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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO A democracia é um regime político expressamente previsto no texto da Constituição Federal (CF) de 1988 que, em seu artigo 1º, parágrafo único, estabelece que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito, tendo entre seus fundamentos a cidadania, a dignidade humana e a soberania popular. a democracia deve ser considerada um princípio confirmado nos atuais ordenamentos constitucionais que se constitui em fonte de legitimação do exercício do poder e que tem sua origem no povo. Nesse sentido, a democracia é mais do que a forma atual de Estado e de governo. (DIAS, 2010, p. 58-59). A democracia implica a participação do povo, o que dá legitimidade à ação do Estado nas esferas legislativa, administrativa e judicial, conforme o que estabelece o parágrafo único do artigo 1º da CF (FREITAS, 2014, p. 10). O pressuposto básico de um Estado Democrático de Direito é que os sujeitos do diálogo estejam no mesmo plano jurídico de argumentação e debate, uma vez que o Estado, ao se colocar em posição superior a esses sujeitos e impor soberanamente sua decisão, compromete evidentemente a legitimidade democrática dos provimentos estatais (COSTA, 2016, p. 30). LIBERDADE DE IR E VIR O valor da liberdade ganha mais projeção ao se inserir na dimensão da consciência e da crença individual, e em seus componentes lógicos, a saber, a "liberdade de expressão e a autodeterminação do indivíduo para fazer as escolhas existenciais" (VIEIRA, 2014, p. 123). O reconhecimento de direitos de liberdade do indivíduo decorre necessariamente do direito de os indivíduos serem tratados como iguais ou com respeito e consideração iguais. Desse modo, o igual respeito e consideração conduz, necessariamente, a liberdades iguais para todos os indivíduos (OMMATI, 2018, p. 65). Isso quer dizer que o direito à liberdade é assegurado a todo cidadão, desde seu nascimento, reflexo direto da autodeterminação e autonomia privada. O exercício do direito à liberdade não garante, no entanto, o direito de fazer o que se quer sem qualquer restrição, haja vista que "liberdade implica necessariamente o direito de tomar decisão com responsabilidade, ligando-se, portanto, com o igual respeito e consideração" (OMMATI, 2018, p. 65). javascript:void(0) A privação da liberdade é medida excepcional e admitida apenas quando houver processo judicial em que se assegura ao acusado o direito efetivo à defesa. Todo cidadão goza constitucionalmente do estado de inocência, cabendo ao Estado desconstituir essa presunção de não culpabilidade para, então, possibilitar eventual privação de liberdade, conforme Art. 5°, LVII, CF: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A eventual privação de liberdade, contrariamente aos princípios constitucionais do processo (contraditório, ampla defesa e devido processo legal), acarretará o cerceamento de defesa e a ilicitude da prisão, reflexos de error in procedendo no âmbito do processo judicial autocrático. O ius puniendi e a privação de liberdade somente são possíveis mediante medida judicial excepcional que limita o direito fundamental de ir e vir, motivo esse que justifica a observância criteriosa do devido processo legal. O texto constitucional ainda prevê a vedação de pena de caráter perpétuo, deixando mais evidente a dimensão constitucional e humana do direito fundamental à liberdade de locomoção, pressuposto básico ao exercício dos demais direitos humanos previstos no ordenamento jurídico brasileiro. Os direitos fundamentais Os direitos fundamentais correspondem à constitucionalização de Direitos Humanos que desfrutaram de elevada justificação ao longo da história dos discursos morais, sendo, desse modo, entendidos como condições para que os demais direitos sejam construídos e exercidos plenamente (GALUPPO, 2003, p. 233). Dessa forma, é possível afirmar que a democracia institui os direitos fundamentais, no entanto, "uma vez criados, tornam-se instrumentos que garantem a legitimidade moral do regime democrático" (MELLO, 2004, p. 151). javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DE IR E VIR EM TEMPOS DE PANDEMIA O Estado não pode intervir arbitrariamente na liberdade de escolha das pessoas, salvo se tais escolhas esbarrarem no interesse coletivo ou nos direitos de outras pessoas, admitindo-se a responsabilidade jurídica (civil e criminal) em decorrência de eventuais abusos comprovados. A constitucionalização do direito fundamental à liberdade de ir e vir permite concluir que esse direito é um desdobramento interpretativo da presunção de inocência, ressaltando-se que a privação da liberdade somente se torna juridicamente viável mediante a observância do devido processo legal. Numa sociedade onde os indivíduos são considerados constitucionalmente livres, assegura-se, também, a igualdade no que tange ao exercício dos demais direitos fundamentais previstos no plano constituinte. Excepcionalmente, em tempos de pandemia, o Estado tem legitimidade constitucional para limitar o direito individual de liberdade de locomoção (ir e vir), haja vista o interesse coletivo de proteger a saúde pública e, assim, evitar a proliferação de doenças que podem atingir a dignidade humana das pessoas. Torna-se importante esclarecer que a intervenção estatal em relação à limitação temporária do direito de ir e vir em tempos de pandemia é constitucionalmente admitida, pois essa é uma das estratégias para garantir a proteção jurídica do interesse público. DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO O texto da CF é claro ao sistematizar nos seus mais diversos pontos o direito à liberdade. Desde o preâmbulo, o legislador constituinte reconheceu a instituição do Estado Democrático de Direito, estabelecendo como um de seus pilares o exercício da liberdade, visto como valor supremo da sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a ordem interna e internacional. O texto constitucional garante, ainda, a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (inciso XVII, artigo 5°); a punição legal de qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais (inciso XLI, artigo 5°); a manifestação de pensamento, criação, expressão e informação (artigo 220, caput), proibindo a aprovação de leis que objetivem constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social. A liberdade de pensamento "é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência, religião, arte, ou o que for", ou seja, "trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contato do indivíduo com seus semelhantes, pelo qual o homem tenda, por exemplo, a participar a outros suas crenças, seus conhecimentos, sua concepção de mundo, suas opiniões políticas ou religiosas, seus trabalhos científicos" (SILVA, 2002, p. 240). Reconhecer a liberdade de pensamento como uma das estruturas da constitucionalidade democrática é legitimar juridicamente a autodeterminação do sujeito, a autonomia privada como elemento fundamental para sua dignidade e reconhecimento como pessoa. javascript:void(0) javascript:void(0) "A liberdade de expressão e de manifestação de pensamento não pode sofrer nenhum tipo de limitação prévia, no tocante à censura de natureza política, ideológica e artística" (MORAES, 2004, p. 80), pois "a censura prévia significa o controle, o exame, a necessidade de permissão a que se submete, previamente e com caráter vinculativo, qualquer texto ou programa que pretende ser exibidoao público em geral" (MORAES, 2004, p. Liberdade de expressão x Censura Censurar é o mesmo que limitar o exercício democrático da liberdade de expressão, numa tentativa de calar vozes dissidentes que buscam, muitas vezes, opor-se às estruturas sociais que naturalizam a desigualdade, a discriminação e a indignidade. O ato de censura constitui um atentado ao modelo jurídico que preconiza o direito de fala, a autonomia de gestão conferida a cada sujeito de se expressar conforme suas convicções, vontades, comportamentos, gestos e meios próprios de enxergar-se e compreender socialmente o locus onde se encontra inserido. Atenção A liberdade não pode ser vista, no entanto, como um direito absoluto, já que seu exercício abusivo terá como consequência responsabilidades no campo cível e/ou penal. Deve-se pensar o gozo da liberdade de expressão num contexto democraticamente legítimo: ser livre é respeitar o outro, reconhecendo- o como igual e digno quanto ao pleno exercício de todos os direitos fundamentais previstos constitucionalmente. Quando o exercício da liberdade individual esbarra em direitos fundamentais alheios (individuais e/ou coletivos), tal exercício se torna ilegítimo, devendo o agente reparar eventuais danos como forma de restabelecer o status quo ante ou compensar monetariamente os prejuízos de ordem material e/ou moral causados. Direito de fala e expressão O direito de fala e de expressão no Estado Democrático de Direito não inclui a reprodução do discurso de ódio contra minorias socialmente vulnerabilizadas (minorias sexuais; pessoas em situação de rua; negros; imigrantes; refugiados); significa que o direito de se expressar não comporta a possibilidade de dizer o que bem entende, sem o cuidado quanto aos desdobramentos do conteúdo da própria fala. Exemplo Toda pessoa tem o direito de se expressar em redes sociais, mas esse direito não inclui a possibilidade de ofender os outros, seja no âmbito individual ou coletivo. Postagens racistas, misóginas, homofóbicas, machistas, transfóbicas e que estimulam a violência no seu mais amplo espectro (físico, moral, psicológico) são formas de exercer abusivamente o direito fundamental à liberdade de expressão e, por isso, têm consequências jurídicas tanto na perspectiva cível (reparação civil) quanto penal (aplicabilidade de pena prevista em lei). A liberdade individual dá ao indivíduo a possibilidade de desenvolver seu potencial integralmente, controlar seu próprio destino e ter influência sobre as decisões coletivas. Isto pode ser sustentado pelo argumento que considera a autonomia individual com base no pressuposto de que, se os indivíduos não gozarem do direito de minimamente fazer escolhas por si mesmos, eles deixam de ser realmente indivíduos. Também se considera que a liberdade de expressão é desdobramento de o discurso ser, efetivamente, uma concretização da liberdade individual (FIGUEIREDO, 2020, p. 31). LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PARTICIPAÇÃO POPULAR Significa dizer que todos os provimentos estatais, seja no âmbito legislativo, executivo ou judicial, quando regidos pelo princípio da publicidade e impessoalidade, autorizam o direito de seus destinatários serem coautores, possibilitando a direta participação para controlar a legalidade de tais atos, além de conferir-lhes democraticidade. Ao estudar o processo legislativo no Estado Democrático de Direito, compreendemos que a população e a sociedade civil podem ser autoras de propostas legislativas, mediante a iniciativa popular. Veja: O artigo 14, inciso III do texto da Constituição brasileira de 1988, estabelece que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante iniciativa popular. O artigo 27, parágrafo 4 do texto constitucional vigente, prevê que a lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. O artigo 29, inciso XIII, prevê que os municípios são regidos pela lei orgânica, devendo ser assegurado o direito à iniciativa popular de projetos de lei de interesse municipal específico ou de bairros, através da manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado. O artigo 61, parágrafo 2° do texto constitucional, prevê que a iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. Esses dispositivos materializam a possibilidade efetiva de exercício do direito à liberdade, corolário da participação na formação discursiva dos provimentos legislativos. No mesmo sentido, temos o direito de os destinatários finais dos provimentos jurisdicionais serem seus coautores, como é o caso, por exemplo, do processo coletivo cujas demandas de cunho metaindividual têm o poder de atingir toda a coletividade, permitindo-se, assim, que esses sujeitos afetados pelos efeitos dessas decisões possam participar discursivamente da sua construção, requisito essencial para assegurar sua democraticidade. Atenção Na seara do Poder Executivo, o direito à liberdade de expressão, como desdobramento do direito à participação popular, permite que todo cidadão possa fiscalizar a legalidade e a moralidade administrativa dos atos praticados pelos gestores públicos, como é o caso, por exemplo, dos processos licitatórios, abertos como requisito para a seleção de pessoas habilitadas a contratar com o poder público. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DIREITO À IGUALDADE E À DIFERENÇA O estudo crítico do direito fundamental à liberdade de expressão no Estado Democrático exige, inicialmente, a análise do direito à igualdade no contexto das diferenças que marcam o pluralismo e a diversidade da sociedade contemporânea. O direito fundamental à igualdade pressupõe o reconhecimento de todas as pessoas no âmbito de suas individualidades. Ao direito democrático cabe a responsabilidade de proteger todos os cidadãos indiscriminadamente, não se admitindo que a ciência jurídica seja utilizada como parâmetro para discriminar, excluir e marginalizar pessoas. A violação dos direitos fundamentais ocorre em grande medida pela dificuldade de reconhecer o outro em sua diferença e pelo temor ao diferente, que gera a dicotomia eu X outro, faz com que o distinto seja motivo para diminuir o outro em seus direitos e dignidade. O direito à diferença é corolário do direito fundamental à igualdade. Ou seja, não é juridicamente viável, sob o ponto de vista democrático, utilizar-se da norma jurídica para discriminar e segregar pessoas, justificando tal tratamento com base no cognominado direito à diferença. É nesse contexto propositivo que pessoas são segregadas e violadas no direito constitucional de serem livres, seja em razão da inadequação aos padrões homogêneos e universais, seja em virtude da naturalização da invisibilidade desses sujeitos. A igualdade formal e material proposta pelas legislações constitui um mecanismo que objetiva amenizar os impactos dessas desigualdades estruturais que acometem os sujeitos excluídos ao longo da história pelas instituições (família, sociedade, religiões, Judiciário, Legislativo, Executivo), proporcionando condições fático-jurídico-legais de assegurar a liberdade como corolário da dignidade humana. Igualdade formal A igualdade formal é a que garante idêntico tratamento a todos perante a lei. Igualdade material Já a igualdade material leva em consideração as diferenças, de modo a possibilitar o tratamento desigual àqueles que estão em situações desiguais. A dignidade humana emerge como fundamento da República Federativa do Brasil, expressamente mencionada no artigo 1° da Constituição brasileirade 1988, para despatrimonializar a forma de compreender a ciência do direito, colocando a pessoa humana como centro da proteção jurídica de todo o ordenamento legal e constitucional. A ampla proteção integral da pessoa humana exige o respeito à diferença, o reconhecimento do outro como igual no que tange ao acesso aos direitos civis, além da vedação de qualquer tipo de discriminação ou preconceito que venham reproduzir o modelo institucionalizado de segregação daquelas pessoas que fogem aos padrões homogêneos impostos pelos ideais individualistas e patrimonialistas reproduzidos pela modernidade. Assim, com a exaltação da dignidade humana, o direito à diferença encontra-se amparado pela perspectiva universalista que considera o ser humano como destinatário final da tutela jurídica, de modo que o respeito à sua individualidade e realização é observado como desdobramentos lógicos da concretização do direito fundamental à liberdade de expressão. O direito à diferença se traduz, enfim, em uma luta pelo reconhecimento das classes minoritárias da sociedade que, na dicotomia eu x outros, constantemente são prejudicadas. Apenas o decreto de igualdade de todos perante a lei não é suficiente para garantir a possibilidade de realização do reconhecimento pleno desse direito na vida social (BITTAR, 2009, p. 553). A simples letra fria do texto legal é insuficiente para corrigir as desigualdades estruturais e, assim, permitir aos cidadãos o direito digno de serem livres em suas diferentes formas de ver, ler e compreender o mundo. Podemos notar, então, que o equilíbrio das relações humanas não é suprido pela ideia de igualdade, mas sim pelo reconhecimento da diversidade da natureza humana como forma de desconstrução das estruturas de dominação (família, Estado, sociedade, igreja) que naturalizam historicamente a marginalidade, a exclusão, a segregação e a desigualdade daqueles sujeitos que integram as "ditas" minorias sociais. Eixos da tutela do direito Na visão de Farias (2015), a tutela do direito à diferença ocorre em três eixos: EIXO EXPRESSIVO: Defende que as normas punitivas servem para tutelar as identidades individuais e grupais e, portanto, o Direito Penal pode funcionar como instrumento de promoção da cidadania. Como exemplo de atuação desse eixo, podemos mencionar a Lei 7.716/1989, que trata dos crimes resultantes de preconceito por raça, cor, etnia, credo ou nacionalidade. EIXO PREVENTIVO: Atua por meio de políticas públicas voltadas para a defesa dos direitos humanos — como a educação, por exemplo —, partindo do pressuposto de que é fundamental auxiliar as pessoas a reconhecerem o que é dignidade e a exercerem a cidadania. EIXO INCLUSIVO: Consiste na atuação do poder público ou privado por meio de ações afirmativas que buscam orientar os cidadãos quanto à solução das situações de desigualdades já existentes. Visam, assim, ao desfazimento de exclusões históricas. Ações desse eixo podem ser vistas, por exemplo, nas políticas públicas voltadas ao público LGBTQI+, assim como às minorias historicamente marginalizadas e às cotas raciais para ingresso na educação de nível superior e em concursos públicos (FARIAS; 2015). O respeito à diferença, além de ser visto como um desdobramento da interpretação extensivo-sistemático-integrativa do direito fundamental à igualdade, materializa-se no reconhecimento da liberdade de expressão, na possibilidade de garantir às pessoas autonomia e autodeterminação para se construírem conforme suas subjetividades, sem que essas diferentes formas de ler e ver a vida sejam utilizadas como ferramentas para discriminações. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DISCURSOS VIOLENTOS A proteção dos direitos humanos, a repressão do discurso de ódio contra as minorias, a regulamentação dos limites constitucionais do exercício do direito fundamental de liberdade de expressão, a efetividade do princípio da não discriminação e o repúdio a qualquer meio ou forma de tornar invisível o direito à diferença são alguns dos compromissos assumidos pelo Estado Democrático de Direito. A liberdade de expressão, nesse contexto, não pode ser entendida como direito ilimitado de veicular opiniões. Em um regime político democrático, que ao menos se propõe a prezar pelo igual respeito e dignidade entre seus cidadãos, não é possível considerar que esteja dentro da esfera de direitos de uns vociferar palavras de ódio contra outros. A liberdade de expressão encontra limites em outros valores reputados importantes e, no limite, na própria segurança dos membros da comunidade política. O preconceito e o ódio, portanto, não podem ser considerados exercícios da liberdade individual, sob pena de serem vistos sob uma ótica individualizante e de cortesia, quando, na verdade, estão em jogo problemas estruturais e de justiça social. Uma primeira aproximação possível com os temas de discursos violentos, liberdade de expressão e democracia que preza por direitos humanos parte da noção de que as identidades humanas são necessariamente formuladas na interlocução com o outro. O diálogo com o outro, no sentido mais amplo possível, é o que viabiliza a consolidação do próprio "eu", tanto na afirmação e retroalimentação do que os outros afirmam quanto na luta contra os que querem se ver em nós. O PROCESSO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICO O direito constitucional possibilitou juridicamente a aquisição da condição de cidadãos mediante a previsão legislativa da inviolabilidade dos direitos fundamentais e das garantias e princípios constitucionais. O estudo do processo constitucional nos tempos atuais viabiliza indagações acerca da hermenêutica constitucional, do controle de constitucionalidade, da aplicabilidade e do exercício dos direitos fundamentais como meio de controle e de fiscalidade da construção dos atos e provimentos estatais. O parâmetro para a interpretação racional das normas jurídicas é a Constituição, considerada a norma limitadora dos excessos praticados pelo Estado e pelo julgador, que muitas vezes utiliza de outros critérios em detrimento da objetividade e racionalidade crítica no julgamento das demandas. Considerado um dos princípios regentes do Estado Democrático de Direito, a soberania popular viabiliza, por meio do devido processo constitucional, a participação popular na construção e no controle dos atos estatais. Atenção A importância do processo como concretizador dos direitos fundamentais no Estado Democrático de Direito deve ser compreendida com fundamento nos princípios do devido processo constitucional, isonomia, contraditório, ampla defesa, fundamentação das decisões judiciais, reserva legal, inafastabilidade do controle jurisdicional e supremacia da constituição. Nesse sentido, o processo constitucional deve ser visto como "lugar" de discursividade isonômica e isomênica dos direitos fundamentais, que deverão ser implementados pelo Estado, como forma de garantir o exercício da cidadania. qual a função do Judiciário? A ele cabe a responsabilidade de utilizar a jurisdição constitucional como meio de viabilizar o exercício de tais direitos, já que a jurisdição constitucionalmente democratizada é uma função estatal que supera o protagonismo judicial. A interpretação das normas constitucionais não pode restringir ou tolher direitos, tampouco conferir tratamento jurídico ofensivo ao princípio da isonomia. O processo constitucional é o meio garantidor da eficácia e do exercício dos direitos fundamentais via ações constitucionais. O Judiciário, no exercício da função jurisdicional, viabilizará tal exercício através das pretensões levadas até ele, uma vez que os problemas estruturais enfrentados pelo Estado não servem de justificativa ao descumprimento dos direitos fundamentais. javascript:void(0) javascript:void(0)ESCOLA PAULISTA DE PROCESSO A Escola Paulista de Processo, também denominada de Escola Instrumentalista, defende o entendimento por meio do qual o processo é um instrumento para o exercício da jurisdição, facultando ao julgador utilizar discricionariedade e protagonismo judicial, proferindo decisões unilaterais e autocráticas por meio das quais prevalecerá a onisciência e a forte carga metajurídica do julgador. Na perspectiva instrumentalista, o magistrado tem o poder de decidir solitariamente a lide, haja vista que não é obrigado a permitir que os sujeitos que integram a relação jurídica participem diretamente da construção da decisão judicial. A superação do instrumentalismo processual, mediante a ruptura com os escopos metajurídicos da jurisdição e o protagonismo judicial, será possível mediante a utilização do espaço processual como locus de ampla discursividade da pretensão deduzida no contexto da racionalidade crítica, pois assim se tornará viável abandonar a forte carga axiológica das decisões judicias e, assim, garantir a segurança jurídica por meio do princípio da fundamentação racional das decisões judiciais. O estudo da jurisdição é outro tema que gera debate na doutrina. Para a Escola Instrumentalista, a jurisdição é um poder pessoal do magistrado, que o coloca em posição hierarquicamente superior aos demais sujeitos do processo. Os instrumentalistas defendem que a jurisdição tem escopos (finalidades) metajurídicos (valorativos), como é o caso dos fins sociais, políticos, econômicos e morais. No momento em que se permite ao juiz buscar fundamentos fora da ciência do Direito para proferir suas decisões judiciais, fortalece-se o seu protagonismo, legitimando-o pressupostamente ao poder de decidir de modo unilateral, sem permitir a participação dos destinatários do provimento final na formação participada do mérito. Uma das principais características do processo constitucional democrático é a possibilidade de os destinatários do provimento final serem coautores do conteúdo decisório de mérito. Compreender a jurisdição constitucional como um direito fundamental é o mesmo que reconhecer a legitimidade democrática de acesso amplo e igualitário ao Poder Judiciário a todos os cidadãos. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO LIBERDADE DE IR E VIR Os direitos fundamentais RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DE IR E VIR EM TEMPOS DE PANDEMIA DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO "A liberdade de expressão e de manifestação de pensamento não pode sofrer nenhum tipo de limitação prévia, no tocante à censura de natureza política, ideológica e artística" (MORAES, 2004, p. 80), pois "a censura prévia significa o controle, o exame, ... Liberdade de expressão x Censura Atenção Direito de fala e expressão Exemplo LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PARTICIPAÇÃO POPULAR Atenção LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DIREITO À IGUALDADE E À DIFERENÇA Igualdade formal Igualdade material Podemos notar, então, que o equilíbrio das relações humanas não é suprido pela ideia de igualdade, mas sim pelo reconhecimento da diversidade da natureza humana como forma de desconstrução das estruturas de dominação (família, Estado, sociedade, igrej... Eixos da tutela do direito LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DISCURSOS VIOLENTOS O PROCESSO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICO Atenção Nesse sentido, o processo constitucional deve ser visto como "lugar" de discursividade isonômica e isomênica dos direitos fundamentais, que deverão ser implementados pelo Estado, como forma de garantir o exercício da cidadania. ESCOLA PAULISTA DE PROCESSO
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