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Maysa Veiga - UFPE É uma proliferação benigna do epitélio escamoso estratificado que resulta em um aumento de volume papilar ou verruciforme. Acredita-se que essa lesão seja induzida pelo papilomavírus humano (HPV). Os subtipos virais 6 e 11 têm sido identificados em até 50% dos papilomas orais, em contrapartida estes tipos são identificados em menos de 5% das células normais da mucosa. O papiloma escamoso oral acomete 1 em cada 250 adultos e constitui aproximadamente 3% de todas as lesões orais submetidas à biópsia. Além disso, os pesquisadores têm estimado que os papilomas escamosos orais representam 7% a 8% de todos os aumentos de volume ou lesões orais em crianças. O papiloma escamoso ocorre com igual frequência em homens e mulheres. Alguns autores têm postulado que a lesão desenvolve-se predominantemente em crianças, contudo estudos epidemiológicos indicam que a lesão pode surgir em qualquer idade e, de fato, é diagnosticada mais comumente em pessoas com idade entre os 30 e 50 anos. Os sítios preferencialmente acometidos incluem a língua, lábios e palato mole; contudo, qualquer superfície oral pode ser afetada. Essa lesão é o aumento de volume de tecido mole mais comum que se origina no palato mole. O papiloma escamoso é um nódulo macio, indolor, exofítico, geralmente pediculado, com numerosas projeções superficiais digitiformes que lhe conferem uma aparência de “couve-flor” ou verrucosa. As projeções podem ser pontudas ou embotadas e a lesão poderá ser branca, levemente avermelhada ou com a coloração da mucosa normal, dependendo da quantidade de ceratinização da superfície. O papiloma é geralmente unitário e cresce rapidamente até o tamanho máximo de cerca de 0,5 cm, com pequena ou nenhuma alteração após alcançar esse patamar. Contudo, lesões mais desenvolvidas atingindo 3,0 cm em seu maior diâmetro têm sido descritas. O papiloma é caracterizado por uma proliferação do epitélio escamoso estratificado ceratinizado, disposto em projeções digitiformes com centros de tecido conjuntivo fibrovascular. Os centros de tecido conjuntivo podem exibir alterações inflamatórias, dependendo da quantidade do trauma a que a lesão é submetida. A camada de ceratina encontra-se espessada nas lesões com uma aparência clínica esbranquiçada e o epitélio tipicamente mostra um padrão normal de maturação. Ocasionalmente, alguns papilomas demonstram hiperplasia da camada basal do epitélio e atividade mitótica, que podem ser inadequadamente consideradas como displasia epitelial leve. Coilócitos, células epiteliais claras alteradas pelo vírus, com núcleos pequenos e intensamente corados (picnóticos), são algumas vezes observados nas porções mais altas da camada espinhosa do epitélio. Maysa Veiga - UFPE A excisão cirúrgica conservadora, incluindo a base da lesão, é o tratamento adequado para o papiloma escamoso oral, e a recidiva é improvável. Frequentemente, as lesões têm sido deixadas sem tratamento por anos sem relato de transformação maligna, aumento de tamanho contínuo ou disseminação para outros sítios da cavidade oral. É o “tumor” mais comum da cavidade oral. Entretanto, é questionado se, na maioria das situações, ele representa uma neoplasia verdadeira. Talvez ele possa representar uma hiperplasia reacional do tecido conjuntivo fibroso em resposta à irritação ou trauma local. Embora o fibroma de irritação possa ocorrer em qualquer lugar da boca, a localização mais comum é a mucosa jugal, ao longo da linha de oclusão. Presumivelmente, isto é uma consequência do trauma da mordida na bochecha). A mucosa labial, a língua e a gengiva também são localizações comuns. Além disso, é provável que muitos fibromas gengivais representem uma maturação fibrosa de um granuloma piogênico preexistente. Tipicamente, a lesão se apresenta como um nódulo de superfície lisa e coloração rosada, similar à coloração da mucosa circunjacente. Em pacientes negros, o aumento de volume pode demonstrar uma pigmentação cinza- acastanhada. Em alguns casos, a superfície pode se apresentar branca em decorrência da hiperceratose, resultante da irritação contínua. Muitos fibromas são sésseis, embora alguns sejam pedunculados. Seus tamanhos podem variar de pequenas lesões, com apenas poucos milímetros de diâmetro, a grandes aumentos de volume com muitos centímetros de diâmetro; entretanto, a maioria dos fibromas tem 1,5 cm ou menos de diâmetro. A lesão usualmente não produz sintomas, a menos que ocorram ulcerações traumáticas secundárias em sua superfície. Os fibromas de irritação são mais comuns da quarta à sexta década de vida, e a proporção homem- mulher dos casos submetidos à biópsia é de 1:2. A hiperplasia do freio é um tipo comum de hiperplasia fibrosa que ocorre mais frequentemente no freio labial superior. Tais lesões se apresentam como pequenos crescimentos exofíticos assintomáticos aderidos à fina superfície do freio. Maysa Veiga - UFPE O exame microscópico do fibroma de irritação revela um aumento de volume nodular de tecido conjuntivo fibroso, recoberto por epitélio escamoso estratificado. Este tecido conjuntivo é usualmente denso e colagenizado, embora em alguns casos seja de natureza frouxa. A lesão não é encapsulada e o tecido conjuntivo se mistura gradualmente ao tecido conjuntivo circunjacente. Os feixes colágenos podem estar arranjados de forma irradiada, circular, ou aleatoriamente. O epitélio de superfície geralmente demonstra atrofia das cristas epiteliais devido ao aumento de volume do tecido subjacente. Entretanto, a superfície pode exibir hiperceratose secundária a trauma. Pode ser observada inflamação difusa, principalmente abaixo da superfície epitelial. Usualmente, esta inflamação é crônica e consiste principalmente em linfócitos e plasmócitos. O fibroma de irritação é tratado pela excisão cirúrgica conservadora. A recidiva é extremamente rara. Entretanto, é importante que o tecido excisado seja encaminhado para exame microscópico, já que outros tumores benignos e malignos podem mimetizar a aparência clínica de um fibroma. Pelo fato de a hiperplasia do freio ser pequena, crescimentos não expressivos que são facilmente diagnosticados clinicamente, geralmente nenhum tratamento é necessário. É um tumor benigno de gordura. Embora represente a neoplasia mesenquimal mais comum, muitos casos ocorrem no tronco e nas porções proximais das extremidades. Os lipomas da região oral e maxilofacial são bem menos frequentes. A patogênese dos lipomas é incerta. O metabolismo dos lipomas é completamente independente da gordura corpórea normal. Se a ingestão de calorias é reduzida, os lipomas não reduzem de tamanho, embora a gordura normal do corpo possa ser perdida. Usualmente os lipomas orais são aumentos de volume nodulares, de superfície lisa e consistência macia, que podem ser sésseis ou pedunculados. Tipicamente, o tumor é assintomático, sendo em geral percebido muitos meses ou anos antes do diagnóstico. Muitos possuem tamanho menor que 3 cm, mas ocasionalmente as lesões podem tornar-se maiores. Embora seja detectada clinicamente uma cor amarela discreta ou mais óbvia, lesões profundas podem apresentar coloração rosa. A mucosa jugal e o vestíbulo bucal são as localizações intraorais mais comuns, representando 50% de todos os casos. Alguns casos de mucosa jugal podem não representar tumores verdadeiros, mas sim uma herniação do coxim gorduroso através do músculo bucinador, que pode ocorrer após um trauma local em crianças ou após cirurgia de remoção dos terceiros molares em pacientes mais velhos. Os sítios de ocorrência menos comuns incluem a língua, o assoalho da boca e os lábios. A maioria dos pacientes tem 40 anos de idade ou mais, sendo os lipomas incomunsem crianças. Os Maysa Veiga - UFPE lipomas da região oral e maxilofacial têm demonstrado uma distribuição equilibrada entre os gêneros em alguns estudos, embora um recente estudo com uma grande série de casos tenha demonstrado uma marcante predileção pelo gênero masculino. A maioria dos lipomas orais é composta por adipócitos maduros, que pouco se diferenciam microscopicamente do tecido adiposo normal circunjacente. Usualmente o tumor é bem circunscrito e pode apresentar uma fina cápsula fibrosa. Pode ser observado um distinto arranjo lobular das células. Em raras ocasiões, pode ocorrer, dentro de um lipoma típico, uma metaplasia cartilaginosa ou óssea central. Tem sido descrito um número de variantes microscópicas. A mais comum delas é o fibrolipoma, que é caracterizado pela presença do um componente fibroso significativo, misturado aos lóbulos de células adiposas. As outras variantes são raras. O angiolipoma consiste em uma mistura de células adiposas maduras e de numerosos pequenos vasos sanguíneos. O lipoma de células fusiformes demonstra uma quantidade variável de células fusiformes de aparência uniforme em conjunto com o componente lipomatoso típico. Alguns lipomas de células fusiformes exibem um fundo mucoide (lipoma mixoide) e podem ser confundidos com um lipossarcoma mixoide. Os lipomas pleomórficos são caracterizados pela presença de células fusiformes mais células gigantes hipercromáticas e bizarras, sendo difícil diferenciá-los de um lipossarcoma pleomórfico. Os lipomas intramusculares (infiltrantes) geralmente são situados mais profundamente e apresentam um padrão de crescimento infiltrativo, estendendo-se por entre as fibras do músculo esquelético. Os lipomas são tratados pela excisão local conservadora, sendo as recidivas raras. A maioria das variantes microscópicas não afeta o prognóstico. Os lipomas intramusculares apresentam uma elevada taxa de recidiva devido a seu padrão de crescimento infiltrativo, mas essa variante é rara na região oral e maxilofacial. Não é uma neoplasia verdadeira, mas uma proliferação reacional do tecido neural após uma transecção ou outro dano ao feixe nervoso. Após um nervo ter sofrido um dano ou uma lesão, a porção proximal tende a regenerar e a restabelecer a inervação do segmento distal pelo crescimento dos axônios, através dos tubos de células de Schwann proliferantes. Se esses elementos regeneradores encontram um tecido cicatricial ou não podem restabelecer a inervação por outro motivo, um aumento de volume semelhante a tumor pode se desenvolver no local da injúria. Tipicamente os neuromas traumáticos da mucosa oral se apresentam como nódulos não-ulcerados de superfície lisa. Podem se desenvolver em qualquer localização, mas são mais comuns na região do forame mentoniano, na língua, e no lábio inferior. Frequentemente pode ser elucidada uma história prévia de Maysa Veiga - UFPE trauma. Algumas lesões desenvolvem-se subsequentemente à extração dentária ou a outros procedimentos cirúrgicos. Neuromas traumáticos intraósseos podem se apresentar como um defeito radiolúcido nas radiografias orais. Alguns casos podem também ocorrer em outras localizações na região de cabeça e pescoço, sendo estimado que os neuromas traumáticos do nervo auricular maior desenvolvam-se em 5% a 10% dos pacientes submetidos à cirurgia de adenomas pleomórficos de glândula parótida. Os neuromas traumáticos podem ocorrer em qualquer idade, mas são diagnosticados mais frequentemente em adultos de meia-idade. Eles aparentam ser ligeiramente mais comuns em mulheres. Muitos neuromas traumáticos são associados a alterações das sensações nervosas que podem variar de uma anestesia a uma disestesia, a uma dor evidente. Embora a dor seja tradicionalmente considerada uma característica marcante dessa lesão, estudos indicam que somente de um quarto a um terço dos neuromas traumáticos orais é doloroso. Esta dor pode ser intermitente ou constante, e varia de uma leve sensibilidade ou queimação a uma dor severa irradiada. Os neuromas do nervo mentoniano são frequentemente dolorosos, especialmente quando comprimidos por dentaduras ou pela palpação. O exame microscópico dos neuromas traumáticos mostra uma proliferação aleatória de feixes nervosos maduros, mielinizados e não mielinizados, dentro de um estroma de tecido conjuntivo, que tem sua natureza variando de densamente colagenizado a mixomatoso. Um infiltrado inflamatório crônico associado pode estar presente. Os neuromas traumáticos com inflamação são comumente mais dolorosos do que aqueles sem inflamação significativa. O tratamento de escolha para o paciente com neuroma traumático é a excisão cirúrgica, incluindo uma pequena porção do feixe nervoso envolvido. A maioria das lesões não recidiva, mas, no entanto, a dor persiste ou retorna posteriormente em alguns casos. Maysa Veiga - UFPE É uma neoplasia benigna neural com origem nas células de Schwann. É uma lesão relativamente incomum, embora 25% a 48% de todos os casos ocorram na região de cabeça e pescoço. Os neurilemomas bilaterais do nervo vestíbulo- auditivo são uma característica de uma condição hereditária, a neurofibromatose tipo II (NF2). O neurilemoma solitário é um tumor de crescimento lento e encapsulado que tipicamente surge em associação com um tronco nervoso. Com o crescimento, ele empurra o nervo para o lado. Usualmente, o aumento de volume é assintomático, embora, em algumas situações, possa ocorrer sensibilidade ou dor. A lesão é mais comum em adultos jovens e de meia-idade, e pode variar em tamanho, de poucos milímetros a muitos centímetros. A língua é a localização mais comum para os neurilemomas orais, embora o tumor possa ocorrer em praticamente qualquer lugar da boca. Ocasionalmente, o tumor pode surgir centralmente no osso e produzir expansão óssea. Casos intraósseos são mais comuns na mandíbula posterior e usualmente se apresentam radiograficamente como lesões radiolúcidas uniloculares ou multiloculares. A dor e a parestesia não são raras nos tumores intraósseos. A NF2 é uma condição autossômica dominante causada pela mutação de um gene supressor tumoral no cromossoma 22, que codifica uma proteína denominada merlin. Adicionalmente aos neurilemomas bilaterais (“neuromas acústicos”) do nervo vestibular, os pacientes também desenvolvem neurilemomas nos nervos periféricos, e meningiomas e ependimomas no sistema nervoso central (SNC). Os sintomas característicos incluem surdez sensorial progressiva, tonteira e zumbido. Usualmente o neurilemoma é um tumor encapsulado que demonstra dois padrões microscópicos em quantidades variáveis: (1) Antoni A e (2) Antoni B. O padrão Antoni A é caracterizado por fascículos paralelos de células de Schwann fusiformes. Estas células geralmente formam um arranjo em paliçada ao redor de uma área acelular eosinofílica central, conhecida como corpos de Verocay. Os corpos de Verocay consistem em membrana basal reduplicada e processos citoplasmáticos. Antoni B Antoni A Antoni A O padrão Antoni B é menos celular e menos organizado, e as células fusiformes são arranjadas aleatoriamente dentro de um estroma frouxo e mixomatoso. Tipicamente, neuritos não podem ser demonstrados dentro do aumento de volume tumoral. As células tumorais irão mostrar uma positividade imunoistoquímica difusa para a proteína S-100. Alterações degenerativas podem ser vistas em alguns tumores antigos (neurilemomas anciãos). Estas alterações consistem em hemorragia, depósito de hemossiderina, inflamação, fibrose, Maysa Veiga - UFPE e atipia nuclear. Entretanto, estes tumores ainda são benignos, e o patologista deve ter cuidado para não confundir tais alteraçõescomo evidências de um sarcoma. O neurilemoma solitário é tratado pela excisão cirúrgica, e a lesão não deve recidivar. A transformação maligna não ocorre ou é extremamente rara. Os schwanomas vestibulares em pacientes com NF2 são de difícil manejo. A remoção cirúrgica é indicada para tumores grandes e assintomáticos, mas isso pode resultar em surdez total e no risco de danos ao nervo facial. A radiocirurgia estereostáxica pode ser considerada para pacientes idosos ou debilitados, bem como para indivíduos que se negam a ser submetidos à cirurgia tradicional. É o tipo mais comum de neoplasia de nervo periférico, que se origina de uma mistura de tipos celulares, incluindo as células de Schwann e os fibroblastos perineurais. Os neurofibromas podem originar-se como tumores solitários ou como componentes da neurofibromatose. Os tumores solitários são mais comuns em adultos jovens e se apresentam como lesões indolores, amolecidas e de crescimento lento, que variam em tamanho, de pequenos nódulos a grandes aumentos de volume. A pele é a localização mais frequente para os neurofibromas, mas lesões da cavidade oral não são incomuns. A língua e a mucosa jugal são as localizações intraorais mais comuns. Em raras ocasiões o tumor pode originar-se centralmente dentro do osso, onde pode produzir uma imagem radiográfica radiolúcida uniloculada ou multiloculada, que pode ser bem delimitada ou mal definida. Geralmente o neurofibroma solitário é bem circunscrito, especialmente quando a proliferação ocorre no perineuro do nervo envolvido. Os tumores que proliferam fora do perineuro podem não aparecer bem delimitados e tendem a se misturar ao tecido conjuntivo adjacente. O tumor é composto de feixes entrelaçados de células fusiformes que geralmente exibem núcleo ondulado. Estas células encontram-se associadas a delicados feixes colágenos e a quantidades variadas de matriz mixoide. Os mastócitos tendem a ser numerosos e podem ser uma característica auxiliar ao diagnóstico. Pequenos axônios esparsamente distribuídos podem ser evidenciados dentro do tumor utilizando-se colorações de prata. Imunoistoquimicamente, as células tumorais exibem uma dispersa marcação positiva para a proteína S-100. Maysa Veiga - UFPE O tratamento dos neurofibromas solitários é a excisão cirúrgica local, e a recidiva é rara. Qualquer paciente com uma lesão diagnosticada como neurofibroma deve ser avaliado clinicamente para a possibilidade de neurofibromatose. A transformação maligna dos neurofibromas solitários pode ocorrer, embora o risco pareça ser remoto, especialmente quando comparado com os pacientes portadores de neurofibromatose. O termo hemangioma tem tradicionalmente sido usado para descrever uma variedade de anomalias vasculares de desenvolvimento. Atualmente, os hemangiomas são considerados tumores benignos da infância que exibem uma rápida fase de crescimento com proliferação de células endoteliais, seguida de uma involução gradual. Muitos hemangiomas podem não ser reconhecidos ao nascimento, mas surgem subsequentemente durante as 8 primeiras semanas de vida. Por outro lado, as malformações vasculares são anomalias estruturais dos vasos sanguíneos sem proliferação endotelial. Por definição, as malformações vasculares estão presentes ao nascimento e persistem ao longo da vida. Elas podem ser categorizadas de acordo com o tipo de vaso envolvido (capilar, venoso, arteriovenoso) e de acordo com as características hemodinâmicas (baixo fluxo ou alto fluxo). ➢ Hemangioma da Infância: são os tumores da infância mais comuns, ocorrendo em 5% a 10% das crianças com 1 ano de idade. São muito mais comuns em mulheres do que em homens (proporção: 3:1 a 5:1), e ocorrem mais frequentemente em brancos do que em outros grupos raciais. A localização mais comum é a região de cabeça e pescoço, representando 60% de todos os casos. Oitenta por cento dos hemangiomas ocorrem como lesões únicas, mas 20% dos pacientes acometidos irão apresentar lesões múltiplas. Hemangiomas totalmente desenvolvidos raramente estão presentes ao nascimento, embora uma mácula pálida com telangiectasias filiformes possa ser notada na pele. Durante as primeiras semanas de vida, o tumor irá demonstrar um desenvolvimento rápido que ocorre de forma mais veloz do que o crescimento geral da criança. Tumores superficiais da pele se apresentam como aumentos de volume de superfície bosselada, com coloração vermelho-clara. São firmes e borrachosos à palpação, e o sangue não pode ser evacuado com a aplicação de pressão. Tumores profundos podem se apresentar somente como crescimentos com coloração azulada. A fase proliferativa usualmente se estende por 6 a 10 meses, após a qual o tumor reduz seu crescimento e inicia sua involução. A cor altera-se gradualmente para uma coloração roxo-escura, e a lesão aparenta ser menos firme à palpação. Aos 5 anos de idade, grande parte da coloração vermelha é perdida. Cerca de metade dos hemangiomas irá exibir uma resolução completa aos 5 anos de idade, com 90% se resolvendo aos 9 anos de idade. Após a regressão completa do tumor, a pele normal será restabelecida em cerca de 50% dos pacientes. Entretanto, mais de 40% dos indivíduos afetados irão exibir alterações permanentes como atrofia, cicatrizes, rugas ou telangiectasias. Complicações ocorrem em cerca de 20% dos hemangiomas. O problema mais comum é a ulceração, que pode ocorrer com ou sem infecção secundária. Embora possa ser notada hemorragia, a perda sanguínea significativa não ocorre usualmente. Os hemangiomas que Maysa Veiga - UFPE ocorrem em áreas cruciais podem ser associados a uma morbidade significativa. Tumores perioculares geralmente resultam em ambliopia (diminuição da visão), estrabismo, ou astigmatismo. Pacientes com hemangiomas cutâneos múltiplos ou grandes hemangiomas faciais apresentam um elevado risco para a ocorrência simultânea de hemangiomas viscerais. Tumores no pescoço e na região laríngea podem levar à obstrução das vias aéreas. Grandes hemangiomas segmentados cervicofaciais podem ser componentes de uma síndrome bem reconhecida – síndrome PHACE(S). ➢ Malformações Vasculares: ao contrário dos hemangiomas, as malformações vasculares estão presentes ao nascimento e persistem ao longo da vida. As manchas tipo “vinho do porto” são malformações capilares relativamente comuns que ocorrem em 0,3% a 1,0% dos recém- nascidos. São mais comuns na face, particularmente ao longo da região inervada pelo nervo trigêmeo. Tipicamente as manchas vinho do porto são lesões maculares de coloração variando do rosa ao roxo, que crescem proporcionalmente ao paciente. Geralmente a lesão escurece ou se torna nodular, devido à ectasia vascular, com o envelhecimento do paciente. As malformações venosas de baixo fluxo compreendem um grande espectro de lesões, desde pequenas ectasias isoladas a crescimentos complexos, que envolvem múltiplos tecidos e órgãos. Elas estão presentes ao nascimento, embora nem sempre possam ser imediatamente aparentes. Tipicamente, as malformações venosas são azuis e são facilmente compressivas. Em geral crescem proporcionalmente com o paciente, mas podem aumentar de volume de forma dependente ou com o aumento da pressão venosa. A trombose secundária e a formação de flebólitos podem ocorrer. As malformações arteriovenosas são lesões de alto fluxo resultantes de uma comunicação persistente direta entre a artéria e a veia. Embora estejam presentes ao nascimento, elas podem não ser notáveis até a fase tardia da infância ou até a vida adulta. Devido ao rápido fluxo vascular através dessas lesões, uma trepidação palpável ou difusa geralmente é notada. A pele sobrejacente tipicamentese apresenta quente ao toque. Os sintomas apresentados podem incluir dor, sangramento, e ulceração da pele. ➢ Malformações Intraósseas: representam malformações venosas ou malformações arteriovenosas. Nos ossos gnáticos, tais lesões são detectadas mais frequentemente durante as 3 primeiras décadas de vida. São discretamente mais comuns em mulheres do que em homens, e sua ocorrência é três vezes mais frequente na mandíbula do que na maxila. A lesão pode ser completamente assintomática, embora alguns casos sejam associados à dor e ao inchaço. A mobilidade dentária e o sangramento através do sulco gengival podem ocorrer. Uma pulsação ou uma trepidação podem ser aparentes à ausculta e à palpação. A aparência radiográfica das malformações vasculares intraósseas é variável. Comumente essas lesões exibem defeitos radiolúcidos multiloculares. As Maysa Veiga - UFPE loculações individuais podem ser pequenas (aparência de favos de mel) ou grandes (aparência de bolhas de sabão). Em outros casos, a lesão pode se apresentar como uma área radiolúcida ou como uma radiolucência bem definida semelhante a um cisto. Grandes malformações podem causar expansão cortical e, ocasionalmente, é produzido um padrão radiográfico em “raios de sol”. A angiografia pode auxiliar na demonstração da natureza vascular da lesão. Hemangiomas da infância são caracterizados por numerosas células endoteliais volumosas e por lúmens vasculares geralmente indistintos. Neste estágio, tais lesões geralmente são microscopicamente conhecidas como hemangiomas juvenis ou celulares. Com a maturação da lesão, as células endoteliais tornam-se achatadas, e os pequenos espaços vasculares capilares tornam-se mais evidentes. Com a involução do hemangioma, os espaços vasculares se tornam proeminentes e são substituídos por tecido conjuntivo fibroso. As malformações vasculares não exibem ativa proliferação das células endoteliais, e os canais vasculares lembram o vaso de origem. Desse modo, as malformações capilares podem ser similares ao estágio capilar do hemangioma enquanto as malformações venosas podem exibir vasos mais dilatados. Devido às suas semelhanças, muitas malformações vasculares são incorretamente categorizadas como hemangiomas. As malformações arteriovenosas mostram uma mistura de artérias de parede espessa e veias, em conjunto com vasos capilares Pelo fato de a maioria dos hemangiomas da infância sofrer involução, o manejo destas lesões geralmente consiste em uma “negligência acompanhada”. É importante educar os pais que, embora seja observado um rápido Maysa Veiga - UFPE crescimento, a regressão irá ocorrer. A ressecção cirúrgica raramente é justificada durante a infância. Para hemangiomas problemáticos ou para os que representam ameaças à vida, a terapia farmacológica pode ser indicada. O manejo das malformações venosas depende do tamanho, da localização e das complicações associadas à lesão. Pequenas malformações estáveis podem não requerer tratamento. Lesões grandes e problemáticas podem ser tratadas com uma combinação de escleroterapia e excisão cirúrgica. A escleroterapia envolve a injeção de agentes esclerosantes, como o etanol a 95%, diretamente dentro da lesão para induzir fibrose. O tratamento de malformações arteriovenosas é mais desafiador e também depende do tamanho da lesão e do grau de envolvimento de estruturas vitais. Para os casos que requerem ressecção, a embolização guiada por radiografia geralmente é realizada 24 a 48 horas antes da cirurgia, para minimizar a perda sanguínea. As malformações vasculares dos ossos gnáticos são potencialmente perigosas devido ao risco de sangramento severo, que pode ocorrer espontaneamente ou durante a manipulação cirúrgica. A aspiração por agulha de qualquer lesão intraóssea não diagnosticada antes da biópsia é uma precaução para excluir a possibilidade de uma malformação vascular. Hemorragias severas e até mesmo fatais têm ocorrido após biópsias incisionais ou extrações dentárias na área de tais lesões. São tumores hamartomatosos benignos dos vasos linfáticos. É duvidoso que estas lesões sejam neoplasias verdadeiras. Ao contrário, elas podem representar malformações congênitas originárias de sequestros de tecido linfático que não se comunica normalmente com o resto do sistema linfático. Existem três tipos de linfangiomas: 1. Linfangioma simples (linfangioma capilar), que consiste em pequenos vasos, do tamanho de capilares 2. Linfangioma cavernoso, que é composto de grandes vasos linfáticos dilatados 3. Linfangioma cístico (higroma cístico), que exibe grandes espaços císticos macroscópicos Entretanto, este sistema de classificação é arbitrário, já que todos os três tamanhos de vasos podem ser geralmente encontrados dentro da mesma lesão. Provavelmente os subtipos são variantes do mesmo processo patológico, e o tamanho dos vasos pode depender da natureza dos tecidos circunjacentes. Os linfangiomas císticos ocorrem mais frequentemente no pescoço e na axila, onde os tecidos conjuntivos frouxos adjacentes permitem uma maior expansão dos casos. Os linfangiomas cavernosos são mais frequentes na boca, onde o tecido conjuntivo denso circunjacente e os músculos esqueléticos limitam a expansão vascular. Os linfangiomas possuem uma marcada predileção pela região de cabeça e pescoço, representando cerca de 50% a 75% de todos os casos. Cerca de metade de todas as lesões é notada ao nascimento, e cerca de 90% se desenvolvem por volta dos 2 anos de idade. Os linfangiomas cervicais são mais comuns no triângulo posterior e tipicamente se apresentam como massas amolecidas flutuantes. Ocorrem menos frequentemente no triângulo anterior, embora as lesões nesta localização resultem mais comumente em dificuldades respiratórias ou disfagia, caso atinjam grandes tamanhos. Ocasionalmente, os linfangiomas cervicais se estendem para o mediastino ou superiormente para a cavidade oral. Tais tumores podem se tornar exuberantes e podem medir 15 cm ou mais. O rápido crescimento tumoral pode ocorrer secundariamente a uma infecção do trato respiratório superior, presumivelmente Maysa Veiga - UFPE devido à produção aumentada de linfa, pelo bloqueio da drenagem linfática, ou por infecção secundária do tumor. Os linfangiomas orais podem ocorrer em diversas localizações, mas são mais comuns nos dois terços anteriores da língua, onde podem resultar em macroglossia. Usualmente, o tumor é localizado superficialmente e demonstra uma superfície pedregosa que se assemelha a um grupo de vesículas translucentes. A superfície se assemelha a ovos de rã ou pudim de tapioca. A hemorragia secundária dentro dos espaços linfáticos pode fazer com que algumas dessas “vesículas” se tornem arroxeadas. Tumores profundos se apresentam como aumentos de volume amolecidos mal-definidos. Pequenos linfangiomas menores que 1 cm ocorrem no rebordo alveolar em cerca de 4% dos recém- nascidos negros. Estas lesões geralmente ocorrem bilateralmente no rebordo mandibular e exibem uma distribuição homemmulher de 2:1. Muitos desses linfangiomas alveolares aparentemente se resolvem espontaneamente por não serem observados em indivíduos mais velhos. Os linfangiomas são compostos de vasos linfáticos que podem mostrar uma considerável dilatação (linfangiomas cavernosos) ou estruturas macroscópicas semelhantes a cistos (higroma cístico). Geralmente os vasos infiltram difusamente os tecidos moles adjacentes e podem demonstrar agregados linfoides em suas paredes. Tipicamente, o endotélio delimitante é fino, e os espaços contêm um fluido proteináceo e, ocasionalmente, linfócitos. Alguns canais também podem conter hemácias, o que cria uma incertezase eles representam vasos linfáticos ou sanguíneos. Embora muitos destes representem hemorragia secundária dentro do vaso linfático, alguns podem, na verdade, ser exemplos de uma ocorrência simultânea de um linfangioma e de um hemangioma. Nos tumores intraorais, os vasos linfáticos são localizados caracteristicamente logo abaixo do epitélio de superfície e geralmente substituem as papilas conjuntivas. Esta localização superficial resulta em aparência clínica semelhante a vesículas translucentes. Entretanto, observa-se a extensão desses vasos para dentro do tecido conjuntivo profundo e para a musculatura esquelética. Usualmente, o tratamento dos linfangiomas consiste na excisão cirúrgica, embora a remoção total possa não ser possível em todos os casos devido ao grande tamanho ou ao envolvimento de estruturas vitais. A recidiva é comum, Maysa Veiga - UFPE especialmente para os linfangiomas cavernosos da cavidade oral, devido à sua natureza infiltrativa. Alguns clínicos não recomendam o tratamento de linfangiomas de língua que não estejam aumentando, devido à dificuldade na remoção e à alta taxa de recidiva. Os linfangiomas císticos da região cervical geralmente são lesões bem-circunscritas e apresentam uma baixa taxa de recidiva. A regressão espontânea do linfangioma é rara. O prognóstico é bom para a maioria dos pacientes, embora grandes tumores do pescoço ou da língua possam resultar em obstrução das vias aéreas e morte. A taxa de mortalidade para os higromas císticos varia de 2% a 5% na maioria das séries de casos estudadas. São tumores benignos compostos de osso maduro compacto ou esponjoso. Os osteomas são essencialmente restritos ao esqueleto craniofacial e raramente ou nunca são diagnosticados em outros ossos. Como muitos osteomas são lesões assintomáticas pequenas, há pouca informação confiável sobre sua frequência verdadeira. Os osteomas dos ossos gnáticos podem surgir na superfície do osso como um aumento de volume séssil ou polipoide (periosteal, periférico ou osteoma exofítico) ou podem estar localizados no osso medular (endosteal ou osteoma central). Lesões extraesqueléticas no tecido mole, tipicamente localizadas no músculo ou na derme (osteoma cutâneo), também são possíveis. Muitos osteomas dos ossos gnáticos são detectados em adultos jovens e são geralmente lesões solitárias assintomáticas. Há pouca informação válida se há alguma predileção por gênero. As localizações gnáticas mais comuns são o corpo da mandíbula ou o côndilo. Quando localizados no corpo, muitos osteomas ocorrem posteriores aos pré-molares na superfície lingual. Localizações mandibulares menos comuns incluem o ângulo (particularmente na margem inferior), processo coronoide e ramo. Osteomas periosteais aparecem como aumentos de volume que crescem lentamente na superfície da mandíbula ou da maxila. Alguns tipos podem atingir um grande tamanho, resultando em deformidade facial. Pequenos osteomas endosteais são assintomáticos, mas grandes lesões causam um aumento lento e progressivo da área afetada. Um osteoma envolvendo o côndilo mandibular pode causar um desvio progressivamente lento na oclusão do paciente, com desvio da linha média do queixo em direção ao lado não afetado. Outros sinais e sintomas relatados incluem aumento de volume facial, dor e abertura limitada da boca. Osteomas condilares são considerados por alguns como neoplasmas verdadeiros enquanto outros os denominam como hiperostoses. Pode ser difícil distinguir esse processo de hiperplasia condilar; entretanto, os osteomas condilares são tipicamente lobulados, enquanto o côndilo retém sua forma original quando hiperplásico. Lesões nos seios paranasais também são possíveis e realmente são mais comuns que as lesões gnáticas. O seio frontal é mais comumente envolvido, seguido pelos seios etmoidal e maxilar. Tais lesões são geralmente assintomáticas, embora seja possível haver dor, aumento de volume, sinusite e rinorreia. Em casos raros, osteomas dos seios paranasais podem se expandir para dentro das estruturas orbitárias e resultarem em proptose, diplopia e acuidade visual diminuída. Infrequentemente, a extensão intracraniana pode levar a meningite, abscesso cerebral e mucoceles intracranianos. Radiograficamente, os osteomas aparecem como massas escleróticas circunscritas. Osteomas periosteais podem mostrar um padrão esclerótico uniforme ou podem demonstrar uma periferia esclerótica com padrão trabecular central. É difícil, se não impossível, diferenciar osteomas endosteais menores de focos de osso esclerótico representando o estágio final de um processo inflamatório (osteíte condensante, osteomielite esclerosante crônica focal) ou de focos não-inflamatórios de osso esclerótico (osteoesclerose idiopática). A verdadeira natureza desses osteomas pode ser confirmada apenas pela documentação do crescimento contínuo. Maysa Veiga - UFPE Os osteomas compactos são compostos de osso denso de aparência normal mostrando tecido medular mínimo. Osteomas esponjosos são compostos de trabéculas ósseas e medula fibrogordurosa. A atividade osteoblástica pode estar levemente aumentada. Grandes osteomas do corpo mandibular, causando sintomas ou deformidade estética, são tratados por excisão cirúrgica conservadora. Pequenos osteomas assintomáticos, particularmente aqueles localizados endostealmente, provavelmente não necessitam ser tratados, mas deveriam ser observados periodicamente. Devido à frequência dos sintomas associados, os osteomas surgindo no côndilo são geralmente removidos cirurgicamente. Grandes lesões demandam condilectomia, enquanto os osteomas periféricos são tratados por ressecção local. Os osteomas dos seios paranasais podem não requerer remoção, a menos que se tornem grandes ou sintomáticos; pequenas lesões periféricas podem ser removidas endoscopicamente, enquanto lesões grandes tipicamente requerem uma abordagem cirúrgica aberta. Os osteomas são totalmente benignos e os pacientes não experimentam transformação maligna. A recidiva depois da excisão é extremamente rara.
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