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Faculdade Armando Alvares Penteado
HABEAS CORPUS
São Paulo, SP 2017
1. Origem
A origem do Habeas Corpus tem início desde os tempos romanos na qual um indivíduo poderia demonstrar para todos que um homem havia sido preso de maneira irregular, de forma ilegal.
Posteriormente na Inglaterra com a Carta Magna de 1215, as opressões advindas do Monarca (João Sem-Terra), o aumento do número de impostos e pisoes arbitrárias contra os barões fez com que houvesse um modo de cessar o conflito gerado, um documento que abrandou o conflito e aplicava um importante marco no direito de ir e vir e do devido processo legal. Outro momento que o Habeas Corpus toma forma de texto é no reinado de Carlos II, o “Petition of Rights” cujo um dos princípios estava expresso o Habeas Corpus.
A constituição Norte Americana de 1789, por ter herança inglesa, traz a guarda do devido processo legal, de locomoção, ou seja, deixa claro o direito de qualquer cidadão impetrar o Habeas Corpus.
No Brasil, foi introduzido por D. João VI pelo decreto de 1823 e depois colocado de maneira singela na Constituição Imperial de 1824 que vedava as prisões arbitrárias, teve seu marco a partir de 1832 com a criação do Código de Processo Penal e depois foi levado como regra constitucional na Magna Carta de 1891 introduzindo assim pela primeira vez o instituto do Habeas Corpus.
Em 1948 na Declaração Universal dos Direitos do Homem também traz expresso o Habeas Corpus. Nas demais Constituições brasileiras sempre estava em seu texto o Habeas Corpus como a de 1934, e foi suprimida pelo Ato Institucional Número 5 (AI5) em 1967 nos casos de crimes políticos, crimes contra a ordem econômica, segurança nacional e popular.
Em 5 de outubro de 1988 é promulgada a Constituição que permanece até o presente momento na qual em seu Art. 5º, LXVIII preserva o direito a qualquer cidadão brasileiro e estrangeiro em território nacional.
2. Conceito e Finalidade
“Habeas Corpus” significa “que tenhas o teu corpo” ou “apresente o corpo”, é um remédio constitucional que cabe a quem estiver sofrendo constrangimento ilegal no direito de ir e vir (nos tempos de paz) ou na iminência de sofrer o constrangimento, refere-se somente a pessoa física, brasileiro ou estrangeiro em território Nacional. É uma garantia constitucional e está assegurada no Art. 5º, LXVIII da Constituição Federal.
O Habeas Corpus é um importante Remédio Constitucional e uma garantia de cada um, posto ao abuso cometido pelo Estado e entes particulares para manter a garantia de locomoção.
A ação pode ser formulada sem a necessidade de um operador do Direito (advogado), não precisa atender a nenhuma formalidade estrutural ou processual e não tem custos.
3. Garantia Constitucional de Liberdade de Locomoção
Segundo o art. 5°, XV da CF todos possuem o livre acesso ao Brasil, sendo os brasileiros ou estrangeiros que estejam em nosso território, podendo adentrá-lo, permanecer, se deslocar e sair em tempo de paz. Havendo restrição no caso de guerra declarada ou estado de sitio (art 139 CF), que não tira o direito a liberdade propriamente dito, mas o limita de certo modo.
Não cabe portanto a autoridade alguma, se não a legislativa, modificar a possibilidade de se locomover criando novas formas inibidoras de ir e vir.
O habeas corpus não pode ser suprimido do nosso ordenamento jurídico por ser uma clausula pétrea, porém em razão das medidas de exceção (já especificada acima) a abrangência do habeas corpus pode ser diminuída, restringindo o limite de locomoção, mas não suspendem a sua garantia fundamental.
4. Legitimidade Ativa e Passiva
É legitimo para a propositura da ação qualquer pessoa, sendo física ou jurídica (em nome dos seus representados), pública ou privada, nacional ou estrangeira, independentemente de sua capacidade civil. Trata-se de uma ação popular.
O autor da ação recebe o nome de impetrante, a pessoa na qual se impetra, o paciente (que as vezes pode ser o próprio impetrante), e a autoridade que pratica a ilegalidade ou o abuso de poder que se chamada de autoridade coatora ou impetrado.
Vale ressaltar que os incapazes podem impetrar o Habeas corpus sem assistência ou representação. Os estrangeiros podem impetrar desde que redigido em português sua petição. Pode ainda o MP em nome de terceiro postular essa ação independente do grau de jurisdição. Existe uma ressalva, conforme Motta (2016):
A única ressalva ao caráter universal do instituto refere-se aos magistrados, aos quais se veda, na sua qualidade de magistrado, o ajuizamento de habeas corpus. Todavia, podem concedê-lo de ofício, no decorrer de um processo judicial sob sua apreciação.
Já na legitimidade passiva, o habeas corpus vem apenas com a função de combater lesão ou ameaça ao direito de locomoção por alguma ilegalidade ou abuso de poder, conforme art. 5, LXVIII CF.
O ato de ilegalidade pode trazer em seu polo passivo, como sujeito coatores, autoridades públicas e particulares. Esse ato se dá pela simples violação da lei ou dos princípios jurídicos de modo geral. Já o abuso de autoridade só pode ser dado por agentes investidos de autoridade pública. Ato esse que se é feito além de sua competência com finalidade adversa ao bem comum.
5. Hipóteses de Espécies
O habeas corpus pode ser preventivo quando a violação ao direito de locomoção não se efetivou, de modo que evite a ocorrência da ilegalidade (exemplo: anexo I). Ou pode ser repressivo quando o direito a locomoção já foi violado e pretende cessar esse desrespeito (Exemplo: anexo II).
No mais estará previsto no art. 648 do CPP as hipóteses em que será cabível este remédio.
Vale lembrar que cabe como medida liminar (figura essa instituída por jurisprudência) que pede dois requisitos, sendo eles: a probabilidade de dano irreparável e elementos da impetração que figurem a ilegalidade.
6. Competência
A competência do habeas corpus é designada através de uma união entre o foro competente e o órgão competente para julgar o coator.
Sua funcionalidade é trabalhada sob a figura da autoridade superior a julgar a autoridade inferior, a competência se instrumentaliza hierarquicamente. Valendo ressaltar que o habeas corpus não é recurso e sim ação impugnativa.
Ilustrando de maneira que se perceba a aplicabilidade, é basicamente assim:
· Contra o delegado de polícia (autoridade coatora) o habeas corpus é impetrado pelo juiz de primeira instancia.
· Contra o juiz de primeira instancia o habeas corpus é impetrado pelo tribunal estadual (seja ele federal, militar, etc) dependendo de quem o mesmo se encontra subordinado.
· Contra atos dos Tribunais (como coatores) o habeas corpus será impetrado pelo Superior Tribunal Federal.
Para haver apreciação do “Habeas Corpus” basicamente será determinado através da autoridade coatora e a CF traz em alguns casos a competência aos tribunais em face do paciente, pode ser observada nos seguintes artigos: 102, I, “d”, “i”, II, “a”; 105, I, “c”, II, “a”; 108, I, “d”, II; 109 VII e 121 §§ 3.o e 4.o, V, combinado com o art. 105, I, “c”: Justiça Eleitoral.
O que é importante que não se confunda, por exemplo, a autoridade que expede a ordem e a que executa. O juiz determina tal execução de prisão, o delegado deve cumprir, caso o habeas corpus seja aplicável a autoridade coatora é o juiz de primeira instancia.
7. Jurisprudências
Habeas Corpus 81.681 RS
Este HC foi proposto pela mãe de um menor, do qual por decisão judicial não poderia sair do país com seu filho. A defesa da mãe alegou que não poder levar o filho para viver com ela nos Estados Unidos violava a sua liberdade de ir e vim, portanto, na concepção da defesa era valido impetrar com um habeas corpus.
Porém a segunda turma do STF entendeu diferente, o ministro Néri da Silveira declarou que a decisão judicial que impedia a mãe de sair do país com o filho não configurava violação na sua liberdade de ir e vim, e acrescentou que não se tratava de competência do STF essa ação, e sim de uma vara de família.
Habeas Corpus 70.648 – 7 RJ
Um militar da reserva da marinhaentrou com um habeas corpus no STJ, contra a punição disciplinar aplicada a ele pelo ministro da marinha. O militar teve seu pedido negado liminarmente, com a alegação de que o seu pedido ia contra o artigo 142,§ 2º da CF, que veda o uso de habeas corpus em punições disciplinares militares.
O pedido foi encaminhado para o STF, e teve como relator o ministro Moreira Alves. E foi decidido que apesar do artigo 142,§ 2º, da Constituição não autorizar o uso de habeas corpus para discutir o mérito da punição disciplinar, segundo o parecer da Procuradoria Geral da Republica, “o artigo não afasta o controle judicial da legalidade do ato administrativo”. O parecer da PGR foi aceito pela Primeira Turma do STF, que decidiu de maneira unanime que o processo voltasse ao STJ, uma vez que foi afastada a justificativa inicial, e que STJ agora decidisse sobre os pressupostos legais daquela prisão.
8. Bibliografia
· FILHO, Sylvio Clemente da Motta. Direito Constitucional: Teoria, Jurisprudência e questões. 26.ed. São Paulo: Editora Método, 2016.
· MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 32.ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.
· LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 20.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016
· ISHIDA, Válter Kenji. Prática Jurídica em Habeas Corpus - São Paulo: Atlas, 2015.
· FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de Direito Constitucional. 19. Ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2015.
· BASTOS, C. R. e MARTINS, I. G. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo, Saraiva, 1989. v. 2. p. 318.
· JÚNIOR, Cacildo Baptista Palhares. Algumas Características do Habeas Corpus. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 18 de mar. de 2005.
· Habeas	Corpus:	Conceito,	Finalidade	e	Cabimento.	Disponível	em
<http://direitoemvoga.blogspot.com.br/2011/04/habeas-corpus-conceito- finalidade-e.html> Acesso dia 25/02/2017 às 20:24 hs.
· Habeas Corpus: Origem, desenvolvimento, uso e abuso do Habeas Corpus. Disponível em <http://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/417/Habeas- corpus> Acesso dia 25/02/2017 às 20:27 hs.
· Habeas Corpus: natureza jurídica de ação penal constitucional e crítica à atual jurisprudência na restrição de seu uso. Disponível em
<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,habeas-corpus-natureza-juridica- de-acao-penal-constitucional-e-critica-a-atual-jurisprudencia-na-restricao-de-
,47447.html> Acesso 25/02 às 20:28 hs.
Anexo I – HC Preventivo
MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS 129.070 DISTRITO FEDERAL RELATOR	: MIN. CELSO DE MELLO
PACTE.(S)	: JORGE VICTOR RODRIGUES
IMPTE.(S)	: EDUARDO DE VILHENA TOLEDO E
OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES)	: PRESIDENTE DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO DO CARF
DECISÃO: Trata-se de “habeas corpus” preventivo, com pedido de medida liminar, impetrado em razão de o ora paciente haver sido convocado pela CPI do CARF, para, em reunião a ser realizada em 30/06/2015, às 14h, “prestar esclarecimentos sobre fatos relacionados à Operação Zelotes da Polícia Federal”.
Busca-se, em sede cautelar, a concessão, em favor do ora paciente, das seguintes garantias:
“a) seja concedido ao paciente o direito de ser assistido por seu advogado e de comunicar-se livremente com este durante a sua inquirição;
b) considerando a qualidade inequívoca de investigado, que o paciente seja dispensado da assinatura de eventual termo de compromisso legal de testemunha;
c) seja concedido salvo-conduto ao paciente para que, quando de seu depoimento perante a Comissão Parlamentar de Inquérito do CARF, possa valer-se da garantia constitucional do silêncio em toda a sua plenitude, excluída a possibilidade de ser submetido a
qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva de direitos em razão do exercício de tais prerrogativas processuais.” (grifei)
Sendo esse o contexto, passo a examinar o pleito cautelar deduzido pelos ora impetrantes. E, ao fazê-lo, observo, desde logo, que, embora o ofício de convocação não explicite a condição em que o ora paciente participará da reunião da CPI, a simples leitura da justificativa apresentada no requerimento de convocação revela que o paciente em questão ostenta, inequivocamente, a posição de investigado:
“Pelo que se averigua, empresas credoras da União subornavam integrantes do CARF que manipulavam processos para reduzir multas aplicadas. O suposto esquema teria causado perda de seis bilhões aos cofres públicos.
Segundo informações da imprensa, relatórios da Polícia Federal apontam que Jorge Victor Rodrigues, ex-conselheiro do CARF, atuaria como intermediário no pagamento de propina de empresas a conselheiros do CARF.
O desvio de recursos públicos se configura motivo bastante para justificar esse requerimento como forma de contribuir para a eficiência dos trabalhos desta Comissão.” (grifei)
Essa particular situação afasta a possibilidade de obrigar-se o ora paciente, como pessoa sob investigação, a assinar o termo de compromisso, unicamente exigível a quem se qualifique como testemunha (CPP, art. 203).
Por tal motivo, não há como obrigar o ora paciente a cumprir esse dever jurídico que a legislação impõe, como regra geral (CPP, art. 203), apenas às testemunhas.
Desse modo, o paciente em causa deverá comparecer perante a CPI do CARF na data para a qual foi intimado, sem que se lhe possa impor, ainda, em face das razões que venho de expor, a obrigação de assinar o respectivo termo de compromisso, e sem que se possa adotar, como consequência do regular exercício de tal prerrogativa jurídica, qualquer medida restritiva de seus direitos ou privativa de liberdade.
Postula-se, ainda, seja liminarmente garantido ao ora paciente o exercício do direito ao silêncio, com todos os consectários que decorrem do reconhecimento dessa inafastável prerrogativa de ordem jurídica.
Acolho, também nesse ponto, o pleito em questão, eis que o Supremo Tribunal Federal, em inúmeros precedentes (HC 128.390- MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 128.837-MC/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – HC 129.000-MC/DF, Rel. Min. LUIZ FUX – HC
129.09 /DF, Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.), tem reconhecido esse direito em favor de quem é convocado a comparecer perante Comissões Parlamentares de Inquérito, seja na condição de investigado, seja na de testemunha:
“COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO – PRIVILÉGIO CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO – DIREITO QUE ASSISTE A QUALQUER INDICIADO OU TESTEMUNHA – IMPOSSIBILIDADE DE O PODER PÚBLICO IMPOR MEDIDAS RESTRITIVAS A QUEM EXERCE, REGULARMENTE, ESSA PRERROGATIVA – PEDIDO DE ‘HABEAS CORPUS’ DEFERIDO.
· O privilégio contra a auto- incriminação – que é plenamente invocável perante as Comissões Parlamentares de Inquérito – traduz direito público subjetivo assegurado a qualquer pessoa que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu, deva prestar depoimento perante órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judiciário.
· O exercício do direito de permanecer em silêncio não autoriza os órgãos estatais a dispensarem qualquer tratamento que implique restrição à esfera jurídica daquele que regularmente invocou essa prerrogativa fundamental. Precedentes.
O direito ao silêncio – enquanto poder jurídico reconhecido a qualquer pessoa relativamente a perguntas cujas respostas possam incriminá-la (‘nemo tenetur se detegere’) – impede, quando concretamente exercido, que aquele que o invocou venha, por tal específica razão, a ser preso, ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou pelas
autoridades do Estado (…).” (HC 79.812/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não constitui demasia assinalar, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que o exercício do direito ao silêncio por parte do ora paciente, por traduzir legítima prerrogativa constitucional, não autorizará que se lhe imponha qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
O direito ao silêncio – e o de não produzir provas contra si próprio (HC 96.219-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO) – constitui prerrogativa individual que não pode ser desconsiderada por qualquer dos Poderes da República, independentemente– insista-se – da condição formal (seja a de indiciado, seja a de investigado, seja a de testemunha) ostentada por quem é intimado a comparecer perante órgãos investigatórios do Estado, inclusive perante Comissões Parlamentares de Inquérito.
Assiste, por igual, a qualquer pessoa que compareça perante Comissão Parlamentar de Inquérito o direito de ser acompanhada por Advogado e de com este comunicar-se pessoal e reservadamente, não importando a condição formal por ela ostentada (inclusive a de investigado ou a de testemunha), tal como expressamente assegurado pela jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal (HC 95.037-
-MC/SP,	Rel.	Min.	CÁRMEN	LÚCIA	–	HC 100.200/DF, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – HC
113.646-MC/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – MS
23.452/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – MS
30.906-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Daí o explícito reconhecimento, em sede legal, do direito de o depoente, quer como indiciado, quer como testemunha, “fazer-se acompanhar de advogado, ainda que em reunião secreta” (Lei nº 1.579/52, art. 3º, § 2º, acrescentado pela Lei nº 10.679/2003).
Nesse contexto, é assegurada ao Advogado a prerrogativa – que lhe é dada por força e autoridade da lei – de velar pela intangibilidade dos direitos daquele que o constituiu como patrono de sua defesa técnica, competindo-lhe, por isso mesmo, para o fiel desempenho do “munus” de que se acha incumbido, o exercício dos meios legais vocacionados à plena realização de seu legítimo mandato profissional.
Por esse motivo, nada pode justificar o desrespeito às prerrogativas que a própria Constituição e as leis da República atribuem ao Advogado, pois o gesto de afronta ao estatuto jurídico da Advocacia representa, na perspectiva de nosso sistema normativo, um ato de inaceitável ofensa ao próprio texto constitucional e ao regime das liberdades públicas nele consagrado.
Ao apreciar pedido de reconsideração formulado no MS 23.576/DF (“CPI do Narcotráfico”), de que fui Relator (DJU de 03/02/2000), tive o ensejo de destacar a alta significação de que se reveste a presença do Advogado ao lado de seu constituinte, quando intimado este a comparecer perante qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito, havendo reconhecido, na decisão que então proferi, o que se segue:
“(…) A investigação parlamentar, por mais graves que sejam os fatos pesquisados pela Comissão legislativa, não pode desviar-se dos limites traçados pela Constituição nem transgredir as garantias que, decorrentes do sistema normativo, foram atribuídas à generalidade das pessoas.
Não se pode tergiversar na defesa dos postulados do Estado Democrático de Direito e na sustentação da autoridade normativa da Constituição da República, eis que nada pode justificar o desprezo pelos princípios que regem, em nosso sistema político, as relações entre o
poder do Estado e os direitos do cidadão – de qualquer
cidadão.
A unilateralidade do procedimento de investigação parlamentar não confere à CPI o poder de agir arbitrariamente em relação ao indiciado e às testemunhas,	negando-lhes,	abusivamente, determinados direitos e certas garantias – como a prerrogativa contra a autoincriminação – que derivam do texto constitucional ou de preceitos inscritos em diplomas legais.
No contexto do sistema constitucional brasileiro, a unilateralidade da investigação parlamentar – à semelhança do que ocorre com o próprio inquérito policial – não tem o condão de abolir os direitos, de derrogar as garantias, de suprimir as liberdades ou de conferir à autoridade pública poderes absolutos na produção da prova e na pesquisa dos fatos.
O Advogado – ao cumprir o dever de prestar assistência técnica àquele que o constituiu, dispensando-lhe orientação jurídica perante qualquer órgão do Estado – converte a sua atividade profissional, quando exercida com independência e sem indevidas restrições, em prática inestimável de liberdade. Qualquer que seja o espaço institucional de sua atuação, ao Advogado incumbe neutralizar os abusos, fazer cessar o arbítrio, exigir respeito ao ordenamento jurídico e velar pela integridade das garantias jurídicas – legais ou constitucionais – outorgadas àquele que lhe confiou a proteção de sua liberdade e de seus direitos, entre os quais avultam, por sua inquestionável importância, a prerrogativa contra a autoincriminação e o direito de não ser tratado, pelas autoridades públicas, como se culpado fosse, observando-se, desse modo, diretriz consagrada na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
O exercício do poder de fiscalizar eventuais abusos cometidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito contra aquele que por ela foi convocado para depor traduz prerrogativa indisponível do
Advogado no desempenho de sua atividade profissional, não podendo, por isso mesmo, ser ele cerceado, injustamente, na prática legítima de atos que visem a neutralizar situações configuradoras de arbítrio estatal ou de desrespeito aos direitos daquele que lhe outorgou o pertinente mandato.
O Poder Judiciário não pode permitir que se cale a voz do Advogado, cuja atuação, livre e independente, há de ser permanentemente assegurada pelos juízes e pelos Tribunais, sob pena de subversão das franquias democráticas e de aniquilação dos direitos do cidadão.
A exigência de respeito aos princípios consagrados em nosso sistema constitucional não frustra nem impede o exercício pleno, por qualquer CPI, dos poderes investigatórios de que se acha investida.
O ordenamento positivo brasileiro garante ao cidadão, qualquer que seja a instância de Poder que o tenha convocado, o direito de fazer-se assistir, tecnicamente, por Advogado, a quem incumbe, com apoio no Estatuto da Advocacia, comparecer às reuniões da CPI, nelas podendo, entre outras prerrogativas de ordem profissional, comunicar-se, pessoal e diretamente, com o seu cliente, para adverti-lo de que tem o direito de permanecer em silêncio (direito esse fundado no privilégio constitucional contra a autoincriminação), sendo- lhe lícito, ainda, reclamar, verbalmente ou por escrito, contra a inobservância de preceitos constitucionais, legais ou regimentais, notadamente quando o comportamento arbitrário do órgão de investigação parlamentar lesar as garantias básicas daquele – indiciado ou testemunha – que constituiu esse profissional do Direito.
A função de investigar não pode resumir-se a uma sucessão de abusos nem deve reduzir-se a atos que importem em violação de direitos ou que impliquem desrespeito a garantias estabelecidas na Constituição e nas leis. O inquérito parlamentar, por isso mesmo, não pode transformar-se em
instrumento de prepotência nem converter-se em meio de transgressão ao regime da lei (...).”
(MS 23.576-Recon/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cabe assinalar, finalmente, examinada a pretensão dos impetrantes na perspectiva da espécie ora em análise, que as Comissões Parlamentares de Inquérito, à semelhança do que ocorre com qualquer outro órgão do Estado ou com qualquer dos demais Poderes da República, submetem-se, no exercício de suas prerrogativas institucionais, às limitações impostas pela autoridade suprema da Constituição.
Isso significa, portanto, que a atuação do Poder Judiciário, quando se registrar alegação de ofensa, atual ou potencial, a direitos e as garantias assegurados pela Constituição da República, longe de configurar situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder do Estado, traduzirá válido exercício de controle jurisdicional destinado a amparar qualquer pessoa nas hipóteses de lesão, ainda que iminente, a direitos subjetivos reconhecidos pelo ordenamento positivo.
Em uma palavra: uma decisão judicial que restaura a integridade da ordem jurídica e que torna efetivos os direitos assegurados pelas leis e pela Constituição da República não pode ser considerada ato de indevida interferência na esfera do Poder Legislativo, consoante já o proclamou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em unânime julgamento:
“O CONTROLE JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NÃO OFENDE O PRINCÍPIODA SEPARAÇÃO DE PODERES.
· A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os excessos dos órgãos que compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das liberdades do cidadão e constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias proclamados pela Constituição.
Esse princípio, que tem assento no art. 2º da Carta Política, não pode constituir nem qualificar-se como um inaceitável manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder Público ou de qualquer instituição estatal.
· O Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da República.
O regular exercício da função jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à Constituição, não transgride o princípio da separação de poderes.
Desse modo, não se revela lícito afirmar, na hipótese de desvios jurídico-constitucionais nos quais incida uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que o exercício da atividade de controle jurisdicional possa traduzir situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder da República.”
(RTJ 173/805-810, 806, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Esse	entendimento	tem	sido	por	mim	observado	em	diversos julgamentos que proferi nesta Suprema Corte:
“(…) O postulado da separação de poderes e a legitimidade constitucional do controle, pelo Judiciário, das funções investigatórias das CPIs, se e quando exercidas de modo abusivo. Doutrina. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. (…).” (HC 88.015-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, “in” Informativo/STF nº 416/2006)
Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, e sem dispensar o ora paciente de comparecer perante a CPI do CARF, defiro o pedido de medida liminar nos precisos termos expostos nesta decisão, em ordem a assegurar, cautelarmente, ao paciente, em face de referida CPI:
(a)	o	direito	de	exercer	a	prerrogativa	constitucional	contra	a autoincriminação, sem que se possa adotar contra ele, em razão do
regular exercício de tal prerrogativa jurídica, qualquer medida restritiva de direitos ou privativa de liberdade; (b) o direito de ser dispensado de assinar termo de compromisso legal na condição de testemunha, por tratar-se de pessoa sob investigação, garantindo-lhe, por isso mesmo, o direito de não sofrer qualquer medida sancionatória por parte de mencionada Comissão Parlamentar de Inquérito; e (c) o direito de ser assistido por seus Advogados e de com estes comunicar-se, pessoal e reservadamente, sem qualquer restrição, durante o curso de seu depoimento.
Caso a CPI ora apontada como coatora descumpra a presente liminar, e assim desrespeite as prerrogativas profissionais dos Advogados impetrantes deste “writ” (e, por consequência, os direitos e garantias do ora paciente), fica-lhes assegurado o direito de fazerem cessar, imediatamente, a participação de seu constituinte no procedimento de inquirição, sem que se possa adotar contra eles – Advogados e respectivo cliente, o ora paciente
– qualquer medida restritiva de direitos ou privativa de liberdade.
2. Comunique-se, com urgência, o teor desta decisão ao eminente Senhor Presidente da CPI do CARF.
O ofício de comunicação deverá ser encaminhado, mediante telex, “fax” ou qualquer outro meio ágil de comunicação, ao Presidente da CPI do CARF, em ordem a permitir a sua imediata cientificação quanto ao teor da presente decisão.
Permito que os impetrantes comuniquem o teor desta decisão, mediante exibição da respectiva cópia, para efeito de cumprimento da liminar nela referida, ao Senhor Presidente da CPI do CARF ou a quem estiver no exercício da Presidência de mencionado órgão de investigação parlamentar.
3. Requisitem-se informações ao órgão ora apontado como coator.
Publique-se.
Brasília, 26 de junho de 2015. Ministro Celso de Melo Relator
Anexo II – HC Repressivo
Registro: 2017.0000143974
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº 0001980- 89.2017.8.26.0000, da Comarca de Araraquara, em que é paciente LEANDRO RICARDO SILVA e Impetrante DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Concederam a ordem, nos termos do v. acórdão. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente sem voto), OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO E OSNI PEREIRA.
São Paulo, 7 de março de 2017.
Newton Neves RELATOR
Assinatura Eletrônica
VOTO Nº......: 31929
HABEAS CORPUS: 0001980-89.2017.8.26.0000 COMARCA......: ARARAQUARA
PACIENTE.....: LEANDRO RICARDO SILVA IMPETRANTE...: LUIS MARCELO MENDONÇA BERNARDES
HABEAS CORPUS Conversão da prisão em flagrante em preventiva - Acusação de roubo Análise sob a ótica da Lei n.º 12.403/11 - Inexistência de elementos que, concretamente, justifiquem a prisão preventiva Liberdade Provisória concedida com imposição de cautelares (art. 319, I e IV, do CPP) Ordem concedida, ratificando-se a liminar (voto 31929).
Cuida-se de pedido de habeas corpus impetrado em favor de LEANDRO RICARDO DA SILVA, alegando o impetrante, em síntese, sofrer, o paciente constrangimento ilegal por ato do Juízo que manteve a prisão processual, convertendo o flagrante formalmente lavrado em prisão preventiva.
Sustenta que a decisão atacada é carente de fundamentação, bem como que o paciente atenderia aos pressupostos da liberdade provisória, entendendo suficientes, no caso, a imposição de cautelares alternativas ao cárcere.
Pede, por isso, a concessão da ordem para que possa responder ao processo em liberdade.
A	liminar foi deferida, mediante imposição das medidas cautelares do art. 319, I		e IV, do CPP (fls. 22/24). As informações foram prestadas (fl. 34). A Douta		Procuradoria Geral da
Justiça ofereceu parecer pela concessão da ordem (fls. 37/40).
É o relatório.
Foi o paciente preso em flagrante e denunciado
porque no dia 31.12.2016, por volta das 19h25min, na Rua Armando Bigione, cidade e comarca de Araraquara, agindo em concurso com pessoa não identificada, com consciência e vontade para a realização do ilícito, mediante grave ameaça exercida contra a vítima Elisa de Moraes Franchi, subtraiu para ele, uma bolsa feminina, um telefone celular e um molho de chaves, tudo avaliado em R$114,00.
Consta da inicial acusatória que a vítima caminhava pela via pública quando se aproximou uma motocicleta ocupada por dois indivíduos, sendo que o motorista usava capacete e o passageiro estava de “cara limpa”, sendo posteriormente identificado como Leandro Ricardo Silva.
Narra a denúncia que os criminosos abordaram a vítima, tendo Leandro exigido que ela lhe entregasse a bolsa. Na sequencia a motocicleta foi abordada em blitz policial, ocasião em que o condutor, inesperadamente, fugiu do local, deixando o denunciado Leandro com os policiais. Questionado, Leandro confessou o roubo que teria praticado momentos antes da abordagem (fls. 41/42).
E a prisão em flagrante foi convertida em preventiva ao fundamento de que “há indícios de que o(a/s) averiguado(a/s) praticou(aram) o crime noticiado, pois foi(ram) preso(s) em flagrante, após a prática do roubo, o que foi confessado pelo mesmo. Estão presentes os requisitos da prisão preventiva, como garantia da ordem pública (artigo 312 do CPP). Presentes, portanto, os requisitos dos artigos 312 e 313, I do Código de Processo Penal, com fundamento no artigo 310, II do mesmo diploma legal. CONVERTO A PRISÃO EM FLAGRANTE DO (A/S) RÉU(A/S) LEANDRO RICARDO DA SILVA EM PRISÃO PREVENTIVA” (fl. 11v).
merece ser concedida.
Diante desse contexto, pelo meu voto, a ordem
A Lei n.º 12.403/11 trouxe medidas cautelares que
contemplam a efetivação da prisão processual como exceção, em consonância com a constitucional previsãoda presunção de inocência (Constituição da
República, art. 5º, LXVI1).
O Título IX do CPP prevê a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão processual, conferindo ao magistrado a possibilidade acautelar o regular trâmite processual aplicando-se medida cautelar alternativa ao cárcere (CR, art. 5º, incisos LXI, LXIII, LXIV, LXV e LXVI2).
O art. 310, do CPP, prevê em seus incisos, que ao receber o auto de prisão em flagrante deve o magistrado, de modo fundamentado (art. 93, IX, CR): relaxar a prisão ilegal; ou converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando presentes os requisitos do art. 312, CPP e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, CPP); ou conceder ao flagrado a liberdade provisória, com ou sem fiança.
Assim, permanece vigente e plenamente aplicável a prisão preventiva se atendidos os requisitos do art. 312, do CPP3, se presente justa causa e caso não tenha o agente praticado fato típico sob excludente de ilicitude (art. 314, do CPP4), possível, ainda, nas hipóteses dos incisos do art. 313, do CPP5.
A conveniência da prisão cautelar, como já decidiu o STF (RT 124/1033), deve ser regulada pela sensibilidade do juiz à reação do meio ambiente à ação criminosa. Não se trata tão só do senso geral de reprovação de determinado crime, sob o prisma abstrato. Trata-se, na verdade, da aferição, pelo magistrado, das características do réu extraídas a partir do estudo da empreitada criminosa, pela cuidadosa leitura dos elementos trazidos aos autos.
Entretanto, a fundamentação apresentada pelo d.
Magistrado limita-se a afirmar presentes os requisitos da prisão preventiva.
Assim, e como pacificado pelos Tribunais Superiores, expressões vagas, genéricas e jargões não servem de fundamentação ao decreto da excepcional prisão preventiva.
A matéria foi objeto do Comunicado CG N.º 211/2014 (Processo 2013/113812), de
27/02/2014, da E. Corregedoria Geral de Justiça deste E. Tribunal de Justiça, dispondo que: “A Corregedoria Geral de Justiça, em
razão do número de julgados do STF, STJ e TJSP que têm suspendido e/ou reformado decretos de prisão provisória, porque seus fundamentos são genéricos ou abstratos, sem análise da situação concreta do indiciado ou réu, ORIENTA os MM. Juízes de Direito, respeitados sempre o livre convencimento e a independência no exercício da judicatura , a evitar, em suas decisões, inclusive naquelas proferidas durante o plantão, o uso de expressões vagas e jargões, ou a mera citação genérica dos requisitos previstos na lei (art . 312 , CPP), devendo provê-las de relato dos fatos que atendam à dinâmica do caso concreto (base empírica idônea) (27 / 02 / 2014 , 05 e 07/03 / 2014 )”.
Não há nenhum elemento concreto indicativo de que solto possa vir o paciente a ameaçar testemunhas, prejudicando a instrução processual, ou obstar a aplicação da lei penal, desnecessária, portanto, a extrema prisão processual para a garantia da instrução processual e para a aplicação da lei penal.
Ademais, concedida a liberdade provisória, ciente estará o paciente da reversibilidade da medida, cabível inclusive a prisão preventiva, pela nova disciplina legal, àqueles que descumprirem as medidas cautelares, como no caso dos autos, o comparecimento periódico em Juízo, para justificar suas atividades, e a proibição de se ausentar da Comarca sem autorização judicial (art. 319, I e IV, do CPP).
Do exposto, e pelo meu voto, concedo a ordem para outorgar a liberdade provisória ao pacientes, mediante imposição das medidas do art. 319, I e IV, do CPP, ratificando- se a liminar.
Comunique-se. Oficie-se
Newton Neves Relator

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