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Direito Constitucional III Plano de Ensino – Grade 2017 - CEUNSP Autor: Uillian Antonio de Souza 1. Direitos de personalidade; inviolabilidade de domicílio e sigilos. 1.1. Direitos de Personalidade. A personalidade é a soma de todas as características psicológicas que diferem um indivíduo de outro e que o tornam único. Sendo assim, a personalidade é um conjunto de traços de comportamento, atitudes, pensamentos, sentimentos e valores que são peculiares de um indivíduo e o diferencia dos demais. Os direitos da personalidade são aqueles que asseguram a proteção às características que fazem parte da personalidade de uma pessoa. São considerados direitos da personalidade, dentre outros, os seguintes: - O direito à identidade: é o direito de uma pessoa de ser reconhecida pelas suas características pessoais e sociais, sendo considerada como um ser único e irrepetível. - O direito à reserva da intimidade: é o direito de uma pessoa de manter a sua intimidade resguardada, sendo que ninguém pode ter acesso aos seus pensamentos, sentimentos ou às suas atividades privadas sem o seu consentimento. - O direito à imagem: é o direito de uma pessoa de controlar a utilização da sua imagem, sendo que ninguém pode utilizá-la para fins comerciais ou de outra natureza sem o seu consentimento prévio. - O direito à honra: é o direito de uma pessoa de ter a sua reputação preservada e de ser tratada com respeito e consideração por parte dos outros. - O direito à vida privada: é o direito de uma pessoa de manter a sua vida privada resguardada, sendo que ninguém pode ter acesso às suas atividades privadas ou às suas relações pessoais sem o seu consentimento. 1.2. Inviolabilidade do domicílio. A inviolabilidade do domicílio é uma das vertentes do direito à privacidade, pois a casa, conforme estabelece o inciso XI do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, é asilo inviolável do indivíduo e ninguém nela pode penetrar sem o consentimento do morador, nem mesmo o Estado, exceto nos casos de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro ou, durante o dia, que atualmente é compreendido no período entre 6h e 18h, exigindo-se, neste último caso, determinação judicial. 2. Remédios constitucionais. Os remédios constitucionais são meios postos à disposição dos cidadãos para provocar a intervenção de autoridades a fim de sanar ou impedir ilegalidades ou abuso de poder que prejudiquem direitos e interesses individuais. Para isso, a Constituição positivou o habeas corpus, o habeas data, o mandado de segurança, a ação popular e o mandado de injunção. Diferem-se das demais ações de direito processual em razão de seu status constitucional, ou seja, porque a própria Constituição cuidou de assegurar a presença desses mecanismos contra o arbítrio do Poder Estatal. Os remédios constitucionais são verdadeiras ações constitucionais. Entretanto, a opção pelo termo remédios vem para distingui-las das demais ações de controle concentrado de constitucionalidade. Enquanto a ADIn, a ADC e a ADPF são instrumentos para conformidade das normas e do direito objetivo, os remédios constitucionais asseguram faculdades jurídicas do indivíduo ou da coletividade. Em outras palavras, as ações de controle concentrado servem para provocar a Corte Constitucional a se manifestar sobre a adequação de uma lei ou dispositivo legal. Não interessa saber quem são os sujeitos prejudicados ou beneficiários dessa norma, apenas se ela respeita, ou não respeita, a Constituição. Justamente por isso, apenas algumas entidades possuem legitimidade para requerer a análise pelo STF. O caso dos remédios constitucionais é outro. Aqui, as ações possuem função de sanear ou remediar uma ilegalidade ou abuso de poder que limitou ou impediu o exercício de um direito garantido ao sujeito. Nesse caso, a proteção jurisdicional é destinada à tutela do indivíduo que sofreu restrição em seu acervo de direitos. Contudo, não são todas as faculdades subjetivas que estão garantidas pelos remédios constitucionais. Por exemplo, para ressarcimento ou indenização de danos perpetrados pelo Estado cabe a ação indenizatória específica, pelo procedimento comum. Por outro lado, é possível impetrar habeas data para assegurar o conhecimento de informações constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público. 3. Conceito. Espécies de nacionalidade. Nacionalidade é o vínculo jurídico político que estabelece uma ligação entre um determinado indivíduo e um determinado Estado. Tal situação faz com que este indivíduo passe a fazer parte do povo daquele país e, como consequência, usufrua dos direitos e sujeite-se aos deveres provenientes dele. Segundo Pontes de Miranda: “a nacionalidade faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão do Estado”. A nacionalidade é dividida em duas espécies: a nacionalidade primária ou originária e a nacionalidade secundária ou adquirida. A nacionalidade primária é involuntária, sendo imposta de maneira unilateral pelo Estado ou pelo nascimento, sendo assim independe de sua vontade. A involuntariedade está ligada ao fato de cada Estado estabelecer normas diferentes para conceder a nacionalidade àqueles que nascem sob seu governo. Nesse sentido, existem dois critérios adotados para a definição da nacionalidade: o ius sanguinis e o ius solis. No primeiro, a nacionalidade é determinada pelo laço de consanguinidade, ou seja, pela ascendência, não considerando para a aquisição o local do nascimento. Tal critério é muito utilizado em países de emigração, para que não se perca o vínculo com os descendentes. No segundo caso, critério da territorialidade, é o local do nascimento do indivíduo que determina a sua nacionalidade sem levar em consideração sua descendência. Tal critério é muito utilizado em países de imigração (países novos), pois, assim, os descendentes dos imigrantes passam a constituir o povo deste Estado recém-formado. A nacionalidade secundária, ao contrário da primária, é voluntária, posto que é adquirida pela naturalização (ato de vontade da pessoa), que pode ser requerida em razão do casamento, por exemplo. Os requisitos para aquisição da nacionalidade variam de acordo com as regras de cada Estado e, por isso, é possível a existência de polipátridas (pessoas com mais de uma nacionalidade) e apátridas (pessoas sem nacionalidade). Assim, o filho de um italiano com uma japonesa, nascido no Brasil terá três nacionalidades, posto que a Itália e Japão adotam o "jus sanguinis", ao passo que o Brasil adota o "jus soli". a. Brasileiro nato. São considerados brasileiros natos os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; e os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. b. Brasileiro naturalizado. Os brasileiros naturalizados (nacionalidade derivada) são aqueles que adquirem a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; e também os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. c. Extradição. A extradição é uma medida de cooperação internacional em matéria penal que consiste na entrega de uma pessoa investigada, processada ou condenada por um ou mais crimes, ao país requerente,que tenha jurisdição e competência para processá-la e puni-la. d. Perda da Nacionalidade. É o ato pelo qual o brasileiro, nato ou naturalizado, perde a nacionalidade brasileira, após processo administrativo, em razão da aquisição de outra nacionalidade. De acordo com o artigo 12, § 4º, da Constituição Federal, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Assim, nos termos do artigo 12, § 4º, inciso II da Constituição Federal, combinado com os artigos 249 e 250 do Decreto nº 9.199/2017, o brasileiro que voluntariamente contrair outra nacionalidade, ou seja, em desacordo com as exceções previstas no texto constitucional, poderá ser objeto de procedimento administrativo de perda da nacionalidade brasileira. 4. Democracia semidireta ou participativa. A participação popular não se realiza apenas no período da eleição, mediante o voto, com a escolha dos representantes para os Poderes Legislativo e Executivo. A democracia brasileira é semidireta, ou seja, é uma democracia que mistura o caráter representativo, no qual a população elege seus representantes, com o caráter direto, no qual o povo pode se manifestar diretamente sobre determinados assuntos. A Constituição Federal de 1988 assegura aos cidadãos alguns mecanismos de participação popular, tais como o referendo, o plebiscito, a iniciativa popular, a iniciativa legislativa popular, entre outros. Assim, entre as eleições, o cidadão pode exercer a participação direta na vida política do país, através desses mecanismos. a. Plebiscito Ocorre quando uma ideia deve ser analisada ou uma decisão tomada pelo conjunto de eleitores. Isto é: os eleitores deverão se manifestar sobre uma ideia, sendo que esta virá por meio de uma pergunta que deve, posteriormente, tornar- se, obrigatoriamente, lei, quando os eleitores forem a favor de tal. Em regra, o plebiscito é convocado pelo legislativo (se nacional: no mínimo 1/3 de assinaturas de deputados ou senadores). Mas, a CF/88 prevê casos nos quais este é obrigatório, como no que tange a separação ou fusão de território. b. Referendo Ocorre quando já existe um projeto de lei aprovado pelo legislativo, ou seja: está apto a se tornar lei. Porém, só entrará em vigência se os eleitores o aprovarem. Para ser proposto, faz-se necessária a assinatura de no mínimo 1/3 de deputados ou senadores. c. Iniciativa popular. Os eleitores interferem diretamente na produção da lei, ao passo que um deles ou um grupo confecciona o texto de um projeto de lei ordinária ou complementar que gostaria que se tornasse de fato lei. Posteriormente, deve-se colher assinatura de, no plano nacional, no mínimo 1% do número de eleitores para assim enviá-la à votação no Congresso. Vale ressaltar que o Congresso não fica obrigado a aprovar o projeto de lei, todavia pela pressão popular há uma inclinação do legislativo à aprovação. d. Soberania popular. Consiste em um sistema de governo no qual todo o poder parte do povo. Assim, este conceito se contrapõe ao poder de forças externas ou divinas sobrepostas à vontade da população de um país. Apesar de representados por um governante, os cidadãos somente legitimam a governabilidade que reflita os seus anseios principais. 5. Direitos Políticos Os direitos políticos se referem a um conjunto de regras constitucionalmente fixadas, referentes à participação popular no processo político. Dizem, em outras palavras, à atuação do cidadão na vida pública de determinado país. Correspondem ao direito de sufrágio, em suas diversas manifestações, bem como a outros direitos de participação no processo político. Este conjunto de direitos varia conforme o país, e encontra-se intimamente vinculado ao regime político e sistemas eleitoral e partidário instituídos em cada estado. 6. Privação dos Direitos Políticos. Inicialmente, registra-se que, em regra, a Constituição Federal não permite, em nenhuma hipótese, a cassação dos direitos políticos. A norma tem por escopo evitar perseguições políticas e ideológicas, práticas presentes em outros momentos da história brasileira. Por outro lado, a privação definitiva denomina-se perda dos direitos políticos, enquanto a privação temporária é denominada de suspensão dos direitos. A matéria encontra-se prevista no art. 15 da Carta Magna: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II – incapacidade civil absoluta; III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. A Constituição não disciplina quais são os casos de perda e quais são os casos de suspensão. A doutrina majoritária entende que apenas a hipótese do inciso I configura perda dos direitos políticos. As demais representam causas de suspensão.
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