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CEFALEIAS Classificação quanto a causa: Cefaleias primárias: quando não temos uma causa em si para essa cefaleia, a cefaleia é a própria doença. As principais cefaleias primárias, são: o Migrânea/enxaqueca (até 60% dos pacientes que procuram a emergência por cefaleia, possuem enxaqueca); o Cefaleia do tipo tensional; o Cefaleia em salvas. Cefaleias secundárias: caracterizam-se por serem um distúrbio, secundário a outro: o Sinusite; o Meningite; o Neoplasias; o Hemorragias subaracnoides; o Hipertensão intracraniana. Classificação quanto a intensidade: Leve: não atrapalha atividades diárias; Moderada: atrapalha as atividades diárias, mas não impede de serem realizadas; Forte: impede que as atividades diárias sejam realizadas. Fisiopatologia: Uma pequena quantidade de estruturas do crânio gera dor, entre elas temos: Seios durais; Artérias meníngeas; Couro cabeludo; Foice do cérebro; Segmentos proximais das grandes artérias da pia-máter. O parênquima cerebral não gera dor. A inervação dos grandes vasos intracranianos e da dura-máter é feita pelo nervo trigêmio, e a esse sistema, damos o nome de sistema trigeminovascular. Sinais de alarme/alerta: Sempre, na presença de “red flags” realizar exame de imagem. Outros importantes red flags são: o uso de anticoagulante, > 50 anos de idade, exame neurológico anormal. Manejo: Cefaleia de início súbito e recente: Nesses casos, primeiramente precisamos descartar condições graves e fatais, como: Infecção: meningite; Sangramentos: hemorragia subaracnóide, hematomas extradural/subdural; Neoplasias: tumores de SNC; Glaucoma. Para isso, é mandatória realizarmos um exame de imagem, sendo o de escolha, na maioria dos casos, a tomografia de crânio e se suspeita de infecção, punção lombar. No entanto, a partir de 12h do início dos sintomas, a acurácia da TC de crânio começa a diminuir, sendo assim, se paciente com clínica compatível, mas com TC normal, devemos solicitar PL, uma vez que, o LCR, demora mais para diminuir a sua acurácia (100% de acurácia até 2 semanas após o início). Diagnóstico diferencial: A principal ferramenta para realizarmos o diagnóstico diferencial entre as várias possíveis causas de enxaqueca, consiste na: História clínica. o Idade de início: a idade de início típica da enxaqueca é na infância ou início da adolescência, em torno de 12 anos nas meninas e em torno de 7 anos nos meninos. Por outro lado, a cefaleia do tipo tensional pode ocorrer em qualquer idade e a cefaleia em salvas normalmente começa na 3ª década de vida. Sempre devemos descartar cefaleias secundárias em pacientes com mais de 50 anos; o Frequência e duração das crises: na enxaqueca, o paciente tem crises recorrentes, com instalação gradual (começa mais fraca e vai piorando – “acordei estava doendo um pouco, foi aumentando e agora eu não aguentei mais”). Na cefaleia em thunderclap, a qual é uma dor que atinge uma intensidade máxima em um período de tempo muito curto (1minuto), o paciente lembra exatamente o momento que a dor começou (nesses casos sempre devemos descartar causas vasculares, por isso que sempre que presente, esse paciente, deve, obrigatoriamente, ser submetido a um exame de imagem). Na cefaleia em salvas, o paciente tem dor todos os dias ou quase todos os dias, ao longo de 2, 3 meses do ano, pode ficar 1, 2 anos sem, e depois, na mesma época voltar a ter essa dor; o Pródromos (sintomas que os pacientes podem ter antes da cefaleia começar): podem ocorrer alterações de humor, fadiga, cansaço, dificuldade de concentração; o Localização da dor: a dor da enxaqueca na grande maioria dos casos é unilateral (podendo variar de lado), pulsátil, latejante, associada a náuseas e/ou vômito, foto e/ou fonofobia. A dor da cefaleia em salvas, por outro lado, sempre será unilateral retrocular e temporal e sempre vai acometer o mesmo lado (direito ou esquerdo). A cefaleia tensional costuma ser holocraniana do tipo compressiva, constante. Por outro lado, a cefaleia em salvas caracteriza-se por ser uma cefaleia excruciante, o paciente tem vontade de bater a cabeça na parede. As neuralgias do trigêmio, costumam ocorrem de forma súbita e várias vezes ao longo do dia, como pontadas ou choques faciais; o Fatores desencadeantes das crises: os principais fatores desencadeantes das crises de enxaqueca são estresse, menstruação em mulheres, uso de álcool. ENXAQUECA/MIGRÂNEA A enxaqueca consiste em um distúrbio episódico comum, o qual afeta até 12% da população geral, sendo mais comum no sexo feminino (3:1), além de que, na maioria das vezes consiste em um distúrbio herdado, ou seja, é de carácter hereditário, relacionado com mutações. Normalmente as crises de enxaqueca se iniciam na infância ou na adolescência (por volta dos 12 anos), piorando na vida adulta (pico de incidência em pessoas em idade reprodutível, ela é a principal causa de incapacidade me pacientes adultos) e a sua ocorrência após os 50 anos é incomum, mas pode ocorrer. Fisiopatologia: Acredita-se que a patogênese da enxaqueca esteja relacionada com uma disfunção hipotalâmica (responsável pelos pródromos – alterações de humor, sono, apetite), a qual resulta na ativação do nervo trigêmeo, resultando na liberação de neuropeptídios (sendo o principal, o CGRP), os quais iniciam uma vasodilatação e uma reação inflamatória, as quais desencadeiam a dor. Além disso, com o tempo, ocorre a sensibilização dos receptores nociceptivos, resultando em piora do quadro clínico. Desencadeantes: A enxaqueca pode ser desencadeada ou amplificada por vários gatilhos, como: Estresse emocional (80%); Flutuações hormonais da menstruação (65%); Jejum (57%); Alterações climáticas; Distúrbios do sono; Odores; Reflexos e luzes fortes; Ruídos; Cansaço físico; Álcool e outros estímulos químicos. Antigamente, era solicitado para que o paciente evitasse esses agentes, ou seja, evitasse se estressar, evitasse dormir mal ou tarde, evitasse comer certos alimentos, no entanto, hoje sabe-se que esses agentes possuem poucos efeitos em desencadear a crise, os que possuem mais, são os que estão em negrito, por isso não solicitamos mais isso para os pacientes (vida normal). Quadro clínico: Cefaleia unilateral (pode ser bilateral, pode ocorrer em qualquer local da cabeça), pulsátil, latejante, de forte ou moderada intensidade, com duração de 4 a 72h (na maioria dos casos dura 1 dia); Pode estar associada a náuseas e vômito; Pode ocorrer foto e fonofobia; Pode piorar com esforço físico, mas não é desencadeada por ele; Pode estar associada com cervicalgia; Pode estar associada a sintomas autonômicos, no entanto, diferente da cefaleia em salvas, eles normalmente são bilaterais; Pródromos com aura ocorrem em apenas 25% (1/3) dos pacientes. Clinicamente, uma crise típica de enxaqueca, possui 3 fases: Pródromo: normalmente iniciam 1 a 2 dias antes da cefaleia (podem iniciar até 48h antes da crise), e caracterizam-se por sintomas como alterações do humor (depressão, irritabilidade), fissura alimentar (desejo intenso de comer chocolate por exemplo), bocejo, desconforto/rigidez de pescoço. Os pacientes que possuem enxaqueca com aura, terão a aura após o pródromo, podendo ocorrer antes (de 5 min até 1h antes) ou junto com a cefaleia; Cefaleia em si: início da cefaleia, náuseas, vômito, foto, fonofobia, disfunção cognitiva, pode ser sintomas autonômicos como lacrimejamento, rinorreia (paciente com cara de doente); Pósdromo ou resolução: caracteriza-se pelo alívio da cefaleia, no entanto, pela presença de sintoma como cansaço e exaustão (sensação de ressaca), no dia seguinte. Obs: lembrar que enxaqueca pode causar dor na face, inclusive nos pontos dos seios da face, portanto,correlacionar com o restante da clínica para diferenciar entre sinusite e enxaqueca (dor na face não é sinônimo de sinusite). Classificação: Enxaqueca sem aura: corresponde a 75% dos casos; Enxaqueca com aura: a aura consiste em um sintoma neurológico focal, completamente reversível. Apenas 25% dos pacientes apresentam, antes ou junto do início da cefaleia, com uma duração média de 5 a 60 minutos. Os principais tipos de aura são: o Auras típicas: Aura visual (mais comum): escotomas, linhas em ziguezague, perca de uma porção do campo visual (hemianopsia), Aura sensitiva: parestesia que inicia na mão e ascende pelo membro superior, parestesia de um lado do rosto; Aura de linguagem: afasia, tipicamente de broca (o paciente entende o que estão falando com ele, mas não consegue falar); Aura motora: diminuição da força em um lado do corpo e face. o Auras atípicas: Aura de troncocerebral: pode ocorrer diplopia, vertigem, disartria, alterações de equilíbrio. Diagnóstico: O diagnóstico de enxaqueca é clínico, sendo que, a neuroimagem não é necessária (não devemos solicitar raio x de seios da face) na grande maioria dos pacientes com enxaqueca. Obs: a duração da dor da tabela é sem tratamento. Tratamento: Terapia abortiva/tratamento da crise de enxaqueca moderada: quanto antes esse tratamento for feito, melhor será a sua eficácia (o tratamento precoce faz com que a crise passe mais rapidamente, isso está associada a ocorrência de gastroparesia, a qual aumenta com o evoluir da crise): o Analgésicos simples (dipirona, paracetamol) + o AINES (cetoprofeno, ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco) + o Antieméticos, se necessário (metoclopramida ou outro antagonista dopaminérgico). Terapia abortiva da crise de enxaqueca grave ou refratária ao tratamento inicial de uma enxaqueca moderada (tratamentos específicos para enxaqueca): o Triptanos (sumatriptano, se VO 50 ou 100mg ou naratriptano 2,5 mg. O sumatriptano de 25mg não resolve. No caso do sumatriptano orientar o paciente a tomar um 1cp no início da crise, se 2h após persistir com dor, tomar outro comprimido, com um máximo de 4cps/dia, No caso do naratriptano, orientar para tomar 1cp no início da crise, se 4h após, continuar com dor, tomar outro comprimido, com um máximo de 2cps/dia) ou o Ergotamina EV (causa mais efeitos colaterais que os triptanos, por isso que os triptanos sempre serão tratamento de 1ª linha). Tratamento profilático: sempre deve ser iniciado com doses baixas, aumentando gradualmente, uma vez que esses fármacos normalmente causas bastante efeitos adversos. Geralmente começam a agir 2 meses após o início do tratamento. Consideramos que eles foram eficazes, quando eles reduziram pelo menos em 50% o número de crises, diminuíram a intensidade das dores e melhoraram a resposta ao tratamento abortivo: o Topiramato: pode emagrecer, boa alternativa para pacientes obesos, contraindicado para aqueles que já tiveram cálculo renal, pode causar disfunção cognitiva; o Valproato: nunca usar em gestantes, pode causar parestesias; o Amitriptilina: podemos usar em pacientes com insônia, não devemos usar em idoso; o BB: podemos usar especialmente em pacientes com tremores, pode causar hipotensão, bradicardia; o Desvenlafaxina, venlafaxina; o Botox pode ser eficaz, no entanto, é caro, só é eficaz nos casos de enxaqueca crônica e precisamos de 1 ano de tratamento para o paciente começar a ter uma resposta mais significativo, com uma redução de cerca de 9 episódios de dor; o Antagonistas do CGRP; Para os pacientes que são tratados ao nível de emergência, recomenda-se o uso de dexametasona IV ou IM associada, a qual não tem ação analgésica, no entanto, tem o poder de diminuir a recorrência de crises. Os triptanos são considerados drogas específicas para enxaqueca, uma vez que, eles atuam no mecanismo fisiopatológico da enxaqueca, inibindo a liberação de peptídeos vasoativos, promovendo vasoconstrição e bloqueando as vias de dor. Não podemos fazer uso de triptanos, nos seguintes casos: A combinação se triptanos com anti-inflamatórios apresentou maior eficácia que o uso isolado de triptanos (podem ser combinado com qualquer AINES). Opióides e barbitúricos não devem ser usados para tratamento de enxaqueca, exceto nos casos de ser o último recurso, uma vez, além de não terem boa resposta, eles estão associados com o aumento do risco de desenvolvimento de enxaqueca crônica e cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Lembrar que as crises de enxaqueca costumam melhorar durante a gravidez. CEFALEIA TENSIONAL São cefaleias que acometem qualquer faixa etária. A sua fisiopatologia está relacionada com alterações miofaciais, vasculares e com predisposição genética. A cefaleia tensional pode ser episódica quando ocorrer menos de 14 dias por mês e crônica quando presente mais que 15 dias por mês. Quadro clínico: Cefaleia bilateral, em faixa, com carácter opressor (como se estivesse apertando), de intensidade leve ou moderada, com duração de 30 min a 7 dias; Dor que diferente da hemorragia intracraniana, demora para atingir o seu pico de dor; Cefaleia normalmente isenta de manifestações associadas, como, lacrimejamento, náuseas, vômito, fono e fotofobia, eritema ocular ptose palpebral. No entanto, pode ocorrer náuseas ou vômito e foto ou fonofobia; Não é agravada por atividade física rotineira ou esforço físico, nem desencadeada por ele. Diagnóstico: Tratamento: Analgésicos simples, AINES, combinados ou não (cetoprofeno, ibuprofeno, diclofenaco, paracetamol). Aqui a prescrição do medicamento não precisa ser feita da mesma forma que no caso de outras dores, o seguinte esquema pode ser feito: tomar 1cp no início da dor, 2 h após, se a dor não tiver aliviado, o paciente pode tomar outro cp. Amitriptilina se mostrou eficaz na profilaxia da cefaleia do tipo tensional crônica (outros antidepressivos e outros antidepressivos tricíclicos não apresentaram eficácia). Tratamentos de segunda linha consistem em mirtazapina e venlafixina (preferidos em pacientes mais idosos); Triptanos não são eficazes, a não ser que, o paciente possua enxaqueca associada. É importante sempre orientar o paciente a tomar a medicação no início da crise, para que tenhamos um efeito melhor. CEFALEIA EM SALVAS A cefaleia em salvas consiste no principal tipo de cefaleias trigêmino-autonômicas. As cefaleias em salvas possuem um pico de incidência por volta da 3ª década de vida (28 anos). Fisiopatologia: A cefaleia em Salvas, assim como a migrânea, também está associada a uma disfunção hipotalâmica, ativação do complexo trigeminovascular (vasodilatação), associada a ativação do sistema parassimpático (lacrimejamento, rinorreia). Quadro clínico: Cefaleia unilateral (sempre e sempre do mesmo lado, diferente da enxaqueca que quando unilateral pode alternar o lado), de forte ou muito forte intensidade (descrita como a pior dor, pior até mesmo que a dor do parto), normalmente orbital, supraorbital e/ou temporal, de curta duração, com duração de 15 minutos até 3 h (a maioria dura 1h), mas com várias crises (episódios curtos e múltiplos); A dor costuma apresentar um padrão sazonal e circadiano, comumente as dores ocorrem na mesma época do ano, normalmente no início da primavera e outono e normalmente são piores durante a noite, com um pico de dor durante a madrugada (e em alguns casos depois do almoço). É comum os pacientes apresentarem dor todos os dias, por 2 a 3 meses, ficarem 1 a 2 anos sem dor, e após, a dor voltar, normalmente nos mesmos meses; Associada a sintomas autonômicos ipsilaterais a dor, como hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema palpebral, ptose palpebral, miose, sudorese facial e frontal; Associadaa inquietude/agitação, os pacientes costumam ficar inquietos, levantar, caminhar (diferente da migrânea na qual os pacientes ficam deitados em um quarto escuro e silencioso). Diagnóstico: O paciente com enxaqueca quer ficar deitado quieto, no silêncio em um quarto escuro, diferente do paciente com cefaleia em salvas que fica agitado, sai caminhar na rua, vai tomar banho. Diagnóstico diferencial: Cefaleia hemicranina paroxística: o Dor retrorbitária, temporal, supraorbital, unilateral (sempre do mesmo lado) duração de 2 a 30 minutos (principal diferença com a cefaleia em salvas), podendo ocorrer os mesmos sintomas autonômicos que a cefaleia em salvas, durante as crises de dor. Devem ocorrer no mínimo 5 episódios de dor por dia. A dor desaparece com o uso de indometacina (critério diagnóstico), outros anti-inflamatórios não aliviam a dor, além de que nos casos de cefaleia em salvas, a dor não é aliviada com indometacina; o SUNCT/SUNA: dura 1s a 10min, menos tempo ainda, mesma localização, com sintomas autonômicos, pelo menos 1 ep por dia mas pode ter várias. Não responde a indometacina, tem estudos de resposta com lamotrigina; o Hemicrania continua: unilateral, sempre do mesmo lado, contínua, com períodos de piora, sendo nesses períodos a ocorrência de sintomas autonômicos. Responde a indometacina Tratamento: Tratamento abortivo: o Sumatriptano injetável (reduz a dor em 5 a 10 min), nível A. Eficaz em 70% dos casos, no entanto é caro; o Oxigenioterapia 100% em máscara 10L por 15 minutos, possui eficácia semelhante ao do sumatriptano, sendo mais barato (o que dá para fazer é o paciente alugar um cilindro de O2 para usar em casa, como a dor tem curta duração, as vezes não dá tempo de chegar no hospital que a dor já passou); Tratamento de transição: esse tratamento tem como objetivo reduzir o período (meses) em que o paciente vai ficar com dor: o Corticoide: prednisona 80mg/dia VO, com redução gradual em 3 semanas ou o Bloqueio com lidocaína + corticoide do nervo occipital maior; Tratamento profilático: depende muito do tempo de crise (pacientes com 4 meses por exemplo, realizamos o tratamento de transição + profilático junto, no entanto, se durar 1 mês, podemos realizar apenas o de transição); o Verapamil: começamos com 40mg VO 3x/dia, depois passamos para 80mg VO 3x/dia. Quando atingirmos 240mg/dia, a cada aumento de dose precisamos fazer um ECG e paramos de aumentar a dose quando o paciente fizer um BAV de 1ª grau (o prof já teve paciente usando 900mg/dia). Podemos suspender o verapamil após o paciente estar há 1 mês sem dor; Estudos recentes têm mostrado que os antagonistas do CGRP também são eficazes na cefaleia em Salvas. MENINGITE BACTERIANA Consiste em uma infecção purulenta das meninges e do espaço subaracnóide, podendo estar associada a uma reação inflamatória do SNC, o que pode causar convulsão, redução do nível de consciência, aumento da pressão intracraniana (meningoencefalite). Termos importantes: Meningite: processo inflamatório das meninges associado ao aumento da contagem de células inflamatórias no líquor. Na meningite pura a cognição e o estado mental do paciente estão preservados; Meningite asséptica: processo inflamatório das meninges e do líquor, sem crescimento de bactérias na cultura, ou seja, consiste em uma meningite que não é de causa bacteriana, sendo normalmente viral a sua causa ou não infecciosa; Encefalite: inflamação do parênquima cerebral, com alterações do estado mental, déficits de nervos cranianos, sinais neurológicos focais (alteração de força, sensibilidade), síndrome epiléptica, letargia. Modo de infecção: Em geral a transmissão é de pessoa para pessoa, por meio de gotículas e secreções das vias respiratórias. No entanto, no caso do enterovírus, a transmissão fecal-oral é de grande importância. Período de incubação: Varia de acordo com o agente etiológico, em geral de 2 a 10 dias, no entanto, a meningite tuberculosa pode ocorre até 6 meses após a infecção. Agentes causadores: Os principais agentes causadores de meningites bacterianas adquiridas na comunidade, são: Streptococcus pneumoniae (50% dos casos, é a principal causa de meningite em adultos, sendo um dos fatores predisponentes a pneumonia pneumocócica); Neisseria meningitidis (25% dos casos. Normalmente está relacionada com manifestações cutâneas, como púrpuras e petéquias especialmente me tronco e membros inferiores); No Brasil, em pessoas de 16 a 50 anos, 80% das meningites bacterianas são causadas por meningococo e pneumococo. Listeria monocytogenes (principalmente recém-nascidos, > 60 anos, grávidas e imunodeprimidos); Haemophilus influenzae; Lyme (Borrelia burgdoferi): pode causar lesões de pele do tipo em halo; Sífilis: pode estar associada a um exantema palmoplantar não pruriginoso. Por outro lado, os principais agentes causadores de meningites virais/assépticas, são: Enterovírus; Vírus da varicela Zóster; Herpes vírus simples; HSV; Arbovírus. Surtos de acordo com a época do ano: Verão e outono: enterovírus, arbovírus; Inverno e início da primavera: meningococo, caxumba; Fatores predisponentes: Otites; Rinossinusites; Mastoidites; Pneumonias; Imunodepressão; TCE; Infecções sistêmicas; Neurocirurgia prévia; Câncer, alcoolismo. Fisiopatologia: Normalmente, a infecção inicia com a colonização pelas bactérias da nasofaringe. Essas bactérias são então aderidas às células epiteliais e em seguida, são transportadas por meio delas para o espaço intravascular, a partir do qual, atingem o plexo corióideo, estrutura responsável pela síntese do líquor, atingindo assim o LCR. Dentro do LCR, essas bactérias multiplicam-se rapidamente, uma vez que o líquor normal possui baixas concentrações de leucócitos, imunoglobulinas e proteínas do complemento, a falta dessas duas últimas, impede que as bactérias sejam opsonizadas, pré-requisito para a fagocitose delas pelos neutrófilos. Uma vez no LCR, componentes da superfície celular das bactérias induzem a produção de citocinas pró-inflamatórias, as quais aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, permitindo um aumento do número de leucócitos no LCR, bem como, a passagem de proteínas plasmáticas para ele. Muitas das manifestações e complicações da meningite não ocorrem pela destruição tecidual pelas bactérias, e sim pela reação inflamatória, por isso que, muitos pacientes podem continuar sintomáticos, mesmo após a erradicação do LCR de bactérias pela antibioticoterapia. Evolução: A determinação da evolução de um quadro típico de meningite ou meningoencefalite é de extrema importância, uma vez que essa informação irá orientar-nos quanto ao provável agente causador. Evolução aguda (48h): sugere meningite bacteriana ou viral; Evolução subaguda a crônica (2 a 4 semanas): sugere causa micobacteriana (micobacterium tuberculosis), por espiroquetas (sífilis), parasitas (Taenia sollium), fungos (Criptococcus neoformans/gatii, histoplasmose, coccidioidomicose, blastomicose). Obs: infecção do SNC por fungos não ocorre apenas em pacientes imunodependentes, embora seja muito mais comum neles. Criptococus gatii ocorre principalmente em imunocompetentes e o neoformans em imunodeprimidos. Anamnese: Questionar sobre internação recente; Cirurgia recente; Questionar sobre TCE recente (pode ter sido uma porta de entrada); Se ele viajou para algum lugar em que tenhamos algum surto infeccioso; Se mora no interior (leptospirose); Se o paciente usa imunossupressor (para que o paciente seja imunossupresso ele não necessariamente necessita estar fazendo uso de drogas imunossupressoras, pacientes com diabetes, insuficiência renal crônica, são consideradosimunossuprimidos). Quadro clínico: A tríade clássica da meningite caracteriza-se, por: Cefaleia (geralmente intensa e holocraniana), cervicalgia; Febre (1% dos pacientes podem ser afebris); Rigidez de nuca. Outros sintomas que podem ocorrer, são: Náuseas e vômito; Foto e fonofobia; Alterações do estado mental (variando de letargia a coma); Crise convulsiva; Papiledema; Déficit neurológico focal (incluindo paralisia de nervo craniano, sendo o mais acometido o abducente, devido ao seu trajeto); Alterações motoras; Alterações da sensibilidade; AVC (por uma arterite); Hidrocefaleia (por alterações da circulação liquórica). A tríade clássica da meningite não estará presente em todos os pacientes. Além desses sintomas, o paciente pode apresentar outros sinais e sintomas de infecção (otites, faringites, tosse), os quais podem nos auxiliar no diagnóstico. Meningite viral e bacteriana não podem ser diferenciadas clinicamente. Exame físico: Teste de Kernig; Teste de Brudzinski; Rigidez de nuca (a flexão passiva do pescoço, não permite que o queixo toque no peito do paciente); Teste de lasegue; Avaliar presença de linfadenopatia; Avaliar esplenomegalia (pensar em CMV, Epstein barr); Realizar ausculta cardíaca, atentando para a presença de sopros cardíacos, os quais podem nos direcionar a pensar em uma endocardite; Realizar ausculta pulmonar, atentando para a presença de consolidação; Realizar exame neurológico completo (avaliar estado mental, nervos cranianos, exame motor, sensitivo). É importante lembrar que os testes meníngeos possuem altas especificidade, mas baixa sensibilidade, ou seja, a ausência de meningismo não exclui infecção de sistema nervoso central, enquanto a sua presença sugere muito infecção de sistema nervoso central. Diagnóstico: O método padrão ouro para o diagnóstico de infecção de sistema nervoso central é a punção lombar. O que diferencia uma meningite pura de uma meningoencefalite é a clínica do paciente e não exames laboratoriais. Manejo: Todo paciente com suspeita clínica de meningite, deve ser submetido a uma punção lombar (PL), para avaliação do líquido cefalorraquidiano. Devemos realizar uma tomografia de crânio sem contraste antes da PL, nos seguintes casos: Imunossuprimidos (pacientes HIV+, pacientes fazendo uso de terapia imunossupressora); Idade > 65 anos; Papiledema ou outros sinais de hipertensão intracraniana; Rebaixamento do nível de consciência; Déficit neurológico focal (déficits motores, sensitivos, alterações de nervos cranianos); Doença de SNC com efeito de massa; História de doença prévia de SNC; Crise convulsiva. A realização da TC tem como objetivo evitar uma das complicações da PL, na presença de lesões de massa ou de hipertensão intracraniana, que é a herniação cerebral, no entanto, como desvantagem, temos o atraso do início da antibioticoterapia. Nos casos de necessidade de realização de TC de crânio, devemos: 1º: coletar hemocultura; 2º: Iniciar antibioticoterapia empírica + dexametasona EV; 3º: TC de crânio; 4º: PL o mais rápido possível. Não existem contraindicações absolutas para a realização da PL, no entanto, algumas contraindicações relativas são a presença de lesões de massa ou de herniação no exame de imagem, presença de hipertensão intracraniana, abcesso epidural, plaquetopenia, diátese hemorrágica. Nos pacientes nos quais não há necessidade de realização de TC de crânio, hemoculturas e PL podem ser realizadas sem a TC, ela não será necessária na grande maioria dos casos. Em pacientes nos quais não haverá necessidade de TC, o manejo consiste em: Hemoculturas; PL; Antibioticoterapia empírica + dexametasona EV (antes do resultado da análise do LCR, imediatamente após a sua coleta). Obs: para realizarmos uma punção lombar o paciente precisa ter > 50.000 plaquetas e o INR < 1,6. Obs: se eu estiver com um paciente com suspeita de meningite que necessite de neuroimagem antes da PL em um local que não tem tomografia, eu inicio o tratamento antibacteriano empírico para o paciente e encaminho ele para um hospital que tenha tomografia. Exames laboratoriais solicitados: Hemograma; EQU; Perfil metabólico; Coagulograma; Cultura de sangue, urina e escarro (na grande maioria dos casos, a detecção do agente etiológico não vai ser feita pelo líquor e sim pela cultura sanguínea); Radiografia de tórax; Anti-HIV; VDRL e FTA ABs; PPD. Exames laboratoriais meningite bacteriana: Hemograma: o Leucocitose com desvio para a esquerda (aumento das formas jovens), no entanto, em infecções graves pode ocorrer leucopenia); o Pode ocorrer plaquetopenia; Hemoculturas: o Normalmente positivas (em 50 a 90% dos pacientes). LCR: o Líquor com aspecto turvo, purulento, leitoso; o Pleocitose (intensa, normalmente > 500) com predomínio polimorfonuclear (com uma porcentagem > 80% de neutrófilos); o Hipoglicorraquia (diminuição da concentração de glicose, geralmente <1/3 da glicemia sérica); o Hiperproteinorraquia (aumento da concentração de proteína, geralmente um aumento significativo > 100); o Lactato: bastante aumentado; o Pressão de abertura aumentada; o Coloração de gram: sugere a etiologia bacteriana; o Relação glicose LCR/ sérica: diminuída; Se os achados do LCR forem compatíveis com meningite bacteriana, no entanto, coloração de gram negativa, a terapia antibacteriana empírica deve ser continuada. Exames laboratoriais meningite viral: LCR: o Líquor com aspecto límpido e incolor/transparente; o Pleocitose (normalmente menos intensa que na bacteriana, < 100, na maioria dos casos) com predomínio mononuclear; o Concentração de proteínas normal ou levemente alterada; o Concentração de glicose normal ou levemente alterada; o Pressão de abertura normal ou levemente aumentada; o Coloração de gram negativa. O exame de escolha para determinar o agente etiológico na meningite viral é o PCR. A pressão de abertura normal do líquor é até 20cm de água ou 200mm de água. Tanto meningite por TB quanto por fungos podem causar hipoglicorraquia e hiperproteinorraquia intensas. Obs: no início do quadro de uma meningite viral, podemos ter uma pleocitose com predomínio poliformonuclear, ocorrendo uma virada para mononuclear com o avançar do quadro. Desconfiamos desse mecanismo quando glicose e proteína estão pouco elevadas, ou seja, quando temos outros achados no líquor sugestivos de viral. Tratamento: Assim que os resultados da análise do liquido cefalorraquidiano estiverem disponíveis, o regime antibacteriano deve ser adaptado para o patógeno causador. Após os resultados do LCR, a dexametasona só deve ser continuada, se LCR ou hemocultura, revelarem S. pneumoniae. Tratamento empírico meningite bacteriana adquirida na comunidade: o Pacientes não imunocomprometidos: Ceftriaxona ou cefotaxime + Vancomicina (aqui no Brasil o seu uso depende muito da disponibilidade, normalmente não é feito) + Ampicilina, se adultos com > 50 anos, pelo aumento do risco de infecção por Listeria; o Pacientes imunocomprometidos: Cefepime ou meropenem + Vancomicina + Ampicilina. o Pacientes com alergia grave à B-lactâmicos: Vancomicina + Moxifloxacina + Trimetropim sulfametoxazol, se > 50 anos ou imunocomprometidos. Tratamento empírico meningite bacteriana associada aos cuidados de saúde: Vancomicina + Cefepime ou meropenem ou ceftazidima. Nas crianças e lactentes, o cefepime mostrou-se equivalente a ceftriaxona/cefotaxime. Após o resultado do líquor, se líquor positivo, continuamos dexametasona e iniciamos antibioticoterapia direcionada. Se líquor negativo, continuamos com dexametasona e antibioticoterapia empírica. Nos casos demeningite viral, o tratamento consiste em: Hidratação; Sintomáticos (analgesia e antipiréticos). Quimioprofilaxia: No caso de exposição, contato de risco com o paciente, devemos realizar a quimioprofilaxia, em geral, o esquema mais usado, é: Ciprofloxacino 500mg dose única Principais agentes etiológicos: Recém-nascidos: Listeria monocytogenes, E.coli; > 50 anos: Listeria monocytogenes; Adultos e crianças: pneumococo, meningococo, H. influenza, enterovírus, adenovírus, HIV; Pacientes internados com cirurgias recentes: Staphylococcus aureus, Pseudomonas, Klebsiela. Prognóstico: A taxa de mortalidade da meningite continua sendo de 20%, apesar da antibioticoterapia. Complicações: Perda auditiva; Déficit cognitivo focal; Herniação; Hidrocefalia. ARTERITE TEMPORAL A arterite temporal consiste em uma doença inflamatória crônica, a qual acomete artérias de grande e médio calibre, afetando principalmente indivíduos idosos, sendo o seu principal fator de risco, o envelhecimento. A sua ocorrência predomina no sexo feminino, com uma relação de 3:1. Fisiopatologia: A patogênese da arterite temporal é explicada pelo desenvolvimento de uma reação inflamatória que acomete a parede dos vasos sanguíneos. Cronicamente, essa inflamação da parede dos vasos, resultará em remodelamento, com espessamento da íntima e consequente diminuição do lúmen do vaso sanguíneo, resultando assim, em complicações isquêmicas. A natureza dos agentes desencadeantes dessa resposta inflamatória é ainda desconhecida. Quadro clínico: Cefaleia temporal na maioria dos casos, no entanto, também pode ser frontal, occipital ou holocraniana; Presença de sintomas sistêmicos como fadiga, febre (50% dos casos) e perda de peso; Sensibilidade do couro cabeludo ao toque; Claudicação mandibular: dor isquêmica dos músculos da mastigação com a mastigação, que alivia quando o paciente para de mastigar. Decorre do suprimento sanguíneo insuficiente para esses músculos; Distúrbios visuais como perda visual monocular transitória. Muitos dos sintomas da arterite de células gigantes/arterite temporal, decorrem do acometimento dos ramos craniais das artérias, no entanto, por ser uma doença sistêmica, o acometimento vascular pode ser generalizado. Exame físico: Palpar pulos, bilateralmente, comparando-os; Aferir a PA nos dois membros; Palpar o curso da artéria temporal (ela pode estar espessada e/ou o paciente pode relatar dor à sua palpação e/ou pulso da artéria temporal diminuído ou ausente); Fundoscopia. Exames laboratoriais: Elevação dos níveis de VHS e PCR; A contagem de leucócitos costuma estar normal, mesmo na presença de uma inflamação sistêmica; Anemia por doença crônica; Enzimas hepáticas aumentadas, albumina diminuída; Diagnóstico: Exame histopatológico a partir de biópsia, mais comumente da artéria temporal ou Exame de imagem como o ultrassom de crânio e pescoço (no entanto, a biópsia continua sendo o meio de preferência). Nos casos de alta suspeita, em que a biópsia não pode ser realizada imediatamente, a terapia com glicocorticoides não deve ser atrasada, devido ao alto risco de perda visual, sendo assim, devemos iniciar a terapia, uma vez que, a resolução do infiltrado inflamatório ocorre lentamente, e a biópsia será positiva (se for esse o diagnóstico) por até um mês após o início da terapia. Tratamento: Altas doses de glicocorticoides sistêmicos. Obs: nos casos de pacientes que estão em alto risco de efeitos adversos ao uso de prednisona, podemos usar metrotexato ou tocilizumabe. Nos casos de alta suspeita clínica, o tratamento deve ser iniciado imediatamente, mesmo antes da biópsia ou exame de imagem. Idosos; Hipersensibilidade do couro cabeludo (não consegue escovar o cabelo naquela região ou colocar a cabeça sobre o travesseiro; Dor à palpação do trajeto das artérias temporais; VHS quase sempre está aumentado (VHS normal não exclui); Não atinge intensidade máximo em curto período de tempo, normalmente, após horas ela atinge o seu pico; Pode ser uni ou bilateral, em 50% dos pacientes localiza-se na região temporal; Pode ocorrer febre e mialgia. Complicações: Perda visual (normalmente ela ocorre de forma súbita, é indolor, pode ser parcial ou completa, bilateral ou unilateral). CEFALEIA POR USO EXCESSIVO DE MEDICAMENTOS Consideramos uso excessivo de medicamentos, o seguinte: Triptanos: uso por 10 dias ou mais por mês; Analgésicos comuns: uso por 15 dias ou mais por mês. Todas as classes de medicamentos com efeito analgésico pode causar cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Tratamento: Corticoides por período curto: prednisona 60mg/dia VO por 7 dias ou Qualquer anti-inflamatório físico por 7 dias e Orientar a ficar sem tomar nenhum outro medicamento para a dor nesse período + Tratamento profilático: valproato, topiramato.
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