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e-Book 2 Cíntia Regina de Fátima MANIFESTAÇÕES CULTURAIS GÍMNICAS Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 A CULTURA DA GINÁSTICA E EXERCÍCIOS VOLTADOS PARA TODOS NAS DIFERENTES IDADES ����������������������������� 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������39 3 INTRODUÇÃO Neste e-book, você conhecerá um pouco mais sobre a ginástica, especialmente como ensiná-la para diferentes grupos, com diferentes características. Para isso, serão abordados os fundamentos que são comuns a todas as ginásticas e que podem ser trabalhados com todas as faixas etárias, varian- do o nível e a dificuldade dos exercícios. Depois disso, serão discutidas as medidas de segurança para evitar possíveis acidentes e lesões nas aulas. Esses conhecimentos o possibilitarão ensinar a ginástica de forma prazerosa e segura. 44 A CULTURA DA GINÁSTICA E EXERCÍCIOS VOLTADOS PARA TODOS NAS DIFERENTES IDADES É importante lembrarmos que não há uma defini- ção única para a ginástica, pois ela se caracteriza como um universo, constituído por uma variedade de modalidades que são praticadas em diversos espaços e com diferentes intencionalidades. Atualmente, existem cinco campos de atuação: ginásticas de condicionamento físico; ginásticas de competição; ginásticas de conscientização corporal; ginásticas fisioterápicas e ginásticas de demonstração (SOUZA, 1997). Dentre esses campos de atuação, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) normatiza e regulamenta apenas as ginásticas de competição e de demonstração. Tendo em vista essa amplitude da ginástica, como é possível ensiná-la para diferentes grupos, que possuem características distintas? Por onde começar o processo ensino-aprendizagem? Qual conteúdo deve ser ensinado? Existe um método de ensino? Essas perguntas serão respondidas neste e-book, a partir da proposta do professor Keith Russell (2010), de origem canadense. 55 Ao perceber que as habilidades desenvolvidas na atividade gímnica partem de princípios mecânicos comuns, Russell estabelece a organização de seus conteúdos em padrões básicos de movimentos (PBMs), caracterizando-os como fundamentos da ginástica. No entanto, os PBMs são um dos elementos que integram a sua filosofia educacio- nal, por isso, a seguir, você vai compreender no que consiste essa filosofia que contempla todo o processo de ensino-aprendizagem da ginástica. O processo ensino-aprendizagem da ginástica Russell (2010) apresenta uma “filosofia educacio- nal” que abrange toda a experiência sucedida no processo de aprendizagem da ginástica. O autor denominou a filosofia dos três “F”, sendo eles: fun, fitness, fundamentals, que na tradução significa diversão, aptidão física e fundamentos. O professor canadense acredita que a aula de ginástica deve ser prazerosa para os participan- tes permanecerem na prática. Deve também de- senvolver um bom condicionamento físico para que aprendam com mais facilidade e de forma correta os fundamentos gímnicos. Por último, ao se apropriar desses fundamentos, as pessoas devem ser capazes de se especializar e avançar nas modalidades da ginástica e suas habilidades 66 correspondentes, pois os participantes já terão uma “base” sólida. Agora vamos entender o que é e como trabalha cada um dos “F” nas aulas? Os princípios da diversão na ginástica Keith Russel (2010) apresenta três princípios para garantir que o processo de ensino-aprendizagem seja divertido. Eles são: os participantes devem estar ativos a maior parte do tempo; os participan- tes devem se sentir bem-sucedidos nas atividades e as atividades devem ser elaboradas através de jogos, principalmente. Vamos falar um pouco mais sobre isso? Quando se fala em “estar ativo”, significa que uma aula deve ser planejada de forma que os participantes estejam em constante interação com o ambiente e uns com os outros. Essa estratégia evita que a aula se torne entediante. Por isso, não se deve programar atividades que sejam realizadas com um ou poucos participantes por vez, enquanto os demais apenas observam. Nesse sentido, é pos- sível fazer circuitos, atividades em duplas e trios e jogos, sempre propondo que todos participem simultaneamente. É importante lembrarmos que, em alguns momentos, talvez, seja necessário ob- servar os colegas realizando determinado exercício, pois a aprendizagem também ocorre através do olhar atento. 77 Outro ponto importante é pensar em estratégias para garantir que os participantes tenham sucesso nas atividades a serem realizadas, pois é muito desagradável quando não conseguimos fazer nada do que é proposto. A sensação de conquista (ou o contrário) afeta diretamente o entusiasmo, a autoestima e a confiança das pessoas. Imagine a seguinte situação: você vai fazer uma aula experi- mental de ginástica acrobática, por exemplo, e não consegue realizar nenhuma postura ou acrobacia proposta. Você gostaria de continuar nas aulas? Algumas pessoas podem se sentir desafiadas e voltar, outras podem se frustrar, sentirem-se incapazes e não voltar. Por isso, a aula deve ser adequada para o nível de aprendizagem da turma e, quando estiverem seguros, a atividade deve ser complexificada gradativamente. Nesse caso, o planejamento, a estratégia didático-pedagógica e a sensibilidade do professor são muito importantes para se ter uma aula divertida e prazerosa. O último princípio é a utilização de jogos como recurso pedagógico para se ensinar ginástica e tornar o seu aprendizado mais significativo e prazeroso. As aulas de ginástica possuem uma tradição de treinamentos rigorosos e sistemáticos, determinada tanto pela sua origem, que afirmava esses ideais, quanto por se tratar de um esporte competitivo, que em determinados lugares visa 88 ao alto rendimento. No entanto, esse “modelo” de ensino não é eficaz, especialmente em alguns espaços e para determinadas faixas etárias. Devido aos jogos estarem sempre associados a outros esportes, Russell (2010) apresenta algumas orientações sobre como eles devem ocorrer na ginástica: y Deve-se correr em segurança, por isso, esta- belecer combinados com o grupo; y Todos os participantes devem estar ativos no jogo durante o tempo todo; y Praticar jogos cooperativos e jogos competitivos; y Utilizar jogos de “caçadores ou apanhada” ou o “pega-pega”, variando sempre as estratégias e objetivos dos jogos; y Os jogos devem ser adaptados à idade e ma- turidade dos participantes; y Mudar rapidamente um jogo se não funcionar corretamente ou se não for seguro; y Parar o jogo enquanto as crianças ainda querem jogar para não se tornar cansativo e chato; y Os jogos devem sempre ter um objetivo vol- tado à ginástica, portanto, não deve ser apenas divertido. Os objetivos devem estar orientados para melhorar as capacidades físicas e motoras dos participantes ou desenvolver os PBMs. 99 A aptidão física na ginástica A aptidão física está entre os três “F” da filosofia educacional de Russell (2010), pois ele acredita que quanto melhor as capacidades físicas e motoras dos participantes, mais fácil será o aprendizado dos fundamentos gímnicos e a futura especialização em uma modalidade. Para Russell (2010): Ao manter o grau de dificuldade das atividades pro- postas elevado, ao nível do esforço físico, o corpo dos alunos vai adaptar-se melhor tornando-os mais robustos. Isto não vai só tornar os participantes mais saudáveis, mas também irá facilitar a participação bem-sucedida em qualquer disciplina da ginástica ou de outro desporto que eles escolham no futuro. O professor canadense divide a aptidão física em componentes físicos e componentes motores. O primeiro compreende a resistência, força, potên- cia e flexibilidade, enquanto o segundo se refere à agilidade, equilíbrio, coordenação e orientação espacial (RUSSELL, 2010). A seguir, você compre- enderá o que é cadacomponente e como podem ser estimulados nas aulas. 1010 Aptidão física: componentes físicos A resistência muscular é a capacidade da mus- culatura de realizar sucessivas contraturas sem fadigar e deve ser estimulada através de exercícios repetitivos. Já a resistência cardiorrespiratória é a capacidade do coração, vasos sanguíneos e pulmão de manter a musculatura nutrida e oxige- nada. Para isso, é necessário realizar atividades por um período considerável, que exija respiração profunda e transpiração. A força é o desempenho máximo que a muscula- tura exerce em uma contração e ocorre através do aumento do tamanho da musculatura ou da efici- ência de suas ligações nervosas. Para estimular a força, deve-se realizar o máximo de repetições, com o objetivo de levar a musculatura à exaustão. A potência é combinação entre força e velocidade no seu desempenho máximo, ou seja, realizar o máximo de força (contração muscular) de forma rápida. Para estimular a potência, é necessário, antes, desenvolver suas capacidades básicas (força e velocidade) de forma isoladas para que, depois de estabelecidas, possam ser trabalhadas conjuntamente, sem causar lesões. A flexibilidade é o aumento da amplitude de movi- mento (AM) das articulações, que ocorre através do alongamento da fibra muscular envolvida, resultando 1111 no aumento de seu comprimento quando o indiví- duo está em repouso. Nesse sentido, é importante estimular a AM com exercícios de alongamento, combinando-os com os exercícios de força. Aptidão física: componentes motores A agilidade se refere à capacidade de (re)agir por meio do movimento ou do deslocamento, com rapidez e eficiência. Nesse caso, é importante fa- zer atividades repetitivas, realizadas com o corpo todo, como os saltos. O equilíbrio é a capacidade de se manter em determinada posição, seja de forma estática (pa- rado) ou dinâmica (se movendo), por isso, essa aptidão exige um bom desempenho das funções sensoriais, da força e da flexibilidade. Então, além de estimulá-las, também é importante colocar o participante em várias situações de equilíbrio/ desequilíbrio em diferentes partes do corpo, sob objetos ou aparelhos. A coordenação é um tipo de habilidade que pode ser complexa – quando abrange todo o corpo em um determinado padrão de movimento, por exemplo: saltos, passos de dança e carrinho de mão – ou pode ser mais “simples” – quando envolve partes do corpo (olho-mão, olho-pé) e, nesse caso, está relacionada à manipulação de objetos, tais como: bola, bastão, materiais portáteis. A ginástica pos- 1212 sui muitos elementos de coordenação, por isso sempre estão sendo estimulados. A orientação espacial se refere à reação do corpo (equilíbrio e sensibilidade) quando é submetido a determinados movimentos (de inversões e rota- ções). Nos fundamentos da ginástica, a orientação espacial é muito trabalhada, especialmente quando há combinação entre os diferentes padrões básicos de movimentos. Esse assunto será aprofundado no próximo tópico. Os fundamentos da ginástica Embora a ginástica seja um universo muito amplo, com vários campos de atuação e diferentes espe- cificidades, Russell (2010) compreende a ginástica como um grande guarda-chuva constituído por disciplinas (modalidades) e atividades (objetivos ou intencionalidades). 1313 Figura 1: Guarda-chuva da ginástica. G A M G A F A C R O B Á T I C A A E R Ó B I C A R Í T M I C A T R A M P O L I N S R E C R E A Ç Ã O E D U C A Ç Ã O O U T R A S P R É - E S C O L A R A P L I C A D A A P R E S E N T A Ç Ã O O U T R A S GINÁSTICA Disciplinas Atividades Fonte: Russel (2010, n.p.) Ao tentar estabelecer um programa geral, que tivesse um ensino básico e eficaz, contemplando todas as ginásticas, Russell (2010) identificou que existem pontos em comum que podem ser considerados como fundamentais no ensino da ginástica e então os denominou de padrões básicos de movimentos (PBMs). Os PBMs são uma proposta de organização dos conteúdos, elaborada a partir dos princípios mecânicos comuns e fundamentais que compõem as diferentes “modalidades” gímnicas. Os PBMs podem ser ensinados em qualquer espaço de aprendizagem e para todos os grupos etários, no entanto, ainda que o conteúdo permaneça, a es- tratégia didática, isto é, a forma de abordá-los e o grau de dificuldade estabelecido, será diferente. Os 1414 6 PBMs são: posições estacionárias, aterrissagem, salto, deslocamento, rotação e balanço. Vamos entender esses movimentos e sua sistematização? De acordo com os princípios mecânicos, Russell (2010) divide as habilidades da ginástica em dois grandes grupos: estacionárias e não estacionárias. O grupo das posições estacionárias compreende as habilidades de apoio, de equilíbrio e de suspen- são. Já no grupo das não estacionárias existem as habilidades linear ou rotacional. Veja como fica essa organização na figura abaixo: Figura 2: Habilidades de ginástica. GINÁSTICA POSIÇÕES ESTACIONÁRIAS APOIOS NÃO ESTACIONÁRIAS SUSPENSÕES EQUILÍBRIOS LINEAR ROTACIONAL Fonte: elaborado pela autora. E o que caracteriza cada grupo? A seguir, cada item será descrito. 1515 Posições estacionárias No grupo estacionárias, encontram-se aquelas habilidades em que o centro de massa está loca- lizado dentro da base de sustentação do ginasta, ou seja, ele não se move para fora da base que o sustenta. Apesar disso, dependendo da localidade do centro de massa em relação à sua base de sus- tentação, as habilidades podem ter características diferentes, isto é, podem ser de apoio, de equilíbrio ou de suspensão. Você sabia que o conceito de centro de massa pode ser aplicado em diferentes áreas do conhecimento, como na área de exatas? Na Física Mecânica, o centro de massa é um ponto que se comporta como se toda a massa de um corpo estivesse concentrada sobre ele. Russell (2010) propôs uma definição que ajuda melhor compreendê-lo na ginástica: “o centro de massa de um corpo não é um ponto fixo. Este varia conforme a distribuição da massa corporal varia. Se estiver de pé e levantar os braços no ar, a sua massa é deslocada para cima, por isso o centro de massa também é deslocado para cima”. FIQUE ATENTO 1616 Quando o ginasta realiza determinado movimento e se mantém estável, significa que o seu centro de massa está localizado no meio da base de sustentação, portanto, se refere a uma habilidade de apoio. Figura 3: Habilidade de apoio. Fonte: Fonte: Russel (2010) Por outro lado, quando o centro de massa está no limite da base de sustentação, o ginasta está em uma posição instável, pois qualquer pequeno movimento pode deslocar o centro de massa para fora da base de apoio, por isso é denominada de habilidade de equilíbrio. 1717 Figura 4: Habilidade de equilíbrio. Fonte: Fonte: Russel (2010) Observe que nas duas imagens anteriores (posição de apoio e posição de equilíbrio) temos posições seme- lhantes, mas ao levantar o braço e a perna na segunda imagem a base de apoio fica menor e o centro de massa se desloca, consequentemente, a posição se torna mais instável (ou de equilíbrio). Se alguém tocar na pessoa da primeira posição, dificilmente ela vai cair ou se desestabilizar, mas se tocar na da segunda será mais fácil, pois o centro de massa está no limite das bases de apoio. FIQUE ATENTO 1818 Por fim, quando o centro de massa está abaixo da base de sustentação, caracteriza-se como uma habilidade de suspensão e são consideradas po- sições muito estáveis. Figura 5: Habilidade de suspensão. Fonte: Russel (2010) Posições não estacionárias As posições não estacionárias são mais comple- xas, pois os princípios mecânicos desse grupo 1919 variam muito. Primeiro, as posições não estacio- nárias podem ser compreendidas a partir de duas características gerais, isto é, linear ou rotacional. Ambas indicam a forma como o centro de massa se comporta. No que se refere ao grupo de natu- reza linear, existem dois padrões de movimento:saltar e locomoção (ou deslocamento). O grupo de natureza rotacional é composto pelos padrões de movimento rotação e balanço. A figura abaixo representa quais PBMs integram cada um desses subgrupos. Figura 6: Posições não estacionárias. POSIÇÕES NÃO ESTACIONÁRIAS LINEAR ROTACIONAL SALTAR LOCOMOÇÃO(DESLOCAMENTO) ROTAÇÃO BALANÇO Fonte: elaborado pela autora. y Movimentos lineares Os saltos se caracterizam por um movimento ex- plosivo, deslocando-se da base de apoio. Podem ocorrer com os pés (com os dois ou apenas um), com os braços (raramente com um apenas) e com 2020 outras partes do corpo, quando for realizado sobre o trampolim. Para se obter um bom resultado nos saltos, são necessários três princípios mecânicos básicos: 1) garantir a potência da musculatura a ser utilizada, ou seja, deve estar forte e veloz; 2) o corpo deve estar rígido para que a força gerada impulsione o corpo e 3) utilizar os membros auxilia- res (não impulsionadores) para aumentar a força, por exemplo: se vai saltar sobre os pés, utilize os braços para auxiliar no impulso. Figura 7: Movimentos lineares – saltos. Fonte: Russel (2010) 2121 Já a locomoção se refere ao mover-se repetidamente para fora da base de sustentação, ocorrendo um deslocamento. A locomoção pode ser realizada por meio de movimentos para trás, frente, lados ou em qualquer padrão. Além disso, pode estar apoiado nos pés ou nas mãos, assim como pode ser realizado sozinho, com um parceiro ou em grupo. Os movimentos da locomoção incluem correr, andar, saltar etc. Figura 8: Movimentos lineares – locomoção. Fonte: Russel (2010) y Movimentos rotacionais A rotação é o movimento que se realiza “girando” o corpo em um dos eixos internos (longitudinal, transversal e ântero/posterior). A rotação pode ocorrer tanto no ar (no mortal), como em contato com a base de sustentação. Já o balanço é o movimento de rotação do corpo sobre um eixo externo, como em barras, argolas etc. As rotações são consequências de forças externas ao centro de massa, de tal forma que quanto mais a força aplicada estiver fora do centro de massa, 2222 maior será a rotação e menor o deslocamento. Os tipos de rotação são: longitudinal, transversal e ântero/posterior. No eixo longitudinal, podem ocorrer sobre os dois pés ou um pé (piruetas); saltos com voltas com os dois pés ou com um pé; apoio frontal para apoio dorsal para apoio frontal e suspensão prolongada com uma volta. Figura 9: Movimentos rotacionais – eixo longitudinal. Fonte: Russel (2010) No eixo transversal, é possível rolar para frente ou para trás. É importante destacar que é mais fácil ensinar os rolamentos para frente, especialmente para os iniciantes. Além disso, existem diferentes 2323 combinações de rotações para torná-las mais complexas. Figura 10: Movimentos rotacionais – eixo transversal. Fonte: Russel (2010) Na rotação no eixo ântero-posterior, tem-se como exemplo a roda (também conhecida como “estrela”). Existem variações de roda, ao se modificar a posi- ção dos braços ou os pontos de contato. Elas são: braços afastados, braços juntos, braços cruzados, um braço, com os punhos, com os cotovelos, com uma mão e um punho. Figura 11: Movimentos rotacionais – eixo ântero-posterior. Fonte: Russel (2010) 2424 O balanço é um tipo de movimento rotacional no qual o eixo é externo, comumente caracterizado por aparelhos. O princípio mecânico do balanço é dividido em fase ascendente, na qual o centro de massa deve ser aproximado do eixo de rotação; e fase descendente, quando o centro de massa se afasta do eixo. Esse movimento pode ser visualiza- do quando brincamos em um balanço. Lembre-se de quando era criança, para conseguir mover o balanço sozinha, com o próprio corpo, era neces- sário esticar a perna e o corpo (aproximando-se do eixo de rotação) no movimento ascendente do balanço (quando ele estava subindo, seja para frente ou para trás) e no descendente (quando ele estava descendo) tinha de flexionar a perna e o corpo (afastando-se do eixo de rotação). Esse movimento fazia com que o balanço não parasse e tivesse mais velocidade, sem que alguém preci- sasse o empurrar. Aterrissagens (recepção) Por último, existe um grupo que não se carac- teriza nem como movimento estacionário, nem como não estacionário, pois é a transição do mo- vimento para a posição estacionária. Esse grupo é denominado recepções (no Brasil é conhecido por aterrissagens). Diferente do padrão básico de movimento “salto”, no qual ocorre uma explosão de um único movimento que retira o corpo (e o 2525 centro de massa) da base de apoio, a recepção (ou aterrissagem) é o mover o corpo (e o centro de massa) em direção à sua base de sustentação. A aterrissagem é o movimento mais importante em relação aos PBMs, pois além de ser o mais comum entre as ginásticas, também é o que ga- rante a finalização de um movimento ou de uma sequência de movimentos com segurança. Veja, na figura abaixo, como Russell (2010) organiza os 6 Padrões Básicos de Movimentos, de forma que a aterrissagem ocupa um espaço diferenciado: Figura 12: Padrões Básicos de Movimentos. POSIÇÕES ESTACIONÁRIAS SALTOS LOCOMOÇÕES ROTAÇÕES BALANÇOS RECEPÇÕES GINÁSTICA Fonte: adaptado de Russel (2010) Para uma recepção (ou aterrissagem) correta e segura é necessário sempre flexionar as articula- ções (joelhos e cotovelos) para amenizar impacto e desacelerar o corpo lentamente até finalizar o movimento. Existem três formas de Aterrisagens: com os pés, com as mãos e rolar nos ombros (com 2626 rotação ou com as costas). Além disso, elas podem ocorrer de frente, de lado e atrás. Figura 13: Recepções (aterrissagens). Com os pés Frente Com as mãos Frente 2727 A enrolar nos ombros Frente Com os pés Atrás 2828 Com as mãos Atrás a enrolar nos ombros Atrás 2929 Com as mãos De lado A enrolar nos ombros De lado Fonte: Russel (2010). Como você pôde perceber até aqui, o ensino da ginástica deve envolver diversão, aptidão física e fundamentos gímnicos. Nos fundamentos tem-se estabelecido 6 PBMs, compreendidos como: mo- vimentos estacionários, movimentos não estacio- nários (deslocamento, salto, rotação e balanço) e 3030 aterrissagem. A aterrissagem é um movimento que constitui tanto o grupo estacionário quanto o não estacionário, por isso, não é um terceiro grupo, mas sim um padrão de movimento comum entre esses dois. Nunomura (2000) organizou um quadro que sintetiza esses 6 PBMs, especificando os tipos e os princípios mecânicos. Veja abaixo: Tabela 1: Os Padrões Básicos de Movimento propostos por Russell. PBM Tipos Princípio Mecânico Aterrissagens Sobre os pés Sobre as mãos Com rotação Sobre as costas Utilizar mais tempo e mais partes do cor- po para absorver o momento de qualquer aterrissagem. Posições Estáticas Apoios Suspensões Equilíbrios Relação entre o Centro de Gravidade (CG) e a Base de Apoio (BA): - Quanto mais próximo o CG da BA, maior a estabilidade - O CG deve estar den- tro da BA - Quanto maior a BA, maior a estabilidade - Para um corpo seg- mentado, a estabilidade será maior quando o CG de cada segmento estiver situado verti- calmente sobre o CG do segmento imediata- mente abaixo. Deslocamentos Sobre os pés Em apoio Em suspensão Aplicação de força interna (contração muscular) para mover o CG. 3131 Rotações No eixo longitudinal No eixo transversal No eixo ântero-posterior Para iniciar uma rota- ção, aplicar uma força que não passe pelo CG. Quanto mais longe a força for aplicada do CG, maior o efeito de rotação. Saltos Com as duas pernas Com uma perna Com as mãos Aplicação de força interna ou externa para produzir um desloca- mento rápido do CG. Essa força deverá ser de magnitude suficien- te, na direção desejada e aplicada a um corpo rígido. Balanços Da suspensãoDo apoio Na fase ascendente, o momento será diminu- ído. Na fase descen- dente, o momento será aumentado. A retoma-da das mãos deverá se realizar no topo ou ponto morto. A barra deverá ser segurada em forma de gancho. Fonte: Nunomura (2000, p. 32) Para ensinar a ginástica, é importante planejar uma aula divertida, que tenha aquecimento e exercícios de condicionamento físico, pois, além de preparar o corpo, o praticante também adquire componentes físicos e motores que possibilitam novas apren- dizagens com segurança. Depois disso, pode-se introduzir os PBMs, inicialmente de forma isolada e depois fazendo combinações (salto + aterrissa- gem + rotação + posição estática) em um único 3232 exercício. É importante complexificar a atividade à medida que o aluno avança em cada padrão de movimento. Ao final da aula, deve-se propor uma atividade de volta à calma. Destaca-se que a aula deve ser prazerosa, por isso, é importante utilizar o recurso de jogos e brincadeiras tanto no momento de preparação corporal quanto na aprendizagem dos fundamen- tos gímnicos. No planejamento das aulas deve-se considerar as características de cada faixa etária. Quanto menor a idade, mais se utiliza de situações imaginárias e lúdicas no processo de aprendiza- gem. A partir dos sete anos, a imaginação passa a ser oculta e, paulatinamente, são introduzidos jogos que envolvem regras e competições. Outra possibilidade de planejamento que torna a aula mais dinâmica e atrativa é utilizar “estações”, na qual várias atividades acontecem simultaneamen- te e o participante passa de estação em estação vivenciando as diversas propostas. A ginástica tem grandes contribuições para o desenvolvimento humano, pois trabalha de forma integral os aspectos cognitivos, afetivos e moto- res. A execução de qualquer habilidade envolve uma compreensão conceitual, sendo necessária a memorização, a atenção e a imaginação, entre outros; além disso, trabalham-se os aspectos emo- cionais e sentimentais, extremamente importantes 3333 na aprendizagem de habilidades motoras, pois o praticante lida diretamente com o medo, a raiva, a alegria e a insegurança. Outro item importante é a socialização, na qual os praticantes trocam experiências e estabelecem relações diversificadas, aprendendo a lidar com o outro e consigo mesmo, constituindo, dessa forma, a sua personalidade. Por fim, a ginástica contribui diretamente para o desenvolvimento motor, pois é repleta de movimento complexos, que desafiam constantemente as pos- sibilidades corporais dos praticantes, adquirindo sempre novas capacidades físicas e gestuais. Para praticar a ginástica é preciso muito cuidado, pois esses movimentos complexos e desafiadores podem provocar acidentes e lesões corporais. Em função disso, no próximo tópico você vai aprender como ensinar a ginástica com segurança. As medidas de segurança na ginástica Acidentes podem acontecer na ginástica, assim como em qualquer outra atividade física. No entanto, podemos evitá-los estabelecendo procedimentos de prevenção. Em função disso, para garantirmos a segurança, é preciso, primeiramente, conhecer quais as possíveis causas de acidentes. Segundo Nunomura (1998), existem causas intrín- secas e extrínsecas. As causas intrínsecas, como o próprio nome já diz, são aquelas relacionadas ao 3434 próprio praticante e, por isso, são mais subjetivas. Elas são: fator psicológico (aspectos emocionais, falta ou excesso de confiança etc.); fator biológico (fadiga, preparação corporal inadequada, distúrbios fisiológicos, perda da ação reflexa etc.) e discipli- na (falta de atenção, descumprimento de regras, utilização incorreta de equipamentos etc.). As causas extrínsecas são de origem externa, portanto, mais objetivas e previsíveis, sendo mais fácil controlá-las. Elas são: fator pedagógico (orientação e ajuda inadequada etc.); instalações (piso, altura do teto, distância entre equipamentos) e equipamentos (má conservação ou instalação). Para evitar esses acidentes, Nunomura (1998) cita as orientações da Federação das Ginásticas dos Estados Unidos (USGF) (UNITED STATES GYM- NASTICS FEDERATION, 1993), que recomenda: y Exames periódicos (a cada dois anos); y Prática de exercícios de condicionamento; y Uso de vestimenta adequada (roupas justas, cabelos presos, não utilizar adereços, calçados adequados); y Inspeção frequente de equipamentos e instalações; y Orientações para possíveis riscos; y Trabalho de habilidades adequadas para o nível dos alunos; 3535 y Supervisão e registro dos planejamentos de aula e dados dos alunos; y Aquecimento e relaxamento. Russell (2010) também propõe algumas medidas de segurança: • Baixar os aparelhos, ou elevar os tapetes; • Proporcionar actividades com progressões para os exercícios; • Melhorar a preparação física dos ginastas; • Impedir certos exercícios até os ginastas estarem melhor preparados, para aprenderem esses exer- cícios sozinhos; • E, claro, ensinar aos ginastas como “gerir os seus próprios corpos”, ensinando-lhes a fazer RECEPÇÕES de forma eficiente e, de seguida, continuar a praticar RECEPÇÕES em todas as aulas. Como você pôde perceber, existem diversas ações preventivas que podem garantir a segurança na prática da ginástica. Essas ações envolvem os alunos, os professores e o ambiente. É imprescin- dível que o professor dê as orientações no início da aula, explique possíveis riscos, estabeleça regras e acordos com seus alunos. Os exercícios devem acompanhar a sequência didática, sem pular etapas. A cada exercício realizado, deve-se evitar que o aluno esteja sozinho, além disso, ele 3636 também deve ser bem orientado sobre o que pode ou não ser feito. É necessário verificar os mate- riais, o espaço e as instalações para garantir que estejam em condições seguras para a realização da atividade. É imprescindível que o aluno utilize vestimenta adequada, aqueça-se corporalmente para evitar lesões musculares e ligamentares e, principalmente, aprenda a recepção (ou aterrissa- gem). A aterrissagem deve ser o primeiro padrão de movimento a ser ensinado, pois, por meio dele, o aluno aprende a “cair” de um salto, suspensão ou qualquer outro movimento. É importante seguir essas orientações e a ginástica se tornará uma atividade segura e muito prazerosa. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS A ginástica, por mais que tenha sua pluralidade e possa ser praticada de diversas formas e em di- versos lugares, tem movimentos básicos comuns a todas as suas modalidades, são os chamados padrões básicos de movimento (PBM). Eles são: aterrissagens, posições estáticas, deslocamentos, saltos, rotações e balanços. É importante ensinar cada um desses movimentos, suas diferentes possibilidades e depois combiná-los entre si, apresentando as habilidades mais complexas da Ginástica. Esses PBMs são a base de todas as ginásticas, por isso, antes de se especializar em alguma modalidade ou disciplina, é importante que a aprendizagem dos padrões de movimentos já esteja estabelecida para garantir a segurança e um bom desempenho na prática. Embora a ginástica tenha habilidades complexas e desafiadoras, você aprendeu que existem ações preventivas que podem garantir uma prática segura. As medidas de segurança envolvem um planeja- mento adequado das aulas, espaços e aparelhos em bons estados de conservação, vestimentas apropriadas para a prática, orientações corretas e detalhadas, atenção nos ensinamentos, disciplina quanto às regras e, por fim, aprender a cair e/ou 38 sair dos movimentos de forma segura, através da aterrisagem. A junção dos conhecimentos abordados neste e-book permitiu que você compreendesse como ensinar a ginástica para diferentes grupos de for- ma segura. Referências Bibliográficas & Consultadas BRIKMAN, L. A linguagem do movimento corporal. 3. ed. São Paulo: Summus, 2014. [Biblioteca Virtual] BROCHADO, F. A.; BROCHADO, M. M. V. Fundamentos de ginástica artística e de trampolins. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. [Minha Biblioteca] DARIDO, S. C.; SOUZA JR, O. 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