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Regime dos Direitos Fundamentais - Aula de 27.01.2021-1

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Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
1 
 
 
REGIME DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
A matéria de que nos vamos debruçar daqui em diante é relativa ao regime dos direitos 
fundamentais que no programa temático que temos vindo a seguir corresponde a Parte II com 
o título Regime comum dos Direitos Fundamentais, sendo o primeiro capítulo o atinente a 
atribuição dos Direitos. 
Do capítulo I temos como primeira matéria a tratar, o “princípio da universalidade” e 
sucessivamente falaremos do (da): 
 
a) Princípio da universalidade e pessoas colectivas 
b) Igualdade em geral 
c) Princípio da igualdade no Direito positivo moçambicano 
d) Sentido da igualdade e finalmente, 
e) Destinatários do princípio da igualdade 
 
I. Princípio da universalidade 
 
Recorrendo as lições do Professor Jorge Miranda1 “o primeiro princípio comum aos direitos 
fundamentais e também aos demais direitos existentes na ordem jurídica ……é o da 
universalidade: todos quantos fazem parte da comunidade política fazem parte da comunidade 
jurídica, são titulares dos direitos e deveres ai consagrados; os direitos fundamentais têm ou 
podem ter por sujeitos todas as pessoas integradas na comunidade política, no povo”. 
 
No plano constitucional, o princípio está consagrado no artigo 35 com a epígrafe Princípio da 
universalidade e igualdade com o seguinte texto normativo ”Todos os cidadãos são iguais 
perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, 
independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de 
instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.” 
 
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, o princípio vem expresso nos artigos 2.˚ e 
7.˚, nos seguintes termos: 
 
 ˝Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamadas na presente 
Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de 
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento 
ou de qualquer outra situação. 
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou 
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse pais ou território 
independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação 
 
1 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edição , Coimbra, 
1998, pagina 193. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
2 
 
Artigo 7.˚ 
 
Todos os cidadãos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. 
Todos têm direito a protecção igual contra qualquer descriminação que viole a presente 
declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. 
 
Na Carta Africana dos direitos Humanos e dos Povos, o princípio consta dos artigos 2 e 3, 
tal como se transcreve: 
 
˝Toda a pessoa tem o direito ao gozo dos direitos e liberdades reconhecidos e garantidos na 
presente Carta, sem nenhuma distinção, nomeadamente de raça, de etnia, de cor, de sexo, de 
língua, de religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de origem nacional ou 
social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação”. 
 
˝Artigo 3.˚ 
 
1. Todas as pessoas beneficiam-se de uma total igualdade perante a lei. 
2. Todas as pessoas têm direito a uma igual protecção da lei.˝ 
 
O princípio da universalidade em qualquer um destes instrumentos legais incide sobre as 
pessoas, na sua totalidade, pelo simples facto de serem pessoas titulares de direitos e deveres 
fundamentais. 
 
Todas as pessoas dotadas de personalidade jurídica são sujeitos constitucionais de direitos e 
deveres. 
 
O princípio é aplicável para todos os cidadãos moçambicanos no território nacional ou fora 
deste e a todos os cidadãos estrangeiros em serviço, com domicílio temporário ou permanente 
no território nacional ou na esfera de jurisdição do Estado Moçambicano. 
 
Os cidadãos estrangeiros e os apátridas que se encontram por qualquer circunstância a residir 
no território de Moçambique, beneficiam-se dos direitos reservados aos cidadãos nacionais. 
 
O legislador Moçambicano adoptou a fórmula “todos os cidadãos” e nós entendemos que a 
expressão todos os cidadãos não tem qualquer sentido restritivo. Pretende em nosso entender 
exprimir genericamente a universalidade das pessoas jurídicas (pessoas físicas e pessoas 
colectivas). No conjunto das pessoas singulares ou pessoas físicas, abrange cidadãos nacionais, 
cidadãos estrangeiros e apátridas, residentes no território moçambicano com ou sem laço 
jurídico de nacionalidade originária ou derivada. 
 
 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
3 
 
A expressão pretende apenas referir às pessoas abrangidas pelas normas de Direito 
Moçambicano. Por conseguinte, o legislador moçambicano usa indistintamente a expressão 
“todos os cidadãos” em diferentes fórmulas normativas, mas sempre pretendendo exprimir o 
comando para a universalidade das pessoas sujeitas ao Direito Moçambicano, senão vejamos: 
 
Artigo 35, 38, 44, 48, 51, 53, 55, 79, 81, 89, 90, 91, 94, 95. 
Por vezes, o mesmo legislador usa a expressão “todo o cidadão”, vide artigos: 40, 41, 45, 46. 
 
Outras vezes ainda usa a expressão: os cidadãos ou o cidadão: artigo 52, 54, 69, 70 e 80. 
Todas estas expressões têm o mesmo valor e sentido jurídico, salvo os casos em que o sentido 
é nos dados pelo contexto ou própria natureza específica do direito em que a qualificação terá 
necessariamente um significado diferente quer para o direito, quer para o dever em causa, como 
são os casos previstos nos artigos 147, n.˚ 2 al. b), que é especialmente para pessoa física, o 
candidato ao cargo de Presidente da República, artigo 24, n.˚ 2, que só se refere a cidadãos com 
nacionalidade originária em virtude de terem nascido no território moçambicano, o artigo 85 
quando se refere ‘todo o trabalhador” ou o trabalhador, os artigos 86 e 87 com a expressão “ 
os trabalhadores”. Trata-se de fórmulas cujo sentido é específico a pessoa humana, o 
trabalhador, sujeito de direito na ordem jurídica. 
 
O mesmo se diz em relação as expressões “crianças”, nos artigos 47 e 121. A expressão mulher, 
artigo 122, juventude, artigo 123, velhice ou idoso, artigo 95 e 124 e portadores de deficiência 
nos artigos 37 e 125. 
 
Todos estes artigos dispõem sobre a pessoa humana segundo a sua própria natureza e categoria 
na classificação dos direitos fundamentais. 
 
O princípio ora anunciado é um conceito quantitativo, tal como se pode notar na expressão 
“todos” o que significa que abrange a totalidade dos cidadãos que integram a comunidade 
política de um Estado. 
 
A este princípio, conforme o preceituado no artigo 35, o princípio da igualdade que na esteira 
deste entendimento diz respeito ao conteúdo do direito e nesta perspectiva é um conceito 
qualitativo. 
 
O princípio da universalidade compreende o regime comum dos direitos fundamentais e acha-
se consagrado no artigo 35. 
 
Feitas as considerações prévias sobre o entendimento que temos sobre as expressões usados 
pelo legislador neste dispositivo normativo vejamos agora os segmentos que encontramos no 
mesmo artigo 35: 
 
a) Todos os cidadãos “são iguais perante a lei”; 
b) Todos os cidadãos ….“gozam dos mesmos direitos”; 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
4 
 
c)Todos os cidadãos…. “estão sujeitos aos mesmos deveres”. 
A cada um dos três segmentos acresce-se independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, 
lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão 
ou opção política. 
Porém, o princípio da igualdade que diz respeito a qualidade do sujeito, levou o legislador a 
restringir o sentido e alcance do princípio da universalidade, não se aplicando a todos os casos 
de sujeitos de direito com o mesmo sentido e alcance. 
 
Em relação aos nacionais, estabelece-se na Constituiçao da República de Mocambique dois 
regimes de aplicaçao directa do principio da universalidade. 
 
a) Os cidadãos de nacionalidade originária, que preenchem os requisitos previstos nos 
artigos 23, 24 e 25 da CRM gozam na plenitude dos direitos fundamentais consagrados 
na Constituição em sentido formal e material, artigo 42 e 43; 
b) Os cidadaos de nacionalidade moçambicana adquirida, que preenchem os requisitos 
previstos nos artigos 26 a 29 da CRM gozam na plenitude dos direitos fundamentais 
consagrados na Constituição em sentido formal e material, artigo 42 e 43, com excepçao 
dos artigos 30, 146, n.˚ 2 al. a) e 46. 
 Nesta conformidade, os cidadãos moçambicanos com nacionalidade adquirida não podem: 
a) ser deputados, 
b) membros do Governo, 
c) titulares de órgãos de soberania e 
d) não têm acesso à carreira diplomática ou militar. 
 
A Constituição vai mais longe quando estipula que a lei define as condições do exercício de 
funções públicas ou de funções privadas de interesse público por cidadãos moçambicanos de 
nacionalidade adquirida. 
 
O desvio do princípio da universalidade combinado com o princípio da igualdade não só se 
verifica em relação aos cidadãos de nacionalidade adquirida como também em relação a outros 
cidadãos devido a sua condição física ou moral, como são os casos previstos nos artigos 73, 
portadores de deficiência ˝… e estão sujeitos aos mesmos deveres com ressalva do exercício 
ou cumprimento daqueles para os quais, em razão da deficiência, se encontrem incapacitados.˝. 
 
Vide ainda os artigos: 
 
Artigo 47 (Direitos da criança) 
 
1. As crianças têm direito à protecção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar. 
 
2. As crianças podem exprimir livremente a sua opinião, nos assuntos que lhes dizem respeito, 
em função da sua idade e maturidade. 
 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
5 
 
3. Todos os actos relativos às crianças, quer praticados por entidades públicas, quer por 
instituições privadas, têm principalmente em conta o interesse superior da criança. 
 
Artigo 121 (Infância) 
 
1. Todas as crianças têm direito à protecção da família, da sociedade e do Estado, tendo em 
vista o seu desenvolvimento integral. 
 
2. As crianças, particularmente as órfãs, as portadoras de deficiência e as abandonadas, têm 
protecção da família, da sociedade e do Estado contra qualquer forma de discriminação, de 
maus tratos e contra o exercício abusivo da autoridade na família e nas demais instituições. 
 
3. A criança não pode ser discriminada, designadamente, em razão do seu nascimento, nem 
sujeita a maus tratos. 
 
4. É proibido o trabalho de crianças quer em idade de escolaridade obrigatória quer em qualquer 
outra. 
 
Artigo 122, (Mulher) 
 
1. O Estado promove, apoia e valoriza o desenvolvimento da mulher e incentiva o seu papel 
crescente na sociedade, em todas as esferas da actividade política, económica, social e cultural 
do país. 
2. O Estado reconhece e valoriza a participação da mulher na luta de libertação nacional, pela 
defesa da soberania e pela democracia. 
 
Artigo 123 (Juventude) 
 
1. A juventude digna, continuadora das tradições patrióticas do povo moçambicano, 
desempenhou um papel decisivo na luta de libertação nacional e pela democracia e constitui 
força renovadora da sociedade. 
 
2. A política do Estado visa, nomeadamente o desenvolvimento harmonioso da personalidade 
dos jovens, a promoção do gosto pela livre criação, o sentido de prestação de serviços à 
comunidade e a criação de condições para a sua integração na vida activa. 
 
3. O Estado promove, apoia e encoraja as iniciativas da juventude na consolidação da unidade 
nacional, na reconstrução, no desenvolvimento e na defesa do país. 
 
4. O Estado e a sociedade estimulam e apoiam a criação de organizações juvenis para a 
prossecução de fins culturais, artísticos, recreativos, desportivos e educacionais. 
 
5. O Estado, em cooperação com as associações representativas dos pais e encarregados de 
educação, as instituições privadas e organizações juvenis, adopta uma política nacional de 
juventude capaz de promover e fomentar a formação profissional dos jovens, o acesso ao 
primeiro emprego e o seu livre desenvolvimento intelectual e físico. 
 
 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
6 
 
Artigo 124 (Terceira idade) 
 
1. Os idosos têm direito à protecção especial da família, da sociedade e do Estado, 
nomeadamente na criação de condições de habitação, no convívio familiar e comunitário e no 
atendimento em instituições públicas e privadas, que evitem a sua marginalização. 
 
2. O Estado promove uma política de terceira idade que integra acções de carácter económico, 
social e cultural, com vista à criação de oportunidades de realização pessoal através do seu 
envolvimento na vida da comunidade. 
 
Artigo 125 (Portadores de deficiência) 
 
1. Os portadores de deficiência têm direito a especial protecção da família, da sociedade e do 
Estado. 
 
2. O Estado promove a criação de condições para a aprendizagem e desenvolvimento da língua 
de sinais. 
 
3. O Estado promove a criação de condições necessárias para a integração económica e social 
dos cidadãos portadores de deficiência. 
 
4. O Estado promove, em cooperação com as associações de portadores de deficiência e 
entidades privadas, uma política que garanta: 
a) a reabilitação e integração dos portadores de deficiência; 
b) a criação de condições tendentes a evitar o seu isolamento e a marginalização social; 
c) a prioridade de atendimento dos cidadãos portadores de deficiência pelos serviços 
públicos e privados; 
d) a facilidade de acesso a locais públicos. 
 
5. O Estado encoraja a criação de associações de portadores de deficiência. 
 
Concluindo e sistematizando sobre o princípio da universalidade, segundo o Professor Jorge 
Miranda 2 “o primeiro princípio comum aos direitos fundamentais e também aos demais 
direitos existentes na ordem jurídica ……é o da universalidade: todos quantos fazem parte da 
comunidade política fazem parte da comunidade jurídica, são titulares dos direitos e deveres 
ai consagrados; os direitos fundamentais têm ou podem ter por sujeitos todas as pessoas 
integradas na comunidade política, no povo”. 
 
O princípio da universalidade incide sobre as pessoas, na sua totalidade, pelo simples facto de 
serem pessoas titulares de direitos e deveres fundamentais pelo que, todas as pessoas dotadas 
de personalidade jurídica são sujeitos constitucionais de direitos e deveres. O legislador 
Moçambicano adoptou a fórmula “todos os cidadãos” e nós entendemos que a expressão todos 
os cidadãos não tem qualquer sentido restritivo. Pretende em nosso entender exprimir 
genericamente a universalidade das pessoas jurídicas (pessoas físicas e pessoas colectivas. 
 
 
 
2 Ibidem, página 193. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
7 
 
A Constituição em alguns momentos normativosfaz referência a direitos dos cidadãos e a 
direitos institucionais, referendo-se neste último caso a pessoas colectivas de Direito privado, 
como é o caso das organizações sociais, das associações, dos partidos políticos, das autarquias 
locais, das sociedades comerciais e das fundações. 
 
A questão que se coloca é se os direitos, liberdades, garantias e deveres constitucionais 
apresentam-se em relação a todas as pessoas jurídicas, como seja a pessoa colectiva ou a apenas 
as pessoas singulares? A resposta, em nosso entender é negativa, no sentido de que os direitos, 
liberdades, garantias e deveres fundamentais não podem ser aplicáveis às pessoas colectivas da 
mesma forma que se aplica as pessoas físicas. 
 
A ordem jurídica reconhece expressamente a capacidade de gozo de direitos e submissão a 
deveres às pessoas colectivas, conforme o artigo 12, 54, n.˚ 3, 52, 78, 74, 75 todos da CRM e 
artigo 157 e seguintes e os artigos 33, 34 e 38, todos do código civil de 1966. 
 
Os direitos fundamentais só têm sentido quando tenham sido fixados para o seu gozo pleno 
pelos seus destinatários, o que pressupoe que estes tenham a plenitude de gozo do direito que 
lhe foi atribuido. 
 
Nesta conformidade, parafraseando o Professor Jorge Bacelar Gouveia3, “A orientação geral 
dominante é a de que as pessoas colectivas são titulares de direitos fundamentais, em nome 
deste princípio da universalidade, desde que os direitos fundamentais concretamente a analisar 
se harmonizem, na protecção concedida, ao sentido existencial da pessoa colectiva em causa, 
até podendo haver, no extremo, direitos fundamentais só para pessoas colectiva: a liberdade 
religiosa individual não se aplica numa sociedade comercial, mas a inviolabilidade do 
domicílio já pode ter razão de ser, em nome da protecção de segredos da actividade 
económica.” 
 
Por este entendimento, não pode ser aplicável a pessoa colectiva, o direito à vida e a integridade 
física e moral, artigo 40, o direito à família, artigo 119, o direito a maternidade e paternidade, 
artigo 120, o direito a infância, artigo 121, o direito reservado a portadores de deficiência, 
artigo 125, o direito a habeas corpus, artigo 66, nem está sujeito a prisão preventiva, artigo 64 
e extradição, artigo 67, todos da CRM. 
 
 
II. Princípio da igualdade em geral 
 
O princípio da igualdade significa pensar na justiça e com justiça entre os membros da mesma 
comunidade política. Requer que sejam tratados de igual modo todos os casos que se encontram 
nas mesmas condições e circunstâncias, sendo desvio de aplicação tratar de forma diferente o 
que é igual. A igualdade deve ser apreciada de ponto de vista de sujeito e de conteúdo. 
 
Os sujeitos iguais merecem tratamento igual, sucedendo o mesmo em relação a assuntos de 
conteúdo iguais. 
 
 
3 Direito Constitucional de Moçambique,Parte Geral, Parte especial, IDILP – Instituto do Direrito de Lingua 
Portugues, Campus de Campolide, Lisboa/Maputo, 2015, página 322. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
8 
 
A este propósito o Professor Bacelar Gouveia4 ensina o seguinte: 
 
O princípio da igualdade desenvolve-se sob duas linhas fundamentais: 
 
 o tratamento igualizador: tratar igualmente o que é materialmente igual, proibindo-se 
o tratamento discriminatório, positivo e negativo, que se funda em razões que não são 
objectivamente admissíveis; e 
 o tratamento diferenciador: tratar diferentemente o que é materialmente desigual, o 
qual se justifica no facto de haver razões substanciais que o explique. 
Assim, não se pode tratar da mesma maneira, alegando o princípio da igualdade de tratamento, 
o pai e o filho, o trabalhador e o empregador, o pároco e o crente, o governante e o governado. 
 
As pessoas são tratadas igualmente conforme a sua qualidade e especificidades. Os estudantes 
devem ter um tratamento igual enquanto forem iguais, os trabalhadores, os militares, os agentes 
da polícia, os políticos, os funcionários públicos, os doentes, as crianças, os jovens, os adultos, 
as mulheres, os idosos, etc. 
 
A diferenciação a que nos referimos tem a ver com valores sócio-culturais que são prosseguidos 
pelas comunidades e reconhecidos pela ordem constitucional, nos termos do artigo 11, al. i). 
Descorar ou ignorar esta realidade equivale a protelar a igualdade igualitária que é contrário ao 
princípio da igualdade. 
Em todos estes casos e outros os respeitantes a idade das pessoas para aquisição ou gozo de 
direitos como seja o direito de eleger e ser eleito a cargos públicos, o direito de casar, de 
conduzir, de trabalhar, da liberdade religiosa ou de praticar qualquer outra acção no domínio 
político ou civil, o princípio da universalidade e de igualdade são válidos e aplicados. 
 
Corolário do princípio da igualdade 
 
No sentido em que temos vindo a debruçarmo-nos sobre o princípio da igualdade temos como 
corolário: 
 
 o preceituado no artigo 73, o exercício do poder politico pelo povo através de sufrágio 
universal, o referendo e a permanente participação democrática dos cidadãos na vida 
da Nação. 
 A não retroactividade da lei, só podendo ter efeitos retroactivos quando beneficiam os 
cidadãos e outras pessoas jurídicas, artigo 57; 
 A igualdade de género, isto é, homem e mulher são iguais perante a lei em todos os 
domínios da vida política, económica, social e cultural, artigo 36; 
 O direito de antena, de resposta e de réplica, artigo 49; 
 O direito ao culto e a religião, artigo 54; 
 A igualdade das crianças independentemente de terem ou não nascido na constância 
de casamento, artigo 121, n.˚ 3; 
 
4 Manual de Direito Constitucional, Volume II, Almedina, 1955 – 2005, pagina Manual de Direito 
Constitucional, Volume II, Almedina, 1955 – 2005, pagina 1075. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
9 
 
 O respeito aos princípios fundamentais da administração pública, artigo 249 
 Igualdade de tratamento dos cidadãos enquanto funcionários ou candidatos a 
qualidade de funcionário, artigo 251; 
 Os direitos e garantias dos administrados, artigo 253. 
 
Limitações ao princípio da universalidade 
 
Os direitos e liberdades fundamentais consagrados na Constituição são exercidos pelos 
cidadãos só podendo ser limitados nos termos previstos no artigo 56, n.˚ 2, da CRM. 
 
1. Os direitos e liberdades individuais são directamente aplicáveis, vinculam as entidades 
públicas e privadas, são garantidos pelo Estado e devem ser exercidos no quadro da 
Constituição e das leis. 
 
2. O exercício dos direitos e liberdades pode ser limitado em razão da salvaguarda de outros 
direitos ou interesses protegidos pela Constituição. 
3…… 
4……. 
A limitação do exercício dos direitos só pode ocorrer nos casos previstos nos artigos 72: 
 
 
Artigo 72 (Suspensão de exercício de direitos) 
 
1. As liberdades e garantias individuais só podem ser suspensas ou limitadas temporariamente 
em virtude de declaração do estado de guerra, do estado de sítio ou do estado de emergência 
nos termos estabelecidos na Constituição. 
 
2. Sempre que se verifique suspensão ou limitação de liberdades ou de garantias, elas têm um 
carácter geral e abstracto e devem especificar a duração e a base legal em que assenta. 
 
A suspensão dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos requer a declaração do estado 
de guerra, do estado de sitio ou do estado de emergência e para o efeito, impõe-se o 
cumprimento do dispostos nos seguintes artigos da CRM: 
 
Artigo 290 (Estado de sítio ou de emergência) 
 
1. O estado de sítio ou o estado de emergência só podemser declarados, no todo ou em parte 
do território, nos casos de agressão efectiva ou eminente, de grave ameaça ou de perturbação 
da ordem constitucional ou de calamidade pública. 
 
2. A declaração do estado do sítio ou de emergência é fundamentada e especifica as liberdades 
e garantias cujo exercício é suspenso ou limitado. 
 
 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
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10 
 
Artigo 291 (Pressupostos da opção de declaração) 
 
A menor gravidade dos pressupostos da declaração determina a opção pelo estado de 
emergência, devendo, em todo o caso, respeitar-se o princípio da proporcionalidade e limitar-
se, nomeadamente, quanto à extensão dos meios utilizados e quanto à duração, ao estritamente 
necessário ao pronto restabelecimento da normalidade constitucional. 
 
Artigo 292 (Duração) 
 
O tempo de duração do estado de sítio ou de emergência não pode ultrapassar os trinta dias, 
sendo prorrogável por iguais períodos até três, se persistirem as razões que determinaram a sua 
declaração. 
 
Durante a vigência do estado de guerra, de sítio ou de emergência poderão ser tomadas medidas 
que constam dos artigos 287 e 288, com observância do disposto no artigo 286, isto é, as 
limitações ao exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais não podem abranger 
ou pôr em causa o direito à vida, à integridade pessoal, à capacidade civil e à cidadania. 
 
O princípio da universalidade e pessoas colectivas 
 
A Constituição em alguns momentos normativos faz referência a direitos dos cidadãos e a 
direitos institucionais, referindo-se neste último caso a pessoas colectivas de Direito privado, 
como é o caso das organizações sociais, das associações, dos partidos políticos e das fundações. 
 
A atribuição dos direitos fundamentais as pessoas colectivas não é uma equiparação, mas 
sobretudo a uma limitação de Direitos Fundamentais primordialmente destinados a pessoais 
singulares. 
 
A pergunta que se coloca em relação a pessoas colectivas é a seguinte: os direitos, liberdades, 
garantias e deveres constitucionais colocam-se em relação a todas as pessoas jurídicas, como 
seja a pessoa colectiva ou a apenas as pessoas singulares? 
 
A resposta, em nosso entender é negativa, no sentido de que os direitos, liberdades, garantias e 
deveres fundamentais não podem ser aplicáveis as pessoas colectivas da mesma forma que se 
aplica as pessoas físicas. 
 
As lições que temos vindo a ministrar revelam que a ordem jurídica reconhece expressamente 
a capacidade de gozo de direitos e submissão a deveres às pessoas colectivas, conforme o artigo 
12, 54, n.˚ 3, 52, 78, 74, 75 todos da CRM e artigo 156 e seguintes e os artigos 33, 34 e 38, 
todos do código civil de 1966. 
 
A consagração destes dispositivos legais no direito civil supera em grande medida a concepção 
de que os Direitos Fundamentais são exclusivamente centradas as pessoas físicas, ou seja, aos 
indivíduos. 
 
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Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
11 
 
Na verdade, conforme já tivemos ocasião de nos pronunciar sobre a distinção direitos 
fundamentais e direitos humanos, os direitos fundamentais incidem sobre a pessoa jurídica que 
inclui pessoa colectiva. 
 
Assim, o que podemos discutir agora é saber se as pessoas colectivas gozam na sua plenitude 
dos direitos fundamentais, independentemente da sua natureza específica. 
 
As pessoas colectivas no sentido em que estamos a referir abrangem não só as pessoas com 
personalidade jurídica legalmente reconhecida nos termos da lei civil e das Associações, 
designadamente Lei n.º 8/91, de 18 de Julho; Lei n.º 10/2005, de 23 de Dezembro; Código Civil 
de 1966, Decreto-lei n.º 1/2006, de 3 de Maio e no Diploma Ministerial n.º 68/87 de 3 de 
Setembro, como também as organizações civis que ainda carecendo de personalidade jurídica, 
gozam de protecção jurídica no quadro dos direitos fundamentais, como são as associações 
religiosas, artigo 12 e 54, comissões de trabalhadores, associações de consumidores, 
associações de defesa de ambiente e de promoção de democracia, associações juvenis, 
organizações de moradores e conselhos comunitários ao nível da base, artigo 78. 
 
Os direitos fundamentais só têm sentido quando tenham sido fixados para o seu gozo pleno 
pelos seus destinatários, o que pressupõe que estes tenham a plenitude de gozo do direito que 
lhe foi atribuído. Neste sentido, tal como nos ensina o Professor Jorge Miranda5 “…Não faria 
sentido em Direito constitucional a separação civilística entre capacidade de gozo e capacidade 
de exercício ou de agir, porque direitos fundamentais são estabelecidos em face de certas 
qualidades prefixadas pelas normas constitucionais e, portanto, atribuídas a todos que as 
possuam. 
 
Rematando sobre esta visão o Professor Jorge Bacelar Gouveia6 ˝…, quem comanda o Direito 
Civil é o Direito Constitucional e não o contrário, sendo justo falar, mas do que de autonomia, 
de supremacia deste em relação à aquele:….˝ 
 
Nos direitos fundamentais (sobretudo nos direitos, liberdades e garantias) o gozo dos direitos 
consiste na capacidade de exercício. Os direitos de liberdades são pessoalíssimos e por 
conseguinte, insusceptíveis tanto de serem transmitidos por qualquer forma como de ser 
exercidos por outrem.” 
 
Todas as pessoas colectivas gozam em princípio dos seguintes direitos fundamentais entre 
outros, sem qualquer restrição nem imposição de terem ou não personalidade jurídica própria: 
 
a) Liberdade de associação, artigo 52; 
b) Liberdade de expressão e de informação, artigo 48; 
c) Direito de antena, de resposta e de réplica política, artigo 49; 
 
5 Jorge Miranda, idem, pagina195. 
6 Manual de Direito Constitucional, Volume II, Almedina, 1955 – 2005, página 1072. 
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12 
 
d) Direito à greve tratando-se de associação sindical; 
e) Direito de petição, queixa e reclamação, artigo 79; 
f) Direito de acção popular, artigo 81; 
g) Direito de impugnação, artigo 69; 
h) Liberdade de residência e de circulação, artigo 55; 
i) Direito à reunião e de manifestação, artigo 51; 
j) Direito de recorrer aos tribunais, artigo 70; 
k) Direitos reservados aos administrados, artigo 252; 
l) Direito a inviolabilidade do domicílio e da correspondência, artigo 68; 
m) Direito ao ambiente, artigo 90; 
n) Direito a habitação e urbanização, artigo 91; 
o) Liberdade de criação cultural, artigo 94. 
p) O direito de propriedade, artigo 82, 
 Por esta listagem fácil é de notar que os direitos fundamentais de que as pessoas colectivas 
sejam titulares são todos aqueles que sejam compatíveis com a sua natureza específica e a 
identificação exaustiva dos direitos próprios só é possível casuisticamente. As pessoas 
colectivas só têm os direitos compatíveis com a sua natureza, ao passo que as pessoas singulares 
têm todos os direitos, salvo os especificamente concedidos apenas a pessoas colectivas ou a 
instituições7, por exemplo, o direito de antena, artigo 49 e os decorrentes da própria pessoa 
colectiva conducente à prossecução dos fins para que exista, os direitos adequados à sua 
especialidade, artigo 160 do CC com a limitação imposta pelo artigo 157, também do CC. 
 
Nesta conformidade, parafraseando o Professor Bacelar Gouveia8 a orientação geral que se 
obtêm é a de que as pessoas colectivas são titulares de direitos fundamentais, em nome deste 
princípio da universalidade, desde que os direitos fundamentais concretamente a analisar se 
harmonizem, na protecção concedida, ao sentido existencialda pessoa colectiva em causa, até 
podendo haver, no extremo, direitos fundamentais só para pessoas colectivas: liberdade 
religiosa individual não se aplica numa sociedade comercial, mas a inviolabilidade do 
domicílio já pode ter razão de ser, em nome da protecção de segredos da actividade económica. 
 
Por este entendimento, não pode ser aplicável a pessoa colectiva, o direito à vida e a integridade 
física e moral, artigo 40, o direito à família, artigo 119, o direito a maternidade e paternidade, 
artigo 120, o direito a infância, artigo 121, o direito reservado a portadores de deficiência, 
artigo 125, o direito a habeas corpus, artigo 66, nem está sujeito a prisão preventiva, artigo 64 
e extradição, artigo 67. 
 
 
7 Idem, Jorge Miranda, página 197. 
8 Idem, página 1073. 
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13 
 
III. Sentido da igualdade 
 
Na senda do que temos vindo a tratar e recorrendo às lições do Professor Jorge Miranda9, a 
análise da igualdade tem de assentar em três pontos firmes, acolhidos quase unanimemente 
pela doutrina e pela jurisprudência. 
São eles: 
 
a) Que a igualdade não é identidade e igualdade jurídica não é igualdade natural ou 
naturalística; 
 
b) Que a igualdade significa intenção de racionalidade e, em último termo, intenção de 
justiça; 
 
c) Que a igualdade não é uma “ilha”, encontra-se conexa com outros princípios, tem de 
ser entendida – também ela – no plano global dos valores, critérios e opções da 
Constituição material. 
 
O sentido do princípio da igualdade é de na verdade negativa, ou seja, o princípio veda 
privilégios e qualquer discriminação às pessoas jurídicas, porquanto, gozam da tutela do 
Direito. 
Assim, “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito 
ou isento de qualquer dever…” 
 
O princípio de direito deve ser assim entendido como sendo aquele que assegura a todos os 
tratamentos igual em iguais circunstâncias, o que afasta concessão de privilégios em razão da 
qualidade da pessoa jurídica. 
 
Os privilégios são situações de que dão vantagens não fundadas em nenhum elemento de base 
material e correspondem à situações de discriminação ou desvantagem em relação a outra 
pessoa semelhante, nas mesmas condições e oportunidade. 
 
Há também neste prisma e no quadro do sentido do princípio da igualdade, a discriminação 
que são situações de vantagens fundadas que desaguam nas desigualdades de direito em 
consequências de desigualdades de facto, tendentes à superação destas e, por isso, em geral, 
têm carácter temporário. 
 
São exemplos destas discriminações positivas no plano constitucional, as disposições atinentes 
à criança, artigos 47 e 121, a mulher artigo 122, juventude, artigo 123, terceira idade, artigo95 
e 124, portadores de deficiências, artigos 37 e 125. 
 
 
9 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais, 4.ª edic. Coimbra, 2008, 
pagina 253 e seguintes. 
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14 
 
A Constituição Moçambicana identifica os factores de desigualdade inadmissíveis como são 
os casos previstos nos artigos 39 e 250. 
Artigo 39 
(Actos contrários à unidade nacional) 
 
Todos os actos visando atentar contra a unidade nacional, prejudicar a harmonia social, criar 
divisionismo, situações de privilégio ou discriminação com base na cor, raça, sexo, origem 
étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, condição física ou 
mental, estado civil dos pais, profissão ou opção política, são punidos nos termos da lei. 
 
Artigo 250 
(Acesso e estatuto dos funcionários) 
 
1. O acesso à Função Pública e a progressão nas carreiras profissionais não podem ser 
prejudicados em razão da cor, raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção político-
partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e capacidade dos interessados. 
 
Todos estes factores não são os únicos que quando praticados promovem privilégios ou 
discriminação. Os factores aqui enumerados são a título de exemplo, tendo em conta que o 
artigo 42, da CRM apresenta-nos um leque aberto de Direitos Fundamentais e desta forme 
temos que entender que os factores de discriminação são também abertos em face do artigo 42. 
 
O legislador arrolou os factores previstos nos artigos 39 e 251 como sendo os mais gritantes 
em relação aos quais a ordem jurídica reagem com maior veemência possível dado ao impacto 
que eles podem causar na esfera jurídica dos lesados, mas há muito mais factores que causam 
privilégios ou discriminação negativa contra a pessoa nos vários domínios da vida privada ou 
publica que constam desta enumeração mas que causam danos 
 
É por consciência de todos estes factores que o legislador cautelosamente fixou o disposto nos 
artigos 69, 70, 79, 80, 81, 214 e n.˚ 3 do artigo 252, todos da CRM. 
 
A finalidade de todas estas proibições é de assegurar a protecção dos direitos do cidadão e 
garantir que de facto os direitos consagrados na Lei fundamental sejam efectivamente os que 
deve gozar sem qualquer limitação fora da previsão legal, nos termos do n.˚ 2 do artigo 56, que 
corresponde ao previsto Na segunda parte do artigo 7 da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem de 1948 cujo texto se apresenta: “Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm 
direito a igual protecção da lei. Todos. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer 
discriminação que viole a presente Declaração contra qualquer incitamento a tal 
discriminação.˝ 
 
O que até aqui temos vindo a tratar sobre este princípio da igualdade é na vertente negativa, ou 
seja, em sentido negativo que corresponde a proibição. 
 
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15 
 
Vejamos então o sentido positivo do principio da igualdade que nos parece mais complexo, tal 
como nos expõe o Professor Jorge Miranda10 que no sentido em que vínhamos apreciando. 
 
Neste sentido resulta do princípio da igualdade o seguinte: 
 
a) Tratamento igual de situações iguais (ou tratamento semelhante de situações 
semelhantes); 
b) Tratamento desigual de situações desiguais, mas substancial e objectivamente desiguais 
- ˝impostas pela diversidade das circunstancias ou pela natureza das coisas˝ - e não 
criadas ou mantidas artificialmente pelo legislador. 
c) Tratamento em moldes de proporcionalidade das situações relativamente iguais ou 
desiguais e que, consoante os casos, se converte para o legislador ora em mera 
faculdade, ora em obrigação; 
d) Tratamento das situações não apenas como existem mas também como devem existir, 
de harmonia com os padrões da Constituição material (acrescentando-se, assim, uma 
componente activa ao principio e fazendo da igualdade perante a lei uma verdadeira 
igualdade através da lei. 
 
O princípio da igualdade não se refere única e exclusivamente as pessoas físicas, mas sim 
as pessoas jurídicas, ou seja, as pessoas singulares e pessoas colectivas, dai que este 
princípio aplica-se as pessoas colectivas e sobre os grupos não personalizados. 
 
Às regras previstas na lei eleitoral atinentes a igualdade dos partidos políticos, das 
coligações de partidos políticos, dos grupos de cidadãos eleitores proponentes e das 
candidaturas aplica-se o princípio da igualdade, nos termos em que estamos a estudar em 
todas as suas acepções. 
 
O princípio aplica-se às relações entre o Estado e os cidadãos e os cidadãos na sua vida 
particularnas instituições públicas e privadas que mantém com as demais pessoas nas suas 
famílias, grupos, associações civis, sindicatos partidos políticos, etc. 
 
IV. Destinatários do princípio da igualdade 
 
O Dr. Joaquim Madeira, então Procurador-Geral da República, numa das suas intervenções 
públicas perante jornalistas nacionais e estrangeiros a propósito de crimes de corrupção, abuso 
de confiança e outros cometidos contra os bens públicos por algumas altas entidades públicas 
do Estado e agentes da Administração Pública, a dado tempo, disse: “ninguém está acima da 
lei.” Todo aquele que cometer um acto qualificado de crime, previsto e punido nos termos do 
Código Penal ou em qualquer outra lei avulsa, será submetido a julgamento e condenado se se 
provar a sua culpabilidade na prática do acto. 
 
 
10 Idem, pagina 255 e seguintes. 
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16 
 
Por conseguinte, o destinatário número um da lei é o próprio órgão que emanou a lei. Quem 
elabora e aprova a lei fica directa e imediatamente vinculado a lei que ele próprio aprovou 
devendo por isso, cumpri-la na sua íntegra. 
 
A emanação das normas constitucionais em sede do poder constituinte material ou formal 
original obedece quer no conteúdo, quer na sua forma à vontade política da nova ideia do 
Direito. 
 
Porém, a primeira Constituição dentre as várias disposições normativas, em princípio fixa os 
procedimentos jurídico-constitucionais que deverão ser observados sempre que se pretender 
proceder à revisão constitucional. Nesta conformidade, o poder constituinte passa a partir desta 
primeira Constituição a vincular-se a um comando pelo qual se deverá subordinar sempre que 
pretender rever a Constituição. 
 
Assim, o princípio da igualdade consagrado na lei impõe-se a todos os órgãos que tem por 
missão elaborar, executar e fazer cumprir a lei, pois na sua actuação têm por dever observar 
todos os ditames decorrentes do princípio da igualdade em todas as suas dimensões. 
 
Desta feita, o princípio da igualdade exige tratamento igual a todas as funções dos órgãos do 
Estado, bem como a aplicação igual da lei, da norma jurídica em todas as circunstâncias iguais. 
 
Quando nos referimos a primazia dos destinatários do princípio da igualdade queremos dizer 
que para além do órgão legislativo inclui-se os órgãos políticos, como seja o Presidente da 
República e o Conselho de Ministros, os tribunais judiciais, o Conselho Constitucional, o 
Ministério Público, a Comissão Nacional de Eleições e os órgãos administrativos. 
 
Aos particulares o princípio da igualdade não se aplica, em virtude destes gozarem do princípio 
da autonomia, salvo quando verifica-se uma descriminação contra a pessoa que põe em causa 
a dignidade da pessoa humana ou haja situações de abuso de poder de facto. 
 
Na esfera privada è importante distinguir pessoas físicas das pessoas colectivas. Nas pessoas 
colectivas aplica-se o princípio da igualdade em relação aos membros entre si e nas relações 
que se estabelecem na sociedade, na associação, na fundação ou no Partido Politico. 
 
Terminado este tema segue Parte II, regime dos Direitos Fundamentais, título I do regime 
comum dos Direitos Fundamentais, capitulo II da Protecção Jurídica Interna em que iremos 
nas aulas seguintes tratar sucessivamente da: 
 
1. Protecção jurídica e acesso ao direito; 
2. A tutela jurisdicional dos direitos fundamentais; 
3. Actos jurídico-públicos e meios jurisdicionais 
4. A tutela graciosa ou não contenciosa dos direitos fundamentais 
a) O direito de petição 
b) O Provedor de Justiça 
5. A responsabilidade civil das entidades públicas e do 
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17 
 
6. Movimentos sociais e direitos humanos: o papel dos diferentes actores na protecção dos 
Direitos Humanos. 
 
 
1. PROTECÇÃO JURÍDICA E ACESSO AO DIREITO 
 
A Constituição da República de Moçambique no seu artigo 69 com a epígrafe Direito de 
impugnação, dispõe que “O cidadão pode impugnar os actos que violam os seus direitos 
estabelecidos na Constituição e nas demais leis.” 
 
Ora, a impugnação acto de tutela constitucional pelo qual a pessoa jurídica contesta o 
comportamento com o qual não se conforma é um direito fundamental cujo exercício pressupõe 
que antes de mais o cidadão ofendido conheça o direito de que é legitimo titular e em que 
medida e circunstâncias pode ser exercido. 
 
A Constituição estabelece ainda no artigo 79 o direito de petição, queixa e reclamação 
conferindo a todos os cidadãos o direito de apresentar petições, queixas e reclamações perante 
a autoridade competente para exigir o restabelecimento dos direitos violados ou em defesa do 
interesse geral. 
 
Por conseguinte, o direito consagrado na Constituição representa para o cidadão o padrão do 
comportamento que deve ser observado por ele próprio, pelo Estado e demais pessoas jurídicas. 
 
O comportamento do Estado e das demais pessoas jurídicas em face do Direito consagrado 
deve ser conforme a lei – Padrão, a norma constante da Constituição e das demais leis da Ordem 
jurídica. 
 
A conformidade do comportamento é assim aferida comparando a lei-padrão com a conduta 
manifesta pelo agente e do juízo de valor apura-se a conformidade ou a desconformidade do 
comportamento e neste ultimo caso estamos perante uma violação da norma. 
 
No caso vertente, quando do direito de que seja titular o cidadão não se tem conhecimento ou 
quando se conhece não se sabe em que condições pode ser gozado, nesse caso, o cidadão não 
pode de forma alguma identificar a sua obstrução e muito menos determinar em que 
circunstâncias foi-lhe denegado ou limitado o gozo do seu direito. 
 
O Professor Jorge Miranda a este propósito afirma: “A primeira forma de defesa dos direitos é 
a que consiste no seu conhecimento. Só quem tem consciência dos seus direitos tem consciência 
das vantagens e dos bens que pode usufruir com o seu exercício ou com a sua efectivação, 
assim como das desvantagens e dos prejuízos que sofre por não os poder exercer ou efectivar 
ou por eles serem violados”11. 
 
Não foi por acaso que os regimes colonialistas que dominaram vários povos de África, Ásia e 
América Latina, pautaram sempre por uma mesma doutrina de nunca dar acesso ao 
conhecimento aos povos dominados, tal como se pode notar do regime jurídico estabelecido 
no Acto Colonial, norma constitucional destinado exclusivamente a população negra das 
colónias portuguesas. 
 
 
11 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, Direitos Fundamentais, 2.ª edição, Coimbra 
editora, 1998, página 229. 
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18 
 
Em Moçambique o regime colonial Português aplicou a mesma doutrina e assim, os povos 
considerados indígenas não lhes foi permitido o acesso ao ensino, à ciência e à tecnologia. O 
ensino ministrado para estes povos foi predominantemente o religioso limitado ao ciclo 
primário e quanto muito até ensino secundário básico e fora deste o sistema consuetudinário 
em conformidade com os usos e costumes dos povos considerados indígenas, aos quais não se 
reconhecia direitos de cidadania. 
 
Os poucos moçambicanos instruídos à data da independência nacional em 25 de Junho de 1975 
tiveram que emigrar para fora das terras de domínio português onde conseguiram acesso ao 
ensino e a frequência ao nível superior. 
 
O direito de que um cidadão é titular só pode ser exercido integralmente quandoo seu titular 
tenha conhecimento sobre ele e saiba quais os seus contornos. 
 
O direito a informação, previsto no n.˚1 do artigo 48 é, pois o complemento e suporte jurídico 
do gozo dos direitos, liberdades e garantias fundamentais de que os cidadãos sejam titulares e 
a este acresce-se o direito à educação previsto no artigo 113 e o direito ao ensino consagrado 
no artigo 114, todos da CRM. 
 
O acesso ao direito e à informação, bem como ao conhecimento constitui normas preceptivas, 
imediatamente invocáveis em salvaguarda dos direitos fundamentais. 
 
Os cidadãos não só têm o direito à informação como têm o direito de serem informados, nos 
termos do n.˚ 1 do artigo 252 e n.˚ 1 do artigo 92 (direito dos consumidores). 
 
O povo moçambicano é ainda constituído por um número significativo de população 
analfabeta, na ordem de 44,9% do universo de 28.9 milhões de habitantes em 2018 e com as 
instituições públicas com uma capacidade limitada de tornar público o conjunto dos direitos 
fundamentais de que os cidadãos sejam titulares. Algumas ordens jurídicas em África já 
consagram na Constituição instituições que se encarregam de educação cívica dos cidadãos 
visando promover e dar a conhecer os direitos de que o cidadão é titular, trata-se da Comissão 
da Educação Cívica prevista na Constituição da República de Ghana de 1992. 
 
A Constituição Moçambicana desde 1975 que consagra um vasto leque de direitos 
fundamentais, mas quantos e quais os moçambicanos têm conhecimento dos direitos que a lei 
fundamental proclama a seu favor. 
 
O Presidente da República, a Assembleia da República, o Conselho de Ministros, os Tribunais, 
o Conselho Constitucional, os Ministros, os Governos provinciais ou distritais, os municípios 
ou outras entidades públicas emanam normas que implementam e desenvolvem os direitos, 
liberdades e garantias dos cidadãos, mas que mecanismos existem instituídos na ordem jurídica 
que levam tais comandos ao conhecimento directo e imediato do cidadão, de modo a beneficiar-
se deles ou a exercer qualquer dos direitos previstos nos artigos 70, 79, 80, 81 e n.º 3 do artigo 
252, todos da CRM. 
 
A Constituição prevê no artigo 62, o direito de acesso aos tribunais, a defesa e ao direito de 
assistência jurídica e patrocínio judiciário e fá-lo por intermédio do Instituto de Patrocínio e 
Assistência Jurídica (IPAJ). 
 
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Independentemente das atribuições conferidas a este Instituto público, o seu âmbito é nacional, 
mas a sua abrangência encontra muitas limitações em termos de recursos humanos, materiais, 
financeiros e capacidade de realização, o que não lhe permite estender a sua representação para 
todos os 161 distritos e mais de 380 Postos Administrativos e muito menos para onde se situa 
o cidadão, no seu local de residência habitual ou de trabalho nas mais de 1042 localidades e 
povoados, vilas e 53 cidades municipalizadas. 
 
Neste momento, o IPAJ situa-se fundamentalmente em todas as capitais provinciais e em 
alguns distritos onde haja tribunais judiciais e procuradorias gerais da República em 
funcionamento. 
 
Mas o acesso ao direito não se circunscreve tão-somente a matéria criminal, civil ou laboral. O 
Direito é muito mais vasto e quanto mais os direitos fundamentais que não encontram o seu 
limite, nos termos do artigo 42 da CRM. 
 
O IPAJ tal como muitas das instituições públicas situam-se ao nível da capital do país, da 
província, do distrito e não onde o cidadão tem a sua residência habitual, no bairro ou aldeia 
ou no seu local de trabalho. 
 
O Cidadão no seu local de residência ou de trabalho carece de informação sobre os direitos, 
liberdades e garantias de que seja titular e desconhecendo-os nada poderá dizer sobre o seu 
cumprimento por parte do Estado ou não em conformidade com a Constituição e demais leis. 
 
A falta de conhecimento sobre os seus legítimos direitos torná-lo-á agente passivo em face de 
uma violação, por desconhecimento do direito que o assiste em cada circunstância e momento. 
 
O artigo 38 determina que todos os cidadãos têm o dever de respeitar a ordem constitucional, 
mas em nenhum outro dispositivo consagra-se de que modo os cidadãos devem tomar 
conhecimento da ordem constitucional a respeitar e muito menos são indicados os mecanismos 
de acesso ao direito que não sejam por via dos tribunais aos quais cabe exercer as funções 
previstas no artigo 212 e seguintes. 
 
Todas as normas jurídicas emanadas na Ordem Jurídica apresentam-se em língua portuguesa, 
qualificada nos termos do artigo 10 da Constituição de língua oficial. 
 
Porém, a maioria dos cidadãos nacionais falam línguas nacionais consideradas como 
património cultural e educacional que promovem o seu desenvolvimento e utilização crescente 
como línguas veiculares da nossa identidade, conforme o artigo 9 da CRM. 
 
Pese embora esteja consagrado na lei fundamental a necessidade de uso das línguas nacionais, 
a situação com que nos deparamos revela-nos que as leis, os julgamentos, as mensagens, as 
comunicações do Estado, da administração pública e todo o relacionamento do Estado com os 
cidadãos são ainda em português, bem como os serviços públicos funcionam em língua 
portuguesa e não existe instituído no sistema nacional, um serviço público de tradução para os 
cidadãos não falantes da língua oficial. 
 
 
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Há porém, esforço louvá-lo desenvolvido pelo Governo de Moçambique e pelos órgãos de 
comunicação social, tais como o ensino Bilingue que tem vindo a ser ministrado nas 
provinciais, junto das escolas, povoações, bairros, aldeias e outros consistindo no ensino na 
língua local e as estações da Rádio Moçambique que transmitem os seus programas 
radiofónicos em língua local, em todas províncias do país. 
 
O factor língua contribui assim para a inacessibilidade do Direito e da justiça e incumprimento 
do gozo pleno dos direitos de que os cidadãos sejam titulares. 
 
Pela Lei n.º 33/2009, de 22 de Dezembro, a Assembleia da República criou a Comissão dos 
Direitos Humanos que de entre as funções conferidas no artigo 5 tem por dever realizar as 
seguintes entre outras: 
 
a) Promover e proteger os direitos humanos no Pais, através de programas de 
educação sobre direitos humanos e execução de acções de protecção dos 
mesmos direitos estabelecidos nos termos da Constituição e da referida lei; 
b) Desenvolver e conduzir programas de informação para promover o 
entendimento público da lei e do título III da Constituição – Direitos, Deveres 
e Liberdades fundamentais – e sobre o papel e actividades da Comissão dos 
Direitos Humanos. 
Por conseguinte, a Comissão dos Direitos Humanos formalmente criada em 2009 aguarda pela 
eleição dos seus membros para o seu pleno funcionamento, e enquanto isso, o vazio instituído 
pela omissão do dever de constituir a Comissão mantém-se e o cidadão é o mais prejudicado. 
 
A Constituição tem um regime específico sobre o Advogado e consta do artigo 63 
nos seguintes termos: 
 
Artigo 63 
(Mandato judicial e advocacia) 
 
1. O Estado assegura a quem exerce o mandato judicial, as imunidades necessárias ao seu 
exercício e regula o patrocínio forense, como elemento essencial à administração da justiça. 
 
2. No exercício das suas funções e nos limites da lei, são invioláveis os documentos, a 
correspondência e outros objectos que tenham sido confiados ao advogado pelo seu 
constituinte, que tenha obtido para defesa deste ou que respeitem à sua profissão. 
 
3. As buscas, apreensões ou outras diligências similares no escritório ou nos arquivos do 
advogado só podem ser ordenadas por decisãojudicial e devem ser efectuadas na presença 
do juiz que as autorizou, do advogado e de um representante da ordem dos advogados, 
nomeado por esta para o efeito, quando esteja em causa a prática de facto ilícita punível com 
prisão superior a dois anos e cujos indícios imputem ao advogado a sua prática. 
 
4. O advogado tem o direito de comunicar pessoal e reservadamente com o seu patrocinado, 
mesmo quando este se encontre preso ou detido em estabelecimento civil ou militar. 
 
5. A lei regula os demais requisitos relativos ao mandato judicial e a advocacia. 
 
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21 
 
Desta disposição é notório a independência e o carácter privado ou liberal da profissão de 
Advocacia e ainda o papel do Advogado na defesa dos direitos das pessoas frente ao Estado. 
 
É sabido que os Advogados no exercício da sua profissão são colaboradores da Administração 
da Justiça, sendo um dos pilares, contando com os Tribunais e o Ministério Público e nesta 
qualidade espera-se do profissional do Direito, nos termos do artigo 4 da Lei n.˚ 28/2009, de 
29 de Setembro, o seguinte: 
 
a) Defender o Estado de Direito democrático, os direitos e liberdades fundamentais e 
participar na boa administração da Justiça; 
b) Promover o acesso à justiça, nos termos da Constituição; 
c) Contribuir para o desenvolvimento da cultura jurídica para o conhecimento e 
aperfeiçoamento do Direito, devendo pronunciar-se sobre os projectos de diplomas 
legais que interessam ao exercício da advocacia, ao foro judicial e à investigação 
criminal; 
d) Participar no estudo e divulgação das leis e promover o respeito pela legalidade 
 
A conduta do Advogado no exercício da profissão espera-se que seja a prevista no artigo 72 do 
estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique que se dispõe da seguinte maneira: 
 
a) O Advogado é indispensável à administração da justiça e, como tal, deve ter um 
comportamento público e profissional adequado à dignidade e responsabilidade da 
função que exerce, cumprindo pontual e escrupulosamente os deveres consignados no 
Estatuto e todos aqueles que a lei, os usos, costume e tradições profissionais impõem. 
b) A honestidade, probidade, rectidão, lealdade, cortesia e sinceridade são obrigações 
profissionais. 
Para terminar este ponto importa referir que a Constituição no n.º 2 do artigo 62, prevê ao 
cidadão que for comunicado que é arguido em processo criminal e nesta qualidade é lhe 
indicado nos termos da lei penal um conjunto de direitos que o assiste até a condenação judicial 
transitada em julgado, de entre os direitos figura o de escolher livremente o seu defensor para 
o assistir em todos os actos do processo penal a decorrer. 
 
Trata-se de um direito importante que consubstancia a protecção jurídica simultânea e de 
acesso ao direito. 
 
2. A tutela jurisdicional dos direitos fundamentais 
 
A tutela dos direitos e liberdades fundamentais é na verdade a principal garantia do gozo 
efectivo dos direitos que a ordem jurídica interna tutela em relação ao cidadão. 
 
Se não houver um tribunal, órgão jurisdicional independente e imparcial que na sua actuação 
observa e respeita a igualdade e oportunidade das partes e decide segundo critérios objectivos 
previstos na lei e os cidadãos têm a possibilidade de se dirigirem para essa instância judicial 
para a declaração e efectivação dos seus direitos lesados por um outro cidadão ou pelo Estado, 
os direitos e liberdades fundamentais consagrados na Constituição e na lei são uma letra morta 
e só visam distorcer a imagem do Estado no exterior quando o cidadão não se beneficia do 
direito que lhe assiste. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
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Os direitos e liberdades fundamentais despidos da protecção jurisdicional de nada valem e a 
sua consagração não tem sentido nem valor jurídico, pois não existe mecanismos que oferece 
garantias da sua efectivação no plano material. 
 
É nesta conformidade que a lei constitucional estabelece no artigo 70 o direito de recorrer aos 
tribunais contra os actos que violem os seus direitos e interesses reconhecidos pela Constituição 
e pela lei. 
 
O gozo pleno dos direitos e liberdades fundamentais requer: 
 
a) Tutela jurisdicional de todos os direitos e liberdades; 
b) O direito de acesso de todos os cidadãos sem qualquer descriminação aos tribunais para 
a defesa dos seus direitos; 
c) A garantia de que o acesso a justiça não poderá de forma alguma ser denegada em 
virtude de o cidadão ter falta ou insuficiência de recursos financeiros; 
d) O gozo da assistência jurídica e patrocínio judiciário; 
 
Por fim destacar o facto de que a tutela jurisdicional dos direitos fundamentais implica nos 
termos do artigo 211 da CRM que aos tribunais compete-lhes garantir e reforçar a legalidade 
como factor da estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e 
liberdades dos cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos e entidades 
com existência legal. 
 
Apenas aos tribunais compete penalizar as violações da legalidade e decidirem pleitos de 
acordo com o estabelecido na lei, educar os cidadãos e a administração pública no cumprimento 
voluntário e consciente das leis, estabelecendo uma justa e harmoniosa convivência social. 
 
Na esteira deste entendimento, as decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório para 
todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas e prevalecem sobre as de outras autoridades, 
conforme o artigo 214, da CRM. 
 
A tutela jurisdicional encontra-se de forma expressa ou ainda aflorada nas seguintes 
disposições constitucionais: 
 
Artigo 66 (Habeas corpus) 
 
1. Em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito a recorrer à providência do 
habeas corpus. 
 
2. A providência de habeas corpus é interposta perante o tribunal, que sobre ela decide no 
prazo máximo de oito dias. 
 
O artigo 69, (Direito de impugnação) 
 
O cidadão pode impugnar os actos que violam os seus direitos estabelecidos na Constituição 
e nas demais leis. 
 
 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
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23 
 
Artigo 70 (Direito de recorrer aos tribunais) 
 
O cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus direitos 
e interesses reconhecidos pela Constituição e pela lei. 
Artigo 89 (Direito à saúde) 
 
Todos os cidadãos têm o direito à assistência médica e sanitária, nos termos da lei, bem como 
o dever de promover e defender a saúde pública. 
 
Artigo 90 (Direito ao ambiente) 
 
1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender. 
 
2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, 
adoptam políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os recursos 
naturais. 
 
Artigo 213 (Inconstitucionalidade) 
 
Nos feitos submetidos a julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que 
ofendam a Constituição. 
 
Além destes dispositivos a Constituição estabelece ainda que o cidadão pode invocar os artigos 
40, 41, 44, 45, 71, 81, 92 e 252, n.˚ 3, 243, n.˚ 1 al. a) e 244, al, g) para a defesa dos seus 
interesses ou do interesse geral. 
 
O quadro jurídico-constitucional ora apontado parece nos indicar no sentido de os cidadãos 
fazerem funcionar o Conselho Constitucional e tribunais judiciais para que estes protejam e 
garantam os direitos fundamentais dos cidadãos, consagrados na Constituição. 
 
De acordo com este raciocínio, deduz-se tratar da defesa de interesses subjectivos dos cidadãos,pois visa satisfazer interesses dos cidadãos individualmente considerados. 
 
3. Actos jurídico-públicos e meios jurisdicionais 
 
A tutela dos direitos fundamentais tem consagração constitucional contra todos os órgãos de 
soberania, incluindo o conjunto dos órgãos governativos e instituições públicas que não podem 
quer a título individual, quer conjuntamente decidirem pela suspensão ou obstrução do 
exercício pleno dos direitos fundamentais pelos cidadãos. 
 
As situações que impõem a suspensão do exercício dos direitos fundamentais figuram da CRM 
no seu artigo 72 e as circunstancias que determinam o acto, bem como o processo para o efeito, 
consta dos artigos 282 e seguintes. 
 
A Constituição, apesar de permitir a suspensão em determinadas situações ponderadas pelo 
Presidente da República com envolvimento do Governo tendo em conta que recai sobre este a 
responsabilidade de garantir o gozo dos direitos e liberdades e de velar pela ordem pública e 
estabilidade dos cidadãos, conforme os artigos 203, al. a) e 202, ambos da CRM, com o 
pronunciamento do Conselho Nacional de Defesa e segurança, artigo 264 e sancionamento da 
Assembleia da República, al. g) do n.˚ 2, do artigo 178, impõe-se a salvaguarda em termos 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
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absolutos, dos direitos fundamentais que constituem o mínimo da dignidade pessoal-
particularmente carecidos de protecção em situações de desordem ou de intranquilidade 
social -, além de exigir a estrita necessidade e adequação das medidas restritivas para o 
restabelecimento da normalidade da normalidade constitucional, que se exige “pronto”, isto 
é, tão rápido quanto possível.12 
 
A tutela graciosa ou não contenciosa dos direitos fundamentais 
 
O Direito, traduzido no processo civil, recomenda a todos os cidadãos que em caso de conflito 
as medidas primárias a serem accionadas para dirimir o referido conflito é a via extrajudicial, 
em que as partes envolvidas por si só ou com apoio e intervenção de outras pessoas jurídicas 
possam recorrer a mecanismos amigáveis de resolução de conflito que não seja em primeiro 
plano a acção judicial. 
 
O tribunal aprecia e julga os factos que lhe forem presentes segundo os ditames do Direito, 
enquanto que as partes entre si gozando da autonomia de vontade podem resolver o conflito 
adoptando medidas reconciliatórias em beneficio mutuo das partes com menos custos que a 
acção no tribunal. 
 
Os tribunais emitem uma decisão jurídica com força obrigatória para todas as partes, uma vez 
transitado em julgado e nem nenhuma das partes pode recuar da decisão decretada, conforme 
o artigo 214 da CRM. 
 
A intervenção judicial no caso que põe as partes em conflito só traz desvantagens para todos, 
decorrendo dos transtornos impostos pelos procedimentos processuais, contratação e 
pagamento de advogado cuja assistência judicial é obrigatória, conforme o tipo de processo, o 
tempo que o processo leva para obtenção do resultado e a tramitação demorada do processo até 
decisão final, pelo menos em Moçambique, por carência de meios humanos e outros no sistema 
judicial. 
 
Assim, em face de todos estes inconvenientes o sistema prevê uma outra modalidade de 
resolução dos conflitos, ou seja, outra forma de protecção dos direitos tutelados que é a tutela 
graciosa dos Direitos Fundamentais. 
 
Esta modalidade surge por se reconhecer que o sistema judicial no Estado de Direito, por mais 
célere, avançado e imensos recursos e meios de actuação tiver nunca pode conseguir cobrir 
eficazmente todas as necessidades da sociedade, sendo, por isso, importante a tutela graciosa 
por se mostrar mais moldável às circunstâncias do desenvolvimento das relações pessoais entre 
os cidadãos. 
 
O Professor Jorge Miranda13 aponta três notas básicas para se recorrer a tutela graciosa: 
 
Primeiro – Não existência de formalismo (ou de formalismos específicos) 
Segundo – Interpenetração com elementos de oportunidade e de mérito; 
Terceiro – Grande variedade e plasticidade das suas manifestações (sua fundamentação 
e seus resultados). 
 
 
12 José Carlos Vieira de Andrade, Os Direitos Fundamentais na Constituição da Republica Portuguesa de 
1976, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2004, pagina 339. 
13 Idem, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, página 248 e seguintes. 
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O Professor Miranda acrescenta ainda que a tutela graciosa pode realizar-se através de órgãos 
administrativos como através de órgãos políticos; 
 
Tanto pode traduzir-se numa nova intervenção do órgão que antes se tenha pronunciado sobre 
a matéria como a uma espécie de autocontrolo dentro de certo aparelho orgânico, outras vezes 
a uma fiscalização por outro ou por outros órgãos; umas vezes visa a prática de certo acto ou a 
adopção de certa providência, outras vezes dirige-se contra acto já praticado, visando a sua 
reconsideração, revogação ou modificação; tanto pode atender à correcção de uma 
inconstitucionalidade ou de uma ilegalidade como atender à aplicação de uma sanção por 
comportamento ilícito. 
 
Das garantias graciosas, temos em primeiro plano, o direito de petição que consta do artigo 
79 da CRM, com a epígrafe direito de petição, queixa e reclamação, regulamentada pela lei n.˚ 
2/96, de 4 de Janeiro, publicado no suplemento do Boletim da República n.˚ 1, de 4 de Janeiro 
de 1996, conjugado com o Decreto n.˚ 30/2001, de 15 de Outubro, publicado no suplemento 
do Boletim da República n.˚ 41, de 15 de Outubro de 2001. 
 
O direito de petição permite aos cidadãos apresentar petições, queixas e reclamações as 
autoridades administrativas, politicas ou civis, exigindo o restabelecimento dos seus direitos 
violados ou agir em defesa de terceiros no interesse geral. 
 
O peticionário dirigindo-se as autoridades administrativas reclama, queixa-se ou interpõe o 
recurso hierárquico gracioso solicitando que lhe seja dada uma decisão administrativa que se 
funda na legalidade violada de harmonia com os critérios e procedimentos instituídos na 
instituição, substituindo assim a decisão que se contesta. 
 
O direito de petição quando dirigido aos órgãos políticos ou análogos visam a intervenção do 
respectivo órgão com vista a usar a sua influência no sistema politico administrativo, sem 
substituir os órgãos competentes em razão da matéria, na resolução pacifica do conflito que 
opõe o cidadão com a instituição publica, exigindo o cumprimento da lei que julga violada. 
 
Para a concretização deste direito está criado ao nível do Regimento da Assembleia da 
República, Lei n.˚ 17/2007, de 18 de Julho, a Comissão de Petições. 
 
O cidadao querenco repor o direito que lhe foi violado ou em defesa de terceiros no interesse 
geral pode recorrer aos seguintes instrumentos em pedido inicial feito por escrito e assiando 
pelo seu autor ou por quem o representa; 
 Requerimento – instrumento pelo qual o interessado pede, segundo as formas legais 
impostas, a uma autoridade a quem compete especialmente conceder ou autorizar o que 
se requer; 
 
 Reclamação – instrumento pelo qual o lesado ou o ofendido opõe-se a uma decisão ou 
acto já praticado em relação ao qual não se conforma e dirige perante a pessoa ou a 
autoridade que praticou ou tomou a decisão com a finalidade de persuadir a alterar ou 
revogar a decisão com a qual não se conforma; 
 
 
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 Recurso hierárquico ou gracioso – instrumento pelo qual o lesado ou o ofendido opõe-se a uma decisão já tomada em relação a qual não se conforma, com fundamento em 
elementos de prova que demonstram que a decisão foi tomada ilegalmente ou 
injustamente e é dirigido a pessoa ou a autoridade superior ao que tomou a decisão 
com a finalidade de persuadir a alterar ou revogar a decisão do seu inferior hierárquico; 
 
 Recurso tutelar - instrumento pelo qual o lesado ou o ofendido opõe-se a uma decisão 
ou acto já praticado por uma autoridade do Conselho Municipal ou de povoação em 
relação ao qual não se conforma e dirige perante a pessoa ou a autoridade que exerce a 
tutela sobre as autarquias locais, ao nível da província é o Governador provincial ou 
Governo provincial e ao nível central são os Ministros da Função Pública, Ministro da 
Administração Estatal e o Ministro das Finanças, com a finalidade de persuadir a alterar 
ou revogar a decisão; 
 
 Recurso de revisão - instrumento pelo qual o lesado ou o ofendido opõe-se a uma 
decisão já tomada em relação a qual não se conforma por existir elementos de prova 
que demonstram que a decisão foi tomada com base em factos inexistentes ou inexactos 
que influiram na decisão e é dirigido a pessoa ou a autoridade superior ao que tomou 
a decisão com a finalidade de persuadir a alterar ou revogar a decisão do seu inferior 
hierárquico; 
 
 Recurso contencioso - instrumento pelo qual o lesado ou o ofendido opõe-se a uma 
decisão já tomada em relação a qual não se conforma por existir elementos de prova 
que demonstram que a decisão foi tomada ilegalmente, injustamente ou com base em 
factos inexistentes ou inexactos que influiram na decisão e é dirigido ao Tribunal 
competente do local onde o facto ocorreu com a finalidade de persuadir a alterar ou 
revogar a decisão que se constesta; 
 
A outra figura importante que a ordem jurídica contempla visando a defesa e protecção dos 
direitos fundamentais fora dos tribunais é o Provedor de Justiça que no sistema Anglo-
saxónico é designado de Ombudsman. 
 
O Provedor de Justiça consta da Constituição da República no artigo 256 e seguintes e 
regulamentado pela Assembleia da República através da Lei n.˚7/2006, de 16 de Agosto14 
aprecia os factos que lhe forem submetidos, sem poder decisório, dirigindo aos órgãos 
competentes as necessárias recomendações para prevenir e reparar as injustiças que apurar que 
estão a ocorrer. 
 
Por conseguinte, o Provedor de Justiça não pode anular, revogar ou modificar os actos dos 
poderes públicos, quer da Administração Publica, quer da autarquia local. O seu poder reside 
na persuasão do titular do órgão que tomou a decisão. 
 
A intervenção do Provedor da Justiça por queixa, reclamação ou pedido do cidadão não 
interrompe nem suspende os prazos ou a marcha normal do processo em curso na administração 
pública. 
 
 
14 Publicado no Boletim da República n.˚ 33, de 16 de Agosto de 2006. 
Doutor António S. Chipanga, Docente e Regente – Lições Sumárias da disciplina de Direitos Fundamentais, 
Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
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O Provedor de Justiça é o órgão do Estado que tem como função a garantia dos direitos dos 
cidadãos, a defesa da legalidade e da justiça na actuação da Administração Pública, eleito pela 
Assembleia da República, por maioria de dois terços dos deputados, pelo tempo que a lei 
determinar. 
 
A função principal do Provedor de Justiça é a defesa dos direitos e interesses legítimos dos 
cidadãos e nesta sua missão os órgãos e agentes da administração pública devem prestar a 
devida colaboração e apoio. 
 
O Provedor de Justiça é independente e imparcial no exercício das suas funções, devendo 
observância apenas à Constituição e às leis. 
 
Ao Provedor de Justiça apresentam a petição, queixas ou reclamações, os cidadãos, individual 
ou colectivamente, por actos ou omissões dos poderes públicos e em nome destes tem a 
competência de solicitar a declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade das leis, 
conforme al. f) do n.˚ 1 do artigo 244 e tem assento no Conselho de Estado, al. d) do n.˚ 2, do 
artigo 163, ambos da CRM. 
 
O Provedor de Justiça submete uma informação anual à Assembleia da República sobre a sua 
actividade. 
 
O direito de apresentar petição, queixa ou reclamação é extensivo aos estrangeiros apátridas 
quando se trate de defesa dos seus próprios direitos ou interesses 
 
A actividade do Provedor de Justiça pode ainda ser exercida por iniciativa própria, nos casos 
de violação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, desde que o facto 
chega ao seu conhecimento e, é independente dos meios graciosos e contenciosos previstos na 
Constituição da República e na lei. 
 
O Provedor de Justiça age sempre em consequência de uma petição, queixa ou reclamação que 
lhe tenha sido apresentado por um ou mais cidadãos que contesta a actuação da administração 
pública em relação aos seus direitos. 
 
4. A responsabilidade civil das entidades públicas 
 
O Estado moçambicano consagra no artigo 58, com epigrafe Direito à indemnização e 
responsabilidade do Estado, uma disposição normativa nos termos da qual: 
 
1. A todos é reconhecido o direito de exigir, nos termos da lei, indemnização pelos prejuízos 
que forem causados pela violação dos seus direitos fundamentais. 
2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais dos seus agentes, no exercício 
das suas funções, sem prejuízo do direito de regresso nos termos da lei. 
Ora, pelo conteúdo da norma, o Estado assume a responsabilidade de proceder à indemnização 
pecuniária pelos prejuízos morais ou patrimoniais que forem causados ao cidadão pela violação 
dos seus direitos fundamentais, desde que sejam ilícitos e culposos. 
A responsabilidade do Estado pelos danos causados ao cidadão pode compreender 
responsabilidade: 
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Faculdade de Direito, Universidade Eduardo Mondlane 
 
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 no sentido de responsabilidade político-criminal dos titulares de cargos públicos, como 
seja, os dos órgãos do Estado ao nível central, local e autarquias locais; 
 no sentido de responsabilidade disciplinar dos funcionários ou agentes do Estado; 
 no sentido de responsabilidade política. Esta responsabilidade abrange um complexo 
de mecanismos jurídico-político de valor ou desvalor a conduta política do titular do 
órgão do Estado que causou o dano. 
O artigo tem como sujeito lesado o cidadão individual ou colectivamente considerado, como 
são as pessoas colectivas da esfera privada, sem prejuízo de uma autarquia exigir o mesmo 
direito em caso de sentir-se lesado por um acto praticado por um titular do órgão do Estado ou 
seus funcionários. 
A responsabilidade civil do Estado e das demais entidades públicas apresenta-se como 
responsabilidade por actos de função administrativa, por esta ser a que mais directa e 
imediatamente relaciona-se com o cidadão na prestação de serviços públicos. São frequentes 
as situações factuais que podem gerar a responsabilidade civil do Estado pelos actos ou omissão 
do seu dever pelos seus agentes no exercício da função legislativa, executiva ou jurisdicional 
resultando em actos ilícitos, nomeadamente leis ou sentenças inconstitucionais, 
nacionalizações, expropriação, declaração de Estado de sítio ou de emergência e leis que lesem 
os direitos/interesses de pessoas, execução prévia por parte da administração pública de normas 
contrárias a administração pública. 
Ocorrendo qualquer um dos casos cabe ao Estado repor a legalidade e indemnizar o cidadão 
pelos danos causados. 
 
5. Movimentos sociais e direitos humanos: o papel dos diferentes actores na 
protecção dos Direitos Humanos. 
A defesa e promoção dos direitos fundamentais não é nem pode ser tarefa 
exclusivamente do Estado e demais entidades públicas perante

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