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Apg 8 – Febre reumática e valvulopatias 1- Revisar a estrutura celular e a classificação dos procariontes (bactérias); 2- Compreender a fisiopatologia da febre reumática; 3- Entender as manifestações clínicas, fatores causais e diagnóstico; 4- Identificar a epidemiologia da doença; 5- Compreender as outras patologias valvares e suas consequências e causas. CARDIOPATIA REUMÁTICA A FR e a CR são complicações da resposta imunomediada à infecção da garganta por estreptococos do grupo A (beta-hemolíticos) (EGA). O aspecto mais sério da FR é o desenvolvimento de distúrbios valvares crônicos que produzem disfunção cardíaca permanente e, em alguns casos, causam insuficiência cardíaca fatal anos depois. Epidemiologia: Embora a FR e a CR sejam raras nos países desenvolvidos, ainda são problemas de saúde importantes nos países subdesenvolvidos, onde há prevalência de atendimento de saúde inadequado, desnutrição e condições de vida em aglomerações. Patogênese: Os estreptococos beta-hemolíticos são divididos em diversos grupos sorológicos com base em seu antígeno polissacarídico da parede celular. Além disso, o grupo A é subdividido em mais de 130 tipos M distintos, responsáveis pela vasta maioria das infecções. A proteína M define melhor a virulência da bactéria e tem sido estudada mais intensivamente quanto à reatividade cruzada com o tecido cardíaco. Embora os EGA causem tanto faringite quanto infecções cutâneas (impetigo), apenas a faringite é relacionada à FR e à CR. A patogênese da FR ainda não está estabelecida. O período de tempo até o desenvolvimento dos sintomas relativos à dor de garganta e à presença de anticorpos contra os EGA sugere fortemente uma origem imunológica. Acredita-se que os anticorpos direcionados contra a proteína M de determinadas cepas de estreptococos apresentem reação cruzada com antígenos glicoproteicos presentes no coração, nas articulações e em outros tecidos, produzindo resposta autoimune por meio de um fenômeno denominado mimetismo molecular. O aparecimento dos sintomas em 2 a 3 semanas após a infecção e a ausência de estreptococos na lesão apoiam essa suspeita. Ainda que haja desenvolvimento de FR somente em uma baixa porcentagem de pacientes com faringite por EGA não tratada, a incidência de recidivas na vigência de uma infecção não tratada subsequente é substancialmente maior. Essas observações aliadas a estudos mais recentes sugerem uma predisposição genética ao desenvolvimento da doença. Além disso, elementos ambientais podem afetar o seu desenvolvimento. Uma incidência maior de FR foi observada em populações junto a áreas com aglomeração, como barracas militares, devido à alta virulência e à transmissão rápida. Manifestações clínicas: A FR pode se manifestar como um distúrbio agudo, recidivante ou crônico. O estágio agudo da FR inclui histórico de uma infecção estreptocócica inicial e subsequente envolvimento de elementos do tecido conjuntivo do coração, dos vasos sanguíneos, das articulações e dos tecidos subcutâneos. Uma lesão comum a todos, denominada corpo de Aschoff, consiste em uma área localizada de necrose tecidual circundada por células imunes. A fase recidivante normalmente envolve a extensão dos efeitos cardíacos da doença. A fase crônica da FR é caracterizada pela deformidade permanente das valvas cardíacas e é causa frequente de estenose da valva mitral. O surgimento de CR crônica geralmente demora no mínimo 10 anos, após a crise inicial, mas pode demorar décadas. A maior parte das pessoas com FR apresenta histórico de dor de garganta, cefaleia, febre (38,3 a 40°C), dor abdominal, náuseas, vômito, edema de linfonodos (normalmente no ângulo da mandíbula), além de outros sinais e sintomas de infecção estreptocócica. Outras manifestações clínicas associadas a um episódio de FR aguda estão relacionadas ao processo inflamatório agudo e às estruturas envolvidas no processo patológico. A evolução da doença é caracterizada por um conjunto de achados, incluindo poliartrite migratória das grandes articulações, cardite, eritema marginado, nódulos subcutâneos e coreia de Syndenham. Os marcadores laboratoriais da inflamação aguda incluem elevação da contagem de leucócitos, VSH e PCR. Esses níveis elevados dos reagentes de fase aguda são inespecíficos para FR, mas fornecem evidências de uma resposta inflamatória aguda. Poliartrite: Mais comum e, com frequência, a primeira manifestação da FR em 75% dos casos. Pode ser o único critério importante em adolescentes e adultos. A artrite, que pode variar da artralgia até a artrite debilitante, envolve com mais frequência as grandes articulações, em particular os joelhos e tornozelos, e é menos comum nos punhos, cotovelos, ombros e quadril. Quase sempre é migratória, afetando primeiro uma articulação e depois outra. Se não tratada, a artrite dura aproximadamente 4 semanas. Uma característica marcante da artrite reumática é a resposta drástica (normalmente dentro de 48 h) aos salicilatos. A artrite geralmente apresenta cura total e não deixa sequelas funcionais. Cardite: A cardite reumática aguda, que complica a fase aguda da FR, pode afetar o endocárdio, miocárdio ou pericárdio. O envolvimento do endocárdio e das estruturas valvares produz os efeitos permanentes e incapacitantes da FR. A cardite manifesta-se principalmente como uma regurgitação mitral, e menos comumente como regurgitação aórtica, ainda que todas as quatro valvas possam estar envolvidas. Durante o estágio inflamatório agudo da doença, as estruturas valvares se tornam vermelhas e edemaciadas, e ocorre o desenvolvimento de pequenas lesões vegetativas nos folhetos valvares. As alterações inflamatórias agudas progridem gradualmente, até o desenvolvimento de um tecido cicatricial fibroso que tende a contrair e causar deformidade dos folhetos valvares e encurtamento das cordas tendíneas. Em alguns casos, as bordas ou comissuras dos folhetos valvares se fundem, à medida que ocorre a cicatrização. As características clínicas da endocardite/valvite, sem histórico de CR, incluem um sopro holossistólico apical decorrente de regurgitação mitral, ou um sopro diastólico precoce basal resultante de regurgitação aórtica. Em pessoas com histórico de CR, uma alteração na característica desses sopros ou um novo sopro são indicativos de cardite reumática aguda. Nódulos subcutâneos, eritema marginado e coreia de Sydenham. Os nódulos subcutâneos são rígidos, indolores e livremente móveis, normalmente ocorrendo sobre os músculos extensores das articulações do punho, cotovelo, tornozelo e joelho, com um tamanho que varia de 0,5 a 2 cm. Os nódulos subcutâneos raramente ocorrem de modo isolado na FR, mas se manifestam com mais frequência associados à cardite moderada a grave. As lesões do eritema marginado são áreas maculares semelhantes a um mapa, mais comumente observadas no tronco ou nos aspectos internos dos braços e das coxas, mas nunca na face. Ocorrem no início da evolução de uma crise reumática e tendem a apresentar nódulos subcutâneos, bem como cardite. São transitórias e desaparecem durante a progressão da doença. A coreia de Sydenham é a principal manifestação da FR no sistema nervoso central. É observada com mais frequência em meninas e raramente ocorre após os 20 anos de idade. Tipicamente, seu início é insidioso de irritabilidade, e existem outros problemas comportamentais. A criança aparenta inquietação, chora facilmente, começa a caminhar desajeitadamente e deixa os objetos caírem. Os movimentos coreiformes são espasmos espontâneos, rápidos e despropositados, que interferem nas atividades voluntárias. É comum haver caretas faciais, e até mesmo a fala pode estar afetada. A coreia é autolimitantee normalmente evolui em questão de semanas ou meses, porém as recidivas não são incomuns. Uma infecção estreptocócica anterior pode ser detectada em apenas cerca de dois terços dos casos, dificultando o diagnóstico diferencial. Diagnóstico: Não existem exames laboratoriais específicos que permitam estabelecer o diagnóstico de FR. Dada a diversidade de sinais e sintomas, os critérios de Jones para o diagnóstico da FR, propostos pela primeira vez em 1944 e submetidos a diversas revisões da AHA e da Organização Mundial da Saúde (OMS), têm o objetivo de auxiliar na padronização do diagnóstico da afecção. Os critérios de Jones dividem as características clínicas da FR em categorias maiores e menores, com base na prevalência e na especificidade. A presença de dois sinais maiores (i. e., cardite, poliartrite, coreia, eritema marginado e nódulos subcutâneos) ou de um sinal maior e dois menores (i. e., artralgia, febre e elevação da VHS, PCR ou contagem de leucócitos), acompanhada por evidências de uma infecção anterior por EGA, indica uma alta probabilidade de FR. Uso do ecocardiograma melhorou a compreensão a respeito da CR aguda e crônica. É útil para avaliar a gravidade da estenose e da regurgitação valvares, o tamanho das câmaras e a função ventricular, e a presença e o volume das efusões pleurais. A ultrassonografia com Doppler pode ser útil para identificar lesões cardíacas em pessoas que não apresentam sinais típicos de envolvimento cardíaco durante uma crise de FR; mas, neste momento, não é considerada um critério maior ou menor de Jones. Tratamento e prevenção: É importante que as infecções estreptocócicas sejam imediatamente diagnosticadas e tratadas para prevenir a FR. O padrão-ouro para detecção de uma infecção estreptocócica é a cultura de uma amostra coletada da faringe. Contudo, são necessárias 24 a 48 h para a produção de um resultado, o que adia o tratamento. O desenvolvimento de testes rápidos para a detecção direta dos antígenos de EGA proporcionou ao menos uma solução parcial para esse problema. A cultura de amostra da faringe e os testes rápidos com antígenos são altamente específicos para a infecção por EGA, mas são limitados pela sensibilidade (p. ex., o teste de um paciente com infecção estreptocócica pode resultar negativo). O resultado negativo na análise de antígeno deve ser confirmado com cultura de amostra obtida da faringe, sempre que houver suspeita de infecção estreptocócica. A presença de EGA no trato respiratório superior pode indicar a condição de portador ou de infecção, sendo possível definir esta última com base na elevação da resposta de anticorpos. Exames sorológicos de anticorpos estreptocócicos (antiestreptolisina O e antidesoxirribonuclease B) são realizados para a confirmação retrospectiva de infecções estreptocócicas recentes em pessoas que supostamente apresentam FR aguda. Contudo, não existe um único resultado de exame laboratorial específico que seja patognomônico da FR aguda ou recidivante. O tratamento da FR aguda é direcionado ao controle da resposta inflamatória aguda, bem como à prevenção das complicações cardíacas e das recidivas da doença. Durante a fase aguda, são prescritos antibióticos, medicamentos anti-inflamatórios e restrição seletiva das atividades. Nenhum isolado clínico de EGA é resistente à penicilina; portanto, a penicilina (ou eritromicina [ou ainda um antibiótico macrolídeo mais novo] em pacientes alérgicos à penicilina) é o tratamento de escolha para a infecção por EGA. As cefalosporinas de espectro limitado também foram administradas com sucesso, mas devem ser evitadas em pessoas com histórico de anafilaxia à penicilina. Os salicilatos e corticosteroides podem ser utilizados para suprimir a resposta inflamatória, mas só devem ser administrados após a confirmação do diagnóstico de FR. A cirurgia é indicada para casos de valvopatia reumática crônica, sendo determinada pela gravidade dos sintomas ou por evidências de comprometimento significativo da função cardíaca. Os procedimentos utilizados incluem comissurotomia mitral fechada, reparo valvar e substituição da valva. Um paciente que teve crise de FR apresenta alto risco de recidiva após episódios subsequentes de infecção da garganta por EGA. A penicilina ainda é o tratamento de escolha para profilaxia secundária, com o uso de eritromicina em indivíduos alérgicos à penicilina. A duração da profilaxia depende da presença ou ausência de valvopatia residual. A aderência a um plano de administração profilática de penicilina exige que o paciente e sua família compreendam a morbidade associada às referidas infecções recidivantes. Eles também são incentivados a relatar imediatamente ao médico as infecções estreptocócicas, para receberem tratamento adequado, bem como ao dentista, para obterem proteção adequada durante procedimentos odontológicos que possam traumatizar a mucosa oral. VALVULOPATIAS: Anormalidades hemodinâmicas A função das valvas cardíacas é promover o fluxo unidirecional do sangue pelas câmaras do coração. A disfunção das valvas cardíacas pode resultar de vários distúrbios, incluindo anomalias congênitas, traumatismo, lesão isquêmica, alterações degenerativas e inflamação. Ainda que qualquer uma das quatro valvas possa estar sujeita a um distúrbio, as mais comumente afetadas são as valvas mitral e aórtica. Os distúrbios das valvas pulmonar e tricúspide não são tão comuns, devido à baixa pressão no lado esquerdo do coração. As valvas cardíacas são compostas por finos folhetos de tecido fibroso resistente e flexível, recobertos por endotélio, firmemente unidos na base aos anéis fibrosos valvares. Capilares e músculo liso estão presentes na base dos folhetos, mas estes não se estendem até o interior da valva. Os folhetos das valvas cardíacas podem estar lesionados ou se tornar um sítio de processo inflamatório, e isso pode deformar a sua linha de fechamento. A reparação dos folhetos valvares com frequência está associada a um aumento no conteúdo de colágeno e à formação de cicatriz, o que torna os folhetos mais curtos e rígidos. As bordas dos folhetos valvares podem se fundir durante a cicatrização, de modo que a valva não abre ou fecha adequadamente. Na cardiopatia valvar, ocorrem dois tipos de disfunção mecânica: estreitamento da abertura da valva, que impossibilita a abertura adequada; e distorção da valva, impossibilitando o fechamento adequado. A estenose se refere a um estreitamento do orifício valvar e à incapacidade dos folhetos da valva de abrir normalmente. O fluxo sanguíneo por uma valva normal pode aumentar em 5 a 7 vezes o volume em repouso; consequentemente, a estenose valvar deve ser grave para causar problemas. O estreitamento significativo do orifício da valva aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo pela valva, convertendo o fluxo laminar normalmente suave em um fluxo turbulento menos eficiente. Isso aumenta o volume e o trabalho de esvaziamento da câmara através da valva com estreitamento – o átrio esquerdo, no caso de estenose de mitral, e o VE, na estenose aórtica. Em geral, os sintomas são observados pela primeira vez durante situações em que o fluxo aumenta, como na prática de exercício. A valva incompetente ou regurgitante possibilita a ocorrência de um fluxo retrógrado, quando ela deveria estar fechada – fluxo de volta para o VE durante a diástole, quando a valva aórtica está afetada, e de volta para o átrio esquerdo durante a sístole, quando a valva mitral apresenta a enfermidade. Os efeitos da cardiopatia valvar sobre a função cardíaca estão relacionados às alterações no fluxo sanguíneo pela valva, e ao resultante aumento nas demandas de trabalho cardíaco. Muitas malformações cardíacasvalvares são caracterizadas por sopros cardíacos resultantes do fluxo sanguíneo turbulento por uma valva afetada.. O ecocardiograma, descrito anteriormente neste capítulo, proporciona um meio para visualizar a movimentação valvar e os padrões de fechamento das valvas, bem como o fluxo sanguíneo. A ultrassonografia com Doppler pulsado fornece uma estimativa semiquantitativa ou qualitativa da gravidade dos gradientes transvalvares, da pressão sistólica ventricular direita e da regurgitação valvar. O Doppler colorido fornece um padrão visual das velocidades do fluxo na imagem ecocardiográfica anatômica 2D ou 3D. Isso possibilita que a turbulência nas valvas estenóticas e regurgitantes seja demonstrada. O ecocardiograma transesofágico com Doppler é utilizado para obter dados ecocardiográficos quando a transmissão dos sons a partir da superfície é inadequada. Ele fornece imagens mais claras e possibilita uma melhor visualização das valvas AV e das próteses valvares. Distúrbios da valva mitral A valva mitral controla o fluxo direcional do sangue entre o átrio esquerdo e o VE. As bordas ou cúspides das valvas AV são mais delgadas do que as das valvas semilunares, e estão ancoradas nos músculos papilares por meio das cordas tendíneas. Durante grande parte da sístole, a valva mitral é sujeita à alta pressão gerada pelo VE, à medida que este bombeia sangue para a circulação sistêmica. No decorrer desse período de aumento da pressão, as cordas tendíneas previnem a eversão dos folhetos valvares para dentro do átrio esquerdo. Estenose da valva mitral Representa a abertura incompleta da valva mitral durante a diástole, com distensão do átrio esquerdo e comprometimento do enchimento do VE. A afecção em geral resulta da FR. O defeito congênito é menos comum e se manifesta durante as fases iniciais da vida ou no adulto de idade avançada, relacionada à calcificação anular. A estenose da valva mitral é um distúrbio contínuo, progressivo e vitalício, que apresenta evolução lenta e estável nos primeiros anos, seguida de aceleração progressiva nos últimos anos. Patogênese: A estenose da valva mitral é caracterizada pela substituição do tecido valvar por um tecido fibroso, bem como por rigidez e fusão do aparelho valvar. Tipicamente, as cúspides mitrais se fundem nas bordas e o envolvimento das cordas tendíneas causa encurtamento, o que traciona as estruturas valvares mais profundamente para dentro do ventrículo. Conforme a resistência ao fluxo através da valva aumenta, o átrio esquerdo dilata e a pressão atrial esquerda aumenta. O aumento da pressão atrial esquerda é finalmente transmitido ao sistema venoso pulmonar, causando congestão pulmonar. A velocidade do fluxo pela valva depende do tamanho do orifício valvar, da pressão direcionadora (i. e., pressão atrial subtraída da pressão ventricular) e do tempo disponível para o fluxo durante a diástole. A área da valva mitral normal mede 4 a 5 cm2. Os sintomas se desenvolvem com o agravamento do gradiente pela valva e conforme a pressão atrial esquerda se torna maior que a pressão ventricular esquerda. Com o avanço da condição, os sintomas de diminuição do débito cardíaco se manifestam durante o esforço extremo ou em outras situações que causam taquicardia, reduzindo assim o tempo de enchimento diastólico. Nos estágios finais da doença, a resistência vascular pulmonar aumenta e há desenvolvimento de hipertensão pulmonar; isso aumenta a pressão contra a qual o coração direito precisa bombear e, por fim, leva à insuficiência cardíaca do lado direito. Manifestações clínicas: Os sinais e sintomas de estenose da valva mitral dependem da gravidade da obstrução; estão relacionados à elevação da pressão atrial esquerda e à congestão pulmonar, bem como à diminuição do débito cardíaco consequente ao comprometimento do enchimento ventricular esquerdo e ao aumento do átrio esquerdo, com desenvolvimento de arritmias atriais e trombos murais. Os sintomas são os de desenvolvimento de insuficiência cardíaca, incluindo congestão pulmonar, dispneia paroxística noturna e ortopneia. Palpitações, dor torácica, fraqueza e fadiga são queixas comuns. Podem ocorrer batimentos atriais prematuros, taquicardia atrial paroxística e fibrilação atrial como resultado da distensão do átrio esquerdo. Em consequência do próprio processo reumático, pode haver fibrose dos tratos internodais e interatriais, além de lesão do nodo AS. A fibrilação atrial se desenvolve em 30 a 40% das pessoas com estenose mitral sintomática.38 Em conjunto, a fibrilação e a distensão predispõem à formação de trombos murais. O risco de embolia arterial, em particular de acidente vascular encefálico, aumenta significativamente naqueles com fibrilação atrial. Regurgitação da valva mitral A regurgitação da valva mitral é caracterizada pelo fechamento incompleto da mesma, com o volume sistólico ventricular esquerdo sendo dividido entre o volume sistólico anterógrado (movimento em direção à aorta) e o volume sistólico regurgitante (movimento retrógrado) para o átrio esquerdo durante a sístole. Etiologia e patogênese. A regurgitação da valva mitral pode resultar de muitos processos. A CR está associada a uma valva rígida e espessada, que não abre ou fecha completamente. Além da CR, a regurgitação mitral pode resultar da ruptura das cordas tendíneas ou dos músculos papilares, da disfunção dos músculos papilares, ou do estiramento das estruturas valvares em consequência da dilatação do VE ou do orifício valvar. O prolapso valvar mitral é uma causa comum de regurgitação da valva mitral. A regurgitação aguda da valva mitral pode ocorrer abruptamente, como na disfunção dos músculos papilares subsequente ao infarto do miocárdio, perfuração valvar na EI ou ruptura das cordas tendíneas no prolapso da valva mitral. Na regurgitação mitral aguda grave, a sobrecarga aguda do volume aumenta a pré- carga ventricular esquerda, possibilitando um aumento modesto no volume sistólico ventricular esquerdo. Contudo, o volume sistólico anterógrado (que se move pela aorta até a circulação sistêmica) está reduzido, e o volume sistólico regurgitante ocasiona uma rápida elevação na pressão atrial esquerda, edema pulmonar e diminuição no débito cardíaco. A regurgitação aguda da valva mitral quase sempre é sintomática. Em casos graves, com frequência há indicação para a substituição da valva mitral. As alterações hemodinâmicas associadas à regurgitação crônica da valva mitral ocorrem mais lentamente, possibilitando o recrutamento de mecanismos compensatórios. Um aumento do volume DFVE possibilita uma elevação no volume sistólico total, restaurando o fluxo anterógrado para a aorta. A pré-carga aumentada e a pós-carga reduzida ou normal (em consequência do descarregamento do VE no átrio esquerdo) facilitam a ejeção ventricular esquerda. Ao mesmo tempo, um aumento gradual no tamanho do átrio esquerdo possibilita a acomodação do volume regurgitante a uma pressão de enchimento mais baixa. Manifestações clínicas: O aumento do trabalho em função do volume associado à regurgitação mitral é relativamente bem tolerado, e muitas pessoas com o distúrbio permanecem assintomáticas por muitos anos, desenvolvendo sintomas decorridos 6 a 10 anos do diagnóstico. O grau de aumento ventricular esquerdo reflete a gravidade da regurgitação.40 Com a evolução do distúrbio, a função ventricular esquerda fica comprometida, o volume sistólico anterógrado (aórtico) diminui e a pressão atrial esquerda aumenta, com o subsequente desenvolvimento de congestão pulmonar. Os sintomas típicos são aqueles de insuficiência do VE, como dispneia ao esforço, dispneia noturna paroxística e ortopneia. A cirurgia deve ser realizadaantes do início desses sintomas. O aumento do VE, o impulso ventricular esquerdo hiperdinâmico e o sopro pansistólico (durante toda a sístole) são característicos da regurgitação da valva mitral. Tanto a regurgitação mitral quanto a estenose mitral predispõem à fibrilação atrial. Prolapso da valva mitral Algumas vezes denominado síndrome da valva mitral frouxa, ocorre em 1 a 2,5% da população geral. O distúrbio é observado com mais frequência em mulheres do que em homens e pode ter uma base familiar. O prolapso da valva mitral familiar é transmitido como um traço autossômico, e foram identificados diversos loci cromossômicos. Embora a causa exata do distúrbio em geral seja desconhecida, ela tem sido associada à síndrome de Marfan, osteogênese imperfeita e outros distúrbios do tecido conjuntivo, e com distúrbios cardíacos, hematológicos, neuroendócrinos, metabólicos e psicológicos. Patogênese: Os achados patológicos em pessoas com prolapso de valva mitral incluem a degeneração mixedematosa (mucinosa) dos folhetos da valva mitral, tornando-os aumentados e frouxos, de modo a prolapsarem ou realizarem um movimento de balão para dentro do átrio esquerdo, durante a sístole. As alterações fibróticas secundárias refletem os estresses e a lesão que os movimentos de balonamento impõem sobre a valva. Determinados tipos de prolapso da valva mitral podem decorrer de distúrbios miocárdicos que impõem um estresse indevido sobre a valva mitral, em consequência do movimento anormal da parede ventricular ou dos músculos papilares. O prolapso da valva mitral pode ou não causar regurgitação mitral. Manifestações clínicas e diagnóstico: A maior parte das pessoas com prolapso de valva mitral é assintomática, e o distúrbio é descoberto durante um exame físico de rotina. Uma minoria das pessoas apresenta dor torácica que mimetiza angina, dispneia, fadiga, ansiedade, palpitações e vertigem. Contrariamente à angina, a dor torácica costuma ser prolongada, mal definida e não associada ao exercício nem ao esforço. A dor é atribuída à isquemia resultante da tração dos folhetos da valva prolapsada. A ansiedade, as palpitações e as arritmias podem resultar da função anormal do sistema nervoso autônomo que comumente acompanha o distúrbio. A afecção é caracterizada por um espectro de achados auscultatórios que variam do tipo silencioso a um ou mais cliques mesossistólicos, seguidos de um sopro sistólico tardio ou holossistólico. Os cliques são causados pela tensão súbita do aparelho da valva mitral, à medida que os folhetos prolapsam. Distúrbios da valva aórtica A valva aórtica está localizada entre o VE e a aorta. Tem três cúspides e por vezes é denominada valva semilunar aórtica, pelo fato de seus folhetos apresentarem formato de lua crescente. A valva aórtica não tem cordas tendíneas. Embora suas estruturas sejam semelhantes, as cúspides da valva aórtica são mais espessas que as da mitral. A camada intermediária da valva aórtica é espessa perto do seu centro, onde os três folhetos se encontram, o que assegura uma boa vedação. Entre o tecido espessado e suas margens livres, os folhetos são mais delgados e frágeis. Um aspecto importante da valva aórtica é a localização dos orifícios das duas artérias coronárias principais, que se encontram atrás da valva e em ângulos retos na direção do fluxo sanguíneo. É a pressão lateral na aorta que propulsiona o sangue para as artérias coronárias. Durante a fase de ejeção do ciclo cardíaco, a pressão lateral diminui com a conversão da energia potencial em energia cinética na medida em que o sangue se move em direção anterógrada para a aorta. Esse processo é exagerado na estenose da valva aórtica, devido às altas velocidades do fluxo. Estenose da valva aórtica A estenose da valva aórtica, com frequência denominada simplesmente estenose aórtica, é caracterizada por um aumento da resistência à ejeção do sangue do VE para a aorta. As causas mais comuns de estenose da valva aórtica são as malformações valvares congênitas e a calcificação adquirida da valva tricúspide normal. As malformações congênitas podem resultar em folhetos valvares unicúspides, bicúspides ou com formato inadequado. De modo geral, a estenose aórtica adquirida é consequência da calcificação associada ao “uso e desgaste” normal de uma valva aórtica anteriormente normal, ou de valvas bicúspides congênitas (inatas em aproximadamente 1% da população). A incidência de estenose da valva aórtica adquirida é de 2 a 4% em idosos com mais de 65 anos de idade. Patogênese: A progressão da estenose aórtica calcificada em geral é lenta e muito variável entre os indivíduos. As alterações valvares variam de um leve espessamento sem obstrução até a calcificação grave com comprometimento do movimento dos folhetos e obstrução da saída ventricular esquerda. Foi demonstrado que os processos implicados no desenvolvimento da valvopatia aórtica calcificada são semelhantes aos da DAC. Ambas as condições são mais comuns em homens, idosos e pessoas com hipercolesterolemia parcialmente derivada de um processo inflamatório ativo. As lesões iniciais da esclerose aórtica apresentam lesões semelhantes às das placas subendoteliais, como nas fases iniciais de uma lesão aterosclerótica. A esclerose aórtica é diferenciada da estenose aórtica pelo grau de comprometimento valvar. Na esclerose aórtica, os folhetos valvares estão anormalmente espessados, mas a obstrução da saída é mínima, enquanto na estenose aórtica a área funcional da valva está suficientemente diminuída para causar obstrução da saída. A calcificação da valva aórtica progride a partir da base das cúspides até os folhetos. Isso reduz o movimento dos folhetos e a área efetiva da valva, mas sem fusão das comissuras. Na medida em que a calcificação progride, os folhetos enrijecem, ocorre um agravamento da obstrução da saída ventricular esquerda e a fusão das comissuras leva à estenose aórtica. Como o desenvolvimento da estenose aórtica é gradual, o VE tem tempo para se adaptar. Com o aumento da pressão sistólica em consequência da obstrução, a parede ventricular esquerda se torna mais espessa, ou hipertrofia, porém o volume normal da câmara é mantido. Esse aumento na espessura da parede consegue manter uma fração de ejeção normal. Ocorre pouca alteração hemodinâmica, conforme a área da valva vai sendo reduzida à metade da sua área normal (do normal de 3 a 4 cm2 até 1,5 a 2 cm2). Contudo, uma redução adicional na área da valva, de metade até um quarto do seu tamanho normal, produz uma obstrução grave do fluxo e uma sobrecarga de pressão progressiva sobre o VE. Nesse ponto, o aumento do trabalho cardíaco começa a exceder a reserva do fluxo sanguíneo coronariano, causando disfunção sistólica e diastólica, e sinais de insuficiência cardíaca. Regurgitação da valva aórtica A regurgitação da valva aórtica (ou regurgitação aórtica) é o resultado de uma valva aórtica insuficiente que permite o fluxo retrógrado do sangue para o VE durante a diástole. Como resultado, o VE precisa aumentar o volume sistólico para incluir tanto o sangue que entra dos pulmões como aquele que extravasa e retorna pela valva regurgitante. Etiologia e patogênese: Esse defeito pode resultar de condições que causam cicatrização dos folhetos da valva, ou de um alargamento do orifício valvar que afasta os folhetos a ponto de deixarem de se tocar. Existem diversas causas de regurgitação aórtica, incluindo FR, dilatação idiopática da aorta, anormalidades congênitas, EI e síndrome de Marfan. Outras causas incluem hipertensão, traumatismo e insuficiência de uma prótese valvar. A regurgitação aórtica aguda é caracterizada pelo súbito aparecimento de um grande volume regurgitantepara o VE de tamanho normal, que não teve tempo para se adaptar à sobrecarga de volume. É mais comumente causada por distúrbios como EI, traumatismo ou dissecção aórtica. Embora o coração responda utilizando os mecanismos de Frank-Starling e aumentando a frequência cardíaca, esses mecanismos compensatórios não conseguem manter o débito cardíaco. Como resultado, ocorre uma grave elevação na pressão DFVE que é transmitida para o átrio esquerdo e para as veias pulmonares, culminando no edema pulmonar. A diminuição no débito cardíaco leva à estimulação simpática e a um aumento resultante na frequência cardíaca e na resistência vascular periférica, com consequente agravamento da regurgitação. Na regurgitação aórtica grave, é comum haver morte por edema pulmonar, arritmias ventriculares ou colapso circulatório. A regurgitação aórtica crônica, que normalmente tem início gradual, representa uma condição decorrente da combinação do volume ventricular esquerdo com a sobrecarga de pressão. Conforme a deformidade da valva aumenta, o fluxo regurgitante no VE aumenta, a pressão arterial diastólica diminui e o volume do VE aumenta progressivamente. Em termos hemodinâmicos, o aumento no volume ventricular esquerdo resulta na ejeção de um grande volume sistólico geralmente adequado para manter o débito cardíaco anterógrado até o final da evolução da doença. A maior parte das pessoas permanece assintomática durante essa fase compensada, a qual pode durar décadas. Por muitos anos, o único sinal pode ser um sopro aórtico sistólico suave. Manifestações clínicas e diagnóstico: Conforme a doença progride, os sinais e sintomas de insuficiência ventricular esquerda começam a surgir. Estes incluem dispneia ao esforço, ortopneia e dispneia noturna paroxística. Na regurgitação aórtica, a insuficiência no fechamento da valva aórtica durante a diástole causa uma queda anormal na pressão diastólica. Como o fluxo sanguíneo coronariano é maior durante a diástole, a queda na pressão diastólica produz uma diminuição na perfusão coronariana. Ainda que raramente, pode ocorrer angina quando a frequência cardíaca e a pressão diastólica caem a níveis baixos. Pessoas com regurgitação aórtica grave costumam se queixar de uma desconfortável sensação de percepção dos batimentos cardíacos, em particular quando se deitam, e de desconforto torácico com o batimento do coração contra a Distúrbios da valva pulmonar Estenose pulmonar A estenose da valva pulmonar (EP) é essencialmente um distúrbio congênito. Em caso de EP isolada, a valva é caracteristicamente convexa ou abobadada. Valvas pulmonares displásicas são encontradas como parte da síndrome de Noonan, relacionada com o cromossomo. Mutações no gene PTPN1 estão associadas com cerca de metade dos casos de síndrome de Noonan. Outras etiologias muito menos comuns incluem carcinoide e tumores ou vegetações volumosas obstrutivas. A valva pulmonar muito raramente é afetada por processo reumático. Fisiopatologia: A EP é definida hemodinamicamente pela presença de gradiente de pressão sistólica entre o ventrículo direito (VD) e a artéria pulmonar (AP) principal. Ocorre hipertrofia de VD (HVD) como consequência de obstrução mantida ao efluxo do VD com prolongamento da ejeção sistólica. Comparada à capacidade do ventrículo esquerdo de compensar a sobrecarga de pressão imposta pela estenose aórtica (EAo), a disfunção do VD por desequilíbrio da pós- carga ocorre mais cedo no curso da EP e com picos pressóricos menores, porque o VD tem maior dificuldade de adaptação a esse tipo de carga hemodinâmica. Com função sistólica e débito cardíaco (DC) normais, define-se que a EP é grave quando o gradiente sistólico máximo pela valva pulmonar é > 50 mmHg; a EP moderada está correlacionada com gradiente máximo entre 30 e 50 mmHg. A EP raramente evolui em pacientes com gradiente máximo < 30 mmHg, mas pode se agravar naqueles com doença moderada em razão de espessamento e calcificação da valva com a idade. A onda a do AD se eleva em função das pressões mais altas necessárias para o enchimento do VD hipertrofiado e não complacente. Uma onda v de átrio direito (AD) proeminente significa insuficiência tricúspide (IT) funcional por dilatação de VD e do anel valvar. O DC é mantido até tarde no curso da doença. Sintomas: Os pacientes com EP leve a moderada geralmente são assintomáticos e o que chama a atenção do médico é o sopro cardíaco (ou um clique protossistólico) que determina a solicitação do ecocardiograma. Com EP grave, o paciente pode relatar dispneia de esforço ou fadiga de instalação precoce. É possível haver dor torácica por desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio no VD bem como síncope nas formas muito graves de obstrução, em particular na presença de um gatilho desestabilizador como fibrilação atrial, febre, infecção, anemia ou gravidez. Insuficiência Pulmonar A IP pode ocorrer em consequência de patologia valvar primária, alargamento do anel ou sua combinação; após tratamento cirúrgico de obstrução do TSVD em crianças com distúrbios como tetralogia de Fallot; ou após valvotomia pulmonar com cateter-balão. O carcinoide geralmente causa doença valvar pulmonar mista com IP e EP. A hipertensão da AP de longa duração por qualquer causa pode resultar em dilatação do anel valvar pulmonar e IP. Fisiopatologia: a IP grave causa aumento da câmara ventricular direita e hipertrofia excêntrica. Assim como na insuficiência aórtica (IAo), a IP é um estado com aumento da pré- carga e da pós-carga. O gradiente de pressão reverso da AP para o VD, que determina o fluxo de sangue regurgitante, é reduzido progressivamente durante a diástole, o que explica a natureza em decrescendo do sopro diastólico. À medida que a pressão diastólica no VD aumenta, o sopro tem sua duração reduzida. O DC anterógrado é preservado nos estágios iniciais da doença, mas pode não aumentar normalmente com o exercício e declina ao longo do tempo. A redução da fração de ejeção de VD é um indicador precoce de comprometimento hemodinâmico. Nos estágios avançados, observa-se aumento significativo de VD e AD com elevação acentuada da pressão venosa jugular. Sintomas: os graus leves a moderados de IP, per se, não causam sintomas. Outros problemas, como hipertensão da AP, podem dominar o quadro clínico. Com a evolução na gravidade da IP e na disfunção do VD, é possível que o paciente manifeste fadiga, dispneia aos esforços, distensão abdominal e edema de membros inferiores. Distúrbios Da Valva Tricúspide Estenose Da Tricuspide A estenose tricúspide (ET), que é muito menos prevalente do que a estenose mitral (EM) na América do Norte e na Europa Ocidental, geralmente tem origem reumática, sendo mais comum entre as mulheres. A ET não ocorre como lesão isolada e costuma estar associada à EM. A ET hemodinamicamente significativa ocorre em 5 a 10% dos pacientes com EM grave; a ET reumática geralmente se encontra associada a algum grau de insuficiência tricúspide (IT). São raras as causas não reumáticas de ET. Fisiopatologia: A existência de gradiente de pressão diastólico entre átrio direito (AD) e ventrículo direito (VD) define a ET. Ele é ampliado quando o fluxo sanguíneo transvalvar aumenta durante a inspiração e diminui durante a expiração. Um gradiente de pressão diastólico médio de 4 mmHg geralmente é suficiente para elevar a pressão média do AD a níveis que resultam em congestão venosa sistêmica. A menos que a ingestão de sódio tenha sido restrita e diuréticos tenham sido administrados, tal congestão venosa associa- se a hepatomegalia, ascite e edema, algumas vezes intensos. Nos pacientes com ritmo sinusal, a onda a do AD pode ser extremamente elevada, chegando a se aproximar do nívelda pressão sistólica do VD. O descenso y é prolongado. O débito cardíaco (DC) em repouso geralmente se encontra deprimido e não se eleva durante o exercício. O baixo DC é responsável pelas pressões sistólicas normais ou apenas ligeiramente elevadas no átrio esquerdo (AE), na artéria pulmonar (AP) e no VD, a despeito da presença de EM. Assim, a ET pode mascarar as manifestações clínicas e hemodinâmicas de qualquer EM associada. Sintomas: Como o desenvolvimento da EM costuma preceder o da ET, muitos pacientes inicialmente apresentam sintomas de congestão pulmonar e fadiga. Caracteristicamente, os pacientes com ET grave queixam-se pouco de dispneia em relação aos graus observados de hepatomegalia, ascite e edema. Entretanto, a fadiga secundária ao baixo DC e o desconforto causado pelo edema refratário, pela ascite e pela hepatomegalia são comuns nos pacientes com ET e/ou IT em estágio avançado. Em alguns pacientes, a suspeita inicial de ET surge quando os sintomas de insuficiência do VD persistem após valvotomia mitral adequada. Insuficiência Tricúspide Mais de 80% dos casos de IT encontrados na prática clínica são de natureza secundária (funcional) e relacionados com dilatação do anel tricúspide e fixação dos folhetos diante de remodelamento do VD causado por sobrecarga de pressão ou de volume (ou ambos), infarto agudo do miocárdio (IAM) ou trauma. A IT secundária é observada com frequência nos estágios finais da insuficiência cardíaca decorrente de cardiopatias reumática ou congênita com hipertensão pulmonar grave (pressão sistólica na AP > 55 mmHg), bem como em outros tipos de doenças valvares do lado esquerdo (p. ex., insuficiência mitral [IM]) ou doenças miocárdicas (p. ex., miocardiopatias isquêmica e dilatada idiopática). Será parcialmente reversível se a hipertensão pulmonar puder ser amenizada. A IT secundária também pode se desenvolver a partir de estimulação crônica apical de VD e contração dessincrônica; em alguns pacientes, os eletrodos de VD também podem perfurar ou prender os folhetos da valva tricúspide. A IT com frequência pode surgir no contexto de fibrilação atrial (FA) de início recente, particularmente em pacientes idosos. A febre reumática pode produzir IT primária, frequentemente associada com ET. Prolapso da valva tricúspide, doença carcinoide do coração, fibrose endomiocárdica, irradiação, endocardite infecciosa e traumatismo de folhetos também podem produzir IT primária. Mais raramente, a IT primária resulta de deformação congênita da valva tricúspide e pode ocorrer com defeitos no canal atrioventricular e com a anomalia de Ebstein da valva tricúspide. Fisiopatologia: A valva tricúspide incompetente permite que o sangue reflua do VD para o AD, sendo que o volume depende da pressão motriz (i.e., da pressão sistólica do VD) e das dimensões do orifício regurgitante. A gravidade e os sinais físicos da IT variam em função da pressão sistólica na AP (na ausência de estenose do trato de saída do VD), da dimensão do anel da valva tricúspide, de alterações na pré-carga do VD dependentes do ciclo respiratório e da complacência do AD. O enchimento do VD aumenta durante a inspiração. O DC anterógrado encontra-se reduzido e não aumenta com exercício. Graus significativos de IT levam a aumento do AD e elevação das pressões do AD e venosa jugular com ondas c-v proeminentes nos traçados de pulso. A IT com gravidade crescente pode levar a “ventricularização” do traçado de onda do AD. A IT grave também é caracterizada por dilatação de VD (sobrecarga de volume do VD) e, finalmente, disfunção sistólica, sendo que a velocidade de evolução pode ser aumentada quando há sobrecarga pressórica concomitante em razão de hipertensão da AP ou de fibrose do miocárdio por lesão prévia. Sintomas: Graus leves a moderados de IT em geral são bem tolerados se não houver distúrbios hemodinâmicos. Como a IT com frequência coexiste com lesões valvares esquerdas, disfunção do VE e/ou hipertensão da AP, os sintomas relacionados a essas lesões podem dominar o quadro clínico. Fadiga e dispneia de esforço em razão de redução do DC anterógrado são sintomas precoces de IT isolada grave. À medida que a doença evolui e a função do VD declina, os pacientes podem relatar pulsações cervicais, distensão/plenitude abdominal, redução do apetite e perda de massa muscular, embora com ganho progressivo de peso e edema doloroso dos membros inferiores. BACTÉRIAS As bactérias são organismos procariotos (pro, antes, karyon, núcleo) que apresentam uma estrutura relativamente simples. São seres unicelulares e não possuem membrana nuclear, mitocôndrias, complexos de Golgi ou retículo endoplasmático e se reproduzem por divisão assexuada. A parede da célula bacteriana é complexa, constituída por uma de duas formas básicas, definidas pela coloração de Gram: uma parede celular Gram-positiva, composta por uma espessa camada de peptidoglicano, e uma Gram-negativa, composta por uma fina camada de peptidoglicano e uma membrana externa sobrejacente. Algumas bactérias não apresentam estrutura de parede celular deste tipo, e conseguem sobreviver somente dentro das células hospedeiras, em um ambiente hipertônico. O corpo humano é habitado por milhares de espécies bacterianas diferentes (referidas como “microbioma”), algumas vivendo transitoriamente, outras em uma relação sinérgica permanente. Do mesmo modo, o ambiente que nos rodeia, incluindo o ar que respiramos, a água que bebemos e a comida que comemos, é ocupado por bactérias, muitas das quais relativamente inofensivas e algumas capazes de causar doenças potencialmente fatais. As doenças podem resultar de efeitos tóxicos de produtos bacterianos (p. ex., toxinas) ou da invasão bacteriana dos tecidos e fluidos estéreis do corpo. O tamanho (1 a 20 μm ou maior), a forma (esferas [cocos], bacilos ou espirais) e o arranjo espacial (como células isoladas, aos pares, em cadeias ou agrupamentos) das células, bem como as propriedades específicas de crescimento (p. ex., aeróbios [requerem oxigênio], anaeróbios [não podem crescer na presença de oxigênio], ou anaeróbios facultativos [crescem na presença ou ausência de oxigênio]) são utilizados para uma classificação preliminar das bactérias. Esta é uma tarefa de grande importância que põe certa ordem numa lista de nomes de bactérias que, de outra forma, seria confusa. Referências: Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2019. Murray, Patrick R. Microbiologia Médica Básica. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2018. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021
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