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106 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Unidade III 5 TÍTULOS CREDITÍCIOS O direito de crédito, também conhecido como direito cambiário, é algo substancialmente corriqueiro no mundo dos negócios, devido à natureza pecuniária que possui. Não se trata de uma obrigação pecuniária propriamente, mas, sim, da representação formal dessa obrigação destinada a trocas e alienações. A palavra crédito provém do latim creditum, derivação do termo credere, cujo significado remete a confiar, manter a fé. O crédito consubstancia-se no voto de validade conferido a determinada obrigação prometida por algum agente econômico, em geral, sendo instrumentalizada por um documento representativo do valor a ser adimplido. Com essa noção básica, podemos vislumbrar o quão dinâmicas devem ser a escrituração e a circulação dos tais títulos de crédito, principalmente no mundo do século XXI, onde milhares de agentes econômicos (empresas e consumidores) realizam inúmeras trocas comerciais. Marlon Tomazette (2017b, p. 25-26) nos remete às seguintes reflexões: O crédito representa, em uma ideia geral, a confiança no cumprimento das obrigações, o que facilita extremamente as transações comerciais, que nem sempre representam trocas imediatas de valores. Sem o crédito, a atividade empresarial não teria chegado ao nível atual de desenvolvimento. Foi ele que permitiu a expansão e o desenvolvimento das principais atividades econômicas existentes no mundo moderno. A palavra crédito deriva do latim creditum, que por sua vez advém de credere, que significa confiar, ter fé. Assim sendo, o crédito representaria a confiança que alguém desperta em outrem. Daí dizer-se que determinada pessoa tem crédito, no sentido de que esta pessoa desperta a confiança. Tal uso da palavra crédito pode ser entendido como sua acepção moral que, contudo, não é a única. Além da acepção moral, não há como negar a existência de um sentido econômico da palavra crédito. Luiz Emygdio da Rosas Júnior nos apresenta cinco conceitos econômicos de crédito: “a) crédito é a troca no tempo e não no espaço (Charles Guide); b) crédito é a permissão de usar capital alheio (Stuart Mill); c) crédito é o saque contra o futuro; d) crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos para realizá-lo (Werner Sombart); e) crédito é a troca de uma prestação atual por prestação futura.”. 107 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL A ideia essencial de todas estas acepções é a da troca de um bem atual por um bem futuro. Poderemos consignar, assim, algumas características gerais e históricas referentes aos títulos de crédito. É, em primeira análise, um meio em que se instrumentaliza a circulação de riqueza, pelo valor intrínseco ao título e utilizado como meio de trocas nas negociações. Consequentemente, rompe o vínculo de pessoalidade que pudera existir entre credor e devedor, devido à circulação natural do título cambial, pois não está limitado ao uso entre alienante e adquirente, exclusivamente. Como meio dinâmico de trocas e circulação de riqueza, é um instrumento garantidor de poder de compra a quem não tem dinheiro em espécie no momento da negociação. Por meio das leis específicas, torna segura a relação jurídica entre devedor e credor, garantindo que cada um exerça suas prerrogativas e cumpra deveres diante do teor do título em questão. O crédito fornece dinamismo e metabolismo para as mais complexas e distintas atividades econômicas. Assim, uma pessoa que não possua dinheiro em espécie em determinado momento poderá realizar a compra de um bem, assumindo a promessa de pagar o acordado em outra data; um empreendedor pode captar recursos para sua atividade financeira e, posteriormente, pagar o que foi angariado acrescido de juros e outros valores adicionais preestabelecidos. De maneira simples, vemos o quão importantes e úteis são os títulos cambiários em geral. Na legislação brasileira, podemos contemplar a definição de títulos de crédito no CC: “Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei” (BRASIL, 2002, grifo nosso). Cumpre mencionar que o conteúdo em foco no dispositivo remonta à definição trazida por Cesare Vivante, professor de Direito da Universidade de Roma, que viveu na virada do século XIX para o XX. Já o novo CPC (Lei n. 13.105/2015) caracteriza os títulos de crédito como títulos executivos extrajudiciais: “Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque” (BRASIL, 2015). Lembrete O CPC elenca duas naturezas distintas para os títulos executivos: os judiciais (art. 515) e os extrajudiciais (art. 784). Nesse sentido, o professor Fábio Ulhoa Coelho (2011, p. 266) ratifica as distinções propícias do direito cambiário: As obrigações representadas em um título de crédito ou têm origem extracambial, […] ou de um contrato de compra e venda, ou de mútuo etc., ou têm origem exclusivamente cambial, como na obrigação do avalista. 108 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Observação Processualmente, execução consiste em procedimento relacionado à efetivação de prestações – dar, fazer ou não fazer, e pagar quantia. Ela se baseará em títulos executivos judiciais (como uma sentença) e títulos extrajudiciais (certidões de cartório, escritura pública e letras de câmbio). Como exemplo rudimentar, podemos considerar que o dinheiro (a moeda metálica e o papel-moeda) foi um dos primeiros modelos de representação titular de um valor. E o surgimento das agências bancárias, para depósito de ouro e outras especiarias, propiciou que as pessoas pudessem realizar trocas mercantis trocando papéis representativos do valor em ouro ou outro material de valor, que o comprador havia guardado em banco. E, ainda nessa linha de raciocínio, podemos constatar que o dinheiro na atualidade, seja em qual país for, tem um valor relativo ao dólar norte-americano. Sucintamente, podemos contemplar algumas definições para categorizar tipos distintos de direitos cambiários. Considerando a garantia assegurada ao credor, a doutrina pode adotar as seguintes distinções: crédito real ou crédito pessoal. Pelo crédito real, a garantia envolve bem móvel ou imóvel, do penhor à hipoteca. Quando não houver cumprimento da obrigação, o credor se resguardará de receber o valor cambiário em cima da alienação do bem garantido. E o crédito pessoal tem como garantia o patrimônio da pessoa. O vínculo jurídico diz respeito ao entorno da pessoa natural ou jurídica responsável pela obrigação. Em razão da finalidade cambiária, rotulamos as seguintes categorias: créditos consumeristas ou créditos de produção. Os primeiros referem-se a valores destinados para satisfação pessoal do credor. Enquanto os últimos tipos, em especial, tidos como o crédito rural e o industrial, são utilizados para produção ou alavancagem de atividades econômicas vinculadas à obrigação. Saiba mais Veja informações e imagens do Museu de Valores brasileiro no site do Banco Central e conheça a história dos bancos no documentário O sonho americano: THE AMERICAN DREAM. Dir. Tad Lumpkin/Harold Uhl, 2010. 30 minutos. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Museu de Valores. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/museu >. Acesso em: 11 jun. 2019. 109 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL As principais normas reguladoras do tema são inicialmente o CC, tido como norma geral contemporânea: “Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulosde crédito pelo disposto neste Código” (BRASIL, 2002). A seguir, teremos normas específicas, como o Decreto n. 2.044/1908, que trata das letras de câmbio e das notas promissórias, além de regulamentar operações cambiais; a Lei n. 7.357/1985, que dispõe sobre o cheque; a Lei n. 5.474/1968, referente às duplicatas; e, por fim, o Decreto n. 57.663/1966, incorporador da Lei Uniforme da Convenção de Genebra, de 1930, à qual o Brasil acordou em 1942. Esse tratado convenciona acerca da universalidade das letras de câmbio e das notas promissórias. Fábio Ulhoa Coelho contextualiza a diversidade de legislações e seus problemas: Contudo, nem todos os dispositivos da Lei Uniforme entraram em vigor no Brasil. Valendo-se de possibilidade oferecida pela própria convenção, o Brasil assinalou, quando de sua adesão, determinadas reservas. Isto quer dizer que o estado brasileiro havia-se reservado o direito de introduzir, parcialmente, em seu ordenamento interno, o texto da Lei Uniforme. Em virtude destas reservas, este texto ficou relativamente lacunoso. Por outro lado, não houve lei qualquer que tivesse revogado, expressamente, o Decreto n. 2.044/1908. Teria, então, ocorrido uma revogação tácita, com a superveniência de lei disciplinando a mesma matéria. Neste sentido, permanecem vigorantes as disposições do referido diploma interno no que diz respeito à disciplina de assunto omitido na Lei Uniforme, seja por ausência de regramento, seja em decorrência de reserva assinalada pelo Brasil. De sorte que, presentemente, a legislação que se entende vigorante no Brasil, acerca de letra de câmbio e nota promissória, é a colcha de retalhos que se costura com dispositivos da Lei Uniforme de Genebra e da legislação interna, fonte de indesejáveis disputas e de incertezas jurídicas (COELHO, 2011, p. 275-276). Para enfrentar a celeuma legislativa criada, podemos nos ater ao seguinte quadro: Quadro 12 – Normas dos títulos de crédito Norma Matéria Decreto n. 2.044/1908 Letras de câmbio Notas promissórias Regulamentação de operações cambiais Lei n. 7.357/1985 Cheque Lei n. 5.474/1968 Duplicatas Decreto n. 57.663/1966 Incorpora ao ordenamento jurídico brasileiro a Lei Uniforme de Genebra (LUG), universalizando as letras de câmbio e notas promissórias 110 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III 5.1 Características essenciais As características a seguir descritas dão validade e prática para o direito cambiário. A rigor, são três: autonomia, cartularidade e literalidade. Doutrinariamente podem ser elencadas outras, como a abstração e a independência, mas também estas podem ser interpretadas como detalhes ou desdobramentos das primeiras características. Constituem, portanto, elementos basilares dos títulos de créditos. Podemos, inclusive, denominá-los princípios jurídicos, muito comuns no sistema de Direito. No ordenamento jurídico brasileiro, os princípios são bases éticas prévias ao direito positivado. O Decreto-lei n. 4.657/1942, denominado Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), prevê que princípios gerais de direito serão norma integradora no Brasil. Quando o juiz analisa a demanda posta à sua competência, ele não pode se furtar de aplicar o direito alegando inexistência de norma, então a LINDB determina que ele deverá suprir essa lacuna legal com três critérios: a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Outra ilustração da importância de princípios se dá no direito constitucional. A doutrina construiu o princípio da vedação ao retrocesso, que estabelece que mudanças constitucionais, por emendas ou mudanças revolucionárias na sociedade, não podem retroceder no sentido de limitar direitos que já estivessem garantidos pela ordem constitucional vigente ou anterior. Assim, teoricamente, se a CF determina que não há pena de morte, via de regra, não poderá posteriormente a Carta Política ser emendada para ampliar essa forma de penalização. Conclui-se que é algo basilar do ordenamento jurídico. No entanto, quanto às práticas empresariais e econômicas, talvez a princípio, seja um termo muito mais concreto e robusto para aplicar a títulos, baseados em formalidades e costumes. Daí pode surgir divergência doutrinária no sentido de conceituar ou não os elementos ou características dos títulos de crédito como princípios propriamente. Lembrete No ordenamento jurídico brasileiro, os princípios são bases éticas prévias ao direito positivado, independentemente da abordagem escolhida, princípios ou características não podem ser afastados, prioriza-se um, mas sem desconsiderar os demais. A começar, enfim, o estudo desses elementos, temos a autonomia. A partir dessa base, permite que um novo titular do crédito adquira um novo direito, como se fosse o credor originário (afinal, o título serve justamente para circular pelo mercado via alienação ou trocas). Com base nisso, podemos citar o art. 893 do CC: “a transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes” (BRASIL, 2002). O adquirente de boa-fé tem resguardado um direito próprio com o título, não podendo ser este limitado em razão dos antigos titulares. No campo processual, gera direitos processuais distintos a cada titular à medida que vai circulando. 111 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL Essas considerações dizem respeito apenas às transferências de boa-fé. Como ferramental jurídico para resguardar-se contra fraudes e problemas, a lei civil prevê as denominadas exceções a serem opostas pelo terceiro conforme com o direito. Nesse sentido, garante o art. 916: “As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé” (BRASIL, 2002, grifos nossos). Os fundamentos estão expressos no artigo a seguir: Art. 915. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação (BRASIL, 2002). Com o fim de facilitar a compreensão, seguem as exceções em rol: • Fundadas em relação pessoal (hipótese aberta). • Forma do título e ao seu conteúdo literal. • Falsidade da própria assinatura. • Defeito de capacidade ou representação no momento da subscrição. • Falta de requisito fundamento ao exercício da ação judicial. Por sua vez, cartularidade nos remete ao seu conteúdo formal – documental, a cártula, isto é, o direito existe enquanto houver forma. Nesse sentido, o art. 889 do CC traz requisitos para composição do título cambiário, de modo a nos permitir concluir que necessariamente demanda uma forma documental: Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. § 1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. § 2º Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. § 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo (BRASIL, 2002, grifos nossos). 112 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III A cartularidade se torna de fundamental importância para dar início à execução processual. Podemos, ainda, encontrar em textos e livros a substituição do termo cartularidade por incorporação, com fundamento na ideia de que o título incorpora o direito creditício, e a transferênciado direito a outrem acarreta necessariamente a transferência da titularidade cambial. Em suma: ter propriedade sobre o título é ter aquisição do respectivo direito. Algumas características típicas da cartularidade se dão com relação ao protesto ou à permissibilidade ou não de cópia. Primeiramente, a noção mais óbvia a ser levada em conta é que o protesto só será possível com a apresentação do título. O mesmo vale para realização da execução, não se admitindo nem mesmo a cópia autenticada. Também devemos considerar que, se o título estiver em mãos do devedor, via de regra, significará a presunção do seu pagamento. Além da cartularidade, para a formalidade do título é imprescindível o elemento da literalidade, consistindo na base da segurança jurídica do título e respectivo direito creditício. Assim, o direito contido no título é expresso e literal nos respectivos termos. Buscando na doutrina, provavelmente encontraremos formas distintas de denominar o elemento da literalidade. Para fins didáticos, poderemos considerar como literalidade positiva a que estatui ser obrigação do devedor o que constar no título creditício. De forma antagônica, pela literalidade negativa, entendemos a não sujeição do devedor por aquilo que não constar na cédula cambiária. Por fim, a literalidade em branco se consolida quando a obrigação se der por aquilo que o portador lançar no título. Expondo de maneira mais clara, temos resumidamente que: • O que está descrito no título gera obrigação. • O que não está descrito no título não gera obrigação. • No caso de o título possuir omissões ou estar em branco, a obrigação decorrerá do que o portador lançar no título. A pretexto de curiosidade, devemos conhecer que foi enunciada a Súmula 258 do STJ, estabelecendo que a nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não gozará de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. Em razão da literalidade, o endosso e o aval devem ser escritos no título. O STJ entendeu que, no REsp 707.460-MS, prova testemunhal não irá suprir quitação ausente no título. Demais detalhes do título, ou vínculo a contratos, que possui encargos específicos, despertam questões jurisprudenciais de suma importância: 113 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL DIREITO CAMBIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE DATA DA EMISSÃO DA NOTA. EXECUTIVIDADE. OMISSÃO SANADA PELO CONTRATO A ELA VINCULADO. 1. “Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório” (Súmula 98). 2. Descabe extinguir execução pelo só fato de inexistir data de emissão da nota promissória, quando possível tal aferição no contrato a ela vinculado, mesmo porque “a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto” (Súmula 387/STF). 3. Resta inviabilizada a pretensão recursal, porquanto, deslocando-se o cerne da discussão da nota promissória em si para o contrato a ela vinculado, a não constatação de iliquidez pelas instâncias ordinárias está infensa à análise desta Corte, por força da Súmula 5. 4. Descabe condenação em honorários advocatícios em exceção de pré-executividade rejeitada (EREsp 1048043/SP, CORTE ESPECIAL). 5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (STJ. REsp 968320/ MG. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. j. 19/8/2010, DJe: 3/9/2010). DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO. ABSTRAÇÃO E AUTONOMIA. VIABILIDADE DA EXECUÇÃO. LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DA DÍVIDA REPRESENTADA NO CONTRATO SUBJACENTE. I – Não pode ser executada a nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito (Súmula 258/STJ), embora o possa vincular a contrato de confissão de dívida. II – É que a vinculação do título de crédito a um contrato subtrai a autonomia cambiária, pondo em evidência o conteúdo do próprio contrato. O critério determinante parece ser, portanto, a liquidez ou iliquidez do contrato a que se liga o título cambiário. III – A supressão da autonomia cambiária do título não implica, necessariamente, a supressão da sua executoriedade. Esta só será comprometida se o contrato respectivo não for capaz de refletir uma dívida líquida e exigível. 114 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Recurso especial a que se nega provimento. (STJ. REsp 861009/SC. Rel. Min. Sidnei Beneti. j. 16/3/2010. DJe: 29/3/2010). Finalizando, trataremos da abstração e da independência. De maneira simples, a abstração significa a ruptura de vínculo entre a obrigação originária e o título de crédito, atingindo os seguintes propósitos práticos: • Garantir a circulação do título. • Alcançar segurança jurídica. • Proteger terceiro de boa-fé, que é pressuposto de todos as características mencionadas. Desta feita, a abstração não poderá ser estratagema para credores de má-fé. No tocante à independência, possui vínculo com a literalidade, ao determinar que o título vale de per si. De maneira prática, garante que o título é o que basta para acompanhar um processo de execução, não necessitando, via de regra, de contratos e notas. Diferentemente das características ou, ainda, dos princípios, podemos mencionar que há atributos pertinentes aos títulos de créditos. Podemos convencionar que atributos, nesse contexto, referem-se a meios de instrumentalização dos títulos. Assim, os atributos são dois: a negociabilidade e a executividade. A negociabilidade permite a circulação do crédito, uma função primordial. Daí nasce a possibilidade de haver a mudança do credor em razão da transferência do crédito. Já a executividade permitirá que o beneficiário execute a obrigação, independentemente de provocação judicial, pois, conforme já mencionado, títulos de crédito consistem em títulos executivos extrajudiciais. 5.2 Historicidade dos títulos cambiários O momento histórico tido como marco de criação e uso costumeiro dos títulos creditícios remonta aproximadamente à Idade Média, do século XIII ao século XVII. Destacam-se as cidades marítimas italianas, cujo período renascentista foi denominado também a época do renascimento comercial. Saiba mais Acerca da mercancia no período renascentista, há um filme shakespeariano que ilustra muito bem as relações comerciais da época: O MERCADOR DE VENEZA. Dir. Michael Radford. Itália/Reino Unido/ Luxemburgo, 2004. 138 minutos. 115 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL O período seguinte remete às Ordenações Comerciais Francesas, a partir de 1673, onde foram esculpidas normas e práticas mais sofisticadas até então, a exemplo do endosso. Aproximadamente de 1840 a 1930, nasceu o chamado período germânico da história dos títulos cambiários. Esse período se coaduna com a Revolução Industrial. A partir de 1930, os países buscaram uniformizar as regulamentações para os títulos de crédito, devido ao caráter cada vez mais global dos mercados. Com tal desiderato foi realizada a Convenção de Genebra, em 1930. E, basicamente, a partir desse momento, tem-se o marco legiferante acerca da matéria no ordenamento jurídico brasileiro, mesmo havendo leis esparsas de datas anteriores. A LUG, já mencionada, é fundamental fonte do direito creditício. 5.3 Classificação dos títulos de crédito Com base na sistemática do direito positivado – expresso em lei, há uma classificação referente aos títulos de crédito pertinentes à previsão estabelecida: títulos de créditos típicos, que são os previstos em lei, e os atípicos, aqueles criados ou usados sem ter suas formalidades descritas em alguma norma (mesmo assim, vale salientarque deverão obedecer a princípios e a requisitos comuns baseados na ética), como também os que são a reunião de características dos títulos de crédito próprios, ou seu uso atrelado a determinadas finalidades. O que importa para nossos estudos diz respeito à aplicação da lei e sua relação com o CC. Tendo em vista essa noção, aos títulos típicos ou nominados, será aplicada a legislação própria ou específica, estando aplicada de maneira residual ou suplementar. No tocante aos títulos atípicos ou inominados, a regra é invertida, em parte, já que não possuem lei própria: a regra geral aplicável é a do CC, quando a norma se coadunar com a natureza ou característica do título de crédito em questão. Em face da natureza do título cambiário, a doutrina contempla os títulos causais e os títulos abstratos. Os títulos causais são aqueles emitidos unicamente em razão de uma circunstância atinente à sua emissão. O maior exemplo é a duplicata, que corrobora o contrato de compra e venda de mercadorias. Em contrapartida, os títulos abstratos não estão vinculados a determinadas circunstâncias negociais, não havendo uma justificativa para sua emissão. Devido à circulação inerente do título, surge outra modalidade de definições: os títulos de crédito à ordem, títulos de créditos nominativos e os títulos de crédito ao portador. Títulos à ordem são aqueles que circulam mediante indicação pelo atual credor do nome da pessoa destinatária do pagamento. Essa indicação é denominada endosso, consistindo na assinatura do credor beneficiário (nominado como endossante nessa relação) no verso ou anverso do título, transferindo sua propriedade ao endossatário. É admitida a possibilidade de limitar sua circulação por esse meio, quando houver a transcrição pelo emitente do termo não à ordem, podendo ocorrer apenas pelo instituto da cessão civil. No entanto, a lei civil proíbe o endosso parcial, consoante art. 912, parágrafo único. 116 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Com respeito à transferência, dar-se-á por meio da tradição do título. Tradição é um termo oriundo das obrigações no direito civil, consistindo na transferência de um objeto (bem) de um agente para outro, tipicamente a compra e a venda de bens móveis é realizada pela tradição: o comprador dá o valor do produto, e o vendedor entrega o objeto nas mãos do cliente, ocorrendo, então, a tradição. A principal norma referente à matéria se concentra no CC nos seguintes termos: Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. § 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante. § 2º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título. § 3º Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente (BRASIL, 2002). A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil. Como exemplo, os principais títulos de crédito contemporâneos são títulos à ordem (letra de câmbio, duplicata e cheque). Em relação aos títulos nominativos, o CC o definiu de maneira sistemática nos termos seguintes: Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. Art. 922. Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente (BRASIL, 2002). O registro tem o intuito de proteger o titular contra a perda do crédito decorrente da perda do título. Quanto aos títulos ao portador, traduzem-se na óbvia literalidade: o pagamento da quantia expressa é efetuado a quem os estiver em posse, portando. Logo, sua transferência também ocorre pela tradição: Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente (BRASIL, 2002). A lei civil dispõe sobre circunstâncias que validam o título, a despeito do estado documental: 117 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL Art. 908. O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas. Art. 909. O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Parágrafo único. O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato. No ordenamento jurídico nacional, foi proibida a circulação de títulos de crédito ao portador na década de 1990: […] No Brasil, os títulos ao portador foram praticamente extintos no início dos anos 1990, e juntamente com eles foi proibido o endosso em branco. Exemplo: cheque ao portador. Nesse sentido, a Lei n. 8.021/1990, editada à época do governo Collor, proibiu a emissão de ações ao portador pelas sociedades anônimas e de outros títulos ao portador na ocasião, em decorrência de motivações de ordem econômica e tributária, às quais se somaram, nos anos subsequentes, aquelas relacionadas a políticas governamentais voltadas ao combate aos crimes de lavagem de dinheiro e evasão tributária, motivo de sua manutenção em vigor até os dias atuais (GOMES, 2018, p. 230). Excepcionalmente, há leis diversas que dispõem sobre exceções a essa proibição. A Lei n. 9.069/1995, por exemplo, estabelece: Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário. Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional regulamentará o disposto neste artigo (BRASIL, 1995, grifo nosso). Nos termos do Decreto-lei n. 204/1967, temos também o bilhete de loteria admitido na forma de título ao portador: “Art. 6º O bilhete de loteria, ou sua fração, será considerado nominativo e intransferível quando contiver o nome e endereço do possuidor. A falta desses elementos será tida como ao portador, para todos os efeitos” (BRASIL, 1967, grifo nosso). E, no CC, há a previsão de que o título nominativo se converta em título ao portador, nos casos em que não houver proibição expressa por leis: “Art. 924. Ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa” (BRASIL, 2002). 118 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III A última classificação pertinente aos nossos estudos refere-se à forma jurídica: ordens de pagamento ou promessas de pagamento. Os primeiros são a duplicata, o cheque e a letra de câmbio. Em comum, possuem três agentes jurídicos distintos: sacador ou emitente, o emissor do título; o sacado, agente responsável pela ordem de pagamento; e o beneficiário, o destinatário da quantia expressa no título. A promessa de pagamento possui o nome autoexplicativo. Como exemplo, temos a nota promissória, situação em que há apenas dois agentes jurídicos: o promitente, o devedor; e o promissário. 5.4 Institutos jurídicos referentes aos títulos de crédito Nesse momento, é oportuno adentrarmos em detalhes maiores desses elementos pertinentes à matéria dos títulos cambiários ou à circulação desses mesmos créditos. Entre os que estudaremos a seguir haverá o endosso, o aval, o aceite, o protesto e a cessão de créditos. Os três primeiros podem ser denominados como declarações cambiárias, consistindo em manifestações acerca da dinâmica funcional dos títulos de crédito. Já o protesto e a cessão de crédito são institutosjurídicos próprios e distintos aplicáveis não só aos títulos de crédito. 5.4.1 Endosso Endossar pode assumir diversos significados, como declarar transferência de algo a outrem, atribuir responsabilidade a terceiros e, ainda, ratificar ou prestar solidariedade. No que tange à transferência do título cambial, o endosso se consubstancia na forma de transferir a titularidade da cédula cambiária. Podemos vislumbrar duas formas de endossar: endosso em branco e endosso em preto. A respeito da polêmica no direito brasileiro, o endosso em branco é a transcrição da assinatura do endossante, sem indicação de quem será o beneficiário do valor contido no título. Em sentido contrário, o endosso em preto é justamente o que há indicação do endossatário. A LUG expõe como efeitos do endosso: Art. 14. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra. […] Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada. Art. 16. O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos. 119 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL Quando um endosso em branco é seguido de um outro endosso, presume-se que o signatário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco. Se uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde que justifique o seu direito pela maneira indicada na alínea precedente, não é obrigado a restituí-la, salvo se a adquiriu de má-fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave (BRASIL, [s.d.], p. 10). No mesmo diploma, encontramos dispositivos que preveem que o endosso terá natureza de cessão de créditos nas hipóteses excepcionais a seguir: Art. 11. Toda a letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula a ordem, é transmissível por via de endosso. Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não a ordem”, ou uma expressão equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. O endosso pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra. […] Art. 20. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. Salvo prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto (BRASIL, [s.d.], p. 9-10). As leis citadas estabelecem algumas modalidades de endosso, como o endosso-mandato e o endosso-caução, ambos tidos como formas impróprias dessa modalidade, porquanto não transferem a titularidade do crédito. O endosso-mandato está constituído nos moldes do art. 917 do CC e do art. 18 da LUG, tendo esse último a definição mais clara pelo primeiro: Art. 917. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída. § 1º O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu. § 2º Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o endosso-mandato. 120 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III § 3º Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver contra o endossante (BRASIL, 2002). Art. 18. Quando o endosso contém a menção “valor a cobrar” (valeur em recouvremente), “para cobrança” (pour encaissement), “Por procuração” (par procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador. Os coobrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que eram oponíveis ao endossante. O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário (BRASIL, [s.d.], p. 10, grifos nossos). No que concerne à responsabilidade do endossatário do endosso, o STJ sumulou nos seguintes termos: “Súmula 476. O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes do mandatário” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, [s.d.]). O dispositivo a seguir, do CC, estabelece o endosso-caução, garantidor do cumprimento da obrigação pelo endossante por meio de penhor do título: Art. 918. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título. § 1º O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador. § 2º Não pode o devedor opor ao endossatário de endosso-penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver agido de má-fé (BRASIL, 2002). Por fim, cumpre mencionar que, nos moldes do CC e da LUG, o endosso compreenderá o valor total da quantia estabelecida no título cambiário. Logo, é proibido endosso parcial. Tais disposições estão amparadas nos dois diplomas legislativos mencionados: Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante. Parágrafo único. É nulo o endosso parcial (BRASIL, 2002). Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita. 121 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL O endosso parcial é nulo. O endosso ao portador vale como endosso em branco (BRASIL, [s.d.], p. 9). 5.4.2 Cessão de crédito Já mencionada em nossos estudos, a cessão de crédito é um meio de transferir um direito creditício, estando regulamentada pelos arts. 286 a 298 do CC. Os artigos seguintes expõem suas principais características: Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios (BRASIL, 2002, grifo nosso). Institutos acessórios, mencionados supra, são direitos ou deveres menores que orbitam em torno do principal. Assim, juros são pagamentos acessórios a um empréstimo – o principal. Uma das características mais peculiares do instituto da cessão de direito é que independe do conhecimento do devedor para ter eficácia: Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. […] Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido (BRASIL, 2002, grifo nosso). Porém, o devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem ou as que possua contra o cedente, no momento que tomou conhecimento da cessão (art. 294). Cumpre, ainda, mencionar que o art. 296 estabelece que o cedente não responderá pela solvência do devedor. E, em eventuais confusões, quando ocorrer várias cessões sobre o mesmo crédito, prevalecerá aquelaque se completar com a tradição do título cedido: “Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido” (BRASIL, 2002). 122 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Podemos nos confundir acerca de algumas características do endosso e da cessão de crédito. A fim de esclarecer possíveis dificuldades com relação a esses dois institutos, temos as seguintes distinções especificadas: Quadro 13 Endosso Cessão de crédito Declaração unilateral de vontade Declaração bilateral de vontade Endossante responde pela aceitação e pagamento (art. 15, LUG) O cedente responde pela existência do crédito (art. 286, CC) Não admite exceções pessoais por parte do devedor Admite exceções pessoais por parte do devedor (art. 294, CC) Efetiva pelo escrito no próprio título A cessão se efetiva por qualquer meio não defeso por lei, convenção ou pela natureza da obrigação 5.4.3 Aval A seguir analisaremos o aval, que é uma forma de garantia. Nos termos do art. 897 do CC, o pagamento de um título de crédito poderá ser garantido por meio de aval, sendo vetado o aval parcial, este deve ser dado no verso ou anverso do título em questão, conforme art. 898. Para constituir validade, basta a simples assinatura do avalista quando o aval é dado no anverso do título. O CC admite, ainda, o uso do aval posterior ao vencimento: “Art. 900. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado” (BRASIL, 2002). 5.4.4 Aceite O aceite é uma forma de responsabilidade do sacado, quando este assume a obrigação pelo pagamento do título. Nas palavras de Marlon Tomazette: Por questões de segurança e proteção do crédito, o credor da letra de câmbio tem a possibilidade de verificar se o sacado vai ou não efetuar o pagamento. Como se trata de uma opção do sacado pagar ou não, o credor pode indagá-lo, antes do vencimento, se ele realmente vai efetuar o pagamento ou não. O sacado tem ampla liberdade para dizer se vai efetuar ou não o pagamento. Caso ele se manifeste no sentido de que vai pagar o título de crédito, ele deve expressar essa vontade no próprio título assumindo a condição de obrigado pelo pagamento da letra de câmbio. Ao declarar sua vontade no sentido de que vai efetuar o pagamento, o sacado se torna devedor do título e pode ser eventualmente compelido a efetuar esse pagamento. Ele deixa de ser um mero nome indicado no documento e passa a ser um obrigado pelo pagamento, pois manifestou sua vontade nesse sentido. Essa declaração de vontade que torna o sacado obrigado a pagar a letra de câmbio é chamada 123 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL de aceite, que existe apenas nas letras de câmbio e duplicatas, não existindo no cheque ou nas promissórias (TOMAZETTE, 2017b, p. 134, grifo nosso). Na LUG, as principais disposições acerca do aceite estão contempladas nos arts. 25 e 26. 5.4.5 Protesto O protesto encontra-se disciplinado na Lei n. 9.492/1997, e, conforme o art. 1º o define, é ato formal e solene que se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. Ele pode ser iniciado em razão da falta de pagamento, da falta de aceite e da falta de devolução (art. 21). Primeiramente, o título protestado passará pela etapa do apontamento, para que o devedor seja notificado e possa efetuar o pagamento devido em prazo especificado. Após essa etapa, sem o adimplemento correspondente, haverá o registro ou a lavratura do protesto. Cumpre dizer que, na letra do art. 202, III, CC, o protesto gera a interrupção da prescrição do título levado a ele: “a interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: […] III – por protesto cambial” (BRASIL, 2002). Para o devido esclarecimento, o parágrafo único do dispositivo recorda que a prescrição interrompida recomeça a correr integralmente da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Em todos os títulos de crédito, o protesto poderá ser realizado em virtude da falta de pagamento no vencimento e, a depender do título, devido à falta de aceite pelo sacado. Citamos que as principais diretrizes acerca das condições que ensejam o protesto estão consubstanciadas no art. 44 da LUG. Regra geral, o cartório competente para o protesto será o do local indicado para o aceite ou para o pagamento. Podemos encontrar algumas especificações quanto a esse momento. Nas letras domiciliadas, recomenda-se o tabelionato do domicílio do sacado e o do local indicado, quando o protesto se der pela falta de pagamento. Há ainda o do local indicado pelo aceitante do pagamento, quando se tratar de aceite domiciliado. 5.4.5.1 Procedimento do protesto Com fulcro na Lei n. 9.492/1997 e na construção doutrinária, o protesto pode ser sistematizado em três momentos distintos: registro, intimação para o pagamento e, finalmente, lavratura. Há pensadores que mencionam duas etapas, mesclando o registro e a intimação como uma fase. O art. 22, e incisos, da Lei n. 9.492/1997 menciona os requisitos para a realização do registro do processo. Para isso, e seu instrumento, serão necessários a data e o número da protocolização; nome do apresentante e endereço; reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele inseridas; certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas; indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas; a aquiescência do portador ao aceite por honra; nome, número do documento de identificação do devedor e endereço; e data e assinatura do tabelião de protesto, de seus substitutos ou de escrevente autorizado. 124 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Os termos dos protestos lavrados decorrentes da falta de pagamento, aceite ou devolução serão registrados em um único livro, contendo anotações do tipo e do motivo do protesto, conforme o art. 23. E no art. 24 da mesma lei, temos menção de que o deferimento da concordata não impedirá o protesto. Observação A concordata é um instituto já não existente mais no ordenamento jurídico brasileiro, sendo substituído pela recuperação judicial da Lei de Falências (Lei n. 11.101/2005). Conforme descrito na Lei de Falências, é-nos instruído que os protestos realizados poderão instruir como documentação ou prova para instaurar recuperação judicial ou a própria falência. Quanto à intimação, encontra-se regulamentada pelos arts. 14 e 15 da Lei n. 9.492/1997, Lei de Protestos. A sua realização é, a princípio, livre; os já mencionados dispositivos mencionam via correspondência (aviso de recebimento) e por intermédio de edital. Após realizada a intimação, se houver o pagamento, aceitação ou devolução do título, e, ainda, a datação do aceite, não haverá lavratura do protesto. Porém, se tais medidas não forem tomadas, o cartorário realizará a devida lavratura. No art. 9º da Lei de Protestos, devemos observar que, no tocante à caducidade, ou prescrição, é possível que títulos prescritos ou caducados sejam apresentados a protesto, já que o cartorário não precisa observar tais condições. Considerando a efetivação da prescrição, desaparecerá a certeza, liquidez e exigibilidade da letra creditícia prescrita, tornando o direito de protesto inútil. Por oportuno, devemos nos ater ao art. 783 do CPC, que fundamenta a execução para cobrança de crédito basear-se em título de obrigação certa, líquida e exigível. Vemos que é uma anomalia gerada no direito, pois se o tabelião não é obrigado a observar a ocorrência da prescrição ou da caducidade, significa que o título sob tais condições poderá ser protestado. Porém, devido à perda da executoriedadedo crédito, tornar-se-á um expediente inútil. Exemplo de aplicação Atualmente, com o advento da tecnologia da informação e o dinamismo da comunicação on-line, já se tornou viável a realização de protestos virtualmente, por meio de contratação de serviços, pelo computador, para esse fim ou em sites de cartórios. A título de curiosidade, recomendamos o acesso a algum site que disponibilize ferramenta de protesto de títulos, a fim de verificar quais são as vantagens. 125 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 6 TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE No direito e na prática econômica do Brasil, predominam como as principais modalidades de títulos cambiais as seguintes: letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque. Há outros com finalidades específicas e não tão famosos como aqueles, a título de exemplo, podemos mencionar as cédulas creditícias rurais e warrant. Cada uma atende a finalidades específicas, às vezes comum, de determinadas práticas mercantis, expondo a versatilidade e a necessidade de sua circulação para promover maiores trocas econômicas. 6.1 Letra de câmbio O art. 1º do Decreto n. 2.044/1908 define letra de câmbio como ordem de pagamento que possua os seguintes requisitos enumerados nos respectivos incisos do dispositivo mencionado: Art. 1º A letra de câmbio é uma ordem de pagamento e deve conter requisitos, lançados, por extenso, no contexto: I – A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na língua em que for emitida. II – A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda. III – O nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser inserida abaixo do contexto. IV – O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao portador e também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O sacador pode designar-se como tomador. V – A assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A assinatura deve ser firmada abaixo do contexto (BRASIL, 1908). Assim, a ordem de pagamento é emitida pelo sacador contra o sacado, que efetuará o pagamento ao beneficiário da quantia transcrita no título. Há, na dinâmica da circulação do título, três agentes. Inicia-se pelo sacador – titular de um direito cambial, emitente por meio do saque cambial –, contra o sacado – quem se submete à obrigação cambiária –, pagando ao beneficiário – o tomador – a quantia cambiária. Enumeramos as principais características da letra de câmbio nos seguintes modos: a) a relação jurídica existente em uma letra de câmbio é nitidamente triangular, envolvendo obrigatoriamente três posições jurídicas distintas, a saber: sacador, sacado e beneficiário; b) tal relação, entretanto, não obstante necessitar das três posições referidas, 126 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III pode conter a mesma pessoa, por exemplo, como sacador e beneficiário de uma letra de câmbio, conforme o art. 3º (Anexo I) da Lei Uniforme; c) é um título abstrato, pois a sua emissão não exige uma causa legal específica, não necessitando, assim, trazer expresso o motivo que lhe deu origem; d) no Brasil, a letra de câmbio somente pode ser emitida como título à ordem; e e) a despeito de não ser o principal pagador, uma vez efetuado o saque cambial, o sacador se vincula ao pagamento da letra de câmbio, conforme previsto no art. 9º (Anexo I) da Lei Uniforme (GOMES, 2018, p. 244-245). A LUG, regulada no Brasil pelo Decreto n. 57.663/1966 estabelece os seguintes requisitos para compor a letra de câmbio: Art. 1º A letra contém: 1 – A palavra “letra” inserta no próprio texto do título é expressa na língua empregada para a redação desse título; 2 – O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 3 – O nome daquele que deve pagar (sacado); 4 – A época do pagamento; 5 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 6 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga; 7 – A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 8 – A assinatura de quem passa a letra (sacador). Art. 2º O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à vista. Na falta de indicação especial, a lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sacado. 127 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador (BRASIL, [s.d.], p. 8). Em face do art. 2º, o STF sumulou nos seguintes termos: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto” (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, [s.d.]). Com relação ao aceito da letra de câmbio, esta poderá ser apresentada ao aceite do sacado, no seu domicílio, pelo portador ou até por mero detentor, desde que a apresentação se dê até o vencimento, no art. 21. Ainda, o sacador deve estipular que ela será apresentada ao aceite com ou sem prazo fixado, com fulcro no art. 22. Cumpre salientar o mecanismo do prazo de respiro, que está previsto no art. 24, em que o sacado poderá pedir que lhe seja apresentada a letra numa segunda oportunidade, que será o dia seguinte ao da primeira apresentação. Porém, a Lei n. 9.492/1997 prevê no art. 21, § 5º, que não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado não aceitante. Lembrete É previsto em nosso ordenamento jurídico a possibilidade de haver protesto contra letra de câmbio por falta de aceite. Acerca das formas de pagamento, a letra poderá ser sacada à vista; a um certo termo de vista ou de data, sendo pagável num dia fixado para essas hipóteses. Na falta de aceite ou de pagamento, o portador poderá exercer seus direitos de ação contra endossantes, sacador e outros coobrigados, conforme o artigo a seguir: Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados: No vencimento: Se o pagamento não foi efetuado. Mesmo antes do vencimento: 1 – Se houve recusa total ou parcial de aceite. 2 – Nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens. 3 – Nos casos de falência do sacador de uma letra não aceitável (BRASIL, [s.d.], p. 14). 128 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Tanto no Decreto n. 2.044/1908 quanto na LUG é admitida a duplicata de uma letra de câmbio quando houver destruição ou retenção indevida do título original. No art. 16 do Decreto n. 2.044 da primeira norma, temos as seguintes disposições: Art. 16. O sacador, sob pena de responder por perdas e interesses, é obrigado a dar, ao portador, as vias de letra que este reclamar antes do vencimento, diferençadas, no contexto, por números de ordem ou pela ressalva, das que se extraviaram. Na falta da diferenciação ou da ressalva, que torne inequívoca a unicidade da obrigação, cada exemplar valerá como letra distinta. § 1º O endossador e o avalista, sob pena de respondem por perdas e interesses, são obrigados a repetir, na duplicata, o endosso e o aval firmados no original. § 2º O sacado fica cambialmente obrigado por cada um dos exemplares em que firmar o aceite. § 3º O endossador de dois ou mais exemplares da mesma letra a pessoas diferentes e os sucessivos endossadores e avalistas ficam cambialmenteobrigados. § 4º O detentor da letra expedida para o aceite é obrigado a entregá-la ao legítimo portador da duplicata, sob pena de responder por perdas e interesses (BRASIL, 1908). Já na Lei Uniforme, a duplicata da letra de câmbio é mencionada meramente como cópia, na seção IX – Da pluralidade de exemplares e das cópias, pelos arts. 67 e 68. Por fim, no tocante ao protesto da letra de câmbio, a LUG nos traz longas disposições sobre o protesto da letra cambiária, nos arts. 44 e 45, podendo se dar por falta de aceite, falta de pagamento e falta de devolução. 6.2 Nota promissória De maneira simples, não há complexidade sobre o conceito desse título de crédito: consiste na promessa de realização de pagamento, à vista ou a prazo. A LUG estabelece o seguinte rol de requisitos para compor a nota promissória: Art. 75. A nota promissória contém: 1 – Denominação “Nota Promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título. 2 – A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada. 129 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 3 – A época do pagamento. 4 – A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento. 5 – O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga. 6 – A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada. 7 – A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor) (BRASIL, [s.d.], p. 20). Na forma do art. 77, serão aplicáveis às notas promissórias os dispositivos referentes às letras e os concernentes, desde que não sejam contrárias à natureza do título promissório, em especial os artigos sobre endosso, aval, vencimento pagamento, disposições sobre quantias a pagar, responsabilidades sobre a assinatura, direito de ação por falta de pagamento, pagamento por intervenção, cópias ou duplicatas, alterações, contagem de prazos e prescrição. A relação envolvida na nota promissória demanda dois agentes: o subscritor ou promitente-devedor, aquele que se submete à promessa de pagamento. E o beneficiário ou promissário-credor, que é aquele que a quem a promessa se referirá. Acerca do protesto, aplicar-se-á o art. 44, mencionado na matéria sobre a letra de câmbio: Art. 44. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento). O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1 do artigo 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer-se ainda o protesto no dia seguinte. O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista deve ser feito num dos dois dias úteis seguintes àquele em que a letra é pagável. Se se trata de uma letra pagável à vista, o protesto deve ser feito nas condições indicadas na alínea precedente para o protesto por falta de aceite. O protesto por falta de aceite dispensa a apresentação a pagamento e o protesto por falta de pagamento. No caso de suspensão de pagamentos do sacado, quer seja aceitante, quer não, ou no caso de lhe ter sido promovida, sem resultado, execução dos bens, o portador da letra só pode exercer o seu direito de ação após apresentação da mesma ao sacado para pagamento e depois de feito o protesto. 130 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III No caso de falência declarada do sacado, quer seja aceitante, quer não, bem como no caso de falência declarada do sacador de uma letra não aceitável, a apresentação da sentença de declaração de falência é suficiente para que o portador da letra possa exercer o seu direito de ação (BRASIL, [s.d.], p. 15). Saiba mais Veja um exemplo de constrangimento legal em: CONJUR. Protestar título que não pode mais ser pago causa dano moral, diz STJ. Consultor Jurídico, São Paulo, 2017. Disponível em: <https:// www.conjur.com.br/2017-nov-24/protestar-titulo-nao-pago-causa-dano- moral>. Acesso em: 11 jun. 2019. 6.3 Cheque O cheque é o título de crédito mais conhecido que há. Encontra-se regido pela Lei n. 7.357/1985, a Lei do Cheque. Trata-se de uma ordem direta e incondicional de pagamento realizada pelo titular de conta-corrente de instituição financeira, na qual o emitente tenha fundos disponíveis, como dinheiro em conta ou linha de crédito, para que o banco sacado realize o pagamento do valor expresso no cheque a determinada pessoa (o beneficiário do título). Assim, os agentes envolvidos na circulação desse título serão: o emitente (passador ou sacador), aquele que é titular da conta-corrente; o sacado, que é o agente pagador e não devedor, como a instituição financeira; e o beneficiário, ou tomador, aquele a quem o cheque deve ser pago. A Lei do Cheque estabelece os seguintes requisitos que compõem o título creditício: Art. 1º O cheque contém: I – a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II – a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III – o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV – a indicação do lugar de pagamento; V – a indicação da data e do lugar de emissão; VI – a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. 131 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL Parágrafo único. A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente (BRASIL, 1985). Ainda na mesma lei, na literalidade do art. 32, o cheque será pagável à vista. Salienta, ainda, o dispositivo, que o cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação. A contar da emissão, o cheque deverá ser apresentado para pagamento, no prazo de trinta dias, no lugar onde houver de ser pago; ou sessenta dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior (art. 33). A condição principal para realização do pagamento consiste em haver fundos disponíveis na conta-corrente do banco sacado, verificada no momento da apresentação do cheque: Art. 4º O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque. § 1º A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento. § 2º Consideram-se fundos disponíveis: a) os créditos constantes de conta-corrente bancária não subordinados a termo; b) o saldo exigível de conta-corrente contratual; c) a soma proveniente de abertura de crédito (BRASIL, 1985, grifo nosso). Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador poderão sustar o pagamento, manifestando ao sacado a oposição fundamentada em razões de direito (art. 36). Para ser protestado, o cheque deve apresentar as seguintes condições: • Inexistência de fundos: quando for uma ordem de pagamento à vista. O prazo do protesto é de trinta dias. • Conservação do direito de crédito contra os coobrigados como o emitente, o avalista: nesse caso, o protesto será facultativo, podendo ser realizado dentro do prazo para a impetração de ação executiva. Na prática brasileira, foi distorcido o sentido do cheque, já que ele é uma ordem de pagamento direta e incondicional, não comportando subordinação a determinados eventos ou condições. Acontece que existe informalmente o denominado cheque pré-datado, mesmo não tendo previsão na legislação. Posteriormente, também foi criada a forma de cheque pós-datado. 132 Re vi sã o: N om e do re vi so r -D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Em suma, são convenções realizadas entre emitentes e tomadores, tornando o título de créditos em títulos de promessa condicionada de pagamento, possuindo eficácia executiva extrajudicial. Na seara jurisprudencial, o STJ ratificou a prática dessas modalidades de cheque, ao estipular que caracterizará dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado, de acordo com a Súmula 370. Como modalidades de cheques, podemos elencar: • Cheque visado: aquele que a instituição financeira declara a existência de fundos no verso do título, a pedido do emitente ou portador. • Cheque administrativo: emitido pelo banco contra si próprio, em favor de um beneficiário identificado no título, conforme previsto no art. 9º, III, da Lei do Cheque. • Cheque de viagem: uma forma obsoleta do cheque administrativo. É assinado pelo beneficiário em pelo menos duas ocasiões, no momento da aquisição e no pagamento em estabelecimento do próprio sacado ou a ele credenciado. Justificava-se em razão de trocas comerciais e viagens mundiais. • Cheque cruzado: o emitente ou o credor traçam duas linhas paralelas no anverso, com a finalidade de identificação do beneficiário da ordem de pagamento. Somente poderá ser pago pelo banco sacado ao banco cujo nome estiver entre os traços cruzados. • Cheque para ser creditado em conta: o emitente ou o portador determinam a proibição do pagamento em dinheiro em espécie, somente podendo ser pago com crédito em conta-corrente. A seguir, temos um modelo de cheque real e preenchido, usado com finalidade informativa ao público e disponibilizado pelo Instituto de Criminalística do estado do Paraná. Figura 1 133 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 6.4 Duplicata Consiste em um título de crédito destinado a operações de compra e vendas de mercadorias ou prestações de serviços com pagamento realizado à vista ou a prazo, representando o crédito originado a partir das operações realizadas com os clientes. A duplicata está normatizada pela Lei n. 5.474/1968, a Lei de Duplicatas. A sistemática do título cambiário se encontra no art. 1º, e os requisitos estão presentes no art. 2º, in verbis: Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador. § 1º A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou, quando convier ao vendedor, indicará somente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias. Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador. § 1º A duplicata conterá: I – a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem; II – o número da fatura; III – a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV – o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V – a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI – a praça de pagamento; VII – a cláusula à ordem; VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; IX – a assinatura do emitente. § 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. 134 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III § 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata única, em que se discriminarão todas as prestações e seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada prestação distinguindo-se a numeração a que se refere o item I do § 1º deste artigo, pelo acréscimo de letra do alfabeto, em sequência (BRASIL, 1968, grifos nossos). As partes atuantes na circulação do título consistem no sacador ou emitente, que costuma ser o empresário do crédito originado contra quem adquiriu produtos ou contratou serviços; e o sacado, que tende a ser o cliente, aquele contra quem a ordem é emitida. Para emitir duplicatas, o sacador deverá manter e escriturar no livro de registro correspondente, nos moldes do art. 19 da Lei de Duplicatas. A importância de tal título, que não passa de uma cópia de nota fiscal, consiste na relevância contábil do custo da mercadoria ou do produto (conta CMV ou CSV), que determina o valor da conta Mercadorias no Ativo; faz parte da conta algébrica para determinar a receita obtida com venda; e repercute, no fim, em demonstrações de resultado do exercício, sendo oportuna sua subtração das vendas do exercício para chegar ao lucro bruto do exercício. Assim, repercutirá posteriormente no cálculo da base do IRPJ e do CSLL (imposto de renda da pessoa jurídica e contribuição social sobre o lucro líquido, respectivamente). De acordo com o art. 13, a duplicata será protestável pela falta de aceite, de devolução ou de pagamento, que deve ser efetuado na praça de seu pagamento, dentro do prazo de trinta dias de seu vencimento. De acordo com o § 3º do art. 889 do CC, que prevê forma virtual de títulos de crédito, despertou-se na jurisprudência o entendimento de que a realização de protestos e a propositura de ação executiva possam ser fundamentadas sem a existência física da cártula cambial. Na forma do art. 22 da Lei de Duplicatas, o tabelião de protesto poderá conservar em seus arquivos a gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título, dispensando a transcrição literal no registro e no instrumento, sendo, portanto, uma previsão legal para o título virtual protestado. Saiba mais Leia mais sobre a hipótese do protesto em: CONJUR. Protestar título que não pode mais ser pago causa dano moral, diz STJ. Protesto de duplicata em valor maior que a dívida não gera dano moral. Consultor Jurídico, São Paulo, 2018. Disponível em: <https://www. conjur.com.br/2018-ago-14/protesto-duplicata-valor-maior-divida-nao- gera-dano-moral>. Acesso em: 11 jun. 2019. 135 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL 6.4.1 Duplicata eletrônica A recente Lei n. 13.775, de 20 de dezembro de 2018, dispõe sobre a duplicata na modalidade eletrônica. Observação A lei foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 21 de dezembro de 2018, com vacatio legis de 120 dias após a sua publicação. Não houve alteração textual da Lei n. 5.474/1968, que dispõe sobre duplicatas. A nova legislação estabelece expressamente, para harmonizar a funcionalidade de ambas as normas e formas de escrituração e emissão, que às duplicatas eletrônicas serão aplicadas subsidiariamente as disposições da Lei de Duplicatas. Assim, de acordo com o art. 7º, a duplicata escritural expedida de forma eletrônica terá eficácia (natureza jurídica) de título executivo extrajudicial, sendo então cobrada em conformidade com a Lei de Duplicatas e com o CPC. A emissão da duplicata escritural poderá ser feita de forma eletrônica por intermédio de lançamento em sistema eletrônico de escrituração gerido por entidades que realizem atividades em duplicatas escriturais, devidamente autorizadas para essa atividade por órgão ou entidade da administração pública federal direta ou indireta, art. 3º. Quando essa escritura se der por meio da Central Nacional de Registros de Títulos e Documentos, a escrituração será cabida ao oficial de registro do domicílio do emissor da duplicata (art. 3º, § 2º). Os lançamentos então realizados de forma eletrônica substituirão o Livro de Registro de Duplicatas, da Lei n.5.474/1968. A seguir, temos o art. 4º da Lei n. 13.775/2018, estabelecendo alguns requisitos para a escrituração da duplicata eletrônica: Art. 4º Deverá ocorrer no sistema eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei, relativamente à duplicata emitida sob a forma escritural, a escrituração, no mínimo, dos seguintes aspectos: I – apresentação, aceite, devolução e formalização da prova do pagamento; II – controle e transferência da titularidade; III – prática de atos cambiais sob a forma escritural, tais como endosso e aval; IV – inclusão de indicações, informações ou de declarações referentes à operação com base na qual a duplicata foi emitida ou ao próprio título; e 136 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III V – inclusão de informações a respeito de ônus e gravames constituídos sobre as duplicatas (BRASIL, 2018). O § 3º do referido artigo demanda, ainda, que o sistema eletrônico disponha de mecanismos que permitam ao sacador e ao sacado comprovarem, por quaisquer meios idôneos de prova admitidos em direito, a entrega e o recebimento das mercadorias ou prestação de serviços devidos. No art. 6º, é prevista uma forma específica registro da escrituração eletrônica quando esta for depositada nos moldes da Lei n. 12.810 de 2013, que trata de parcelamento de débitos com a Fazenda Nacional. 6.5 Títulos públicos Similarmente às empresas, que vão à sociedade buscar recursos para empregar em suas atividades econômicas por meio da emissão de títulos, o Poder Público pode utilizar de recursos similares por meio dos denominados títulos públicos. A Lei n. 4.320/1964, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, preconiza que na modalidade de operações de créditos, que constituirão as receitas de capital da União, há a possibilidade de emissão de títulos públicos. Na esfera federal, estes serão emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil. Visando ao esclarecimento do teor comentado, vamos nos ater aos conceitos mais pertinentes trazidos pela norma sobre as modalidades de receitas. Segundo o art. 11, § 1º, as receitas correntes são constituídas pelas receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em despesas correntes. Podemos resumir que são as receitas que serão empregadas na manutenção da atividade estatal propriamente e dos serviços públicos ofertados à população. Quanto às receitas de capital, podemos compreendê-las como as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; também da conversão em bens e direito, em espécie; dos recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender as despesas de capital e o superávit do orçamento corrente (art. 11, § 2º). Simplesmente, podemos entender como o investimento e as operações financeiras destinadas a gerar ganho, tal qual como realizados na seara privada, porém, tendo destinação pública e se submetendo a maiores mandos legais. Em contrapartida, a norma também traz as definições próprias das despesas sobre as quais deverão ser destinados os recursos classificados em receitas correntes e receitas de capital. As despesas correntes são divididas em despesas de custeio e transferências correntes. Já as despesas de capital estarão organizadas em investimentos, inversões financeiras e transferências de capital. 137 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a FUNDAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL Assim, dentro das modalidades de despesas correntes, as despesas de custeio serão as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas para atendimento de obras de conservação e adaptação de bens imóveis (art. 12, § 1º). Por transferências correntes entenderemos as dotações para despesas que não correspondam a contraprestação direta em bens ou serviços; e para contribuições e subvenções destinadas a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado (art. 12, § 2º). Agora, quanto às despesas de capital, os investimentos serão as dotações para planejamento e execução de obras, de aquisição dos imóveis necessários à realização dessas obras; de programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente; e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro (art. 12, § 4º). As inversões financeiras estão esquematizadas em um rol pela própria Lei Geral do Orçamento, divididas como dotações para aquisição de imóveis ou de bens de capital já em utilização (art. 12, § 5º, I); para aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento de capital (art. 12, § 5º, II); e para constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros (art. 12, § 5º, III). Por fim, serão denominadas transferências de capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, não importando haver contraprestação direta por meio de bens ou serviços (constituindo auxílios ou contribuições; e as dotações destinadas a amortizar a dívida pública (art. 12, § 6º). Quadro 14 – Classificação das receitas (art. 11, Lei n. 4.320/1964) Receitas correntes (art. 11, § 1º) Receitas de capital (art. 11, § 2º) Receita tributária Operações de crédito Receita de contribuições Alienação de bens Receita patrimonial Amortização de empréstimos Receita agropecuária Transferências de capital Receita industrial Outras receitas de capital Receita de serviços Transferências correntes Outras receitas correntes Quadro 15 – Classificação das despesas (art. 12, Lei n. 4.320/1964) Despesas correntes (art. 12) Despesas de capital (art. 12) Despesas de custeio Investimentos Transferências correntes Inversões financeiras Transferências de capital 138 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Trazendo mais detalhes, a Lei Orçamentária também elenca essas subclassificações de despesas correntes e despesas de capital: Quadro 16 – Despesas correntes Despesas de custeio Transferências correntes Pessoal civil Subvenções sociais Pessoal militar Subvenções econômicas Material de consumo Inativos Serviços de terceiros Pensionistas Encargos diversos Salário família e abono familiar Juros da dívida pública Contribuições da previdência social Transferências correntes diversas Quadro 17 – Despesas de capital Investimentos Inversões financeiras Transferência de capital Obras públicas Aquisição de imóveis Amortização da dívida pública Serviços em regime de programação especial Aquisição de títulos representativos de capital de empresa em funcionamento Auxílio para obras públicas Equipamentos e instalações Constituição de fundos rotativos Auxílio para equipamentos e instalações Material permanente Concessão de empréstimos Auxílio para inversões financeiras Participação em constituição ou aumento de capital de empresas ou entidades industriais ou agrícolas Participação em constituição ou aumento de capital de empresas ou entidades comerciais ou financeiras Outras contribuições Inversões financeiras diversas Diante de toda essa explicação, com base na Lei Geral Orçamentária, podemos concluir que a emissão de títulos públicos se adequará como operações de crédito. Como regra geral, os títulos emitidos pelo Banco