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MÓDULO 3 - PLANEJANDO LICITAÇÕES COM A PARTICIPAÇÃO DE MPES Introdução Módulo 3 Planejando licitações com a participação de MPEs No módulo anterior, você conheceu a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei 123/06) e alguns de seus normativos complementares especialmente direcionados às MPEs. Neste módulo, você conhecerá as três legislações que orientam todo o processo licitatório no Brasil. Naturalmente, apresentaremos essas legislações considerando sua aplicabilidade à contratação de MPEs nos processos de compras governamentais. Objetivos Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de: ● 1 ● 1 ● Identificar as determinações do Decreto 10.024/19 para a condução de licitações em modalidade de Pregão Eletrônico e sua aplicabilidade à realidade das MPES considerando as peculiaridades quanto à comprovação de regularidade fiscal a serem adotadas para as MPEs, além da possibilidade de realização de pregão presencial; ● 2 ● 2 ● Identificar o mecanismo de funcionamento da Cotação Eletrônica e sua aplicabilidade às MPEs; ● 3 ● 3 ● Identificar as recomendações da Lei 12.462/11 e do Decreto 7.581/11 para a condução de licitações sob o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC e suas peculiaridades de aplicação à participação de MPEs; ● 4 ● 4 ● Reconhecer os pontos específicos do Projeto de Lei 1292/1995, que se encontra em tramitação no Congresso Nacional e substituirá a Lei 8.666/93. Organização do módulo Este módulo está dividido em quatro tópicos. Observe seus conteúdos individualizados na sequência. A LEI DE LICITAÇÕES E SUAS PREVISÕES PARA A CONTRATAÇÃO DE MPES Neste primeiro tópico, você conhecerá as premissas apresentadas pela Lei 8.666/93 e sua aplicabilidade à realidade das MPEs brasileiras. Assim, o tópico destaca os itens aos quais o gestor público deve estar atento considerando a participação de MPEs nas compras realizadas por seu órgão. A lei de licitações e suas previsões para a contratação de MPEs Neste tópico, você conhecerá: ● bullet https://eadlms.sebrae.com.br/courses/novo-sebrae/cg2020/scormcontent/index.html# ● A legislação que rege as contratações públicas no Brasil (Lei 8.666/93) e sua aplicabilidade à realidade das MPEs brasileiras; ● bullet ● Os normativos excepcionais adotados em função do enfrentamento da pandemia Covid-19 e sua aplicabilidade às compras governamentais. No Brasil, a legislação básica que orienta a condução dos processos de compras governamentais é a Lei 8.666 / 93 (BRASIL, 1993), que institui normas para licitações e contratos de Administração Pública. Esta é uma norma de larga aplicação, pois estabelece as “normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ou seja: esta é a Lei que estrutura todo o sistema de licitações brasileiro. Atenção, gestor! Isso significa que mesmo as compras estaduais e municipais se submetem a esta legislação. Neste tópico, nosso propósito é apresentar a você, gestor, os principais pontos desta legislação considerando sua aplicação à participação das MPEs nas compras governamentais. É importante ressaltar que esta Lei deverá ser substituída em breve, pois há um Projeto de Lei em tramitação no Congresso Nacional. Este projeto será apresentado a você no Tópico 4 deste Módulo 3. Lembre-se de que, além da Lei 8.666/93, também se deve estar atento ao que determina a Lei Complementar nº 123/06, mais conhecida como Lei Geral (BRASIL, 2006) em seu Capítulo V (tratamento diferenciado para as MPEs), que você conheceu no Módulo 2 deste curso. A Lei 8.666/93 é uma das leis mais importantes para o Brasil. Ao considerar que ela rege todas as aquisições realizadas pelas administrações federais, estaduais e municipais, perceba que esta Lei determina como o Brasil pode gastar, estima-se, até 15% do seu PIB (SEBRAE, 2014). Assim, qualquer ponto que se precisa ou que se altera nesta legislação tem o potencial de gerar impactos financeiros muito expressivos. Especificamente sobre a participação de MPEs nas compras governamentais, a Lei 8.666/93 (BRASIL, 1993) determina, em seu Art. 5º A, que “as normas de licitações e contratos devem privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei”. Ou seja: é obrigatório adotar os benefícios que você conheceu nos módulos anteriores, que são específicos para MPEs e estão contemplados na Lei Complementar 123/2006 (BRASIL, 2006). Justamente por ser uma legislação norteadora de procedimentos de compras de forma ampla, a Lei 8.666/93 é a norma que estabelece as linhas gerais para atuação dos gestores públicos em suas compras. Todas as demais legislações brasileiras dialogam com a Lei 8.666/93, que é o normativo maior. Desde sua promulgação, no entanto, o cenário e a realidade das compras governamentais se alteraram muito no Brasil. Houve o surgimento das tecnologias de comunicação e sua aplicação às compras governamentais, houve adoção de mecanismos de transparência em diferentes esferas e mesmo algumas modalidades de licitação se tornaram, na prática, obsoletas. Por tudo isso, a Lei 8.666/93 tem sido objeto de análises que levaram à proposição e amadurecimento de um novo projeto de Lei que deverá, em breve, substituí-la. O que isso significa para o gestor público? ● bullet ● Quando a Lei 8.666/93 for substituída pelo projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, haverá novidades, inclusive, sobre os mecanismos de apoio às MPEs. Estes itens são apresentados na Unidade 4 deste módulo para que você já possa se familiarizar antecipadamente; ● bullet ● Ainda que se altere a principal Lei associada às compras governamentais no Brasil, a premissa de estabelecer tratamento diferenciado para as MPEs continuará em vigor, pois é amparada na Constituição Federal. Ou seja: a intenção de promover o tratamento diferenciado para as MPEs está amparada por uma norma maior e, independentemente da substituição da Lei 8.666/93, se manterá. Por fim, um lembrete importante: a Lei 8.666/93 é uma norma geral principal que rege as contratações públicas no Brasil, mas existem legislações posteriores que também impactam a atuação do gestor público. Um exemplo é a Lei 10.520/2002 (BRASIL, 2002), que instituiu o Pregão no Brasil. Além desta, existem normas específicas para o Pregão Eletrônico, Regime Diferenciado de Contratações, etc., mas, excepcionalmente, podem surgir outras normas que também incidam sobre o mesmo objeto. Foi o que aconteceu, por exemplo, durante a epidemia de Covid-19, que levou ao surgimento de uma série de normativos específicos para as contratações de insumos de saúde no Brasil. Observe este exemplo abaixo. Pensando na prática Em 2020, frente à epidemia mundial gerada pelo Coronavírus, a administração pública brasileira precisou instituir, emergencialmente, normas que permitissem tornar mais célere a contratação de insumos relacionados ao enfrentamento da pandemia. A primeira norma editada neste sentido, a Lei 13.979/20, “dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, responsável pelo surto de 2019” (BRASIL, 2020a). Tratava-se de uma medida emergencial com vigência limitada à duração da pandemia que admitia, por exemplo, dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços necessários para o enfrentamento da crise. Na sequência, foi editada a Medida provisória MP nº 961/20 (BRASIL, 2020c), que autorizou o pagamento antecipado nas licitações e contratos, adequou os limites de dispensa de licitação e ampliou o uso do RDC durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 06, de 20/03/20 (BRASIL, 2020d), que foi convertida na Lei 14.065/2020 em 06 de maio de 2020 (BRASIL, 2020f). A seguir, de forma complementar à Lei 13.979/20,em maio de 2020, promulgou-se a Emenda Constitucional Nº 106, que “Institui regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para enfrentamento de calamidade pública nacional decorrente de pandemia” (BRASIL, 2020b). No mesmo sentido, foi sancionada a Lei nº 13.987/20 (BRASIL, 2020e) que alterou a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, para autorizar, em caráter excepcional, durante o período de suspensão das aulas em razão de situação de emergência ou calamidade pública, a distribuição de gêneros alimentícios adquiridos com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) aos pais ou responsáveis dos estudantes das escolas públicas de educação básica. Essas experiências demonstram ao gestor público como situações extraordinárias, ainda que temporárias, podem alterar radicalmente a dinâmica das compras públicas. Fique atento! Ainda que a fiscalização ocorra somente no futuro, a recomendação dos órgãos de controle é clara: o gestor deve se ater às obrigações e possibilidades expressamente manifestas na legislação excepcional, pois a obrigação de prestar contas permanecerá. Em seu Acórdão nº 1335/2020, o TCU estabeleceu que “os processos de contratação relacionados ao enfrentamento da crise do novo coronavírus (Covid 19) devem ser instruídos com a devida motivação dos atos, por meio, no mínimo, de justificativas específicas acerca da necessidade da contratação e da quantidade dos bens ou serviços a serem contratados, com as respectivas memórias de cálculo e com a destinação a ser dada ao objeto contratado”, conforme art. 4º-E, § 1º da Lei 13.979/20 (BRASIL, 2020). Sobre os normativos citados acima, é importante ressaltar que foram editados para atender a uma excepcionalidade de saúde pública. O gestor público, inclusive, não pode fazer uso deste normativo para adquirir produtos ou serviços fora da ocorrência da pandemia, sob pena de punição em auditoria futura. E, além disso, os limites e condições estabelecidos nesses normativos de excepcionalidade deixam de valer imediatamente após a extinção de sua situação causadora (no caso, a pandemia por Corona). Contudo, a história mostra que ocasiões como esta podem ocorrer novamente. Por isso, é preciso que o gestor público fique atento ao Diário Oficial e aos meios formais de comunicação da administração pública. ATENÇÃO, GESTOR! Até o final de 2020 (prazo que pode vir a ser prorrogado), será permitido contratar obras e serviços por dispensa de licitação até o limite de R$100.000 (cem mil reais). Para a aquisição de bens, pode-se fazer a contratação por dispensa até o limite de R $50.000 (cinquenta mil reais). Lembre-se de que estes limites podem ser revistos (voltar aos valores anteriores ou ser prorrogados) e, assim, cabe ao gestor público acompanhar suas atualizações. O decreto do pregão eletrônico e suas previsões para a contratação de MPEs Neste tópico, você conhecerá: ● bullet ● As determinações do Decreto 10.024/19 para licitações em modalidade de pregão eletrônico e sua aplicabilidade à realidade das MPES; ● bullet ● As peculiaridades quanto à comprovação de regularidade fiscal a serem adotadas para as MPEs em pregões eletrônicos. Entre as legislações de referência para a participação das MPEs nas compras governamentais, destaca-se o Decreto 10.024/19 (BRASIL, 2019), conhecido como Decreto do Pregão eletrônico, que será nosso objeto de estudos neste tópico. Este Decreto regulamenta a licitação que ocorre na modalidade de pregão eletrônico e se aplica para aquisições de bens e serviços comuns, inclusive os de engenharia. No entanto, não se aplica à contratação de obras, locações imobiliárias e bens e serviços especiais (Art. 4º). Atenção! É obrigatório utilizar Pregão Eletrônico ou Dispensa Eletrônica para “aquisição de bens e contratação de serviços comuns pelos entes federativos com a utilização de recursos da União decorrentes de transferências voluntárias”, como convênios e contratos de repasse (Art. 1º, § 3º do Decreto 10.024/19). Além disso, a Instrução Normativa nº 206/2019 (BRASIL, 2019b) estabeleceu os prazos específicos para que os órgãos utilizem obrigatoriamente a modalidade de pregão eletrônico ou dispensa eletrônica para a execução de recursos da União oriundos de transferências voluntárias para aquisição de bens e serviços comuns. Observe: I - a partir da data de entrada em vigor desta Instrução Normativa, para os Estados, Distrito Federal e entidades da respectiva administração indireta; II - a partir de 3 de fevereiro de 2020, para os Municípios acima de 50.000 (cinquenta mil) habitantes e entidades da respectiva administração indireta; III - a partir de 6 de abril de 2020, para os Municípios entre 15.000 (quinze mil) e 50.000 (cinquenta mil) habitantes e entidades da respectiva administração indireta; e IV - a partir de 1º de junho de 2020, para os Municípios com menos de 15.000 (quinze mil) habitantes e entidades da respectiva administração indireta. Este decreto foi publicado ao final de 2019 e representou um ganho importante para os gestores públicos por promover maior transparência e economicidade nas compras governamentais. Sabe-se que a modalidade eletrônica é uma tendência incontornável e, por isso, esta norma é um marco para as compras realizadas por órgãos da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, para os quais seu uso é obrigatório. Atenção, gestor! O Decreto 10.024/2019 estabelece a obrigatoriedade de uso do pregão eletrônico para as contratações. No entanto, o gestor ainda pode realizar o pregão presencial tradicional caso justifique “a inviabilidade técnica ou a desvantagem para a administração na realização da forma eletrônica” (BRASIL, 2019, Art. 1º, § 4º). Assim, é importante saber que esta opção ainda se mantém disponível para o gestor público. É uma opção útil, por exemplo, para pequenos municípios que tenham dificuldade para estabelecer conexão com a internet (BRASIL, 2019). O Decreto 10.024/19 estabelece que as compras deverão ser realizadas no portal https://www.gov.br/compras/pt-br/ ou em outras ferramentas que utilizem os mesmos regramentos legais do Decreto. Para participar de compras no portal https://www.gov.br/compras/pt-br/ https://www.gov.br/compras/pt-br/, os concorrentes a fornecedor devem necessariamente ser previamente credenciados no SICAF. Estes sistemas serão apresentados em detalhes no próximo módulo deste curso. Além de definir o regramento para a realização dos Pregões, o Decreto 10.024/19 também estabelece (BRASIL, 2019): ● bullet ● Os procedimentos a serem adotados para os pregões; ● bullet ● As regras para condução do processo; ● bullet ● As orientações para estabelecer o planejamento da contratação; ● bullet ● As regras para publicação de aviso de edital; ● bullet ● As orientações para apresentação da proposta e dos documentos de habilitação dos licitantes; ● bullet ● Procedimentos para realizar abertura da sessão pública e para recebimento de lances dos licitantes; ● bullet ● Critérios e normas para julgamento e habilitação dos licitantes; ● bullet https://www.gov.br/compras/pt-br/ ● Orientações para recursos, adjudicação e homologação; ● bullet ● Como formalizar a contratação e estabelecer sanções, quando necessário. Assista agora a entrevista com o especialista sobre a importância do Decreto 10.024/19. Sobre a participação das MPEs, há um ponto, em especial, que deve ser observado pelo gestor que promove pregões eletrônicos. Trata-se de uma especificidade sobre os procedimentos de verificação para fins de habilitação dos fornecedores participantes no pregão. O QUE DIZ O DECRETO? Observe o que determina o Decreto 10.024/19 (BRASIL, 2019) sobre os procedimentos de verificação para os licitantes. Art. 43. A habilitação dos licitantes será verificada por meio do Sicaf, nos documentos por ele abrangidos, quando os procedimentos licitatórios forem realizados por órgãos ou entidades integrantes do Sisgou por aqueles que aderirem ao Sicaf. Na verdade, este mesmo Decreto 10.024/19 nos indica que: Art. 43. § 7º A comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte será exigida nos termos do disposto no art. 4º do Decreto nº 8.538, de 6 de outubro de 2015. Agora, sim! No Decreto 8.538/15 (BRASIL, 2015), a informação completa para o gestor: Art. 4º A comprovação de regularidade fiscal das microempresas e empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de contratação, e não como condição para participação na licitação. Ou seja: como norma geral, deve-se verificar a regularidade fiscal dos licitantes no Sicaf. No entanto, se houver MPEs entre as empresas licitantes, esta verificação só deve ocorrer para efeito de contratação e não como condicionante à sua participação. Além disso, este mesmo Decreto 8.538/15 (BRASIL, 2015) também estabelece que: ● bullet ● Caso haja alguma restrição na regularidade da MPE, deve-se conceder “prazo de cinco dias úteis, prorrogável por igual período, para a regularização da documentação, a realização do pagamento ou parcelamento do débito e a emissão de eventuais certidões negativas ou positivas com efeito de certidão negativa” (Art. 4º, § 1º). ● bullet ● Este prazo, por sinal, só será contado após a divulgação do resultado da fase de habilitação, em caso de pregão. Caso a MPE não consiga regularizar sua documentação no prazo admitido pelo Decreto 8.538/15, ela perderá o direito à contratação e o gestor público poderá convocar os licitantes remanescentes ou, então, revogar a licitação. Além das normas citadas acima, a Portaria 306/01 (BRASIL, 2001) obriga o uso de um sistema de Cotação Eletrônica nas aquisições de bens de pequeno valor realizadas por órgãos que compõem o SISG. Esse modelo de contratação, que atualmente utiliza o Comprasnet-SIASG, permite que haja alguma concorrência mesmo não seguindo os ritos tradicionais de uma licitação. Além disso, a Cotação Eletrônica permite a participação de qualquer empresa, inclusive MEIs, e, em alguns casos, até de pessoas físicas. Os interessados em participar da seleção devem estar cadastrados no SICAF, no nível I de credenciamento. Como as contratações feitas por esse sistema têm um valor reduzido, os critérios para a contratação também podem ser simplificados, inclusive as exigências de capacidade técnica, o que possibilita que o gestor prestigie a participação de pequenos negócios sediados localmente fomentando da economia local, conforme estabelece o § 3º do artigo 48 da LC 123/06 (BRASIL, 2006). O procedimento se assemelha ao de um pregão eletrônico, em que, depois de avaliadas as propostas iniciais, os participantes poderão dar lances abaixo da sua oferta inicial. Gestor, fique atento! A Secretaria de Gestão do Ministério da Economia está trabalhando no aperfeiçoamento da Norma da Cotação Eletrônica, que se chamará Dispensa Eletrônica. No futuro a ideia é lançar também uma espécie de Market Place. O Decreto do RDC e suas previsões para a contratação de MPEs Neste tópico, você conhecerá: ● bullet ● As recomendações da Lei 12.462/11 e do Decreto 7.581/11 para a condução de licitações sob o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC; ● bullet ● A obrigatoriedade de exigir declaração de enquadramento para as MPEs em licitações sob o RDC; ● bullet ● As normas para estabelecimento de preferência e de desempate para MPEs em licitações sob o RDC; ● bullet ● A vedação de acréscimo de até 30% no valor exigido para qualificação econômico financeira de consórcios integralmente compostos por MPEs em licitações sob o RDC. Além da Lei 8.666/93 (BRASIL, 1993), que orienta a condução dos processos de compras governamentais, da Lei 123/06, que estabeleceu o tratamento diferenciado para os pequenos negócios nas aquisições públicas, e do Decreto 10.024/19, que regulamenta o pregão eletrônico, há ainda uma terceira Lei, e seu respectivo Decreto, a serem observados pelo gestor público para promover a participação das MPEs nas compras governamentais. Trata-se da Lei 12.462/11 (BRASIL, 2011a), que institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC, e do Decreto 7.581/11 (BRASIL, 2011B), que regulamenta o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC. Neste tópico, este será nosso foco. O Regime Diferenciado de Contratações (RDC) foi instituído no Brasil em 2011, justamente pela Lei 12.462/11 (BRASIL, 2011a). Seu propósito inicial era estabelecer um Regime Diferenciado para as contratações públicas de forma ágil para a aquisição dos bens e serviços necessários para a realização de três grandes eventos nacionais: Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, a Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associação e a Copa do Mundo Fifa 2014. Posteriormente, no entanto, outras situações foram admitidas no contexto do RDC por Leis posteriores. Em 2020, havia dez casos estabelecidos para aplicação do RDC pelo gestor público: ● bullet ● Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016; ● bullet ● Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associação - Fifa 2013 e Copa do Mundo Fifa 2014; ● bullet ● Obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os aeroportos das capitais dos Estados da Federação distantes até 350 km (trezentos e cinquenta quilômetros) das cidades sedes dos mundiais; ● bullet ● Ações integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); ● bullet ● Obras e serviços de engenharia no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS; ● bullet ● Obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento socioeducativo; ● bullet ● Ações no âmbito da Segurança Pública; ● bullet ● Obras e serviços de engenharia, relacionadas a melhorias na mobilidade urbana ou ampliação de infraestrutura logística; ● bullet ● Contratos de locação de bens móveis e imóveis, nos quais o locador realiza prévia aquisição, construção ou reforma substancial, com ou sem aparelhamento de bens, por si mesmo ou por terceiros, do bem especificado pela administração; ● bullet ● Ações em órgãos e entidades dedicados à ciência, à tecnologia e à inovação. Atenção, gestor! Apesar de ter sido criado com a intenção de ser um regime temporário e de excepcionalidade, nos últimos anos, o RDC tem sido adotado para novos casos. A MP 961/20 (BRASIL, 2020a), convertida na Lei 14.065/2020 (BRASIL, 2020c), por exemplo, autorizou a utilização do RDC durante o estado de calamidade pública da pandemia do Coronavírus reconhecido pelo Decreto Legislativo n 06, de 20 de março de 2020 (BRASIL, 2020b), para licitações e contratações de quaisquer obras, serviços, compras, alienações e locações. Por isso, é importante estar atento às possíveis ampliações nesta lista de situações às quais se aplica. Peculiaridades Em relação à participação das MPEs nas licitações realizadas sob o RDC, há três peculiaridades às quais o gestor deverá se atentar. Vejamos cada uma em detalhes. 1. Obrigatoriedade de exigir declaração de enquadramento para as MPEs Em seu Art. 16., o Decreto Legislativo nº 7.581/11 (BRASIL, 2011b) apresenta uma peculiaridade a ser atendida pelas MPEs no momento de apresentação de propostas ou lances em uma licitação. Para todas as empresas, este artigo estabelece a obrigação de apresentar declaração de atendimento aos requisitos da licitação. Para as MPEs, no entanto, há uma exigência adicional: apresentar autodeclaração de seu enquadramento como MPE. Mas atenção! O Decreto prevê, ainda, que “nas licitações sob a forma eletrônica, constará do sistema a opção para apresentação pelos licitantes das declarações de que trata este artigo” (BRASIL, 2011b, Art. 16., § 2º). 2. Preferência e desempate para MPEs O Artigo 38 do Decreto 7.581/11 (BRASIL, 2011b) também aborda o que deve ocorrer em caso de empate em licitações conduzidas sob o RDC, que recupera a mesma definiçãoda Lei Geral da MPE para definir que empate ocorre nos casos em que a MPE apresente proposta em valor igual ou até 10% superior ao valor da proposta melhor classificada. Nestes casos, “a microempresa ou empresa de pequeno porte que apresentou proposta mais vantajosa poderá apresentar nova proposta de preço inferior à proposta mais bem classificada” (BRASIL, 2011b, Art. 38, § 1). Mas atenção! Caso a MPE não apresente nova proposta, as demais MPEs que detenham propostas em valor igual ou até 10% superior à proposta mais bem classificada poderão exercer o direito. Assim, lembre-se de conceder a todas as MPEs essa oportunidade! 3. Vedação de acréscimo de até 30% no valor exigido para qualificação econômico financeira de consórcios integralmente compostos por MPEs O Decreto 7.581/11 (BRASIL, 2011b) admite que haja participação de empresas em formato de consórcio em licitações sob o RDC. No entanto, estipula-se uma norma para a comprovação de qualificação econômico-financeira dos licitantes que afeta todos os consórcios, exceto aqueles formados exclusivamente por MPEs. Para todos os consórcios, deve-se exigir “apresentação do somatório dos valores de cada consorciado, na proporção de sua respectiva participação, podendo a administração pública estabelecer, para o consórcio, um acréscimo de até trinta por cento dos valores exigidos para licitante individual” (BRASIL, 2011b, Art. 51., IV). Ou seja: o gestor pode exigir que os consórcios apresentem comprovação de valores até 30% superior ao exigido para licitantes individuais para comprovar sua qualificação econômico-financeira. Mas atenção! Este acréscimo de 30% não pode ser aplicado a consórcios formados exclusivamente por MPEs. Nestes casos, deve-se manter o valor original (BRASIL, 2011b, § 6º do Art. 51). UMA INFORMAÇÃO FINAL PARA VOCÊ, GESTOR! O sistema de RDC do Governo Federal já está completamente preparado para aplicar a subcontratação de MPEs prevista na Lei Geral da MPEs.
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