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OPERACIONALIZAÇÃO DO TRÂNSITO NO ÂMBITO MUNICIPAL E ESTADUAL AULA 4 Profª Luiza Marilda Pacheco Castagno Simonelli 2 CONVERSA INICIAL A Operacionalização do Trânsito no Município A redução de velocidade em vias urbanas: Áreas Calmas e Vias Calmas, tendências de cidades para pessoas. Objetivos da aula para se aferir conhecimento: • Identificar os estágios para a municipalização do trânsito. • Reconhecer os principais modais do meio urbano e espaços públicos. • Reconhecer a Infraestrutura municipal: vias públicas, ciclovias, outros. • A educação para o trânsito no município. • A fiscalização de trânsito no município. TEMA 1 – OS ESTÁGIOS PARA A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO A Constituição de 1988 trouxe, em seu art. 30, inciso VIII, as atribuições dos municípios especialmente de promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano (Brasil, 1988). O legislador, quando do advento do Código de Trânsito, em 1997, debruçou-se n estudo de um possível organismo que contemplasse a totalidade das questões de trânsito, transporte e mobilidade segura. Para tanto, foi essencial a criação do Sistema Nacional de Trânsito (SNT) no qual todos os entes da Federação desempenhassem suas tarefas, sobretudo, para aproximar o cidadão dessas demandas e vice-versa, especialmente, para que os agentes públicos também tivessem respostas diretamente para as pessoas. Com isso, o CTB/97 elencou o município como uma das partes no âmbito do SNT e determinou que os órgãos locais fossem sendo criados a partir da publicação da Lei n. 9.503/1997. Assim, surgiu a figura da municipalização. O legislador definiu o SNT como o conjunto de órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, tendo por finalidade o exercício das atividades de planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores, educação, engenharia, operação do sistema viário, 3 policiamento, fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e aplicação de penalidades (Brasil, 1997). Os principais objetivos do SNT foram destacados da seguinte forma: (i) estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento; (ii) fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das atividades de trânsito; (iii) estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema (Brasil, 1997). Note-se que parte dos objetivos a serem alcançados permeiam as questões locais, como fluidez, educação, defesa ambiental e, por consequência, a integração aos Sistema. Abre-se, assim, a obrigatoriedade de tratar dessas questões e pertencer-se delas, por meio da municipalização do trânsito. Neste curso, já tratamos das obrigações do Município para garantir o trânsito eficiente e a mobilidade segura e, de forma breve, elencamos as obrigações locais, trazidas no CTB/97. Todavia, muitas outras questões são tratadas nos municípios, além da parada, circulação e estacionamentos. É importante ressaltar que a municipalização do trânsito não é uma alternativa, é uma obrigação trazida no CTB, desde 1997. Já tratamos, também, dessa questão, na qual destacamos as ressalvas de Rizzardo (2010, p. 98), sobre as discussões em torno das obrigações que passaram a ser de responsabilidade de cada município e a capacidade de arcar com as demandas trazidas por essa obrigação da Lei. A Resolução 560 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) elencou os estágios pelos quais devem passar as ações que têm por objetivo municipalizar o trânsito (DENATRAN, 2019). Primeiramente, o prefeito deve enviar à Câmara de Vereadores a mensagem expondo os motivos para a criação do Órgão de Trânsito Municipal, assim como a criação da estrutura necessária da Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI). As orientações do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), órgão executivo de trânsito da União, têm demonstrado que não há necessidade de criação de secretarias de trânsito, mas, sim, de criar em lei um departamento ou divisão e aproveitar a estrutura já existente, no âmbito de outro órgão da cris Highlight cris Highlight 4 administração municipal, como a secretaria de obras ou meio ambiente, por exemplo. Evidentemente que o setor que venha a assumir as funções de trânsito, no município, deve seguir o disposto na Resolução 560 do CONTRAN. Há que se ter evidente de que a criação do Órgão de Trânsito necessita contemplar: I- engenharia de tráfego; II - fiscalização e operação de trânsito; III - educação de trânsito; IV - coleta, controle e análise estatística de trânsito. É essencial que a população participe desse momento de elaboração do Projeto de Lei a ser enviado à Casa de Leis, pois os efeitos do órgão a ser criado devem ser para cuidar da vida das pessoas, reduzir mortes e feridos em ocorrências de trânsito. Uma vez cumpridas as etapas da criação do órgão executivo municipal e a JARI, o município encaminhará ao respectivo Conselho Estadual de Trânsito (CETRAN) todos os documentos que identifiquem os responsáveis nomeados para desempenhar cada função, endereços e regimento interno. Com isso, o CETRAN fará a inspeção técnica ao órgão municipal com o objetivo de verificar se, efetivamente, todas exigências legais estão cumpridas. Estando regulares os documentos e as estruturas necessárias, o CETRAN enviará ao DENATRAN a Certificação de Conformidade do Município. A referida Certificação de Conformidade, recebida pelo DENATRAN, será publicada no Diário Oficial da União (DOU) e será expedida Portaria, sendo enviada ao CETRAN dando notícia da integração do município SNT. O grande desafio dos gestores locais é gerir o trânsito de forma transversal e intersetorial de maneira que, ao planejar a cidade, se contemplem todas as pessoas e seus modais. Ao municipalizar as questões de trânsito, é preciso um pertencimento coletivo das resoluções de problemas, vencer demandas legais é assumir um protagonismo plural nos meios urbanos e nos espaços públicos. A Quadro 1, a seguir, demonstra, resumidamente, os estágios para a municipalização do trânsito. 5 Quadro 1 – Estágios para a municipalização do trânsito TEMA 2 – O MEIO URBANO PLANEJADO, MODAIS E OS ESPAÇOS PÚBLICOS Há muitos anos, pesquisadores se debruçam sobre o estudo da mobilidade e os seus efeitos, especialmente, sobre como os deslocamentos são tratados quando da elaboração do planejamento urbano, se contemplam ou não a possibilidade de escolha e quais modais as pessoas utilizarão. Essa é uma demanda mundial, vista a motorização das cidades. Silva (2012) fulcrou o seu entendimento sobre o planejamento de cidades, fazendo um resgate dos momentos históricos das funções desse planejamento. Salienta o autor que, inicialmente, havia uma grande preocupação com o desenho, com o traçado da cidade, existia uma busca pela estética, pois se vislumbravam grandes edificações em partes nobres das cidades. Depois, aflorou a distribuição das edificações e a preocupação com a economia e a arquitetura. Mais tarde, se concebeu a ideia de plano integrado, com foco nos campos físicos, social e administrativo. Notadamente, adveio a Constituição O prefeito deve enviar à Câmara de Vereadores a mensagem expondo os motivos para a criação do Órgão de Trânsito JARI. Necessita comtemplar: I – engenharia de tráfego; II – fiscalização e operação de trânsito; III – educação de trânsito;IV – coleta, controle e análise estatística de trânsito. Em seguida, o município encaminhará ao respectivo Conselho Estadual de Trânsito – CETRAN, todos os documentos de reconhecimento do órgão. O CETRAN fará a inspeção técnica ao órgão municipal, com o objetivo de verificar se, efetivamente, todas as exigências legais estão cumpridas. O CETRAN enviará ao DENATRAN a certificação de conformidade do município e na sequência publicará no DOU. O DENATRAN expedirá portaria e a enviará ao CETRAN, dando notícia da integração do município ao Sistema Nacional de Trânsito – SNT. 6 Federal de 1988 e desvelou a principal função do planejamento urbano, sendo essencial o desenvolvimento social da cidade e o bem-estar das pessoas. Maricato (2000, p. 48) afirma que planejamento é competência do Estado e este é a expressão das classes dominantes, por isso, decorrem as impossibilidades de planejamentos democráticos e igualitários. Em se tratando de planejamento, é importante salientar que a ausência de infraestrutura adequada também afasta certos modais da circulação dos espaços públicos, como bicicletas e pedestres, vistos os poucos investimentos em ciclovias e calçadas. Os gestores públicos precisam rever planos diretores, planejamentos urbanos e leis de zoneamento. Espaços públicos devem ser ocupados por pessoas e não por intermináveis pontos de lentidão e congestionamento, por conta de milhões e milhões de veículos nas cidades. Ainda assim, pessoas consomem horas, períodos inteiros em trânsito, em filas intermináveis, em congestionamentos de centenas de quilômetros, que levam à reflexão sobre qual a maneira mais eficiente de locomoção, qual modal poderia tirar a sensação de perda de tempo ao transitar. Uma das alternativas seria o transporte coletivo. Em que pese, os efeitos benéficos da indústria automobilística para o crescimento econômico, o consumo de veículos nas cidades, passou a ser um dos elementos que dificultou e dificulta o bem-estar das pessoas, que, ao se deslocarem, enfrentam longos congestionamentos em vias públicas, causando transtornos físicos e emocionais. Segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP, 2017), entre 2015 e 2016, 8,2% de pessoas deixaram de circular por meio de ônibus no Brasil, ou seja, 3 milhões de pessoas passaram a se deslocar de outros modos. Para a compreensão do comprometimento da mobilidade, dos desgastes físicos e até emocionais da população, é preciso saber que 54,52% da frota do Brasil são de veículos individuais e 22,62% são de motocicletas, sendo apenas 0,63% de ônibus (Brasil, 2017). O Rio de Janeiro vem tentando se notabilizar em mobilidade urbana, apostando em modais alternativos, como a bicicleta, e incentivando a caminhada. Em artigo publicado na revista número 35/2013 da ANTP, o engenheiro e secretário municipal dos Transportes do Rio de Janeiro, ao analisar a implantação do sistema BRT na capital fluminense, salientou que reestruturar cris Highlight cris Highlight 7 a rede de ônibus com base em corredores BRT, desde que integrados ao sistema metroviário, constitui-se em ótima alternativa para cidades (ANTP, 2013). TEMA 3 – A INFRAESTRUTURA DO MUNICÍPIO A infraestrutura de uma cidade é um conjunto de aparatos urbanos que tem por objetivo facilitar a vida das pessoas. Serviços públicos fazem parte da infraestrutura, como a rede viária, transportes públicos e espaços públicos. Estes todos estão inseridos no trânsito das cidades. Afinal, qual a definição sobre trânsito é trazida pelo CTB? “Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada estacionamentos e operação de carga e descarga” (Brasil, 1997). Esta é a redação do parágrafo 1º, do art. 1º, do atual Código de Trânsito Brasileiro e, por certo, é uma definição técnica bastante ampla que inclui trânsito como local pacificado no qual todos convivem. Da maneira ampliada, José Afonso da Silva (2012, p.197) define via urbana como espaço destinado à circulação de veículos e pedestres ou como logradouro público destinado à circulação de veículos e pedestres. Perpassando os conceitos estudados, trânsito é o direito de circulação em vias públicas e privadas, respeitadas as normas de convivência, de cidadania e de compartilhamento. De modo geral, a infraestrutura de uma cidade é pensada tecnicamente pelas engenharias e pela arquitetura, no entanto, os planejadores, os urbanistas, já dividem essa tarefa com áreas voltadas para os estudos das Ciência Humanas. De tantos desafios ao gestor local, a nova modelagem de uma cidade para pessoas carece de diversos seguimentos pensando juntos, especialmente pela escassez de recursos para grandes obras viárias. Ferraz (2012, p. 31) afirma que a segurança viária é uma questão multidisciplinar, exigindo a participação de profissionais de diferentes áreas: Engenharia, Educação, Polícia, Direito, Medicina, Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Ciências Sociais, Urbanismo, Comunicação etc. Um exemplo da multidisciplinaridade em assuntos relativos a trânsito foi a instituição do Projeto Vida no Trânsito, concebido pela Organização das cris Highlight cris Highlight cris Highlight 8 Nações Unidas (ONU), notadamente pelo número de mortes em ocorrências em trânsito nos últimos anos, demandando ações de diversas áreas para enfrentar a questão. É certo que a infraestrutura das cidades em muito contribui para um trânsito saudável, no entanto, a realidade das metrópoles brasileira não é nada animador, especialmente as cidades que transcendem rodovias e o tráfego de veículos pesados é o vilão em casos de ocorrências com mortes e feridos. O site da empresa Volvo traz informações no Atlas de Acidentalidade de 2018, com os seguintes dados ranking com os 06 piores trechos de 10 quilômetros de todas as rodovias federais com maior acidentalidade em 2017. Ocupando as 1ª e 5ª posições estão os trechos do km 204 ao km 213 (BR 101) e do km 0 ao km 9 (BR 282), localizados na Região Metropolitana da grande Florianópolis, em Santa Catarina. As demais posições são ocupadas por trechos localizados nos Estados do Espírito Santo, São Paulo, Pará e Paraná. Entre as principais causas de acidentes nesses trechos estão: falta de atenção à condução, velocidade incompatível, falta de atenção do pedestre e ultrapassagem indevida (Volvo, 2018). Há que se destacar, também, a função da arquitetura em contemplar cidades para pessoas. Harvey (1989) salienta a importância da arquitetura para definir a espacialização nos projetos urbanos, com o sentido maior desses espaços para práticas sociais. O autor consolida o entendimento de que as cidades precisam trazer à luz a figura humana e dar sentido aos espaços públicos, com o propósito de tais lugares serem ocupados por pessoas. Aos profissionais de engenharia cabe projetar, executar e manter vias para todos os modais de transporte, observando pontos específicos como a geometria, pistas de rolamento, sinalização, como também fazer os estudos dos dados estatísticos, implementação de medidas para redução de acidentes, entre outros (Ferraz, 2012, p. 31). É o caso da implantação da Área Calma, em Curitiba, como alternativa para reduzir o número de mortes e feridos no perímetro urbano dessa cidade. A fundamentação para a implantação da área calma se deu por meio da edição do decreto municipal n. 871/2015 (Curitiba, 2015). Entende-se por Área Calma, o projeto viário de região delimitada no centro da Cidade de Curitiba que tem por objetivo além da regulamentação da velocidade máxima em 40 km/h, criar um ambiente de convivência entre motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres (Curitiba, 2015). cris Highlight 9 Segundo o site Vá de Bike, a partir de janeirode 2015, a cidade de São Paulo estendeu, significativamente, a sua malha cicloviária e, aos finais de semana, passou a fechar a Avenida Paulista para a circulação de veículos, circulando somente bicicletas e pedestres. TEMA 4 – A EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO NO MUNICÍPIO A constante afirmação de que a educação deve ser contemplada pelo poder público e pela sociedade de forma plena, como também, e de que é a única alternativa para dias melhores não foge à regra quando o assunto é trânsito eficiente e mobilidade segura. Para Rozestraten (2004), o educador de trânsito deve trabalhar em duas áreas: a do conhecimento, para que os alunos saibam as regras de trânsito e seus significados; como também a do comportamento, da ação, do fazer, na qual o aluno-aprendiz demonstra o que aprendeu e se compreendeu. Porém, há algumas dificuldades que devem ser vencidas para que, de fato e de direito, a educação ocorra em instituições de ensino públicas ou privadas, plenamente. Uma das dificuldades é a legislação brasileira sobre o assunto, que é vasta, porém, não tão assertiva quanto a obrigatoriedade em ações e resultados. A Constituição Federal (Brasil, 1988) inaugurou novas discussões sobre direitos e garantias fundamentais em todos os seguimentos. Tratando-se de educação, a CF/1988 destacou, em capítulo próprio, o artigo 205, que assegura que todos têm direito à educação, à cidadania, recaindo sobre a responsabilidade do Estado tais garantias. Quase uma década mais tarde, em 1997, o Código de Trânsito Brasileiro (Brasil, 1997) passa a fazer parte do ordenamento jurídico, como o código cidadão, vista a Nova República e a perspectiva de a Carta do Brasil ter também trazido em seu bojo direitos e garantias nunca registrados em solo pátrio. O CTB passou a ter um capítulo próprio da educação para o trânsito, com base no art. 74 e, mais tarde, em 2004, as Diretrizes da Política Nacional de Trânsito (Brasil, 2004) também foram consagradas por meio da Resolução 166 (DENATRAN, 2004). A Resolução n. 166 fora revogada e a Resolução n. 514/2014 foi editada (Brasil, 2014), sendo a educação para o trânsito proclamada como um direito prioritário a todos os brasileiros. As diretrizes já citadas (Brasil, 2004) asseveram que é na escola que a formação para o trânsito deve ocorrer, desde os anos iniciais da vida escolar. cris Highlight 10 Entretanto, o aprendizado para a mobilidade, acontece primeiramente em âmbito familiar, juntamente com outros conceitos que orbitam próximos da formação para a cidadania. Enquanto a legislação de educação para o trânsito aperfeiçoava-se, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996) teve por função maior estruturar todo o eixo da educação no Brasil e, para melhor encaminhar as ações, criou Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (PCN) (Brasil, 1997). Apesar das compilações e de se tentar acudir assuntos essenciais à realidade da educação, alguns assuntos ficaram de fora da compilação dos documentos e, assim, criou-se a figura da transversalidade nos seguintes temas: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual, ficando o trânsito de fora de tais temas. Não se cravou de forma explícita pelo Ministério da Educação (MEC) que trânsito fosse tema da base nacional comum, mas, sim, a depender das realidades locais. O trabalho com temas sociais na escola, por tratar de conhecimentos diretamente vinculados à realidade, deve estar aberto à assimilação de mudanças apresentadas por essa realidade. As mudanças sociais e os problemas que surgem pedem uma atenção especial para se estar sempre interagindo com eles, sem ocultá-los. Assim, embora os temas tenham sido escolhidos em função das urgências que a sociedade brasileira apresenta, dadas as grandes dimensões do Brasil e as diversas realidades que o compõem, é inevitável que determinadas questões ganhem importância maior em uma região. Sob a denominação de Temas Locais, os Parâmetros Curriculares Nacionais pretendem contemplar os temas de interesse específico de uma determinada realidade a serem definidos no âmbito do Estado, da cidade e/ou da escola. Uma vez reconhecida a urgência social de um problema local, este poderá receber o mesmo tratamento dado aos outros Temas Transversais (Brasil, 1997, p. 34). Nota-se que, para o MEC, a formação de uma pessoa em trânsito, dependerá da urgência social do problema local e, se julgar pertinente, poderá a questão tomar status de tema transversal. Em 2017, o MEC editou a Resolução n. 2 e instituiu a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2017) e a educação para o trânsito continuou relegada à sorte ou como urgência social, ou, ainda, podendo aparecer nos currículos de forma transversal e integradora, sob a afirmativa de que se trata de um dos temas exigidos por legislação e normas específicas, assim como tema contemporâneo relevante para o desenvolvimento da cidadania, que afetam a vida humana em escala local, regional e global. A citada Resolução enquadrou a educação para o trânsito ao lado de 11 outros temas, como o processo de envelhecimento e o respeito e a valorização do idoso; os direitos das crianças e dos adolescentes; a educação ambiental; a educação alimentar e nutricional; a educação em direitos humanos; e a educação digital, bem como o tratamento adequado da temática da diversidade cultural, étnica, linguística e epistêmica, na perspectiva do desenvolvimento de práticas educativas ancoradas no interculturalismo e no respeito ao caráter pluriétnico e plurilíngue da sociedade brasileira. Notadamente, como o trânsito é tratado como de interesse local, as legislações municipais, por vezes, têm mais efeito para se implantar políticas públicas. Em que pese, apesar de o MEC não ter efetivado a obrigatoriedade da educação para o trânsito na grade curricular, há medidas e iniciativas em legislações, como o CTB, e leis municipais que garantem efetividade às medidas do processo contínuo voltado para o trânsito. Um bom exemplo é a Lei n. 14.412/2014, de Curitiba, que instituiu a Política Municipal de Educação para o Trânsito. TEMA 5 – A FISCALIZAÇÃO DO TRÂNSITO NO MUNICÍPIO Entre tantas obrigações do Município, a fiscalização é muito importante, pois, se o trânsito local foi municipalizado, se há infraestrutura necessária e o processo educativo contemplado, o tripé estará formado. Conforme a Lei n. 9.503/1997, as principais obrigações do município é fiscalizar a parada, a circulação e o estacionamento. Mas é evidente que são muitas incumbências dos municípios. Os conflitos urbanos, na atualidade, são em decorrência da alta taxa de motorização das cidades. Há muitos carros, falta espaço para as paradas e estacionamentos. O discurso fácil de que há a “indústria da multa” se desfaz rapidamente quando se demonstram números de infrações cometidas em meio urbano, como é o caso de Curitiba. Quase 30% das infrações cometidas nesse período foram lavradas por agentes da autoridade de trânsito, sendo a campeã, nessa modalidade, estacionar em desacordo com a legislação, seguida da falta de respeito à sinalização. 12 Notadamente, do total de mais 267 mil infrações deflagradas por equipamentos eletrônicos, mais de 200 mil foram por transitar em velocidade superior à máxima permitida. Mais de 30 mil pessoas executaram conversões perigosas, quase 24 mil dirigiam usando celular e mais de 1700 infratores tomaram a vaga de pessoas com deficiência. Os dados são da Diretoria de Infrações, no âmbito da Secretaria Municipal de Trânsito, que, todos os meses, entre 2013 e 2016, emitia os relatórios das infrações cometidas, conforme a Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Infrações cometidas em Curitiba entre janeiro e setembro de 2013. Artigo Descrição Qta.745-50 Trans. veloc. sup. máx. em até 20% 201.296 605-03 Avançar sinal vermelho do semáforo – fiscaliz. eletrônica 34.733 746-30 Trans veloc. sup. máx. Permitida em mais de 20% até 50% 17.466 567-32 Parar na faixa de pedestres na mudança de sinal – fiscaliz. eletrônica 11.731 747-10 Trans. veloc. sup. máx. permitida em mais de 50% 2.366 Total de infrações por excesso de velocidade/eletrônicas 267.592 50.8% 1ª 554-12 Estac. em desacordo com a regulamentação – estacion. rotativo 83.580 554-11 Estac. em desac. com a regulação especificada pela sinalização 27.163 555-00 Estacionar o veículo em local/horário proibido pela sinalização 17.610 545.21 Estacionar no passeio 8.003 554-16 Estac. em desacordo com regulamentação – vaga de idoso 6.418 556-80 Estacionar em local /horário de estacion. e parada proibidos pela sinalização 6.252 546-00 Estacionar em guia rebaixada destinada a entrada/saída de veículos 3.311 554-13 Estacionar em desac. com regul. – ponto ou vaga de táxi 2.699 554-15 Estacionar em desac. com regul. – vaga portador necessidades espec. 1.719 Total de infrações por estacionamento irregular 156.755 29,7% 2ª 604-12 Exec. oper. de conversão à esquerda em local proibido pela sinalização 31.900 6,1% 3ª 736-62 Dirigir veículo utilizando telefone celular 23.906 4,5% 4ª 605-01 Avançar sinal vermelho do semáforo 8.606 1,6% 5ª 570-30 Deixar de conservar o veículo na faixa destinada pela sinalização de reg. 5.282 1,0% 6ª 574-63 Transitar em local/horário não permitido pela regul. 4.749 0,9% 7ª 599-10 Executar operação de retorno em locais proibidos pela sinalização 4.247 0,8% 8ª 518-51 Deixar o condutor de usar cinto de segurança 3.613 0,7% 9ª 604-11 Executar operação de conversão à direita em local proibido pela sinalização 2.352 0,4% 10ª Restante das infrações cometidas 18.171 3,4% 100% Total de notificações 527.173 Fonte: Diretoria de Infrações de Curitiba. 13 Diversas cidades brasileiras adotaram o estacionamento regulamentado, no qual o condutor ocupa vagas de estacionamentos em vias públicas e paga pelo tempo em que seu veículo ocupa o espaço. A fiscalização da efetividade dessa prática recai sob o agente de trânsito do município, assim como a aplicação da autuação, caso não se cumpra o período de ocupação da vaga ou até mesmo se o cidadão não recolheu aos cofres públicos, o valor para estacionar seu veículo em determinado local, nos termos do inciso VII do art. 24 do CTB. NA PRÁTICA Para onde vão os valores recolhidos das multas de trânsito? Exemplos da aplicação dos recursos públicos. FINALIZANDO A operacionalização do trânsito no município • Os estágios para a municipalização do trânsito. • Os principais modais do meio urbano e espaços públicos. • A Infraestrutura Municipal: vias públicas, ciclovias, outros. • A educação para o trânsito no Município • A fiscalização de trânsito no Município. cris Highlight 14 REFERÊNCIAS ANDRADE, V.; LINKE, C. (Orgs.). Cidades de pedestres: A caminhabilidade no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Babilônia Cultura Editorial, 2017. ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos. 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