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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas Bacharelado em Psicologia Analise do Filme O Solista O SOLISTA Baseado em fatos reais, o filme O Solista narra uma história vivenciada por Nathaniel Anthony Ayres, e Steve Lopez. Nathaniel é um homem com extremas habilidades musicais e grande admirador de Beethoven, que em sua época foi um dos poucos homens negros a serem aceitos na conceituada escola Juilliard School, aonde apos ingressar no curso de música iniciou-se a manifestação recorrente de comportamentos psicóticos, o qual resultou no abandono dos estudos, afastamento de seus familiares e perda de bens materiais, como o apartamento optando então por viver nas ruas. Já Steve Lopez é um famoso colunista em busca de uma nova matéria, trabalhando no jornal LA Times que esta enfrentando grandes quedas nas vendas de jornais. Em um dia qualquer, Steve encontrou Nathaniel nas ruas de LA tocando seu violino de duas cordas. O fato de estar tocando um violino de duas cordas não foi o que mais te chamou atenção se sim sua relação profunda com a música. Durante uma conversa confusa, Steve descobre que Nathaniel foi aluno da escola Julliard, e então surgi o interesse de investigar e se aprofundar melhor na história de Nathaniel. O jornalista resolve pesquisar mais detalhes sobre a vida do músico com o objetivo de contar a história em sua coluna no jornal. O seu desejo de entender como alguém talentoso, que estudou em uma escola de música conceituada, perdeu tudo e se tornou ua pessoa em situação de rua. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO A esquizofrenia é a principal forma de psicose ( Dalgalarrondo, 2008) e afetando 1% da população, desencadeando-se de maneira imprevista. As alucinações vivas por Nathaniel são auditivas. Segundo Dalgalarrondo (2008), as alucinações auditivas podem ser, como fortalezas entre alucinações auditivas ou complexas, correspondendo, respectivamente, a zumbidos ou a vozes que falam com o sujeito e podem manifestar-se de forma imperativa e assustadora. A relação entre os personagens desenvolve-se pelo som do violino tocado por Nathaniel, que toca de maneira sublime com um instrumento de apenas duas cordas. Eles conversam e, entre alucinações auditivas, Nathaniel diz que estudou na Julliard School, uma conceituada escola de arte. Steve se interessa por sua história de vida e vê a possibilidade de fazer uma matéria. O jornalista começa, então, uma pesquisa sobre a história de Nathaniel. Segundo os Critérios Diagnósticos para Esquizofrenia do DSM – IV , a pessoa deve apresentar no mínimo dois dos critérios durante o período de um mês para que se considere o diagnóstico. Nathaniel apresentou, segundo o, as alucinações, com o Acordo de Delírios, os Critérios 2 e os Critérios Auditivos, referindo -se ao Critério 2 , e pensou que não poderia um tratamento por medo delirante das consequências, Referente ao critério 1. Já o isolamento social de Nathaniel e seu rosto pouco expressivo podem ser considerados como critério 5 . É interessante destacar que o filme também apresenta uma intensidade emocional com que Nathaniel se dedica à música. Esta intensidade emocional, entretanto, é dirigida para sua produção musical e não sua relação com o mundo, parecendo contribuir com sua conexão e distanciamento pessoal. Nathaniel consegue produzir quando está em crise, porém, essa é vivida por ele de maneira tão e fragmentada que parece contribuir para que ele não seja tão intenso quanto à realidade que o cerca. Segundo Dalgalarrondo (2008) , o embotamento afetivo é perceptível através da postura, atitude e expressão do paciente. É possível considerar que Nathaniel apresenta embotamento afetivo, que é demonstrado através de seu olhar distante e muitas vezes apático, tendo um rosto inexpressivo, com pouco com contato visual e linguagem reduzida. Além disso há presença de volição que se denomina pela incapacidade de iniciar e persistir em atividades relacionadas há um objetivo. Nathaniel também fica por longos períodos sentado e demonstra pouco interesse nas atividades sociais. Na obra cinematográfica mostra o comportamento do personagem totalmente desorganizado, acarretando nas dificuldades no desempenho de atividades diárias. Como citado logo acima, a música é um elemento crucial na sua relação com o personagem e o desenrolar da obra. Durante todo o percurso da vida de Nathaniel, a música sempre esteve com ele a partir do momento em que o mesmo começa a se dedicar ao violoncelo, na qual foi o seu primeiro instrumento. Ao decorrer do filme, as cenas deixam claras que a música clássica se torna um fator tão importante que se estende ao ponto de influenciar nas suas decisões, entretanto, ocorre o primeiro surto da esquizofrenia em um ensaio de orquestra da escola de artes, passando a não perceber o que é real e o que são as alucinações, passando a escutar vozes e consequentemente distorcendo a sua percepção da realidade e tendo uma desorganização de pensamentos, mudando toda a sua trajetória de vida. Todavia, o protagonista fez da música uma relação de sustentação, visto que “na esquizofrenia não há sustentação do eu” (Generoso, 2008), de tal forma que a música migra entre a psiquê do sujeito, sendo capaz de criar uma ponte de sustentação presente nos sons, nos acordes, nas vibrações, nas harmonias e melodias, auxiliando e reagrupando suas partes fragmentadas. No filme mostra como essa relação se mantém firme, obtendo uma conexão profunda e criando um equilíbrio na qual permite o sujeito, no caso do Nathaniel, a suportar a sua condição adoecida. Com base na entrega do filme à música sobre o personagem, é indispensável discutir sobre a importância dos efeitos em que a música pode causar em um indivíduo com transtornos mentais, especificamente na esquizofrenia. A música é uma das formas de relação do homem com o seu mundo, com seus pares e consigo. No contexto cultural o homem constrói os significados que atribui aos sons. Ela é uma das artes mais antigas, até mesma sendo a antecessora da própria linguagem. Os sons para os seres humanos vão além de percepções auditivas, é através deles que o homem cria diferentes sentidos e significados sobre a sua relação com o mundo (Amigo, 2006). Ao percorrer da história, a música vem sendo utilizada de múltiplas funções e para diversos fins, seja como forma de expressar, comunicação, interação, fonte de meditação, lazer, de renda ou no auxílio de processo de prevenção, restauração e reabilitação de saúde. O som faz parte da vida, está no ambiente, no movimento; mas a música em si é uma criação humana, sendo uma ação do homem sobre o mundo: “ Ela se realiza como uma forma do homem entender, organizar, classificar, interagir, manipular, ser manipulado, construir, desconstruir, enfim, uma forma de se relacionar com o mundo “ (Sampaio, 2005). Ademais, pode trazer várias representações para o indivíduo, inclusive lembranças, podendo relembrar as suas emoções carregadas de sentimentos e se reconectar com aspectos da sua própria história, dando a possibilidade de desenvolver novas sensações e impressões sobre aquela recordação. De acordo com Bruscia (2000): “Quando cantamos ou tocamos um instrumento somos chamados a conectar nossos ouvidos com nossas mentes, nossos olhos com nossas mãos, nossos pensamentos com nossos sentimentos […] experienciamos o passado com o presente “(p.74). Dessa forma, é possível notar o quão a música é capaz de modificar estados psíquicos e físicos de diferentes níveis. Isso ocorre porque diferente dos outros sons, há um aproveitamento de frequência vibratória harmônica, com diferente tonalidade, dinâmica e duração . De acordo com Areias (2016) o efeito da música consiste em estimular as células cerebrais, aumentando o nível de serotonina e dessa forma melhorar o humor ou a disposição. O efeito, tendo o prazer, pode ser diferente,provocando excitação oi acalmia, conforme o tipo de música e o ambiente criado. Na década de 60, alguns objetivos comuns da música como ferramenta terapêutica estavam relacionadas a aliviar tensões, estabelecer ou restabelecer relações interpessoais e melhorar a autoestima através do autoconhecimento. Além disso, era considerado por alguns como um recurso de comunicação para pacientes psicóticos, dada as suas limitações de comunicação verbal (Gaston,1982). A música possui um papel fundamental também na capacidade de transcendência l, promovendo uma integração e fortalecendo o self, também chamado de autoconceito e de noção do eu. Sendo assim, a música utilizada como recurso terapêutico aliada com muito amor e dedicação ao próximo se prova um recurso de grande potencial na promoção da saúde mental (Ramalho & Ramalho, 2017). Em base nisso, na visão analítica da teoria de Jung (2002), diz assim: “É certo que a música, bem como o drama tem a ver com o inconsciente coletivo; […] De certa forma, a música expressa o movimento dos sentimentos (ou valores emocionais) que acompanham os processos inconscientes. O que acontece no inconsciente coletivo é por sua natureza arquetípico e arquétipo têm sempre uma qualidade numinosa que se manifesta na acentuação emocional. A música expressa em sons o que as fantasias e visões exprimem em imagens visuais (p.150)” Tendo em vista essa concepção de Jung, na terapia com a música o sujeito é capaz de vivenciar um momento de bem-estar intenso, expressão facial de satisfação, qualificação de expressão corporal e, como resultado, diminuição dos sintomas de sofrimento. A música, então propaga uma influência psicológica positiva na qual possibilita o paciente a expressar suas emoções. Portanto, a música é um instrumento terapêutico complementar, capaz de promover um ambiente mais tranquilo e acolhedor, além de propiciar relaxamento, entrega e escuta. A utilização da música persiste em resultados positivos por ser introduzida no planejamento junto com outras medidas terapêuticas. Essa ferramenta possibilita uma reflexão interna no indivíduo, acessando áreas desconhecidas no inconsciente. Nos transtornos esquizofrênicos quando se possibilita a expressão através de instrumentos musicais, a concretude desses objetos pode favorecer o contato com a realidade, podendo provocar uma maior adesão ao tratamento e melhorar os sintomas negativos. As técnicas receptivas do tratamento com música melhoram as alucinações. Gomes (2015) relata que a música melhora o estado holístico do paciente, reduzindo os sintomas negativos e melhorando as aptidões sociais. Nesse caso, a música ajuda a entrar na interioridade do ser e descobrir caminhos de comunicação, uma vez que uma pessoa esquizofrênica tende a ficar presa no seu mundo particular. Segundo de Moura e de Sampaio Vianna (1984): “O esquizofrênico, por meio da produção de sons organizados, começa a expressar algo da realidade interna que constitui seu modelo de mundo particular e por isto aparentemente caótico, relacionando-se e comunicando-se através da linguagem musical. Cabe ao terapeuta auxiliar o paciente a tornar explícitas estas emoções e sentimentos, trazendo para a linguagem verbal o que estava implícito tanto nas manifestações musicais quanto em seus comentários, o que dará ao paciente uma ampliação de seu leque de alternativas e uma possibilidade de modificação de seu modelo patológico.” (p.178). Inferere-se, portanto, o filme “O Solista” mostra como Nathaniel se mergulha dentro da música quando toca o seu instrumento, tendo um ponto de equilíbrio e calmaria no seu estado físico e psíquico, dando ele um suporte e uma conexão interior tão profunda na qual ele se dispersa da sua realidade ao seu redor. Além disso é válido mencionar que a amizade entre o personagem com o jornalista foi um outro ponto crucial no seu estado psíquico, ajudando- o na sua interação e no seu comportamento.
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