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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A função das valvas cardíacas é promover o fluxo unidirecional do sangue pelas câmaras do coração (PORTH, 10ª ed.). ↠ A disfunção das valvas cardíacas pode resultar de vários distúrbios, incluindo anomalias congênitas, traumatismo, lesão isquêmica, alterações degenerativas e inflamação (PORTH, 10ª ed.). ↠ Ainda que qualquer uma das quatro valvas possa estar sujeita a um distúrbio, as mais comumente afetadas são as valvas mitral e aórtica. Os distúrbios das valvas pulmonar e tricúspide não são tão comuns, devido à baixa pressão no lado direito do coração (PORTH, 10ª ed.). As valvas cardíacas são compostas por finos folhetos de tecido fibroso resistente e flexível, recobertos por endotélio, firmemente unidos na base aos anéis fibrosos valvares. Capilares e músculo liso estão presentes na base dos folhetos, mas estes não se estendem até o interior da valva (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os folhetos das valvas cardíacas podem estar lesionados ou se tornar um sítio de processo inflamatório, e isso pode deformar a sua linha de fechamento. A reparação dos folhetos valvares com frequência está associada a um aumento no conteúdo de colágeno e à formação de cicatriz, o que torna os folhetos mais curtos e rígidos. As bordas dos folhetos valvares podem se fundir durante a cicatrização, de modo que a valva não abre ou fecha adequadamente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na cardiopatia valvar, ocorrem dois tipos de disfunção mecânica: estreitamento da abertura da valva, que impossibilita a abertura adequada; e distorção da valva, impossibilitando o fechamento adequado (PORTH, 10ª ed.). ↠ A estenose se refere a um estreitamento do orifício valvar e à incapacidade dos folhetos da valva de abrir normalmente. O fluxo sanguíneo por uma valva normal pode aumentar em 5 a 7 vezes o volume em repouso; consequentemente, a estenose valvar deve ser grave para causar problemas. O estreitamento significativo do orifício da valva aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo pela valva, convertendo o fluxo laminar normalmente suave em um fluxo turbulento menos eficiente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Isso aumenta o volume e o trabalho de esvaziamento da câmara através da valva com estreitamento – o átrio esquerdo, no caso de estenose de mitral, e o VE, na estenose aórtica (PORTH, 10ª ed.). ↠ A valva incompetente ou regurgitante possibilita a ocorrência de um fluxo retrógrado, quando ela deveria estar fechada – fluxo de volta para o VE durante a diástole, quando a valva aórtica está afetada, e de volta para o átrio esquerdo durante a sístole, quando a valva mitral apresenta a enfermidade (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os efeitos da cardiopatia valvar sobre a função cardíaca estão relacionados às alterações no fluxo sanguíneo pela valva, e ao resultante aumento nas demandas de trabalho cardíaco (PORTH, 10ª ed.). Distúrbios da valva mitral ↠ A valva mitral controla o fluxo direcional do sangue entre o átrio esquerdo e o VE. As bordas ou cúspides das valvas AV são mais delgadas do que as das valvas semilunares, e estão ancoradas nos músculos papilares por meio das cordas tendíneas (PORTH, 10ª ed.). ↠ Durante grande parte da sístole, a valva mitral é sujeita à alta pressão gerada pelo VE, à medida que este bombeia sangue para a circulação sistêmica. No decorrer desse período de aumento da pressão, as cordas tendíneas previnem a eversão dos folhetos valvares para dentro do átrio esquerdo (PORTH, 10ª ed.). ESTENOSE MITRAL ↠ Representa a abertura incompleta da valva mitral durante a diástole, com distensão do átrio esquerdo e comprometimento do enchimento do VE. A afecção em geral resulta da FR. O defeito congênito é menos comum e se manifesta durante as fases iniciais da vida ou no adulto de idade avançada, relacionada à calcificação anular (PORTH, 10ª ed.). PATOGÊNESE: A estenose da valva mitral é caracterizada pela substituição do tecido valvar por um tecido fibroso, bem como por rigidez e fusão do aparelho valvar. Tipicamente, as cúspides mitrais se fundem nas bordas e o envolvimento das cordas tendíneas causa encurtamento, o que traciona as estruturas valvares mais profundamente para dentro do ventrículo. Conforme a resistência ao fluxo através da valva aumenta, o átrio esquerdo dilata e a pressão atrial esquerda aumenta. O aumento da pressão atrial esquerda é finalmente 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck transmitido ao sistema venoso pulmonar, causando congestão pulmonar (PORTH, 10ª ed.). Os sintomas se desenvolvem com o agravamento do gradiente pela valva e conforme a pressão atrial esquerda se torna maior que a pressão ventricular esquerda. Com o avanço da condição, os sintomas de diminuição do débito cardíaco se manifestam durante o esforço extremo ou em outras situações que causam taquicardia, reduzindo assim o tempo de enchimento diastólico. Nos estágios finais da doença, a resistência vascular pulmonar aumenta e há desenvolvimento de hipertensão pulmonar; isso aumenta a pressão contra a qual o coração direito precisa bombear e, por fim, leva à insuficiência cardíaca do lado direito (PORTH, 10ª ed.). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os sinais e sintomas de estenose da valva mitral dependem da gravidade da obstrução. Os sintomas são os de desenvolvimento de insuficiência cardíaca, incluindo congestão pulmonar, dispneia paroxística noturna e ortopneia. Palpitações, dor torácica, fraqueza e fadiga são queixas comuns (PORTH, 10ª ed.). ↠ Podem ocorrer batimentos atriais prematuros, taquicardia atrial paroxística e fibrilação atrial como resultado da distensão do átrio esquerdo. Em consequência do próprio processo reumático, pode haver fibrose dos tratos internodais e interatriais, além de lesão do nodo AS. A fibrilação atrial se desenvolve em 30 a 40% das pessoas com estenose mitral sintomática. Em conjunto, a fibrilação e a distensão predispõem à formação de trombos murais. O risco de embolia arterial, em particular de acidente vascular encefálico, aumenta significativamente naqueles com fibrilação atrial (PORTH, 10ª ed.). DIAGNÓSTICO: O sopro da estenose da valva mitral é auscultado durante a diástole, quando o sangue flui pelo orifício da valva com estreitamento; caracteristicamente, é um sopro baixo e retumbante, que pode ser mais bem auscultado no ápice do coração (PORTH, 10ª ed.). ↠ A primeira bulha cardíaca costuma ser acentuada e tardia, devido ao aumento da pressão atrial esquerda; um estalo de abertura pode preceder o sopro diastólico, como resultado da elevação na pressão atrial esquerda. Os ecocardiogramas 2D e com Doppler são os mais comumente utilizados para diagnosticar a estenose mitral; ambos confirmam o diagnóstico, avaliam a morfologia e a hemodinâmica da valva mitral, e aferem as pressões arteriais pulmonares, além de descartarem outras causas de estenose mitral e auxiliarem na identificação do tratamento mais adequado (PORTH, 10ª ed.). Tratamento: Tem por objetivo aliviar os sinais de diminuição do débito cardíaco e de congestão pulmonar. Os diuréticos de alça são iniciados para aliviar uma parte da congestão (PORTH, 10ª ed.). ↠ Na fibrilação atrial, os objetivos são controlar a frequência ventricular e evitar a embolia sistêmica com terapia anticoagulante. Recomenda-se a profilaxia antibiótica contra FR recidivante (PORTH, 10ª ed.). ↠ Intervenções cirúrgicas, incluindo valvotomia com balão, comissurotomia e reparo ou substituição valvar, podem ser utilizadas para o tratamento da valvopatia mitral degenerativa e funcional. A valvotomia mitral com balão se mostrou superior à comissurotomia fechada e aberta (PORTH, 10ª ed.). INSUFICIÊNCIA DA VALVA MITRAL ↠ Insuficiência mitral, também conhecida por regurgitação mitral, é a incompetência da válvula mitral em evitar o refluxo de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo nasístole ventricular. Pode ser consequência de alterações da estrutura do aparelho 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck valvar (insuficiência mitral primária ou estrutural) ou de alteração miocárdica sem lesão das valvas (insuficiência mitral secundária ou funcional) (PORTO & PORTO). ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: A regurgitação da valva mitral pode resultar de muitos processos. A CR está associada a uma valva rígida e espessada, que não abre ou fecha completamente. Além da CR, a regurgitação mitral pode resultar da ruptura das cordas tendíneas ou dos músculos papilares, da disfunção dos músculos papilares, ou do estiramento das estruturas valvares em consequência da dilatação do VE ou do orifício valvar. O prolapso valvar mitral é uma causa comum de regurgitação da valva mitral (PORTH, 10ª ed.). A regurgitação aguda da valva mitral pode ocorrer abruptamente, como na disfunção dos músculos papilares subsequente ao infarto do miocárdio, perfuração valvar na EI ou ruptura das cordas tendíneas no prolapso da valva mitral. Na regurgitação mitral aguda grave, a sobrecarga aguda do volume aumenta a pré-carga ventricular esquerda, possibilitando um aumento modesto no volume sistólico ventricular esquerdo. Contudo, o volume sistólico anterógrado (que se move pela aorta até a circulação sistêmica) está reduzido, e o volume sistólico regurgitante ocasiona uma rápida elevação na pressão atrial esquerda, edema pulmonar e diminuição no débito cardíaco. A regurgitação aguda da valva mitral quase sempre é sintomática. Em casos graves, com frequência há indicação para a substituição da valva mitral (PORTH, 10ª ed.). As alterações hemodinâmicas associadas à regurgitação crônica da valva mitral ocorrem mais lentamente, possibilitando o recrutamento de mecanismos compensatórios. Um aumento do volume DFVE possibilita uma elevação no volume sistólico total, restaurando o fluxo anterógrado para a aorta. A pré-carga aumentada e a pós-carga reduzida ou normal (em consequência do descarregamento do VE no átrio esquerdo) facilitam a ejeção ventricular esquerda. Ao mesmo tempo, um aumento gradual no tamanho do átrio esquerdo possibilita a acomodação do volume regurgitante a uma pressão de enchimento mais baixa (PORTH, 10ª ed.). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: O aumento do trabalho em função do volume associado à regurgitação mitral é relativamente bem tolerado, e muitas pessoas com o distúrbio permanecem assintomáticas por muitos anos, desenvolvendo sintomas decorridos 6 a 10 anos do diagnóstico. Com a evolução do distúrbio, a função ventricular esquerda fica comprometida, o volume sistólico anterógrado (aórtico) diminui e a pressão atrial esquerda aumenta, com o subsequente desenvolvimento de congestão pulmonar. Os sintomas típicos são aqueles de insuficiência do VE, como dispneia ao esforço, dispneia noturna paroxística e ortopneia. A cirurgia deve ser realizada antes do início desses sintomas (PORTH, 10ª ed.). ↠ O aumento do VE, o impulso ventricular esquerdo hiperdinâmico e o sopro pansistólico (durante toda a sístole) são característicos da regurgitação da valva mitral. Tanto a regurgitação mitral quanto a estenose mitral predispõem à fibrilação atrial (PORTH, 10ª ed.). DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO: O ecocardiograma 2D com Doppler é útil em casos de regurgitação mitral para avaliar o tamanho do ventrículo e do átrio esquerdos, medir a fração de ejeção e auxiliar na tomada de decisões a respeito da cirurgia, ao avaliar a gravidade da regurgitação. Em algumas pessoas com regurgitação mitral, a redução da pré-carga pode ser benéfica e pode ser tratada com inibidores da ECA e marca-passo biventricular (PORTH, 10ª ed.). As cirurgias utilizadas no tratamento da regurgitação mitral incluem reparo e substituição da valva mitral, com ou sem remoção do aparelho mitral. A cirurgia de valva mitral é recomendada em casos de regurgitação grave ou pessoas sintomáticas, nas quais a regurgitação valvar possivelmente é subestimada. O reparo da valva mitral evita o 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck uso da anticoagulação necessária com as valvas artificiais (PORTH, 10ª ed.). A IM secundária decorre de alterações ventriculares (disfunção e/ou dilatação), enquanto que os folhetos valvares mitrais e as cordoalhas são normais (DIRETRIZ, 2020). Prolapso da valva mitral ↠ Algumas vezes denominado síndrome da valva mitral frouxa, ocorre em 1 a 2,5% da população geral. O distúrbio é observado com mais frequência em mulheres do que em homens e pode ter uma base familiar. O prolapso da valva mitral familiar é transmitido como um traço autossômico, e foram identificados diversos loci cromossômicos. Embora a causa exata do distúrbio em geral seja desconhecida, ela tem sido associada à síndrome de Marfan, osteogênese imperfeita e outros distúrbios do tecido conjuntivo, e com distúrbios cardíacos, hematológicos, neuroendócrinos, metabólicos e psicológicos (PORTH, 10ª ed.). PATOGÊNESE: Os achados patológicos em pessoas com prolapso de valva mitral incluem a degeneração mixedematosa (mucinosa) dos folhetos da valva mitral, tornando-os aumentados e frouxos, de modo a prolapsarem ou realizarem um movimento de balão para dentro do átrio esquerdo, durante a sístole (PORTH, 10ª ed.). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO: A maior parte das pessoas com prolapso de valva mitral é assintomática, e o distúrbio é descoberto durante um exame físico de rotina. Uma minoria das pessoas apresenta dor torácica que mimetiza angina, dispneia, fadiga, ansiedade, palpitações e vertigem. Contrariamente à angina, a dor torácica costuma ser prolongada, mal definida e não associada ao exercício nem ao esforço. A dor é atribuída à isquemia resultante da tração dos folhetos da valva prolapsada. A ansiedade, as palpitações e as arritmias podem resultar da função anormal do sistema nervoso autônomo que comumente acompanha o distúrbio (PORTH, 10ª ed.). ↠ A afecção é caracterizada por um espectro de achados auscultatórios que variam do tipo silencioso a um ou mais cliques mesossistólicos, seguidos de um sopro sistólico tardio ou holossistólico. Os cliques são causados pela tensão súbita do aparelho da valva mitral, à medida que os folhetos prolapsam. Ecocardiogramas 2D e com Doppler são análises não invasivas valiosas utilizadas para diagnosticar o prolapso da valva mitral (PORTH, 10ª ed.). Tratamento: Enfoca o alívio dos sintomas e a prevenção de complicações. Pessoas com palpitações e taquiarritmias leves ou aumento dos sintomas, bem como aquelas com desconforto torácico, ansiedade e fadiga, costumam responder à terapia com medicamentos bloqueadores beta-adrenérgicos. Em muitos casos, a suspensão de estimulantes, como cafeína, álcool e cigarro pode ser suficiente para controlar os sintomas. As crises isquêmicas transitórias ocorrem com mais frequência nas pessoas com prolapso da valva mitral. Portanto, em pessoas com eventos documentados e com ritmo sinusal sem trombos atriais, recomenda-se a terapia com AAS diariamente. A maior parte das pessoas com prolapso da valva mitral é encorajada a praticar exercícios regulares e a levar uma vida normal. As pessoas que desenvolvem disfunção valvar grave podem necessitar de cirurgia valvar (PORTH, 10ª ed.). Prolapso mitral. Alterações dos dados estetoacústicos com a postura do paciente. 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Distúrbios da valva aórtica ↠ A valva aórtica está localizada entre o VE e a aorta. Tem três cúspides e por vezes é denominada valva semilunar aórtica, pelo fato de seus folhetos apresentarem formato de lua crescente. A valva aórtica não tem cordas tendíneas. Embora suas estruturas sejam semelhantes, as cúspides da valva aórtica são mais espessas que as da mitral (PORTH, 10ª ed.). ESTENOSE DA VALVA AÓRTICA ↠ A estenose da valva aórtica,com frequência denominada simplesmente estenose aórtica, é caracterizada por um aumento da resistência à ejeção do sangue do VE para a aorta. As causas mais comuns de estenose da valva aórtica são as malformações valvares congênitas e a calcificação adquirida da valva tricúspide normal. As malformações congênitas podem resultar em folhetos valvares unicúspides, bicúspides ou com formato inadequado. De modo geral, a estenose aórtica adquirida é consequência da calcificação associada ao “uso e desgaste” normal de uma valva aórtica anteriormente normal, ou de valvas bicúspides congênitas (inatas em aproximadamente 1% da população). A incidência de estenose da valva aórtica adquirida é de 2 a 4% em idosos com mais de 65 anos de idade (PORTH, 10ª ed.). PATOGÊNESE: A progressão da estenose aórtica calcificada em geral é lenta e muito variável entre os indivíduos. As alterações valvares variam de um leve espessamento sem obstrução até a calcificação grave com comprometimento do movimento dos folhetos e obstrução da saída ventricular esquerda. Foi demonstrado que os processos implicados no desenvolvimento da valvopatia aórtica calcificada são semelhantes aos da DAC. Ambas as condições são mais comuns em homens, idosos e pessoas com hipercolesterolemia parcialmente derivada de um processo inflamatório ativo (PORTH, 10ª ed.). As lesões iniciais da esclerose aórtica apresentam lesões semelhantes às das placas subendoteliais, como nas fases iniciais de uma lesão aterosclerótica. A esclerose aórtica é diferenciada da estenose aórtica pelo grau de comprometimento valvar. Na esclerose aórtica, os folhetos valvares estão anormalmente espessados, mas a obstrução da saída é mínima, enquanto na estenose aórtica a área funcional da valva está suficientemente diminuída para causar obstrução da saída. A calcificação da valva aórtica progride a partir da base das cúspides até os folhetos. Isso reduz o movimento dos folhetos e a área efetiva da valva, mas sem fusão das comissuras. Na medida em que a calcificação progride, os folhetos enrijecem, ocorre um agravamento da obstrução da saída ventricular esquerda e a fusão das comissuras leva à estenose aórtica (PORTH, 10ª ed.). ↠ Como o desenvolvimento da estenose aórtica é gradual, o VE tem tempo para se adaptar. Com o aumento da pressão sistólica em consequência da obstrução, a parede ventricular esquerda se torna mais espessa, ou hipertrofia, porém o volume normal da câmara é mantido. Esse aumento na espessura da parede consegue manter uma fração de ejeção normal. Contudo, uma redução adicional na área da valva, de metade até um quarto do seu tamanho normal, produz uma obstrução grave do fluxo e uma sobrecarga de pressão progressiva sobre o VE. Nesse ponto, o aumento do trabalho cardíaco começa a exceder a reserva do fluxo sanguíneo coronariano, causando disfunção sistólica e diastólica, e sinais de insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). DIAGNÓSTICO: Em geral, a estenose aórtica é diagnosticada pela primeira vez com a auscultação de um sopro alto da ejeção sistólica ou uma segunda bulha cardíaca única ou paradoxalmente desdobrada. Por fim, há desenvolvimento dos sinais clássicos de angina, síncope e insuficiência cardíaca, embora os sinais mais sutis de diminuição da tolerância ao exercício ou de dispneia ao esforço devam ser cuidadosamente monitorados (PORTH, 10ª ed.). ↠ A angina ocorre em cerca de dois terços das pessoas com estenose aórtica avançada e é semelhante àquela observada na DAC. Dispneia, fadiga acentuada, cianose periférica e outros sinais de insuficiência cardíaca com débito baixo normalmente não são marcantes até o final da evolução da doença. A síncope (desmaio) ocorre mais comumente devido à redução da circulação cerebral durante o esforço, quando a pressão arterial declina em consequência da vasodilatação na presença de um débito cardíaco invariável (PORTH, 10ª ed.). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O ecocardiograma pode ser utilizado para avaliar a gravidade das lesões aórticas calcificadas, o tamanho e a função do ventrículo esquerdo, o grau de hipertrofia ventricular e a presença de distúrbios valvares associados, tendo papel importante na tomada de decisões sobre a substituição da valva aórtica. A avaliação com ecocardiograma é recomendada como segue: (PORTH, 10ª ed.). • Anualmente, com estenose aórtica grave; • A cada 1 ou 2 anos, com estenose moderada; • A cada 3 a 5 anos, com estenose leve. Tratamento: Não existe uma terapia clínica efetiva para a estenose aórtica grave, embora seja indicada uma modificação agressiva dos fatores de risco, como tratamento hipolipemiante e controle da hipertensão. Em crianças com estenose aórtica congênita, os folhetos da valva estão meramente fundidos e a valvotomia com balão pode proporcionar um benefício substancial; a substituição valvar é o tratamento mais eficaz. Intervenções clínicas são prescritas para o alívio dos sintomas de insuficiência cardíaca para aquelas pessoas inelegíveis para uma intervenção cirúrgica. Para as pessoas com estenose aórtica sintomática, a substituição valvar quase sempre melhora os sintomas (PORTH, 10ª ed.). OBS.: O exame físico revela sopro sistólico ejetivo, rude, de intensidade em “crescendo-decrescendo” (SOCESP, 5ª ed.). INSUFICIÊNCIA DA VALVA AÓRTICA ↠ A regurgitação da valva aórtica (ou regurgitação aórtica) é o resultado de uma valva aórtica insuficiente que permite o fluxo retrógrado do sangue para o VE durante a diástole. Como resultado, o VE precisa aumentar o volume sistólico para incluir tanto o sangue que entra dos pulmões como aquele que extravasa e retorna pela valva regurgitante (PORTH, 10ª ed.). ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: Esse defeito pode resultar de condições que causam cicatrização dos folhetos da valva, ou de um alargamento do orifício valvar que afasta os folhetos a ponto de deixarem de se tocar. Existem diversas causas de regurgitação aórtica, incluindo FR, dilatação idiopática da aorta, anormalidades congênitas, EI e síndrome de Marfan. Outras causas incluem hipertensão, traumatismo e insuficiência de uma prótese valvar (PORTH, 10ª ed.). ↠ A regurgitação aórtica aguda é caracterizada pelo súbito aparecimento de um grande volume regurgitante para o VE de tamanho normal, que não teve tempo para se adaptar à sobrecarga de volume. É mais comumente causada por distúrbios como EI, traumatismo ou dissecção aórtica. Embora o coração responda utilizando os mecanismos de Frank-Starling e aumentando a frequência cardíaca, esses mecanismos compensatórios não conseguem manter o débito cardíaco. Como resultado, ocorre uma grave elevação na pressão DFVE que é transmitida para o átrio esquerdo e para as veias pulmonares, culminando no edema pulmonar. A diminuição no débito cardíaco leva à estimulação simpática e a um aumento resultante na frequência cardíaca e na resistência vascular periférica, com consequente agravamento da regurgitação. Na regurgitação aórtica grave, é comum haver morte por edema pulmonar, arritmias ventriculares ou colapso circulatório (PORTH, 10ª ed.). ↠ A regurgitação aórtica crônica, que normalmente tem início gradual, representa uma condição decorrente da combinação do volume ventricular esquerdo com a sobrecarga de pressão. Conforme a deformidade da valva aumenta, o fluxo regurgitante no VE aumenta, a pressão arterial diastólica diminui e o volume do VE aumenta progressivamente. Em termos hemodinâmicos, o aumento no volume ventricular esquerdo resulta na ejeção de um grande volume sistólico geralmente adequado para manter o débito cardíaco anterógrado até 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck o final da evolução da doença. A maior parte das pessoas permanece assintomática durante essa fase compensada, a qual pode durar décadas. Por muitos anos,o único sinal pode ser um sopro aórtico sistólico suave (PORTH, 10ª ed.). CLASSIFICAÇÃO: A insuficiência aórtica pode ser classificada quanto à sua gravidade anatômica em leve, moderada e importante; e quanto ao seu mecanismo, de acordo com o mostrado na figura abaixo (SOCESP, 5ª ed.). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO: Conforme a doença progride, os sinais e sintomas de insuficiência ventricular esquerda começam a surgir. Estes incluem dispneia ao esforço, ortopneia e dispneia noturna paroxística. Na regurgitação aórtica, a insuficiência no fechamento da valva aórtica durante a diástole causa uma queda anormal na pressão diastólica. Como o fluxo sanguíneo coronariano é maior durante a diástole, a queda na pressão diastólica produz uma diminuição na perfusão coronariana. Pessoas com regurgitação aórtica grave costumam se queixar de uma desconfortável sensação de percepção dos batimentos cardíacos, em particular quando se deitam, e de desconforto torácico com o batimento do coração contra a parede torácica. A taquicardia que ocorre com o estresse emocional ou esforço pode produzir palpitações, dor de cabeça e contrações ventriculares prematuras (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os principais achados físicos estão relacionados à amplitude da pressão de pulso arterial. Os sons de Korotkoff podem persistir até a pressão intra-arterial zero, ainda que esta raramente caia a menos de 30 mmHg. O grande volume sistólico e a elevada pressão de pulso podem resultar em pulsações carotídeas evidentes no pescoço (pulso de Corrigan), movimentos de cabeça (sinal de Musset), pulsações sistólicas no leito ungueal mediante pressão suave (pulso de Quincke), pulsos periféricos latejantes, e impulso ventricular esquerdo, que ocasiona a movimentação do tórax a cada batimento. O pulso hipercinético da regurgitação aórtica mais grave, denominado pulso de martelo d’água, é caracterizado pela distensão e pelo rápido colapso da artéria (PORTH, 10ª ed.). ↠ A turbulência do fluxo pela valva aórtica produz um sopro decrescente holodiastólico, auscultado com mais nitidez na borda esternal esquerda. Na regurgitação aórtica grave, pode ser auscultado um estrondo mesodiastólico no ápice, denominado sopro de Austin Flint (PORTH, 10ª ed.). OBS.: O sopro de Austin-Flint é caracterizado como um ruflar mesodiastólico, pela dificuldade de abertura da valva mitral, secundária ao jato de insuficiência aórtica, que é direcionado à cúspide anterior da mitral simulando uma estenose mitral (SOCESP, 5ª ed.). Tratamento: O tratamento da regurgitação aórtica aguda ou crônica grave é a substituição da valva aórtica. A cirurgia sempre é recomendada para os casos sintomáticos, independentemente da função ventricular esquerda. Em pessoas assintomáticas, embora a substituição da valva seja controversa, é recomendada para aquelas com disfunção sistólica ventricular esquerda ou dilatação ventricular esquerda grave (PORTH, 10ª ed.). O objetivo da terapia clínica é melhorar o volume sistólico anterógrado e reduzir o volume regurgitante, em geral por meio do uso de redutores da pós-carga. Com base nos estudos clínicos, não existe uma forte indicação para a terapia clínica, mas apenas uma recomendação fraca para a redução da pós-carga. O agente de primeira linha recomendado para pessoas com regurgitação aórtica grave assintomática, especialmente em hipertensos, é um inibidor da ECA. A cirurgia permanece como terapia primária para a regurgitação aórtica grave sintomática (PORTH, 10ª ed.). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Distúrbios da valva tricúspide ESTENOSE TRICÚSPIDE ↠ Sua etiologia mais comum é a doença reumática, e neste caso geralmente ocorre concomitantemente ao comprometimento da valva mitral e/ou da valva aórtica (DIRETRIZ, 2020). ↠ Tanto os sintomas quanto as alterações do exame físico restringem-se habitualmente aos pacientes com ET anatomicamente importante. O sintoma mais comumente encontrado é a fadiga, que pode estar associada a sintomas de insuficiência cardíaca de câmaras direitas (DIRETRIZ, 2020). INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE ↠ Insuficiência tricúspide (IT), também conhecida por regurgitação tricúspide, fechamento incompleto da valva tricúspide, causando regurgitação de sangue para o átrio direito durante a sístole ventricular. Pode ser classificada como primária (ou estrutural) ou secundária (ou funcional), esta última mais frequente (PORTO & PORTO). ↠ Pacientes com insuficiência tricúspide (IT) discreta habitualmente não requerem qualquer tipo de abordagem direcionada à valva tricúspide. Os pacientes com IT moderada a importante são aqueles que exigirão um acompanhamento específico, em particular relacionado ao esclarecimento da etiologia da valvopatia e das repercussões a ela associadas (DIRETRIZ, 2020). ↠ A IT é habitualmente funcional, secundária a condições clínicas que levam à dilatação do anel valvar tricúspide, principalmente envolvendo as câmaras cardíacas esquerdas (doenças valvares ou cardiomiopatias) e/ou HP. Os casos de IT primária em geral estão relacionados à doença reumática, podendo ainda estar associados a intervenções médicas (biópsias endomiocárdicas de repetição, presença de eletrodos de marcapasso ou cardiodesfibrilador implantável) ou ocorrer em consequência de EI ou outras causas mais raras (DIRETRIZ, 2020). DOENÇA MULTIVALVAR Considera-se doença multivalvar o acometimento primário de duas ou mais valvas. Portanto, são excluídas dessa classificação valvopatias secundárias a uma valvopatia primária, como é o caso da IT funcional, consequente à doença mitral, assim como a IM secundária ao remodelamento ventricular esquerdo consequente à valvopatia aórtica (DIRETRIZ, 2020). No Brasil, a doença multivalvar é resultado do acometimento reumático na maioria das vezes, porém há um aumento progressivo de doença mitroaórtica degenerativa calcifica (DIRETRIZ, 2020). Referências PORTO, Celmo C.; PORTO, Arnaldo L. Clínica Médica na Prática Diária. Grupo GEN, 2015. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia, 10ª edição. Grupo GEN, 202. JATENE, Ieda B.; FERREIRA, João Fernando M.; DRAGER, Luciano F.; et al. Tratado de cardiologia SOCESP, 5ª edição. Editora Manole, 2022 TARASOUTCHI et. al. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2020.
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