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- -1 Índice de endividamento Juliani Karsten Alves; Aparecida da Penha dos Santos Introdução No cenário financeiro/econômico atual, em que existem muitas incertezas e que, devido à globalização, inúmeros acontecimentos podem afetar a saúde financeira de uma empresa, assim sendo é salutar que haja um controle rigoroso do índice de endividamento, para que não ocorram problemas com credores e demais partes interessadas na organização, mas como saber se a empresa está ou não com um índice de endividamento muito elevado? E como calculá-lo? Os indicadores de endividamento ou de estrutura de capital buscam analisar e traduzir em percentual os valores, de maneira com que essa comparação, seja possível verificar o quão dependente de recursos de terceiros a empresa está em determinado momento. É isso que você vai ver neste tema. Bons estudos! Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o índice de endividamento aplicando seus conceitos nas demonstrações contábeis. 1. Conceito de endividamento As empresas sempre estarão sujeitas ao capital de terceiros para maximizarem seus resultados, uma empresa, por si só, não consegue melhorar seu desempenho, inovar, renovar e fazer frente às diversas situações sem buscar ajuda financeira, independentemente de seu porte, pequena, média ou grande organização. O endividamento da empresa nem sempre é um fator negativo, pois se a empresa faz um empréstimo, amplia suas instalações, consegue pagar suas obrigações e ainda assim obter resultados, indica que a decisão pela realização de financiamento trouxe benefícios para a empresa. No entanto, caso a empresa tome dinheiro emprestado, não honre suas dívidas e realiza um novo empréstimo para pagar o primeiro, a juros onerosos, indica que seu planejamento financeiro deve ser repensado. As empresas podem obter recursos financeiros por meio de duas fontes principais: capital de terceiros e capital próprio. • - -2 Figura 1 - Custo das decisões nas empresas Fonte: Monkey Business Image, Shutterstock, 2019. O capital de terceiros envolve, principalmente, as contas “Fornecedores” e “Instituições Financeiras”, e encontram-se nos passivos circulante e não circulante. O capital próprio, por sua vez, encontra-se no patrimônio líquido, representando o dinheiro investido pelos proprietários. - -3 Gitman (2010, p. 55) ainda esclarece “que a situação de endividamento de uma empresa indica o volume de dinheiro de terceiros usados para gerar lucros”, assim nem sempre será fator negativo a utilização de capitais de terceiro. Figura 2 - Sucesso com segurança Fonte: iStock, 2019. Esse índice indica ainda o volume de capital de terceiros utilizado pelas empresas na condução das suas atividades. Em tese, quanto maior o grau de endividamento, pior para a empresa, pois o risco financeiro do negócio aumenta consideravelmente. Entretanto, é importante relembrar que risco e retorno caminham sempre na mesma direção, ou seja, são grandezas diretamente proporcionais. Portanto, se os recursos de terceiros presentes na estrutura patrimonial da empresa forem corretamente investidos e bem gerenciados, podem contribuir para que o resultado aumente, elevando o lucro dos proprietários. Isso ocorre em função da alavancagem financeira. SAIBA MAIS “O grau de endividamento de uma empresa mede o montante de capital de terceiros em relação a outros valores significativos do balanço patrimonial”, cuja fórmula é: O índice de endividamento geral, mede a proporção do ativo total financiada pelos credores da empresa” (GITMAN, 2010, pp. 55-56). Entenda melhor o cálculo de endividamento no livro “Princípios de administração financeira”. - -4 Pode-se dizer, então, que a alavancagem financeira resulta da presença de capital de terceiros na estrutura patrimonial. Entretanto, há que se tomar cuidado, pois nem toda a empresa com alto grau de endividamento estará, necessariamente, alavancada, já que a alavancagem financeira presume um bom gerenciamento dos recursos obtidos, de modo que o retorno gerado seja superior ao custo deste capital, contribuindo para o aumento do resultado. Figura 3 - Controle das engrenagens das empresas Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2019. 1.1. Forma de cálculo Ao calcularmos o índice de endividamento de uma organização, com base nas demonstrações contábeis, devemos nos preocupar, principalmente, com as dívidas de longo prazo, pois essas comprometem a empresa com uma série de pagamentos contratuais ao longo do tempo. “Quanto maior o endividamento, maior o risco de FIQUE ATENTO Por um lado, o uso do capital de terceiros mais barato permite alavancar os capitais próprios, mas por lado outro, os juros podem comprometer a solvência da empresa, indicando a elevação dos riscos. - -5 com uma série de pagamentos contratuais ao longo do tempo. “Quanto maior o endividamento, maior o risco de a empresa ficar impossibilitada de honrar pagamentos contratuais” (GITMAN, 2010, p. 55). Sob esse prisma, acionistas existentes e/ou potenciais costumam se ater principalmente à capacidade de amortização de dívidas das empresas, enquanto que os credores se preocupam com o endividamento em si. Marion (2019) salienta que há de se avaliar sempre a empresa como um todo e os diversos cenários em que ela está inserida, pois: Se a composição do endividamento apresentar significativa concentração no Passivo Circulante (Curto Prazo), a empresa poderá ter reais dificuldades num momento de reversão de mercado (o que não aconteceria se as dívidas estivessem concentradas no Longo Prazo). Na crise, ela terá poucas alternativas: vender seus estoques na base de uma “liquidação forçada” (a qualquer preço), assumir novas dívidas a Curto Prazo que, certamente, terão juros altos, o que aumentará as despesas financeiras (MARION, 2019, p. 92). O índice de endividamento geral (IEG) é obtido por meio da proporção do volume de capital de terceiros em relação ao patrimônio total. Assim, conforme Marion (2019), pode ser calculado conforme a equação a seguir: IEG = passivo exigível total / ativo total, sendo que o passivo exigível total corresponde ao passivo circulante + passivo não circulante. Como se observa no exemplo, 21,5% do ativo total da empresa estaria comprometido para custear o total de suas dívidas, não é um índice expressivo se comparado com o índice brasileiro que, de acordo com Marion (2019), gira em torno de 60%. Porém, a análise de um índice isoladamente pode não ser eficiente. Gitman (2010) sugere que se utilize outros índices aliados ao índice geral de endividamento, dentre os quais: • índice de cobertura de juros. • índice de cobertura de obrigações fixas. • índices de rentabilidade e lucratividade. Assaf Neto (2012, p. 151) sugere, ainda, que Para uma conclusão mais correta acerca da posição de financiamento da empresa, é importante que se identifique os passivos de natureza onerosa e os de funcionamento, pois uma participação acentuada de funcionamento diminui a preocupação com os custos de financiamentos. Isso posto, na sequência vamos estudar a interpretação do índice de endividamento das organizações. EXEMPLO Supomos que uma organização possua $5.000.000 de seus ativos totais, $1.000.000 em passivos de curto prazo e $750.000 em passivos de longo prazo. Dessa forma, para calcular o índice de endividamento dessa empresa, divide-se a soma do passivo exigível ($1.075.000) pelo total do ativo ($5.000.000). Com isso, o Índice de EG será: EG = (1.000.000 + 75.000) / 5.000.000) x 100 EG = 21,5% • • • - -6 1.2. Interpretação do índice de endividamento É relevante que se avalie adequadamente o endividamento das organizações apresentado nas demonstrações contábeis, sendo que um dos aspectos primordiais se centra na questão de identificar a destinação dos capitais obtidos com terceiros, já que empresas que os utilizam para se financiar com projetos rentáveis não deveriam ser penalizadas. Por outro lado, aquelas que utilizam dos referidos montantes obtidos de terceiros para, por exemplo, fazerempagamento de lucros ou despesas ordinárias, podem estar com a saúde financeira comprometida. Figura 4 - Olivier Le Moal, Shutterstock, 2019. Um aspecto fundamental para ser analisado é o custo da dívida da empresa, ou seja, quais os juros que estão sendo cobrados e quais as variáveis que podem incidir sobre eles. Ainda, a empresa deve analisar sua capacidade de pagamento. Ao assumir quaisquer obrigações para com terceiros, a empresa deve desenvolver um cronograma de pagamentos, compatíveis com suas possibilidades. Empresas de um determinado setor tendem a possuir um EG semelhante, como por exemplo, companhias de mineração, já que movimentam uma grande quantidade de capital. No entanto, empresas de outros setores, como publicidade ou tecnologia por exemplo, devido à sua natureza de atuação, movimentam uma menor quantidade de capital. Por essa razão deve-se sempre comparar o EG de uma empresa com outras do mesmo tipo de atividade. - -7 Note que faz parte das funções do profissional contábil apoiar as entidades no sentido do seu endividamento, portanto, a utilização de capital de terceiros pode trazer bons resultados à empresa, mas desde que a rentabilidade do capital investido seja superior ao seu custo, o que gera a alavancagem financeira. Ainda com relação ao índice de endividamento geral (IEG), ele também deve ser comparado aos índices da concorrência para que se tenha uma posição mais adequada do comprometimento financeiro da empresa. Não existe um “número mágico”, segundo o qual se possa afirmar que a empresa está́ ou não com um alto grau de endividamento, pois o volume de capital de terceiros na estrutura patrimonial depende de uma série de fatores, como as peculiaridades ou características do negócio, o faturamento da empresa, o seu relacionamento com os bancos etc. Apenas com muito conhecimento do negócio, da empresa e do mercado é que se pode fixar um limite para o endividamento empresarial, adotando uma estrutura ótima de capital, a qual permite reduzir o custo do dinheiro de acordo com a proporção adotada para os recursos de terceiros e os recursos próprios. É claro que tal estrutura deve ser constantemente monitorada, em função das variações dos cenários econômico, político e tributário. Fechamento O índice de endividamento é um indicador muito relevante para todas as partes envolvidas nas operações da empresa, sejam os gestores, os fornecedores, além dos investidores e acionistas. De posse destas informações, mesmo com as incertezas do mercado, eles podem obter um controle financeiro e solidez nos negócios das empresas, com transparência. Por isso é fundamental conhecer sua fórmula de cálculo, e como deve ser sua interpretação, porém, como sabiamente indicam vários autores de da área, Gitman (2010), Assaf Neto (2012) e Marion (2019), analisar índices isoladamente podem levar a decisões inconclusivas, assim é muito importante associar os índices para uma tomada de decisão mais coerente. Referências ASSAF NETO, A. um enfoque econômico-financeiro. 10 ed. São Paulo: Atlas,Estrutura e Análise de Balanço: 2012. BRUNI, A. L. . 4 ed. São Paulo: Atlas, 2014.A Análise contábil e financeira CAMLOFFSKI, R. São Paulo: Atlas, 2014.Análise de investimentos e viabilidade financeira das empresas. COELHO, M. São Paulo: Saraiva, 2008.A Essência da Administração. FIQUE ATENTO Aos “fornecedores e investidores da empresa pode ser interessante um acompanhamento da saúde financeira da organização, de seu interesse em ampliar o portfólio de produtos e serviços, ou, ainda, seus planos de expandir atividades para novos mercados” (COELHO, 2008, p.207). Assim, o fornecedor poderá́ avaliar se vale a pena aumentar seu relacionamento com a empresa-cliente apostando no sucesso do seu negócio como uma forma de alavancar suas próprias vendas. - -8 COELHO, M. São Paulo: Saraiva, 2008.A Essência da Administração. GITMAN, L. J. . 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.Princípios de Administração Financeira MARION, J. C. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019.Análise das Demonstrações Contábeis. Introdução 1. Conceito de endividamento Custo das decisões nas empresas Sucesso com segurança Controle das engrenagens das empresas 1.1. Forma de cálculo 1.2. Interpretação do índice de endividamento Olivier Le Moal, Shutterstock, 2019. Fechamento Referências
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