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8 Método das Forças [...] a metodologia utilizada pelo método das forças para analisar uma estrutura hiperestática é: • Somar uma série de soluções básicas que satisfazem as condições de equilíbrio mas não satisfazem as condições de compatibilidade da estrutura original, para, na superposição, restabelecer as condições de compatibilidade. Cada solução básica (denominada caso básico) não satisfaz isoladamente todas as condições de compatibilidade da estrutura original, as quais ficam restabelecidas quando se superpõem todos os casos básicos. A estrutura utilizada para a superposição de soluções básicas é, em geral, uma estrutura isostática auxiliar obtida a partir da estrutura original pela eliminação de vínculos. Essa estrutura isostática é chamada sistema principal (SP). As forças ou os momentos associados aos vínculos liberados, denominados hiperestáticos, são as incógnitas do problema. Essa metodologia de solução de uma estrutura hiperestática pelo método das forças será explicada detalhadamente na próxima seção. Neste capítulo somente são consideradas estruturas com barras prismáticas, isto é, barras com seção transversal que não varia ao longo do seu comprimento. Entretanto, as expressões gerais dos termos e coeficientes do método das forças consideram parâmetros da seção transversal que podem variar ao longo do comprimento da barra. 8.1. Metodologia de análise pelo método das forças O objetivo desta seção é apresentar a metodologia de análise de uma estrutura hiperestática pelo método das forças. Para facilitar o entendimento do método, esta apresentação será feita com base em um exemplo, ilustrado na Figura 8.1. FIGURA 8.1 Estrutura utilizada para a descrição da metodologia do método das forças. A configuração deformada do pórtico da Figura 8.1 é mostrada de forma exagerada (o fator de amplificação dos deslocamentos da deformada é igual a 1000). Todas as barras da estrutura têm os mesmos valores para área (A = 5x10–3 m2) e momento de inércia (I = 5x10–4 m4) da seção transversal, e para o módulo de elasticidade (E= 2x108 kN/m2) do material. 8.1.1. Hiperestáticos e sistema principal Para analisar a estrutura com respeito às condições de equilíbrio, são mostradas na Figura 8.2 as cinco componentes de reações de apoio da estrutura. FIGURA 8.2 Componentes de reações de apoio da estrutura da Figura 8.1. São três as equações do equilíbrio global da estrutura no plano: ∑Fx = 0 → somatório de forças na direção horizontal igual a zero; ∑Fy = 0 → somatório de forças na direção vertical igual a zero; ∑Mo = 0 → somatório de momentos em relação a um ponto qualquer igual a zero. Como a estrutura é hiperestática, não é possível determinar os valores das reações de apoio da estrutura utilizando apenas as três equações de equilíbrio disponíveis. O número de incógnitas excedentes ao número de equações de equilíbrio é definido como: g→ grau de hiperestaticidade No exemplo, g = 2. Conforme mencionado, a solução do problema hiperestático pelo método das forças é feita pela superposição de soluções básicas isostáticas. Para isso cria-se uma estrutura isostática auxiliar, chamada sistema principal (SP), que é obtida da estrutura original hiperestática pela eliminação de vínculos. O SP adotado no exemplo da Figura 8.1 é a estrutura isostática mostrada na Figura 8.3. FIGURA 8.3 Sistema principal adotado para a solução da estrutura da Figura 8.1. Observa-se, na Figura 8.3, que foram eliminados dois vínculos externos da estrutura original: a imposição de rotação θA nula do apoio da esquerda e a imposição de deslocamento horizontal nulo do apoio da direita. O número de vínculos que devem ser eliminados para transformar a estrutura hiperestática original em uma estrutura isostática é igual ao grau de hiperestaticidade, g. A escolha do SP é arbitrária: qualquer estrutura isostática escolhida é válida, desde que seja estável estaticamente. Os esforços associados aos vínculos eliminados são as reações de apoio MA e HB, que estão indicadas na Figura 8.2. Esses esforços são chamados de hiperestáticos e são as incógnitas da solução pelo método das forças. Utiliza-se a nomenclatura Xi para indicar os hiperestáticos, sendo i o seu índice, que varia de 1 a g. No exemplo, tem-se: X1 = MA → reação momento associada ao vínculo de apoio θA = 0; X2 = HB → reação horizontal associada ao vínculo de apoio Os hiperestáticos do exemplo são mostrados na Figura 8.3 com sentidos convencionados como positivos: momento externo positivo no sentido anti-horário e força externa horizontal positiva com sentido da esquerda para a direita. 8.1.2. Superposição de casos básicos para restabelecer condições de compatibilidade A solução do problema pelo método das forças recai em encontrar os valores que X1 e X2 devem ter para, juntamente com o carregamento aplicado, recompor os vínculos de apoio eliminados. Isto é, procuram-se os valores dos hiperestáticos que fazem com que as condições de compatibilidade violadas na criação do SP, e , sejam restabelecidas. A determinação de X1 e X2 é feita através da superposição de casos básicos, utilizando o SP como estrutura para as soluções básicas. O número de casos básicos é sempre igual ao grau de hiperestaticidade mais um (g + 1). No exemplo, isso resulta nos casos (0), (1) e (2), que são descritos a seguir. Caso (0) – Solicitação externa (carregamento) isolada no SP O caso básico (0), ilustrado na Figura 8.4, isola o efeito da solicitação externa (carregamento aplicado) no SP. A figura mostra a configuração deformada (com fator de amplificação igual a 20) do SP no caso (0). A rotação δ10 e o deslocamento horizontal δ20, nas direções dos vínculos eliminados para a criação do SP, são denominados termos de carga. Um termo de carga é definido formalmente como: δi0→ termo de carga: deslocamento ou rotação na direção do vínculo eliminado associado ao hiperestático Xi quando a solicitação externa atua isoladamente no SP (com hiperestáticos com valores nulos). FIGURA 8.4 Solicitação externa isolada no SP da estrutura da Figura 8.1. Neste exemplo, os dois termos de carga podem ser calculados utilizando o princípio das forças virtuais (PFV), como mostrado na Seção 7.3.1. Esse cálculo não é detalhado aqui por uma questão de simplicidade, visto que o objetivo é apresentar a metodologia do método das forças. Ao longo deste capítulo são dados diversos exemplos de aplicação do PFV para o cálculo de termos de carga e outros coeficientes. Os valores dos termos de carga do exemplo estão indicados na Figura 8.4. O sinal negativo da rotação δ10 indica que a rotação tem o sentido contrário ao considerado inicialmente para o hiperestático X1 no caso (1) a seguir. Analogamente, o sinal positivo de δ20 indica que esse deslocamento tem o mesmo sentido considerado inicialmente para o hiperestático X2 no caso (2) a seguir. Caso (1) – Hiperestático X1 isolado no SP A Figura 8.5 mostra a configuração deformada (com fator de amplificação igual a 2000) do SP no caso (1). O hiperestático X1 é colocado em evidência, já que ele é uma incógnita do problema. Considera-se um valor unitário para X1, sendo o efeito de X1 = 1 multiplicado pelo valor final que X1 deverá ter. A rotação δ11 e o deslocamento horizontal δ21 provocados por X1 = 1, nas direções dos vínculos eliminados para a criação do SP, são chamados coeficientes de flexibilidade. Formalmente, um coeficiente de flexibilidade é definido como: δij → coeficiente de flexibilidade: deslocamento ou rotação na direção do vínculo eliminado associado ao hiperestático Xi provocado por um valor unitário do hiperestático Xj atuando isoladamente no SP. FIGURA 8.5 Hiperestático X1 isolado no SP da estrutura da Figura 8.1. Os valores dos coeficientes de flexibilidade do caso (1), indicados na Figura 8.5, são calculados pelo PFV. Por definição, as unidadesdos coeficientes de flexibilidade correspondem às unidades de deslocamento ou rotação divididas pela unidade do hiperestático em questão. As mesmas observações feitas quanto aos sinais dos termos de carga valem para os coeficientes de flexibilidade. O sinal da rotação δ11 é positivo porque tem o mesmo sentido do que é arbitrado para X1 = 1, e o sinal do deslocamento horizontal δ21 é negativo porque tem o sentido contrário ao que é arbitrado para X2 = 1 no caso (2) a seguir. Observe que o sinal dos coeficientes δii (que têm i = j), sendo i o índice do hiperestático, é sempre positivo, pois esses coeficientes são deslocamentos ou rotações nos próprios pontos de aplicação de forças ou momentos unitários. Caso (2) – Hiperestático X2 isolado no SP A Figura 8.6 mostra a configuração deformada (com fator de amplificação igual a 400) do SP no caso (2). De maneira análoga ao caso (1), o hiperestático X2 é colocado em evidência, considerando-se um valor unitário multiplicado pelo seu valor final. A rotação δ12 e o deslocamento horizontal δ22 provocados por X2 = 1, nas direções dos vínculos eliminados para a criação do SP, também são coeficientes de flexibilidade. As unidades desses coeficientes, por definição, são unidades de deslocamento ou rotação divididas pela unidade do hiperestático X2. FIGURA 8.6 Hiperestático X2 isolado no SP da estrutura da Figura 8.1. Os valores dos coeficientes de flexibilidade do caso (2) estão indicados na Figura 8.6. Observe que os valores de δ12 e δ21 são iguais. Isso não é coincidência. Os coeficientes δij e δji, sendo i e j índices de hiperestáticos, sempre serão iguais. Isso é demonstrado pelo teorema de Maxwell, apresentado na Seção 7.5—versão para forças generalizadas unitárias impostas (Equação 7.41). Restabelecimento das condições de compatibilidade A partir dos resultados obtidos nos casos apresentados, pode-se utilizar superposição de efeitos para restabelecer as condições de compatibilidade violadas na criação do SP. Isso é feito a seguir. Superposição das rotações do nó inferior esquerdo (nó A): Superposição dos deslocamentos horizontais no nó inferior direito (nó B): Sistema de equações de compatibilidade: A solução desse sistema de equações de compatibilidade resulta nos seguintes valores das reações de apoio X1 e X2: O sinal de X1 é positivo porque tem o mesmo sentido (anti-horário) do que foi arbitrado para X1 = 1 no caso (1), e o sinal de X2 é negativo porque tem o sentido contrário (da direita para a esquerda) ao que foi arbitrado para X2 = 1 no caso (2), como indica a Figura 8.7. FIGURA 8.7 Valores e sentidos dos hiperestáticos na solução da estrutura da Figura 8.1. Os valores encontrados para X1 e X2 fazem com que θA = 0 e . Dessa forma, obteve-se a solução correta da estrutura porque, além de satisfazer as condições de equilíbrio – que sempre são satisfeitas nos casos (0), (1) e (2) –, o modelo estrutural também satisfaz as condições de compatibilidade. 8.1.3. Determinação de esforços internos finais A solução da estrutura não termina com a obtenção dos valores dos hiperestáticos X1 e X2. Ainda é necessário obter os diagramas de esforços internos e os deslocamentos da estrutura. Existem duas alternativas para isso: • calcula-se uma estrutura isostática (o sistema principal) com o carregamento aplicado simultaneamente aos hiperestáticos – com os valores corretos encontrados – como se fossem forças e momentos pertencentes ao carregamento; • utiliza-se a própria superposição de casos básicos para a obtenção dos esforços internos (ou deslocamentos) finais. Embora a primeira opção possa parecer mais simples, a segunda é a utilizada na maioria das soluções. O motivo para isso é que o cálculo dos valores dos termos de carga e dos coeficientes de flexibilidade pelo PFV (Seção 7.3) requer o conhecimento dos diagramas de esforços internos dos casos básicos (0), (1) e (2). Portanto, como esses diagramas já estão disponíveis, os esforços internos finais da estrutura hiperestática original são obtidos através da superposição dos esforços internos dos casos básicos. Fonte: MARTHA, L. F. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. Rio de Janeiro: LTC, 2020.
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