhada
)
FIGURA 5. Tipos de desconforto físico relatados pelos funcionários da lavanderia hospitalar.
A coleta se caracteriza predominantemente pelas atividades de empurrar os carrinhos, coletar os sacos contendo as roupas sujas, colocando-os a seguir dentro do carrinho de transporte. Pelo fato do HUM ser construído em um único pavimento, não havendo rampas a serem transpostas, o principal constrangimento experimentado pelo trabalhador no desenvolvimento desta tarefa está relacionado à inclinação (18%) das costas necessária para retirar os sacos contendo roupas sujas do interior dos hampers ou os próprios hampers e, em seguida, inserir os sacos dentro do carrinho de transporte, ter de fazê-lo elevando o braço acima dos ombros (64%) suportando uma carga média de 7 kg aproximadamente durante estas atividades. Muito embora a combinação de posturas indique que não haja necessidade de correções imediatas, a indicação de 18,2% dos funcionários de que esta é a atividade que mais contribui para o desconforto, sugere que uma avaliação mais aprofundada seja realizada, procurando-se se estabelecer quais outros fatores, além do constrangimento físico estaria contribuindo para este quadro.
As atividades de recepção, separação e lavagem, caracterizam-se por impor constrangimentos significativos ao trabalhador. Com relação a posição da coluna do trabalhador, em 12% da atividade, esta se encontra curvada e rotacionada, condição mais severa possível de ser adotada. Em outros 70%, a coluna se encontra inclinada. Pelo fato de caber ao responsável pela recepção o descarregamento dos carrinhos e a separação das roupas, muitas delas relativamente compridas tais como lençóis e cobertores, em uma parte significativa do tempo será necessário que o trabalhador mantenha um (57%) ou ambos (18%) os braços acima dos ombros. Quanto à posição das pernas, devido à postura adotada pelo trabalhador na execução das atividades, em 82% do tempo este se encontra apoiado em apenas uma delas. Outro fator importante a ser destacado são as condições de espaço em que o trabalhador realiza as suas atividades, sendo este incompatível com a demanda atual pelos serviços da lavanderia. Muito embora o esforço físico em cada etapa seja inferior a 10 Kg, esta combinação de posturas faz com que correções sejam necessárias tão logo seja possível. Um fator complicador é que, dentre as atividades da lavanderia, estas são as que apresentam o menor percentual de rotatividade.
Embora não faça parte do escopo deste trabalho, foi possível observar que as condições ambientais do setor de recepção, separação e lavagem são bastante inadequadas, sendo relatado pelos trabalhadores que nele atuam que constantemente o sistema de condicionamento de ar fica inoperante, gerando desconforto térmico. Além disso, a presença de produtos químicos, necessários ao processamento das roupas, gera uma atmosfera inadequada e potencialmente perigosa para a saúde do trabalhador.
A atividade de centrifugação compreende o descarregamento da lavadora e o carregamento e descarregamento da centrífuga. Ao executar tais tarefas, o trabalhador experimenta diversos constrangimentos destacando-se aqueles relativos à postura adotada pela coluna vertebral. Em 75% do tempo, esta se encontra inclinada e no tempo restante (25%) inclinada e rotacionada. Além disso, pelo fato da roupa processada nesta fase, sobretudo na transferência entre a lavadora e a centrífuga, encontrar-se úmida, faz com que o peso da mesma seja, em média, 20% maior do que seu peso seco. Outro fator a ser considerado é que, durante a lavagem, ocorre um entrelaçamento das roupas, sobretudo daquelas maiores como lençóis e cobertores, dificultando o manuseio das mesmas.
Quanto à calandragem, a operação é realizada por quatro trabalhadores simultaneamente, dois posicionados na parte anterior, colocando as peças de roupa na calandra e dois na parte posterior, retirando as roupas passadas. A postura adotada na execução destas atividades, sobretudo devido à rotação (25%) e inclinação (25%) da coluna, causam constrangimentos ao trabalhador. Quanto à posição dos braços, aproximadamente 50% da atividade é realizada com ambos os braços acima dos ombros. Em determinadas situações, tais atividades são realizadas por apenas um trabalhador, o que causa constrangimentos maiores do que os usuais, sobretudo quando do processamento de peças de roupa maiores, tais como cobertores e lençóis.
A calandragem, juntamente com a coleta e dobragem, constituem-se nas atividades que, segundo os trabalhadores, mais contribui para o desconforto dos mesmos. Porém, diferentemente da coleta, um número significativo de funcionário reveza-se no desenvolvimento desta atividade, devendo-se o relato de desconforto muito provavelmente estar associado às condições de desconforto térmico experimentadas pelos trabalhadores nesta atividade. Recomenda-se que ações sejam tomadas tão logo seja possível.
A dobragem e estocagem são as atividades nas quais há a primeira e terceiras maiores rotatividades de trabalhadores dentro da lavanderia (18,8% e 12,5%, respectivamente). A atividade é executada em pé e os principais constrangimentos experimentados pelos trabalhadores relacionam-se com a inclinação da coluna (33%) e a posição dos braços acima dos ombros (33%). O constrangimento relacionado à inclinação da coluna explica-se pelo fato de que a mesa utilizada para a execução da atividade é baixa, exigindo, sobretudo dos funcionários de maior estatura, que estes se inclinem sobre a mesma. Quanto ao constrangimento relacionado à posição dos braços acima dos ombros, este se deve ao fato de que muitas peças de roupas, pelo fato de serem grandes, exigem por parte do trabalhador que este eleve os braços a fim de poder dobrá-la adequadamente. Esta postura também é necessária quando, posteriormente, o trabalhador necessita guardar a roupa passada e dobrada nos carrinhos de transporte das roupas limpas.
A distribuição, última etapa no processamento das roupas pela lavanderia, é feita com o uso de carrinhos próprios para o transporte constituindo-se na quarta atividade que, na opinião dos trabalhadores, mais contribui para o desconforto físico. Tais carrinhos, com altura aproximada de 2,00 m, são cobertos por uma capa para evitar que, durante o transporte, a roupa já limpa, fique exposta a agentes contaminantes. Com a finalidade de atender a demanda, muitas vezes esta operação é realizada com dois carrinhos simultaneamente. O fato do HUM não apresentar desníveis nos seus diversos setores, faz com que a força necessária para o deslocamento dos carrinhos de transporte da roupa limpa não seja muito significativo, pressupondo-se que haja uma manutenção adequada do sistema de rodas do mesmo. Isto faz com que o principal constrangimento relacionado a esta atividade seja a posição dos braços adotada pelo trabalhador no momento que este empurra o carrinho ou então empurra e puxa
quando do uso de dois carrinhos simultaneamente. Nesta última condição, a coluna do trabalhador encontra-se rotacionada (100%) e seus braços posicionados acima dos ombros (50%), necessitando que medidas sejam tomadas o mais brevemente possível.5. Conclusão
No estudo realizado no setor de lavanderia do Hospital Regional Universitário de Maringá (HUM), buscou-se identificar os itens de demanda ergonômica a partir da percepção dos funcionários quanto aos tipos de desconfortos experimentados pelos mesmos e da análise das tarefas executadas pelos trabalhadores predisponentes para o surgimento de Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT).
A analise dos resultados dos dados obtidos por intermédio dos registros em vídeos das atividades laborais e questionários elaborados com o objetivo de identificar quais e em que intensidade os desconfortos físicos são percebidos pelo trabalhador, possibilitou perceber que, dentre os vários segmentos corporais, os ombros, braços e a coluna são os mais afetados, resultados estes que corroboram a percepção de desconforto/dor conforme relatados nos trabalhos de Norlander et al. (1997), os quais identificam a região cérvico-torácica como a de maior acomentimento, resultando, como conseqüência um comprometimento dos ombros na realização das atividades laborais.
Cada atividade de trabalho foi analisada segundo a metodologia OWAS e com o uso do software WinOWAS. O resultado da análise indicou que, alguns dos postos de trabalho, medidas precisam ser tomadas com certa urgência, pois os constrangimentos identificados constituem-se em condições predisponentes para o surgimento da DORT.
5.1 Recomendações de melhorias
Com a finalidade de proporcionar um ambiente e condições mais adequadas para a execução das atividades na lavanderia hospitalar, podemos destacar a necessidade de:
a) Aumentar a área destinada a lavanderia, tanto no que diz respeito à área suja quanto a área limpa, visto que, as condições de superocupação do espaço atualmente disponível geram um ambiente propício para a ocorrência de acidentes de trabalho;
b) Adequar o mobiliário, sobretudo aquele utilizado na dobragem das peças de roupas, reduzindo os constrangimentos provocados pela incompatibilidade entre o perfil antropométrico dos trabalhadores e as dimensões do mobiliário utilizado neste setor. Uma mesa, composta por um sistema de regulagem de altura poderia ser uma solução simples e prática para a solução deste problema;
c) Estabelecer condutas mais seguras, orientando o trabalhador a respeito das possíveis conseqüências a curto e, principalmente, a longo prazo, de posturas e ações/atitudes que sobrecarregam o sistema músculo-esquelético e criam condições propícias para o desenvolvimento de DORT;
d) Adotar a rotatividade como uma prática comum e constante, respeitando-se as individualidades e condições fisiológicas, biomecânicas, antropométricas e psicológicas de cada trabalhador, de forma a garantir uma alternância entre as condições predisponentes a DORT de cada tarefa executada pelos trabalhadores da lavanderia;
e) Realizar um levantamento das condições ambientais relativas à temperatura, umidade, iluminação, ruído e ventilação em que as atividades na lavanderia são executadas, objetivando-se identificar e eliminar e/ou reduzir as condições de insalubridade detectadas;
f) Fazer um levantamento das condições organizacionais, de forma a aferir as condições de clima organizacional existentes na lavanderia, visto que, de acordo com IIDA (2005), tais fatores podem ter uma forte influência no desempenho do trabalho e na saúde do trabalhador.
As necessidades de atuação no ambiente de trabalho identificadas e as propostas de solução apresentadas: redimensionamento da lavanderia hospitalar, adequação do mobiliário, rotatividade dos funcionários nos postos de trabalho, etc. em parte já estão sendo contempladas com o projeto e construção em andamento de uma nova lavanderia hospitalar.
Este estudo sinaliza, ainda, para a necessidade de trabalhos futuros que avaliem os fatores de risco relacionados às condições ambientais e organizacionais, de forma a permitir uma maior compreensão desta atividade tão importante para a atividade hospitalar, mas ao mesmo tempo tão desconhecida e, conseqüentemente, desvalorizada
A análise dos dados relativos a membros/áreas do corpo afetados com os desconfortos físicos, onde predomina a região dos ombros e coluna como sendo as regiões mais afetadas, vem corroborar com os constrangimentos identificados a partir da análise visual e aplicação do método OWAS, sugerindo ações que compreendem desde uma mudança na postura por parte do trabalhador, adotando uma postura mais segura e menos propensa a resultar em uma DORT, até uma readequação das condições de trabalho, conferindo um ambiente/equipamento mais adequado, confortável e seguro, de forma a promover uma maior qualidade do ambiente laboral.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Lavanderia Hospitalar. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1986.
CALAGARI, Andréia. Análise das posturas adotadas em postos de trabalho de uma lavanderia. 2003. 142
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado Profissionalizante em Engenharia, Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal do Rio Grandedo Sul, Porto Alegre, 2003.
IIDA, Itiro. Ergonomia – Projeto e Produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2005.
KARHU, Osmo; KANSI, Pekka; KUORINKA, Iikka. Correcting working postures in industry: A practical method for analysis. Applied Ergonomics. v.8 n.4, dec. 1977. p.199-201.
MIRSHAWKA, Victor. Hospital: fui bem atendido. 1. ed. São Paulo: Editora Makron Books, 1994. 422 p.
NORLANDER, S.; GUSTAVSOSON, B.A.; LINDELL, J.; NORDAGREN, B. Reduced mobility in the cervico- thoracic motion segment. A risk factor for musculoskeletal neck-shouder pain: A two year prospective follow-up study. Scandinavian Journal of Rehabilitation Medicine. v.29 n.3, set. 1997, p.167-174.
PROCHET, T.C. Lavanderia Hospitalar: condições e riscos para o trabalhador. Nursing. v.3, nº 28, p.32-34, set. 2000.
TEMPERE UNIVERSITY OF TECHNOLOGY. WinOWAS: A computerized system for the analysis of work posture.. Disponível em: <http://turva1.me.tut.fi/owas/>. Acesso em: 02 fev. 2010.
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