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HISTÓRIA HISTÓRIA MEDIEVAL Adilson Luiz Ré Ligia Luciene Rodrigues Marilene Aparecida de Assis Saragossa Marli Gonçalves Barbosa Rudnei Francisco Funes Rita de Cassia Balzan Pion 3 Laico Passivo- que é do mundo e não se relaciona ao mundo espiritual. UNIDADE 01 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Propiciar conhecimentos sobre a decadência do Império Romano. ESTUDANDO E REFLETINDO É preciso iniciar nosso estudo, lembrando que a Idade Média foi um período histórico determinante na constituição da psique humana. Ela nos deixou como legado o enraizamento da cultura religiosa católica. A partir dessa cultura, os feitos da cristianização dos reinos bárbaros, em decorrência do ingresso dos mesmos, nos territórios que pertenciam ao antigo Império Romano, fizeram com que a universalização do cristianismo excedesse as fronteiras do continente europeu. Para os romanos, todos os estrangeiros eram Bárbaros. Você sabe o que é um povo bárbaro? Os povos bárbaros, na verdade, eram originários da germânica e habitavam as regiões norte e nordeste da Europa e noroeste da Ásia, na época do Império Romano. Os Romanos, apesar de possuírem hábitos triviais, foram constituídos por uma nobreza ávida de um comportamento requintado. A realeza casava seu poder com a Igreja Católica, dando a possibilidade para o aparecimento do poder lastreado pelos dois corpos do rei: o sagrado e espiritual e o laico passivo. Esses dois fatores produziram uma série de condicionantes sociais, que sustentaram a produção do pensamento ocidental e a configuração das sociedades. 4 Eram entendidos como povos bárbaros aqueles que estavam fora da área de domínio dos romanos e não tinham os mesmos hábitos culturais. Esses povos, entre os séculos III ao VI invadiram o Império Romano e influenciaram fortemente a desarticulação desse império e a formação da ordem medieval. Os hunos oriundos da àsia central eram Nômades ou semnômades equestres. Alanos- povo oriundo do nordeste do Cáucaso, região situada entre o rio Don e o mar Cáspio. Para compreender esse processo é necessário olhar, com cuidado, para o decadente Império Romano e perceber nele a fonte da primeira origem da cisão do mundo ocidentalizado. As frequentes contendas entre romanos e bárbaros possibilitaram a cisão do Império Romano, forçando as transformações sociais, políticas e o surgimento de reinos dentro da confederação. Herrs ainda postula que consiste em prática de “vulgarização pedagógica” estabelecer a fixação de datas, para delimitar, cronologicamente, o período que caracteriza a transição entre o declínio do Império Romano e o início da Idade Média. Porém, destaca que essas invasões foram cruciais, para a desagregação do Império Romano e a constituição da ordem medieval. Essas transformações dizem respeito ao continente europeu, pois o Império Bizantino continuava sendo o Império Romano do Oriente, cuja capital era Constantinopla, caracterizada por uma cultura bilíngue e mantenedora das tradições, da administração, do direito e da hierarquia que marcou a expansão do Império Romano do Oriente. No decorrer deste período, inúmeros foram os ataques bárbaros, o que resultou na migração definitiva germânica para os domínios Romanos, mais precisamente entre os séculos IV e VII. No ano de 375, foi a vez dos Hunos se deslocarem da África, causando sérias derrotas no Império Alano, região localizada às margens 5 do Mar Cáspio, o que resultou, no século V, na Europa Central, um enorme Estado nômade. HUNOS A influência dos Hunos não ficaria somente nessas regiões, pois, em 434 atacam os Balcãs e, em 451, saqueiam todo o norte da Gália. No ano seguinte, voltam para Itália, onde entram e pilham a cidade de Roma. As odes invasoras dos Godos começaram pela Ilíria, os visigóticos (godos do oeste), no ano de 418, estabeleceram seu conclave na região da Aquitânia e da Espanha. http://historia-7.blogspot.com/2010_04_01_archive.html Acesso 12/02/2011 Os ostrogodos (godos do leste) conquistaram seus feudos nas planícies do médio Danúbio, em 455. Em decorrência de batalhas contra o Império Bizantino, os ostrogodos foram conduzidos para Itália. http://1.bp.blogspot.com/_lMekTckkxY0/S8YV9ZWv6VI/AAAAAAAAB-8/EmqladiSzTc/s1600/hunos.j 6 OSTROGODOS http://historia-7.blogspot.com/2010_04_01_archive.htmlacesso Acesso 11/03/2011 Vândalos saqueando Roma http://povosgermanicos.blogspot.com/2008/03/vandalos.html acesso 12/02/2011 Os Vândalos, outro povo bárbaro, também tentaram, em 406, invadir a Espanha, mas são derrotados pelos Visigodos, posteriormente, em 429 conquistam províncias romanas. http://1.bp.blogspot.com/_lrnheGDims4/S5VnRnprdVI/AAAAAAAAEUM/qG4_GtVC7Vc/s1600-h/Saque+de+Roma+pelos+V%C3%A2ndalos,+em+455..j 7 Você deve ter percebido que fizemos um esboço dos acontecimentos, para um melhor aprofundamento é necessário mais leitura. Siga as dicas deixadas por nós no Buscando Conhecimento, tenho certeza de que você irá enriquecer seus conhecimentos. BUSCANDO CONHECIMENTO Texto Complementar http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs-2.2.4/index.php/historia/article/view/15298/10289 Dica de vídeo: Acesse o Youtube e assista: Os Bárbaros Ep. 04 -- Os Hunos - Parte 1 Dica de livro: HEERS, J. História Medieval. Lisboa: Difel, 1986 8 UNIDADE 02. REINOS BÁRBAROS – PARTE 1 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Explicitar o estabelecimento dos Reinos Bárbaros. ESTUDANDO E REFLETINDO Para início de conversa, vamos abordar o primeiro reino a se formar, depois das invasões bárbaras. Trata-se do reino Vândalo na África, lembre-se que comentei que eles haviam dominado províncias romanas? Pois é, essas dominações ocorreram em domínios africanos. Os romanos exploravam essa região, era de lá que vinha o abastecimento de trigo, com a perda de território o fornecimento é cessado. Com isso, ocorreu também o isolamento hispânico, pois os vândalos impedem-nos de novos contatos. Porém, a vitória dos Vândalos não garantiu sua permanência no controle das novas terras, faltava investimento e administração, o que resultou no enfraquecimento do poder e no fim do reinado Vândalo, que foi dominado pelos exércitos bizantinos de Justiniano. Península Ibérica A Península Ibérica localiza-se no sudoeste da Europa. Os territórios que a formam são: Portugal, Espanha, Gibraltar, Andorra e pequena parte do território da França. Essas regiões foram dominadas pelos povos bárbaros, ressaltando-se que, para os romanos, dominadores da Península Ibérica, eram povos que não pertenciam à Confederação do Império Romano. 9 Os vândalos na península Ibérica, no século V. http://povosgermanicos.blogspot.com/2008/03/vandalos.html Acesso 16/02/2011 OSTROGODO Um dos ramos dos godos, o reino ostrogodo, que se estendia do Mar Negro até o Báltico, alcançou o poderio máximo com Ermanarico, mas foi dominado pelos hunos por volta do ano 370. Após o colapso do império huno em 455, dois anos depois da morte de seu chefe Átila, os ostrogodos penetraram na Panônia (Danúbio central) e dirigiram-se para a Itália, onde o imperador Rômulo Augústulo havia sido derrotado (476) por Odoacro, chefe dos hérulos. Em 493, o rei ostrogodo Teodorico o Grande derrotou Odoacro e governou a Itália até a morte, em 526. Teodorico foi um governante hábil, que soube conservar o equilíbrio entre as instituições imperiais e as tradições bárbaras. Homem culto, educado na corte de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, conseguiu ganhar a simpatia da aristocracia romana, cujos privilégios anteriores respeitou, e do povo, que assistia satisfeito à realização de obras públicas para a reconstrução e modernização de Roma. Ao que parece, Teodorico alimentavao projeto de fundar um império godo que impusesse seu domínio sobre o resto do mundo bárbaro. Para isso, manteve contato com outras tribos godas e estabeleceu vínculos familiares com os francos, os vândalos e os burgúndios. http://povosgermanicos.blogspot.com/2008/03/vandalos.html%20Acesso%2016/02/2011 http://1.bp.blogspot.com/_lrnheGDims4/S5VmraRgsgI/AAAAAAAAEUE/GCej9P_Xgo8/s1600-h/Os+v%C3%A2ndalos+na+pen%C3%ADnsula+Ib%C3%A9rica,+no+s%C3%A9culo+V.pn 10 Sua morte criou um intrincado problema de sucessão, fato de que se valeu o imperador bizantino Justiniano para intervir na Itália. O exército romano oriental, sob o comando de Belisário, derrotou completamente os ostrogodos, dirigidos por seu novo rei Totila, cujo nome original era Baduila. Os sobreviventes se dispersaram ou foram reduzidos à escravidão. http://universodahistoria.blogspot.com/2008/08/ostrogodos.html acesso Mar/2011 http://hist7alfandega.blogspot.com/2009_02_01_archive.html. Acesso16/02/2011 Os Merovíngios de 481 a 751 O primeiro rei dos francos foi Clóvis, que foi também fundador da Dinastia dos Merovíngios. Antes de sua entrada os francos se dividiam em dois grupos: os francos sálidos e os francos ripuários. Clóvis assumiu primeiramente os sálidos e, em seguida, os ripuários. http://universodahistoria.blogspot.com/2008/08/ostrogodos.html http://hist7alfandega.blogspot.com/2009_02_01_archive.html 11 Em 496, Clóvis derrotou os alamanos e, neste momento, converteu-se ao cristianismo, pois grande parte da população de Gália era cristã, por isso acreditava que a sua conversão seria uma importante para sua carreira política. Reis Merovíngios http://1.bp.blogspot.com/_OR8URLTb58k/Sk-epGRvrLI/AAAAAAAAAXw/1OZ- C52owO0/s400/carolingios22.JPG BUSCANDO CONHECIMENTO Quando Clóvis morreu em 511, o reino merovíngio incluía todos os francos e toda a Gália exceto a Borgonha. O reino, mesmo quando dividido sob diferentes reis, manteve a unidade e conquistou a Borgonha em 534. Após a queda dos ostrogodos, os francos também conquistaram Provença. A partir daí, suas fronteiras com a Itália (governada pelos lombardos desde 568) e com a Septimania visigoda permaneceram bastante estáveis. javascript:void(0) http://pt.wikipedia.org/wiki/Septimania 12 Finalmente, em 613, Clotário II reuniu todo o reino franco sob um único rei. Divisões posteriores produziram as unidas estáveis da Austrásia, Nêustria, Borgonha e Aquitânia. As guerras frequentes enfraqueceram o poder real, enquanto a aristocracia lucrava e adquiria enormes concessões dos reis em troca de seu apoio. Estas concessões viram o poder absoluto do rei ser dividido e entregue aos principais comites educes (condes e duques). Muito pouco de fato é conhecido sobre as ocorrências do século VII devido à escassez de fontes, mas é certeza a permanência dos merovíngios no poder até o século VIII. Governo e Lei O rei merovíngio era o senhor dos espólios de guerra, responsável pela redistribuição das riquezas conquistadas entre seus seguidores, apesar de estes poderes não serem absolutos. "Quando ele morria, suas propriedades eram divididas igualmente entre seus herdeiros como se fosse propriedade privada: o reino era uma forma de patrimônio" (Rouche 1987 p 420). Alguns acadêmicos atribuem isso à falta de senso merovíngia de res publica, mas outros historiadores criticam este ponto de vista como uma simplificação demasiada. O rei indicava magnatas para serem comites (condes), incubindo-os da defesa, administração e do julgamento de disputas. Isto acontecia contra o pano de fundo de uma Europa recentemente isolada, sem os sistemas romanos de impostos e burocracia, que os francos foram empregando em sua administração à medida que penetravam nas regiões completamente romanizadas do oeste e sul da Gália. A lei merovíngia não era uma lei universal igualmente aplicável a todos; era aplicada a cada indivíduo de acordo com sua origem. No período merovíngio, a lei permaneceu como costume de memorização dos rachimburgs, que memorizavam todos os precedentes nos quais ela era baseada, devido ao http://pt.wikipedia.org/wiki/Clot%C3%A1rio_II http://pt.wikipedia.org/wiki/Austr%C3%A1sia http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%AAustria http://pt.wikipedia.org/wiki/Aquit%C3%A2nia http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Administra%C3%A7%C3%A3o_(governo)&action=edit&redlink=1 13 fato de que a lei merovíngia não admitia o conceito de criação de uma nova lei, apenas na manutenção da tradição. 14 UNIDADE 03. REINOS BÁRBAROS – PARTE 2 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Explicitar o estabelecimento dos Reinos Bárbaros. ESTUDANDO E REFLETINDO Reconhecido como conquistador da Gália, Clóvis recebe o reconhecimento do Imperador Bizantino Anastácio e estabelece a capital de seu governo em Paris. Portanto, a Igreja se aliou à expansão do poder de Clóvis, pois os visigodos e os borgúndios adotaram uma heresia que era condenada pela Igreja. Para Herrs: Seu reino, entretanto, é essencialmente bárbaro e germânico. Toda a vida política repousa no poder absoluto do rei conquistador. O serviço do príncipe estabelece, entre os homens livres, uma hierarquia precisa em favor de uma nobreza de corte formada por companheiros fiéis ou leudes da estima do soberano. Os outros homens galos romanos ou guerreiros francos perdem, pouco a pouco, seus direitos políticos militares. HEERSl, 1986, p:21. Neste sentido, o governo de Clóvis fica passível aos hábitos e tradições bárbaras e as tradições romanas são habitualmente esquecidas. Mas as ações dos francos continuam. Em 534, assassinam Sigismundo, rei dos borgúndios, e anexaram a região atual da França. Atacaram os gregos, romanos e godos. Em 553, combatem, também, na Apúlia e, na Calábria, a Campânia, continuam a campanha, arrebatando os Turíngios no Saxe. Os alamanos e os bávaros 15 impõem um vasto império com cobranças de tributos, “que se estende até a região do Danúbio”. Em virtude de todas essas conquistas e de achar que o poder político era pessoal, Clóvis divide o poder com os filhos a história dos filhos e dos netos de Clovis a partir de então, foi apenas a de uma sequência inextricável de conflitos familiares, intrigas e assassinatos e guerras civis. HERRS,1986, p.21. No início, com as querelas da divisão do poder entre filhos, o poder real “dissolve-se” e o passa para os duques e comandantes de exércitos. Segundo Herrs, esta nova configuração forma uma verdadeira casta, estreita e solidária, enriquecida com a posse de grandes domínios de terras e capaz de arrancar importantes concessões aos soberanos. HERRS,1986, p.21. Neste sentido, as grandes tentativas de reposição do poder real, passaram para os “prefeitos” (chefes) dos palácios, que se colocam contra o poder dos grandes. Segundo Herrs, eles se afirmam desde meados do século VII com Pepino de Herstal (714), prefeito da Austrásia, vencedor de seus adversários numa série de impiedosas guerras, apresenta-se como o verdadeiro soberano, fundando de uma nova dinastia. HEERS 1986, p. 22. Com a invasão dos lombardos, na Itália, toda a região de Roma parece sofrer com um período de carestia e com a fome que assolava toda a região. Os Lombardos tomaram a região, fizeram com que a terra da aristocracia romana e a dos godos fossem confiscadas. 16 Para Herrs O Estado lombardo reuniu tribos de origens étnicas bem diversas; nascido da conquista após a morte de Alboíno. A única força política era o grande exército bárbaro, de início mal fixado, mais ou menos nômade, posteriormente estabelecido em blocos compactos na planície, comandados por Duques, praticamente independentes. O rei afirma-se lentamente no reinado de Liutprando somente (713-744) quando se desintegram as últimas defesas bizantinas doNorte. Pouco a pouco, chefe de guerra, grande justiceiro cercado em Verona, Milão, sobretudo em Paiva, por oficiais do palácio e depois de juntas administrativas inspiradas na chancelaria romana, impõe sua autoridade às províncias do norte. Instala oficiais, condes ou gastaldi, agentes do domínio real que usurpam os poderes dos duques e recrutam exércitos presidem tribunais. Mas, por outro lado, em meados do século VIII, assim que o Estado lombardo se desintegra sob o golpe dos exércitos francos, as terras do centro, sob o domínio dos duques de Espoleto e Benevento, permanecem praticamente autônomas. No sul, bandos de guerreiros, liderados por chefes insubmissos detêm os cantões montanheses, vendem seus serviços a Bizâncio, ao papa, ao imperador carolíngio, ou lutam contra todos em vista o butim. HEERS,1986,p.24-25. Na Inglaterra, embora a conquista tenha ocorrido através de lutas militares, após o assentamento a vida coletiva predominou. Havia assembleia para as decisões que teriam que serem tomadas. Tais assembleias formavam a hundred, instituição fundamental dos primeiros tempos anglo-saxônicos na Inglaterra, conforme HERRS, 1986. As características de cada povo estavam relacionadas aos aspectos étnicos de cada bando que estavam mais associados ao acaso da conquista, da implantação de tribos e de seu reagrupamento, como afirma Herrs. 17 Merovíngios BUSCANDO CONHECIMENTO Leia o texto a seguir: PARTILHA E REUNIÃO ANTE O INIMIGO Já em meados do século IX, o reino de Wessex havia expandido sua influência sobre as regiões de Surrey, Sussex, Essex e Kent. Devido as grandes dimensões de seu atual território, Æthelwulf designou seu filho Æthelstan como senhor das terras orientais do reino. Porém, Æthelstan morreria no inicio da década de 850. Pouco antes de ir para Roma em 855, Æthelwulf teria dividido seu reino entre seus dois filhos mais velhos. Desta forma, Æthelbald ficaria com Wessex e Æthelberht com as províncias orientais. Porém, enquanto seu pai e Alfred estavam viajando, Æthelbald conspirou contra o próprio pai para que ele não retornasse à Inglaterra. Mas seus planos falharam, e quando Æthelwulf 18 retornou, fez sua vontade prevalecer após a sua morte, mantendo Wessex com Æthelbald e as províncias orientais com Æthelberht (exatamente como era antes dele ir para Roma). Entretanto, em 860 Æthelbald morreu e Æthelberht assumiu todo o reino até 865. Æthelberht foi então sucedido por seu irmão Æthelred. Durante este período teriam ocorrido certos conflitos dentro da casa real de Wessex (entre Æthelred e Alfred) pela sucessão ao trono, uma vez que Alfred reclamava sua parte na herança das terras do reino de seu pai. Foi estabelecido um acordo, de que os filhos do irmão que morresse primeiro seriam muito bem recompensados e em troca eles deixariam o caminho livre para o tio rumo ao trono. Quando Æthelred morreu, seus filhos ficaram muito desapontados em ver o tio assumir o trono. Futuramente este problema com seus sobrinhos voltaria a tona por meio de novas disputas, mas com a vitória de Alfred e seus descendentes. Estes problemas e intrigas internas pela sucessão do reino perderam a importância frente a um problema muito maior: o “grande exército” dos vikings. http://www.revistafilosofia.com.br/ESLH/Edicoes/9/imprime89389.aspacesso17/02/2011 O rei dos anglo-saxões, no início, estava ligado a uma corte guerreira que se constituía em uma pequena nobreza militar. Herrs afirma, que, no início do século VII, no reino de Wessex, uma barreira social bem delimitada que separava ainda o camponês livre do homem que leva a designação de ”companheiro” (do rei) e cujo wergeld (soma em dinheiro destinada ao pagamento de um resgate de sangue) é bem mais elevado: 1200 shilings em lugar de 200. HEERS, 1986, p. 23. Neste sentido, era tradição que os bens feitos no reino anglo-saxão fossem recompensados com terras, para Herrs “a virtude tradicional do chefe era a generosidade”, conforme Heers, 1986, p.23. http://www.revistafilosofia.com.br/ESLH/Edicoes/9/imprime89389.aspacesso17/02/2011 19 Embora as tribos que se assentaram em território inglês não fossem coesas, a partir do século VI começaram a dar passos em direção a um estado centralizado. Os textos mais antigos, como a História Eclesiástica de Beda (673- 730), demonstravam como se deu o processo de entrelaçamento de uma nobreza dividida em casta que conseguiu a ampliação territorial e uma série de casamentos por interesse, como no caso do Rei Edwin no século VIII. 20 Uma heresia do século IV cuja doutrina sustentava que o Filho de Deus não era verdadeiramente divino, mas criado; não era eterno mas temporal. Seu fundador foi Ario, Sacerdote de Alexandria. Arianismo - O arianismo foi uma visão defendida pelos seguidores de Arius, bispo de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a existência de um ser único, entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do Cristo pré- existente uma criatura. Jesus então, seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Segundo Ário só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio. UNIDADE 04. A IGREJA E A EVANGELIZAÇÃO – PARTE 1 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos Propiciar conhecimentos sobre a evangelização dos bárbaros. ESTUDANDO E REFLETINDO A História do processo de evangelização dos povos bárbaros tem início com os Godos, que já haviam sidos convertidos ao cristianismo, antes da chegada ao ocidente, implantando o arianismo. Com esta conversão a crença ariana propagou-se entre os vândalos, borgúndios, suevos e, mais tarde, entre os lombardos como afirma Herrs. As lutas religiosas foram constantes, tronando-se um difícil caminho a união dos germanos, considerados hereges, e romanos as igrejas passavam por momentos de constrição. Na África, o desejo de eliminar o poder dos romanos e da igreja leva os germanos a perseguição em massa dos cristãos mandando os mesmos ao exílio. Na Espanha, os visigodos viram, por muito tempo, no arianismo o sinal de um particularismo étnico e de certa superioridade. O rei Eurico (466-484) proibiu eleições para os arcebispados romanos vagos e as práticas públicas. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rio http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_primitiva http://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus 21 Tomou posse de terras na Hispânia, tornando-se o mais influente e poderoso de sua época. Entre 569 e 586 é a vez do rei dos Visigodos, Leovigildo, que defendia o arianismo. Leovigildo tentou impor aos súditos o arianismo como única opção, porém em 580 permitiu que os romanos se convertessem, sem se rebatizar, apenas através da purificação das mãos, como um ato simbólico de sua lavagem. Anos mais tarde, em Gália ao norte da Espanha, a conversão se dá com o batizado do Rei Clóvis, rei dos francos, mas mesmo assim parte da Gália, Germânia e Reno permaneceram ligadas as suas antigas crenças. Essa passagem é muito importante para se compreender a história cristã, no período da Idade Média. O batismo de Clóvis http://povosgermanicos.blogspot.com/2010/02/clovis-i.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Chlodwigs_taufe.jpg 22 O batismo de Clóvis é um episódio de suma importância para a história da civilização cristã, e revela de maneira impressionante o papel da Igreja na construção da Idade Média a partir de matéria- prima tão primitiva como os bárbaros da época. Foi descrito em seus pormenores por São Gregório de Tours, primeiro biógrafo de Clóvis: “Chegando ao limiar do batistério, onde os bispos reunidos para a circunstância tinham se postado para se juntar ao cortejo, foi o rei que, tomando por primeiro a palavra, pediu a São Remígioque lhe conferisse o batismo. Respondeu-lhe o prelado: ‘Inclina humildemente tua fronte, Sicambro. Adora o que queimaste e queima o que adoraste’.[...] “Em seguida, tendo entrado na piscina batismal, recebeu a tripla imersão sacramental em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ao sair do batistério, administrou lhe ainda o sacramento da confirmação, segundo o uso vigente nos batismos de adultos. Aos personagens principescos aplicou-se o mesmo procedimento”. http://heroismedievais.com/2011/01/o-batismo-de-clovis-um- marco-na.html. Acesso fev/2011 Como você pôde perceber, o registro deste acontecimento ocorreu nos mais altos livros da época, tornando-se história. A seguir coloquei duas leituras de extrema importância, que complementarão seus conhecimentos. BUSCANDO CONHECIMENTO TEXTO I LEITURA COMPLEMENTAR O Início da Idade Média A unidade política do Império Romano diminui na Europa Ocidental durante e depois do século III d.C., os seus territórios foram conquistados por sucessivas vagas de tribos bárbaras, algumas delas rejeitavam a cultura clássica 23 de Roma, enquanto outras, como os Godos, admiravam-na e consideravam-se eles próprios os herdeiros de Roma. Esses povos em movimento eram os Hunos e Avares e Magiares com um grande número de Germanos e mais tarde os povos Eslavos. O velho império desmoronava, mas ainda continuava em funcionamento. Os romanos do oriente construíram a sua versão de Cristandade com mais legitimidade do que os católicos do ocidente. Constantinopla foi uma das duas capitais do final do império, e estava na mira de ser capturada pelas tribos bárbaras. A era das migrações é referida como Período de Migração. Tem sido historicamente referido como "Idade das Trevas" pelos historiadores europeus ocidentais, e como Völkerwanderung ("Os povos Vagabundos) pelos historiadores alemães. O termo "Idades das Trevas" caiu em de certa maneira e deixou de ser usado, por causa das recentes descobertas nesse período terem revelado uma cultura complexa (incluindo uma arte sofisticada). É verdade que as estruturas políticas estavam menos organizadas e centralizadas em comparação com a cultura precedente, mas a unidade política do Império Romano tinha prevalecido na Europa até esse dia. As populações romanas não foram aniquiladas, a migração das populações alterou a sociedade estabelecida a lei, cultura e religião, e os padrões da sua propriedade. A Pax Romana deu origem a condições de segurança para o comércio e produção de bens, e a unificação cultural e educacional melhorou as relações, que tinham estado em declínio durante algum tempo do século V. Agora isso foi em grande parte perdido, sendo substituído pela governação dos potentados locais, o que deu origem a uma mudança gradual nas ligações econômicas e sociais e infraestruturas. Os proprietários romanos 24 por exemplo não podiam pegar nas suas terras e partir, mudando rapidamente as suas alianças para os novos colonos e reis, deixando cair a cidadania romana e estabelecendo novos modos de vestir, língua e costumes, o que em uma ou duas gerações tornaria difícil distinguir entre um romano e um bárbaro. Esta situação piorou dramaticamente por causa da falta de segurança no transporte das mercadorias em quaisquer distâncias o que levou ao colapso do comércio e produção. As maiores indústrias que dependiam do comércio, tais como a produção em larga escala de cerâmica, foi varrida do dia para a noite de lugares como foi caso da Bretanha. As invasões Islâmicas dos séculos VII e VIII, as quais conquistaram o Levante, Norte de África, Espanha, Portugal e algumas ilhas do Mediterrâneo (incluindo a Sicilia), ficando com muito do que restava do comércio marítimo. Lugares como foi o caso Tintagel na Cornualha que continuavam a conseguir obter produtos luxuosos do vindos do Mediterrâneo durante o século VI perderam esta ligação. A infraestrutura administrativa, educacional e militar do Império Romano rapidamente se desvaneceu, o que originou, entre outras coisas, a diminuição da literacia apesar da maioria da população de Roma ter sido sempre iletrada. 25 Ostrogodos http://historia-7.blogspot.com/2010_04_01_archive.html Acesso fev/2011 http://1.bp.blogspot.com/_lMekTckkxY0/S8YTf0c9BgI/AAAAAAAAB-E/IReFLf823YM/s1600/guerreirovisigodoseculov.jpg 26 UNIDADE 05. A IGREJA E A EVANGELIZAÇÃO – PARTE 2 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos Propiciar conhecimentos sobre a evangelização dos bárbaros. ESTUDANDO E REFLETINDO Durante a Idade Média (século V ao XV) a Igreja Católica conquistou e manteve grande poder. Possuía muitos terrenos (poder econômico), influenciava nas decisões políticas dos reinos (poder político), interferia na elaboração das leis (poder jurídico) e estabelecia padrões de comportamento moral para a sociedade (poder social). Como religião única e oficial, a Igreja Católica não permitia opiniões e posições contrárias aos seus dogmas (verdades incontestáveis). Aqueles que desrespeitavam ou questionavam as decisões da Igreja eram perseguidos e punidos. Na Idade Média, a Igreja Católica criou o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) no século XIII, para combater os hereges (contrários à religião católica). A Inquisição prendeu, torturou e mandou para a fogueira milhares de pessoas que não seguiam às ordens da Igreja. Para cumprir a missão de evangelização dos reinos bárbaros entre os séculos V e VII, parte do clero passou a conviver com os fieis, constituindo o clero secular, isto é, aquele que vive no mundo. Entretanto, com o tempo, parte dos religiosos se vinculou aos aspectos temporais e materiais do mundo medieval, ou seja, aos hábitos, interesses, relações, valores e costumes dos homens comuns, afastando-se das origens doutrinárias e religiosas. Paralelamente ao clero secular surgiu o clero regular, formado por monges que serviam a Deus vivendo afastados do mundo material, recolhidos em mosteiros. São Bento organizou a primeira ordem monástica no ocidente, a 27 ordem dos beneditinos, baseado na regra orar e trabalhar, que significa viver, na prática, em estado de obediência, pobreza e castidade. Na verdade, os mosteiros acabaram se tornando o centro da vida cultural e intelectual da Idade Média e também cumpriram funções econômicas e políticas importantes. Entre os séculos XI e XIII a Igreja viveu diversas crises e mudanças. Contra a concentração de poderes materiais da Igreja surgiram, por exemplo, vários movimentos que questionavam alguns dogmas cristãos e por isso eram considerados heréticos. Os cátaros, valdenses, patarinos, entre outros, condenavam a riqueza da Igreja e não se submetiam à autoridade do papa. Os hereges foram combatidos com extrema violência pela Igreja Católica, principalmente após a organização do Tribunal do Santo Ofício, no século XII, o julgamento chamava-se Inquisição do Santo Oficio. Dessa crise surgiu uma reforma na Igreja Católica, promovida pelo papa Gregório IX, no século XI. Entre os pontos fundamentais estava a questão de que os senhores feudais não poderiam mais nomear os bispos de sua região, o fim do comércio de bens religiosos, a imposição do celibato clerical e os movimentos das cruzadas. Na própria Igreja também existiam movimentos contrários ao seu envolvimento nas questões materiais e ao uso da violência contra os hereges. Eram os franciscanos e dominicanos, que pregavam voto de pobreza e por isso eram conhecidos como ordens mendicantes, que se misturavam ao povo, procurando demonstrar a vida pobre e sacrificada do cristão. No entanto, eles foram incapazes de realizar a moralização definitiva da Igreja. Pode-se considerar que toda movimentação contra as interferências da Igreja Católica no mundo material, iniciada na Idade Média, acabaramoriginando a grande divisão dos católicos no século XVI, com a Reforma Protestante. http://www.brasilescola.com/historiag/o-poder-igreja-catolica-no-mundo- feudal.htm 28 http://www.joaodefreitaspereira.net.br/fotos/fogueiracatolica.jpg BUSCANDO CONHECIMENTO A Nova Ordem Até recentemente tem sido comum falar de "invasões bárbaras" que atravessaram as fronteiras do Império Romano e acabando com o mesmo império. Os historiadores modernos sabem agora que isso apresenta um retrato incompleto do tempo complexo da migração. Em alguns importantes casos, tais como os Francos que entraram na Gália, ocupando o seu lugar, olhando para as oportunidades econômicas que cruzavam o território romano, mantendo o seu líder tribal, e sofrendo da aculturação ou integração numa sociedade Gaulês-Romana, muitas vezes sem violência. Outros como Teodorico dos Ostrogodos, eram civilizados, com padrões iletrados, viam-se eles próprios como sucessores da tradição de Roma, empregando ministérios culturais romanos, tais como Cassiodorus. 29 Como os Godos, muitos outros eram federados, aliados militares do império, com o qual tinham ganhado direitos de colonização. Entre os séculos V e VIII uma completa e nova política social e desenvolvimento de infraestruturas atravessou as terras do velho império, baseado no poder regional das famílias nobres, e o estabelecimento de reinos como o dos Ostrogodos em Itália, Visigodos em Espanha e Portugal, Francos e Burgúndios na Gália e Alemanha Ocidental, e os Saxões em Inglaterra. Essas terras permaneceram cristãs, e os seus conquistadores Arianos em breve se converteram, seguindo o exemplo do pagão Franco Clovis I A interação entre a cultura dos novos residentes, o que foi deixado da cultura clássica, e as influências cristãs, produziram um novo modelo de sociedade. A centralização administrativa do sistema dos romanos não aguentou o choque, as taxas e impostos baixaram, e o apoio institucional á escravatura desapareceu. Contudo atrás dessas áreas da Europa onde muitos povos não tinham contactos com a cristandade ou a clássica cultura romana. Sociedades marciais tais como os Avaros e Vikings eram capazes de causar confusão nas novas e emergentes sociedades da Europa Ocidental. A igreja cristã, a única instituição a sobreviver á queda do Império Romano do Ocidente, foi a maior influência cultural unificada que preservou a sua seleção da aprendizagem latina, mantendo a arte da escrita, e centralizando a administração através da sua rede de bispados. O início da Idade Média é caracterizado pelo controlo urbano dos bispos e o controlo territorial exercido pelos duques e condes. O nascimento das comunidades urbanas marcou o início da Alta Idade Média. 30 A CIVILIZAÇÃO URBANA Os Bispos Os bispos no século VI, constituem-se os únicos mandatários da cidade e a encarnação da vida espiritual e em alguns casos se identificam com a “nação” romana (HERRS, 1981,p.32). Os Bispos são escolhidos dentro da aristocracia, ricos proprietários de terra geralmente hábil controlador das despesas da cidade e ele que tem a função de assegurar a estabilidade das cidades. Segundo Herrs os campos, porém permanecem ainda, no século VI, pouco influenciados pela vida cristã.Com paróquias pouco numerosas e isoladas: 37 na diocese de Auxerre contra 217 no século XIII(p.32). E no século VII que se estabelece nestas regiões o crescimento de paróquias rurais a “regulamentação dos ritos mais precisos, as práticas religiosas em particular a missa quotidiana e a comunhão’(HERRS;1981,p.32). Para Herrs “o empenho na evangelização nas zonas rurais e dado por,exemplificando, Sulpício, bispo de Bourges, de 624 a 644, conselheiro de Clotário II e que se deu mostras de grande zelo na conversão de heréticos e judeus na extinção dos ídolos pagãos (p:32). Mas o autor afirma que na região da Gália do Norte e na Germânia, o trabalho foi, principalmente feito pelos monges missionários de duas famílias espirituais opostas. http://www.enciclopedia.com Acesso fev/2011 TEXTO II Leia o texto atentamente: A conversão religiosa dos germanos Ao longo de sua trajetória, a Igreja Cristã teve grande papel na divulgação e expansão do cristianismo pelos vastos territórios dominados pela javascript:void(0); 31 população romana. Inicialmente, como bem sabemos, os cristãos realizavam a pregação do Cristianismo, mesmo com as perseguições empreendidas pelos romanos que se opunham ferrenhamente ao conteúdo das crenças disseminadas. Com o crescimento da religião, o Império Romano acabou revertendo tal situação ao oficializar o Cristianismo e, desse modo, observamos a configuração de uma hierarquia que mais tarde consolidaria a presença da Igreja como instituição atuante. Entre os séculos III e IV, a Igreja Cristã realizava a disseminação do Cristianismo com o apoio do Império Romano, que oferecia enormes facilidades para que populações inteiras paulatinamente se voltassem para a nova religião. Contudo, essa situação veio a se transformar com o advento das invasões bárbaras, as quais trouxeram uma variedade de povos, culturas e crenças para os antigos domínios imperiais. A partir de então, diferentes estratégias deveriam ser elaboradas para que os clérigos cristãos conseguissem penetrar no interior dos recém-formados reinos bárbaros e, de tal forma, garantir a sobrevivência da religião. Inicialmente, vemos que a ação da Igreja se concentrou na formação de mosteiros em regiões rurais, na promoção de estratégias que aproximassem os clérigos dos monarcas e na melhoria da formação dos membros cristãos que promoveriam o diálogo junto às populações pagãs. No entanto, devemos salientar que esse processo de diálogo para com os povos germanos, aconteceu muito mais em função de práticas que não só apresentavam uma nova religião, mas também colocavam em voga vários hábitos, instituições e modelos provenientes da própria cultura clássica que se mostrava viva, apesar da crise romana. De forma alguma, não podemos apontar que tal experiência fosse determinante para que a cultura dos povos germanos desaparecesse ou que a Igreja tivesse seus esforços radicalmente voltados para tal objetivo. Ao mesmo 32 tempo em que as conversões aconteciam, o processo de unificação de tribos em reinos unificados, as novas rivalidades experimentadas e a modificação das estruturas sociais germanas também atuavam na formação de um novo mosaico cultural. Com isso, percebemos que a cristianização dos germanos esteve longe de configurar um tipo de transformação histórica imposta de cima para baixo. Ao longo do tempo, podemos ver que as formas de representação da crença cristã, a organização dos calendários, o reconhecimento da santidade de alguns indivíduos e a formação dos movimentos heréticos nos indicavam um movimento de penetração da cultura germana em direção ao Cristianismo. Por outro lado, a consolidação da hierarquia, a manutenção de importantes traços da cultura greco-romana e o poder de mobilização da Igreja indicavam o sentido contrário dessa relação. Com isso, percebemos que as negociações e trocas culturais são bem mais eficazes para enxergarmos o mundo formado por bárbaros e cristãos ao longo da Idade Média. Fonte: http://povosgermanicos.blogspot.com/2010/05/conversao-religiosa-dos- germanos.html 33 UNIDADE 06. OS MONGES IRLANDESES CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Propiciar conhecimentos sobre a simbologia religiosa. ESTUDANDO E REFLETINDO A Irlanda, situada à margem do mundo romano e, posteriormente, da Bretanha anglo-saxônica, conservava seus antigos costumes, suas estruturas políticas e sociais bem particularizadas: grandes famílias tribais dominados por chefes, reis, submissos eles próprios a reis poderosos. A evangelizaçãofoi obra de missionários: sacerdotes enviados pelo papa (em 431 por Celestino I) e, sobretudo, Patrício, um bretão, que mais tarde se torna São Patrício, teve uma vida dura. Com dezesseis anos, é capturado e mantido como escravo na Irlanda, mas consegue fugir e, ao voltar para suas terras, dedicou-se à religião. Converteu inúmeras pessoas, a maioria tornaram- se Monges. Passou uma temporada na Gália, onde foi consagrado Bispo por Germain D´Auxerre, em 432, para ir evangelizar os irlandeses. Para explicar como a Santíssima Trindade era três em um ao mesmo tempo utilizava o trevo de três folhas e por isso o mesmo tem papel importante na cultura Irlandesa. Foi incentivador do sacramento da confissão particular, tal como conhecemos hoje, visto que antes o mesmo era realizado de forma comunitária. Um século mais tarde essa prática se propagou para o restante da Europa. (http://rhbjhistoria.blogspot.com/2010/07/historia-de- santos-cristaos-3.html) 34 Você deve ter percebido como ele foi importante para a divulgação da Religião Cristã. A religiosidade se tornava tão forte na sociedade, que, na ausência de cidades e da presença de Bispos, as pessoas construíam moradias ao redor dos mosteiros que exerciam toda autoridade e lhes garantia segurança, principalmente, espiritual. Os primeiros monges irlandeses viviam em ermidas (mosteiros). No século VI, porém, multiplicaram-se os conventos, ou seja, as instituições religiosas para as mulheres, dispersas por toda ilha: Clouard, fundado por S. Finiano, Clonmacnoise por Ciaran, Durrow e Derry por Columba que emigrou, em seguida, para a costa da Escócia, onde se estabelece na ilha de Iona (aí morre em 597). Em 476, com a tomada de Roma pelos povos bárbaros, tem início o período histórico conhecido por Idade Média. Na Idade Média a arte tem as suas raízes na época conhecida como Paleocristã, trazendo modificações no comportamento humano, com o Cristianismo a arte voltou-se para a valorização do espírito. Os valores da religião cristã vão impregnar todos os aspectos da vida medieval. A concepção do mundo dominada pela figura de Deus proposto pelo cristianismo é chamada de teocentrismo (teo = Deus - Do gr. theós). Deus é o centro do universo e a medida de todas as coisas. A igreja como representante de Deus na Terra, tinha poderes ilimitados. http://josmaelbardourblogspotcom.blogspot.com/2010_03_28_archive. html19/02/2011 Em razão do teocentrismo, até a arquitetura dos mosteiros são voltados para o céu, como reverência a Deus. Ao homem só cabia adorar e obedecer a Deus. Observe a figura que se segue, veja as pontas das torres, percebeu? Todas voltadas para o céu, como em forma de adoração. 35 Mosteiro da Batalha http://josmaelbardourblogspotcom.blogspot.com/2010_03_28_archive.html19/02/2011 Conhecidos como Raths, os mosteiros construídos lembravam castelos, protegidos por todos os lados, por meio de muralhas contra ataques de bandidos e animais. Eram construções imponentes com pedras talhadas, com teto pontiagudo, de três a cinco metros de comprimento. Já a celas dos monges, eram simples, feitas de galhos de árvores e teto de palha. Na parte interior, estão as igrejas, onde se faziam orações cinco vezes ao dia; refeitório; celas para os monges; claustros; biblioteca; albergaria; escola; asilo e campo de cultivo. Os monges deviam ser obedientes, sujeitos a penitências; o tempo devia ser usado para a leitura e a oração, que deveriam ser castos e humildes. O refeitório, o claustro e a biblioteca eram de uso exclusivo dos religiosos, a população só tinha acesso á Igreja e ao albergue. O campo de http://3.bp.blogspot.com/_8DLJzsb-GEg/S7exUJfxnlI/AAAAAAAAA9U/ArDSZ5OEqik/s1600/3822908.j 36 cultivo, muitas vezes, tinha a presença de auxiliares escolhidos entre a população. BUSCANDO CONHECIMENTO ROMA E A REGRA DE SÃO BENTO Na Gália do Sul, entretanto, os primeiros mosteiros foram, de início, fundados nas costas da Provença, onde se exerciam mais intensamente as influências do Oriente: as ilhas de Lérins (em 410 por Honorato) São Vitor e São Salvador em Marselha (em 418 por Cassiano), Arles (S. Cesário em 513). Em seguida, mais ao norte, os reis borgúndios e francos auxiliaram em larga escala as novas comunidades, cujos representantes foram: Sigismundo, rei dos borgúndios (515, Ayanne), Clóvis e Clotilde (Sta Genoveva em Paris), Childeberto (S Germain-des-Prés), Clotário (Saint Medard em Soissons) Redegunda, sua mulher (Sta Cruz de Poitiers), Brunhilda (S. Martinho de Autum). No século VII, multiplicaram-se, na Normandia, na Ilha de França e no centro as fundações em terras de grandes, condes ou familiares do palácio. As primeiras regras da vida monástica, na Provença, foram ainda inspiradas no ascetismo oriental: longas preces e mortificações, poucos contatos com o mundo. Algumas dessas tradições mantiveram-se, por muito tempo; em Ayanne, por exemplo, no início do século VI, os monges deviam cantar salmos ininterruptamente. A regra de Cesário de Arles foi estabelecida após o concílio de Agde (em 506), que fixou as regras disciplinares para o clero secular, assinalou, entretanto, um primeiro passo em direção a uma vida monástica mais liberta das práticas orientais, uma vida menos contemplativa, melhor adaptada às exigências da evangelização das zonas rurais. A ação decisiva, nesse caso, foi a de São Bento, nascido em 480, em Núrcia, na Úmbria, viveu muito tempo, como eremita, numa gruta dos Abrúzio, 37 perto de Subiaco; já célebre entre os camponeses em virtude de inúmeros milagres, estabeleceu-se em Monte Cassino em 529. Para dirigir seus monges, redigiu ele próprio uma regra marcada por um senso agudo de organização e ordem. Destacam-se as atribuições do Abade, o emprego do tempo dos religiosos, a distribuição das funções. A originalidade, em relação às tradições orientais, situa-se, sobretudo, na necessidade de participação da vida (o que coloca os monges numa posição particular entre os eclesiásticos) na vida comunitária e no trabalho intelectual ou manual. A regra de São Bento, clara e cômoda, foi, entusiasticamente, aprovada pelo papado e mais particularmente por Gregório, o Grande (590-604). Pertencia ele a uma rica família patrícia de Roma e foi primeiramente prefeito da cidade. Eleito papa, soube restaurar as ruínas da cidade, alimentar as populações esfaimadas e enfraquecidas. Inclinou-se, principalmente, à reorganização da Igreja, à imposição de uma férrea disciplina, através do envio de visitantes e pelo controle das eleições episcopais em todo o Ocidente. Suas obras (os Diálogos, as Morais acerca de Jó, os sermões ou prédicas, a Pastoral) demonstram, por outro lado, o abandono das grandes controvérsias dogmáticas e a intenção de apresentar regras práticas de religião e de vida cristã. Enfim, afirma sua supremacia sobre os metropolitanos da Itália do Norte e os patriarcas orientais. Em seu pontificado, em face de Constantinopla e Ravena, Roma reassumiu seu papel de capital, mas desta vez de capital espiritual, conforme assinala Heers,1981. O processo de evangelização missionária fora fundamental na maneira de cristianização dos povos bárbaros. Possibilitou diminuir a liberdade de atuação da Igreja da Irlanda e estabeleceu critérios para a evangelização da Inglaterra (os saxões). Conversões foram feitas, como o exemplo do monge Agostinho, que conseguiu, rapidamente, converter o rei Etelfrido (p.35). Após Agostinho, muitos 38 outros monges tiveram que lutar contra a possibilidade da volta do paganismo. As divergências entre a Igreja da Irlanda e a Sé romana continuaram até 631, quando o sul uniu-se com Roma e o norte somente em 704 e 716. 39 UNIDADE 07. EXPRESSÃO CULTURAL BÁRBARA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Explicitar ainfluência cultural bárbara na cultura romana. ESTUDANDO E REFLETINDO Para Herrs (1981), a afirmativa de que as invasões bárbaras teriam provocado a “destruição” da cultura romana, impondo um novo padrão de pensar seria “completamente” era equivocada. Para o autor citado, o Código de Eurico ou a lei Sálica, regidos em latim, mostraram-se profundamente influenciadas pelo próprio direito romano, ao menos em algumas de suas províncias. Para entendermos mais a cultura bárbara e seus pressupostos na língua e nas letras, como também na arte bárbara, transcrev a pesquisa de Jaques Heers sobre o tema, recomendando que sejam anotadas as principais características das mesmas. A LÍNGUA E AS LETRAS Dificilmente encontraremos, no domínio literário e intelectual, traços de uma verdadeira cultura germânica. A escrita rúnica, utilizada pelas línguas nórdicas jamais teve grande influência no continente; adotada tardiamente, tende ela a desaparecer desde o século VI(L.Musset). A língua Gótica, escrita em alfabeto grego, brilhante no momento da conversão dos godos, cede definitivamente sua influência ao latim dois séculos mais tarde.Por outro lado, na época dos reinos bárbaros, as manifestações de uma cultura popular, de um folclore rural oposto à cultura dos letrados, parecem ainda difíceis de definir e 40 de analisar.São, sem dúvida, em grande parte a marca de revivescência de antigos temas indígenas, celtas, mais do que contribuições realmente novas. A vida literária liga-se sempre às expressões antigas. A língua latina, o gosto pela retórica, mantêm-se com brilho nos reinos godos.Assim em Ravena com Boécio (480-524; a Consolação Filosófica)e Cassiodoro (480-575; de Institutione divinarum litterarum); assim, após a reconquista bizantina, no mosteiro de Vivarium, na Calabria, onde Cassiodoro dirige uma espécie de Academia Literária e científica, dotada de uma considerável biblioteca.Na Espanha, Isiodoro de Sevilha (560-636; História dos Godos, Sinônimos, Origens ou Etimologias, Livro da natureza e das coisas),personalidade forte , um dos clérigos mais brilhantes de toda a Idade Média ocidental, permanece também bastante fiel a cultura latina. Depois dele, numerosas obras profanas de valor testemunham sempre o prestígio das letras romanas: as Cartas de Braulion de Saragoça, a Crônica de Juliano de Toledo. Os mosteiro (Dumio perto de Braga, Servitano próximo a Valência, Agaliense perto de Toledo, Caulanium perto de Mérida), as escolas episcopais (Sevilha, Saragoça,Toledo), os reis e os nobres da Espanha enriquecem suas bibliotecas com livros antigos. Na Irlanda o latim permanece uma língua de sábios, erudita protegida dos atentados do vulgar. Na própria Gália, pode-se encontrar alguma afetação nas lamentações de Gregório de Tour que deplora o declínio das letras: a cultura antiga sobrevive sempre na Provença (Arles) e em Viena (bispos Avit, 450-518, depois Didier 540- 610) Essa imitação portanto não é forçosamente servil. Se a obra de Isiodoro de Sevilha marca uma forte nostalgia pela antiga grandeza de Roma, uma viva atração pelos antigos temas filosóficos e certa sobriedade de formas e de expressão, testemunha também uma profunda originalidade. Encontra-se aí uma sincera emoção, um poder de afeição e de sugestão, uma mentalidade diferente, uma adesão profunda a seu tempo e aos valores do momento. A 41 História dos Godos assemelha-se a uma espécie de canto épico nacional para J. Fontaine, a “uma das primeiras formas de expressão literária da sensibilidade medieval”. Esta emoção “nacional”, o abandono do universalismo romano do qual Cassiodoro já havia dado os primeiro exemplos, anuncia a nova cultura (HERRS,1981,p.37-38) A ARTE BÁRBARA As migrações bárbaras trazem para o Ocidente ao que parece, expressões artísticas totalmente novas. Nos tempos bárbaros, as artes ditas “menores” (dever-se-ia mais dizer “mobiliaria” ou “industriais”) superaram a arquitetura e a grande escultura à maneira antiga.Pode-se numa certa medida, ligar essa nova arte às tradições nômades, ao desejo de manter a riqueza nas armas, nas vestimentas e nas joias. A espantosa habilidade dos trabalhadores godos ou francos, primeiramente ambulantes e depois fixados na margem do Reno, em Worms, Colônia ou Bonn onde seus ateliers são célebres já no século VI, demonstra todo interesse mantido no trabalho e na decoração de armas, na joalheria religiosa ou profana (fíbulas, fivelas de cintos e colares de ouro). O trabalho sempre precioso, atento de um objeto original ao qual o artesão dá o máximo de si, rompe claramente com a produção grosseira em série, da Gália romana. Afirmam-se então novas técnicas :trabalho em finas folhas de metal, em filigrana, em placas cloisonnés incrustadas de esmalte.Das tradições nômades e do Oriente, os bárbaros conservam também o gosto pelo luxo bárbaro: as descrições de Sidônio Apolinário, as do cronistas árabes que mostram os nobres visigodos cativos em Damasco após a conquista, os tecidos e as joias encontrados no túmulo da princesa Arnegunda em Sainte Denis(por volta de 570) principalmente os extraordinários tesouros visigóticos da Espanha(as coroas descobertas em Guarrazar) e as artes lombardas de Monza. 42 Esta arte bárbara liga-se a decoração lisa e negligencia decididamente o relevo: pedras gravadas, desenhos em filigrana .Além disso indica bem um novo gosto:motivos abstratos, entrelaçamentos geométricos formas estilizadas em todo o caso. A arte animalísta dos godos (água, peixe) enriquece-se a seguir com a chegada dos lombardos cuja influência parece considerável, com temas tomados à arte das estepes (arte dos citos-sámatas) animais fantásticos tais como grifos e dragões. É também uma arte de movimento:feras digladiando-se em duros combates,entrelaçadas, monstros contorcidos. Entretanto deve-se evitar exageros quanto a importância das contribuições propriamente germânica . A arte bárbara é também uma arte síntese, que reúne elementos bastante complexos, de origem por vezes incerta. As tradições romanas permanecem ainda bem vivas nos reinos mediterrânicos dos godos onde são erguidas as grandes igrejas de Ravena, de Mérida ou de Évora; mais tardia(segunda metade do século VII) AS de S. João de Bãnos, na região de Valência, e de Terrassa, próximo a Barcelona, com plano cruciforme,ornadas com arcos em ferradura,são cobertas por abóbadas de pedra. Santo Isidoro consagrou três capítulos de suas Etimologia à construção dos edifícios religiosos ou profanos. Nas regiões do Norte,por outro lado,onde se enfraqueciam as técnicas arquitetônicas, fundo celta.A arte irlandesa, através dos magníficos manuscritos iluminados nos mosteiros (o Book of Kells, por exemplo) e as grandes cruzes de pedra esculpida, ofereceu um exemplo apaixonante dessa síntese de elementos diversos: decoração tomada aos sarcófago gauleses dos séculos IV e V (Sacrifício de Abraão; Daniel na gruta dos leões), cenas populares imitações da joalheria saxônica, imagens pagãs.Os escribas irlandeses adotam naturalmente os motivos pagãos, transformam-nos em símbolos cristãos que, entretanto, respeitam as antigas crenças (os entrelaçados simbolizando a água corrente, os patos símbolos da fertilidade).Enfim por todo o Ocidente, numerosos contribuições bárbaras 43 refletem empréstimos às civilizações orientais, a Bizâncio, ou a Pérsia dos sassânidas. De maneira que, assim, reforçam a evolução da arte romana já no fim do Império cada vez mais influenciada pelo Egito e pela Síria, evolução cujos monumentos e objetos bizantinos de Ravena testemunham de forma decisiva. De fato, sem menosprezar a importância das novas técnicas principalmente no trabalho do metal, a estética bárbara deve muito ao Oriente mediterrânico. (HERRS,1981,p.38-39). O Império Carolíngio Lembra-se da Unidade III? Abordamossobre o império Franco, sua fragmentação e sobre o Rei Pepino. Pois é, em 768, Pepino morreu e seu reino foi dividido entre os dois filhos Carlos e Carlomano, porém, três anos depois, Carlos assumiu como único rei, pois seu irmão morreu. Carlos Magno tornou-se um dos maiores guerreiros da Alta Idade Média. Usando como pretexto da fé cristã, invadiu as áreas mulçumanas da Espanha e perseguiu os pagãos da Germânia. BUSCADO CONHECIMENTO Carlos Magno dominou os povos como os frisões, ávaros, saxões, cristianizando os mesmos. A totalização do Império deu-se com a conquista e reconhecimento do poder de Carlos Magno pelos habitantes de Constantinopla. Herrs, citando L Halphen, R Folz e H Fichtenau, diz: “permitem o relacionamento com a noção de um imperium christianum, mais herdado do exemplo Bizantino: um só reino no céu e um só chefe na terra. O Cristo só pode ter um único vigário. Ao reino de Cristo, criador do universo corresponde o de Carlos, todo poderoso escolhido por Deus, em suma lugar tenente do Cristo, intendente da Igreja. HEERS,1981 p.43. 44 Indubitavelmente, a principal preocupação de Carlos Magno foi a de estabelecer uma administração sólida, igual, centralizada em todas as regiões do Império. Todos os autores salientam, nesse ponto, a importância de sua obra. Alguns se perguntam, porém, em que medida a autoridade do rei de fato respeitada. Ele tentou controlar as comunidades de homens livres, seus tribunais, seus centeniers, impor-lhes, se não outros costumes políticos, ao menos um mesmo procedimento moral; desejou estender as instituições francas aos países estrangeiros recentemente conquistados. Salvo no coração do reino solidamente mantido, o rei institui, acima dos condes, grandes governos provinciais confiados a um prefeito, duque ou margrave. Nas fronteiras, são as marcas de verdadeiros governos militares: marcas na Espanha, da Bretanha, do Friul, marcas dinamarquesas ao norte, avaras a leste. Carlos Magno, porém, muito frequentemente, confiava essas funções a membros da nobreza local, os únicos capazes de ser obedecidos. Fortalecidos por importantes domínios territoriais, providos de numerosas clientelas, os condes, desde cedo, tornaram-se independentes e transmitem seus cargos aos filhos. Do que resulta, para melhor supervisão e repressão dos abusos dessas dinastias províncias, os célebres missi domici, enviados do senhor, para inspecionar seus domínios e seus encarregados. Os missi são quase sempre fiéis, francos; geralmente viajam juntos de um leigo, funcionário adido ao palácio e um bispo. Carlos Magno esperava governar a Igreja do mesmo jeito: ele a dirigia protegia, no interior do reino, contra os abusos e as heresias e, no exterior, contra inimigos não cristãos. Os Libri Carolini, escritos segundo sua vontade (791), atacaram os teólogos do Concílio de Níceia (787) seres divinos. Ataques sinceros, talvez, mas que tinham como principal objetivo firmar os bispos provenientes de todo o Ocidente, da Bretanha, mesmo, condenar, sob sua 45 ordem, o adocionismo, doutrina professada na Espanha, principalmente, em Toledo. O imperador, praticamente, decidia a escolha de cada bispo e os empregava em seguida em toda espécie de funções, como simples funcionários. Condes e bispos foram instruídos no próprio palácio, onde Carlos atraiu, a peso de ouro, ao que parece, oferecendo-lhes, todavia, bons benefícios aos sábios estrangeiros: Alcuíno, o mestre da escola episcopal de York, o espanhol Teodulfo, Paulo Diácono e Paulo de Pisa, os dois italianos. Desse modo afirmou-se, na corte imperial, um movimento intelectual e literário, designado, de uma maneira bem simplista, como a “renascença carolíngia”. Ao brilho das letras corresponde o luxo da arte oficial: mosaicos e mármores das capelas nos palácios imperiais e episcopais; tal como o de Germigny-les-Prés, oratório de uma vida de campo de Teodullfo, bispo de Orléans. Mais ainda, afirmou-se o luxo das miniaturas, suntuosas sobre fundo de ouro: escola palatina, sob Carlos Magno mesmo (evangeliário de Ebbon e Bíblia de Carlos, o Calvo) e de Tours (Evangeliário de Lotário). No domínio intelectual, entretanto, as ambições de Carlos limitavam-se ao que parece à formação de bons administradores e de bons bispos, instruídos e dignos. O essencial era dar-lhes instrumentos de trabalho, textos claros, principalmente jurídicos, aos quais deveriam dar forma. Isso limita, singularmente, a importância dessa “renascença carolíngia”. Desse modo, os sábios da corte esforçam-se em precisar as regras da gramática e se prendem, via de regra, a uma simples imitação, por vezes servil, formal, dos modelos antigos. A reforma da escrita, a famosa Carolina, que tornou mais fácil a cópia e a leitura dos textos essenciais, responde a uma mesma preocupação. Na escola palatina, é que foram retranscritos e posteriormente recopiados por escribas, em vários exemplares, as Capitulárias de Carlos Magno – suas leis - certamente, mas também as obras de Gregório, o Grande, e dos pais da Igreja, o manual litúrgico 46 romano, compilações de decretos e de direito canônico. Assim, sem originalidade, mais ocupados em citar do que em criar, os eruditos que se ligaram a Carlos Magno, ao menos conservaram, fielmente, uma parte importante da herança de Roma e dos primeiros tempos da Igreja; sem dúvida, prepararam um lento desenvolvimento das letras e uma lenta renovação da espiritualidade cristã. 47 UNIDADE 08. ASPECTOS ECONÔMICOS DO REINADO DE CARLOS MAGNO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Propiciar conhecimentos sobre os aspectos econômicos do reinado de Carlos Magno. ESTUDANDO E REFLETINDO A Economia no Governo Carlos Magno Alguns problemas teriam ocasionado a ruína da economia no governo de Carlos Magno, a conquista dos muçulmanos dos mercados dos cristãos na região do mediterrâneo, o fato de o império ter uma economia territorial voltada somente para sua subsistência quase não tendo trocas internacionais sem fluxo monetário. Entretanto, para Herrs, isso seria quase improvável, pois o declínio da economia já teria começado bem anteriormente com as conquistas “árabes e sarracenas”. A economia no período Carolíngio seria uma expressão de declínio do grande período de empobrecimento do Ocidente, desde a derrocada do império Romano. Herrs, citando M.Lombard e Pirrene, diz que os dois autores “notaram, nos tempos carolíngios, sinais precursores de um renascimento mercantil. Demonstram a importância da reforma monetária que afirma o monopólio real e institui a cunhagem de dinários de prata, peças de bom quilate aceitas no mundo muçulmano e nas regiões nórdicas HERRS, 1981, p.47. 48 As terras continuam sendo fonte de enriquecimento, fato herdado do império romano, quando da invasão dos germânicos e, posteriormente, as conquistas francas. Surgiram, nesse momento, instruções para estabelecer a utilização das terras como as Capitulária de Villis, cujo teor continha informações dadas por Carlos Magno, para a maneira de “administrar e explorar as terras”. A corte, que comanda a villa, unidade territorial para fins de exploração agrícola, era caracterizada por “paliçadas, a casa do senhor, alojamentos de empregada, estábulos, chiqueiros, cercado para ovelhas, granja, adegas e celeiros e, além disso, as oficinas: ferraria, cutelaria, pisoeiro, moinho, lagar”. Os trabalhos desenvolvidos na Villa, no início, eram feitos por escravos domésticos, que habitavam as casas próximas a do senhor. Esses escravos trabalhavam diariamente em conjunto, sob a direção de funcionários livres, embora existissem escravos que desenvolviam trabalhos especializados como artesãos, que trabalhavam madeira, o ferro ou o couro, enquanto as mulheres nos gineceus, teciam telas de cânhamo ou de linho, panosde lã. 49 Carlos Magno por Albrecht Dürer / http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno BUSCANDO CONHECIMENTO As Invasões dos Séculos IX e X no Ocidente O território do Império Ocidental de Carlos Magno, com os ataques dos povos do mar e também dos cavaleiros das estepes sofria, com o passar do tempo, um processo de dispersão, orquestradas pelas invasões que criavam migrações forçadas. 50 Para Herrs “o Império, na segunda metade do século IX, foi incapaz de resistir a esses ataques, já perigosos, entretanto, na época de Carlos Magno: De uma parte a debilidade da ideologia imperial, expandida somente no estreito círculo dos condes, duques, margraves ou bispos e praticamente desconhecida pelos chefes subalternos, e mais ainda, certamente, pelas massas populares, Desde o fim do reinado de Luís o piedoso, foi difícil reunir contingentes militares para fazê-los participar da defesa comum, longe de suas províncias. Muito frequentemente os chefes, mesmo os grandes, recusavam-se a atender ao apelo do rei e Carlos, o Calvo, jamais conseguiu manter guarnições suficientes nas pontes fortificadas que barravam o Sena - Por outro lado, a organização dos exércitos carolíngios destinada somente à ofensiva: uma cavalaria bastante pesada, pouco maleável, muito demorada para se reunir, disponível somente alguns meses por ano; uma marinha praticamente inexistente; principalmente a ausência de praças fortes: cidades e mosteiros encontravam-se, na maior parte, sem muralhas. - Enfim, o pânico que tomou conta da população desde os primeiros ataques. Os invasores esforçaram-se por criar um clima de terror através de abominações massacres, atrocidades exemplares, seus próprios costumes, desintegrando assim qualquer tipo de resistência. O império Carolíngio, já enfraquecido por frequentes divisões,sofre ao mesmo tempo ,os ataques dos povos do mar em todas as suas costas e dos cavaleiros das estepes em suas fronteiras do Leste. Essas novas migrações algumas vezes, se fixam em determinadas regiões formando novos estados, mais ou menos estáveis e modificaram assim o mapa político do Ocidente.Elas debilitaram inclusive a coesão do mundo cristão,minaram a autoridade real,precipitaram a evolução das estruturas políticas e a emancipação dos pequenos chefes. HERRS, 1981, p.53-54. 51 A debilidade da ideologia do império, difundida apenas entre as altas dignidades, que não as divulgavam com a pretensão de monopolizar os conhecimentos da ideologia e aumentar sua autoridade, deixavam os chefes subalternos e mais certamente a massa popular na ignorância dos objetivos gerais e assim desinteressados, ou resistentes em cumprir ordens ou fazer sacrifícios em prol da defesa do império, principalmente, nas fronteiras distantes dos centros de decisão. A falta de conhecimento e de tentativas de acordos ou convencimentos agravava as disputas entre as famílias mais ilustres, com pretensões de reinar ou formar seus próprios reinos. NATUREZA DAS INVASÕES Seguindo as antigas rotas das invasões Germânicas ou rotas mercantes, bastante frequentadas, os invasores, partindo de regiões distantes e fortificadas, por muito tempo, não tinham outra pretensão que não a de saquear tesouros de mosteiros, relicários, estátuas, objetos de arte, mobiliário litúrgico e ouro, este fundido tão logo chegavam de volta. Nenhuma pretensão de dominação política, apenas a aventura das incursões e a posse dos espólios. Essas condições jamais foram ultrapassadas pelos cavaleiros da estepe e os sarracenos; já os piratas do norte, vikings, estabeleceram algumas relações comerciais, infelizmente, quase que apenas no tráfico de escravos. Pouco adiante, desistiram de pilhar a população, passando a exigir tributos, mais ou menos regular, por fim, formam Estados e, desde logo, assimilaram a doutrina cristã. Como sugestão de leitura, recomendamos o site: http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/francos.htm LE GOFF, Jacques. O maravilhoso e cotidiano no Ocidente médio. Lisboa. Ed. 70, 1985. 52 Deixamos também como sugestão o filme CRUZADAS, para que você possa ter um conhecimento mais profundo sobre o período, suas vestimentas, sua economia, sua distinção de classe social e com a ideia de que deus eles louvavam. DICA DE FILME: Título original: (Kingdom of Heaven) CRUZADAS Lançamento: 2005 (Espanha, EUA, Inglaterra) Direção: Ridley Scott Atores: Orlando Bloom, Liam Neeson, Eva Green, Michael Sheen. Duração: 145 min Gênero: Aventura Sinopse Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também à esta meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um título de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento, Balian decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. http://www.adorocinema.com/diretores/ridley-scott http://www.adorocinema.com/atores/orlando-bloom http://www.adorocinema.com/atores/liam-neeson http://www.adorocinema.com/atores/eva-green http://www.adorocinema.com/atores/michael-sheen 53 UNIDADE 09. SOCIEDADE FEUDAL – PARTE 01 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Explicitar conhecimentos sobre a organização social feudal. ESTUDANDO E REFLETINDO Toda a Europa esteve por séculos à deriva, tomada por guerras e atrocidades importadas, mas o que se tem de registro leva-nos a concluir que a sociedade feudal foi a mais importante resposta à desorganização gerada com o desmonte do Império Romano e aos inúmeros invasores que se aproveitaram da fragilidade e ausência de coesão dos povos da Europa. Nessa época, passou a prevalecer a lei do mais forte, no lugar do contrato, o juramento homem a homem; no lugar da civilidade, o servilismo; no lugar das leis escritas, prevaleciam os costumes. Diríamos que o feudalismo foi a resposta possível na ausência prolongada de um comando com credibilidade, centralizado e coerente, frente às invasões, pilhagem e exploração de que a Europa se tornou palco. Para Guy Antonetti, do ponto de vista quantitativo, a economia medieval foi caracterizada pela pequenez relativa das unidades de produção e dos volumes dos bens produzidos. A exiguidade das unidades de produção valia tanto para agricultura quanto para o artesanato. A exploração agrícola permaneceu antes de tudo concebida em função das necessidades da manutenção de uma “corte” senhorial (domínios senhoriais) ou de uma família camponesa (tenência dos rendeiros): camponês que recebia o usufruto de uma parcela da terra do senhor, chamada tenência”, a comercialização dos excedentes agrícola para um mercado mais ou menos vasto, mesmo excitando a atividade do produtor não se tornou objetivo do setor primário. Quanto a 54 produção artesanal, ela foi estabelecida na origem por trabalhadores a domicílio que transformavam a matéria-prima levada pelo cliente,os quais se tornaram depois produtores independentes , trabalhando por sua conta e vendendo seus produtos: a oficina, na própria casa do artesão, não exigia senão um material rudimentar e um pessoal reduzido. Esta exiguidade das dimensões das empresas seguia paralela com a fraqueza das quantidades produzidas: o desenvolvimento agrícola foi sempre travado pela mediocridade das técnicas; o artesão , por sua vez, trabalhava na maior parte dos casos para satisfação das necessidades de um mercado localconhecido, o que quase não o incitava a desenvolver muito a produção. A franqueza desta, a mediocridade dos rendimentos e a insuficiência dos meios de trocas conjugaram-se com a visão dos grupos sociais (mundo eclesiástico e senhorial em sentido amplo) que canalizavam para si o essencial dos rendimentos, para aviltar a atividade e o progresso técnico, restringindo as vendas. ANTONETTI, DATA, P. BUSCANDO CONHECIMENTO Você já deve ter ouvido falar em pirâmide social. Observe bem como ela se estrutura. Em sua base, a grande maioria da população, seguida pela nobreza e, no alto, o clero, detentor de poder e riqueza. http://www.asdicas.com.br/feudalismo-resumo/ acesso20/02/2011 55 Estas são características que, no econômico, definem o início da era feudal: no social, correspondem à fixação dos laços homem a homem, no estabelecimento de costumes e mesmo de certas regras e a uma maior precisão do vocabulário político e social. A hereditariedade dos feudos e dos encargos, sobretudo a uma ligação obrigatória, entre o poder exercício e da atividade das armas e a possessão das terras para o nobres. Para Pirene (l937), a quebra da hegemonia dos povos do ocidente sobre as terras da Europa estaria situada, no século VIII, após as invasões árabes. A economia antiga, mais ou menos decadente, teria sobrevivido até que os árabes realizassem o corte norte-sul do mundo mediterrâneo: de centro de gravidade que ele era, na economia antiga, o Mediterrâneo ter–se-ia então tornado uma fronteira. Senhor do mar Tirreno, os árabes teriam separado a Europa Ocidental do Império Bizantino, daí o encolhimento continental do Império Carolíngio. A despeito de certas formulações excessivas e das críticas de que ela tem sido objeto, a explicação de Pirenne ainda é aceita por uma grande maioria. O FEUDO http://tocadekigan.blogspot.com/2009_05_01_archive.html ACESSO20/02/2011 http://tocadekigan.blogspot.com/2009_05_01_archive.html http://1.bp.blogspot.com/_TStOwLEILII/SLloBebAk1I/AAAAAAAAAI8/9Z0PHOqepOs/s400/feudo.bm 56 Vivendo em economia fechada, isto é, em economia rural, praticando pouco ou nada de troca, a Europa carolíngia satisfazia mal às necessidades de uma simples economia de subsistência. Se os acidentes naturais, que destruíam as colheitas, provocavam fomes horríveis com retorno à antropofagia, no século X, é porque os homens não tinham a menor poupança que lhes permitisse alimentarem-se, pois os preços eram exorbitantes. A obsessão da fome impediu a adoção de divisão do trabalho no espaço: cada domínio procurava produzir tudo o que era necessário a sua sobrevivência, daí um desperdício considerável de mão de obra. Por outro lado, as condições de utilização dessa mão de obra concorriam para manter a fraqueza das margens de benefício: os rendeiros, requisitados a cultivar a reserva do senhor, não podiam mais consagrar senão um tempo limitado as suas próprias tenências, o que acarretava uma dupla consequência: a modicidade das rendas que os rendeiros podiam pagar a seus senhores por suas tenências e a impossibilidade de tirar proveito da exploração destas. Quanto aos senhores, eles não podiam esperar obter vantagens senão de suas reservas, mas este lucro eventual era desviado do investimento produtivo pela necessidade de distribuir favores e assistência aos protegidos e aos indigentes. Convêm salientar que nem tudo no século X foi desastroso para a Europa Ocidental, mas pode ser considerado um preâmbulo para o milagre ocorrido no século XI. Guy Antonetti ( 1977, p.15), afirma que, em relação ao século XI, no tocante ao desenvolvimento populacional, quantitativa e qualitativamente, as estruturas econômicas sofreram uma profunda transformação: Na história do desenvolvimento econômico da Europa Ocidental, a revolução do século XI foi relativamente tão importante quanto foram a do século XVI e XVIII. O crescimento sensível da população e a melhoria da produção agrícola, o renascimento das cidades, o desenvolvimento das trocas e a expansão 57 transformaram a economia dominial rural da alta idade média, em economia artesanal urbana: o domínio rural começou, então, a perder seu papel de célula fundamental da economia,em proveito da aglomeração urbana que estendia sua dominação sobre uma região mais ou menos extensa. Certamente, a produção agropastoril conservou uma grande importância, mas o campo circundante caiu sob a dependência econômica da cidade vizinha, por um lado servindo-lhe de saída para parte de sua produção artesanal e por outro assegurando-lhe um aprovisionamento em matérias-primas agrícolas e em produtos alimentícios. Este laço entre a cidade e o campo, entre a cidade e sua zona rural de influência, supunha o renascimento da divisão do trabalho e da economia de troca que resultava dela. 58 UNIDADE 10. SOCIEDADE FEUDAL – PARTE 02 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo Explicitar conhecimentos sobre a organização social feudal. ESTUDANDO E REFLETINDO O Feudalismo na Europa Ocidental - Evolução e Limites Até aqui, foi apresentado o feudalismo clássico, contudo, sabemos da quase impossibilidade de um sistema social e econômico permanecer íntegro no espaço e tempo. No caso a Europa, palco de ex-impérios poderosos e de longa existência, Heers, citando F. L. Ganshof e Marc Blach, afirma: As estruturas feudais não penetraram na sociedade de uma maneira tão profunda em todas as partes. O domínio geográfico onde o historiador pode constatar um feudalismo triunfante, “clássico”, apresenta-se singularmente restrito. HEERS, 1986, p. 77. Assim é que lá onde a riqueza e o poder militar permaneceram concentrados nas cidades, guardando seu prestígio e seu poder, e com estrutura social e política, do tempo do domínio romano ainda vivas na lembrança, os postos leigos e eclesiásticos continuavam com a aristocracia não guerreira nem rural; mesmo na zona rural, o feudalismo convivia com as propriedades individuais terras pessoais e livre de toda sujeição e vassalagem. Isso ocorre na Europa meridional, França, Espanha, na Itália ao sul do Loire. A parte da Alemanha, beneficiada por mudanças nas rotas comerciais em virtude dos ataques Wikings, as instituições carolíngias resistiram por mais tempo, como assinala Heers, 59 A sociedade feudal alemã apresenta diante desse esquema, traços acentuadamente originais. Ligam-se de início à manutenção, de direito ao menos e sobretudo no tempo dos imperadores otônidas, de uma autoridade superior, preocupada em tornar mais lenta a feudalização dos altos cargos e em aplicar o mais amplamente possível o antigo direito público.Essa resistência traduz-se principalmente por uma introdução mais tardia das estruturas ou, de qualquer maneira, do vocabulário do feudalismo. HEERS, 1986, p. 80. Caso análogo ocorreu em lugares, onde os costumes Romanos ou carolíngios não haviam penetrado, tais como, na Alemanha do Leste, no saxe e nos reinos Anglo-Saxônicos da Inglaterra. Na Frísia, as comunidades de camponeses livres, não admitiam o senhorio territorial e as relações de vassalidade. Mesmo assim, possuíam alguns traços comuns ao feudalismo clássico, dependência pessoal, recomendação e formação de clientela, por outro lado não são organizados em função da vida militar ou da exploração do solo. Existiram casos de feudalismo imposto; como o caso do Papa Silvestre II, tentando implantá-los nos estados pontificais e os casos de conquistas militares, com os normandos na Inglaterra e na Itália meridional. Esse feudalismo de importação, inclusive os da Terra Santa, foram um tanto artificiais, pois permaneceram as tradições e antigas estruturas, tornando-se um feudalismo aparente e superpostos. BUSCANDO CONHECIMENTO
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