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Apg 6 – Cardiomiopatia dilatada e Insuficiência Cardíaca Objetivos: 1. Compreender a fisiopatologia da cardiomiopatia dilatada, associado às alterações histológicas, estruturais e metabólicas da IC. 2. Conhecer os exames para o diagnóstico da insuficiência cardíaca, com ênfase nos achados radiológicos e sintomatológicos. 3. Entender as principais doenças negligenciadas. Miocardiopatia dilatada A MCD é uma causa comum de insuficiência cardíaca e a principal indicação para o transplante de coração. Aproximadamente 20 a 35% dos casos foram relatados como familiares. A maior parte dos casos familiares parece ser transmitida como um traço autossômico dominante, mas foram identificados padrões autossômicos recessivos, ligados ao cromossomo X recessivos e de herança mitocondrial. Outras causas incluem infecções (i. e., virais, bacterianas, fúngicas, micobacterianas, parasitárias), toxinas, alcoolismo, agentes quimioterápicos, metais pesados e diversos outros distúrbios. Com frequência, nenhuma causa pode ser identificada e, nesse caso, a miocardiopatia é denominada MCD idiopática. A MCD é caracterizada por aumento ventricular, redução da espessura da parede ventricular e comprometimento da função sistólica de um ou de ambos os ventrículos. Histologicamente, a MCD é caracterizada por fibras miocárdicas atróficas e hipertróficas, além de fibrose intersticial. Os miócitos cardíacos, em particular no subendocárdio, frequentemente apresentam alterações degenerativas avançadas. Também há fibrose intersticial, de modo mais predominante na zona subendocárdica, e possível presença de células inflamatórias dispersas. A MCD pode ocorrer em quase todas as idades. Normalmente, a afecção é identificada com o surgimento de suas manifestações clínicas, incluindo dispneia, ortopneia e redução da capacidade de praticar exercícios. Nos estágios terminais, as pessoas com MCD costumam apresentar frações de ejeção inferiores a 25% (a normal é de aproximadamente 50 a 60%). À medida que a doença progride, a estase do sangue junto às paredes das câmaras cardíacas pode levar à formação de trombos e à embolia sistêmica. É comum haver regurgitação de valva mitral secundária e arritmias cardíacas. A morte normalmente decorre de insuficiência cardíaca ou arritmias e pode ser súbita. O tratamento da MCD é direcionado para o alívio dos sintomas de insuficiência cardíaca e para a redução do trabalho do coração. Os agentes farmacológicos incluem diuréticos para reduzir a pré-carga, betabloqueadores para diminuir a frequência cardíaca e a demanda de oxigênio do miocárdio, agentes redutores da pós-carga para melhorar a contratilidade e diminuir as pressões de enchimento do ventrículo esquerdo, e inibidores da ECA para promover vasodilatação. Também podem ser utilizados anticoagulantes para prevenir a formação de trombos, e antiarrítmicos. Outros tratamentos podem incluir um marca-passo biventricular, DCI biventricular e, em casos refratários ao tratamento, um transplante de coração. Também é importante remover ou evitar os agentes causais (se identificados); evitar depressores do miocárdio, incluindo álcool; e encorajar atividades físicas conforme a tolerância. MCD idiopática - No corte transversal do coração aumentado, a dilatação de ambos os ventrículos é evidente. Embora a parede ventricular pareça adelgaçada, o aumento da massa do coração indica hipertrofia considerável. Insuficiência cardíaca A classificação separa a fisiopatologia da insuficiência cardíaca em insuficiências ou disfunções sistólica e diastólica, com base na fração de ejeção ventricular. -Disfunção ventricular sistólica, a contratilidade do miocárdio está comprometida, levando a uma diminuição na fração de ejeção e no débito cardíaco. -Disfunção ventricular diastólica é caracterizada por uma fração de ejeção normal, mas com relaxamento ventricular diastólico comprometido, levando a uma diminuição no enchimento ventricular que, por fim, causa diminuição na pré-carga, no volume sistólico e no débito cardíaco. OBS: a disfunção ventricular não é sinônimo de insuficiência cardíaca, mas pode levar ao seu desenvolvimento. Disfunção sistólica Primariamente definida como uma diminuição na contratilidade do miocárdio, caracterizada por uma fração de ejeção inferior a 40%. Um coração normal ejeta em torno de 65% do sangue presente no ventrículo ao final da diástole. A fração de ejeção declina progressivamente com o aumento dos graus de disfunção miocárdica. Com uma diminuição na fração de ejeção, há um aumento resultante no volume diastólico final (pré-carga), na dilatação ventricular e na tensão da parede ventricular e uma elevação na pressão diastólica final ventricular. O aumento do volume, somado ao retorno venoso normal, leva a um aumento na pré-carga ventricular. Acredita-se que a elevação na pré-carga seja um mecanismo compensatório para ajudar a manter o volume sistólico por meio do mecanismo de Frank-Starling, apesar da diminuição da fração de ejeção. Embora atue como um mecanismo compensatório, o aumento da pré-carga também pode levar a uma das consequências mais deletérias da disfunção ventricular sistólica – o acúmulo de sangue nos átrios e no sistema venoso (que é esvaziado no interior dos átrios), causando edema pulmonar ou periférico. A disfunção sistólica comumente resulta de condições que comprometem o desempenho contrátil do coração (p. ex., cardiopatia isquêmica e miocardiopatia), produzem uma sobrecarga de volume (p. ex., insuficiência valvar e anemia) ou geram uma sobrecarga de pressão (p. ex., hipertensão e estenose valvar) sobre o coração. A extensão da disfunção ventricular sistólica pode ser estimada medindo-se o débito cardíaco e a fração de ejeção, e por meio da avaliação das manifestações de insuficiência cardíaca do lado direito, em particular de congestão pulmonar. Disfunção diastólica Ainda que a insuficiência cardíaca em geral esteja associada ao comprometimento da função sistólica, em cerca de 55% dos casos a função sistólica é preservada e a insuficiência cardíaca ocorre exclusivamente com base na disfunção diastólica ventricular esquerda. Embora esses corações apresentem contração normal, o relaxamento é anormal. O enchimento anormal do ventrículo compromete o débito cardíaco, especialmente durante o exercício. Para qualquer volume ventricular determinado, as pressões ventriculares estão elevadas, acarretando sinais de congestão venosa pulmonar e sistêmica, de modo idêntico ao observado em pessoas cujo coração está dilatado e contrai inadequadamente. A prevalência da insuficiência diastólica aumenta com a idade, sendo mais alta nas mulheres e em pessoas com hipertensão e fibrilação atrial. Entre as condições causadoras de disfunção diastólica, estão aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., efusão pericárdica, pericardite constritiva), aumentam a espessura da parede e reduzem a dimensão da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio, MCH), e adiam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento, cardiopatia isquêmica). O envelhecimento com frequência é acompanhado por um adiamento no relaxamento do coração durante a diástole, de modo que o enchimento diastólico tem início enquanto o ventrículo ainda está rígido e resistente à distensão para aceitar um aumento no volume. Um adiamento semelhante ocorre na isquemia do miocárdio, que resulta da falta de energia para romper o rigor estabelecido entre os filamentos de actina e miosina, bem como para transportar o Ca++ para fora do citosol e de volta ao interior do retículo sarcoplasmático. A função diastólica também é influenciada pela frequência cardíaca, a qual determina o tempo disponível para que ocorrao enchimento ventricular. Um aumento na frequência cardíaca abrevia o tempo de enchimento diastólico. Portanto, a disfunção diastólica pode ser agravada por taquicardia ou arritmia e melhorar com uma queda na frequência cardíaca, a qual possibilita um tempo maior para o enchimento do coração. Com a disfunção diastólica, o sangue não consegue se movimentar livremente no interior do VE e isso faz com que a pressão intraventricular aumente com qualquer volume. As pressões elevadas são transferidas do VE para dentro do átrio esquerdo e do sistema venoso pulmonar, causando uma diminuição na complacência do pulmão que aumenta o trabalho respiratório e evoca sintomas de dispneia. O débito cardíaco encontra-se diminuído, não em consequência de uma redução da fração de ejeção ventricular conforme a observada com a disfunção sistólica, mas em decorrência de uma diminuição no volume (pré-carga) disponível para o débito cardíaco adequado. O débito cardíaco inadequado durante a prática de exercícios pode levar à fadiga das pernas e dos músculos acessórios da respiração. Embora o evento inicial que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a longo prazo normalmente envolve ambos os lados. As alterações fisiopatológicas ocorridas no próprio miocárdio, incluindo as respostas compensatórias em condições como o infarto do miocárdio, não diferem significativamente entre as disfunções ventriculares direita e esquerda. Disfunção ventricular direita A insuficiência cardíaca do lado direito compromete a capacidade de transporte do sangue desoxigenado da circulação sistêmica para a circulação pulmonar. Consequentemente, quando o ventrículo direito é insuficiente, ocorre uma redução na quantidade de sangue deslocada adiante, para a circulação pulmonar, e em seguida para o lado esquerdo do coração, finalmente causando redução do débito cardíaco ventricular esquerdo. Além disso, se o ventrículo direito não ocasiona o movimento anterógrado do sangue, ocorre acúmulo ou congestão de sangue no sistema venoso sistêmico. Isso eleva as pressões diastólica final ventricular direita, atrial direita e venosa sistêmica. Um importante efeito da insuficiência cardíaca do lado direito é o desenvolvimento de edema periférico. Os efeitos da ação da gravidade fazem com que o edema seja mais pronunciado nas partes inferiores do corpo. A verificação diária do peso pode ser utilizada como um meio de avaliar o acúmulo de líquido em uma pessoa com insuficiência cardíaca crônica. A insuficiência cardíaca do lado direito também produz congestão das vísceras. À medida que a distensão venosa progride, o sangue se acumula nas veias hepáticas que drenam na veia cava inferior, e o fígado fica ingurgitado. Isso pode causar hepatomegalia e dor no quadrante superior direito. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave e prolongada, a função hepática está comprometida e as células hepáticas podem morrer. A congestão da circulação porta também pode levar ao ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite. A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia e desconforto abdominal. As veias jugulares, que estão acima do nível do coração, normalmente são invisíveis na posição ortostática ou sentada com a cabeça em um ângulo superior a 30°. Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a pessoa está sentada ou em pé. As causas da disfunção ventricular direta incluem condições que impedem o fluxo sanguíneo nos pulmões ou que comprometem a eficácia do bombeamento do ventrículo direito. A insuficiência ventricular esquerda é a causa mais comum de insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar prolongada também causa disfunção e insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar ocorre em pessoas com doença pulmonar crônica, pneumonia grave, embolia pulmonar ou estenose aórtica ou mitral. Quando a insuficiência cardíaca do lado direito ocorre em resposta à doença pulmonar crônica, é denominada cor pulmonale. Outras causas comuns incluem estenose ou regurgitação das valvas tricúspide ou pulmonar, infarto ventricular direito e miocardiopatia. Disfunção ventricular esquerda A insuficiência cardíaca do lado esquerdo compromete o movimento do sangue a partir da circulação pulmonar (de baixa pressão) até o lado arterial (de alta pressão) da circulação sistêmica. Com o comprometimento da função cardíaca esquerda, ocorre uma diminuição no débito cardíaco para a circulação sistêmica. O sangue se acumula no VE, no átrio esquerdo e na circulação pulmonar, o que causa uma elevação na pressão venosa pulmonar. Quando a pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do líquido intravascular para o interstício dos pulmões, resultando em edema pulmonar. O episódio de edema pulmonar costuma ocorrer à noite, após a permanência da pessoa em posição reclinada durante algum tempo e a remoção das forças gravitacionais do sistema circulatório. Nesse momento, o líquido do edema sequestrado nos membros inferiores ao longo do dia retorna para o compartimento vascular e é redistribuído para a circulação pulmonar. As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a hipertensão e o infarto agudo do miocárdio. A insuficiência cardíaca ventricular esquerda e a congestão pulmonar podem se desenvolver muito rapidamente em pessoas com infarto agudo do miocárdio. Até mesmo quando a área infartada é pequena, pode haver uma área adjacente de tecido isquêmico. Isso pode resultar em grandes áreas de hipocinesia ou acinesia da parede ventricular, e no rápido aparecimento de congestão e edema pulmonar. A estenose ou regurgitação da valva aórtica ou mitral também gera o nível de retorno do lado esquerdo que resulta em congestão pulmonar. Conforme a pressão pulmonar aumenta como resultado da congestão, pode haver progressão para insuficiência cardíaca do lado direito. Mecanismos compensatórios Na insuficiência cardíaca, a reserva cardíaca é mantida em grande parte por respostas compensatórias ou adaptativas, como o mecanismo de Frank-Starling, a ativação de influências neuro-humorais como os reflexos do sistema nervoso simpático, o mecanismo renina- angiotensina-aldosterona, PN cardíacos, substâncias vasoativas produzidas localmente, além de hipertrofia e remodelamento do miocárdio. A primeira dessas adaptações ocorre rapidamente, em minutos ou horas após a disfunção miocárdica, e pode ser adequada para manter o desempenho de bombeamento geral do coração em níveis relativamente normais. A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio ocorrem lentamente, no decorrer de meses a anos, e desempenham papel importante na adaptação à sobrecarga hemodinâmica a longo prazo. Na insuficiência cardíaca, as diminuições iniciais na função cardíaca podem ser imperceptíveis, uma vez que esses mecanismos compensatórios mantêm o débito cardíaco. Contudo, além de contribuírem para a adaptação do coração insuficiente, tais mecanismos também favorecem a fisiopatologia da insuficiência cardíaca. Mecanismo de Frank-Starling. O mecanismo de Frank-Starling opera por meio de um aumento na pré-carga. Com o aumento do enchimento diastólico, ocorre ampliação no estiramento das fibras miocárdicas e uma aproximação mais ideal das cabeças dos filamentos grossos de miosina aos sítios de ligação da troponina nos filamentos finos de actina, resultando em aumento na força da contração subsequente. Hipertrofiae remodelamento do miocárdio O desenvolvimento da hipertrofia do miocárdio constitui um dos principais mecanismos utilizados pelo coração para compensar um aumento na carga de trabalho. Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho do trabalho cardíaco, também constitui um importante fator de risco de morbidade e mortalidade cardíacas subsequentes. A hipertrofia e o remodelamento inadequados podem resultar em alterações na estrutura (i. e., massa muscular, dilatação das câmaras) e na função (i. e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), as quais frequentemente levam à disfunção adicional da bomba e à sobrecarga hemodinâmica. A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio envolvem uma série de eventos complexos nos níveis molecular e celular (o crescimento descontrolado dos fibroblastos cardíacos está associado ao aumento da síntese das fibras de colágeno, à fibrose do miocárdio e à rigidez da parede ventricular). Assim como a rigidez da parede ventricular aumenta a carga de trabalho do coração, a fibrose e o remodelamento podem levar a anormalidades na condução elétrica, nas quais o coração se contrai de modo descoordenado – a chamada dissincronia cardíaca – causando redução da função cardíaca sistólica. Pesquisas recentes enfocaram o tipo de hipertrofia que se desenvolve em pessoas com insuficiência cardíaca. No nível celular, as células musculares cardíacas respondem aos estímulos do estresse imposto sobre a parede ventricular pela pressão e pela sobrecarga de volume, iniciando diversos processos que levam à hipertrofia. Estes incluem estímulos que produzem: •Hipertrofia simétrica, com um aumento proporcional no comprimento e na largura dos músculos, como ocorre nos atletas •Hipertrofia concêntrica, com um aumento na espessura da parede, como ocorre na hipertensão •Hipertrofia excêntrica, com um aumento desproporcional no comprimento do músculo, como ocorre na MCD. Quando o estímulo primário é a sobrecarga do volume ventricular, o aumento no estresse da parede leva à replicação das miofibrilas em séries, ao alongamento das células musculares cardíacas e à hipertrofia excêntrica). Manifestações clínicas da insuficiência cardíaca Dependem da extensão e do tipo de disfunção cardíaca presente, bem como da rapidez com que se desenvolve. Uma pessoa com insuficiência cardíaca anteriormente compensada estável pode desenvolver sinais de insuficiência cardíaca pela primeira vez quando a condição avançar a um ponto crítico, como no aumento progressivo da hipertensão pulmonar em pessoas com regurgitação da valva mitral. A insuficiência cardíaca manifesta também pode ser precipitada por condições como infecção, estresse emocional, hipertensão não controlada ou sobrecarga de líquido. Muitas pessoas com cardiopatia subjacente séria, independentemente de terem apresentado insuficiência cardíaca anterior, podem ser relativamente assintomáticas, desde que sigam cuidadosamente seu regime de tratamento. O excesso de sódio alimentar é uma causa frequente de descompensação cardíaca súbita. As manifestações da insuficiência cardíaca refletem os efeitos fisiológicos do comprometimento da capacidade de bombeamento do coração, da diminuição do fluxo sanguíneo renal e da ativação dos mecanismos compensatórios simpáticos. A gravidade e a progressão dos sintomas dependem da extensão e do tipo de disfunção presente (sistólica versus diastólica, do lado direito versus esquerdo). Os sinais e sintomas incluem falta de ar e outras manifestações respiratórias, fadiga e tolerância limitada aos exercícios, retenção de líquido e edema, caquexia e desnutrição, e cianose. As pessoas com insuficiência cardíaca grave podem apresentar diaforese e taquicardia. Manifestações respiratórias - Falta de ar, decorrente da congestão da circulação pulmonar é uma das principais manifestações da insuficiência cardíaca do lado esquerdo - A dispneia relacionada a um aumento no nível de atividade é denominada dispneia de esforço. -Ortopneia é a falta de ar que ocorre quando uma pessoa está em decúbito dorsal. As forças gravitacionais ocasionam o sequestro de líquido nas pernas e nos pés quando a pessoa está em pé ou sentada. Quando ela assume uma posição de decúbito, o líquido das pernas e das partes pendentes do corpo é mobilizado e redistribuído para uma circulação pulmonar que já se encontra distendida. A dispneia noturna paroxística é uma crise súbita de dispneia que ocorre durante o sono. -Tosse seca e não produtiva crônica, que piora quando a pessoa está deitada. O broncospasmo decorrente da congestão das mucosas brônquicas pode causar chiados e dificuldade respiratória (asma cardíaca). -A respiração de Cheyne-Stokes é um padrão de respiração periódica, caracterizada pelo aumento gradual na profundidade (e por vezes na frequência) da respiração até um ponto máximo, seguido de diminuição que resulta em apneia. Embora essa condição não seja mais associada unicamente à insuficiência cardíaca, é reconhecida como um fator de risco independente para o agravamento da insuficiência cardíaca. -Edema pulmonar agudo. O edema pulmonar agudo é o sintoma mais drástico da SICA. É uma condição de risco à vida, na qual o líquido dos capilares é deslocado para os alvéolos. O líquido acumulado nos alvéolos e nas vias respiratórias causa rigidez pulmonar, dificulta ainda mais a expansão pulmonar e compromete a função de troca gasosa do pulmão. Com a diminuição da capacidade dos pulmões de oxigenar o sangue, a hemoglobina sai da circulação pulmonar sem estar totalmente oxigenada, resultando em falta de ar e cianose. -Fadiga, fraqueza e confusão mental. A fadiga e a fraqueza com frequência acompanham a diminuição do débito do VE. A fadiga cardíaca é diferente da fadiga geral, no sentido de normalmente estar ausente pela manhã, porém surgir e progredir com o aumento da atividade no decorrer do dia. -Retenção de líquido e edema. Muitas das manifestações de insuficiência cardíaca resultam do aumento da pressão dos capilares (aumento das pressões hidrostáticas) que se desenvolve na circulação periférica em pessoas com insuficiência cardíaca do lado direito, e na circulação pulmonar em pessoas com insuficiência cardíaca do lado esquerdo. O aumento da pressão dos capilares reflete um enchimento excessivo do sistema vascular em consequência do aumento da retenção de sódio e água, bem como da congestão venosa, anteriormente denominada insuficiência retrógrada, resultante do comprometimento do débito cardíaco. -Nictúria é um aumento noturno no débito urinário, que ocorre relativamente no início da evolução da insuficiência cardíaca. Resulta do aumento do débito cardíaco, do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, subsequentemente ao aumento do retorno do sangue para o coração, quando a pessoa está em decúbito dorsal. Pode haver transudação do líquido no interior da cavidade pleural (hidrotórax) ou da cavidade abdominal (ascite) em pessoas com insuficiência cardíaca avançada. Como as veias pleurais drenam em ambos os leitos venosos, sistêmico e pulmonar, o hidrotórax é mais comumente observado naquelas com hipertensão envolvendo ambos os sistemas venosos. A efusão pleural ocorre conforme o excesso de líquido nos espaços intersticiais pulmonares cruza a pleura visceral, o que, por sua vez, supera a capacidade do sistema linfático pulmonar. A ascite ocorre em presença de aumento da pressão nas veias hepáticas e nas veias que drenam o peritônio. Normalmente, reflete a insuficiência ventricular direita e a elevação da pressão venosa sistêmica prolongada observada na insuficiência cardíaca crônica. Caquexia e desnutrição. A caquexia cardíaca é uma condiçãode desnutrição e atrofia tecidual que ocorre em pessoas com insuficiência cardíaca em estágio terminal. Diversos fatores provavelmente contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a fadiga e a depressão, que interferem na ingestão alimentar; a congestão do fígado e das estruturas gastrintestinais, que compromete a digestão e a absorção, produzindo sensação de saciedade; além das toxinas circulantes e mediadores liberados dos tecidos inadequadamente perfundidos, que comprometem o apetite e contribuem para a atrofia tecidual. Cianose. Coloração azulada da pele e das membranas mucosas, causada pelo excesso de hemoglobina dessaturada no sangue; com frequência, trata-se de um sinal tardio de insuficiência cardíaca. A cianose pode ser central, causada pela dessaturação arterial resultante do comprometimento da troca gasosa pulmonar, ou periférica, causada pela dessaturação venosa decorrente da extração excessiva de oxigênio ao nível capilar. Arritmias e morte súbita cardíaca. Em pessoas com insuficiência cardíaca, ocorrem arritmias tanto atriais quanto ventriculares. A fibrilação atrial é a arritmia mais comum. As manifestações clínicas associadas à fibrilação atrial estão relacionadas à perda da contração atrial, à taquicardia, à frequência cardíaca irregular e a uma queda na pressão arterial. Também existem fortes evidências de que pessoas com insuficiência cardíaca apresentam um risco maior de parada cardíaca súbita, ou seja, morte não testemunhada e morte que ocorre dentro de 1 h após o início dos sintomas. Em pessoas com disfunção ventricular, a morte súbita é mais comumente causada por taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular. Diagnóstico e tratamento Diagnóstico. Os métodos diagnósticos na insuficiência cardíaca são direcionados ao estabelecimento da causa do distúrbio e à determinação da extensão da disfunção. Como a insuficiência cardíaca representa a insuficiência do coração como bomba e pode ocorrer durante a evolução de diversas cardiopatias ou outros distúrbios sistêmicos, o diagnóstico da insuficiência cardíaca comumente é baseado nos sinais e sintomas relacionados ao próprio coração insuficiente, como falta de ar e fadiga. A classificação funcional da New York Heart Association (NYHA) serve de guia para classificar a extensão da disfunção. A classificação funcional da NYHA categoriza a disfunção em quatro classes: •Classe I – Pessoas que apresentam cardiopatia conhecida, sem sintomas durante as atividades habituais •Classe II – Pessoas que apresentam cardiopatia e limitações discretas, mas não fadiga extrema, palpitações, dispneia ou dor do tipo angina durante as atividades regulares •Classe III – Pessoas com cardiopatia que se sentem confortáveis em repouso, mas as atividades habituais resultam em fadiga, palpitações, dispneia e dor do tipo angina •Classe IV – Pessoas que apresentam cardiopatia progressiva acentuada e que não se sentem confortáveis em repouso ou com atividades mínimas. Os métodos utilizados no diagnóstico da insuficiência cardíaca incluem avaliação dos fatores de risco, histórico e exame físico, exames laboratoriais, ECG, radiografia torácica e ecocardiograma. O histórico deve incluir informações relativas à dispneia, tosse, nictúria, fadiga generalizada, e outros sinais e sintomas de insuficiência cardíaca. Um exame físico completo inclui a avaliação da frequência cardíaca, das bulhas cardíacas, da pressão arterial, das veias jugulares em relação à congestão venosa, dos pulmões em relação a sinais de congestão pulmonar, e dos membros inferiores em relação ao edema. Os exames laboratoriais são utilizados no diagnóstico da anemia e de desequilíbrios eletrolíticos e para detectar sinais de congestão hepática crônica. A determinação dos níveis de BNP e NT-proBNP podem ser úteis se o diagnóstico da insuficiência cardíaca for incerto, e como recurso para a estratificação do risco. O uso dos níveis de BNP ou NT-proBNP em série ainda não está bem estabelecido. O ecocardiograma desempenha um papel importante na avaliação da movimentação da parede ventricular direita e esquerda (normal, acinesia ou hipocinesia), da espessura da parede, do tamanho da câmara ventricular, da função das valvas, dos defeitos cardíacos, da fração de ejeção e da doença pericárdica. Os achados do ECG podem indicar hipertrofia atrial ou ventricular, distúrbios subjacentes do ritmo cardíaco ou anormalidades da condução, como bloqueio de ramo direito ou esquerdo. A ventriculografia com radionuclídeos e a angiografia cardíaca são recomendadas se houver motivos que levem à suspeita de DAC como causa subjacente da insuficiência cardíaca. Radiografias torácicas fornecem informações a respeito do tamanho e do formato do coração, bem como da vasculatura pulmonar. A silhueta cardíaca pode ser utilizada para detectar hipertrofia e dilatação cardíaca. As radiografias torácicas podem indicar a gravidade relativa da insuficiência, revelando se o edema pulmonar é predominantemente vascular ou intersticial, ou se avançou até os estágios alveolar e brônquico. O índice cardiotorácico > 50% define a cardiomegalia na radiografia. É possível também avaliar sinais de congestão pulmonar, como a cefalização da trama vascular pulmonar, presença de linhas B de Kerley, que são linhas dispostas na horizontal e indicam congestão. A radiografia também permite a avaliação da gravidade do quadro de congestão pulmonar, detecção de cisurites pelo acúmulo de líquido nas cisuras pulmonares e permite avisualização de derrames pleurais. OBS: Na radiografia anterior podemos ver vários sinais de congestão e alterações estruturais do coração, como o sinal da bailarina (deslocamento superior do brônquio fonte esquerdo), cefalização da trama vascular pulmonar ecardiomegalia. Ressonância magnética cardíaca (RMC) e tomografia computadorizada cardíaca (TCC) são utilizadas para documentar a fração de ejeção, a pré-carga ventricular e a movimentação da parede regional. O monitoramento hemodinâmico invasivo pode ser utilizado para a avaliação em episódios de insuficiência cardíaca agudos e de risco à vida. Esses métodos de monitoramento incluem PVC, monitoramento da pressão arterial pulmonar, medidas de termodiluição do débito cardíaco e aferições intra-arteriais da pressão arterial. A PVC reflete a quantidade de sangue que retorna para o coração. As medidas da PVC são obtidas de modo mais adequado com a inserção de um cateter na junção entre a veia cava superior e o átrio direito, por meio de uma veia periférica ou pela porta (abertura) do átrio direito em um cateter na artéria pulmonar. As pressões do volume ventricular são obtidas por meio de um cateter com um balão acoplado na ponta inserido na artéria pulmonar e direcionado pelo fluxo. Esse cateter é introduzido através de uma veia periférica ou central e, em seguida, avançado até o átrio direito. Posteriormente, o balão é insuflado com ar, permitindo que o cateter flutue pelo ventrículo direito rumo à artéria pulmonar, onde então se aloja em um vaso pulmonar de pequeno calibre. Quando o balão é inflado, o cateter coleta dados sobre a pressão dos capilares pulmonares – também denominada pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP), a qual está diretamente relacionada às pressões do coração esquerdo. A pressão dos capilares pulmonares proporciona um meio para avaliar a capacidade de bombeamento do coração esquerdo. O monitoramento intra-arterial da pressão arterial proporciona um meio para o seu monitoramento contínuo. É utilizado em pessoas com insuficiência cardíaca aguda, quando há necessidade de terapia medicamentosa intravenosa agressiva ou de um dispositivo de assistência mecânica. As aferições são obtidaspor meio de um pequeno cateter inserido em uma artéria periférica, normalmente a artéria radial. O cateter é conectado a um transdutor de pressão, e as aferições da pressão arterial são registradas a cada batimento. O sistema de monitoramento demonstra o contorno da forma da onda da pressão e as pressões arteriais sistólica, diastólica e média, além da frequência cardíaca e do ritmo cardíaco. Doenças negligenciadas As doenças negligenciadas são caracterizadas por um grupo de enfermidades infecciosas que atingem principalmente a população de baixa renda nos países em desenvolvimento, com poucos investimentos em pesquisa e tecnologia para avançar no controle, na prevenção e tratamento medicamentoso. São assim denominadas, também, pelo fato de não despertarem o interesse econômico e financeiro das grandes indústrias farmacêuticas, proporcionando a continuidade do ciclo da pobreza e diminuição da qualidade de vida das pessoas. As doenças negligenciadas são o conjunto de doenças causadas por agentes infectoparasitários que produzem importante dano físico, cognitivo e socioeconômico em crianças e adolescentes, principalmente em comunidades de baixa renda. São também compreendidas como doenças infecciosas de grande importância na saúde pública e que deixaram de receber atenção adequada por parte da ciência como um todo. A Organização Mundial da Saúde considera doenças tropicais negligenciadas a úlcera de Buruli, a doença de Chagas, a cisticercose, a dengue, a dracunculíase (doença do verme da Guiné), a equinococose, a fasciolíase, a tripanossomíase africana (doença do sono), a leishmaniose, a lepra, a filaríase linfática, a oncocercíase (a cegueira dos rios), a raiva, a esquistossomose, as parasitoses, o tracoma e o bouba. Referências: Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021.
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