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DOENÇAS POR FUNGOS E PROTOZOÁRIOS |CANDIDÍASE| - Infecção fúngica oral mais comum nos seres humanos. - Cândida albicans (fungo de levedura). - C. albicans pode ser um componente da microbiota oral normal. Três fatores gerais podem determinar se existem evidências clínicas de infecção: 1. O estado imune do hospedeiro. 2. O ambiente da mucosa oral. 3. A cepa da C. albicans. CANDIDÍASE PSEUDOMEMBRANOSA (SAPINHO) - Placas brancas aderentes que se parecem com queijo cottage ou leite coalhado na mucosa oral (mucosa jugal, palato e dorso da língua). - Removíveis a fricção com gaze seca ou espátula. - A mucosa subjacente pode parecer normal ou eritematosa. - Queimação da mucosa oral ou um gosto desagradável na boca. - Se ocorrer sangramento, então a mucosa provavelmente também foi afetada por outro processo, como o líquen plano erosivo ou tratamento quimioterápico. - Pode ser desencadeada pela exposição do paciente a antibióticos de amplo espectro (de forma aguda e rápida). - Ou pelo comprometimento do sistema imune do paciente – HIV, leucemia (de forma crônica e lenta). - Os bebês também podem ser afetados ostensivamente devido ao seu sistema imune pouco desenvolvido. CANDIDÍASE ERITEMATOSA - Máculas vermelhas. - Não exibem manchas brancas ou uma lesão branca não é uma característica proeminente. - Mais comum que a candidíase pseudomembranosa. É possível observar várias apresentações clínicas: Candidíase atrófica aguda: - “feridas na boca por antibiótico” - Surgem após um curso prolongado de antibioticoterapia de amplo espectro. - Sensação de queimação acompanhada por uma perda difusa de papilas filiformes do dorso da língua, resultando em uma aparência despapilada e avermelhada na língua. - Síndrome da ardência bucal - sensação de queimadura na língua; no entanto, a língua parece normal nessa condição. - Os pacientes com xerostomia por qualquer razão têm uma maior prevalência de candidíase eritematosa que também costuma ser sintomática. - Outras formas de candidíase eritematosa geralmente são assintomáticas e crônicas. Atrofia papilar central (glossite romboidal mediana) - Aparece como uma zona eritematosa bem demarcada que afeta a linha média, o dorso posterior da língua e frequentemente é assintomática. - O eritema se deve em parte à perda das papilas filiformes nessa área. - A lesão geralmente é simétrica e sua superfície pode variar de lisa a lobulada. - A alteração mucosa se resolve com terapia antifúngica. candidíase multifocal crônica - Além do dorso da língua, os sítios que exibem envolvimento incluem o limite palato duro/mole e a comissura bucal. - A lesão no palato aparece como uma área eritematosa que, quando a língua está em repouso, entra em contato com a lesão do dorso da língua, resultando no que se chama lesão “kissing” devido à grande proximidade das áreas envolvidas. Queilite angular - Indivíduo idoso com perda da dimensão vertical e pregas acentuadas na comissura bucal. - A saliva tende a se acumular nessas áreas, mantendo-as úmidas, favorecendo uma infecção pela levedura. - Períodos de remissão e exacerbação. - C. albicans com Staphylococcus aureus. Queilocandidíase - Envolvimento da pele perioral, normalmente secundária às ações para manter a pele úmida (p.ex., hábito de lamber os lábios, chupar dedo, uso crônico de pomadas à base de vaselina). Candidíase por dentadura - Graus variados de eritema, às vezes acompanhado por hemorragia petequial, localizada nas áreas portadoras de próteses totais ou parciais removíveis. - O processo raramente é sintomático. - Geralmente o paciente admite o uso contínuo da prótese, só a removendo periodicamente para higienização. CANDIDÍASE HIPERPLÁSICA CRÔNICA - Mancha branca que não pode ser removida por raspagem. - Menos comum e também controversa. - Estão situadas na mucosa vestibular anterior e não podem ser diferenciadas clinicamente de uma leucoplasia - O diagnóstico é confirmado pela presença de hifas de Candida associadas à lesão e, ainda mais importante, pela resolução completa da lesão após a terapia antifúngica. CANDIDÍASE MUCOCUTÂNEA - Grupo relativamente raro de distúrbios imunológicos. - A maioria dos casos é esporádica, embora tenha sido identificado em algumas famílias um padrão de herança autossômico recessivo. - Primeiros anos de vida. - Infecções por Cândida na boca, unhas, pele e outras superfícies mucosas. - Lesões orais se apresentam como placas brancas e espessas, que normalmente não saem ao serem esfregadas. - Ataque imune contra as glândulas endócrinas. - Hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, hipoadrenocorticismo (doença de Addison) e diabetes melito. - Caracteristicamente, a alteração endócrina se desenvolve meses ou até mesmo anos após o início da infecção por Candida. - Maior prevalência do carcinoma oral e esofágico nessa condição. - Tanto as lesões orais quanto qualquer envolvimento cutâneo, podem ser controlados com o uso contínuo de medicamentos antifúngicos sistêmicos relativamente seguros. DIAGNÓSTICO - Costuma ser estabelecido pelos sinais clínicos, associado à citologia esfoliativa. - Se a lesão for clinicamente sugestiva de candidíase hiperplásica crônica, mas não responder à terapia antifúngica, deve ser realizada uma biopsia para excluir a possibilidade de C. albicans superposta à displasia epitelial, carcinoma espinocelular ou líquen plano. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO AGENTES POLIÊNICOS Nistatina - Uso oral como uma suspensão ou em pastilhas. - Se a candidíase for decorrente de xerostomia, o teor de sacarose da preparação de nistatina pode contribuir para as cáries relacionadas à xerostomia nesses pacientes. - O trato gastrintestinal pouco absorve a nistatina, portanto, sua eficácia depende do contato direto com as espécies de Candida. - A nistatina combinada com creme ou unguento de acetonida triancinolona pode ser aplicada topicamente, sendo eficaz para a queilite angular que não tenha um componente bacteriano. AGENTES IMIDAZÓLICOS Clotrimazol - Não é bem absorvido e deve ser administrado várias vezes ao dia. - Pastilha de sabor agradável (troche) com poucos efeitos colaterais. - A pomada de clotrimazol também é um tratamento eficaz para a queilite angular, pois esse medicamento tem propriedades antibacterianas e antifúngicas. Cetoconazol - Primeiro medicamento antifúngico absorvido pelo trato gastrintestinal. - A dose única diária proporciona comodidade aos pacientes; no entanto, foram observadas desvantagens. - Absorção adequada exige um ambiente ácido. - Evitar prescrição por mais de 2 semanas pois existe risco de toxicidade hepática idiossincrática. - Não deve ser utilizado como tratamento inicial da candidíase oral. - Interações medicamentosas com macrolídeos (p.ex., eritromicina), podendo ocasionar arritmias cardíacas potencialmente fatais. TRIAZÓIS Fluconazol - Mais eficaz do que o cetoconazol. - Bem absorvido sistemicamente e não é necessário um ambiente ácido para a absorção. - Uma vez ao dia. - Toxicidade hepática é rara. - Em alguns casos pode desenvolver resistência ao medicamento. - Potencialização dos efeitos da fenitoína (Interação medicamentosa). Itraconazol - Eficácia contra uma série de doenças fúngicas, incluindo a histoplasmose, blastomicose e infecções fúngicas ungueais. - Tratamento da candidíase orofaríngea. - Eficácia equivalente à do clotrimazol e do fluconazol. - Contraindicado para os pacientes que tomam eritromicina, triazolam e midazolam. Equinocandinas - Interfere na síntese da parede celular das espécies de Candida. - A formação de β-1,3-glucano, que é o componente principal da parede celular da Candida, é rompido e resulta na permeabilidade da parede celular com desaparecimento subsequente da Candida. - Devem ser administradas por via intravenosa e estão reservadas paraas infecções por Candida mais graves. Indoquinol (outros agentes antifúngicos) - Propriedades antifúngicas e antibacterianas. - Tratamento tópico da queilite angular. |HISTOPLASMOSE| - Histoplasma capsulatum -fungo dimórfico (crescendo como uma levedura à temperatura corporal no hospedeiro humano e como um bolor em seu ambiente natural). - Os esporos do organismo transportados pelo ar são inalados, passam para as passagens terminais dos pulmões e germinam. - Assintomática. - A expressão da doença depende da quantidade de esporos inalados e do estado imune do hospedeiro. - Os sítios mais afetados são a língua, palato e mucosa bucal. - Ulceração única, variavelmente dolorida e com várias semanas de duração. - Algumas lesões podem aparecer eritematosas ou brancas, com uma superfície irregular. Histoplasmose aguda - Infecção pulmonar autolimitada. - Baixa quantidade de esporos. - Quadro clínico similar ao da influenza. - Calcificação dos linfonodos hilares. Histoplasmose crônica - Homens mais velhos, enfisematosos e brancos ou os pacientes imunossuprimidos. - Se assemelha à tuberculose. - Tosse, perda de peso, febre, dispneia, dor torácica, hemoptise, fraqueza e fadiga. - As radiografias do tórax exibem infiltração e cavitação do lobo superior do pulmão. Histoplasmose disseminada - Disseminação progressiva da infecção para sítios extrapulmonares. - Pacientes idosos, debilitados ou imunossuprimidos. - Os tecidos que podem ser afetados incluem o baço, adrenais, fígado, linfonodos, trato gastrintestinal, sistema nervoso central (SNC), rins e mucosa oral. - O envolvimento adrenal pode produzir hipoadrenocorticismo (doença de Addison). DIAGNÓSTICO - Pode ser feito pela identificação histopatológica do organismo em cortes de tecido ou por meio de cultura. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Histoplasmose aguda: Pode não precisar de tratamento ou cuidado de suporte com agentes analgésicos e antipiréticos. Histoplasmose crônica: administração IV de anfotericina B, Itraconazol (pacientes não imunossuprimidos) e fluconazol. Histoplasmose disseminada: ocorre em indivíduos imunossuprimidos, sendo uma condição grave que resulta em morte em 80% a 90% dos pacientes, se não tratada. Uma das preparações lipídicas da anfotericina B é indicada para esses pacientes; depois que a fase potencialmente fatal da doença estiver sob controle, sendo necessária a administração diária de itraconazol por 6 a 18 meses. |BLASTOMICOSE| - Blastomyces dermatitidis. - A histoplasmose parece ser pelo menos dez vezes mais comum do que a blastomicose. - Predileção masculina. - A ocorrência da blastomicose nos pacientes imunocomprometidos é relativamente rara. - Adquirida pela inalação dos esporos, em particular após uma chuva. - Na maioria dos pacientes, a infecção provavelmente é detida e contida nos pulmões, mas em alguns poucos casos pode se propagar por via hematogênica. - Sítios de acometimento: pele, osso, próstata, meninges, mucosa orofaríngea e órgãos abdominais. - Queixas pulmonares. Blastomicose aguda: lembra a pneumonia, caracterizada por febre, dor torácica, mal-estar, sudorese noturna e tosse produtiva com esputo mucopurulento. Blastomicose crônica: é mais comum do que a forma aguda e pode mimetizar a tuberculose. Febre baixa, sudorese noturna, perda de peso e tosse produtiva. - Calcificação não está presente. - As lesões cutâneas representam a propagação da infecção a partir dos pulmões, embora possam ser um sinal da doença. - Disseminação extrapulmonar ou inoculação local com o organismo. - Nódulos eritematosos, tornando-se verrucosos ou ulcerados. - As lesões se assemelham ao carcinoma epidermoide. DIAGNÓSTICO - Exame microscópico de cortes histopatológicos ou de uma preparação citológica fixa em álcool. - Preparação de KOH. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO - Itraconazol para a doença de branda a moderada. - Anfotericina B sistêmica é indicada para os casos graves e pacientes imunossuprimidos e com lesões extrapulmonares. |PARACOCCIDIOIDOMICOSE| - Infecção fúngica profunda. - Paracoccidioides brasiliensis. - Mais frequência nos pacientes que vivem na América do Sul (principalmente no Brasil, Colômbia, Venezuela, Uruguai e Argentina). - Dasypus novemcinctus (tatu-galinha) é o hospedeiro do microrganismo. - Embora não haja evidência de que o tatu infecta diretamente o homem, ele pode ser o responsável pela disseminação do microrganismo no meio ambiente. - Homens de meia idade que trabalham com a agricultura. - Efeito protetor dos hormônios femininos (pois o β-estradiol inibe a transformação da forma de hifa do organismo para a forma de levedura patogênica). - Infecções pulmonares após a exposição aos esporos do microrganismo. - Embora as infecções em geral sejam autolimitadas, o organismo P. brasiliensis pode se propagar por via hematogênica ou linfática, disseminando-se a diversos tecidos, incluindo os linfonodos, a pele e as adrenais. - O envolvimento adrenal resulta em hipoadrenocorticismo (doença de Addison). - Ulcerações similares a amoras que afetam na maioria das vezes a mucosa alveolar, gengiva e palato, lábios, língua, orofaringe e mucosa jugal. - É frequente o envolvimento de mais de um sítio da mucosa oral. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS - Microrganismos exibem vários brotamentos na célula-mãe. - “orelhas do Mickey Mouse” ou um timão de navio. DIAGNÓSTICO - A demonstração de leveduras associada às características clinicas é suficiente para estabelecer o diagnóstico de paracoccidioidomicose. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO - O método de tratamento depende da gravidade da apresentação da doença. - Casos menos graves: trimetoprima/sulfametoxazol. - Casos mais graves: anfotericina B IV. - Casos não potencialmente fatais são tratados com itraconazol oral. - Cetoconazol (efeitos colaterais). |COCCIDIOIDOMICOSE| - Coccidioides immitis e Coccidioides posadasii. - Fadiga, tosse, dor torácica, mialgias e cefaleia com resolução espontânea. - Erupção cutânea similar ao eritema multiforme ou ao eritema nodoso. - Febre do vale. Coccidioidomicose pulmonar progressiva crônica: tosse persistente, hemoptise, dor torácica, febre baixa e perda de peso. Coccidioidomicose disseminada: ocorre quando o organismo se espalha por via hematogênica para os sítios extrapulmonares. - As áreas mais envolvidas incluem a pele, os linfonodos (incluindo os linfonodos cervicais), ossos e articulações e as meninges. Grupos mais susceptíveis: · Pacientes que tomam grandes doses de corticosteroides sistêmicos (p.ex., receptores de transplante de órgão). · Pacientes sob quimioterapia para o câncer. · Pacientes que estão sendo tratados com inibidores de TNF-α. · Pacientes nos estágios terminais da infecção por HIV. · Pacientes gestantes. · Bebes e idosos. - As lesões cutâneas podem aparecer como pápulas, abscessos subcutâneos, placas verrucosas e nódulos granulomatosos. - Predileção pela área central da face, especialmente na prega nasolabial. DIAGNÓSTICO - Pela cultura ou identificação dos microrganismos característicos no material de biopsia. TRATAMENTO - Anfotericina B em pacientes imunossuprimidos, gestantes, com doença pulmonar grave e em situação potencialmente fatal. - Fluconazol e o itraconazol em outros casos. |CRIPTOCOCOSE| - Cryptococcus neoformans. - Devastador para o paciente imunocomprometido. - Associação com o pombo (o microrganismo habita os depósitos de excrementos das aves). - Se desenvolve como uma levedura tanto no solo quanto no tecido infectado. - O fungo produz uma cápsula de mucopolissacarídeos que parece protegê-lo das defesas imunes do hospedeiro. - A maioria dos pacientes com um diagnóstico de criptococose tem uma condição médica de base relacionado à imunossupressão. - 5% a 10% dos pacientes com AIDS adquirem essa infecção. - O sítio de envolvimento mais frequente são as meninges, seguidas pela pele, ossos e próstata. - Meningite criptocócica é caracterizada por cefaleia, febre, vômito e rigidez nucal. - As lesões cutâneas costumam aparecer como pápulas eritematosas ou pústulas que podem ulcerar,drenando um material similar ao pus, rico em microrganismos criptocócicos. - A pele da cabeça e pescoço costuma estar envolvida. - Lesões orais são raras, mas aparecem como úlceras que não cicatrizam, crateriformes e sensíveis à palpação ou como placas eritematosas papilares friáveis. Podem se disseminar para glândulas salivares. DIAGNÓSTICO - Biopsia e cultura. - Detecção do antígeno polissacarídeo criptocócico no soro ou no fluido cerebrospinal. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO - Pode ser muito difícil, pois a maioria dos pacientes afetados tem um problema médico de base. Na meningite criptocócica: anfotericina B sistêmica e outro medicamento antifúngico (flucitosina) por duas semanas, seguido por 10 semanas de fluconazol ou o itraconazol. Nos casos brandos de criptococose pulmonar: somente o fluconazol ou o itraconazol.