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Intervenção do Estado Brasileiro no Domínio Econômico

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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Departamento do Curso de Ciências Contábeis e Atuariais
A Intervenção do Estado Brasileiro no Domínio Econômico
Processo histórico, princípios, modelos de intervenção e Agências Reguladoras
Gleidson Henrique Santana da Silva
Trabalho da disciplina de Finanças e Planejamento Público ministrada pelo professor Severino Lins no quarto período do curso de Ciências Contábeis.
Recife
2015
Índice
Introdução .................................................................................................................................03
Capítulo 01 – Intervenção do Estado no Domínio Econômico .................................................04
Capítulo 02 – Modelos de Intervenção .....................................................................................06
Exploração Direta .....................................................................................................................07
Exploração Indireta ...................................................................................................................07
Capítulo 03 – Intervenção Direta do Estado no Domínio Econômico ...................................................................................................................................................09
Capítulo 04 – Intervenção do Estado Brasileiro no Domínio Econômico ...............................12
Conclusão .................................................................................................................................20
Referências Bibliográficas .......................................................................................................21
Introdução
Este trabalho tem como objetivo analisar a intervenção do Estado no domínio econômico abordando algumas fases históricas a nível de Brasil como também a nível mundial demonstrado não somente conceitos, como também, as formas pela qual o Estado intervém seja de forma indireta, seja de forma direta na economia e atrelado a isso, conceitos e/ou definições oriundas da Legislação Brasileira que possibilitam com que o Estado intervenha em determinados setores ao fim de alcançar o seu objetivo que é o bem-estar social, além de combater práticas que podem manchar ou desonrar a harmonia social.
Soma-se a isto, a apresentação de agências reguladoras criadas para promover a regulação do Estado através delas na economia nacional.
Para tanto, o presente trabalho está divido em quatro capítulos, além da introdução, conclusão e das referências bibliográficas.
O capítulo um vem a demonstrar alguns fatos históricos de nível mundial que possibilitaram com que o Estado pudesse intervir como regulador na economia seguindo itens do neoliberalismo como a garantia de direitos individuais, coletivo e sociais que visem o bem-estar social.
O segundo capítulo abordará as formas de intervenção do Estado no domínio econômico, seja de forma direta, seja de forma indireta, mediante princípios presentes na Legislação Brasileira.
O terceiro capítulo mostrará de uma forma mais ampla, como o Estado intervém de forma direta no domínio econômico, também obedecendo princípios presentes na Legislação Brasileira.
Por fim, o quarto capítulo abordará como o Estado Brasileiro intervém na economia através de alguns temas históricos que possibilitaram, por exemplo, a criação de agências reguladoras que servem para o Estado venha a intervir através destas no domínio econômico.
Em suma, este trabalho pretende nos trazer como o Estado atua na economia, mediante princípios legislativos, através de fatos históricos e com a criação de agências reguladoras que possibilitam ao mesmo a intervenção economia.
Capítulo 01
A Intervenção do Estado no Domínio Econômico
A Intervenção do Estado no Domínio Econômico não é um fenômeno recente na história da humanidade. Desde o mercantilismo o Estado já atuava na esfera econômica, na medida em que determinava as regras de importação e exportação, os impostos incidentes sobre as atividades produtivas internas, etc.
O incremento do comércio contribuiu para a Revolução Industrial, que trouxe consigo uma nova classe, a burguesia, que detinha o poder econômico, mas não o político, centralizado nas mãos do rei. Surge, assim o Estado liberal[footnoteRef:1], anunciado pela Revolução Francesa de 1789, em oposição ao Estado mercantilista regulador absolutista, o qual propunha uma abstenção do Estado em matéria econômica, valendo-se das premissas básicas da liberdade de iniciativa e concorrência, primazia da propriedade privada e garantia dos direitos individuais do homem. De acordo com a concepção liberal, as necessidades dos homens ditariam o comportamento. [1: Segundo Jhon Locke, o Estado Liberal é uma forma de reação ao estado absolutista e que nele, o indivíduo possui direitos naturais e inalienáveis, tais como o direito a se expressar publicamente, o direito à liberdade religiosa e o direito natural (a propriedade e aos bens materiais).
] 
Nestes chamados Estados neoliberais ou sociais liberais, o uso e gozo de bens, o exercício de direitos e o desenvolvimento das atividades econômicas não são irrestritos, se confrontam com certos limites ditados pela ordem jurídica, que reconhece e assegura determinados direitos e garantias individuais, coletivos e sociais visando o bem-estar social. Essa atuação é dirigida pela atuação do Estado na ordem econômica e representa uma tentativa de colocar ordem na atividade produtiva.
A intervenção do Estado no domínio econômico nesse contexto, corresponde a todo ato ou medida legal que restrinja, condiciona ou tem por fim suprimir a iniciativa privada em determinada área visando o desenvolvimento nacional e a justiça social, assegurados os direitos e garantias individuais.
Caracteriza-se como um fato político[footnoteRef:2] enquanto traduz a decisão do poder econômico para atuar no campo que determina; fato jurídico[footnoteRef:3] quando institucionalizada e regulamentada pelo direito e fato de política econômica juridicamente considerado, quando disciplinado pelo direito econômico. [2: Fato Político é a necessidade que uma sociedade tem de impor regras e utilizar a força de forma disciplinadora.] [3: Fato Jurídico é toda consequência de origem natural ou humana que gere consequências jurídicas.] 
Dentre os motivos determinantes para o surgimento da intervenção estatal na economia, despontam o fracasso do mercado e a necessidade de recriá-lo com o Estado assumindo tarefas que sem a sua interferência, poderiam constituir perturbadoras do funcionamento adequado da atividade produtiva – a intervenção teve por fim garantir a livre competição; a eliminação da desigualdade, fruto do liberalismo econômico – o Estado passa atuar em prol da justiça social por meio de uma distribuição justa de renda e finalmente o estado passa a atuar na atividade econômica como empresário com o objetivo de conseguir mais prontamente metas que demandariam mais tempo pelos particulares – Estado empresa.
Capítulo 02
Modelos de Intervenção
Existem dois modelos de atuação do Estatal no domínio econômico, são eles:
· Estado Regulador: O Estado age como regulador atuando basicamente na elaboração de normas, reprimindo o abuso do poder econômico, interferindo na iniciativa privada, regulando preços, controlando abastecimentos.
Via de regra, o Estado não deve interferir de forma direta na ordem econômica, o podendo fazer apenas por via de exceção. A própria Carta Constitucional[footnoteRef:4] ainda em seu artigo 170, estabelece alguns limites a serem levados em conta pelo Estado no exercício dessa atribuição, para que não venha a ferir princípios como o da liberdade de iniciativa, direcionando aos particulares, em regra. [4: A carta Constitucional equivale a constituição brasileira de 1988.] 
· Art. 170: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,observando os seguintes princípios:
I – Soberania Nacional;
II – Propriedade Privada;
III – Função Social da Propriedade;
IV – Livre Concorrência;
V – Defesa do Consumidor;
VI – Defesa do Meio Ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental inclusive os produtos e serviços e seus processos de elaboração e prestação;
VII – Redução das desigualdades regionais e sociais;
VII – Busca de Emprego;
IX – Tratamento diferenciado para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo Único: É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente da autorização de órgãos públicos, salvo no caso previsto em lei.
Além disso, de acordo com o artigo 174 da nossa Carta Maior:
· Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Desta forma, atuando como regulador, o Estado impõe normas e mecanismos jurídicos de cunho preventivo e repressivo, especialmente aos particulares – responsáveis pela mobilidade do setor econômico - visando evitar e/ou sanar possíveis condutas abusivas.
Nesse contexto, o Estado atua no domínio econômico de forma direta, e, de fato, como regulador; sendo responsável pelo funcionamento de mecanismos e prevenção, e de normas de repressão às práticas que por ventura possam vir a macular a harmonia social.
· Estado Executor: diferentemente de sua atuação reguladora, onde apenas traça ditames a serem seguidos e estabelece normas a serem cumpridas em sede de ordem econômica, no modelo Executor, o Estado atua, de fato, como exercente de atividades estritamente econômicas ou prestando serviços públicos, comprometendo-se com a atividade produtiva. 
No âmbito da atuação do Estado como Executor, podemos encontrar dois tipos de exploração da atividade econômica: a exploração direta e a exploração indireta.
Exploração Direta
Diretamente, o Estado pode explorar a atividade econômica por intermédio de um de seus órgãos internos. No caso de uma Secretaria Estadual de Educação, por exemplo, ele pode vir a estender o quantitativo de vagas oferecidas em instituições públicas para melhor atender as pessoas menos afastadas financeiramente.
Exploração Indireta
Nesta, o Estado cria pessoas jurídicas a ele vinculadas e com atribuições destinadas à execução de atividades mercantis. É o caso das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista. São empresas autônomas, com personalidade jurídica própria, que não se confundem com o Estado, mas são por este controladas. Neste caso, o Estado intervém indiretamente no domínio econômico através destas empresas, que atuam de forma direta no mesmo.
Capítulo 03
Intervenção Direta do Estado no Domínio Econômico
Uma das finalidades da intervenção do Estado na Economia é a de coibir práticas que derivem ou incidam no abuso do poder econômico, como por exemplo, práticas que tenham pôr fim a dominação dos mercados, a eliminação da concorrência ou o aumento arbitrário dos lucros.
O caput do artigo 173 da Constituição Federal traça as regras em relação a exploração direta de atividades econômicas pelo Estado.
· Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1° A Lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou circulação de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:
I – Sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;
II – A sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive ao direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias;
III – Licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observando os princípios da administração pública;
IV – A constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com participação de acionistas minoritários;
V – Os mandatos, a alienação de desempenho e a responsabilidade dos administradores.
§ 2° As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos ao setor privado;
§ 3° A Lei regulamentará as relações da empresa pública com o estado e a sociedade;
§ 4° A Lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise a dominação de mercados, a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário de lucros;
§ 5° A Lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-se as punições compatíveis com a sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
Desta forma, o artigo retrocitado, interpretado conjuntamente com o 170, traz à tona a regra de que, ressalvados os casos previstos na própria Constituição – competência exclusiva e privativa da União e competência comum e concorrente - o Estado não explora atividade econômica, podendo fazer apenas em via de exceção, através dos pressupostos contidos no caput do referido artigo 173: casos imperativos de segurança nacional; casos onde houver relevante interesse coletivo; e onde a constituição permitir de forma expressa.
Vale-se ressaltar que o estado, ao intervir no domínio econômico, deve respeitar as leis do mercado privado. Também deve se igualar de certa forma – às instituições que compõem tal setor.
Outro ponto interessante a se ressaltar é de que o Estado, que, via de regra, não atua no domínio econômico, de igual forma, não tem intenção de ser um Estado Empresário somente no sentido de visar o lucro, mas, fundamentalmente, no sentido de regrar determinados setores e/ou sanar possíveis distorções, de acordo com o que seja mais benéfico para o interesse coletivo. Outrossim, o Estado empresário seria um Estado fracassado, justamente pela necessidade de concretização do fim maior da administração pública, que não é gerar lucros, mas sim, buscar sempre o bem comum social.
Sendo assim, é possível afirmar que os conceitos jurídicos indeterminados são importantes para garantir uma certa maleabilidade ao sistema. Em contrapartida, corre-se um risco muito alto ao se delegar muito o poder discricionário aos gestores públicos. Assim sendo, quanto mais delineada para lei for o mérito administrativo atribuído ao gestor público, menos riscos corre o ordenamento jurídico, o domínio econômico e meio social.
Desta feita, ao se definir os imperativos de segurança nacional e de relevante interesse coletivo mediante lei, são estabelecidos parâmetros capazes de, ao mesmo tempo, garantir a eficácia da aplicação do princípio da livre iniciativa e reduzir a margem de discricionariedade conferida à administração pública.
Com efeito, a atuação do gestor público estaria calcada em fundamentos previamente fixados pela lei, prevenindo, portanto, possíveis arbitrariedades estatais da intervenção direta no domínio econômico, e promovendo, por sua vez, a segurança jurídica necessária aos particulares e salvaguarda do interesse coletivo.
Capítulo 04
Intervenção do Estado Brasileiro no Domínio Econômico
Durante a época colonial vivia no Brasil o Mercantilismo. Portugal explorava a riqueza de nosso território, incluindo madeira, pedras preciosas e agricultura, como forma de proteção de sua economia. Ao contrário do ocorrido nos Estados Unidos, nenhuma reação contrária foi capaz de mudar esse sistema, por isso a independência do Brasil, durante o Império, as práticas mercantilistas ainda eram adotadas.
Após a proclamação da república, o Brasil passou a adotar práticas liberais. No início do século XX até o final da década de 20 era o período das repúblicas oligárquicas no Brasil, que sustentavam a política do café com leite, com o predomíniode ideias liberais.
Em 1930, acompanhando a quebra da bolsa de Nova Iorque de 1929, a política do café-com-leite entra em crise e culmina na revolução de 30, onde em um golpe de estado, Getúlio Vargas assume o governo do País, e implementa inúmeras alterações de ordem social e econômica.
Assim, a partir da era Vargas o Estado passou a adotar medidas intervencionistas no plano econômico, buscando o desenvolvimento do país, com investimentos oriundos do poder estatal, aplicados na produção e circulação de bens, assemelhando-se ao modelo de estado social. Este sistema permaneceu até a década de 90.
As primeiras manifestações do estado-empresário brasileiro se deram na década de 40 com a finalidade de suprir as deficiências do mercado interno, extremamente abalado pela segunda guerra mundial[footnoteRef:5], pois a produção mundial era incipiente e dependente das importações. [5: A segunda guerra mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo as maiores nações do mundo organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo.] 
Com a intenção de substituir a políticas de importações, o Brasil deu o primeiro passo para a industrialização. Por ter uma iniciativa privada frágil, esse processo foi impulsionado pelo estado, que ditava o ritmo e os setores beneficiados pelas políticas públicas de desenvolvimento. Na década de 40 observamos a criação das primeiras grandes empresas estatais, a exemplo da Companhia Siderúrgica Nacional, da Fábrica Nacional de Motores, da Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco.
Na década de 50, o Estado-empresário continua a crescer embora em um ritmo mais lento, mas esse período ficou marcado por ser um curto período de redemocratização do País. Surgiram apenas duas estatais de peso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, que posteriormente passou a ser conhecido por BNDES, e a Petróleo Brasileiro S. A. – Petrobrás.
Nas décadas de 60/70 temos o avanço e o agigantamento das empresas estatais, principalmente após o golpe militar de 1964[footnoteRef:6], sendo criadas mais de 300 estatais, a exemplo da Eletrobrás, Nucleobrás, Sidebrás, etc, sendo apontado em 1981 a existência no âmbito federal de 530 pessoas jurídicas de caráter econômico. [6: O golpe militar de 1964 designa um conjunto de eventos que fizeram com que o presidente em exercício João Goulart renuncia-se ao cargo que se deu através de um golpe militar] 
No entanto, seguindo a tendência mundial, o Estado brasileiro enxergou a necessidade de redefinir o seu papel de atuação na economia e passou a diminuir sua intervenção direta, como também a incentivar a iniciativa privada participar da economia, adotando medidas para regulá-la.
As ideias globalizantes surgidas no final do século XX proporcionaram uma mudança na economia mundial, que necessitava de um dinamismo no capitalismo para alcançar e facilitar e facilitar a relação com o mercado de outros países. A situação financeiras dos Estados exigia mudanças, tanto na forma de prestação dos serviços públicos, como na titularidade.
Com o objetivo de alcançar os ideais neoliberais e modificar a estrutura estatal, o governo de Fernando Collor iniciou o Programa Nacional de Desestatização (PND), criado pela Lei Federal n° 8.031/90, posteriormente revogada pela Lei Federal n° 9.491/97, que tem como objetivos fundamentais:
Reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada para atividades indevidamente exploradas pelo setor público;
Contribuir para a reestruturação econômica do setor público, especialmente através de melhoria do perfil e da redução da dívida pública líquida;
Permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada;
Contribuir para a reestruturação econômica do setor privado, especialmente para a modernização da infraestrutura e do Parque Industrial do País, ampliando a sua competitividade e reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia, inclusive através da concessão de crédito;
Permitir que a administração pública concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das atividades nacionais;
Contribuir para o fortalecimento para o mercado de capitais, através do crescimento da oferta de valores mobiliários e da democratização da prioridade de capital das empresas que integrarem o programa.
Desta forma, o Programa Nacional de Desestatização (PND), vem enquadrar-se na tendência mundial de globalização e busca retirar o Estado da exploração direta da atividade econômica, utilizando-se das privatizações, descentralizando diversas atividades, estimulando o investimento privado com a desburocratização de suas estrutura, redefinindo a área de atuação estatal, reestruturando o setor público, para contribuir com o fortalecimento do mercado e diminuir a dívida pública.
O setor público encontrava-se sobrecarregado, os recursos, escassos, as empresas públicas ineficientes e mal geridas, com baixo nível de produtividade. Evidencia-se a necessidade de privatização para que o processo de desenvolvimento econômico pudesse ser retomado e a estabilidade financeira do setor mantida, com o objetivo de reduzir o déficit público, incentivar a competição e o desenvolvimento de mercado.
Assim, o Estado começa a atuar indiretamente na economia, desenvolvendo funções de fiscalização, regulação e planejamento, atuando de forma direta apenas em exceções excepcionais como na segurança nacional ou em casos de relevante interesse econômico.
Portanto, o Processo de Desestatização Brasileiro tinha como objetivos a reorganização da postura do Estado na economia, a diminuição da dívida pública nacional por meio da alienação de suas empresas e a concessão de serviços ao setor privado, com o intuito de reduzir os gastos e investimentos no setor e aumentar as receitas tributárias, para assim, equilibrar as contas públicas.
A constituição de 1988, com a previsão dos direitos e garantias fundamentais e ampliação das atribuições sociais, havia sobrecarregado ainda mais o modelo de Estado empresário. A crise estatal levou várias empresas públicas à falência e ineficiência de suas estruturas. Para o Estado ficou pesado manter essas atividades, pois suas contas encontravam-se estáveis pela necessidade de investimentos constantes, que levaram a estagnação precária dos serviços.
Assim, verificou-se que o modelo estatal intervencionista impedia o crescimento econômico e social do país e que era necessário a redução das suas atribuições, devendo uma política de redefinição do seu papel. A ideia da participação mínima do Estado na economia, advinda do movimento neoliberal iniciado na década de 80, propôs a livre movimentação de capital por todos os países, a quebra das barreiras comerciais[footnoteRef:7] e a extinção das restrições aos investimentos estrangeiros. [7: Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior as barreiras comerciais podem ser entendidas como qualquer Lei, Regulamento, Política, Medida ou Prática Governamental que imponha restrições ao comércio exterior.] 
O processo de privatização e concessão de serviços públicos foi impulsionado pela globalização e teve a capacidade de aplicar ao Estado Brasileiro uma nova forma de atuação estatal no setor econômico onde se interviria de maneira mínima, exercendo funções reguladoras na economia.
Com a finalidade de colaborar com a reforma administrativa do Estado brasileiro, o Governo de Fernando Henrique Cardoso determinou a elaboração do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que definiu objetivos e estabeleceu diretrizes para reforma, baseada em conceitos atuais de administração e eficiência, voltada para o controle dos resultados e para a descentralização, reorganizando as estruturas da administração com ênfase na qualidade e na produtividade do serviço público. O Plano diretor serviu de bases para as propostas da Emenda Constitucional que o poder público apresentouao Congresso Nacional para as reformas nas áreas administrativa e previdenciária. 
A reforma do Estado brasileiro ocorreu com a inserção no nosso ordenamento jurídico das Emendas Constitucionais n° 5, 6, 8 e 9 de 1995, que trouxeram mudanças estruturais muito importantes, com extinção de determinadas restrições de capital estrangeiro, a flexibilização de monopólios estatais, servindo de base para a criação de algumas agências reguladoras, como também a criação de leis que autorizam a privatização de determinados setores.
Estas emendas tinham como objetivo reformar a administração e preparar o Estado para atuar no mundo globalizado, e limitar as áreas de atuação em setores que exijam o uso de suas funções próprias, formando um “Estado Mínimo”.
A Emenda Constitucional n° 5, com sua alteração possibilitou, aos Estados-membros explorar diretamente ou conceder a iniciativa privada os serviços locais de gás canalizado, que só antes poderiam ser exercidos por empresas de controle acionário estatal.
A extinção da restrição ao capital estrangeiro foi inserida na ordem econômica com a Emenda n° 6, que revogou o art. 171 da CF/88, que previa a empresa brasileira de capital nacional e todos os seus benefícios, como também trouxe a permissão para a pesquisa e lavra dos recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica por concessionárias.
As Emendas n° 8 e 9 foram um marco da atuação estatal para regulação, pois permitiram as concessões para a iniciativa privada no setor de telecomunicações e possibilitaram à união contratar com empresas públicas ou privadas a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos, a refinação do petróleo e a importação e exportação dos produtos e derivados do petróleo. Criaram também os entes reguladores e fiscalizadores da telefonia e das atividades petrolíferas possibilitando que o Estado mediasse as atividades do setor privado, estruturando através das agências reguladoras, passando a ser reconhecido como um Estado Regulador.
A admissão das privatizações entre todas as medidas tomadas para reformar a atividade estatal foi a que proporcional a consolidação da redução da interferência estatal na ordem econômica, pois a partir dela a Administração pôde transferir suas obrigações para a iniciativa privada, utilizando-se de institutos como a concessão, permissão e autorização.
Outra medida constitucional que inseriu mudanças importantes na atuação Estatal foi a Emenda n° 19/98, que trouxe modificações legais imprescindíveis para a modificação do Estado brasileiro. Como exemplo, temos a estabilidade dos servidores, a gestão gerencial da administração, a participação dos usuários na administração e a previsão de convênios que dinamizaram assim a prestação dos serviços públicos, como também, a introdução do Princípio da Eficiência, importante avanço para a atuação da Administração Pública. Como pode ser observado, a Emenda 19/98 instrumentalizou as mudanças necessárias à remoção de obstáculos que a constituição trazia a implantação plena dos postulados da Administração Gerencial. Por todos esses motivos, a referida Emenda Constitucional ficou conhecida como a Reforma Administrativa.
Os principais objetivos das reformas constitucionais do aparelho estatal foram: a busca por descarregar o Estado, descentralizando o exercício de suas atividades para a iniciativa privada, limitando a atuação estatal em áreas determinadas, onde sua presença era indispensável para gerar benefícios a sociedade; a adoção de uma política gerencial para habilitar a participação dos usuários e a criação das agências reguladoras para normatizar os serviços concedidos.
Verifica-se a importância das reformas de atuação estatal na economia e como as agências reguladoras vieram a ter um papel importante com esta alteração, pois passaram a deter o poder de regular as atividades econômicas produzidas pelos particulares, como também se tornaram um meio de intervenção indireta do Estado na Economia, com funções de fiscalização, incentivo e planejamento.
Assim, observamos que este dispositivo constitucional fundamenta a existência das agências reguladoras, como também guia a posição do Estado na condução da economia, devendo este agir como um agente normativo e regulador dos entes regulados, seguindo os preceitos deixados pelo poder constituinte através dos princípios constitucionais.
Possibilitaram o desenvolvimento da atividade estatal as reformas constitucionais mencionadas e as alterações no orçamento jurídico nacional, com elas o Programa Nacional de Desestatização (PND) desenvolveu-se. Os princípios constitucionais marcaram, deste modo, a consagração do modelo de organização econômica de mercado, da prioridade privada, da liberdade de iniciativa e da livre concorrência.
O processo de Desestatização retirou do Estado o dever de executar os serviços, sua função passou a ser de fiscalizador e regulador, devendo planejar a atuação das empresas concessionárias, mas sem prestar diretamente o serviço, e assim desempenhar as suas funções próprias sem nenhum entrave. Neste contexto, surgem as agências reguladoras, como personagens fundamentais do novo modelo estatal.
Os variados programas de privatizações realizados nas diversas esferas do governo, os programas de parcerias do setor público e privado, levaram a conclusão de como é importante o Estado privilegiar a participação da sociedade, para que os bens e serviços possam ser alcançados por todos, e que melhor é o estado que trabalha em função da sociedade.
Assim, o Estado abandona a posição de monopolista para tornar-se um instrumento da sociedade, trabalha para ela, e deve buscar formas de tornar a prestação de serviço mais barata e eficiente.
Nesse contexto, as agências passam a regular o setor privado, ditando normas para os entes privados, que atuam na economia em substituição a administração. Os setores público e privado passam a se relacionar intimamente, e o Estado tem a competência de regular os mercados nacionais, garantindo a prestação dos serviços com eficiência e qualidade, e os particulares devem prestar os serviços seguindo os princípios constitucionais, os mandamentos legais, as normas dos agentes reguladores e o interesse da população.
Com o intuito de promover a regulação no país, foram criadas as seguintes agências reguladoras no âmbito federal: 
A Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, pela Lei n° 9.472/97;
A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, pela Lei n° 9.427/96;
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, pela Lei n° 9.478/97;
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, pela Lei n° 9.782/99;
A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, pela Lei n° 9.961/00;
A Agência Nacional de Águas – ANA, pela Lei n° 9.984/00;
A Agência Nacional de Transportes terrestres e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, ambas criadas pela Lei n° 10.233/01;
A Agência Nacional do Cinema – ANCINE, criada pela Medida Provisória n° 2.228-1 de 2001;
A Agência Nacional da Aviação Civil – ANAC, pela Lei n° 11.182/05.
Apesar de todas as medidas neoliberais adotadas, o Estado brasileiro, principalmente levando-se em conta os atuais governos, continua adotando práticas características do Estado Social, apresentando um misto entre esse sistema e o neoliberalismo.
Assim como o Estado do Bem-estar social, os últimos mandatos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva privilegiaram medidas de cunho social, através da criação dos Programas “Fome Zero[footnoteRef:8]” e o “Bolsa Família[footnoteRef:9]”. Isto não significa, que o mesmo abandonou as práticas neoliberais, do contrário, em 2005 foi criada a Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, atuando no setor privado em substituição à administração direta. [8: Criado em 2003, em substituição ao Programa de Comunidade Solidaria, para o enfrentamento da Fome de da Miséria.] [9: O programa Bolsa Família foi instituído em 2004 e trata-se de um programa de transferência de renda do Governo Federal que unificou outrosprogramas anteriores de transferência de renda, tais como: o Programa Fome Zero, o Auxílio Gás, Cadastro Único do Governo Federal e os programas de Renda Mínima vinculada a educação, a saúde e a alimentação.] 
Conclusão
Em suma, Analisamos neste trabalho, a atuação, bem como, as formas que o Estado utiliza para intervir na economia, executando e regulando a prestação de serviços através do planejamento, da fiscalização e incentivo entre o setor público e o privado, o que pode ser comprovado com a criação de agências reguladoras que permitem com o Estado participe nas decisões econômicas. Abordou-se também princípios de nossa legislação oriunda da carta constitucional de 1988 que possibilitam a intervenção do Estado na economia, além de fatos históricos relevantes que mostram o processo histórico da atuação do Estado no cenário econômico, político e social, como a criação de programas sociais dentre eles, o Programa Bolsa Família.
Referências Bibliográficas
· http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/id/28
· http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-intervencao-do-estado-na-ordem-economica-e-a-constituicao-de-1988,33127.html
· http://www.dsa.com.br/index.fcgi/artigos/intervencao-do-estado-no-dominio-economico-e-autorregulacao/
· http://semanaacademica.org.br/artigo/intervencao-do-estado-no-dominio-economico
· http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2953/Intervencao-direta-do-Estado-no-dominio-economico-e-discricionariedade-administrativa
· http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/interven%C3%A7%C3%A3o-direta-do-estado-no-dom%C3%ADnio-econ%C3%B4mico-como-forma-de-amenizar-os-efeitos-negativ
· http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/abrebanner.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12975&revista_caderno=27
· http://jus.com.br/artigos/9427/a-intervencao-estatal-no-dominio-economico
 
 
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