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Indaial – 2021 ModelageM TridiMensional e ergonoMia Prof.a Ana Cláudia Antunes 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Ana Cláudia Antunes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: A636m Antunes, Ana Cláudia Modelagem tridimensional e ergonomia. / Ana Cláudia Antunes. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 217 p.; il ISBN 978-65-5663-570-5 ISBN Digital 978-65-5663-569-9 1. Modelagem tridimensional. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 740 apresenTação Prezado acadêmico, este livro didático compreende os conteúdos relacionados à modelagem tridimensional e ergonomia. Aqui, você vai conhecer o conceito, história e técnicas da modelagem tridimensional, e será capaz de executá-las em modelos básicos e avançados de construção de vestuário, bem como aprenderá o conceito de ergonomia e aplicação em produtos de moda. A modelagem é uma etapa imprescindível para o desenvolvimento de novos produtos na indústria do vestuário, através dela é possível construir moldes que orientarão o corte de tecido para transformação em roupas. A modelagem tridimensional é uma técnica milenar e intuitiva de modelar o tecido diretamente no corpo, com o avanço dos estudos na área, novas técnicas foram desenvolvidas e o método conhecido por sua utilização na alta costura e em peças sob medida, também foi incorporado à indústria do vestuário. A aplicação da modelagem tridimensional no processo industrial pode ser utilizada tanto como técnica criativa quanto ferramenta para tornar o processo de modelagem mais assertivo, devido à facilidade de visualização do resultado final durante a sua execução. Já a ergonomia aplicada aos produtos de moda, confere a devida adequação das peças ao corpo humano, tornando-as confortáveis e funcionais. Dessa forma, este livro foi dividido em três unidades: Na Unidade 1, abordaremos a conceituação da técnica tridimensional chamada moulage, a relação entre técnica e criatividade através da modelagem tridimensional e como esta modelagem está inserida no processo industrial de desenvolvimento de vestuário. Também serão apresentados quais os manequins, medidas e instrumentos utilizados para realização da técnica, além de demonstrar como realizar a marcação de fitilho tanto para construção de bases como de modelos avançados. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos a elaboração de bases através da modelagem tridimensional, a preparação do manequim para moulage e então será demonstrado como construir as principais bases de modelagem, bem como executar a interpretação dessas bases para transformação em modelos avançados. Também será apresentado como fazer a preparação para a modelagem final, através conferência da tela, planificação e finalização. Por fim, na Unidade 3, a conceituação da ergonomia enquanto área de conhecimento e estudo, a sua divisão de acordo com a literatura e como a ergonomia física, cognitiva e organizacional podem ser aplicadas ao contexto da moda, e também como acontece a relação entre usuários e artefatos de vestuário. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Ao final deste livro você conhecerá a técnica de modelagem tridimensional e sua importância dentro do processo industrial de desenvolvimento de peças de vestuário, saberá como utilizar o método na construção de bases de modelagem e também em modelos avançados, bem como compreenderá o conceito de ergonomia aplicado no desenvolvimento de novos produtos de moda. Bons estudos! Prof.a Ana Cláudia Antunes Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE ............................................................................... 1 TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO ......................................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONCEITO DA TÉCNICA TRIDIMENSIONAL ......................................................................... 3 2.1 HISTÓRIA ....................................................................................................................................... 5 2.2 ETAPAS DO PROCESSO .............................................................................................................. 9 2.3 TECIDOS ....................................................................................................................................... 12 2.4 SENTIDO DO FIO ......................................................................................................................... 13 2.5 ACESSÓRIOS DE ESTRUTURA ................................................................................................. 15 3 MOULAGE NO PROCESSO INDUSTRIAL ................................................................................ 16 3.1 VANTAGENS DO USO DA MOULAGE NA INDÚSTRIA ................................................... 18 3.2 DA MOULAGE AO MOLDE FINAL NA INDÚSTRIA .......................................................... 20 4 A RELAÇÃO ENTRE TÉCNICA E CRIATIVIDADE ................................................................. 21 4.1 MOULAGE COMO FERRAMENTA CRIATIVA ..................................................................... 21 4.2 TÉCNICAS CRIATIVAS .............................................................................................................. 23 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 26 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 27 TÓPICO 2 — MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS ....................... 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................31 2 MANEQUINS ..................................................................................................................................... 31 2.1 MANEQUIM FEMININOS ......................................................................................................... 32 2.2 MANEQUINS MASCULINO E INFANTIL .............................................................................. 33 2.3 MANEQUIM EM MEIA ESCALA ............................................................................................. 35 3 TAMANHOS E MEDIDAS .............................................................................................................. 36 3.1 BOURRAGE ................................................................................................................................... 37 4 INSTRUMENTOS E MATERIAIS.................................................................................................. 39 4.1 PARA A MARCAÇÃO ................................................................................................................. 40 4.2 FITAS E ALFINETES ................................................................................................................... 40 4.3 FERRAMENTAS DE MEDIÇÃO ................................................................................................ 41 4.4 EQUIPAMENTOS DE PASSADORIA ....................................................................................... 41 4.5 OUTROS MATERIAIS .................................................................................................................. 42 5 TECIDOS ............................................................................................................................................. 43 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 45 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 46 TÓPICO 3 — MARCAÇÃO DO MANEQUIM............................................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 49 2 PREPARAÇÃO DO MANEQUIM ................................................................................................. 49 3 MARCAÇÃO DAS LINHAS ESTRUTURAIS ............................................................................. 50 4 MARCAÇÃO DE MODELO ............................................................................................................ 60 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 62 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 68 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 69 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 71 UNIDADE 2 — MOLDES ................................................................................................................... 73 TÓPICO 1 — CONSTRUÇÃO DE MOLDES .................................................................................. 75 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75 2 PREPARAÇÃO PARA MOULAGE ................................................................................................. 75 2.1 PREPARAÇÃO DO MANEQUIM ............................................................................................ 75 2.2 USO DE ELEMENTOS OU ACESSÓRIOS ............................................................................... 76 2.3 PREPARAÇÃO DA TELA .......................................................................................................... 77 3 BASE DA SAIA RETA FEMININA ................................................................................................ 80 3.1 FRENTE .......................................................................................................................................... 81 3.2 COSTAS .......................................................................................................................................... 85 3.3 FINALIZAÇÃO DO MOLDE BASE DA SAIA ......................................................................... 88 4 BASE DO CORPO FEMININO ....................................................................................................... 89 4.1 FRENTE .......................................................................................................................................... 90 4.2 COSTAS .......................................................................................................................................... 95 4.3 FINALIZAÇÃO DO CORPO FEMININO ................................................................................ 99 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103 TÓPICO 2 — INTERPRETAÇÃO DE MODELOS ....................................................................... 105 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105 2 TÉCNICAS DE INTERPRETAÇÃO ............................................................................................. 105 3 PENCES .............................................................................................................................................. 106 3.1 TRANSPORTE DE PENCES ..................................................................................................... 107 4 ESTUDO DE DRAPEADOS .......................................................................................................... 109 4.1 TIPOS DE DRAPEADOS .......................................................................................................... 110 5 INTERPRETAÇÃO DE MODELOS ............................................................................................. 111 5.1 SAIA EVASÊ ................................................................................................................................ 111 5.2 BLUSA COM DECOTE FRANZIDO ...................................................................................... 115 5.3 BLUSA DRAPEADA NA FRENTE .......................................................................................... 119 5.4 VESTIDO COM RECORTE ....................................................................................................... 121 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 126 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 127 TÓPICO 3 — PREPARAÇÃO DOS MOLDES .............................................................................. 129 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 129 2 OBJETIVO DA PLANIFICAÇÃO................................................................................................. 129 3 MARCAÇÃO DA TELA ................................................................................................................ 130 4 CONFERÊNCIA DA TELA E REFILAMENTO ........................................................................132 5 PLANIFICAÇÃO .............................................................................................................................. 135 5.1 DA TELA AO MOLDE DE PAPEL ........................................................................................... 136 5.2 DO PAPEL AO MOLDE BASE.................................................................................................. 136 6 FINALIZAÇÃO ................................................................................................................................ 138 6.1 MARCAÇÃO DOS PONTOS DE CONTROLE ...................................................................... 138 6.2 IDENTIFICAÇÃO DO MOLDE ................................................................................................ 138 6.3 MARGEM DE COSTURA .......................................................................................................... 140 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 141 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 148 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 149 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 151 UNIDADE 3 — ERGONOMIA ........................................................................................................ 153 TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO ..................................................................................................... 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 CONCEITO DE ERGONOMIA .................................................................................................... 155 3 CLASSIFICAÇÃO DA ERGONOMIA ........................................................................................ 158 3.1 ERGONOMIA FÍSICA .............................................................................................................. 159 3.2 ERGONOMIA COGNITIVA ..................................................................................................... 161 3.3 ERGONOMIA ORGANIZACIONAL ...................................................................................... 163 4 ERGONOMIA APLICADA À MODA ......................................................................................... 164 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 2 — ERGONOMIA FÍSICA APLICADA À MODA .................................................... 171 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 171 2 VESTUÁRIO E ERGONOMIA FÍSICA ...................................................................................... 171 3 ADEQUAÇÃO DIMENSIONAL .................................................................................................. 172 3.1 ANTROPOMETRIA ................................................................................................................... 173 3.2 CORPO: ESTRUTURA E MOVIMENTO ............................................................................... 176 4 ADEQUAÇÃO DE MATERIAIS ................................................................................................... 180 4.1 CONFORTO E MATERIAIS TÊXTEIS ..................................................................................... 180 4.2 ELEMENTOS DE INTERAÇÃO .............................................................................................. 183 5 MODELAGEM E VESTIBILIDADE ............................................................................................ 184 5.1 TIPOS DE CORPOS .................................................................................................................... 186 5.2 FOLGAS DE VESTIBILIDADE ................................................................................................. 188 6 ERGONOMIA E MODA INCLUSIVA ........................................................................................ 189 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 192 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 193 TÓPICO 3 — ERGONOMIA COGNITIVA E ERGONOMIA ORGANIZACIONAL APLICADAS À MODA ............................................................................................ 197 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 197 2 ERGONOMIA COGNITIVA ......................................................................................................... 197 2.1 ERGONOMIA COGNITIVA, PERCEPÇÃO HUMANA E MODA ..................................... 198 3 ERGONOMIA ORGANIZACIONAL ......................................................................................... 200 3.1 ERGONOMIA ORGANIZACIONAL NO CONTEXTO DA MODA ................................. 200 4 RELAÇÃO ENTRE USUÁRIOS E ARTEFATOS DE MODA .................................................. 203 4.1 ANÁLISE ERGONÔMICA DE ARTEFATOS DE MODA ..................................................... 203 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 206 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 212 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 213 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 216 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o que é modelagem tridimensional, sua conceituação e história; • conhecer as etapas do processo de modelagem tridimensional, desde a escolha adequada do manequim até o molde final; • identificar os manequins, medidas e instrumentos necessários para realização da modelagem tridimensional; • realizar a marcação de fitilho no manequim de moulage, tanto para construção de bases de modelagem quando de modelos avançados. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITUAÇÃO TÓPICO 2 – MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS TÓPICO 3 – MARCAÇÃO DO MANEQUIM Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 CONCEITUAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Dentro do processo industrial de produção de vestuário, a modelagem consiste em uma parte essencial no desenvolvimento de produto de uma peça de roupa. Considerando que os moldes orientam o corte em escala para a costura das peças, a assertividade da modelagem impacta todo o processo produtivo, por isso a importância da escolha adequada de técnica de modelagem que definirá o sentido do fio, caimento do tecido e definição de comprimentos e volumes. A modelagem tridimensional, também conhecida como moulage, consiste em uma técnica para construção demoldes para peças de vestuário diretamente sobre manequim ou corpo do modelo, é amplamente utilizada tanto para roupas sob medida quanto em produção de escala industrial. O método permite que o modelista trabalhe intimamente com o tecido, moldando, alfinetando, riscando e cortando, o principal destaque da técnica é que possibilita visualizar o resultado da modelagem enquanto está sendo executada. Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o conceito da técnica tridimensional chamada moulage, apresentaremos a história deste método, as etapas do processo, quais os tecidos adequados e como posicionar o correto sentido do fio. Também será explanada a relação entre técnica e criatividade através da modelagem tridimensional, bem como a forma em que a moulage está inserida no processo industrial de desenvolvimento de vestuário, as vantagens da adoção desta técnica pela indústria e como ela é aplicada. 2 CONCEITO DA TÉCNICA TRIDIMENSIONAL A moulage é um método de modelagem tridimensional que manipula o tecido diretamente no manequim com o auxílio de alfinetes, através de utilização de técnicas como pences e drapeados, proporcionando a oportunidade de esculpir o tecido, o método facilita a visualização do resultado ainda durante o processo, permitindo criar designs únicos e experimentais. A palavra moulage deriva do termo francês moulé que significa moldar, no sentido de dar forma. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 4 Moulage é uma técnica de modelagem, onde a construção do modelo do vestuário é feita diretamente sobre o corpo de modelo vivo ou busto de costura, permitindo a sua visualização no espaço, bem como seu caimento e volume, antes de a peça ser confeccionada. O processo de modelagem tridimensional facilita o entendimento da montagem das partes da roupa e suas respectivas funções. A técnica permite a produção de peças bem projetadas, com caimento perfeito, favorecendo a percepção das formas estruturais do corpo durante a construção das roupas (SILVEIRA, 2017, p. 2, grifo nosso). A modelagem tridimensional é muito versátil e pode ser utilizada, de acordo com Souza (2006, p. 27) “para a elaboração de bases de modelagem; para a interpretação e viabilização de modelos já concebidos, em especial os mais complexos; como auxílio à modelagem plana no desenvolvimento de modelos mais elaborados ou ainda como instrumento de criação”. Utilizada tanto para tecidos planos quanto malhas, a moulage permite elaborar moldes de vestidos, blusas, saias, calças, casacos, shorts e até mesmo lingerie e beachwear. FIGURA 1 – MOULAGE DE VESTIDO FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/95842298309306459/>. Acesso em: 12 maio 2021. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 5 Para melhor compreensão acerca da técnica de modelagem tridimensional, os próximos subtópicos abordarão a história do método e sua evolução, as etapas do processo para modelar uma roupa através da moulage, quais os tecidos apropriados para sua execução e a importância da escolha adequada para o sentido do fio e dos acessórios de estrutura. 2.1 HISTÓRIA A modelagem tridimensional pode ser considerada o primeiro método de modelar tecidos com o intuito de cobrir o corpo, realizada de maneira intuitiva pelo homem desde o surgimento dos primeiros materiais têxteis, sendo modelados, dobrados e enrolados ao redor do corpo de variados modos. Na civilização grega, o vestuário também era construído através da modelagem tridimensional e havia um conjunto de regras para sua execução, de acordo com Laver (1989, p. 25), “era composta de retângulos de tecidos de vários tamanhos, drapeados sobre o corpo, sem cortes ou costuras. Havia variações consideráveis na maneira de ajustar ao corpo, porém as linhas essenciais permaneciam as mesmas”. FIGURA 2 – ESCULTURAS GREGAS FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/790944753287185150/>. Acesso em: 12 maio 2021. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 6 Durante a idade média, os métodos de modelagem de roupas foram mudando e a modelagem plana, ou seja, bidimensional, ganhou espaço, porém existem poucos registros da evolução da técnica, somente algumas anotações e desenhos em cadernetas de costureiras e alfaiates da época. Segundo Souza (2006), ao longo do século XVIII, a modelagem do vestuário evoluía com os estudos alemães e franceses sobre antropometria, traçados de diagramas bidimensionais e a necessidade de fabricar uniformes masculinos em massa. Existiam inúmeros manuais de corte, enfatizando a preocupação com o aproveitamento do tecido e buscando a racionalização dos métodos utilizados – o antigo sistema do padrão de papel cortado nas medidas de um único cliente – com o auxílio da geometria e da antropometria. Era a tentativa de sintetizar as antigas práticas artesanais – que determinavam a execução de trajes sob medida bem ajustados, muitas vezes elaborados sobre o próprio corpo do cliente, remetendo à técnica da modelagem tridimensional – com as práticas da produção em série, onde um mesmo modelo deveria ser confeccionado em vários tamanhos seguindo um padrão de medidas pré-estabelecido (SOUZA, 2006, p. 31). Com a Revolução Industrial, e a necessidade de acelerar o processo de produção em massa das roupas, a modelagem bidimensional se tornou amplamente utilizada. O retorno da modelagem tridimensional se deve à Madeleine Vionnet, na década de 1920, na França, foi quando a técnica ficou conhecida mundialmente pelo nome moulage. A estilista aprimorou o método com a utilização do tecido no sentido do fio no viés e drapeados diferenciados. De acordo com Fisher (2010, p. 56), “Vionnet foi a primeira estilista a introduzir com sucesso o corte em viés para roupas. As mulheres trocaram seus espartilhos por vestidos cortados em viés, que se modelavam ao redor do corpo e destacam suas formas”. Enquanto, até então, a modelagem tridimensional era aplicada diretamente no corpo de um modelo ou cliente, Vionnet também inovou com a inclusão de manequim para facilitar o trabalho, já que passava horas modelando uma mesma peça, a estilista ficou conhecida por utilizar um boneco de madeira em meia escala, no qual realizava seus estudos de formas e volumes, para somente depois cortar o tecido em tamanho real. Para Silveira (2017), o trabalho de Madeleine Vionnet revolucionou a moda da época pela maneira como utilizava a modelagem tridimensional para dar vida às suas criações, a leveza visual dos seus vestidos, drapeados no sentido do viés em tecidos fluidos delineavam o corpo da mulher sem a necessidade de pences, conferindo uma estética sensual e longilínea, para a autora, a estilista atingiu o ápice do sucesso no início da década de 1930, e serve de referência e inspiração até os dias atuais. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 7 FIGURA 3 – MADELEINE VIONNET FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/503981014555241140/>; <https://images.yolancris.com/ wp-content/uploads/2019/09/6a00e5508f18158833011572048776970b-800wi.jpg>. Acesso em: 12 maio 2021. A estilista francesa, Madame Alix Grès, é outro nome importante na arte da moulage, principalmente durante a década de 1930. Também conhecida como “escultora dos tecidos”, Madame Grès preferia modelar diretamente no corpo das modelos e clientes, fazendo drapeados minuciosos que levavam vários metros de tecidos, porém, com uma graciosidade e leveza única, marca registrada da estilista. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 8 FIGURA 4 – MADAME GRÈS FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/33636328439992528/>; <https://www.pinterest.nz/ pin/510314201500856921/>. Acesso em: 12 maio 2021. Ao longo dos anos, a modelagem tridimensional evoluiu e se tornou marca registrada da alta costura francesa desde a década de 1950, quando as icônicas maisons Chanel, Dior e Givenchy passaram a incorporar a moulage no seu processo de produção e até hoje a utilização da técnica é uma das regras impostas pelo sindicato que regulamenta a alta costura, tornando-se, assim, símbolo de luxo dentro da moda. Apesar da modelagem tridimensional possuirmuitas vantagens, segundo Silveira (2002 apud SOUZA, 2006), após a revolução industrial que impulsionou a produção em série do vestuário, que buscava sempre por maior agilidade e redução de custos, a modelagem bidimensional passou a ser amplamente utilizada dentro das indústrias, enquanto a moulage desaparecia parcialmente e se tornava exclusiva dos trabalhos em ateliês de peças sob medida. No entanto, com a indústria do vestuário se tornando cada vez mais competitiva pela busca de qualidade e diferenciação, a modelagem tridimensional volta à cena, sendo incorporada tanto como processo criativo quanto como técnica essencial no desenvolvimento de novos produtos. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 9 Como a técnica da moulage foi difundida mundialmente pelos estilistas franceses, alguns termos ainda são utilizados em língua francesa por muitos autores, mesmo em livros nacionais ou traduzidos para o português. Além da palavra moulage, o termo toile também é muito utilizado e, em tradução livre, significa tela, o tecido no qual é trabalhado a modelagem tridimensional em cima do manequim. NOTA 2.2 ETAPAS DO PROCESSO Para executar a técnica de modelagem tridimensional, é preciso seguir algumas etapas, objetivando realizar o processo de forma adequada e assertiva, estas etapas incluem a marcação do manequim, preparação da tela, modelar o tecido, marcação do modelo, correção da tela e, por fim, a planificação do molde, todas explicadas a seguir. FIGURA 5 – ETAPAS DO PROCESSO DE MOULAGE FONTE: A autora Para iniciar a modelagem tridimensional, é essencial um modelo vivo ou manequim para que se possa executar a técnica sobre ele. No entanto, realizar a moulage sobre o corpo de um modelo pode dificultar o processo, pois a pessoa sente necessidade de se movimentar, enquanto um manequim específico para esta finalidade possui a vantagem de permanecer sempre estático sendo possível alfinetá-lo sem preocupações. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 10 • Marcação do manequim: após a escolha do manequim adequado, faz-se a marcação do manequim com fita estreita autocolante ou com o auxílio de alfinetes, as principais marcações a serem feitas são: centro frente, centro costas, laterais, ombros, linha do busto, linha da cintura, linha do quadril, contorno do pescoço e cava. A marcação do manequim será explicada detalhadamente no Tópico 3 desta unidade, com passo a passo para que você possa acompanhar e executar. Já as demais etapas do processo serão apresentadas na Unidade 2 deste livro. ESTUDOS FU TUROS • Preparação da tela: deve-se calcular a quantidade necessária de tecido para execução do modelo pretendido, então, risca-se no meio desta tela a linha de centro frente, seguindo o fio reto, e as demais linhas de referência fundamentais, dependendo do modelo, como busto, cintura ou quadril. A preparação do tecido, a ser utilizado, deve ser criteriosa, observando o perfeito esquadramento nos sentidos de trama e urdume, a fim de garantir a qualidade do produto final. Em geral, inicialmente é traçada uma linha de eixo na parte da frente e outra na parte das costas do tecido para que elas possam ser colocadas sobre as mesmas linhas do manequim e servir como referência na construção do modelo. O tecido vai sendo modelado sobre o corpo/suporte (manequim), [...] com a habilidade das mãos e o auxílio de alfinetes, e aos poucos a peça vai sendo esculpida (SOUZA, 2006, p. 27). • Modelar o tecido: esta é a fase comumente associada à moulage em si, com a tela previamente preparada, deve-se alfinetá-la no manequim com as linhas riscadas (centro frente, busto etc.) exatamente sobre as mesmas linhas marcadas com o fitilho no manequim, inicia-se, então, o delineamento do tecido em torno do manequim, com o auxílio de alfinetes, definem-se as pences, pregas ou drapeados, que darão vida ao modelo. Alguns cortes e piques são necessários nesta etapa para poder acomodar o tecido ao formato desejado. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 11 FIGURA 6 – MODELAR O TECIDO FONTE: <encurtador.com.br/xLY01>; <encurtador.com.br/nuDFT>; <encurtador.com.br/mntGR>. Acesso em: 12 maio 2021. • Marcação do modelo na tela: com o modelo finalizado e o tecido ainda alfinetado no manequim, deve-se riscar na tela, com lápis ou caneta específica, todas as linhas que delimitem cada parte do molde, bem como as indicações de recortes, pences e franzidos necessárias para costura. • Correção da tela: após retirar a tela do manequim e também todos os alfinetes do tecido, deve-se esticar o molde sobre uma mesa plana para correção das linhas e curvas com o auxílio de réguas de modelagem, pois, como elas foram traçadas sobre a superfície irregular do manequim, é comum que saiam desalinhadas. • Planificação do molde: com todas as marcações feitas na tela já corrigidas, inicia-se, então, a planificação dos moldes, transferindo-os da tela para o papel, passando novamente todos os piques e indicações de costura. Agora o molde está pronto para reprodução, pilotagem e as outras etapas de modelagem. FIGURA 7 – PLANIFICAÇÃO DO MOLDE FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/workplace-design-studio-professional- female-designer-1321412462>. Acesso em: 12 maio 2021. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 12 Independentemente do método de modelagem utilizado, seja bidimensional ou tridimensional, segundo Fisher (2010), todas os moldes precisam ser provados de forma apropriada antes de iniciar o processo de produção, seja a peça exclusiva ou produzida em série, no caso das roupas sob medida, a tela costurada deverá ser provada e ajustada no próprio cliente, no meio industrial as pelas são provadas em um modelo com as medidas tabeladas ou manequim de prova. 2.3 TECIDOS Para criar e testar moldes através da modelagem tridimensional, utiliza- se tradicionalmente o morim em tonalidade crua, que, segundo a definição de Abling e Maggio (2014), é um tecido de algodão com baixa densidade de fios, sem acabamento e estrutura têxtil do tipo tela, porém, no Brasil é mais comum a utilização do tecido de algodão cru sem acabamento, com estrutura têxtil tipo tela ou sarja para execução da técnica. Tanto o morim quanto o algodão cru podem ser divididos em três tipos de gramatura, leve, média ou pesada, a escolha adequada para execução da modelagem tridimensional é aquela mais similar ao tecido final. FIGURA 8 – MORIM FONTE: <https://www.loja.ledencadernadora.com.br/lojadeencadernacao/images/stories/ virtuemart/product/perlon.jpg>. Acesso em: 12 maio 2021. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 13 O morim ou algodão cru são os tecidos mais indicados para a execução da modelagem tridimensional quando se trata de tecidos planos. No entanto, a técnica também pode ser aplicada em tecidos de malharia, neste caso, o tecido utilizado para a realização da moulage deve também ser uma malha com características similares ao tecido escolhido para a peça final. Para a execução da modelagem tridimensional com excelência, tanto com tecidos planos ou malharia, sempre procure utilizar tecidos com peso, textura e qualidade mais próximos possível do tecido eleito como definitivo, também o manipule no mesmo sentido do fio que será utilizado na peça final. 2.4 SENTIDO DO FIO O sentido do fio está diretamente relacionado ao caimento e qualidade de uma peça de vestuário e deve ser determinado durante a modelagem de acordo com a estética pretendida para a peça, tipo de tecido, elasticidade e técnica que planeja ser trabalhada na modelagem tridimensional. O sentido do fio pode ser reto, transversal ou no viés, conhecer as particularidades de cada um dos tipos de sentido de fio torna o trabalho mais dinâmico e assertivo no processo de moulage. O tecido plano é construído pelo entrelaçamento de dois tipos de fios: urdume e trama. O arremate lateral que acompanha o comprimento é chamado de ourela. Enquanto o urdume é o fio mais resistente, pois passa pelo processo de urdimento, também é o mais esticado, que corre no sentido do comprimentodo tecido, a trama é o fio que transpassa o urdume no sentido da largura. Um mesmo tecido apresenta característica diferentes para cada um destes três tipos de sentido, reto, transversal ou enviesado, com relação a caimento, movimento e elasticidade. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 14 FIGURA 9 – SENTIDO DO FIO FONTE: Fisher (2010, p. 124) O sentido do fio reto é utilizado com o fio do urdume, aquele que corre paralelo à ourela, posicionado exatamente em cima da linha centro frente da marcação do manequim. O fio reto confere um caimento firme, mas não rígido, é o sentido do fio mais utilizado e costuma ser empregado em peças que não necessitem elasticidade. O equilíbrio de um molde feito por moulage garante um caimento confortável da roupa no corpo, sem girar para a frente, costas ou para ambos os lados. Portanto, as costuras laterais da roupa cairão corretamente de cima para baixo e assentarão sobre o corpo. Uma boa forma de manter o equilíbrio do molde é deixar o centro da frente e o centro das costas perfeitamente no fio, fazendo com que a linha do urdume corra de cima para baixo, e o fio transversal fique alinhado à linha do busto (FISHER, 2010, p. 124, grifo nosso). Ao utilizar o fio no sentido da trama, o caimento da roupa fica mais armado e ganha uma leve elasticidade quando comparado ao fio reto, neste caso, o fio da trama, que fica perpendicular a ourela, deve ser fixado no manequim em cima da linha centro frente. O sentido do fio transversal necessita ser utilizado em tecidos com o elastano posicionado no fio do urdume ou que apresentem plissados ou estampas barradas. Para utilizar o sentido do fio enviesado, deve-se riscar o tecido exatamente à 45ª da ourela. Quando um tecido é utilizado no viés, apresenta naturalmente certa elasticidade, mesmo sem elastano na sua composição. Com o sentido do fio enviesado, é possível construir peças ajustadas ao contorno do corpo, mesmo sem pences, e também à técnica de drapeados minuciosos desenvolvida pela estilista Madeleine Vionnet. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 15 Para modelar roupas com o corte em viés, é preciso estar atento para que o tecido apresente o posicionamento certo, de acordo com Fisher (2010), o viés deve correr exatamente no centro da peça do tecido, tanto para frente quanto para as costas, quando algum modelo necessitar que o tecido penda para um dos lados, deve-se observar que o sentido da trama não se retorce tanto quando o corte no sentido do urdume, caindo mais facilmente no viés. Todas as roupas cortadas em viés necessitam de um tempo de descanso para fazer os ajustes. Isso se deve porque o fio utilizado para o urdume difere do fio da trama, portanto, também trabalham diferente quando pendidos verticalmente e expostos à gravidade, em uma saia godê, por exemplo, é comum que, depois de cortada e passado o tempo de descanso, apresente irregularidades quanto ao comprimento e precise de ajustes antes de fazer a bainha. O sentido do fio do tecido deverá ser marcado individualmente para cada parte de uma mesma modelagem, pois uma peça não precisa ter todas as suas partes cortadas no mesmo sentido do fio, em uma blusa, por exemplo, frente e costas podem ser cortados em fio reto, enquanto as mangas são enviesadas. 2.5 ACESSÓRIOS DE ESTRUTURA O processo de modelagem, seja ela plana ou tridimensional, inclui pensar em quais estruturas farão parte da composição da roupa. Para Fisher (2010, p. 137), “obter a estrutura certa sob uma peça de roupa é um dos aspectos mais desafiadores e satisfatórios do processo de construção do vestuário”. Bojos, ombreiras, barbatanas e entretelas são elementos comumente usados para dar sustentação à roupa. Para Fisher (2010, p. 137), “a fim de obter uma aparência estruturada, é necessário criar sustentação por meio de outros materiais e técnicas. Ao longo dos anos, muitos estilistas complementaram ou deformaram o formato do corpo usando cortes diferenciados e bases estruturadas”. Enchimentos e acessórios podem ser utilizados para acrescentar volumes ou formas diferenciadas à roupa, ou dar destaque à alguma parte específica do corpo, como é o caso das ombreiras, em variados formatos além de dar suporte à peça, também é utilizada para criar novos formatos estéticos. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 16 FIGURA 10 – MANEQUIM COM OMBREIRA FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/69524387990405470/>. Acesso em: 12 maio 2021. Como a modelagem tridimensional é executada em cima da forma do manequim quando elementos de estrutura serão utilizados por dentro de uma peça de roupa, como bojos, ombreiras, ou outros acessórios de volume, estes devem sem fixados no manequim para que o tecido seja modelado, também, por cima dessa estrutura, pois esse volume interfere diretamente nas medidas da roupa. 3 MOULAGE NO PROCESSO INDUSTRIAL Dentro do processo de produção industrial de vestuário, a modelagem é extremamente importante, pois é através dela que o design criado pelo estilista se materializa. Segundo Souza (2006, p. 28), “as etapas do desenvolvimento da modelagem industrial, seja plana ou tridimensional, encontram-se inseridas no processo de desenvolvimento do produto de moda”. Apesar da modelagem tridimensional ter passado algumas décadas associada à criação de peças sob medida e praticamente excluída do processo industrial de confecção do vestuário, recentemente, tem conquistado espaço dentro das fábricas, tanto como ferramenta criativa para estilistas, como para modelar peças com volumes ou drapeados difíceis de resolver através da modelagem bidimensional. A moulage é o método característico da alta-costura, mas vem sendo emprega no desenvolvimento de peças para confecção industrial, através do uso de manequins de prova (manequim de alfaiate) confeccionados em medidas padronizadas. Sobre o manequim é ajustado o toile de maneira a obter o caimento indicado no desenho de moda ou desenho técnico (TREPTOW, 2003, p. 154, grifo nosso). TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 17 O desenvolvimento de um novo produto de vestuário, no qual a modelagem está inserida, envolve várias etapas, cada qual com sua importância para o fluxo de processo e qualidade da peça final. Para Mariano (2011, p. 77) “a modelagem é a ponte entre o projeto e sua materialização, bem como um dos processos responsáveis pela padronização do produto dentro do sistema industrial de fabricação do vestuário”. Assim, é necessário compreender onde a modelagem está inserida no contexto produtivo industrial de um novo produto de vestuário. O desenvolvimento de produto se inicia no setor de criação que, de acordo com Heirich (2007), é responsável pela pesquisa de tendências, definição de conceito da coleção e desenho de croquis, a etapa seguinte é o desenvolvimento técnico, quando é elaborada a ficha técnica contendo o detalhamento descritivo da peça. Há cinco passos básicos nos processos de criação. [...] Tradicionalmente, o design começa com uma ideia que será o croqui conceitual, que cria um estilo de moda. O próximo passo pode ser o desenho técnico, assim como as especificações com suas medidas de produção, que representa a silhueta da roupa. Os passos seguintes podem ser a modelagem da roupa ou o próprio toile, um protótipo que apresenta a interpretação bidimensional em tridimensional, conforme o molde se transforma em roupa (ABLING; MAGGIO, 2014, p. 194, grifo nosso). Para a realização da modelagem é então escolhida a técnica mais adequada, se modelagem plana ou tridimensional, cada qual com seus processos. Quando finalizada a modelagem, passa para a etapa de pilotagem, na qual é cortada e costurada uma peça com o tecido final para teste da modelagem, caimento e acabamentos. Com esta peça piloto é então realizada uma prova de roupa em modelo com medidas padronizadas pela marca, se a peça já for aprovada, é executada a gradação da modelagem para os demais tamanhos e o produto parte para a produção. No entanto, caso seja decidido pela equipe de prova queé necessário realizar alguma correção ou alteração, isto é feito na ficha técnica que retorna ao setor de modelagem para que sejam efetuadas e repete-se o processo até que a peça seja aprovada para seguir para a gradação e produção. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 18 FIGURA 11 – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO FONTE: Adaptado de Heirich (2007) Para maior contextualização acerca da moulage no processo industrial de confecção de vestuário, nos próximos subtópicos será abordado quais as vantagens na utilização da modelagem tridimensional no cenário industrial e em quais situações a técnica se torna mais proveitosa e produtiva, e, também, como acontece o processo da moulage até o molde final dentro de uma indústria. 3.1 VANTAGENS DO USO DA MOULAGE NA INDÚSTRIA Souza (2006) afirma que a modelagem plana é comumente a técnica mais utilizada na indústria do vestuário, apesar do método possuir limitações devido ao seu caráter bidimensional, para a autora, a comunicação estabelecida neste esquema entre as áreas de criação e modelagem não é eficiente, pois algumas empresas necessitam confeccionar até três peças pilotos para que o modelista compreenda a estética pretendida pelo estilista. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 19 A utilização da modelagem bidimensional exige muita experiência e habilidade do modelista, pois, para Souza (2006, p. 25), “traçam-se moldes em duas dimensões para recobrirem as formas do corpo que são tridimensionais, a falta de proximidade com o suporte limita ou até mesmo impede a visualização das inúmeras possibilidades de conformação”. A moulage permite trabalhar esta flexibilidade de criações sobre o corpo, de acordo com as contínuas transformações da moda. O corpo pode ser visualizado no espaço tridimensional, proporcionando o direcionamento inicial para o estudo formal do vestuário. Isto é fundamental a fim de que o profissional de moda perceba as relações formais do corpo em todas as suas posições, ou seja, frente, perfil e costas (SILVEIRA; CLASEN, 2014, p. 153, grifo nosso). Esta proximidade entre o manequim que representa as formas do corpo e o tecido similar ao que será utilizado na peça final, oportuniza a experimentação de possibilidades construtivas, proporcionando ao modelista visualizar o resultado tridimensional da peça ainda durante a realização do processo, fator que reduz o número de pilotagens para chegar ao resultado estético esperado, reduzindo, também, os custos de prototipagem e tempo na etapa de desenvolvimento de produto. No Brasil, somente há alguns anos, a técnica tem despertado o interesse dos profissionais da moda e das empresas do vestuário. Sua prática, também, favorece o processo industrial e o trabalho dos modelistas, que poderão visualizar como o modelo criado no desenho se apresenta em relação à figura humana, e concluírem se o modelo ficou conforme o planejado no setor de criação. Isso permite envolvimento direto com a criação do modelo e sua forma, pois podem ser percebidas as proporções e feitas mudanças enquanto o modelo está no manequim, até obter a sua adequação. É possível acompanhar, visualizando a sua evolução, fazer mudanças e variações à modelagem (SILVEIRA; CLASEN, 2014, p. 153). Em alguns casos, no entanto, a modelagem tridimensional pode não compensar comparada à modelagem plana, como, por exemplo, para fazer uma camiseta de malha é mais trabalhoso e demorado utilizar a moulage do que traçar um diagrama e construir uma base. No contexto industrial, para peças mais simples que diferem apenas em alguns recortes dos modelos já confeccionados anteriormente, também se torna muito mais rápido utilizar a modelagem plana, pois já existe um banco de bases salvas no software que a empresa utiliza. A modelagem tridimensional é mais vantajosa quando utilizada para construir peças diferenciadas e inovadoras em relação às formas e volumes, ou para modelar peças mais ajustadas ao corpo e criação de detalhes difíceis de representar em um desenho, pois a técnica propicia a visualização imediata em três dimensões do que está sendo executado. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 20 3.2 DA MOULAGE AO MOLDE FINAL NA INDÚSTRIA Para que a modelagem tridimensional seja incorporada no sistema industrial, é necessária a inclusão de algumas etapas a mais, para transformar o processo possível de produzir peças em grande escala. Com grande parte das empresas de vestuário já utilizando a tecnologia dos softwares de modelagem e automação do corte para produção é necessário inserir os moldes construídos manualmente através da moulage no sistema digital. A moulage como técnica de trabalho tem se mostrado mais rápida e eficaz, por facilitar o processo de criação/produção e análise do produto durante o processo, antes mesmo da montagem do protótipo. Na indústria, a moulage pode ser usada para desenvolver o protótipo, como já foi ressaltado, e transferido para o papel, como molde definitivo. As empresas do vestuário podem com o sistema CAD (projeto assistido por computador) transferir a modelagem do protótipo para o computador por meio da mesa digitalizadora, para ser efetuada a graduação (todos os tamanhos, ampliando e reduzindo) e o encaixe dos moldes, que seguem para a linha de produção (SILVEIRA; CLASEN, 2014, p. 159, grifo nosso). A marcação do manequim com fitilho é realizada para orientar as linhas essenciais para construção da modelagem e também delimitar os limites específicos para o modelo a ser executado, realiza-se então a moulage com tecido similar ao definitivo. Após finalizar a modelagem tridimensional, fazer as marcações necessárias no tecido e retirá-lo do manequim, realiza-se a planificação, processo de transformar o toile em moldes de papel utilizados para fazer a peça piloto, que será provada em um modelo real, para verificar a necessidade de ajustes ou alterações. Com a peça aprovada, os moldes de papel são digitalizados através de tecnologia desenvolvida especificamente para esta finalidade, que reconhece os limites e contornos do molde e transfere para o software de modelagem, sendo preciso apenas pequenos ajustes corretivos. Com os moldes inseridos no software é possível realizar a gradação como qualquer outro molde desenvolvido digitalmente e, posteriormente encaminhados para o encaixe e produção. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 21 FIGURA 12 – PROCESSO DE MOULAGE NA INDÚSTRIA FONTE: A autora 4 A RELAÇÃO ENTRE TÉCNICA E CRIATIVIDADE A modelagem tridimensional está intrinsicamente envolvida na relação entre técnica e criatividade para o desenvolvimento de produtos de moda. Ao contrário da modelagem plana que, na maioria das vezes, separa o processo de criação (realizado através do desenho) da parte técnica de construção da roupa, na moulage, esses processos muitas vezes acontecem mutuamente, exigindo maiores conhecimentos do profissional que a executa, mas também proporcionando liberdade de criação e previsão real do produto. De acordo com Silveira (2017, p. 16), a modelagem tridimensional possibilita “a amplitude do espaço à criatividade do profissional da moda e a oportunidade de permitir que se obtenha uma roupa com melhor acabamento no sentido do caimento, ajustes mais precisos e a possibilidade de avaliar, a inserção de acessórios externos, que possam diferenciar o modelo”. Para melhor compreensão do assunto, nos próximos subtópicos será abordada a utilização da moulage como ferramenta criativa no universo da moda e também como realizar algumas técnicas criativas a partir do conceito de modelagem tridimensional. 4.1 MOULAGE COMO FERRAMENTA CRIATIVA A modelagem tridimensional pode ser utilizada como ferramenta criativa para invento de novas formas e volumes, principalmente pelo fato de o mercado de confecção de vestuário estar cada vez mais competitivo, se tornando essencial à busca por produtos diferenciados. A moulage possibilita um processo criativo livre diretamente sobre o corpo do manequim, facilitando a compreensão dos aspectos estéticose ergonômicos combinados, além da percepção da peça em todos os seus ângulos, favorecendo a verificação de possibilidades construtivas. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 22 Na construção de um modelo do vestuário com a técnica moulage, as características físicas de peso e espessura dos tecidos ganham volumes e caimentos diversos quando sobrepostos ao corpo, o que exige a escolha adequada do tecido. Os tecidos se comportam de maneiras diferentes, de acordo com a tensão e inclinação com que são manipulados sobre o corpo, produzindo efeitos, muitas vezes, inesperados. Surgem assim, formas e contornos que não seriam possíveis de se atingir, caso não houvesse esse contato direto e experimental entre o tecido e o corpo, representado por um manequim no processo industrial. Neste caso, o projeto da roupa desenvolvido, a partir dessa experimentação, libera durante a realização do trabalho, a criatividade do profissional na construção de peças com formas, estruturas e caimentos diferenciados (SILVEIRA, 2017, p. 2, grifo nosso). A criação e modelagem de uma peça de vestuário são etapas conexas e complementares. No entanto, no processo industrial de desenvolvimento de produto, é comum estes dois setores apresentarem-se separados. Assim, o trabalho do estilista e do modelista são realizados dissociadamente, situação que acarreta inúmeros problemas de comunicação e entendimento entre os profissionais, e, como consequência, exige a confecção de um maior número de peças piloto e desperdício de tempo e materiais. Ao possibilitar à amplitude do espaço inventivo e de experimentação ao designer de moda, este aumenta a sua percepção do desenvolvimento de produto e pode aprimorar a compreensão da modelagem através do exercício da criatividade, bem como o conhecimento das medidas e anatomia do corpo humano, resultando na criação de peças diferenciadas apresentadas em desenhos técnicos e que favoreçam a comunicação com o modelista. FIGURA 13 – EXPERIMENTAÇÃO EM MOULAGE FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cropped-view-seamstress-trying-on- fabric-1853428822>; <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/workplace-sew-clothes- seamstress-fashion-designer-1853428762>. Acesso em: 12 maio 2021. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 23 4.2 TÉCNICAS CRIATIVAS Para o desenvolvimento da criatividade através da modelagem tridimensional, algumas técnicas e ferramentas podem ser aplicadas para fomentar a inventividade e possibilitar a experimentação com diferentes materiais e viabilidades construtivas. O método de criar sobre o manequim é dinâmico e interativo, favorecendo a inovação. A moulage é uma ferramenta eficaz na condução do processo dinâmico de transformar ideias e materiais em produtos de moda, tornando a criação realizável, na medida em que lhe atribui forma, induzindo a novas perspectivas construtivas traduzidas em formas inovadoras e configurando uma nova silhueta (SALEH, 2015, p. 132, grifo nosso). A criação de peças conceituais em papel pardo ou similar, diretamente sobre o manequim, através de pregas, sobreposições, dobras e torcidos, quando utilizada como atividade lúdica e criativa proporciona maior noção de espaço, volumes e manipulação de materiais diferenciados, pois o papel trabalha diferentemente de tecidos quanto a caimento e volume, no entanto, é possível estruturar o tecido para que ele se torne mais rígido, por isso a importância de conhecer novas possibilidades. FIGURA 14 – EXPERIMENTAÇÃO COM PAPEL PARDO FONTE: A autora UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 24 O documentário A costura do invisível, realizado pelo estilista Jum Nakao (2005), apresenta a relação entre corpo, criatividade e papel, mostrando o processo de trabalho do desfile exibido no São Paulo Fashion Week 2004. Vale a pena assistir! DICAS DOCUMENTÁRIO À COSTURA DO INVISÍVEL FONTE: <https://www.jumnakao.com/wp-content/uploads/2014/02/slide.jpg>. Acesso em: 12 maio 2021. A crepagem, outra técnica que pode ser utilizada de modo criativo, utiliza fita crepe para envolver o manequim através da sobreposição de tiras da fita no sentido vertical, cobrindo todo o corpo do boneco, ou apenas um lado, frente e costas, formando, assim, uma película exatamente com as formas e medidas do manequim. Essa técnica proporciona maior entendimento de silhuetas e pode ser aplicada para compreensão da necessidade da inserção de pences para delinear os contornos do corpo humano, ou para se desenhar diretamente sobre a crepagem ainda no manequim, favorecendo a percepção entre a criação e modelagem de uma peça. No Brasil, o estilista Jum Nakao é famoso por utilizar a técnica da crepagem nas suas criações inusitadas. TÓPICO 1 — CONCEITUAÇÃO 25 FIGURA 15 – CREPAGEM FONTE: <https://www.jumnakao.com/wp-content/uploads/2016/05/curso_modulo1_img.jpg>. Acesso em: 12 maio 2021. Para exercitar a criatividade, segundo Fisher (2010), a utilização de cortes de tecido em formatos geométricos pode ser uma maneira excitante de trabalhar no manequim, o autor sugere cortar formas em diferentes tamanhos, desde círculos até quadrados, que podem ser modeladas separadamente ou costuradas, buscando um resultado diferenciado. Na Figura 16, referenciada de Fischer (2010), o primeiro manequim apresenta uma modelagem circular com cavas cobrindo o busto, no segundo manequim, uma saia foi construída com a modelagem de triângulo e retângulo cortados no viés, no terceiro manequim, o modelo foi executado com dois triângulos e uma faixa retangular cortados enviesados. FIGURA 16 – TÉCNICAS CRIATIVAS FONTE: Fisher (2010, p. 130) 26 Neste tópico, você aprendeu que: • A moulage é um método de modelagem tridimensional que manipula o tecido diretamente no manequim com o auxílio de alfinetes, a técnica facilita a visualização do resultado ainda durante o processo. • Para executar a técnica de modelagem tridimensional, é preciso seguir as etapas: marcação do manequim, preparação da tela, modelar o tecido, marcação do modelo, correção da tela e por fim, a planificação do molde. • Para a execução da modelagem tridimensional com excelência, tanto com tecidos planos ou malharia, devem-se utilizar tecidos com peso, textura e qualidade mais próximos possível ao tecido escolhido para a peça final. • O sentido do fio pode ser reto, transversal ou no viés, conhecer as particularidades de cada um dos tipos de sentido de fio torna o trabalho mais dinâmico e assertivo no processo de moulage. • No processo industrial de confecção de vestuário, a modelagem tridimensional é mais vantajosa quando utilizada para construir peças diferenciadas e inovadoras com relação à forma e volume. RESUMO DO TÓPICO 1 27 1 A moulage é um método de modelagem tridimensional que manipula o tecido diretamente no manequim com o auxílio de alfinetes, através de utilização de técnicas como pences e drapeados, proporcionando a oportunidade de esculpir o tecido, o método facilita a visualização do resultado ainda durante o processo, permitindo criar designs únicos e experimentais. Sobre a modelagem tridimensional, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A palavra moulage deriva do termo francês moulé, que significa moldar, no sentido de dar forma ao tecido. ( ) A modelagem tridimensional pode ser utilizada somente para tecidos planos, não podendo ser aplicada para peças de malha. ( ) A moulage por ser uma técnica de maior precisão, dispensa a confecção de peças pilotos para aprovação, sendo mais econômica que outras técnicas de modelagem. ( ) A modelagem tridimensional pode ser considerada o primeiro método de modelar tecidos com o intuito de cobrir o corpo, realizada de maneira intuitiva pelo homem desde o surgimento dos primeiros materiais têxteis, sendo modelados, dobrados e enrolados ao redor do corpo de variados modos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – F. b) ( ) V – F – F – V. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) V– F – V – V. 2 (ENADE, 2018) Para a roupa ter um bom caimento ao vestir é necessário que tenham sido considerados aspectos ergonômicos adequados ao perfil do público-alvo. A aplicação da ergonomia nos produtos de moda ocorre na etapa de modelagem, na qual o desenho começa a ganhar forma, seja no papel, pela modelagem plana, seja no tecido, pela modelagem tridimensional (também denominada moulage ou drapping). A modelagem tridimensional confere ao produto o ajuste perfeito às curvas do corpo e cria o efeito desejado em cada tecido a ser trabalhado, conforme a criação do designer de moda. Nesse contexto, avalie as afirmações a seguir: FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2019/02/enade-2018-para-roupa-ter-um-bom- caimento-ao-vestir-e-necessario-que-tenham-sido-considerados-aspectos-ergonomicos. html>. Acesso em: 12 maio 2021. I- Na execução da técnica de modelagem tridimensional, após a manipulação e a marcação do tecido sobre o manequim, o tecido é retirado e são feitos os traços e as curvas com o auxílio de réguas de modelagem. AUTOATIVIDADE 28 II- A técnica de modelagem tridimensional permite que o profissional molde os tecidos diretamente no manequim, sendo necessário marcar as linhas de referência da cintura, do quadril e do busto, entre outras. III- Na indústria, a utilização da técnica de modelagem tridimensional proporciona liberdade de criação ao designer de moda, visto que o processo criativo é desenvolvido diretamente no tecido, dispensando-se a planificação do molde. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Dentro do processo de produção industrial de vestuário, a modelagem é extremamente importante, pois é através dela que o design criado pelo estilista se materializa. O desenvolvimento de um novo produto de vestuário, no qual a modelagem está inserida, envolve várias etapas, cada qual com sua importância para o fluxo de processo e qualidade da peça final. Sobre a utilização do método de modelagem tridimensional dentro do processo industrial de vestuário, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Para a realização da modelagem, tanto a plana como a tridimensional, cada qual com seus processos, quando finalizada passa para a etapa de pilotagem, na qual é cortada e costurada uma peça com o tecido final para teste da modelagem, caimento e acabamentos. b) ( ) Em aspectos de agilidade e precisão, a modelagem tridimensional é sempre mais vantajosa quando comparada à modelagem plana. c) ( ) A modelagem tridimensional, quando inserida no processo industrial, não necessita de confecção de peça piloto no tecido definitivo, após a finalização da moulage, os moldes já são graduados e cortados em grande escala. d) ( ) No contexto industrial, a modelagem tridimensional é sempre executada diretamente no corpo de um modelo vivo, pois facilita o processo. 4 A modelagem tridimensional, também conhecida como moulage, consiste em uma técnica para construção de moldes para peças de vestuário, diretamente sobre manequim ou corpo do modelo, é amplamente utilizada tanto para roupas sob medida quanto em produção de escala industrial. Para executar a técnica de modelagem tridimensional é preciso seguir algumas etapas, objetivando realizar o processo de forma adequada e assertiva. Descreva quais são as etapas inclusas na modelagem tridimensional. 29 5 A modelagem tridimensional passou algumas décadas associada à criação de peças sob medida e praticamente excluída do processo industrial de confecção do vestuário, mas, recentemente, tem conquistado espaço dentro das fábricas, tanto como ferramenta criativa para estilistas, como para modelar peças com volumes ou drapeados difíceis de resolver através da modelagem bidimensional. Neste contexto, disserte sobre as vantagens da utilização da modelagem tridimensional no processo industrial. 30 31 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 1 INTRODUÇÃO A modelagem tridimensional necessita de materiais e instrumentos próprios para sua adequada aplicação, principalmente, quando inserida em um processo industrial de produção de vestuário, que exige padronização de medidas e processos. A moulage não consiste apenas em esculpir o tecido sobre o manequim, envolve uma série de técnicas como marcação em fitilho, correto posicionamento dos alfinetes, esquadramento das linhas estruturais e marcação do sentido do fio. Para execução do método, é imprescindível conhecer os materiais e ferramentas específicos para garantir a precisão e assertividade do trabalho. Acadêmico, no Tópico 2, apresentaremos os tipos de manequins existentes para a aplicação da técnica da moulage, também abordaremos a tabela de medidas e tamanhos dos manequins e como aplicar o método da bourrage para adaptá-los às medidas e formas necessárias, bem como será especificado quais os materiais adequados para que você possa fazer a modelagem tridimensional e os tecidos apropriados. 2 MANEQUINS Para que o método de modelagem tridimensional possa ser aplicado adequadamente se faz necessário a utilização de um manequim. Diferentemente das antigas mestras da moulage, Madeleine Vionnet e Madame Grès, que realizavam a moulage diretamente no corpo da modelo ou cliente, e até mesmo em bonecos de madeira em meia escala, atualmente, utiliza-se o manequim específico para moulage, pois possibilita maior liberdade para executar a técnica, alfinetando, manipulando, além de poder continuar o trabalho no dia seguinte. O manequim específico para moulage é construído em madeira com um espesso revestimento acolchoado, permitindo inserir os alfinetes totalmente, anatomicamente proporcional e com uma base firme de altura regulável. Atualmente, existem muitos modelos de manequins disponíveis no mercado, nos próximos tópicos serão apresentados os manequins femininos em suas variações, os manequins masculino e infantil e também o manequim em meia escala. 32 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 2.1 MANEQUIM FEMININOS O segmento feminino adulto é o maior dentro do ramo da moda e também o que permite maior liberdade de formas e volumes nas peças de vestuário, por esta razão existem diversos modelos de manequins femininos, buscando atender às necessidades que os modelistas enfrentam ao desenvolver peças para este público. O manequim clássico não possui a definição das pernas, pois foi criado para modelar somente vestidos, continua sendo o modelo mais utilizado nos ateliês de costura, no entanto, com a evolução do vestuário feminino, novos modelos de manequins foram desenvolvidos para comercialização. O manequim padrão sportswear e streetwear é utilizado em escolas e estúdios de design. [...] Existem ainda outros tipos de manequim para as diversas necessidades da moulage. Esses manequins são produzidos para tamanhos infantil, infanto-juvenil, feminino adulto feminino petit, feminino alto e tamanhos intermediários. No entanto, esses modelos de manequins não são comumente encontrados entre os fabricantes brasileiros; no Brasil, as empresas tendem a se focar nas linhas infanto-juvenil – que engloba tamanhos de idades entre 18 meses a 16 anos –, feminino, masculino, gestante e plus size. Também podem ser confeccionados para medidas especiais ou sob medida (ABLING; MAGGIO, 2014, p. 4, grifo nosso). Os modelos de manequim femininos mais utilizados no Brasil são o manequim clássico, o manequim meia perna, perna inteira (também conhecido como streetwear), manequim articulado e o específico para lingerie, conforme demonstrado na Figura 17. O manequim clássico possui os contornos da parte superior do corpo feminino enquanto a parte inferior é desenvolvida reta, sem o delineamento das pernas, pois é voltado para a modelagem de blusas, vestidos e saias. Já o manequim de meia perna possui a definição bem delimitada do ganchoe entrepernas, assim como o manequim de perna inteira, pois são utilizados para desenvolvimento de shorts, calças e macacões, alguns modelos tem a opção de suporte suspenso para facilitar o trabalho de provar e tirar partes inferiores. O manequim articulado é muito versátil, pois possui braço, perna e cabeça removíveis que se encaixam por meio de parafuso ao corpo do boneco, permitindo a criação de peças variadas. E o manequim específico para lingerie tem todos os contornos bem definidos com altura de uma das pernas próxima à virilha, para facilitar a colocação e retirada das peças íntimas e entrepernas com medida adequada para fundo de calcinhas e maiôs. TÓPICO 2 — MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 33 FIGURA 17 – MANEQUINS FEMININOS FONTE: Adaptada de <https://manequinsmoulage.com/feminino/>. Acesso em: 12 maio 2021. 2.2 MANEQUINS MASCULINO E INFANTIL Os manequins masculinos são desenvolvidos anatomicamente através das medidas antropométricas do homem e possuem vasta grade de numeração. Ao contrário dos manequins femininos, que possuem maior variedade, os masculinos são encontrados nos modelos de meia perna e perna inteira, pois costumam atender às necessidades de elaboração de modelagem. 34 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE FIGURA 18 – MANEQUINS MASCULINOS FONTE: Adaptada de <https://manequinsmoulage.com/masculinos/>. Acesso em: 12 maio 2021. Os manequins infantis são construídos de acordo com as especificidades de um corpo de criança, até o tamanho oito anos são considerados unissex, a partir desta idade dividem-se em feminino e masculino. Normalmente estão disponíveis nos modelos meia perna e perna inteira, conforme ilustrado na Figura 19. FIGURA 19 – MANEQUINS INFANTIS FONTE: Adaptada de <https://www.draftmanequins.com.br/infantis>. Acesso em: 12 maio 2021. TÓPICO 2 — MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 35 2.3 MANEQUIM EM MEIA ESCALA Os manequins em meia escala têm as medidas de determinado tamanho divididas exatamente pela metade, ou seja, se o tamanho 42 possui 102 cm no contorno do quadril, o manequim em meia escala do correspondente tamanho irá ter 51 cm neste mesmo local. Devido à sua dimensão reduzida, exige um trabalho delicado e minucioso. Os manequins em meia escala são utilizados por muitos profissionais, desde a precursora Madeleine Vionnet, para testar a criação de formas e volumes, pois, como são menores, é mais ágil modelar neles e, consequentemente, consome-se menos tecido. FIGURA 20 – MANEQUIM EM MEIA ESCALA FONTE: <https://www.pinterest.nz/pin/574420127479919407/>. Acesso em: 12 maio 2021. Para melhor conservação do manequim, deve-se mantê-lo em lugar seco e arejado, para evitar mofo devido à umidade. A exposição à água, ou outros tipos de líquidos, pode deformar a madeira/espuma, por consequência, suas medidas e contornos, estragando o manequim. Evite utilizar objetos cortantes ou que soltem tintas diretamente sobre o manequim. Também evite utilizar o stimmer, ferros de passar ou objetos quentes no manequim, pois pode resultar em manchas indesejáveis no tecido do manequim. Para maior durabilidade e facilidade de higienização, é aconselhável aplicar spray impermeabilizante no manequim. Ao finalizar o trabalho, deve-se cobrir o manequim com capa protetora. INTERESSA NTE 36 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE 3 TAMANHOS E MEDIDAS Os tamanhos e medidas dos manequins utilizados para a modelagem tridimensional são elaborados a partir da fisiologia humana e sua antropometria, construindo, assim, uma grade de numeração. Segundo Silveira e Clasen (2014), “para trabalhar com o vestuário é necessário conhecer a anatomia do corpo humano, para representá-lo no traçado bidimensional (modelagem plana) ou criar sobre ele modelos do vestuário (modelagem tridimensional)”. FIGURA 21 – MEDIDAS FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/tailor-dummy-measuring-tapes- fashion-studio-401099125>. Acesso em: 12 maio 2021. Cada fabricante de manequins industriais possui uma tabela de medidas própria para a construção dos bonecos, baseada em estudos antropométricos de cada segmento: feminino, masculino, infantil ou plus size. Os fabricantes também levam em consideração o biotipo de cada público de acordo com a etnia e características da população local, pois isto pode mudar de país para país. Na Tabela 1 é apresentada a tabela de medidas do manequim feminino de uma marca nacional, com grade do 34 ao 50. TÓPICO 2 — MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 37 TABELA 1 – TABELA DE MEDIDAS DE MANEQUIM FEMININO Tamanhos 34 36 38 40 42 44 46 48 50 Busto 76 80 84 88 92 96 100 104 108 Cintura 56 60 64 68 72 76 80 84 88 Quadril 86 90 94 98 102 106 110 114 118 Ombros 35 35 37 38 39 40 41 42 43 Coxa 50 50 54 56 58 60 62 64 66 Linha do ombro 9 10 11 12 13 14 15 16 17 FONTE: Adaptada de <https://manequinsmoulage.com/tabela-de-medidas/>. Acesso em: 12 maio 2021. Para escolha adequada no momento de adquirir um manequim, é preciso levar em consideração para qual finalidade será utilizado. Para treinamento e uso próprio, você pode escolher um manequim do seu tamanho ou um tamanho menor, pois é possível realizar ajustes ou adaptações, aumentando algumas medidas e contornos, através da bourrage. Para utilização na confecção de roupas sob medida, se não for viável adquirir a grade completa de manequins devem-se analisar quais os tamanhos de maior procura pelos clientes para decidir qual tamanho atenderá melhor às necessidades, tendo a consciência de que é mais fácil adaptar e aumentar as medidas de tamanhos menores. Já para a utilização em um processo industrial, o manequim deve ser do tamanho utilizado como padrão pela marca para a confecção da modelagem e peça piloto. 3.1 BOURRAGE Os manequins industriais, apesar de serem construídos baseados nas medidas e morfologia do corpo humano, muitas vezes, não atendem perfeitamente às necessidades da produção de roupas sob medida, isto porque cada pessoa possui medidas e contornos que formam um conjunto único. Para solucionar esse problema, a modelagem tridimensional utiliza a técnica chamada bourrage, que consiste em adaptar o manequim com o auxílio de acessórios para aumentar as medidas e se aproximar ao contorno do corpo da cliente. 38 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A MOULAGE FIGURA 22 – BOURRAGE FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/161988917822915057/>. Acesso em: 12 maio 2021. A palavra bourrage vem do verbo francês bourrer, que significa encher, ou seja, a bourrage nada mais é do que o enchimento acrescentado ao manequim de modelagem tridimensional para adaptá-lo às necessidades de produção. Com a utilização desta técnica, é possível modelar roupas para uma grande variedade de clientes, mesmo com um número reduzido de manequins, sem a necessidade de possuir uma grade inteira de tamanhos. A bourrage é uma etapa de extrema importância no processo de construção de uma roupa através da técnica de moulage, pois na maior parte das vezes pessoas reais não possuem as mesmas medidas que o manequim. Por melhor que o manequim seja, às vezes a cliente tem uma saliência no abdômen, o quadril avantajado, próteses de silicone, ou até escoliose, enfim, qualquer que seja a adaptação necessária, podemos sim fazer no manequim através da bourrage (SALEH, 2020, s.p., grifo nosso). Para realizar a bourrage, existem muitas opções de materiais, sendo possível utilizar materiais que você já tenha disponíveis, como bojo, ombreiras, manta acrílica ou feltro. O importante é escolher um manequim com as medidas aproximadas, porém menores do que as medidas da pessoa para qual a peça será modelada, pois é possível somente acrescentar medidas e não diminuir. Através da técnica, além de fazer correções morfológicas e adaptações de medidas, é possível também transformar o seu manequim para o público plus size ou gestante, visto que estes modelos são difíceis de encontrar no mercado. TÓPICO 2 — MANEQUINS, MEDIDAS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS 39
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