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AULA 11 - OBRIGAÇÕES

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AULA 11 – ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
1. O pagamento em consignação:
O sujeito não consegue, por algum motivo, fazer o pagamento ao credor. 
A lei autoriza, nesse sentido, que ele faça um depósito da coisa – que pode ser em juízo ou bancário. 
CAPÍTULO II
Do Pagamento em Consignação
Art. 334 – CC: Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.
Art. 335 – CC: A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
O inciso I faz menção à recusa do credor (não querer receber a prestação). 
O inciso II se aplica mais para as obrigações quesíveis (o credor precisa ir em algum lugar). 
O inciso III faz, novamente, referência à incapacidade do credor. 
Se um curador do ausente não tiver competência para receber – mas somente para administrar os bens do ausente – será necessário fazer o depósito em consignação. 
Os incisos IV e V dialogam entre si. Quando vários sujeitos se apresentam como credores, para não correr o risco de pagar para o credor errado, faz-se o pagamento em consignação. 
Art. 336 – CC: Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.
Art. 337 – CC: O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. 
Art. 338 – CC: Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito.
Art. 339 – CC: Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.
Art. 340 – CC: O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído.
O código traz a possibilidade do levantamento do depósito. Ex: A depositou em juízo. A lei autoriza, em determinados momentos, ele pegar de volta essa quantia (exceção – raros momentos). Geralmente isso acontece quando há um acordo entre credor e devedor. 
Se o credor não se manifestar, o devedor é livre para fazer o levantamento do depósito (pegou de volta e está inadimplente).
Se o credor se manifestou e não teve uma sentença. Neste caso, o devedor, para fazer o levantamento do depósito, depende de autorização do credor. Se o credor autorizar sozinho – sem a anuência de codevedores, fiadores e demais envolvidos – o credor só pode cobrar do devedor que fez o levantamento.
Depois da sentença julgada procedente, o devedor só pode levantar em depósito com autorização de demais codevedores, fiadores e demais envolvidos. Nessa hipótese, portanto, torna-se ainda mais difícil. 
Art. 341 – CC: Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.
Art. 342 – CC: Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.
Art. 343 – CC: As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor.
Art. 344 – CC: O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.
Art. 345 – CC: Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.
2. Pagamento de sub-rogação:
O indivíduo que se sub-rogou passa a ter. 
O nosso código traz duas espécies de pagamento por sub-rogação: legal e convencional.
· Legal: Basta que o pagamento tenha acontecido dentro dos requisitos previstos em lei;
· Convencional: Um dos requisitos é a exteriorização da vontade de permitir a sub-rogação; 
CAPÍTULO III
Do Pagamento com Sub-Rogação
Art. 346 – CC: A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
Os três incisos do art. 346 discorrem sobre a sub-rogação legal. 
O inciso I retrata uma hipótese bastante rara de se constatar na prática (não é algo corriqueiro, que acontece com frequência). 
O inciso II traz questões que envolvem imóveis. 
· Ex 1: A tem uma dívida e colocou um apartamento como garantia. Se B resolve comprar esse imóvel, torna-se adquirente do imóvel hipotecado. O problema é que se A não pagar a dívida, B perderá o apartamento. Se B quiser pagar a dívida, automaticamente, se sub-roga;
· Ex 2: A é dono de um prédio e loca este todo para B. B loca diversas salas do prédio (para C, D, E...) Se B (locatário) não pagar A, B poderá ser despejado e, por conseguinte, C, D, E...
Art. 347 – CC: A sub-rogação é convencional:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. 
Art. 348 – CC: Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. 
O art. 347 discorre acerca da sub-rogação convencional. 
O inciso I remete à cessão de crédito, sendo suas regras as aplicadas.
No inciso II, o terceiro empresta ao devedor uma quantia para quitar a dívida, se sub-rogando nos direitos do credor satisfeito. 
Art. 349 – CC: A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.
Art. 350 – CC: Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.
Art. 351 – CC: O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.
O credor originário tem preferência em relação ao sub-rogado caso o devedor não tenha no patrimônio bens suficientes (situação de insolvência). 
3. Extinção da obrigação – exercício introdutório:
Thiago celebrou contrato com Luca para enviar anotações das aulas de direito, cobrando, por aula, R$ 20,00. Passado um semestre inteiro, Luca recebeu os resumos, contudo, não efetuou os pagamentos que deveria. Com a chegada do fim do ano, Luca, animado com o possível acesso do Bahia à Série A e sabendo que Thiago é torcedor do clube, resolveu presenteá-lo com um uniforme oficial de 2022. Thiago agradeceu a Luca e decidiu não mais cobrar o valor acumulado, uma vez que o uniforme em questão apresentava preço semelhante ao totalizado pelos cadernos. Luca concordou.
De qual forma foi extinta a obrigação presente no caso concreto?
Houve remissão da dívida total, uma vez que Luca foi perdoado da suadívida com Thiago ao presenteá-lo com o uniforme tricolor. Ademais, os requisitos exigidos pelo Código para acontecer a remissão foram respeitados: aceitação do credor, aceitação do devedor e a inexistência de prejuízo a direito de terceiro. 
4. Novação: 
CAPÍTULO VI
 DA NOVAÇÃO
Art. 360 – CC: Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.
Art. 361 – CC: Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.
Art. 362 – CC: A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste.
Art. 363 – CC: Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.
Art. 364 – CC: A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.
Art. 365 – CC: Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados.
Art. 366 – CC: Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.
Art. 367 – CC: Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas.
A novação é caracterizada pela criação de uma nova obrigação (Animus novandi) com o intuito de extinguir e substituir a anterior.
O fato de que o contrato apresenta uma cláusula abusiva (ex: a cobrança de uma taxa indevida), não necessariamente impacta na nulidade do contrato. Contudo, há exceções: um contrato sobre objeto ilícito (droga ilícita, por exemplo), tende a ser nulo em sua totalidade. 
A novação pode ser objetiva ou subjetiva, ativa ou passiva. 
Em relação à novação passiva, quando o sujeito aceita essa nova ação (subjetiva passiva), extingue-se a obrigação anterior e o devedor da obrigação primitiva se encontra exonerado. A única hipótese em que ele pode vir a responder se encontra presente no art. 363 do Código Civil, caso tenha atuado de má-fé.
Existindo obrigação solidária, no caso da novação (art. 365 – CC), a ideia é de que a novação extingue a obrigação. 
5. Compensação: 
CAPÍTULO VII
 Da Compensação
Art. 368 – CC: Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Art. 369 – CC: A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.
Art. 370 – CC: Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.
Art. 371 – CC: O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Art. 372 – CC: Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação.
Art. 373 – CC: A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;
III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.
Art. 374 – CC: (Revogado pela Lei nº 10.677, de 22.5.2003)
Art. 375 – CC: Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.
Art. 376 – CC: Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.
Art. 377 – CC: O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.
Art. 378 – CC: Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação.
Art. 379 – CC: Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.
Art. 380 – CC: Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia.
Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem (os valores devem ser semelhantes). 
A lei traz algumas exceções aos requisitos, como, por exemplo, a compensação de obrigações entre sujeitos que não são credores e devedores recíprocos. A título exemplificativo pode-se citar os casos envolvendo fiador, o qual pode usar para compensar o crédito do devedor que ele fiança. 
As dívidas envolvidas na compensação devem estar vencidas. Quando tem o prazo de favor, contudo, pode acontecer a compensação nesse prazo. Ex: A deve a B R$ 1.000,00. No dia do pagamento, A pede que B aumente o prazo. B resolve dar mais um mês para A pagar (prazo de favor = ampliação do prazo em um contexto que o credor não tinha nenhuma obrigação). Daqui a duas semanas, ainda na constância do prazo de favor, vence uma obrigação que B deve a A – R$ 100,00. A resolve cobrar B. B resolve fazer a compensação durante o prazo de favor (R$ 1.000,00 – R$ 100,00 = R$ 900,00). 
Em regra, qualquer obrigação pode ser compensada, contudo, o código traz exceções no art. 373 para além da vontade das partes: 
· Situações de ilicitude (esbulho, furto, roubo...); 
· Se originar de comodato, depósito ou alimentos (esta última apresenta natureza existencial);
· Se um bem for impenhorável (não perde nem em estado de inadimplência); 
Pode ser que um sujeito tenha para com outro duas ou mais dívidas compensadas. Ex: A deve a B R$ 200,00 e R$ 300,00, enquanto que B deve a A R$ 500,00. Segue-se a mesma lógica da imputação do pagamento na compensação. 
6. Confusão: 
CAPÍTULO VIII
 Da Confusão
Art. 381 – CC: Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.
Art. 382 – CC: A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.
Art. 383 – CC: A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.
Art. 384 – CC: Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.
Na mesma pessoa se confunde as figuras do credor e do devedor.
No caso do art. 383, a extinção vai se dar somente na parte do crédito da dívida daquele sujeito (confusão parcial). 
7. Remissão:
CAPÍTULO IX
 Da Remissão das Dívidas
Art. 385 – CC: A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.
Art. 386 – CC: A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.
Art. 387 – CC: A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida.
Art. 388 – CC: A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.
A remissão precisa, obviamente, ser aceita pelo credor.
A remissão precisa ser aceita pelo devedore não pode prejudicar direito de terceiro. 
Se se tem uma obrigação a título de crédito e o título é devolvido, essa devolução é entendida como uma remissão. 
Um indivíduo pode abrir mão do objeto empenhado (garantia), mas não da obrigação em si.
Se se tem vários devedores solidários, pode-se perdoar um deles e os demais continuam devedores solidários do restante. 
Para a próxima semana: Inadimplemento das obrigações.

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