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Como utilizar a composição do leite para avaliar a sanidade dos animais Cartilha Leite de Qualidade • Ano 02 • Edição 16 • Dezembro de 2014 ISSN 2357-7320 16 • 1 Educação Continuada. Na edição anterior da cartilha, vimos que a composição do leite é resultado da qualidade e quantidade dos alimentos consumidos pelos animais, mostrando assim, a viabilidade de verificarmos o balanceamento da dieta por meio da composição do leite. Nesta edição, veremos como avaliar a sanidade dos animais também por meio da avaliação da composição do leite. É possível diagnosticar importantes desordens metabólicas, ocasionadas em diferentes momentos durante a lactação, por meio da análise da gordura e proteína do leite. Distúrbios metabólicos À medida que se intensifica o manejo das vacas, procurando trabalhar com animais de alta produção, aumenta-se o risco do aparecimento de transtornos metabólicos. Normalmente, estes distúrbios não são percebidos, e acabam limitando a produção de leite, causando importantes perdas. Problemas metabólicos são ocasionadas pelo desequilíbrio entre os nutrientes que ingressam no organismo e as necessidades de mantença do animal. Dentre estas desordens, podemos destacar a acidose e a cetose. Acidose metabólica A acidose, geralmente, ocorre devido aos erros no manejo alimentar, como o excesso no consumo de carboidratos facilmente fermentáveis, reduzindo o pH ruminal, devido ao acúmulo de ácido lático. Um exemplo de manejo que pode ocasionar a acidose, é o fornecimento de grandes quantidades de concentrado em um curto período de tempo, causando um grande consumo, normalmente para compensar o período de jejum ao qual os animais foram submetidos ou a baixa qualidade da pastagem em que estavam. A acidose ocorre, geralmente, de forma subclínica (sem sintomas aparentes), sendo essa forma de maior impacto econômico que a clínica, pois irá causar redução da produção de leite e da porcentagem de gordura. O rúmen possui pH levemente ácido e um sensível equilíbrio entre os microrganismos. O excesso de consumo de carboidratos causará alteração desta microbiota ruminal, reduzindo o pH e podendo ocasionar parada dos movimentos ruminais e a absorção de produtos da fermentação. A acidose também pode aparecer de forma aguda, causando timpanismo, cólica, incoordenação motora e morte. Sintomas menos severos, na ocorrência de acidose sub-aguda, são diarreia, como mostrado na figura 1 e presença de grãos pouco digeridos nas fezes. A composição do leite também é alterada, com a redução do teor de gordura, ficando, geralmente inferior a 3%. Como utilizar a composição do leite para avaliar a sanidade dos animais Figura 1 - A diarreia pode ser um sintoma de acidose. EDICAO-16.pdf 1 28/11/2014 13:10:16 Cartilha Leite de Qualidade • Ano 02 • Edição 16 • Dezembro de 2014 ISSN 2357-7320 • 2 Educação Continuada. Figura 2 - Avaliação das fezes para identificação de acidose em rebanhos leiteiros. Um das principais complicações da acidose é a laminite, que causa diversas consequências negativas para o animal desde a redução da produção de leite até o descarte precoce. Assim, o aumento dos casos de laminite deve servir como alerta de que a nutrição e/ou o manejo alimentar precisam ser revisados. A correção da acidose deve ser feita por meio da adequação da dieta, na tentativa de se restabelecer o pH adequado e a população de microorganismos, alterados pelo excesso de ácido. Alimentos com altos teores de fibra estimulam a salivação, que tem efeito tamponante no rúmen. Entretanto, o ideal é estabelecer estratégias para a prevenção. Nesse caso, a avaliação da composição do leite é uma excelente ferramenta. Observando o R300 da Clínica do Leite, obtido por meio da análise de leite individual de todas vacas, podemos avaliar a relação gordura:proteína do leite. Sempre que esta for inferior a 1, indica acidose. Como utilizar a composição do leite para avaliar a sanidade dos animais Avaliação dos sinais de acidose pela observação das feses: • Variação de firme a diarréicas dentro do mesmo grupo alimentar • Presença de bolhas, espumosas • Presença de muco/fibrina • Partículas de alimento maiores que 1 cm • Presença de grãos não digeridos • Presença de caroço de algodão com linter EDICAO-16.pdf 2 28/11/2014 13:10:16 Educação Continuada. Cartilha Leite de Qualidade • Ano 02 • Edição 16 • Dezembro de 2014 ISSN 2357-7320 • 3 Esta é uma fazenda que está com a acidose sob controle, pois menos de 20% dos animais apresenta inversão da gordura: proteína no leite. A principal forma de prevenção da acidose é o fornecimento de uma dieta balanceada, especialmente no tocante à relação volumoso:concentrado, e inclusão de tamponantes, que são substâncias alcalinizantes que têm o poder de aumentar o pH do rúmen. Cetose A cetose é uma doença muito comum em vacas de alta produção, ocorrendo geralmente entre 8 e 60 dias pós parto. Nessa fase, em geral, o animal está em balanço energético negativo (demanda energética não é atendida pela ingestão de alimentos), ocasionando a mobilização de reservas corporais, que causa acúmulo de corpos cetônicos e ácidos graxos no sangue, o que caracteriza o estado de cetose. A cetose ocasiona redução do consumo de alimentos e, consequentemente, da produção de leite, podendo também desencadear outras doença como o deslocamento de abomaso. O diagnóstico de cetose é feito por meio do exame clínico ou testes que avaliam a presença de corpos cetônicos na urina, leite ou sangue. Os testes de urina e leite são rápidos e realizados na própria fazenda, como no exemplo mostrado na Figura 4. Figura 3 - R300 – Avaliação da composição do leite para identificar distúrbios metabólicos. Como utilizar a composição do leite para avaliar a sanidade dos animais Figura 4 - Fita para teste de cetose no leite. Fonte: dairybusiness.com EDICAO-16.pdf 3 28/11/2014 13:10:16 Cartilha Leite de Qualidade • Ano 02 • Edição 16 • Dezembro de 2014 ISSN 2357-7320 Coordenação e Divulgação Apoio InstitucionalDesenvolvimento Texto: Augusto Cesar Lima da Silva - Pesquisador da Clinica do Leite. Educação Continuada. • 4 Logo, a implantação de um protocolo de acompanhamento da vaca recém parida é essencial para evitar a ocorrência de cetose e outros problemas metabólicos. A avaliação da composição do leite, também nesse caso, é uma ótima ferramenta, uma vez que os animais acometidos pela cetose apresentam alto teor de gordura do leite, acima de 4,8%. Avaliando novamente o R300 da Clínica do Leite (Figura 3) e a Figura 5, pode-se observar a prevalência de animais com cetose no rebanho, por meio da relação gordura: proteína apenas de animais no pós-parto (até 40 dias em lactação). Esta avaliação nos permite entender como está o período de transição, que é o momento no qual ocorrem a maior parte dos distúrbios. Todos os pontos acima de 1,4 (linha horizontal), na Figura 5, estão com alta relação gordura: proteína, indicando cetose. Figura 5 - R205 - Avaliação do período de transição. Uma das principais formas de prevenção da cetose e de outros distúrbios metabólicos é ter um excelente manejo no período seco, proporcionando aos animais um ambiente confortável, com livre acesso a água e dieta adequadamente balanceada. Como utilizar a composição do leite para avaliar a sanidade dos animais EDICAO-16.pdf 4 28/11/2014 13:10:16
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